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Capitulo quavte A leitura iluminadora & de Kant Johann Gottlieb Fichte nasceu em Rammenau, em 1762, de pais mui dde origem camponesa. Em sua juvent conheccu a verdadeira e propria miséria, tendo sido guardador de gansos para ajudar a familia, Mas a miséria constituin para ele ‘uma elevada escola moral. Nunca se enver- gonhou de suas origens humildes, declaran- do varias vezes ter orgulho delas. Foi gragas a um nobre ¢ rico concida- (0 bario von Milkite) que Fichte pode inciar seus eridos. Onobre fou admirado fo ver 0 rapaz repetic perfeitamente um Seam (ao qual ele nfo pudera asi), ompreendendo endo encontrar diame tum ralento excepcional e, por isso, deci- divajudtto. fe Depois de ter frequentado 0 ginasio em Pfoits, em 1780, acte se matriclou na faculdade de teologia em Jena, de onde se transferiu para Leipzig. Foramn anos d= rissimos, porque as contribuigdes de von Militzeram escassase, mais tare, cessaram completamente. Fichte vivia de alas partic culares, exercendo a humilhance fungio de preceptor. De 1788 a 1790, foi preceptor em Zarique, onde conheceu Joana Rabn, que mais tarde se tornou sua esposa. O ano de 1790 fo decisivo para sua vida. Até aquele ‘momento, ele fora vagamente spinoziano € determinista. Mas, além de Spinoza, tam- bém nutrira interesse por Montesquieu ¢ 48 segunda parte - Fundlocio & obs pelasieiasda RevolugioF Conhec Kant apenas de nome, Mas um estudante pediu-the aulas exatamente sobre Kant, Fy Assim, Fichte foi obrigado a ler as obras do de Komigsberg, que constituiram revelagio, A Critic o pnitica descerrou-lhe os insuspe tados horizontes da liberdade, sugeriu-the novo sentido cla vida eo fa sai do pessimis: mo fechado que 0 oprimia, Em Kant, Fichte descobrin a chave de sua propria vocagio ¢ de seu proprio destino, Apesar da caréncia cle micios materiais ede ganhara duras pe ‘© que necessitava para sobreviver, esereveu ‘que aquela descoberta o tornou interiormen: te riguissimo, a ponto de sentinse até “um clos homens mais felizes do mundo”. Fichte compreendeu tio bem 0 pensa- ‘mento de Kant que no ano seguinte, depois de uma estadia em Varsovia (para onde se dlirigira na qualidade de preceptor), ja estava «em condigdes de escrever a obra intitulada Ensaio de critica de toda revelacao, na qual aplicava de modo perfeito os principios do criticism, apresentando-a a0 proprio Kant, em Konigsberg. Esse eserito marcou ‘destino de Fichte. O editor Hartung 0 pu- bicou em 1792, por intercessio de Kant, ‘mas sem imprimir o nome do autor, de ‘modo que foi confundide com trabalho do proprio Kant. Quando Kant interveio para revelar a verdade e 0 nome do autor, Fichte e célebre, Ji em ethe, foi chamado onde permanecet tornou-se reper 1794, por indhicagaio de Gi Universidade de J até | 99, Esse period constitui seus anos doura- os anos de sucesso ¢ de popularidade, ‘obras que tiveram maior ressonancia, entre as quais recordamos: os Fundamentos dda doutrina da ciéncia (1794), 03 Discursos sobrea missao do erudito (1794), os Funda- ‘mentos do direito natural (1796) €0 Sistema da doutrina moral (1798). Em 1799 explodiu acalorada polé- mica sobre o atefsmo, na qual Fichte foi envolvido, sobretudo por causa de artigo de seu diseipulo Forberg, Fichte sustentava que Deus coincide com a ordem moral do ‘mundo e que, portanto, nao se pode duvidar de Deus. Forberg, porém, ia além, susten- do que era possivel na crer em Deus ¢, rndo obstante, ser religioso, porque, para ser religioso, basta crer na virtude (e, por- tanto, se podia ser religioso até sendo ateu ou agnéstico). A polémica degenerou, em virtude do comportamento imprudente de Fichte em relagao a autoridade politica e 4 sua atitude orgulhosa, tanto que, no fim das contas, 0 filésofo foi Obrigado a apresentar sua demissio. p2y © periodo berlinense Fichte entio se transferiu para Ber lim, onde estreitou amizade (alids, nao duradoura) com os romanticos (Schlegel, Schleiermacher, Tieck), e passou a viver dando aulas particulares. Em 1805 foi cha- mado a Universidade de Erlangen, que teve de deixar depois da paz de Tilsie, porque a cidade foi perdida pela Prissia, Sua ativida de cultural e politica pritiea ¢ o programa por ele apresentado nos Discursos & nacido alemd, de 1808, em que defendia a tese de que a Alemanha se recuperaria da derrora Johann Gottlieb Fichte (1762-1814) repensou a filosofa transcendent {rarforando 0 esa kata le funcdo uniicadora para atvidade erladoa 6 desse modo, furdow 0 idealisma moderns. | | | | | Capitulo quarto politico-militar mediante renascimento moral e cultural, eafirmava inchisive pat malo espirival do povo alemao,levaram ‘novamente Fichte ag auige. Emr 1810, com, a fundagio da Universidade de Berlin, fot chamado pelo rei como professor cletiven chegou a ser eleito reitor, Morreu em 1814 decolera, contagiado pela nmuther, que con traira a doenga euidando dos soldados nos hospitais militares. As obras do periodo berlinense mar- «eam, no pensamento de nosso fldsofo, uma Teviravolea notavel do ponto de vista teri. Além do Estado comercial fechado (1800), recordamos: A missdo do homem (1800), Ina @ wid bemavemurad 1806) {£08 Tragos fundamentais da época presente (1806), Mas devemos destacar corer ss inumerdveis reelaboragdes da Dowtrina da ciéneia, Fichte reescreveu essa obra durante te 2 poncamento kontions ‘Como vimos, 0 encontro com o pen samento de Kant (aso) com 0 hone rane en ae sentavafascini exterio) revo" Tene pensamento a vida de Fchte 2 ponto de, no periodo imediatamente se reefer outra preocupacdo senao Raper ur para difundir 0 criticismo e, posteriormente, @ de investigar a fundo as trés Criticas, com 0 objetivo de descobrir tes ripe base que as oicava e que Keant nao revelara II. O idealismo de Fichte toda a sua vida, Os estudiosos chegaram a mitar eerea de doze © até quinze escritos que constituem reelaboragdes exp! Cou que podem ser considerados nessa (nnuitos deles publicados somente depois da morte do Aldsofo), Sao importantes as reelaboragdes de 1801, 1804, 1806, 1810, 1812 € 1813, nas quais, como veremos, Fi- hte va smente além dos horizontes da redagio primitiva, ‘Todavia, o sucesso de Fichte permane- ceu ligado a Doutrina da ciéncia de 1794, na gual os romanticos encontraram resposta fundamental 3s suas instancias, como vere- mos, e da qual F, Schlegel chegou até a dizer due, juntamente com o Wilhelm Meister de Goethe a Revolugio Francesa, represen- tava uma das trés diretrizes principais do século. Vejamos, portanto, em que consiste essa grande “diretriz do século”. Fichte peo “fundamento” do criticsmo entiano S§12 Mas vejamos alguns trechos de eartas de Fichte, Logo depois de ter descoberto Kant, Fichte escreve: “Vivo os dias mais felizes que me lembro de ter vivido [..-. Mergulhei na filosofia, isto é na filosofia de Kant, Nela encontrei o remédio para a vrerdadeira raiz de meus males e, ainda mais, ‘uma alegria intermindvel (|. A reviravolta que essa filosofia realizou em mim é enorme. Devorlhe, de modo especial, o fato de que agora creio firmemente na liberdade do homer evjo claramenre que 6 pressup do-a € que sao possiveis o dever, a virtude, a moral em geral”. E, por fim: “Depois que lia Critica da razio prética, parece-me viver em [| $0 Segunda parte - Funacao ¢ abso mundo novo, Ela desole afirmagies que eu nave irefatayes e demonstra teses 5 no 0 contceito de Eris indemonsteaveis, Tiberdade absoluta, de dever ete.” Mas Fichre também estava convencido dle que o discurso de Kant nao era conclusi- yo, Kant fomeceu todas os dados para cons- train o sistema, mas na0 0 constrnin. O que Fichte pretendia era construir esse sistema, transformando a filosofia em cigncia rigor rosa, que brotasse de um prineipio primeiro Suprtmor trance da charade ‘dovtrina da cia” (Wissenschafislebre). Do"Eu pense” a wea puro” Nessa tentativa de construir uma “doutrina da cigncia”, um sistema” que tunificasse as trés Criticas de Kant, Fichte utilizou muito, de modo expressamente declarado, tudo’o que escreveram Reinhold, Schulze e Maimon, tanto © positivo como © negativo, ‘2) A Reinhold Fichte reconhece 0 mérito de ter chamado a atencio para a necessidade de reconduzir a filosofia a um principio sinico, que nao se encontra ‘ematzado em Kant e que cada qual deve procurar por sua prépria conta, tendo assim “preparado a fundagio da filosofia como cigncia”, Entretanto, Reinhold nao soube encontrar esse principio, porque o principio da “representagio” por ele indicado vale ‘apenas para afilosofiaredrica, mas nio para toda a filosofia. 5b) A Schulze Fichte reconhece o mérito de té-lo feito refletir muito e, com suas cri ticas céticas,té-lo feito compreender que a solucdo de Reinhold era insuficiente, sendo necessério, portanto, procurar 0 principio tinico em plano mais clevado. ¢) A Maimon, julgado como “um dos majores pensadores da época modern Fichte reconhece o mérito de ter mostrado a impossibilidade da “coisa em si", extraindo disso algumasconsequéciasfrutferas, mas lo-lhe 0 caminho para sobretudo aplainan ‘declisn hogar as diltimas conclusdes que the per mitissem unificar o sensivel ¢ o inteligivel, 1 grande novidade de Fes, o ple de genio que o levou a criagao da nova filo- Sola, consistiu na transformagio do Ew pen- ‘puro, entendido como Jimuigno pura, que se autopde (se autoctia) sjutopande'se, eria toda a realidade, e na relativa identificagio da esséncia desse Eu com a libertade hte insistiu varias vezes em dizer ‘que seu sistema nada mais era do que a f- losofia kantiana, exposta com procedimento diferente do de Kant. Entretanto, Kant nao se reconheceu na “doutrina da ciéncia” de Fichte. E tinha razio: ao por o Eu como pri io primeiro e dele deduzir a realida- de, Fichte criava o idealismo, cujos pontos principals devemos examinar agora. > oi £_ 9) Rc Eu, 0 Eu de Fichte & o principio riginéro absoluto de tole a tes Itdade se qualifica esenciamente como ativicade que antes de tudo poe'a si mesma'e, portante, poe {otis 0 cose devas modo, @ Gare Condicaoincneltonada desi mesmo eda realidade, Na metaticasnteriora Fiche, atv dade, o agin era sempre considerads onsequancla do ser operon sequitur fue) 0 se" era condieao do air 3 Idealsmo de Fite inverte, 26 con, {taro antigo anioma e sfrma que fesse sequitur operar: a acao precide Oaer Oser & produto aoe E ‘asim, o Eu pense kartano, que eraa eatrutura ranscondentel eek: mentsi do sujet, tomnorse om Fens atvidade, autointugay to intuis intelectual que 0 proprio Kant cor. sero inpssl parao homer autoposigae da qucl sao desuside: todas os colss G Eu absoluto ndo'g © 'eu'do homem individual so qual Pertence um eu sempre em 500 {aso imitado pelomao cu. st Capitulo quarto - Relve « 0 idealism dice Ill. A“doutrina da ciancia” * Para AristOteles, o principio de todo saber cientifico era 0 A principio de no Ser searesO} fa Filosofia moderna wolffiana e para o proprio Kant era o principio SO princinig de (=A), considerado ainda mais originario; para Fichte, ao contrério, brincibio se autopde (Eu = Eu) e, desse modo, poe a identidade A Income UME! principio do idealismo de Fichte, sua condigio Oenacionada, ¢, portanto: o Eu poe absolutamentea simesmo. cet ot cepiviaace oniginariae infinite, € autocriagdo cones ia Tomar ane ret ete. Ete 89 SSe ot ‘© autopor-se do Eu comporta necessariamente a posigio Me ubansmo inconsciente de alguma outra coisa diversa do Eu e, portanto, Ue Fichte @ Posigao de um nao eu. O segundo principio é, portanto: 0 EU 5 1-3 op6e absolutamente a si mesmo, dentro de si, um nao eu. Este € ‘© momento da necessidade e da antitese. A producao determinada do nao eu surge como limite, como de-terminacao do Eu, motivo pelo qual o nao eu de-terminado comporta necessariamente um eu. de-terminado, ele préprio oposto ao Eu absoluto. O terceiro principio de Fichte é, Portanto: no Eu absoluto, 0 eu limitado e 0 nao eu limitado se opGem e se limitam Feciprocamente. E este ¢ 0 momento da sintese. +0 terceiro principio explica: tanto a atividade cognoscitiva, expicacao ‘que se funda sobre o aspecto pelo qual o cue determinado pelo | Simca ‘do eu, uma vez que 0 ndo eu constitui a materia do conhecer edn atvidade 6, portanto, o limite necessario da consciéncia, como aatividade cognoscive pratica, que se funda 20 contrario sobre 0 aspecto pelo qual 0 eas atwidade €u determina o nao eu, uma ver que 0 eu, para realizar-se como. "oral liberdade, devem sempre superar os limites que o nao.eupouco 545 a pouco thes opde. Isso atesta a superioridade da raza pratica Sobre a razao pura. O primeivo principio te A nccliame de Fichte 0 Eu poe a si mesmo Na filosofia aristotélica 0 principio incondicionado da ciéncia era o principio aso contadgdo. Na floofa moderna Wwolffiana e para o proprio Kant, era 0 Ponce de Hetidade A= A, considerado finda mais originario (no sentido de que ‘quele derivava deste), Para Fichte, por seu ttkno, este principio deriva ainda de outro principio, de natuzeza inteiramente peculiar. Com efeito, o principio A = A é poramente formal, dizendo-nos apenas que, se existe ‘Aventio A= A. Necessariamente, poisy ha apenas a ligacao logica *se... enta0”, Essa iigagio logica no pode ser posta senéo Palo Bu que a pensa, © qual, pensando a ligagio de A com A, pde, além da ligagao 6gica, também o A. O principio supremo, pportanto, nao ¢ o da identidade légica A, porque ele se revela posto e, portanto, nao origindrio. O principio origirio so pode ser entao o proprio Eu. Eo Eu nio é posto por algo diferente, mas se autopée. Eu = Eu, portanto, nao sig lentidade abstrata e formal, e sim a identidade dit mica de principio autoposto. O principio primeiro, assim, é condigio incondicionada, Seé.condigio de si mesmo, entio “constr6i- -se a si mesmo”, “€ assim porque assim se faz”, € “posigdo de si mesmo”, em suma, € autocriagao. ‘Na metatisica cléssica, dizia-se que ‘operar sequitur esse, ou seja,a ago éconse- quenteao ser das coins: para agi uma coisa leve primeiro sex, pois o ser € a condicao do agir. Ora, a nova posicao idealista subverte recisamente o antigo axioma, afirmando 32 Segunda parte =F » que significa que esse sequitur operari, 0 que sig tte 2 ado precede 0 ser, OW Se}4, que 0 Ser Tefsa da gio e nfo vice-versa. Tete diz com todas as letras que 0 ser ndo & conceito gindrio, mas “derivado”, “deduzido”, ou originéri se} prodtuto do agir. . © Fu fichteano, portanto, é a intuigdo inlecua que Kan onsieravaimpossvel Fao homem, porque coincidiria com a Intuiglo de um itlecto criador. A ativida- de do En puro € exatamente autointuig precisamente no sentido de autoposiciona~ mento. Fichte chega até a usar a expressio ‘u em si” para indicar preeisamente 0 Eu como condigao incondictonada, que ni sim um ato, atividade o 2 entio evidente que es Inteligéncia nao sio 0 cue a do homem emp absolut, a Egoidade (Ichhei eu empirico, como veremos, nasce somente em um terceiro momento. td © segundo principio: © Ew opie a si um nao eu Ao primeiro principio da “posigio” (cese) ou autoposigao do Eu se contrapse um segundo principio de “oposicio” (antites), que Fiche assim formula: 0 Eu ope asi wt ‘no eu, Podemos agora nos valer de um prin- ipio da logica formal para compreender 0 aque Fichte diz. Tomemos a proposigio “ndo Anno é = A”. Ela pressupoe a oposigao de nnio A ea posigao de A. Mas ambas nada mais sio do que atos do Eu ¢, além disso, pressupdem a identidade do Eu. Portanto, €0 Eu que, assim como se pde a si mesmo, opée algo a ‘Mas a dedugao deste segundo principio mostra-se ainda mais clara e quase dbvia, seguindo-se outra linha de pensamento, Eu coloca-se a si mesmo nao como algo escético, mas como algo dinmico (como do): POe-se como poente, eo por-se como ;oente comporta necessariamente a posigao de alguma outra coisa, ou seja, a posiedo de outro algo ¢, portanto, a posigae de am nao eu (0 outro algo além do eu s6 pode ser 0 n30 eu} evidente que esse ndo eu nao esté fora do Eu, ¢ sim no sew interior, jé que nada ¢ pensével fora do Eu. Portanto, 9 Eu imi. tado opée a si um nao eu ilimitado, Assim, se 0 primeiro momento é 0 da liberdade (a Tiberdade originaria), o segundo momento, que 60 da oposigio, €0 momento da neces” sidade. Logo veremos que esse momento é indispensivel para explicar tanto a atividade teorica (a consciéncia e 0 conhecimento), quanto a atividade prética (a vida moral ¢ aliberdade da consciéncia). O terceivo principio: 1 oposicdo no Eu do eu limitado a0 nao eu limitado O terceito principio representa 0 mo- mento da *sintexe™. A oposigio entre o Eu 0 no eu ocorre no Et como ja vimos. (Gta, esa oposigio nfo é de tal monta que 0 Euelimine ondo cue vice-versa, sim um dlelimita 0 outro e vice-versa. Com efeito, € evidente que a produgio do nao eu nfo pode surgir senao como limite ou como determi- nagdo do Eu. Assim, necessariamente, 0 130 eu determinado comporta um Eu determi nado. Fichte usa 0 termo “divisivel” para expressar esse conceito, de modo que a for. mula dai resuleantetorna-se clara: 0 En ope no Eu wm nao ex divisvel ao ku divistel Fichte identifica esse teceiro momento com a “sintese a priori” kantiana. E, nos dois primeicos momentos, indica as con digdes que a tornam possivel. Alem disso, Fichte ext convicto deestarem condigses de “dedizit” as categoria, que Kant preven extrair de modo metédico seguindo um fo condutor, mas que, na realidade, extrait mecanicamente do quadro dos juizos. Dos tts principios examinados, por exempo, Podem-se “deduait” as tes eategoriay da qualidade: a 1) afirmacao (primeiro prineipiols 2) negacao (segundo principio) 3) limitagdo (terceito principio} Demodo anslogo, Fichte procede para deduzir tambéin as outras, _h amttese entre Eu endo eu e a limi- tasio reciproca explicam tanto a aividade + Cognoscitiva como a atividade moral: 1) a atividade cognoscitiva funda-se no aspecto pelo qual o Eu é determinado pelo do eu; 2) aatividade pritica funda-se, por sua ‘Ye% no aspecto pelo qual o Eu determina nao eu, Capitulo quarto - Vek Visto que tanto um quanto outro mo- mento sveifcam no ambito do infin, consequentemente se la uma dinamica que, ns dois mbitos, de modo diferente, se des. obra em progressiva superagao e dominio do limite, como veremos. whe Explicacao ides da atividade cognoscitiva isto Na experiéncia eno conhecimento nés consideramos comumente que nos encon tramos diante de objets diferentes de nds ¢ aque agem sobre nds, Como se expla ofato deo sujeito considerar 0 objeto diferente de si, 2 ponto de sentinse “afetado™ pela agio dele? Fichte procura resolver 0 problema re tomando de Kant a igura teeta da “ima inagio produtiva” e transformando-a de odo muito engenhoso. Em Kant imaginae {30 produtiva dererminava a prior a forma pura do tempo, fornecendo os “esquemas” (ecategorias. Em Fichte a imaginagao pro- dlutiva tornassecriadora “inconsciente” dos objetos. Aimaginagdo produtiva, porranto, 2 atvidade infinta do Eu que, delta dose continuamente, produz aquilo que constitu a matéra de nosso conhecimento. Precisamente por se tratar de produgio Jnconseiente, o produto nos aparece como “ieee ‘Mas a imaginasio produtiva forne- ce, por asim dizer, um material brut, do til em etapas sucessiva, a cn ‘Rapropria através da sensacio, Semuivel, do intelectoe do jit0. (Ora, se nos nos colocarmos no ponto de wnt da refed coms pean Fries aplicadas, formamos "a s6lida conviceto Getgue a5 coisa tem realidade fora de m oie, portanco, elas existem sem nossa Sntervengo, Todavia, quando, com a raza0 Hlocafes, efleimos sobre as tapas do peo- tse cognoscitivo e suas condigdes, endo Sdguisiaos consciéncia do fatode que tudo Sef do Bue, em nossa autoconsciéne'a, ser aproximarnos sempre mais da “autor [onseléncia pura”. E evidente que,em todo Smee pereurso, 0 no eu se Teveiow como Condigio necessaria para que nasceste a Consctnein ue sempre eonsincia dal a cots diferente dese que, entretanto, ‘Sressupoe sempre uma alteridade.E também 83 co ldeallame dliea €evidente que a autoconsciéncia pura per manece como limite do qual podemos nos aproximar, mas que nunea podemos atingir, ‘exatamente por razdes estruturais (derrubar todo limite significaria derrubar a propria c ia). Explicagdo idealista da atividade moral Se, na atividade teérico-cognoscitiva, €o objeto que determina o sujito, na ati- vidade pritico-moral, a0 contririo, como dissemos, € 0 sujeito que determina e mo- difica 0 objeto. No primeiro caso, o nao eu age sobre © Eu como objeto de conhecimento; no segundo caso, a0 contririo, 0 no eu age sobre © Eu como uma espécie de “impac- to" ou “esforgo” (Anstoss), que suscta um contra-impacto” ou “contra-esforgo”. No agir pritico, 0 objeto se apresenta a0 homem ‘como obstéculo a superar. Assim, 0 no eu torna-se o instrumento através do qual 0 Eu se realiza moralmente. Sendo assim, 0 rndo eu torna-se momento necessério para arealizagio da liberdade do Eu. Ser livre significa tornar-se livre. E tornarsse livre significa afastar incessante- ‘mente os limites opostos pelo nao eu ao Eu empitico, Na explicagio da atividade cognos- citiva, vimos que 0 Eu pde 0 nio eu. No contexto da explicagio da atividade pri- Po e..2_ 2 Nao eu. Ea natureza em geral, compreendida como "reino dos limi- tes", O nao eu & posto (produzido, criado) inconscientemente pelo EU absoluto por melo da imaginacso produtiva, a qual, enquanto em Kant era apenas determinadora a priori da intuicéo pura do tempo, em Fichte torna-se justamente eriadora “inconsciente” dos objetos. Aimagi- nagdo produtiva ¢ assim a atividade infinita do Eu que, delimitando-se continuamente, produz aquilo que constitu amatéra do conhecimento ma + Segunda parte tica, também estamos em condigdes de Compreender,além do “que”, também 0 Shore» sia arava pla qual o Ea be ono cu, O Fu poe o nao eu para poder {calla como iberdade A Essa € uma liberdade destinada a necer estruturalmente no plano da Rina ilimitada (o dever absoluto ou im- perativo eategorico de que falava Kant). A infinitudle do Eu é um infinito por v rio eu para supera-lo ao infinito. Como evidente, a eliminagio completa do nao eu $6 pode ser um conceito-limite; por isso, @ liberdade permanece estruturalmente como fungao infinita, A verdadeira perfeigio & Fichte fas um discurso puibico (gravura de wm anénino do sécnfo XIN). O sucesso ¢a popularidade do filsofo, iniciados com a publicagao en 1792 do Ensaio de uma eriticn de toda revelagio continuados com obras de epoca ‘como os Fundamentos dds douteina da ciéncia (definidos por Schlegel como una das tres deta principas do século"), conbecerany, depois do paréntese da chamada sno sbre tts fe 1799, uma nove e tina época ‘com of Discursos 4 nagio alemi, de 1808, absolatienee ee nito tender a perfeigio como su- peracio progressiva da limitacio. E revela-se a propria esséncia do princi absoluto. Desse modo, ichte considera ter de- ivamente a superioridade da razio pritica sobre a razio pura, que Kant ja intuira, Deus nao é substincia ou realidade em si mesma, ¢ sim essa “ordem moral” do mundo; é0 “dever ser” e, portan- to,aideia, A verdadeita reli aio moral. O finito (0 homem) é momento hnecessirio ¢ estrutural de Deus (do absolu- to como idcia-que-se-realiza-ao-infinito), no Capitulo quarto - Viele oa IV. Problemas morais === pfichte resolve o problema da relagao entre mundo fenomenico e mundo ‘numenico, sustentando que: 3} 3 ei moral ¢ o nosso serno-mundo inteligivel 'b) a.acdo real constitul o nosso ser-no-mundo-sensivel; integra eTaade, enquanto poder absoluta de determinaro senivel segundo 0 jun it , portanto, Unretiavel @ a juncéo dos dois mundos:o verdadero principio de tudo &, portan O homem realiza sua tarefa moral de modo pleno quando entra em relacéo ‘com outros homens; a multiplicidade de homens implica o surgimento de muitos leais e, portanto, de um conflito entre ideals diferentes; nesse conflito, uma vez que a ordem moral do mundo é 0 proprio 0 fundamento ‘Deus, nao pode deixar de prevalecer aquele que € moraimente 2 et moral melhor. +A vida associada implica o surgimento do “direito”, porque em comunidade ‘© homem deve limitar a propria liberdade com o reconhecimento da liberdade do outro; o direito fundamental do homem é, portanto, o direito & liberdade; 0 segundo € o direito & propriedade. O Estado nasce de um contrato social e, portanto, de um consenso das vontades dos individuos, A origem e deve garantir o trabalho a todos, impedindo que haja pobres; do direito para atingir este objetivo, o Estado pode, se necessério, fechar oe do Estado. Comércio exterior e tornar-se Estado comercial fechado., A missi Tais posicdes socialistas, inspiradas pelos ideals da Revolucso doavo aleméo Francesa, mudaram sob o evoluir dos acontecimentos hist6ricos, > 523 convencendo Fichte que apenas do povo alemao, militarmente derrotado e politicamente oprimid e dividido, podia vir o impulso humanidade: apenas 0 povo alemgo reunificado teria podido realizar Fundagae idealista 4 da ética Os conceitos expressos por dltimo encontram aplicacio nas obras de Fichte expressamente dedicadas a tematicas ticas, juridicas e politicas = Dentre as muitas coisas interessantes ditas por Fichte a esse respeito, devemos nos limitar aqui a destacar as mais essencias. ‘Em primeizo lugar, devemos notar que Fichte resolve brilhantemente (pelo menos do seu ponto de vista) o grande problema (que tanto atormentara Kant sobre a relacio Entre 0 mundo sensivel ou fenoménico € 0 mundo numénico com 0 qual se relaciona ‘nosso agit moral. Fichte sustenta que a lei ‘moral constitui nosso ser-no-mundo-inteligi- Yel [oelo estrutural como inteligivel, a ago yeal eonstitui nosso ser-no-mundo-sensivel, €. liberdade & 0 elo entre 0s dois mundos, fenquanto é poder absoluto de determinar 6 mundo sensivel segundo o inteligivel. Onnio eu age sobre o Eu somente como “resistincia”, que nfo apenas stimula o Eu 4 agit, mas pressupée 0 seu ser posto por parte do Eu. ie nein © Eu €0 verdadeiro principio de tudo. Os problemas dos quais Fichte partira so, asim, plnamenteresolvis,e prin- cipio ao qual visava para poder reduzir 0 kantigmo a uma unidade €slcangado. £ claro que nesse contexto, em que tudo fica entregue a atividade moral, 0 pior dos males (0 vicio supremo) é a inatividade ou a inércia, da qual derivam os outros vicios piores, como a vilania ¢ a falsidade. A inatividade (a acidia), com efeito, faz 0 homem permanecer no’nivel de coisa, de natureza, de ndo eu € portanto, em certo sentido, & a negacio da esséncia e do des- 56 Segunda parte - Funclacso ¢ obsoh tino do proprio sua fangio moral de modo pleno ent em relagao com os otros homens, Exata- mente para tomarse plenamente homem, cada homem tem necessidade dos outros homens. A nevessidade de existirem muitos hhomens (a “dedugio” da mu ide de cus empiricos) 6 portanto, fu por Fichte na consideragio de que o homem temo dever de ser plenamente omen o qe se realiza apenas se existem mais homens. ‘A muluplicidade de homens implica © surgimento de multiplicidade de ideais e, portanto,conflto entre os defensores dos di versos ideats. Nesse conflto, segundo Fichte, € sempre o melhor que vence, até quando € aparentemente derrotado, Esse conceito, muito belo, € condicionado, porém, pela visio de conjunto da qual brota, a qual im plica que, sendo a ordem moral do mundo © proprio Deus, aquele que é moralmente melhor nao pode deixar de prevalecer. ‘0 “douto” tem missio particular entre ‘os homens, Ele deve se empenhar nio so- mente em fazer progredir 0 saber, mas em ser moralmente melhor e, nesse sentido, com sua atividade e seu exemplo, deve promover © progresso da humanidade. Signi at funedio do diveito e do Estado A malkiplicidade de homens implica também 0 surgimento do “dircito” e do “Estado”. Visto que 0 homem nao estd 86, ‘mas é parte de uma “comunidade”, é ser livre ao lado de outros seres também livres, ‘e deve, portanto, limitar sua liberdade pelo reconhecimento da liberdade alheia, Mais precisamente, todo homem deve limitar sua propria iberdade, de modo que todos e cada lum possam igualmente exercera sua. Assim, nasce 0 “direito”. © direito fundamental é aquele que cada homem tem 3 liberdade (aquela li- berdade que é concretamente co-possivel no contexto de sociedade feta de homens livres). ‘O segundo direito muito importante é © da propriedade. Mas, a proposito desse direito, Fichte manifesta ideias modernas ¢ interessantes. Cada qual tem diteito a poder viver mediante seu préprio trabalho, at = fascido de um contrato sociale, portanto, Mitconsenso das vontades dos individvent fo Estado deve garantir a quem ¢ ineapaz 8 posse de, sobrevivncia a em E dapaz a possibilidade de trabalhar e, por fim, também deve impedir que alguém viva sein trabalhat. Como concebido pelo fi sofa portant, o Eaal garante trabalho para todos ¢ impede que existam pobres Mharasits. Na obra O Estado comercial fechado, Fichte sustenta que o Estado, a fim Acaanat os ebjivosapontads, pode necessirio,fechar 0 comércio com 0 exterior ‘out regulé-loa fim de assumir seu monop pda O papel historico da nagao alema A essas posigoes socialistas est ligado ideal cosmopolita que Fichte defendeu por certo periodo, inspirando-se nos ideais pertados pela Revolugio Francesa. Mas os acontecimentos hist6ricos aos quais assistiu na élkima fase da vida o convenceram de que ‘© impulso para o progresso da humanidade nio viria do povo francés, sob a guia de Na- poledo, que agia como déspota e pisoteava a liberdade, e sim do povo alemio, militar ‘mente derrotado e politicamente oprimido e dividido. O povo alemao reunificado—e 56 0 povo alemio — teria podido cumprit essa missio. Os Discursos a nagao alema terminam assim: “Conhecemos nés algum ovo que se assemelhe a este nosso, que foi © progenitor da civilizagio moderna e que nos suscite a mesma confianga? Creio que todo aquele que nao se entregue as fantasias, mas pense, refletindo e discernindo, deve responder com um ‘nao’ a tal pergunta. Por- tanto, ndo hi outro caminhor se perecerdes, toda a humanidade perecers, e nunca mais ressurgira”. Nem é preciso recordar as funestas ins- trumentalizagdes politicas as quais essas palavras deram origem, Em seu contexto original, porém, elas tinham significado diverso, isto é, aquele significado que toda nacio que ressurge é levada a atribuir a si ‘mesma. Foi nesse sentido, por exemplo, que Tessoou o significado do. Primado moral £ civil dos italianos, de Vicente Gioberti. Todavia, permanece 0 fato de que 0 escrito de Fichte ofereceu amplos elementos a ideo- logia do pangermanismo. Capitulo quarto Parreieeereen == V.A segunda fase do pensamento de Fichte (4800-1814) RelacSes e diferencas entre as duas fases da filosofia de Fichte A produgio filoséfica de Fichte pos- terior & “polémica sobre o ateismo”, ou seja, posterior ao momento em que se cstabeleceu em Berlim (1800), apresenta evidentes mudangas de pensamento, de notével importincia ¢ aleance, a ponto de alguns estudiosos falarem de duas flosofias de Ficht (© fildsofo, entretanto, defendew a uni- dade de seu pensamento, ‘A verdade talvez esteja no seguinte: Fichte sempre sustentou (e, provavelmente, ‘com perfeita boa-fé) ter exposto em seus livros as mesmas coisas que Kant dissera, s6 que expressando-as de modo diferente; entretanto, aconteceu que, expressas de modo diferente, as coisas ditas por Kant tornaram-se diferentes; 0 mesmo pode-se ddizer da segunda filosofia de Fichte em re- acdo & primeira, Procurando dizer de modo novo as coisas ditas entre 1793 ¢ 1799, os fescritos que vio de 1800 em diante acabam por dizer coisas novas. 87 Fichle @ « tlealtsme ético O idealismo é aprofundado ‘em sentido metafisico S512 ‘As novidades se desenvolvem segun- do duas diregées fundamentais, precisa- ‘mente: 1) segundo aprofundamento progres- sivo do ideals en sentido metaksces 2) em sentido acentuadamente misti- corteligioso. dy AProfuncamentos do idealismo em sentido metafisico Em 1798, no Sistema da moral, Fichte ji escrevia: “O saber e 0 ser nao se cindem fora da consciéncia e independencemente del, mas cindems omente na consciéncia, porque essa cisdo é a condigio da possibi Tidade de todo conhesimento, ¢ somente mediante essa cisio é que surgem um e Thi nenhum ser sento através, da consciéncia, e fora dela nio hé também renhum saber que seja termo meramente subjetivo e em movimento em diregao a0 feuser. Peo simples fata de poder dizer-me | ‘eu’, sou obrigado a cindir: por outro lado, 86 porque digo ‘eu’, enquanto o digo, ocorre io. Portanto, estando a unidade assim $8 Segunda parte ~ Fundoes cindida na base de todo conhecimento, ¢ ‘em consequéncia do qual 0 subjetivo © 0 objetivo sao inseridos imed ‘como unicade, &absolutamente ‘em sua simplicidade, la-se voleado para, & medida do possivel, captar essa incognita X ¢ garantir-the estatura ontoldgica tal que ela acaba por tomar-se Deus acima do Eu, um absoluto gue é bem mais do que a ordem moral do mundo. ‘Aexposigio da Doutrina da ciéncia de 1801 jé mostra claramente essa tendénci Em uma carta, Fichte assim a resume: “[. Minha nova Exposicio |...] mostrara que & preciso inserir na base 0 absoluto (ao qual, precisamente por se tratar do absoluto, nao se pode acrescentar nenhum atributo, nem odo saber nem o do ser, € tampouco o da indiferenca do saber e do ser), e que esse absoluto se manifesta em si como razao, se ‘quantifica, se divide em saber e ser; somente sob essa forma é que chega a uma identida- de do saber e do ser, que se diversifica a0 infinito”, Rerorna assim a sombra de Spinoza, dda qual Fichte procura fugir desta maneira: “#36 assim que se pode manter 0 ‘Uno e © Todo’, mas no como em Spinoza, onde ele perde o “Uno” quando vem a0 ‘Todo’ eo “Todo’ quando tem o ‘Uno’. Somente a razio possui o infnito, porque nunca pode aferrar Oabsoluto. Esomente o absoluto, que nunca entra na razdo sendo formaliter,éa unidade, tunidade que permanece somente qualifica- tiva e nunca quantitativa”. Desse modo, absoluto € cindido do saber absoluto (da doutrina da ciéncia): “O saber absoluto [...] no €0 absoluto [...]. O absoluto néo € 0 saber nem o ser, nem a identidade nema indiferenca de ambos, mas é absolutamente o absoluto, pura ¢ simplesmente”. ‘Na redagdo da Doutrina da citncia de 1804, 0 fildsofo recorre até, além do conceito de unidade, também ao conceito neoplaténico de “luz”, que, irradiando-se, cinde-se em ser e pensamento, Aqui, Fichte ‘nao apenas distingue 0 absoluto do saber onciial, mas sustenta que este iserese para ser superado na “evidéncia” propria 4a luz da unidade divina. Nas tltimas ex. posigdes, Deus € concebido como ser uno § jmutivel ao passo que o saber coma-se imagem ou esquema de Deus, “o ser de Deus fora do proprio ser”, 0 divino que se ve do Ielactome, espelha na consciéneia, sobretudo no dever ena vontade moral, A componente misticorreligiosa no segundo Fichte linha de pensamento anéloga ma- nifesta-se nas exposigdes exotéricas, ou seja, populares, que sairam paralelamente nesse period. ‘Na Misso do bomem, Fichte dé a fé extraordindrio relevo, tanto que, em algu- mas paginas, parece-nos quase estar lendo Jacobi. woo ce Fichte jd fala, ao invés de Eu, de Vida, Vor- tade eterna e Razao eterna: “Toda a nossa vida é a sua vida, N6s estamos em sua mao ‘ai permanecemos —e ninguém poderd dai nos arrancar. Nos somos eternos porque ela ‘Ainda nessa obra, Fichte chega a afir- mar que “somente o olharreligioso penetra no sinal da verdadeira beleza”. ‘A instancia religiosa da tltima fase do pensamento de Fichte encontra sua mais tipica expressio na Introducio a vida bem= -aventurada, de 1806, na qual 0 idealismo se colore com as tintas préprias do panteismo metafisico: “Nao ha absolutamente nenhum ser enenhuma vida fora da vida divina ime- diata. Esse ser € encerrado e obscurecido de ‘varios modos na consciéncia, com base em leis prdprias, indestrucfveis ¢ Fundadas na esséncia da propria conscigneia; mas, liberto esses invlucros e modificado somente pela forma do infinito, reaparece na vida e nas ages do homem dedicado a Deus. Nessas agbes, ndo € 0 homem que age, e sim 0 pro- prio Deus, no seu ser fntimo e origindrio € fem sua esséncia, que age no homem e realiza sua obra por meio dele”. Esta, segundo Fichte, seria a doutrina do Evangelho de Joao, que corrigiria aque- le “erro essencial e fundamental de toda falsa metafisica e doutrina da religido”, que é a teoria da criacao a partir do nada, “principio originério do hebrafsmo ¢ do paganismo”. E mais: “A suposigao de uma criagao, especialmente em relagao a uma doutrina religiosa, é 0 primeiro passo em diregao ao erro: a negacao de tal criacio, se suposta por doutrina religiosa anterior, 0 Un Capitulo quarto - Riehte «a destiaoma sites 59 Drimeiro critério da verdade de tal doutrina religiosa, O cristianismo, especialmente Joo, © profundo conhecedor das evens fal de que falamos, encontrou-se neste diltimo, VI. Conclusdes: E asin, Fiche reinterpreta segundo sets proprios esquemas os conceitos do Verbo divino e do amor. A prépria ciéncia tome uma espécie de unio msi com oabsoluto, Fichte e os romanticos O idealismo de Fichte é idealismo"ético” [As diltimas especulagdes de Fichte ti- veram pouco eco, © sucesso da Dostrina daa cldncia de 1794 nao podia se renovas, porque naquela obra os romanticos viram Fambém muitas de suas aspiragdes, que ali tram mais sugeridas do que expressamente formuladas ¢ procamadas, Alem do que dito, leram cambém, nas entrelinhas, 0 {Que nao era dito, de modo que a obra foi Carregada de significados diversos. ‘9 que os rominticos leram nela: conceito de infnito e do incessante tender a0 Seite a reduedo do nao eu a uma projecao (ou criagao) do Eu ¢, portanto, 0 predominio {Oeuieito;a proclamagio da iberdade como significado ultimo do homem e das coisas; BEM ncepeao do divino como algo que st Joneretiza no agi humano, © proprio con~ Sho romintico de “ironia como continua ‘Amarca ética a constante do pensamento de Fichte ot autoprodugio e auto-superacio provém da dialética de Fichte, pelo menos no que se refere & formulagio e & definigio teérica. Se, para compreender 6 homem Fi- cchte, € preciso seguir toda a sua parabola evolutiva, para compreender o desenvol- vimento das ideias desse periodo ¢ preciso concentrar-se sobretudo na Dowtrina da iéncia de 1794 e nas ideias que estio em sta base. Ademais, a marca ética expressa nessa obra e nas obras estreitamente ligadas ‘ela permaneceu a constante do pensamento de Fichte, 0 minimo denominader comum de toda a sua obra. O idealismo de Fichte € idealismo “ético” ou “moral”, nao apenas porque a lei moral ea liberdade sao a chave do sistema, mas também porque sio a cha- vve que explica a escolha que cada homem em particular faz das coisas ¢ da propria filosofia: escolhe o idealismo quem é livre, cescolhe 0 dogmatismo objetivista (a flosofia gue dé proeminéncia as coisas em relacao a0 sujeito) quem nao é espiritualmente livre. = seulativw do dealisme dogo # ubecltizned ‘0 fundamento do sistema do saber, “ em grau de- ‘ransformar a filosofia em “doutrina da ciéncia”, é 0 Eu puro, \ atividade autointutiva para ) X ro por mela da imaptiaeya oitsiadia® 0 x livremente se autopde ~___e,auropondo-se, cra toda a realidade 2.0 Eu opie absoltamente a si dentro de si wn ndo eu (ANTITESE) » w psoluto, 0 eu limitado e 0 nao eu limitado Ki [3.No Es absolto 0 mia 0 en linitado ti are meprocamet (SITES) aad aE ~ Atividade cognosctiv ee | ier eR i en liberdade N ‘que é poder absoluro poder absoh sclenormando sense

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