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Síndrome da Pele Escaldada

Definição: Doença causada por toxina bacteriana, geralmente estafilocócica, e caracterizada por
lesão cutânea semelhante a uma queimadura por água quente. Também é conhecida como
doença de Ritter e pênfigo neonatorum.

Fisiopatologia

A exotoxina (tipo A e B) produzida pelo Staphylococcus aureus, através de disseminação


hematogênica, chega a pele e causa clivagem da desmogleína 1, que é uma proteína
responsável pela adesão entre os ceratinócitos no estrato granuloso da pele. Com isso, ocorre
descamação superficial de grande parte da superfície cutânea.


Apresentação Clínica

Anamnese

A doença é mais comum em crianças pequenas (abaixo de 6 anos), mas pode ocorrer em
adolescentes e adultos com doenças de base (ex.: doença renal, imunossupressão, diabetes
mellitus).

As bactérias produtoras das toxinas se encontram em outros sítios infectados; sendo assim, o
paciente pode apresentar outras doenças associadas, como impetigo, conjuntivite bacteriana,
feridas operatórias, pneumonia, piomiosite, artrite séptica ou endocardite.

O paciente pode apresentar pródromos de dor cutânea, febre, irritabilidade, mal estar e recusa
alimentar antes do desenvolvimento das lesões cutâneas.

As complicações podem ocorrer da mesma forma que os pacientes com grandes


queimaduras, com infecções secundárias das lesões, distúrbios hidroeletrolíticos importantes
e mesmo morte.

Exame Físico

O exame físico deve ser realizado com muito cuidado, para evitar mais lesões cutâneas
desnecessárias.

As lesões cutâneas inicialmente se assemelham a uma queimadura solar, com exantema


macular eritematoso principalmente em região de dobras cutâneas, como região cervical,
axilas e região inguinal. Evolui para eritema generalizado em 48 horas.

As lesões, então, evoluem com formação de bolhas finas que se rompem com facilidade, e
formam erosões e crostas.

Fissuras radiais e presença de crostas podem ser encontradas ao redor de olhos, nariz e
boca.
Geralmente, as membranas mucosas são preservadas.

Quando a pele se rompe, não se observa sangramento na superfície abaixo do rompimento,


demonstrando o caráter de descamação superficial da pele.

Pode estar presente o sinal de Nikolsky, que é a presença de descolamento da pele após leve
pressão mecânica local. A pele se descola como um lenço de papel. Se possível, evitar a
realização dessa avaliação, para não causar mais lesões cutâneas desnecessárias.

As erosões e as crostas costumam se resolver em 1-2 semanas. Geralmente, não deixam


cicatrizes, mas podem cursar com hipopigmentação por alguns meses após a resolução da
doença.

Créditos: CNX OpenStax [CC BY 4.0]


Abordagem Diagnóstica

O diagnóstico é baseado na história e no exame físico.

Exames laboratoriais: Hemograma e EAS devem ser realizados para ajudar a excluir
quadros de sepse.

Culturas: Devem ser realizadas culturas dos sítios suspeitos de infecção ou colonização para
confirmação da infecção pelo estafilococo e avaliação da sensibilidade. Avaliar hemocultura
em crianças com risco para bacteremia. Apesar disso, não se deve excluir o diagnóstico caso
as culturas venham negativas. Não são necessárias culturas das lesões, pois essas são
causadas pelas toxinas, exceto quando na suspeita de infecção secundária.

Biópsia de pele: Pode ser realizada nas situações de dúvida diagnóstica. Observa-se
clivagem subcorneana com acantólise. Infiltrados inflamatórios costumam ser ausentes.


Diagnóstico Diferencial

Impetigo bolhoso;  INFO


Queimaduras;  INFO
Síndrome do choque tóxico;  INFO
Síndrome de Stevens-Johnson;  INFO
Necrólise epidérmica tóxica;  INFO
Pênfigo;

Estreptococcia;

Síndrome de Kawasaki;  INFO


Escarlatina;  INFO
Ictiose epidermolítica;  INFO
Celulite;  INFO
Infecções por Candida (em neonatos).  INFO


Acompanhamento

Todas as crianças devem ser hospitalizadas para tratamento e monitorização. Se possível,


internar em unidades de tratamento especializadas em queimaduras.

Se o paciente apresentar sinais de choque hipovolêmico ou séptico, deve ser internado em


unidade de terapia intensiva.


Abordagem Terapêutica

Antibioticoterapia: Deve ser instituída em todos os pacientes. As opções dependerão do


perfil de sensibilidade estafilocócica encontradas na comunidade, e ajustada conforme as
culturas. As opções são:

Cefazolina,
Oxacilina;

Vancomicina;

Clindamicina - Pode ser usado no tratamento como associação em pacientes graves, com
a finalidade de redução de produção da toxina.

O tempo de tratamento total é de 10-14 dias, podendo-se trocar esquema para oral conforme
melhora do paciente e aceitação de dieta oral.

Avaliar e tratar hidratação e distúrbios eletrolíticos. Usualmente, os pacientes são mantidos


em hidratação venosa de manutenção. A manutenção de um bom débito urinário é essencial
para a eliminação mais rápida das toxinas.

Minimizar a manipulação cutânea, reduzindo o uso de esparadrapos, torniquetes, adesivos


usados na monitorização, etc.

O banho geralmente é dado apenas após 48 horas da internação, para reduzir o desconforto.
Deve ser realizado com agentes específicos, e não se deve esfregar toalhas para secar o
paciente. Secar o paciente dando "tapinhas" com gazes estéreis.

Para os curativos, podem ser usados cremes a base de vaselina. Evitar colocar gazes
diretamente em cima das lesões. Os curativos devem ser trocados apenas 1x ao dia, com uso
de analgésicos, pois a troca costuma ser muito dolorosa.

O uso de imunoglobulina humana ou plasmaférese são relatados na literatura, mas não existe
evidências de benefícios.

Os pacientes devem ser mantidos em isolamento de contato para evitar surtos da doença em
enfermarias ou UTI.

Guia de Prescrição 

Autoria

Autor(a) principal: Dolores Silva (Pediatria pela UERJ).

Revisor(a): Renata Carneiro da Cruz (Pediatria pela UERJ).

Equipe adjunta:
Gabriela Guimarães Moreira Balbi (Pediatria pela UFPR e Reumatologia Infantil pela
UNIFESP).


Referências Bibliográficas
Dollani LC, Marathe KS. Impetigo/Staphylococcal Scalded Skin Disease. Pediatr Rev. 2020
Apr; 41(4):210-212.

Hull C, Zone JJ. Approach to the patient with cutaneous blisters [Internet]. UptoDate. Waltham,
MA: UptoDate Inc. (Acessed on June 27, 2021).

Jordan KS. Staphylococcal Scalded Skin Syndrome: A Pediatric Dermatological Emergency.


Adv Emerg Nurs J. Apr/Jun 2019; 41(2):129-134.

McMahon P. Staphylococcal scalded skin syndrome [Internet]. UptoDate. Waltham, MA:


UptoDate Inc. (Acessed on June 27, 2021).

Ross A, Shoff HW. Staphylococcal scalded skin syndrome. [Internet]. StatPearls. Treasure
Island, FL: StatPearls Publishing. (Acessed on June 27, 2021).

CNX OpenStax. OpenStax Microbiology Publishers: OpenStax Microbiology Latest Version:


4.4 First Publication Date: Oct 17, 2016 Latest Revision: Nov 11, 2016. [Internet]. Commons
wikimedia.

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