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HORS CADE BIOs) Pog PROFESSOR Bene DA PALAVRA DE DEUS 2 Um legado de amor, fé e obediéncia Comentarista: 9 Pr. Geziel Gomeé Prezado professor, Nosso sentimento é de alegria e exultacao no Senhor por ofere- cer-lhe a Revista de n° 36 da Série Licdes da Palavra de Deus, cujo tema é Heréis do Novo Testamento - Um legado de amor, fé e obediéncia. Nesta revista, apresentamos estudos biogrdficos sumarizados de im- portantes personagens neotestamentarios. Estes homens de Deus fo- ram selecionados por sua relevancia histérica e eclesidstica, nao por serem considerados, em qualquer aspecto, superiores aos demais. A fim de compor um perfil mais nitido destes grandes herdis da fé, recorremos a fontes extrabiblicas; no entanto, utilizamos como referéncia basica o texto disponibilizado nas Sagradas Escrituras. Nossa proposta com essa série 6 apresentar contornos pouco ex- plorados de treze homens comuns, que encontraram em Cristo a razao maior de sua existéncia. O texto biogrdfico impde-nos limitagées analiticas. Portanto, suge- rimos que, no decorrer das ligdes, os conteudos sejam aplicados as necessidades da classe. Considere que a vida dos biografados deve ser alocada no contexto historico em que se deu, pois sendo o homem um filho de seu tempo, como diria o historiador francés Marc Bloch, suas vidas e seus feitos fazem mais sentido quando observados no periodo em que eles as desempenharam. Por fim, esmere-se em conscientizar seus alunos sobre o fato de que Deus relaciona-se com os Seus de forma singular: alguns serao chamados por Ele para realizar grandes obras e seraéo conhecidos por muitos, ainda neste mundo; outros tantos nao terao, sequer, seus nomes listados na histéria do Cristianismo. Porém, impor- ta que nosso nome esteja escrito no Livro da Vida (Ap 3.5) e que nossos feitos sejam reconhecidos, pelo Senhor, no grande dia (Mt 25.31-40; At 2.20). DEUS SEJA LOUVADO! Nao me escolhestes vos a mim, mas eu vos escolhi a vos, e vos no- meei, para que vades e deis fruto, e 0 vosso fruto permaneca, a fim de que tudo quanto em meu nome pedirdes ao Pai ele vos conceda Joao 15.16 Elba Alencar Diretora Executiva da Central Gospel Geziel Gomes @ Pastor @ Missionario transcultural Conferencista internacional @ Autor de varias obras @ Professor nas cadeiras de Teologia Sistematica, Evangelismo, Homilética e Hermenéutica CENTRAL GOSPEL SS tess Estrada do Guerengué, 1851 Taquara - Rio de Janeiro - R) Cep: 2713-002 Tel: (21) 2187 7000 www.editoracentralgospel.com Presidente Silas Malafela Vice-presidente Silas Malafeia Filho Diretora Executiva loa Alencar Garente Financelro Talla Matafaia Slvelra Gerente Editorial Gitar Viera Chaves Gerente de Marketing e Design Marcos Henrique Barboze Capa, projeto grafice ¢ di Eduardo Souza DEPARTAMENTO EDUCACIONAL Coordenadora das revistas infantis Albertina Lima Malatala Coordenador das revistas de adolescentes, jovens e adultos Jane Castelo Branco Reviséo Jane Castelo Branco Revisio final Jane Castelo Branco e Welton Torres Fotos Shutterstock 48 Timestre/2013 ramacae LOJAS NO RIO DE JANEIRO Panna Rua Honoro Bicaino, 102 Penha ~ (21) 3888-4511 ‘Sao Goncalo Rua lolanda Saad Aburaid, 80-1). 15/16 Alesntare - (21) 2701-3138 Niterst ‘Av, Quinze de Novernbra, 49 - Uj. 102 Centro ~ (21) 2620-2583 Campo Grande Tavessa Ferteta Borges, 20 -Li. 8 Centro ~ (23) 2415-0020 ng. Rua Fonseca, 240-1}. 126 8 Bangu Shopping - (21) 3337-2280 Duque de Caxias Rodovia Washington Luiz, 2895 — Lj, 201 B/C Caxias Shopping - (21) 2671-2006 Barra da Tijuca Avenida das Américas, 3501 -Uj.58 (No supermercade Guanatara) (21) 2496-7152 / 2420-3574 LOJA EM SAO PAULO Rua conde de Sarzedas, 233 Centro - Sao Faulo - SP - (11) 3101-4161 LOJA EM MANAUS Rua Henrique Martins, 188, Centro ~ Manaus - AM - (92) 3233-8776 ‘TELEFOMES Telemarketing (21) 2187-7000 ‘Atendimento a livreiros (21) 2187-7040 / 2187-7043, ‘Atendimento a igrejas (21) 2187-7007 Servico de Atendimento ao Consu (21) 2487-7028 Canal Interative (21) 2461-2019 1 j0a0 Batista, 0 Precursor do Nazareno 4 2 Mateus, o Apdstolo Improvavel 13 3 Lucas, 0 Médico Amado 22 4. odo, 0 Discipulo Amado 30 5. André, 0 Primeiro Seguidor de Jesus 39 6 Pedro, o Pregador do Dia de Pentecostes 47 7 Saulo, Transformado em Apéstolo no Caminho 56 8& Filipe, Um Evangelista Para os Confins da Terra 64 Q. Bamabé, Filho da Consolacdo 2 10 Marcos. o autor do Primeiro Evangelho 80 11 timéteo, Fino Amado e Fel no Senhor 88 13 Tiago, o justo NAGAI he Joao Batista, o Precursor do Nazareno Mateus 3.1-4,6 1 2- 3- a & E, naqueles dias, apareceu Jodo o batista pregando no deserto da Judéia E dizendo: Arrependei-vos, porque é chegado o reino dos céus. Porque este é o anunciado pelo profeta Isaias, que disse: Voz do que clama no deserto: preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas. E este Jodo tinha as suas vestes de pelos de camelo, e um cinto de couro em toro de seus lombos; e alimentava-se de gafanhotos e de mel silvestre. E eram por ele batizados no rio Jorddo, confessando os seus pecados. Lucas 3.15-138 15- 16- E, estando 0 povo em expectagcio ¢ pensando todos de Jodo, em seu coracdo, se, porventura, seria 0 Cristo, respondeu Jodo a todos, dizendo: Eu, na verdade, batizo-vos com gua, mas eis que vem aquele que é mais poderoso do que eu, a quem eundo sou digno de desatar a correia das sandélias; este vos batizard com o Espirito Santo e com fogo. Ele tema pé na sua mado, e limparé a sua eira, e ajuntaré o trigo no seu celeiro, mas queimard a palha com fogo que nunca se apaga. E assim admoestando-os, muitas outras coisas também anunciava ao povo. Ligdes da Palavra de Deus PROFESSOR 36 TEXTO AUREO No dia seguinte, Jodo viu a Jesus, que vinha para ele, e disse: Eis o Cordeiro de Deus, que tira 0 pecado do mundo. Joao 1.29 SUBSIDIOS PARA © ESTUDO DIARIO 2 feira - Mateus 3.1-6 0 inicio do ministério de Jodo 3 feira - Mateus 3.7-12 A autoridade espiritual do profeta 4® feira - Joao 1.16-20 0 testemunho de Joao Batista 54 feira - Marcos 1.6-11 Joao Batista batiza Jesus 6? feira - Jodo 1.3-37 De Joao Batista para Jesus Sabado - Marcos 6.23-29 A morte de Joao Batista OBJETIVOS Ao término do estudo biblico, o aluno devera ser capaz de: entender que Jodo Batista prenunciou o fim da Lei e dos profetas e anunciou o Reino de Deus; conhecer as principais caracteristicas de um dos mais in- fluentes personagens biblicos: compreender que Deus confia grandes tarefas a pessoas corajosas e humildes: saber que ser fiel a0 Senhor, algumas vezes, pode resultar no sacrificio da propria vida. ORIENTACOES PEDAGOGICAS Prezado professor, esta licdo da infcio & série de estudos biograficos propostos para o periodo. Um bom recurso para este primeiro momento é verificar com que frequéncia seus alunos dedicam-se a leitura de bio- grafias, € quais personagens despertam maior curiosidade nos leitores, de forma geral Aproveite para citar uma das conclusées de C.S Lewis, fa- moso teélogo irlandés, a respeito dos livros biogréficos; ele disse que sempre prefere ler os primeiros capitulos, pois estes, geraimente, sao dedicados a infancia de seus personagens, 0 que os torna mais interessantes, A partir de entao, professor, introduza o biogratado desta aula, Jodo Batista, que teve um dos nascimentos mais espeta- culares ja narrados nas Escrituras. Discorra sobre as caracte- risticas de sua personalidade; sobre seu ministério e sobre os episddios que marcaram sua vida. Finalize pontuando a relacao existente entre jesus e Seu precursor. Deus 0 abencoe na condugao do tema Boa aula! Os heréis do Nove Testamento COMENTARIO Palavra introdutéria ‘Ao menos trés personagens neotestamentarios sao identi- ficados como Joao: o apéstolo (autor de um dos evangelhos, de trés epistolas e do Livro do Apocalipse); Joao Marcos (so- brinho de Barnabé) e Joao Batista (apontado como o precur- sor do Messias). Jodo Batista, um dos mais destacados personagens do Novo Testamento, foi o homem designado por Deus para in- troduzir o ministério terreno de Cristo Jesus, ¢ ele o fez com dignidade e grandeza. Este homem, cujo nome em hebraico significa favor de Deus, vivia de forma muito assemelhada a outro importante personagem biblico: Elias. Tal como o profe- ta do Antigo Testamento, Joao Batista combateu tenazmente a hipocrisia, a desonestidade e a maldade existentes em sua &poca, opondo-se abertamente, por exemplo, ao rei Herodes. Biss ORIGENS DE JOAO BATISTA Muitos leitores tomam por certo que todos os evangelhos registram os pormenores da vida de Joao Batista. No entan- to, o Evangelho de Lucas 6 0 “nico que o faz. Por exemplo, somente Lucas cita os nomes dos pais do profeta (Lc 1.5). Vejamos, a seguir, alguns detalhes relacionados & origem do primo do Messias de Israel. 1.1. Uma concepcao improvavel Embora Zacarias e Isabel fossem justos diante de Deus, ela era estéril, e ambos eram muito idosos para terem filhos (Le 1.6,7). Provavelmente, tal condicéo pesava muito no co- racdo de Isabel, pois, no mundo judaico, era vergonhoso para uma mulher ndo ter filhos (1 Tm 2.14,15; Gl 4.27; $1 113.9). O pai de Jodo era um sacerdote. Ele fora sorteado para ofere- cer incenso diante do Senhor (Lc 1.8,9). Enquanto Zacarias mi- nistrava no templo, o anjo Gabriel apareceu-lhe, de repente, ao lado do altar do incenso (Le 1.11), dizendo que sua oragao fora atendida: ele e sua esposa teriam um filho, cujo nome seria Jodo (Le 1.13). 1.2. Propésitos e consequéncias Lucas narra os detalhes da mensagem que 0 anjo trouxe- ra ao sacerdote, revelando 0 triplice propdsito do profeta: Jodo Batista seria a alegria de seus pais; levaria muitos israelitas de volta ao Senhor e prepararia o povo para a vinda de Cristo (Le 1.14-17). O aparecimento repentino e inesperado de Gabriel bem como a noticia incrivel que este transmitira deixaram Zacarias em estado de choque (Lc 1.12). O sacerdote reagiu, perguntan- Lig6es da Palavra de Deus PROFESSOR 36 do como poderia ter certeza do que acabara de ouvir, visto que ele e sua esposa eram velhos (Lc 1.18). O anjo o repreendeu por sua incredulidade, dizendo que ele nao conseguiria mais falar até que fosse cumprida a promessa do Senhor. Dessa forma, Zacarias ficou mudo até a circunciséo de Joao Batista (Le 1.18- 20, 59-64). 1,3. Informacées adicionais Lucas oferece informacées adicionais a respeito da origem de Joao Batista. Por exemplo, o evangelista deixa claro que, no sexto més da gravidez de Isabel, o anjo Gabriel foi enviado a Maria, mae de Jesus (Lc 1.26,27). E provavel que Jesus e Seu primo tivessem uma diferenca de idade nao maior que seis meses. Além disso, o evangelista diz que a casa de Zacarias e Isa- bel, consequentemente o lar da infancia de Joao Batista, fica- va em uma cidade da regio montanhosa de Juda (Le 1.39,40). os HABITOS E A PERSONALIDADE DE JOAO BATISTA De acordo com Lucas, Jodo permaneceu no deserto até o inicio de sua atividade profética em Israel (Lc 1.80). Vejamos algumas peculiaridades deste persona- gem icénico. =i i #@& } Durante a vida de Jesus, E ihe eee acMeHt de Jodo Batista e dos ram muito risticos a aparéncia de Joao Batista e o modo como ele vivia(Mt_ _Primeiros apdstolos de 3.4), Os evangelhos sindticos nos des- Cristo, Qumran florescia, crevem, em poucas palavras, 0 aspecto influenciando o judaismo exterior e a vida austera do profeta. Ele ea Igreja crista primitiva. usava, como vestimenta, uma timica as- (RADMACHER; ALLEN; Bera e grosseira, tecida com pelos de ca- HOUSE, Central Gospel melo (ainda hoje, os 4rabes pobres e os ; _ peduiros Hbmmdessussrine mace tips , 20h00 @ REM) Ha torven de tunica que o precursor de Jesus usou), indicios de que Jodo Batista amarrada cintura com uma rustica cor- tenha habitado esta regido, rele de pele. Assim também se vestia onde foram encontrados, Elias (2 Rs 1.8). “ na década de 1940, os Da mesma maneira rigorosa com Ue jmportantes manuscritos se vestia, Jodo se alimentava. Os evange- listas mencionam os dois componentes do Mar Morto. principais de sua alimentacso: gafanhO- tos e mel silvestre; alimentos proprios do deserto, onde sao encontrados com abundéncia (Lv 11.22; Dt 32.13; 1 Sm 14.25-29) (FILLION, Cen- tral Gospel, 2003, p. 296). 2.1. Habitos incomuns (Os herdis de Novo Testamento 7 Ainda hoje, na Arabia, na Etidpia, na Palestina e em outras partes do Oriente, a classe pobre costuma servir-se de gafanhotos como alimento principal. Qs antigos hebreus ja conheciam esse tipo de alimento (Lv 11.22), que nada tem de insano e pode ser preparado de diversas maneiras. 2.2. Tracos de personalidade Os evangelhos deixam transparecer que Joao Batista era um indi tero, sério, corajoso e que no se inti- midava com ameacas. Ele nao tinha 0 hdbito das meias palavras e condenava veementemente 0 que Ihe parecesse er- rado e imoral (Mt 14.4). Ousadamente, ele repreendeu Hero- des e manteve-se firme diante daqueles que, sem evidenciar arrependimento e contrig&o, procuravam ser batizados por ele (Mt 3.7; Le 3.7). Tal como nos dias de Joao Batista, a Igreja carece dos valentes servos de Deus que denunciem o pecado dos poderosos e mantenham sua integri- dade a todo custo. Efe MINISTERIO DE JOAO BATISTA A descrigéo que os evangelhos fazem sobre 0 ministério de Joao Batista é breve, e a narrativa sindtica (de Mateus, Marcos e Lucas) é bastante similar em suas conclusées: ele pregava uma mensagem, cujo tema principal era o arrepen- dimento (Le 3.2,3). 3.1. O pregador do arrependimento E importante ressaltar na atuacdo de Joao que seus segui- dores, ao ouvirem sua mensagem, eram tomados por forte quebrantamento e contricao. Os essénios (juntamente com os fariseus, os saduceus € os herodianos) exerciam forte influéncia na vida religiosa de Israel. Eles ndo sao mencionados nas Escrituras, mas eram, de certo modo, considerados os monges do judafsmo de entao. No entanto, nao é possivel afirmar que tenha havido qualquer ligacéo entre Jodo Batista € os essénios. Era evidente para Jodo Batista que © seu ministério consistia em anunciar 0 advento do Messias Jo 1.19-34). 0 contetido de sua mensagem era inquie- tante, Entre outros, ela apresentava os seguintes elementos: @ ‘exortacdo ao arrependimento (Mt 3.2,7 68); reconhecimento de que Cristo era superior a ele (Mt 3.11); dentincia piblica dos pecados dos fariseus (Lc 3.8); prociamacio da eternidade de Cristo (Jo 1.15), de Seu sacrificio redentor (Jo 1.29,36) e do advento do Espirito Santo Jo 1.33), Como precursor de Jesus, Joao Batis- ta o precedeu em Seu nascimento, Seu 8 Ligdes da Palavra de Deus PROFESSOR 36 ministério e Sua morte. Dessa forma, al- gumas observacées importantes quanto ao seu ministério fazem-se necessdrias: © ele era o Ultimo dos profetas da anti- ga alianga, 0 que significava o adven- to de um novo periodo na histéria da humanidade, conhecido como dispen- sacao da graca (Le 16.16); @ ele era chamado de Batista porque essa era uma caracteristica de seu mi- nistério: fazer descer as Aguas todos os que desejassem assumir publicamente sua condi¢ao de pecador (Lc 3.2,3); @ a Biblia diz que ele apareceu pregan- do (Mt 3.1), 0 que demonstra clara- mente a natureza de sua atividade ministerial, ele era um arauto, ou Os dois fatos mais relevantes no ministério de Joao Batista foram: a apresentacdo que ele fez da pessoa de Jesus e o seu batismo ptblico, nas 4guas do Jordao. Ele cunhou a classica e revolucionaria expressao: Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo (Jo 1.29). seja, um encarregado de anunciar a mensagem divina; © o palco principal de suas atividades foi o deserto da Judeia (Mt 3.1) 3.3. O batismo de Jodo Joao aparece no cenario biblico batizando nas aguas do rio Jordao. Foi de tal modo impactante sua atividade como bati- zador que se cunhou a expressdo batismo de Jodo (At 1.22), que veio a se popularizar. Chamar Joao de Batista equivale a chamar de batizador aquele que administra 0 rito do batismo. A palavra que tem origem no grego, baptistés, relaciona- se com baptizo, que significa batizar, lavar, mergulhar, imer gir. Referéncias ao batismo de Joo ocorrem no somente nos evangelhos, mas, posteriormente, no Livro dos Atos dos Apés- tolos (10.37; 11.16; 13.24; 19.3). 0 atrependimento e a confisséo de pecados eram confir- mados pelo batismo de Joao, no qual o uso da agua seguia uma férmula comum no Judaismo (certamente como agente purificador ritual das impurezas do pecado). E, em todo o tem- 0, Jo8o deixava claro que o seu batismo fazia mencao ao sa- crificio redentor de Cristo. GRANDES MOMENTOS NA VIDA DE JOAO BATISTA Ha, pelo menos, quatro importantes eventos da vida de Joao Batista que devem ser mencionados. No entanto, é preciso res- saltar que estes pontos dureos de sua biografia ndo sao exata- mente 0 que se toma por glorioso ou apotestico, segundo os padrées biograficos seculares. Na verdade, tais eventos tem a ver com abnegacao, rentincia e servico. (Os herdis do Novo Testamento 10 1, Jodo batiza Jesus As margens do rio Jordao, o Senhor Jesus se aproximou de Joao para ser batizado (Mt 3.13), quando o arauto Ihe disse: Eu carego de ser batizado por ti, e vens tu a mim? (Mt 3.14) Naquele instante, o singular profeta reconheceu a superiori- dade do Senhor do Novo Testamento (Le 22.20), e sé 0 bati- zou porque Cristo disse que aquele momento era necessario para que as exigéncias da Lei fossem cumpridas (Mt 3.15). 4.2. Jodo perde seus seguidores Apés ser batizado por Jo&o, Jesus comegou a pregar e a atrair muitos seguidores, inclusive alguns discipulos do pré- prio Batista. Isso foz com que alguns dos companheiros do profeta se ressentissem, mas ele hes advertiu: EF necessdrio que ele cresca e que eu diminua (Jo 3.22-30). O ministério do precursor, que elegantemente foi chamado de aurora da histéria evangélica, serve de providencial introdu- 40 ao ministério do Messias. Havia sido anunciado claramente pelos profetas de Israel, 1sa- fas e Malaquias — na época do maior florescimento do profetis- mo e na época do seu ocaso (no ano 433 a.C.) —, que o Messias seria antecedido por um precursor que proclamaria e prepararia © Seu aparecimento. Daf, os quatro evangelistas aplicarem ao filho de Zacarias e Isabel a formosissima profecia de Isafas (Is 40.3-5) (FILLION, Central Gospel, 2003, p. 292). 4.3, Joao deseja confirmar a natureza do Messias Estando na prisdo, certo dia, Jodo enviou dois de seus disci- pulos com a incumbéncia de perguntar ao Senhor se Ele era 0 Messias prometido ou se viria outro depois dele (Mt 11.1-5) Quando aqueles homens chegaram ao lugar onde Jesus estava, 0 Mestre nao lhes deu resposta imediata. Ele prefo- riu que Sua obra falasse por si, em vez de fazer afirmagdes messianicas. Ele se valeu da cura dos cegos, dos coxos, dos le- prosos, dos surdos e da ressurrei¢do dos mortos, bem como da énfase de Sua pregacdo do evangelho, mostrando, deste modo, que Ele era o Messias que Jodo Batista anunciara (Le 7.22,23). 4.4. Jodo tem sua morte decretada Joao Batista nao se contentava em recordar as multiddes suas obrigacdes morais e espirituais e prepard-las para receber © Messias. Aquele homem intrépido reprovou também Hero- des Antipas por todas as maldades que tinha feito (Le 3.19) e, sobretudo, protestou contra 0 casamento dele com Herodias, mulher de Filipe (Mc 6.17-19). O que Jodo disse a Herodes foi que seu casamento era ilegi- timo, pois ele vivia de maneira ilicita com sua cunhada. Lig6es da Palavra de Deus PROFESSOR 36 Herodias desejava a morte de Joao Batista, e, para conseguir seu intento, nao cessava de importunar o tetrarca. Antipas, por sua vez, temia a Jodo, sa- endo que era varao justo e santo; e, quando 0 ouvia, ficava perplexo, escu- tando-o de boa mente (Mc 6.19,20). No entanto, a filha de Herodias, instruida por sua mae, aproveitando a oportunidade que o rei lhe oferecera, exigiu a cabega do profeta batizador em uma bandoja (Mc 6.21,25; Mt 14.6-8). EBoao satista £ jesus De acordo com o texto biblico, o rela- cionamento entre Cristo e Joao Batista deu-se sob algumas condicées, muito especificas, provocadas pelas naturezas de seus ministérios, a saber: © cles eram primos (Lc 1.34-36,56,57); © por algumas vezes, Jodo foi confun- dido com Jesus (Mt 14.1,2; 16.13,14; Mc 6.14; 8.27,28); —= @£§; O zelo de Jodo foi cruelmente castigado, pois Antipas (Le 3.19,20) encerrou-o em um calabouco da fortaleza de Machaerus (ou Maqueronte), construida como um ninho de aguia em uma das regides mais agrestes da Pereia meridional, ao oriente do mar Morto, e, logo depois, foi decapitado, a mando de Herodes, e sepultado por seus discipulos (FILLION, Central Gospel, 2003, p. 392). © Jesus comparou Joao Batista a Elias (Mt 17.11-13); @ Jesus declarou que Jodo Batista foi o maior homem nas- cido de mulher (Mt 11.11; Le 7.28). Em Mateus 11.11, a expressao 0 menor no Reino dos céus diz respeito aqueles que viverao no Reino de Deus. Por maior que Jodo tenha sido nos dias de Jesus, sua posicao de predecessor era inferior 4 do menor no Reino dos céus (conf. Mt 10.32-42) (RADMACHER; ALLEN; HOUSE, Central Gospel, 2010b, p. 40) Jesus ensinou, também, que os dias de Joao Batista eram diferentes e eram outros (Mt 11.12,13; Le 16.16). No ha unanimidade entre os estudiosos quanto @ essas passagens, no entanto, fica claro gue Jesus referia-se aos dias de Jodo Ba- tista, assinalando que ele era um perso- nagem Gnico no plano divino através dos séculos. Ele era o Ultimo profeta da anti- ga alianca e, nesta posicao, fora o prepa- rador para a nova dispensacao, o tempo do Reino. Diante disso, é muito importante no- tar que, embora fossem contemporaneos (Os herdis do Novo Testamento O sentido exato do termo que indica o grau de parentesco tente entre Maria e Isabel é desconhecido (Le 1.36). Algumas versées traduzem-no por prima (ARC; ACF); outros Por parenta (ARA; NVI). Acredita-se, no entanto, que Jesus e Joao Batista eram primos em algum grau. 11 12 € possuissem caracteristicas em comum, suas atividades mi- nisteriais eram diferentes: Jodo era o precursor do Messias, enquanto o Senhor Jesus era o proprio Messias. CONCLUSAO Em Joao 1.6, esta escrito que houve um homem enviado de Deus, cujo nome era Jodo. Esta expressao assegura a auten- ticidade espiritual do ministério desse grande homem, que a nés serve de exemplo. Devemos dar gragas a Deus por sua existéncia e pela exceléncia de seu ministério. No entanto, recordemos a maravilhosa superioridade de Jesus Cristo sobre Jodo Batista: Jesus 6 a Palavra, Joao Batista era um mensageiro; Jesus é eterno, Joao Batista era temporal; Jesus 6 a luz, Jodo Batista era um anunciador da Luz; ‘Jesus 6 Deus, Joao Batista foi enviado por Ele; Jesus ¢ a vida, Joao Batista era um agente proclamador da vida; Jo&o Batista morreu e foi sepultado por seus discipulos, Jesus ressurgiu como Salvador da humanidade. ATIVIDADES PARA FIXACAO 1, Qual foi o triplice propésito ministerial de Joao Batista? R.: Joao Batista seria a alegria de seus pais; levaria muitos do Povo de Israel de volta ao Senhor e prepararia o povo para a vinda de Cristo (Le 1.14-17) 2. Cite alguns episédios que marcaram a vida do precursor do Nazareno: R.: Jodo foi 0 tiltimo dos profetas da antiga alianca (Lc 16.16); foi chamado de Batista porque essa era uma caracteristica de Seu ministério (Le 3.2,3); fol um arauto, ou seja, um encar- regado de anunciar a mensagem divina (Mt 3.1); 0 palco de suas atividades foi o deserto da Judeia (Mt 3.1) 3. Quais os pontos principais da mensagem trazida pelo ulti- mo dos profetas? R.: Exortagao ao arrependimento (Mt 3.2,7,8); reconhecimento de que Cristo era superior a ele (Mt 3.11); dendncia publica dos pecados dos fariseus (Lc 3.8); proclamacio da eternidade de Cristo (Jo 1.15), de Seu sacrificio redentor (Jo 1.29 e 36) e do advento do Espirito Santo (Jo 1.33). Lig6es da Palavra de Deus PROFESSOR 36 Mateus, o Apostolo Improvavel TEXTO BiE Mateus 9.9-13 9- E Jesus, passando adiante dali, viu assentado na alfandega um homem chamado Mateus ¢ disse-Ihe: Seque-me. E ele, levantando-se, 0 seguiu. 10- E aconteceu que, estando ele em casa sentado d mesa, chegaram muitos publicanos e pecadores e sentaram-se juntamente com Jesus e seus discipulos. 11 - E 0s fariseus, vendo isso, disseram aos seus discipulos: Por que come 0 vosso Mestre com os publicanos e pecadores? 12 - Jesus, porém, ouvindo, disse-thes: Nao necessitam de médico os ‘sos, mas sim, os doentes. 13- Ide, porém, e aprendei o que significa: Misericérdia quero e ndo sacrificio. Porque eu néo vim para chamar os justos, mas os pecado- Tes, ao arrependimento. Mateus 10.1-7 1- E, chamando os seus doze discipulos, deu-lhes poder sobre 08 espiritos imundos, para os expulsarem e para curarem toda enfermidade e todo mal. 2- Ora, os nomes dos doze apostolos sdo estes: O primeiro, Si- méo, chamado Pedro, e André, seu irmao; Tiago, filho de Ze- bedeu, e Jodo, seu irmao; 3- Filipe e Bartolomeu; Tomé e Mateus, o publicano; Tiago, fi- Iho de Alfeu, e Lebeu, apelidado Tadeu; 4- Siméo, 0 Zelote, e Judas Iscariotes, aquele que o traiu. 5- Jesus enviou estes doze e lhes ordenou, dizendo: Nao ireis pelo ‘caminho das gentes, nem entrareis em cidade de samaritanos; 6- mas ide, antes, as ovelhas perdidas da casa de Israel; 7 - e, indo, pregai, dizendo: E chegado o Reino dos céus. (Os herdis de Novo Testamento 13 TEXTO AUREO E, depois disso, saiu, e viu um publicano, chamado Levi, assentado na recebedoria, e disse-lhe: Segue-me. Lucas 5.27 SUBSIDIOS PARA O ESTUDO DIARIO 2° feira - Mateus 12.46-50 Os verdadeiros discipulos 38 feira - Mateus 10.1-7 A autoridade dos discipulos 48 feira - Joao 15.1-8 14 A importancia de ser discipulo 5¢ feira - Mateus 13.9-14 0 privilégio dos discipulos 6? feira - Mateus 13.32-37 A responsabilidade dos disc/pulos Sabado - Mateus 26.40-45 O desafio dos discipulos OBJETIVOS Ao término do estudo biblico, o aluno deveré ser capaz de: compreender as circunstancias do chamado de Mateus; © saber que o apéstolo foi usado por Deus para escrever um dos evangelhos; ® conhecer o resumo biografico do evangelista que defen- deu a genealogia de Cristo a partir de Abrado. ORIENTACOES PEDAGOGICAS Caro professor, nesta licéo, analisaremos a vida e a obra de Mateus. Inicialmente, abordaremos os aspectos encontrados nas Escrituras. Tornar-se-A evidente que seus feitos nao sao rela- tados, de forma detalhada, pelos autores biblicos, como acon- tece com alguns personagens neotestamentarios, a exemplo de Timéteo e Paulo. No entanto, apesar da escassez de informagées relaciona- das & pessoa do apéstolo, ele nos mostra que as origens € as atos praticados pelo hamem nao impedem que Deus faca cumprir Seus desfgnios no ser humano e por intermédio dele. Em seguida, consideraremos 0 que os pais da Igreja e a tra- dicdo eclesidstica tém a dizer sabre esse personagem Gnico, que trouxe incontaveis contribuicées & Igreja. Certamente, esta ligéo ampliara seus conhecimentos acer- ca da Palavra de Deus e o ajudard a compartilhar a Biblia de forma mais efetiva e adequada Que nosso Senhor 0 ajude a valorizar os escritores biblicos, afinal, esses homens desempenharam um importante papel, a0 nos oferecer um melhor entendimento da vida e do minis- tério de nosso Senhor Jesus Cristo. Boa aula! Ligdes da Palavra de Deus PROFESSOR 36 COMENTARIO Palavra introdutéria Os escritores dos evangelhos utilizaram dois nomes para fazer referéncia ao apéstolo: Mateus e Levi. Encontramos, nos relatos biblicos, cinco citagdes ao nome de Mateus (Mt 9.9,10; 10.3; Mc 3.18; Le 6.15; At 1.13) e duas ao de Levi (Mc 2.14,15; Le 5.27,28). No entanto, os trés evan- gelhos nos informam que Mateus (ou Levi) era um cobrador de impostos (Mt 9.9,10; Mc 2.14,15; Le 5.27-29). Portanto, se compararmos as trés narrativas, perceberemos que Mateus & Levi sao, na verdade, a mesma pessoa. O segue-me de Jesus, dirigido ao publicano (Mt 9.9c), transportou-o da condigao de funciondrio do Império romano a apéstolo e servo de Cristo. Eiimateus, o Homem Era comum que os judeus adotassem dois nomes, um he- braico e outro grego (ou romano). No entanto, Mateus e Levi sao de origem semitica. Dentre as muitas possibilidades para esse fato, consideremos duas PTE possivel que jesus tenha dado a Levi onome Mateus, peabeeine da mesma maneira que Ele nomeou Simo de Pedro. O nome Mateus é uma contracao de Matatias, que, no hebraico, significa dadlva ou presente de Deus. Blea ee DOCU er ee ‘Seu pai poderia ter por sobrenome Levi. Neste caso, Peery seu nome completo seria Mateus ben (filho de) Levi. Os autores dos evangelhos de Marcos e Lucas, em um primeiro momento, usaram o nome Levi, pois este éra o seu nome israelita (Mc 2.14,15; Lc 5.27,28); no entanto, posterior- mente, eles (e 0 autor do Livro de Atos) usaram 0 nome Ma- teus (Mc 3.18; Le 6.15; At 1.13). 1.1. Evidéncias biblicas Uma vez que apenas sete trechos do Novo Testamento ofe- recem informagées a respeito da identidade do evangelista, analisemos as evidéncias: 1.1.1, No Evangelho de Mateus Jesus chama Mateus, o cobrador de impostos, para segui- lo. Em seguida, Cristo e Seus discfpulos fazem uma refeico com muitos publicanos e pecadores (Mt 9.9,10).. Em Mateus 9.10, encontramos a expressao: E sucedeu que, estando ele em casa... Apesar de alguns estudiosos levantarem (Os herdis do Novo Testamento 15 16 a hipotese de esta ser a casa de jesus, podemos verificar, em Marcos 2.15 e em Lucas 5.29, que ela pertencia ao publicano. O nome Mateus é listado como um dos doze apéstolos co- missionados para estarem com Cristo, pregando e expelindo deménios (Mt 10.3). 1.1.2. No Evangelho de Marcos Jesus chama Levi, filho de Alfeu, para segui-lo. Em segui- da, Ele e Seus discipulos comem na casa de Levi, juntamente com publicanos e pecadores (Mc 2.14,15). No capitulo posterior, Marcos cita 0 nome de Mateus como um dos Doze (Mc 3.13-18). 1.1.3. No Evangelho de Lucas Jesus vé 0 cobrador de impostos chamado Levi, sentado na coletoria, e 0 convoca. Como resultado, Levi oferece, em sua casa, um grande banquete a Jesus (Lc 5.27-29). Lucas, que 0 nomeara Levi, anteriormente, passa a cita-lo como Mateus, 0 apéstolo vocacionado (Lc 6.12-16). 1.1.4. No Livro de Atos O autor do Livro de Atos (Lucas) inclui Mateus na lista final de discipulos (At 1.13). Nesta oportunidade, ele estava reunido com outros seguidores de Jesus, no cenaculo, em oragao, a es- pera do derramamento do Espirito Santo (At 1.14; 2.1). 1.2. A familia de Mateus Tudo que o texto biblico menciona a respeito dos familia- res de Mateus 6 que ele era filho de Alfeu (Mc 2.14). Apesar de Marcos citar Tiago como filho de Alfeu (Me 3.18), os evan- gelhos nao dizem que Mateus e Tiago eram irméos, ou soja, provavelmente trata-se de duas pessoas diferentes: Alfeu, pai de Tiago (Le 6.15) e Alfeu, pai de Mateus (Mc 2.14). Muito provavelmente, ele tenha nascido na cidade de Ca- farnaum, na costa do Mar da Galileia, local onde Mateus exercia seu oficio de cobrador de impostos (Mc 2.1,14). 1.3. O oficio de Mateus Mateus era um funcionério do governo romano que ocupa- va a posigao de coletor de impostos (Mt 9.9). Alguns historiadores asseguram que, para exercer essa funcao, era necessario conhecer outros idiomas, tais como 0 aramaico, 0 grego e o hebraico — é importante observar que, em seu Evangelho, Mateus fez mais que uma referéncia ao aramaico. Naqueles tempos, o sistema romano de cobranga de impostos era muito vulneravel as fraudes. Em virtude disto, os publicanos, além de nao serem bem vistos, especialmente pelos judeus, eram considerados corruptos e tratados como ladrées por suas transa- 6es pouco transparentes. Os publicanos eram duplamente im- populares: eles cobravam impostos e corrompiam o sistema econémico. Lig6es da Palavra de Deus PROFESSOR 36 Ahistoria sugere que somente 0s G2- nanciosos se alinhavam com a Casa de Herodes ou trabalhavam como cobrado- res de impostos para os representantes Provavelmente, 0 propésito de Jesus era da Roma imperial. ter um apéstolo vindo da classe dos publicanos, a 1.4. A hospitalidade de Mateus fim de demonstrar mais O publicano recebeu em sua casa va- Claramente a graca de Deus. rios colegas de trabalho e outras pesso- Os fariseus consideravam as de md fama para uma refeigao que 9s publicanos homens sem ele dedicaria ao Senhor Jesus (Mc 2.15; esperanca, sem direito a0 Mt 9.10. Le 5.29). Como cristaos, devemos sentir-nos compelidos a expressar_publicamente outras pessoas a oportunidade de ouvir o evangelho da graca de Deus. Vale observar que a salvacao de Ma- teus demonstra a exuberancia da graca salvadora de Cristo, que nao faz distinc entre as pessoas e a todos oferece uma oportunidade de transformacao espiritual. MATEUS, O SERVO Mateus foi um dos doze discipulos convocados por Cristo para 0 apostolado (Mt 10.3). Seu chamado é descrito com pa- lavras que denotam tanto a grandeza quanto a simplicidade da causa (Mt 9.9) 0 fato de Jesus convidar um cabrador de impostos para segui-lo e, posteriormente, ser Seu apéstolo, ensina-nos varias licgdes. Vejamos, a segui ®@ Cristo via nele algo que as pessoas CO- jE muns ignoravam; arrependimento. Jesus, contudo, mostrou que nossa gratidao por pertencermos a Ele, "40 ha quem nao possa ao mesmo tempo em que oferecemos a arrepender-se. @ Jesus seria capaz de conduzi-lo a uma Jesus sentava-se no meio posicao de grande honra; de pecadores, a fim de @ Jesus sabia que poderia usar seus ta- mostrar que o Evangelho lentos naturais para compor o texto nao pode ficar restrito canénico; as barreiras étnicas e @ Jesus queria mostrar que a vocacéo ¢ylturais. Sua convivéncia para servir em Seu Reino, independe de fatores socioecondmicos ou culturais. com publicanos e pecadores causava 2.1, O trabalho missionario irritagao nos fariseus e A historia demonstra que o filho de Al-_ escribas, pois estes viviam feu nao limitou sua acao a regido de Ca-_~—_& base do exclusivismo farnaum; ele exerceu um trabalho genui- _ judaico e da hipocrisia. namente missiondrio, percorrendo boa parte do mundo de entao. — (Os herdis do Novo Testamento 17 18 Na parte final de seu ministério, a convivéncia pacifica en- tre judeus e cristéos tornou-se invidvel, e qualquer um que cresse em Cristo como filho de Deus nao poderia permanecer dentro de uma sinagoga Apesar disso, Mateus continuou anunciando 0 Evangelho aos judeus. Seu trabalho evangelistico durou, provavelmente, 15 anos. E foi neste contexto de rusgas e enfrentamentos que ele, inspirado, escreveu o Evangelho que traz seu nome. 2.2. Os Ultimos dias do apéstolo Embora para alguns historiadores 0 evangelista tenha mor- rido de causas naturais, na Macedénia ou na Etidpia, a tradi- cao cristé mais amplamente aceita o arrola como mértir, de acordo com Eusébio de Cesareia. As fontes de informacao extrabiblicas declaram que ele permaneceu em Jerusalém e arredores, cuidando da difuséo do cristianismo, até que ocorreu a perseguicéo de Herodes Agripa |, no ano 42 AD. Nessa época, Mateus teria deixado 0 pais e viajado para Chipre e, em seguida, partido para o Norte da Africa Apés Atos 1.13, Mateus desaparece da narrativa biblica. As Escrituras nao dizem para onde ele foi ou como exerceu seu ministério. No entanto, a tradicao da Igreja primitiva oferece alguns pormenores a respcito deste evangolista. Irineu diz que ele pregou o evangelho entre os hebreus, mas nao declara a re- giao (se na Palestina ou fora dela). Clemente da Alexandria diz que Mateus dedicou quinze anos a pregacao entre os etfopes, os gregos macedénios, os sirios e os persas. Desde o inicio da Igreja, a comunidade crista 0 considera um martir. Acredita-se que ele tenha sido martirizado em Na- ddabar, na Etidpia, em uma data nao identificada. Segundo 0 Livro dos mértires, escrito no século 16 por John Knox, Mateus teria morride no ano 60, na regido etiope de Partia, Ejmateus, 0 evancetHo O evangelho segundo Mateus foi escrito aos judeus e apre- senta Jesus como legitimo herdeiro ao trono de Davi, ¢ Ele é, portanto, o Rei de Israel. Mateus 6 considerado 0 mais ecle- sidstico dos evangelhos, pois se concentra em solucionar os problemas da Igreja, além de narrar os ensinos e a vida de Cristo, o Rei divino. A respeito dos ensinos de Jesus, Mateus os agrupa da se- guinte maneira: ®@ 0 sermao da montanha (Mt 5—7); ® @ comiss8o dos Doze (Mt 10): as pardbolas do Reino (Mt 13); @ oc discurso sobre a grandeza do perdao (Mt 18); ®@ os discursos proféticos (Mt 24—25). Lig6es da Palavra de Deus PROFESSOR 36 3.1. Autoria O autor do Evangelho de Mateus co- Mateus € 0 Unico dos nhecia a geografia da Palestina muito bem evangelhos que fala (Mt 2.1; 8.5; 20.29; 26.6). Ele estava fami- especificamente da Larizado com a histéria dos judeus, seus —_jgreja (Mt 16.18; 18.17), costumes, suas ideias e as classes sociais (Mt 1.18,19; 2.1; 14.1). Ele também co- nhecia muito bem o Antigo Testamento mostrando aos gentios como a Eclésia é formada (Mt 1.2-16,22,23; 2.6; 4.14-16).Eatermi: © descrevendo varios nologia do livro sugere que seu autor era e@pisddios em que gentios um judeu da Palestina (Mt 2.20; 4.5; 5.35). demonstraram fé em Jesus: Portanto, todos esses detalhes apon- 95 magos, o centurido tam, de modo bem especifico, Mateus, 0 ea mulher cananeia discfpulo de Jesus, como 0 escritor dese (RADMACHER: ALLEN evangelho (RADMACHER; ALLEN; HOU- SE, Central Gospel, 2010b, p. 11). HOUSE, Central Gospel, De acordo com as fontes histéricas 2010b, p. 10). mais amplamente aceitas, Mateus teria escrito 0 texto do evangelho que traz seu nome, em diversos lugares: na Judeia, no Egito, na Etidpia e em Partia (regido ao nordeste do atual ter- ritério do tra). 3.2. Composicao canénica Todos os evangelistas tinham seu préprio enfoque, sua én- fase e seu tom especifico. Eles relataram fielmente os eventos observados ou pesquisados. As diferencas no método de es- crita provam que cada escritor utilizou-se de recursos narra- tivos préprios para a disposicéo do material. O autor do Evangelho de Mateus no construiu seu texto em uma linha cronoldgica, mas fez uma abordagem tépica do ministério de Cristo. Mateus escreveu seu Evangelho antes da destruicdo de Je- rusalém em 70 d.C. Ele descreve Jerusalém em seu livro como a Cidade Santa, pois ela ainda estava intacta (Mt 4.5; 27.53), e menciona os costumes judaicos que permaneciam até 0 dia de hoje (Mt 27.8; 28.15). Além disso, a profecia de Jesus sobre a destrui¢ao de Jerusalém (descrita em Mateus 24.2) nao traz indicio algum de que ja tinha side cumprida quando Mateus registrou as palavras de Jesus. A luz de tudo isso, podemos concluir que 0 livro foi escrito entre 50 e 60 d.C. (RADMACHER; ALLEN; HOUSE, Central Gospel, 2010b, p. 11). 3.3. Por que Mateus escreveu aos judeus? Cada um dos quatro evangelhos tinha, originalmente, um ptblico alvo bastante especifico: Joao escreveu a Igreja e aos gentios, Lucas aos gregos, Marcos dedicou-se aos romanos, @ Mateus aos seus compatriotas judeus. (Os herdis do Novo Testamento 19 a A anilise das expectativas do povo ju- Mateus faz mais de 53 citagées do Antigo er seu Evangelho. deu, a época de Jesus, permite-nos reco- nhecer o propésito de Mateus ao escre- Testamento e mais de 70 referéncias as Escrituras ‘3.3.1. As expectativas judaicas hebraicas. Seu livro © povo judeu aprendera a esperar enfatiza 33 vezes que as _ pelo Messias prometido, uma vez que obras de Jesus foramum — muitas profecias falavam de Sua gloria cumprimento das profecias 425 bencaos de Seu Reino. do Antigo Testamento A opressao politica ¢ econémica e a 20 (RADMACHER; ALLEN; decadéncia espiritual da nacao fizeram HOUSE, Central Gospel, 2010b, p. 10). ou soja, o Cristo esperado, naquele mo- com que a imagem do Messias assumis- se uma conotacao temporal e terrena, mento, deveria ser um libertador politi- coe um lider religioso. Dessa forma, Mateus tocou em uma questo de profundo interesse para todos os judeus. Eles nao conseguiam enxergar o homem de dores das mensagens pro- féticas (Is 53.3), uma vez que Cristo, evidentemente, no veio na forma como eles esperavam. Portanto, o propdsito de Mateus tornou-se evidente quan- do ele enfatizou o relacionamento entre Jesus e a fé judaica. Ele desafiou os judeus a perceberem que Cristo era o Messias longamente esperado (Mt 1.1-16), que Ele era o filho de Davi (Mt 22.41-44). 3.3.2. 0 estilo literério Vejamos, resumidamente, os tons judaicos, tao flagrantes no Evangelho de Mateus, bem como as particularidades de seu estilo literdrio: © citac&o dos profetas do Antigo Testamento — mais que qualquer outro escritor sinético, Mateus cita os profetas do AT e faz referéncia frequente a0 cumprimento de suas pro- fecias (Mt 1.22; 2.5,17; 12.17; 13.35; 21.4; 24.15; 27.9); © utilizacdo de termos do interesse judaico — Mateus em- prega frases tais como Cidade Santa (Mt 4.5; 27.53), Lu- gar Santo (Mt 24.15), cidade do grande Rei (Mt 5.35) Filho de Davi (Mt 1.1; 22.42). Além disso, 0 evangelista enfatiza que Jesus nao veio para destruir a Lei, mas para cumpri-la (Mt 5.17) (informacao que, também, interessava aos judeus); © condenacio das priticas iniquas dos lideres religiosos — Mateus condenou, repetidas vezes, os lideres religiosos judaicos por suas praticas iniquas (Mt 3.7; 5.20; 16.6,11; 23.13,14,29). Os gentios nao se interessariam por tal én- Lig6es da Palavra de Deus PROFESSOR 36 fase, pelo menos néo tanto quanto 0S RES ; _ OQ Evangelho de Mateus © Mateus nao explica seus comenté- tem muitas caracteristicas ros sobre as praticas religiosas dos“ itqaicas, Por exemplo, judeus. Subentende-se que seus leito- o termo Reino dos céus Tes ja aS conheciam previamente (Mt 1.18,19; 26.1-5; 27.1,2). aparece 32 vezes, e o termo Reino de Deus, cinco vezes. Nenhum outro Evangelho dé CONCLUSAO tanta énfase ao Reino. Alguns historiadores e pesquisado- A esperanca da restauracao res questionam a identidade de Mateus. do reino de Davi era algo Alguns estudiosos sugerem que ele no que ardia no coracao seja quem acreditamos que eleée muito ggg judeus naqueles dias menos que ele seja 0 autordo Evangelho (RADMACHER: ALLEN: de Mateus. F - danci HOUSE, Central Gospel, No entanto, 0 conjunto de evidéncias 2010b, p. 9). historicas nos fornece subsidios nado so- mente para acreditarmos que conhece OE —_—_ mos 0 Mateus correto, mas, também, para entendermos que ele foi usado pelo Espirito Santo para desen- volver um ministério pastoral e missiondrio muito proficuo en- tre os judeus. Pela graca e pela misericérdia de Deus, Mateus, de possi- vel corrupto, passou a apéstolo do Cordeiro. Além disso, ele gozou do privilégio de ser usado pelo Senhor para compor um dos documentos imortais da humanidade, pois sua obra literaria é parte substancial das Escrituras Sagradas. ATIVIDADES PARA FIXACAO 1. Como se chamava 0 nome do pai de Mateus? 2 Alfeu O que significa 0 nome Mateus? : Dom de Deus. wp Dp Como podemos denominar 0 gesto de Mateus em oferecer um banquete para Jesus? R.: Um ato de gratidao e de hospitalidade. 4. A quem, primeiramente, destinavam-se os escritos de Ma- teus? Qual era seu objetivo? R.: Aos judeus. Ele pretendia desafiar 0 povo a perceber que Cristo era 0 Messias longamente esperado (Mt 1.1-16), que Ele era o filho de Davi (Mt 22.41-44). ‘Os hersis do Nove Testamento 21 DIA 22 Mes x Lucas, o Médico Amado Lucas 1.1-4 1- Qu Bun 4- Tendo, pois, muitos empreendido pér em ordem a narragdo dos fa- tos que entre nés se cumpriram, segundo nos transmitiram os mesmos que os presenciaram desde o pnincipio e foram ministros da palavra, pareceu-me também a mim convenienie descrevé-los a ti, 6 excelen- tissimo Teofilo, por sua ordem, havendo-me jd informado minuciosa- mente de tudo desde o principio, para que conhegas a certeza das coisas de que ja ests informado. 2 Timoteo 4.5-11la 5- 10- Mas tu sé sébrio em tudo, sojre as aflicées, faze a obra de um evan- gelista, cumpre o teu ministério. Porque eu jd estou sendo oferecido por aspersio de sacrificio, e 0 tempo da minha partida esta proximo. Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé. Desde agora, a coroa da justia me esté guardada, a qual 0 Senhor; justo juiz, me dard naquele Dia; e ndo somente a mim, mas também todos os que amarem a sua vinda. Procura vir ter comigo depressa. Porque Demas me desamparou, amando o presente século, e foi para Tessaldnica; Crescente, para a Galécia, Tito, para a Dalidcia. 11a- $6 Lucas estd comigo. Lig6es da Palavra de Deus PROFESSOR 36 TEXTO AUREO Satida-vos Lucas, 0 médico amado, e Demas. Colossenses 4.14 OBJETIVOS Ao término do estudo biblico, o aluno devera ser capaz de: conhecer um resumo biogrdfico de Lucas, o médico amado; saber gue um gentio foi inspirado por Deus para escrever ° e um dos evangethos; @ reconhecer a importancia do trabalho literario do evan- gelista. ORIENTACOES PEDAGOGICAS Lucas é um dos quatro evangelistas. Nesta licéo, estudare- mos sua vida e sua obra, a luz das Escrituras. Consideraremos, também, aspectos histéricos relevantes Os livros escritos por ele (Evangelho e Atos dos Apéstolos) incluem a passagem da ascensao de Jesus, um acontecimento que apenas o médico amado descreve em detalhes. Podemos ainda citar o fato de que seu Evangelho é 0 mais longo dos quatro. Além disso, Lucas registra uma grande va- riedade de milagres, ensinamentos e parabolas, fazendo com que seus escritos sejam o retrato mais extenso do ministério de Cristo. Os evangelistas possuiam formas proprias de escrever a respeito do ministério de Jesus, 0 que nos permite nao ape- nas conhecer melhor o Cristo, mas, também, compreender um pouco sobre cada um dos Seus bidgrafos. 0 Evangelho de Lucas, dirigido aos gregos, supre uma nar- rativa em ordem confidvel para Tedfilo e ensina que, apesar de sua origem judaica, o cristianismo deveria ser reputado como religiéo universal Deus 0 abencoe na conducao do tema: Boa aula! SUBSIDIOS PARA © ESTUDO DIARIO 2 feira - Atos 16.6-11 Lucas encontra Paulo em Tréade 3? feira - Atos 16.16-23 Aprisionados em Filipos 43 feira - Atos 20.2-6 Lucas reencontra Paulo 5¢ feira - Filemom 1.1-4,22-25 Lucas, colaborador de Paulo 6? feira - Colossenses 4.10-14 Saudades de Lucas aos colossenses SAbado - 2 Timéteo 4.7-11 Paulo cita Lucas pela ultima vez ‘Os hersis do Nove Testamento 23 24 COMENTARIO Palavra introdutéria Lucas nao esteve pessoalmente com o Mestre, todavia es- colheu segui-lo. Deve ter sido algo totalmente instigante e de- safiador, para alguém que nao conheceu Jesus, falar sobre Ele Dizer que o médico amado é um dos heréis do Novo Testa- mento significa reconhecer seu trabalho como escritor inspi- rado, além de missionrio dedicado e altruista. Ele atuou na propagacao da mensagom redentora, ao lado de Paulo, Silas, Barnabé e outros valentes. Bacas, © HOMEM Lucas era médico (Cl 4.14) e um intelectual altamente ins- truido. Fle aprendeu tudo o que pade a respeito do Filho de Deus e dividiu suas descobertas com todos aqueles que nao pertenciam ao mundo judaico. As trés singelas referéncias feitas a seu nome, no Novo Tes- tamento (Cl 4.14; 2 Tm 4.11; Fm 1.24), nao fazem jus a impor- tancia histérica e a influéncia eclesiastica deste personagem. Vejamos a seguir: @ Colossenses 4,10-14 — ele 6 um dos seis homens citados no- minalmente por Paulo nas saudagées finais a igreja em Colos- sos. O evangelista é identificado como 0 médico amado; @ 2 Timdteo 4.11 — ele esta em Roma com Paulo. Neste pe- riodo de aprisionamento, Paulo diz que somente Lucas esté com ele; @ Filemom 1.24 — nessa ocasiao, Paulo diz que ele é um de seus cooperadores. 1.1. Origens A narrativa biblica evidencia as habilidades, o temperamen- to e a dedicacao do homem que, convertido ao cristianismo, dedicou-se profundamente & propagacao das boas novas de salvagao. No entanto, 0 eshoco geral do caréter de Luces exige que consultemos fontes extrabiblicas para preencher as lacu- nas que apenas o texto sagrado nao preenche. Hé um prélogo ao seu Evangelho (160 d.C.) que faz as se- guintes declaracées: ele era nativo de Antioquia, gentio e mé- dico; escreveu o terceiro livro do Novo Testamento na Acaia e morreu aos 84 anos de idade, sem nunca ter se casado. Iri- neu, Tertuliano, Clemente de Alexandria e Jeronimo, alguns dos pais da Igreja, confirmam este testemunho. ‘A tradico fala a seu respeito e acrescenta informacées titeis sobre seu local de nascimento, profiss3o, viagens, etc. H4 uma possibilidade, n&o comprovada, de que 0 colaborador de Paulo, durante aiguns anos de sua vida, tenha sido escravo de alguma familia abastada. Nao era incomum que pessoas de posses investissem na formagdo de um de seus empregados, na carreira de Medicina, pois, dessa forma, elas poderiam ter um profissional desta rea & disposicao, Lig6es da Palavra de Deus PROFESSOR 36 Em Colossenses 4, Paulo lista seus Cla- boradores e os separa em dois grupos: 0s da circuncisdo, judeus (v.11); e os nao cir- cuncidados (Lucas aparece neste grupo). Irineu, um dos pais da Igreja, bispo de Lyon (hoje Franca) e polemista 1.2. Conversao antignéstico, foi o primeiro Nao existe qualquer registro, no tex- a fazer clara referéncia ao to biblico, que lance luz sobre a época, evangelista e a cita-lo como as condigdes ou as circunstancias da autor (cerca de 175 d.C.) conversao de Lucas ao Cristianismo, mas seu comportamento, ao longo dos Os relatos histéricos mais anos, demonstra que ele possuia uma fé Confidveis informam que firme no Senhor Jesus. Lucas era siriaco e que teria morrido em um distrito 1.3. Profissao e vocacao grego chamado Boeotia. Lucas era amado por Paulo € AMQ- ges do por muitos, pois se deleitava em fazer Cristo conhecido. Ao lermos seu Evan- gelho e o Livro de Atos dos Apéstolos, percebemos a ternura, 0 amor e a genuina afeicdo devotados a seus companheiros de ministério e &@ humanidade. 1.3.1, Médico Os relatos do Novo Testamento afirmam que ele era mé- dico (Cl 4.14). E possivel que essa condicao tenha sido de grande valia para Paulo. Como esse apéstolo fora espancado e apedrejado varias vezes (At 16.23; 2 Co 6.5; 11.24-27), seria indispensavel que cle recebesse assisténcia médica. A pre- senca e a colaboracdo de Lucas, provavelmente, fizeram com que Paulo fosse assistido em sua satide fisica. Tal inferéncia nos permitiria concluir que os cuidados ofe- recidos por Lucas motivaram Paulo a chama-lo de médico amado, quando redigi a epistola enderecada aos irmaos de Colossos (Cl 4.14). Dessa forma, Paulo nos ensina a sermos gratos a Deus pelas vidas de homens e mulheres que se des- tacaram em suas atividades, produzindo mais e melhor para a obra de Deus. 1.3.2. Historiador Apesar de ser respeitado e reconhecido como médico, uma das maiores colaboracées que ele prestou ao Reino de Deus foi ter atuado como historiador. Nos versiculos introdutérios do Evangelho de Lucas e do Livro de Atos dos Apéstolos, evidenciam-se seu empenho e seu método, no sentido de produzir um tratado historico con- fidvel e um testemunho fidedigno de tudo 0 que acontecera a Jesus e, posteriormente, a seus discipulos. Lucas era médico, mas agiu como um historiador por exce- l@ncia (Le 1.1-4). Vejamos a seguir: (Os herdis do Novo Testamento 25 Lucas, o autor do terceiro Evangelho e do Livro de Atos dos Apéstolos, acompanhou 0 apéstolo Paulo, em viagens missionarias, pelo menos em quatro ocasides (At 16.10-17; 20.5-15; 21.1-18; 27.1—28.16). @ reconheceu as tentativas anteriores a dele (v. 1); valorizou as testemunhas oculares (v. 2); acreditou no valor de uma descricao or- ganizada e sistematica dos eventos dos primeiros anos do cristianismo (v. 3); @ investigou cuidadosamente todas as fontes disponiveis (v. 3,4). LUCAS, O MISSIONARIO ‘As duas obras literdrias compostas por Lucas e sua trajetoria ministerial nao dei- xam diividas quanto ao seu entendimento sobre 0 carater universal do Evangelho. Para ele este 6 0 correto entendimento sobre a salvagio e a mensagem da cruz: o Evangelho é o dom de Deus ao mundo. 2.1. 0 itinerario Muito provavelmente, o primeiro encontro de Lucas com Paulo ocorreu por v jolta do ano 51, em Trdade, de onde segui- ram, juntos, da Macedonia até Filipos. Observemos 0 relato a respeito de sua trajetéria missioné- ria (RADMACHER; p. 334): ALLEN; HOUSE, Central Gospel, 2010b, 2.1.1. Primeiro registro @ Tréade — Trdade era uma cidade portudria da Asia Menor préxima a antiga Segundo o costume judeu, uma congregacdao era formada por dez familias. Se houvesse dez chefes de familia em uma cidade, uma sinagoga poderia ser formada. Caso contrdrio, era encontrado um lugar de oracao, a céu aberto. Paulo tinha por habito ir primeiro @ sinagoga da cidade em que chegava. Mas, em Filipos, ele procurou um grupo de oracao de judeus (At 16.13,16). — —_ regio de Tréia. Essa é a primeira das quatro secées do livro de Atos onde o autor usa o verbo na primeira pessoa do plu- ral (At 16.8-10); © Samotracia — Samotrdcia era uma grande ilha entre a Asia e a Europa (At 16.11); @ Filipos — Por causa de sua proximida- de com 0 mar e com as maiores es- tradas da Europa, Filipos era 0 centro comercial da Maced6nia. A influéncia que ela exercia em toda aquela regiao fazia dela um 6timo lugar para 0 inicio da pregacao do evangelho de Jesus Cristo (At 16.12). 2.1.2. Percalcos Paulo e Silas foram presos em Filipos (At 16.19-23). O texto biblico nao explica por que Timéteo e Lucas escaparam; no entanto, alguns creem que, possivelmen- te, eles passaram despercebidos por nao terem a aparéncia de judeus comuns. 26 Ligdes da Palavra de Deus PROFESSOR 36 Apés a prisdo de Paulo e Silas, provavelmente, Lucas e Timé- teo permaneceram na cidade, a fim de dar assisténcia & igreja gue acabara de florescer. Na carta que Paulo escreveu aos Fili- penses, ainda na prisao, ele disse: quando parti da Macedénia, nenhuma igreja comunicou comigo com respeito a dar e a rece- ber, senao vés somente (Fp 4.15,16). E possivel que tenha havi- do intermediacdo de Lucas e Timéteo nesse sentido. 2.1.3, Segundo registro Paulo e Lucas se reencontram, o que fica evidente a partir de Atos 20.13. © Trdade e Ass6s — Lucas e os outros deixaram Tréade e foram para Assés, quase 50km ao sul (At 20.5-15); © Cés, Rodes, Patara, Tiro, Ptolemaida, Cesareia e Jerusa- 1ém (At 21.1-18); © [t4lia, Sidom, Julio, Mirra, Bons Portos, Malta, Siracusa, Putéoli e Roma (At 27.1—28.16). Dessa forma, podemos entender que Lucas nao foi somen- te 0 escritor do terceiro Evangelho, mas um verdadeiro mis- sionario a servigo da expansao do Reino de Deus. Paulo passou seus ultimos dias na prisio, e Lucas foi uma das pessoas que, mais proximamente, manifestou-the apoio, solida- riedade e companheirismo. O apdstolo, ao escrever a segunda carta a Timéteo, provaveimente, sabia de sua morte iminente (2 ‘Tm 4.6-8), Muitos de seus companheiros o haviam deixado (2 Tm 4.16), mas Lucas estava com ele (2 Tm 4.11). Eiucas, O ESCRITOR Lucas nao deve ser considerado um simples autor ou ajunta- dor de evidéncias histéricas, pois ele redigiu seus textos como um literato, como um artista da palavra escrita. Sua produco 6 rica em detalhes. Ele surpreende seus leitores a0 narrar com destreza, forca @ —— graca personagens tao diferentes como js duas obras de Lucas Zacarias (Le 1), Herodes (Le 23.7-15) e 0 eunuco de Candace (At 8.27-39). Lucas (Evangelho e Livro de era um excelente comunicador. Atos) representam pouco mais do que um quarto 3.1. Obras litera iS da formacao canénica O Evangelho de Lucas é 0 tnico que ‘40 NT. Os livros contém possui uma sequéncia no Novo Testa- mai: material do que as mento: o Livro de Atos. Os dois livros in- 13 epfstolas paulinas (se cluem a passagem da ascensdo de Jesus, nao considerarmos Paulo o um acontecimento que apenas o evange- lista descreve em detalhes (Le 24.22-52; Sutoride Hebreus); At 1.9-11, cf, Mt 28.16-20; Me 16.9-19). — ‘Os herdis do Novo Testamento 27 3.1.1, Evidéncias biblicas e historicas O registro biblico prové informagées que, cruzadas com a tradicao eclesiastica, apontam Lucas como autor de ambos os livros: ® se compararmos o prefacio do Evangelho de Lucas com 0 prefacio do Livro de Atos, percebemos que a mesma pes- soa os escreveu (Lc 1.1-4; At 1.1); @ ambos os textos foram dedicados a Tedfilo (Le 1.3; At 1.1), um alto oficial romano, possivelmente um recém-convertido ao cristianismo; © oescritor dos dois volumes escreveu, primeiro, 0 Evange- tho (At 1.1); ®@ oc livro dos Atos contém as chamadas secées com a palavra nds (At 16.10-17; 20.5-15; 21.1-18; 27.1—28.16). Entende- mos que Lucas escreveu 0 Livro de Atos, logo, 0 pronome que aparece, nessas secées, 0 inclui 3,1.2, O Evangelho Lucas é 0 mais longo, 0 mais completo e o mais abrangen- te de todos os sinéticos. Além disso, registra uma grande va- riedade de milagres, ensinamentos e pardbolas, fazendo com que seus escritos sejam 0 retrato mais extenso do ministério de Jesus. Os exemplos a seguir confirmam tal declaracao: ® apresenta o maior némero de pormenores relacionados ao nascimento de Jesus (Le 1—2); @ fala sobre vdrias mulheres: Isabel (Lc 1); Marta e Maria de Betdnia (Lc 10.38-42); a vidva de Sarepta (Lc 4.26); a mu- Eusébio (260-340 d.C.) garante que Lucas era de origem antioquiana, médico por profissao, companheiro de viagens de Paulo, mantinha conversas meticulosas com outros apéstolos e deixou-nos dois livros que fornecem remédio para a alma. \rineu (175 d.C.), Justino Martir (150 d.C.) e 0 Canon Muratoriano (195 d.C.) fazem declaracées similares. Iher que molhou os pés de Jesus com suas lagrimas (Lc 7.38) e @ viva de Naim (Lc 7.11-15); apresenta os milagres realizados por Cristo de forma acurada e, as vezes, com certa conotagao cientifica (Lc 8.43- 48; 9.38-42; 10,33-34; 14,1-4); @ salienta a importancia da evangeliza- ao dos gentios (Lc 4.25-27; 17.11-19); apresenta o maior ntimero de parébo- las e descreve relatos exclusivos do mi- nistério de Jesus, tais como: a parabo- la do bom samaritano (Le 10,30-37), a parabola do filho prédigo (Lc 15.11-32), a cura dos dez leprosos (Lc 17.12-19), a cura da orelha do servo de Malco (Le 22.49-51, conf. Jo 18.10; Mt 26.51) eo cantico de Maria (Le 1.46-55). 3.1.3. O Livro de Atos O ide de Jesus ndo apenas une o livro |! de Atos ao Evangelho de Lucas, mas tam- 28 Ligdes da Palavra de Deus PROFESSOR 36 bém fornece as bases que conduzirao suo escrita; 0 testemunho em Jerusalém e em toda a Judeia (At 1.1—6.7); 0 testemunho O Evangelho de Lucas na Judeia e em Samaria (At 6.89.31) e __ focaliza a genealogia 0 testemunho até nos confins da terra (At de Jesus até Addo e 9.32—28.31). nao a partir de Abraao, como 0 faz Mateus. CONCLUSAO Este fato, por sis6, é de fundamental importancia, Lucas é tido como um dos grandes per- sonagens do Novo Testamento. No entan- to, hd uma galeria mais antiga que esta, e originaria da vontade expressa de Deus, de Cristo. na qual seu nome esta aposto: a dos escri- tores biblicos. Além de fazer parte desse seleto gru- po de autores, chamados por Deus ao longo de 1.600 anos, 0 evangelista, provavelmente, era 0 tinico gentio, 0 que o dife- renciava dos demais. Esse fato demonstra, inclusive, a forte e inabalavel realidade de que o evangelho é universal e deve ser anunciado a todas as gentes. Alguns de seus empenhos narrativos tornaram-se claros arautos da graga que o Altissimo dispensa a toda criatura, por exemplo: as muitas nacionalidades presentes no dia em que o Espirito Santo desceu sobre os cristaos (At 2.7-11) ea fidelidade em contar e recontar os detalhes relacionados a visio que Pedro teve sobre os alimentos impuros (At 9.10-35). Todos esses acontecimentos tém a ver com seu entendi- mento acerca da universalizacao do dom de Deus aos ho- mens, a salvacao em Cristo Jesus. Lucas entendeu o plano de Deus para a humanidade e propés-se a explicar isso aos seus leitores, tarefa que cumpriu brilhantemente. ATIVIDADES PARA FIXACAO 1, Qual era a nacionalidade de Lucas? R.: Ele era siriaco de Antioquia, portanto, um gentio. 2. Considerando a narrativa biblica, em que cidade ocorreu 0 primeiro encontro entre 0 apéstolo Paulo e Lucas? R.: Em Trade (At 16.8-10), 3. Quais séo as citagées diretas feitas a Lucas, nas Escrituras? : Filemom 1.24 — Paulo diz que ele é um de seus cooperadores. Colossenses 4.10-14 — citado nominalmente por Paulo, nas saudacées finais a igreja em Colossos. 2 Timéteo 4.11 — ele esta em Roma com Paulo (Os herdis do Novo Testamento pois evidencia a natureza universal do Evangelho 29 Aula dada em. DIA 30 Mes «0 Joao, o Discipulo Amado TEXTO BIBLICO BASICO 1 Joao 2.5-14 10- 1i- 12- 13- if. Mas qualquer que guarda a sua palavra, 0 amor de Deus esta nele vertiadeiramente aperfeicoado; nista conhecemas que estamos nele. Aquele que diz que esta nele também deve andar como ele andou. Irmdos, ndo vos escrevo mandamento novo, mas 0 mandamento an- tigo, que desde o principio tivestes. Este mandamento antigo é a palavra que desde 0 principio ouvistes. Outra vez vos escrevo um mandamento novo, que é verdadeiro nele e em vés; porque vao passando as trevas, e jé a verdadeira luz alumia. Aquele que diz que esté na luz e aborrece a seu irméo até agora esta em trevas. Aquele que ama a seu irmdo estd na luz, e nele ndo ha escéndalo. Mas aquele que aborrece a seu irmédo esta em trevas, e anda em trevas, endo sabe para onde deva ir; porque as trevas the cegaram os olhos. Filhinhos, escrevo-vos porque, pelo seu nome, vos so perdoados os pecados. Pais, escrevo-vos, porque conhecestes aquele que 6 desde o princt- pio, Jovens, escrevo-vos, porque vencestes o maligno, Eu vos escre- vi. filhos, porque conhecestes 0 Pai. Eu vos escrevi, pais, porque jd conhecestes aquele que é¢ desde o principio, Eu vos escrevi, jovens, porque sois fortes, e a palavra de Deus estd em vos, e jd vencestes o maligno. Lig6es da Palavra de Deus PROFESSOR 36 TEXTO AUREO E eu, Jodo, vi a Santa Cidade, a nova Jerusalém, que de Deus descia do céu, aderecada como uma esposa ataviada para o seu marido. Apocalipse 21.2 SUBSIDIOS PARA © ESTUDO DIARIO 22 feira - Marcos 3.13-19 O chamado de Joao 3 feira - Marcos 5.21-23,35-37 0 privilégio de Joo 4° feira - Lucas 9.28-36 Jodo no monte da transfiguracao 54 feira - Jodo 21 Jesus fala a Pedro sobre Joao 6? feira - Atos 3.1-10 Jo80, 0 companheiro de oragéo SAbado - Apocalipse 1.5-11 Joao € a visdo do Apocalipse OBJETIVOS Ao término do estudo biblico, o aluno devera ser capaz de: @ conhecer as caracteristicas biograficas do apéstolo que se autodefine como 0 discipulo amado; @ compreender a importancia dos escritos de Joao para a \greja; @ saber que 0 evangelista enfatizou a divindade de Cristo ea universalidade da salvacao. ORIENTACOES PEDAGOGICAS Professor, Jodo é um personagem muito especial no Novo Testamento. Sua proximidade com Cristo e a diferenca téo mar- cante entre seu Evangelho e os trés sindticos merecem especial atencao. Além disso, de acordo com os pais da Igreja, ele ¢ 0 autor das trés epistolas que levam seu nome e do Livro de Apo- calipse. Diferentemente de Mateus, Marcos e Lucas, gue fizeram abordagens diversas, 0 apdstolo nao incluiu a genealogia de Je- sus, Seu batismo, Seu nascimento, Sua tentacao, a expulsao de deménios, Suas pardbolas, Sua transfiguracao, a instituicao da Ceia do Senhor, o Getsémani ou Sua ascensao. © evangelist, no entanto, deixou claro seu propésito: indicar que Jesus ¢ 0 Filho de Deus e, apenas por Seu intermédio, é possivel obter a vida eterna (Jo 20.30,31). E recomendavel que se faca uma releitura dos principais tre- chos deste Evangelho a fim de que se retome a familiaridade com a narrativa do discioufo amado. Esta lic4o procura apresentar uma das mais ricas figuras da Biblia. Abordaremos seu relacionamento com Cristo, sua traje- toria ministerial, sua ligacdo com a Igreja e seus escritos pecu- liares. Sugerimos que 0 tempo de cada tdpico seja previamente (Os herdis do Novo Testamento 31 32 definido, a fim de nao comprometer a exposicao de nenhum dos temas. Peca ao Consolador que este estudo seja inspirador tanto para vocé quanto para seus alunos. Boa aula! COMENTARIO Palavra introdutoria Joao é um dos personagens mais amados do Novo Testa- mento e 0 escritor do livro mais desafiador de todas as Escritu- ras: 0 Apocalipse. Ele foi testemunha ocular da maioria dos milagres opera- dos por Jesus e esteve presente nos mais diversos momentos do ministério terreno do Messias — incluindo a crucificagao, quando Seus discipulos se dispersaram. A vida e o testemunho deste homem, sem duvida, fortale- cem nossa fé no Todo-poderoso, aquele que é, que erae que hd de vir (Ap 1.8). 1.| JOAO, O HOMEM Joao, filho de Zebedeu e irmao de Tiago (Mt 4.21; 10.2; Mc 1.19; 3.17; Le 5.10; Jo 21.2), na instituicdo da Ceia do Senhor (Le 22.15-20; 1 Co 11.23-26), 6 identificado como aquele a quem Jesus amava (Jo 13.23) — esta expresso aparece ou- tras trés vezes em seu livro Jo 19.26; 20.2; 21.7) O filho de Zebedeu mantinha discricao ao referir-se a ele mesmo em seu Evangelho (Jo 18.15; 20.3,4,8; 21.2,23) (RAD- MACHER; ALLEN; HOUSE, Central Gospel, 2010b, p. 282). No entanto, 0 evangelista aparece, em outras referéncias, acom- panhado de seu irmao e de Pedro (Mt 17.1; Mc 5.37; Le 6.14; 8.51; At 1.13; Gl 2.9). A proximidade entre os trés explica-se pelo exercicio da profissao, pois antes de serem chamados por Jesus, eles eram pescadores (Le 5.1-10). 1.1. Origens O nome Jodo é de origem semita ¢ significa Deus é gracio- so ou Deus mostra graca. Tal nome parece propicio ao rela- cionamento que ele mantinha com o Senhor Jesus. Marcos nos informa que Jesus, algum tempo depois, cha- mou Tiago e Joao de Boanerges (Mc 3.17), que significa i- Thos do trovao — maneira muito prépria de os orientais faze- rem uma delicada alusdo ao temperamento ardente e ao zelo empreendedor dos dois irmdos (Mc 9.38; 10.35-37; Le 9.54; 1 Jo 2.22; 3.8) ou, talvez, 4 eloquéncia arrebatadora deles (FILLION, Central Gospel, 2004, p.499). Talvez, como seu amigo Pedro, eles fossem impulsivos, talvez muito zelosos. Mas, independente da forma como cos- tumavam se apresentar as situacées, certamente, eles eram Lig6es da Palavra de Deus PROFESSOR 36 comprometidos com Cristo € com 0 ¢s- A. tabelecimento do Reino de Deus. Pescar no mar da Galileia 1.2, Familia era um grande negécio. A narrativa dos evangelhos revela- Nos tempos de Jesus, -nos pouco sobre a familia de Joao. Sa-_—gyistiam nove cidades bemos que ela residia as margens do Mar da Galileia (Mt 4.20-22). Além disso, temos informacéo de as suas margens, cada uma com nao menos de que onome de seu paieraZebedeu(Mt 15 mil cidadaos, o que 4.21), e que ele estava no barco quando = possivelmente fazia com Jesus chamou seus filhos (Mc 1.19,20). que 0 total de pessoas na Estudiosos costumam apontar Salo- regigo fosse maior do que o mé como a possivel mae do apéstolo ge Jerusalém (RADMACHER; — aquela que, juntamente com outras mulheres, visitou 0 sepulcro de Jesus ALLEN; HOUSE, Central para ungir Sou corpo (Mc 16.1, conf, G0spel, 2010b, p. 157). Mt 27.56; Mc 15.40; Mt 20.20). ———— 1.3. Oficio Nos tempos de Jesus, habitualmente, centenas de barcos de pesca jogavam suas redes ao mar. Neste cenério, 0 Mes- tre encontrou Joao, um pescador no exercicio da profissao. A referéncia que Marcos faz aos empregados de Zebedeu (Mc 1.20) permite-nos inferir que essa familia, possivelmente, era préspera em seus negécios. Jesus, provavelmente, tinha propdsitos especificos quando decidiu incorporar ao Seu grupo de seguidores alguns pescado- res (Mc 1.16-20). Apesar de o Mestre ter dito a Pedro e a An- dré que faria deles pescadores de homens (Mc 1.16,17), eles nao precisariam, para a fungao que o Messias iria preparé- -los, de semelhante profissao. Cristo utilizou uma figura de linguagem para dizer que, caso os pescadores 0 seguissem, seriam capacitados por Ele para testemunhar do Seu evan- gelho aos homens mortos em seus delitos e pecados (Ef 2.1), recebendo, como consequéncia, a vida eterna (1 Jo 5.11). 1.4, Ultimos dias O discfpulo amado foi, talvez, 0 tinico apéstolo que ndo pa- deceu a morte nas mdos de um carrasco. No entanto, ele foi preso em Efeso e conduzido a Roma por ordem de Domicia- no, sendo langado em uma caldeira de azeite fervente. Tendo sobrevivido, foi desterrado para a ilha de Patmos, como ele mesmo conta no principio do Livro de Apocalipse (Ap 1.9) (FILLION, Central Gospel, 2004, p. 837). Segundo a tradicao mais aceita, ele foi libertado apds 18 me- ses, pelo imperador Nerva (96—98 d.C.), e retornou para Efeso a fim de reassumir sua lideranca naquele lugar. Ali, viveu até o reinado do Imperador Trajano, vindo a falecer préximo a Efeso (a Turquia que conhecemos hoje). (Os herdis do Novo Testamento 33 =—= B JOAO, 0 APOSTOLO Alguns historiadores DO AMOR asseguram que Joao © filho do trovdo 6, também, conheci- fundou varias igrejas na 40 como 0 discipulo amado. No entanto, a Asia e morreu 68 anos expressdo aquele a quem Jesus amava sé 6 encontrada em seu Evangelho (Jo 13.23; aps a morte e assuncao 19.6; 20.2; 21.7). de Jesus, com mais de Talvez seja possivel inferir que o evan. 90 anos de idade. De gelista utilizou tal expressdo por compre- acordo coma maioriados "der a plena dimensdo do amor que Je- estudiosos, ele foi o mais sus oferece (1 Jo 4.19; Jo 3.16). Portanto, considerando tal linha de pensamento, este longevo dos apéstolos @, cori um recurso estillstico (ou umm autorre- provavelmente, teria lato) de aiguém que, pessoalmente, experi- o Unico dos Doze anéo —mentara tal dadiva. 34 sofrer martiri Com relaco ao fato de aquele a quem Jesus amava estar reclinado no seio de Je- MENS (J 13.23), vale a pena ressaltar que, naquele tempo, as pessoas nao se senta- vam em cadeiras junto a mesa para comer. Elas reclinavam seu corpo para o lado esquerdo, 2 beira de uma mesa baixa de madeira, préxima ao chao; apolavam o ombro sobre ela e co- miam com a mao direita, esticando seus pés para a extremida- de oposta. Reclinando-se dessa maneira, a cabeca de alguém ficava proxima ao peito daquele que estivesse a sua esquerda. (RADMACHER; ALLEN; HOUSE, Central Gospel, 2010b, p. 264). Sua influéncia sobre a Igreja primitiva é inegavel, princi- palmente por seus escritos, que sdo categorizados de forma especial dentro da literatura canénica. Seu ministério revela- -nos que ele 6 0 apdstolo do amor. 2.1. Seu encontro com Cristo A primeira licdo que retiramos do episédio em que 0 Mes- sias chamou Joao para ser Seu discipulo é a obediéncia ime- diata e irrestrita do apéstolo (Mc 1.17,18). Ele destacou-se nao apenas como um dos Doze, mas como membro de um circulo ainda mais proximo de Jesus, do qual também faziam parte Pedro e Tiago (Gl 2.9). Eles participaram do milagre da ressurreicao da filha de Jairo (Mc 5.37), estiveram no monte da transfiguracao (Mt 17.1) e foram com o Senhor ao Getsémani na noite de Sua grande angustia (Mc 14.32,33). Como seguidor de Cristo, Jodo deixou-nos exemplos a serem seguidos: lealdade, coragem, percepcao espiritual, humildade e, acima de tudo, amor. Ele esteve com Jesus no Calvario, 0 que entendemos como uma atitude ousada, pois ele poderia ter sido preso por andar com 0 Mestre (Jo 19.26). Além disso, ele cuidou de Maria, levando-a para sua casa (Jo 19.27b) 2.2. Seu relacionamento com os discipulos Depois do dia de Pentecostes, Jodo tornou-se um compa- nheiro bem chegado de Pedro. Os dois foram usados por Deus Lig6es da Palavra de Deus PROFESSOR 36 para operar o milagre da cura de um coxo que ficava na Porta Formosa (At 3.1-7). Também foram presos juntos (At 4.1-12) e, juntos, proclamaram o evangelho de Cristo (At 8.14,25).. Logo apés o derramamento do Espirito Santo, Jerusalém foi o palco das primeiras acées apostdlicas de Joao (Gl 2.1) Ao escrever a epistola dirigida aos irmaos galatas, Paulo de- clarou que ele era uma das colunas da igreja localizada na- quele lugar (Gl 2.9) Posteriormente, o apéstolo do amor foi designado para evan- gelizar em Samaria, onde permaneceu por um tempo na com- panhia de Pedro (At 8.14). Antes da destruicdo de Jerusalém, ele transferiu-se para Efeso, cuja igreja pastoreou por um longo tempo. 2.3. Apos a ressurreicao No domingo da ressurrei¢éo, depois que Maria Madalena encontrou-se com Cristo, 0 discipulo amado correu ao sepul- cro na companhia de Pedro (Jo 20.2-4). Chegando 1d, cons- tatou que o Messias ja nao estava mais no local (Jo 20.5-10). ‘Alguns dias depois, quando o Senhor apareceu a um grupo de discipulos que havia retornado ao mar para pescar, Joao 0 reconheceu (Jo 21.7). O evangelista acrescenta a narrativa 0 episddio em que Jesus interroga Pedro a respeito do amor que este Ihe devotava (Jo 21.15-17). Em seguida, o Mestre diz a Pedro com que morte ha- via ele de glorificar a Deus (Jo 21.18,19). Pedro, aparentemente curioso, parece querer saber como Joao morreria (Jo 21.20,21). Jesus 0 repreende dizendo: Se eu quero que ele fique até que eu venha, que te importa a ti? Segue-me tu (Jo 21.22). Tal afirmati- va nao foi devidamente compreendida pelos demais, pois se di- fundiu entre os discipulos a ideia de que Jodo viveria para sempre (021.238). | nicamente, ele foi 0 iltimo dos apéstolos a morrer, e de causas naturais. Confidveis fontes histéricas, datando do segundo século B JOAO, 0 ESCRITOR d.C., situam o apéstolo ~ em Efeso ministrando por Para melhor compreendermos a vida —taga a provincia da Asia de Joao, precisamos considerar seus es- critos, pois ele fala do que viveu e da por volta de 70—100 a.c, testemunho daquele que o amou pri- Aparentemente, as epistolas meiro (1 Jo 4.19). 1, 2 e 3 de Jodo foram Apesar de muitos estudiosos mo- — escritas pelo apdstolo aos demos discutirem se 0 apéstolo 6, de fato, o autor de cinco dos 27 livros que compéem o Novo Testamento (o Evan- cristéos naquela regiao por volta de 80—100 d.C gelho, as trés Epistolas que levam seu (RADMACHER; ALLEN; nome e o Apocalipse), entendemos, a HOUSE, Central Gospel, partir de informacées obtidas dos pais 2010b, p.756). da Igreja, que ele recebeu de Deus 0 privilégio de escrevé-los. a (Os herdis do Novo Testamento 35 se na literatura joanina (os cinco livros de Joao), e ndo hé razao Agrande maioria dos estudiosos inciui o Livro de Apocalip- s6lida para nao aceitarmos tal proposicao. ENSINOS DE JOAO SOBRE O PAI Deus € 0 supremo criador de todas as coisas (Jo 1.1.2); amor é 0 maior atributo por intermédio do qual Deus pode ser conhecido (1Jo 4.16). ENSINOS DE JOAO SOBRE O FILHO "0 Deus etemo revele-se por intermédio do logos (Jo 1.1); 0 Filho cumpriu as ordens do Pai quanto ao plano de redencao (Jo 19.30); ENSINOS DE JOAO SOBRE O ESPIRITO SANTO O apéstolo dé mais énfase ao Espirito do que os trés evangelhos sinéticos juntos; Joao mostra o lugar preponderante do Espirito no projeto de redencao do pecador Jo 3.1-6); 3.1. O Evangelho Ao longo dos séculos, os servos de Deus tém nutrido es- pecial apego ao Evangelho de Joao, pois este se apresenta como um argumento convincente da divindade do Messias. O evangelista se dedica a apresentar Jesus como 0 Verbo de Deus (Jo 1.1), que se fez carne jo 1.14). Merece nossa obser- vacao 0 fato de que o livro apresenta algumas caracteristicas bem distintas dos demais. Vejamos a seguir: 3.1.1. Os milagres Enquanto os trés primeiros evangelhos narram os aconte- cimentos da vida de Jesus, Joao explica os seus significados. 36 Ligdes da Palavra de Deus PROFESSOR 36 Ele descreve sete milagres (sinais) de Jesus, algo que sé po- deria ser atribuido ao proprio Deus, aquele que exerce domi- nio sobre a natureza (Jo 2.1-11; 4.46-54; 5.1-9; 6.1-14,15-21; 9.1-7; 11.38-44). 3.1.2. As citagées Joao cita as declaragées que Cristo fez, deixando claro a Sua divindade e revelando-nos que Ele nao era apenas um homem comum. Jesus chama a si mesmo de: a luz do mundo (Jo 8.12; 9.5); o bom Pastor (Jo 10.11,14); a ressurreigdo e a vida (Jo 11.25); a videira verdadeira (Jo 15.1,5); a porta das ovelhas (Jo 10.7b); 0 pao da vida (Jo 6.35,41,48,51); 0 cami- nho, a verdade e a vida (Jo 14.6). Cada uma dessas declaracées come- ca com a expressao Eu sou, 0 que nos faz lembrar 0 episddio em que Deus revelou Além de divino, Jesus Seu nome, Eu Sou, a Moisés (Ex 3.14). também revelou ser totalmente humano, pois 3.1.3. Os testemunhos Ele ficava cansado (Jo 4.6), Outras evidéncias da divindade de Je- | Sua alma se angustiava sus incluem os seguintes testemunhos (Jo 12.27; 13.21 [ARA]) e @ Joao Batista (Jo 1.32-34); Seu espirito se perturbava @ Natanael (Jo 1.49); (Jo 11.33). O Deus-homem © um homem cego de nascenca que fol revelou ser o prometido Purade (199-3539); Rei-Messias de Israel. ® Marta, irmé de Lazaro (Jo 11.27); ® Tomé Jo 20.28). — 3.2. As Epistolas As trés Cartas de Joao apresentam uma linguagem sim- ples, de facil compreensao, e estao entre os livros mais belos do Novo Testamento. A primeira Carta, a mais longa das trés, contém alguns dos principios tealégicos mais profundos e im- portantes da Biblia. A segunda e a terceira Cartas confirmam essa mensagem e aumentam nossa compreensao sobre os destinatarios delas. 3.2.1. A Primeira Epistola Esta nao é exatamente uma carta, mas um sermaéo ou um tratado, pois no possui uma saudacao. Na primeira epistola, Joao concede énfase muito especial & vida, & luz e ao amor, palavras que ele repete exaustivamente. 3.2.2. A Segunda Epistola A segunda Epistola contém apenas 13 versiculos, 0 que nao significa que ela tenha menor importéncia. Jodo se iden- tifica como 0 ancido e encaminha a carta a uma senhora elei- ta e seus filhos (v. 1), que pode significar uma igreja e seus membros. (Os herdis do Novo Testamento 37

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