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CYNTHIA H. W. CORRÊA∗
(cynthiahwc@yahoo.com.br)
Este paper apresenta uma perspectiva teórica que situa o fenômeno do neotribalismo ou tribalismo, caracterizado
por Maffesoli (1996, 1998) pela fluidez, pelos ajuntamentos pontuais e pela dispersão, independente do interesse
e da finalidade do encontro, como uma possibilidade de gerar redes de socialidade ou de cibersocialidade no
ciberespaço pós-moderno, a partir da formação de tribos virtuais. Nesse contexto, o imaginário volta a ocupar
um espaço central na vida cotidiana, pois, enquanto representação, revela um sentido ou envolve uma
significação que vai além da aparência. (DURAND, 1988). A análise compreende a lógica comunicacional como
responsável pela constituição de laço social no ciberespaço de natureza pós-moderna, ou seja, estruturado sob
uma condição pós-moderna (LYOTARD, 1998), um estilo diferente de ver o mundo, quando em lugar do dever
histórico do homem, acontece a integração plena do cidadão em comunidades. Afinal, a comunicação é o que
liga um indivíduo ao outro, é o cimento social e a cola do mundo pós-moderno, segundo a concepção de
Maffesoli (2004). Tendo como pressupostos que as tribos virtuais se reúnem por meio de afinidades e pelo
prazer estético (MAFFESOLI, 1996, 1998), e que o homem se liga a outro para formar sociedade (SIMMEL,
1986), busca-se investigar o fenômeno do neotribalismo ou tribalismo como uma das formas de gerar redes de
cibersocialidade no ciberespaço, reunindo tribos que tratam de temas frívolos, banais a interesses intelectuais.
Uma vez que a afetividade é inseparável do conhecimento e do pensamento humano; e a dominação da razão
sobre a afetividade não conseguiria ser sempre reconhecida com certeza e exatidão, nem ser considerada como
conclusão ótima de conhecimento, isto é, não há produção de conhecimento científico sem imaginação.
(MORIN, 1999).
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Doutoranda em Comunicação Social, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. O presente
trabalho foi realizado com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq
Brasil.
INTRODUÇÃO
Este ensaio apresenta uma abordagem teórica sobre a formação das chamadas tribos
virtuais no cenário da cibercultura contemporânea, a forma sociocultural que emerge da
relação simbiótica entre a sociedade, a cultura e as tecnologias digitais (ciberespaço,
simulação, tempo real, processos de virtualização etc.) voltadas para a comunicação.
(LEMOS, 2003). Nesse sentido, a análise compreende a lógica comunicacional como
responsável pela constituição de laço social no ciberespaço de natureza pós-moderna, ou seja,
estruturado sob uma condição pós-moderna (LYOTARD, 1998), um estilo diferente de ver o
mundo, quando em lugar do dever histórico do homem, acontece a integração plena do
cidadão em comunidades. Afinal, a comunicação é o que liga um indivíduo ao outro, é o
cimento social e a cola do mundo pós-moderno, na leitura de Maffesoli (2004).
Entre as práticas culturais de uma cibersocialidade, destaca-se o surgimento das tribos
virtuais, agregações sociais que privilegiam o prazer estético e a fusão emocional com o
objetivo de compartilhar um interesse em comum de maneira coletiva e de viver o momento
presente intensamente. (MAFFESOLI, 1996, 1998). Contexto em que o imaginário volta a
ocupar um espaço central na vida cotidiana, pois, enquanto representação, revela um sentido
ou envolve uma significação que vai além da aparência. (DURAND, 1988).
A partir dessas premissas, o estudo tem como objetivo investigar a comunicação e o
processo de interação social na cibercultura, especificamente a formação de tribos virtuais,
que é motivada pela identificação de afinidades e pelo prazer estético, associada à tese de
Simmel (1986) de que o homem se liga a outro para formar sociedade, ou seja, somente assim
a sociedade é possível. A presente perspectiva teórica situa o fenômeno do neotribalismo ou
tribalismo como uma possibilidade de gerar redes de socialidade no ciberespaço pós-
moderno, reunindo tribos que tratam de temas frívolos e banais a interesses intelectuais. Uma
vez que todo tipo de conhecimento é marcado por aspectos individuais, subjetivos e
existenciais, sob a ótica da Teoria da Complexidade (MORIN, 1999), ou seja, não há
produção de conhecimento científico sem imaginação, sendo necessário se compreender a
vida em sua multidimensionalidade, que comporta diversidade, multiplicidade, antagonismo e
ainda complementaridade.
Com essa proposta, busca-se ainda certo distanciamento de uma concepção otimista e
mesmo de endeusamento com relação às tecnologias de comunicação, considerando
fundamental analisar a comunicação em suas dimensões técnica, cultural e social, e confrontá-
las com uma visão de conjunto da sociedade, conforme propõe Wolton (2003).
O estilo de vida não é uma coisa inútil, pois é isso mesmo o que determina a
relação com a alteridade: da simples sociabilidade (polidez, rituais,
civilidade, vizinhanças...) à socialidade mais complexa (memória coletiva,
simbólica, imaginário social). Ora, como apreender o estilo de uma época se
não for através do que se deixa ver? (MAFFESOLI, 1996, p. 160).
O que nos parece ser uma opinião individual é, de fato, a opinião de tal ou
qual grupo ao qual pertencemos. Daí a criação dessas “doxa” que são a
marca do conformismo e que encontramos em todos os grupos particulares,
inclusive naquele que se considera o mais isento disto, o dos intelectuais.
(MAFFESOLI, 1998, p. 106-107).
Por outro lado, concebe-se o ambiente virtual enquanto um espelho da sociedade, que
apenas reflete as práticas sociais que acontecem fora do ciberespaço. Nesse caso, uma nova
tecnologia só pode ajudar a motivar o potencial criativo de uma pessoa se ela tiver interesse,
assim como capacidade cultural e educacional para usufruir a ferramenta, pois nenhuma
tecnologia é capaz de transformar um indivíduo não criativo em criativo ou de melhorar a
forma de comunicar de uma pessoa não comunicativa. As tecnologias de informação e de
comunicação podem funcionar como força impulsionadora da criatividade humana, da
imaginação, podem motivar e promover o convívio, o contato, e uma maior aproximação
entre as pessoas, mas somente se elas quiserem. Não se trata de algo determinante, pois a
Internet, como qualquer outra mídia, não tem esse poder de manipular o público.
No panorama geral do estabelecimento de uma cibercultura, entende-se ainda que a
chamada revolução da tecnologia da informação e da comunicação envolve questões
profundas que superam os avanços técnicos de sistemas comunicacionais. Wolton (2003)
afirma que é comum a redução do fenômeno da comunicação à questão puramente técnica
porque a técnica aparece como o elemento mais visível da comunicação. Para esse autor, o
principal é analisar o lado social da técnica, que está incorporado no modo de comunicar e de
interagir na cibercultura. Essa nova forma de constituir cibersocialidade através da qual os
indivíduos se unem uns aos outros também pela facilidade da mediação tecnológica, criando
vínculos sociais baseados na lógica da comunicação, do contato com a alteridade e do
compartilhamento de emoções e de experiências no ciberespaço. Preocupação que também é
enfatizada por Lemos (2002, p. 19), para quem:
Levar em conta a dimensão técnica da vida quotidiana significa dirigir nosso
olhar ao mundo da vida. Esta é uma tentativa de reconhecer a técnica no
campo da cultura. Se na modernidade prevaleceu o imaginário da
homogeneização e da racionalidade instrumental, a época atual impõe uma
atitude complexa do fenômeno técnico.
Essa proposição do autor faz parte da sociologia dos usos, que visa entender como a
sociedade usa diariamente os objetos técnicos, lembrando que toda apropriação tem uma
dimensão técnica (saber manusear o objeto) e uma outra simbólica (uma descarga subjetiva, o
imaginário). Assim, a apropriação é compreendida tanto como forma de utilização,
aprendizagem e domínio técnico, quanto forma de desvio (deviance) em relação aos tipos de
uso, quando determinado objeto é usado de maneira diferente das finalidades previstas pelos
inventores ou pelas instituições. Ao aproximar esse debate das tecnologias digitais de
comunicação, Lemos (2002) ressalta que no processo de investigação do internauta deve-se
superar a perspectiva do uso correto ou não das máquinas de comunicação, marcado desde
sempre pelo estigma do consumidor passivo e envolvido por estratégias dos produtores.
Deve-se, sobretudo, vê-lo como agente responsável pela dinâmica social da Internet.
Silva (2003), por sua vez, contribui para a discussão afirmando que as novas
tecnologias, juntamente com seus intelectuais orgânicos, dariam nova fundamentação ao par
homem-natureza. Desse modo, o controle da razão seria convertido em negociação e em
interação, uma vez que o homem é interpelado, provocado e produzido pelas idéias que
produz.
Em outras palavras, deve-se ter consciência que a dimensão simbólica sempre afeta a
material, caracterizando o modo de apropriação da técnica pelo indivíduo, que em um dado
momento torna-se objeto da técnica e, em outro, age como se fosse o controlador da técnica.
Estar ciente sobre essa relação dialógica entre sujeito e técnica que distingue o uso social das
tecnologias comunicacionais na cultura contemporânea é fundamental para se entender o
fenômeno da cibercultura.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante de um cenário em que prevalece uma lógica comunicacional da cibercultura
pós-moderna, caracterizada pelo paradigma estético, de valorização da imagem, do
presenteísmo, do prazer de compartilhar emoções coletivamente e da possibilidade de
interação via tecnologias do imaginário, este ensaio volta-se para o estudo e compreensão do
que a sociedade faz com a mídia, nesse caso específico, sobre o uso social da Internet visando
a formação de tribos virtuais. De uma necessidade de se compreender a relação da mídia com
os imaginários sociais, analisou-se como uma lógica de comunicação e de interação social
característica de uma condição pós-moderna se desenvolve e se manifesta no contato e na
formação de tribos virtuais no ciberespaço, independente do tema de interesse que identifica e
une cada grupo, que pode ser banal e/ou intelectual.
Nesse contexto, constata-se que a valorização do imaginário e o seu reconhecimento
enquanto elemento essencial na prática cotidiana e, consequentemente, presente em todas as
situações vividas por qualquer indivíduo, mesmo o intelectual, uma vez que a afetividade é
inseparável do pensamento humano, são aspectos significativos para se compreender o mundo
na sua multidimensionalidade, exercitando e assimilando o pensamento complexo. Dessa
forma, tendo como pressupostos que as tribos virtuais se estruturam motivadas por
sentimentos de afinidades e pelo prazer estético, segundo Maffesoli (1996, 1998), e que o
homem se liga a outro para formar sociedade, com base em Simmel (1986), concebe-se o
fenômeno do tribalismo na rede como fator gerador de cibersocialidade, sendo as tribos
virtuais um dos grupos representativos de uma cibercultura pós-moderna.
Entende-se, portanto, a cibercultura contemporânea como reflexo das características da
pós-modernidade que permitiram a configuração de uma socialidade sob a perspectiva
estilística, ou seja, a partir do predomínio de valores como a aparência, a imagem e o sensível.
Quando a pessoa busca, incessantemente, fazer parte de tribos para poder desfrutar o
momento presente e, acima de tudo, poder compartilhar um imaginário também de forma
coletiva. Ademais, a possibilidade de fazer parte de grupos sociais pelo sistema de afinidades
da lógica da identificação é o que diferencia essa forma atual de constituir laço social do
modelo tradicional de atribuição de identidades culturais, como o caso da identidade nacional,
em que todo um povo se vê obrigado a aderir a determinados símbolos nacionais e a participar
de atos como cantar o hino do país nas escolas, manter vínculos a lugares e festejar datas
comemorativas, por exemplo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
______. Cibercultura. Alguns pontos para compreender a nossa época. In: LEMOS, André;
CUNHA, Paulo (Org.). Olhares sobre a Cibercultura. Porto Alegre: Sulina, 2003. p. 11-23.
______. O Tempo das Tribos: o declínio do individualismo nas sociedades de massa. Rio de
Janeiro: Forense Universitária, 1998. 232 p.
SILVA, Juremir Machado da. As Tecnologias do Imaginário. Porto Alegre: Sulina, 2003.
111 p.
SIMMEL, Georg. Como la sociedad es possible. In: Sociología: estudios sobre las formas
de socialización. Madrid: Alianza, 1986. p. 37-56.
WOLTON, Dominique. Internet, e depois? Uma teoria crítica das novas mídias. Porto
Alegre: Sulina, 2003. 232 p.