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ESCOLA DE COMUNICAÇÃO E ARTES

Curso de Licenciatura em Jornalismo


Disciplina: Psicologia Geral e da Comunicação

Psicologia como Ciência do Comportamento

Por: Saquina Mucamba

Maputo, 2022

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Psicologia Hoje

Algumas Palavras de Advertência

Desenvolvimento Histórico da Psicologia

Principais Posições Atuais em Psicologia

O Conceito de Psicologia

Amplitude e Aplicação da Psicologia

Relação da Psicologia com Outras Ciências

Linguagem e Pensamento

Definição da Linguagem e Pensamento

Funções da Linguagem

Linguagem como determinante do Pensamento

Linguagem e Comunicação Humana

Definição da Comunicação

Comunicação e Cultura

Comportamento Social

Definição de Comportamento Social

Quando Começamos a nos Importar com os Comportamentos Sociais

Porque valorizar o Comportamento Social

Importância do Comportamento Social

Principais Comportamentos e Regras de Etiqueta

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O Comportamento Social do Individuo

Mudanças de Atitudes, Propagandas e Comunicação; os Grupos e as


Relações Grupais.

Mudanças de Atitudes

Definição de Atitudes

Mudanças de Comportamento

Propaganda e Comunicação

Definição de Propaganda: Comercial e Ideológica

Consequências Sociais da Propaganda

O conceito de Comunicação na Propaganda

Tipos de Comunicação

Publicidade

Os Grupos e as Relações Grupais

Comportamento do Grupo

Grupo; Posição; Status; Papel; Liderança.

Bibliografia

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APRESENTAÇÃO

Esta cadeira enfatiza os conceitos da teoria psicológica tais como sociedade


individuo, a cognição individual e social, relações grupo individuo, persuasão e
mudanças de atitudes. Estuda os processos psíquicos básicos (percepção,
consciência, memoria, pensamento, e aprendizagem), stress, motivação e
liderança, e as relações destes processos com a comunicação. Serão
apresentados também os conceitos fundamentais da Psicologia Organizacional
e Psicologia Empresarial. E com objectivos de conceituar e problematizar os
conceitos básicos da Psicologia individual e social com o instrumento de
comunicação e das relações sociais. Oferecer ao estudante conhecimentos
sobre alguns determinantes biológicos, inconscientes e cognitivos do
comportamento humano; expor ao estudante a relação da psicologia com
comunicação e as outras ciências; identificar alguns aspectos intrapsíquicos
intervenientes no processo da comunicação; apresentar ao estudante como os
grupos sociais influenciam o processo de comunicação.

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I. Psicologia como Ciência do Comportamento
1. Algumas palavras de advertência

“Psicologia” é uma palavra que tem, para o leigo, um sentido bem pouco
definido. Ela pode sugerir muitas coisas para uma mesma pessoa e também
coisas diferentes para pessoas diferentes.

Um levantamento breve das expectativas comuns de quem vai iniciar seus


estudos em Psicologia ilustra bem esta diversidade de concepções. Alguns
acreditam que vão estudar as causas e características do desequilíbrio mental;
outros esperam aprender como lidar com crianças em suas sucessivas etapas do
desenvolvimento; há os que pretendem alcançar a compreensão das regras do
bom relacionamento interpessoal; alguns expressam o desejo de poderem vir a
psicanalisar pessoas; outros, ainda, almejam treinar-se em mensuração da
inteligência; e encontram-se, também, os que, querem, de forma mais vaga, vir
a “compreender o ser humano”.

Esta lista de expectativas, a par do aspecto altamente positivo que é a


predisposição favorável em relação à disciplina, indica a amplitude de
conceituações e permite supor uma crença pretensiosa que merece algumas
palavras de advertência.

Trata-se da crença generalizada de que todos nós somos “psicólogos práticos”,


o que se costuma “comprovar” pela nossa quase “infalível” capacidade de
“julgar” as pessoas.

Acreditamo-nos, em suma, conhecedores da “natureza humana”. Apesar de ser


verdade que, por pertencermos, nós mesmos, à espécie humana, devamos
conhecer alguma coisa a seu respeito e, também, que alguns indivíduos são,
realmente, mais hábeis do que outros ao avaliar ou ao relacionar-se com os
demais, estes “conhecimentos” não são científicos.
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E preciso deixar claro que a Psicologia vem se desenvolvendo na base de
esforços sérios, de métodos que exigem observação e experimentação
cuidadosamente controladas.

Não se trata, pois, de uma colecção de “palpites” sobre o ser humano, sua
conduta e seus processos mentais.

A Psicologia é uma ciência.

O estudante precisa adoptar, desde logo, uma postura científica, isto é,


examinar o que já foi estabelecido pela ciência o que ainda não recebeu
explicação satisfatória, rejeitar toda concepção que não tiver sido submetida a
estudos e comprovação rigorosos; em suma, precisa adoptar um espírito crítico
que desconfie, sempre, de “conhecimentos naturais” sobre as pessoas.

Além desta crença generalizada de que todos somos psicólogos, encontrasse


comummente outra a de que é impossível estabelecer-se algum conhecimento
válido para todos os seres humanos. Os argumentos para esta colocação
costumam ser dois: ou que o ser humano é dotado de livre arbítrio e, portanto,
cada um se comporta como quer; ou que a natureza humana é, por si mesma,
misteriosa, insondável, complexa demais.

Sejam quais forem os argumentos, acreditar na impossibilidade de


generalização sobre o homem tem como decorrência imediata e lógica
desacreditar na possibilidade de uma ciência sobre o homem.

O que se verifica, entretanto, é que a Psicologia vem se desenvolvendo,


estabelecendo generalizações válidas, apesar da real complexidade e
diversidade da conduta humana e apesar, também, da controvérsia sobre a
“vontade própria” do homem.

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Outro problema se acrescenta: muitos pseudopsicólogos escrevem livros, dão
conferências, atuam em “clínicas”, montam “testes” em revistas populares e,
assim, contribuem bastante para fornecer uma falsa imagem da Psicologia e
podem até vir a ser altamente prejudiciais, tanto por iludirem os incautos como
por desmoralizarem a ciência.

Novamente, aqui, impõe-se o espírito crítico. O estudante deve perguntar-se


qual a formação de tais pessoas, de onde provêm seus “conhecimentos”, quais
os fundamentos dos “testes” e dos procedimentos “clínicos”. Existem pessoas
comprovadamente idôneas no exercício de profissões que usam basicamente a
Psicologia, que podem ser consultadas, se não houver outros meios de
certificar-se da validade de tais livros, testes, palestras, etc.

Uma última advertência se refere ao vocabulário psicológico. Palavras como


“Inteligência”, “personalidade”, “criatividade” e muitas outras são usadas pelo
público leigo com sentido bastante diverso (e bastante indefinido) daquele que
têm no vocabulário científico. Este fato causa dificuldades para o estudante
que, precisa aprender a significação que tais termos recebem em Psicologia.

Voltando, agora, à lista de possíveis expectativas dos que iniciam o estudo da


Psicologia: ela mostrou uma diversidade grande de concepções sobre esta
disciplina.

Afinal, o que estuda a Psicologia? O que se entende por Psicologia? Esta


questão não é fácil de ser respondida. Acredita-se que uma resposta satisfatória
possa ser atingida, depois de ser examinado, ao menos de forma rápida, o
histórico da Psicologia e as principais posições psicológicas atuais.

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1.1. Desenvolvimento Histórico da Psicologia

Uma constatação interessante, feita por muitos historiadores, é que as primeiras


ciências a se desenvolverem foram justamente as que tratam do que está mais
distante do homem, como, por exemplo, a Astronomia. As que se referem ao
que lhe está mais próximo, ou as que a ele se referem directamente, como a
Psicologia, são as que tiveram desenvolvimento mais tardio.

Sem buscar as causas de tal fenómeno, verifica-se que, realmente, a Psicologia


é uma das ciências mais jovens. Mas, mesmo antes que existisse uma ciência a
respeito, o homem procurou explicar a si mesmo.

As primeiras explicações sobre o ser humano e a sua conduta foram de


natureza sobrenatural, tal como as explicações para todos os eventos. Assim
como a tempestade era um indício da cólera dos deuses, e a boa colheita, do
seu favoritismo, o homem primitivo acreditava que um comportamento
estranho e insólito era causado por um “mau espírito” que habitava o corpo da
pessoa.

Tales de Mileto, um filósofo grego do século VI aC, tem sido apontado como
quem, primeiro, procurou explicar os eventos naturais em função de outros
eventos naturais.

Ele explicou a matéria como formada de um único elemento natural: a água.

Outros filósofos, depois dele, explicaram a matéria como formada de fogo, de


ar, de uma partícula indefinida (átomo).

O importante nestas primeiras tentativas de explicação é a noção em que até


hoje se apoia a ciência: os eventos naturais devem receber explicações também
naturais.

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Sócrates (470-395 aC) e Platão (427-347 aC), os dois grandes filósofos gregos,
com seus ensinamentos, fizeram com que despertasse o interesse pela natureza
do homem, o que trouxe ao centro do questionamento filosófico da época
inúmeras questões psicológicas.

Não existe aqui, ainda, a intenção de explicação científica, tal como hoje a
concebe, mas, sim, a de uma explicação moralista, ética.

Ambos adoptam a abordagem racionalista: Sócrates demonstra isto muito bem


com o método do questionamento lógico e Platão, com a sua explicação
racional do mundo, pela existência do “mundo das ideias” que justifica o
mundo real.

Aristóteles (384-322 aC) é comummente apontado como o filósofo que teria


valorizado, pela primeira vez, a observação como forma de se chegar a explicar
os eventos naturais, apesar de que seu método de investigação era, também,
basicamente racionalista.

A primeira doutrina sistemática dos fenómenos da vida psíquica foi formulada,


na antiga Grécia, por Aristóteles. Nos três livros De Anima, ele se pronuncia,
como introdução, sobre a tarefa da psicologia. Aristóteles acredita que as ideias
e, consequentemente, a alma, seriam independentes do tempo, do espaço e da
matéria e, portanto, imortais. Circunstâncias especiais fizeram com que os
escritos de Aristóteles fossem perdidos nas tormentas produzidas pelas
mudanças do mundo ocidental durante mais de mil anos.

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1.1.1. Principais Posições Actuais em Psicologia

Behaviorismo

O criador do behaviorismo é John B. Watson (1878-1959), americano


doutorado pela Universidade de Chicago. Descontente com a situação em que
se encontrava a Psicologia, e inspirado pelo grande desenvolvimento das
ciências naturais na época, Watson propôs um novo objecto de estudo para a
Psicologia: o comportamento (behavior) estritamente observável. Com isso,
descartou dos estudos os fenómenos mentais, sensações, imagens ou ideias,
funções mentais e, também, a introspecção como método. Afirmava que a
única fonte de dados sobre o homem era o seu comportamento, o que as
pessoas faziam o que diziam.

Argumentava que apenas o comportamento era objectivo, e que apenas ele


poderia ser o melhor critério para conclusões realmente científicas.

Esta concepção valorizou os experimentos com animais, cujo comportamento


mais simples facilita a investigação e possibilita conclusões transponíveis para
os seres humanos. Sem nenhuma relação com o behaviorismo americano,
desenvolvia-se, na Rússia, o trabalho do fisiólogo Ivan P. Pavlov (1849-1936)
sobre o reflexo condicionado. Esta noção foi recebida com entusiasmo pelo
behaviorismo, pois possibilitava explicar o comportamento sem referência a
processos internos que escapam à observação.

Watson reconheceu no condicionamento uma base para explicar toda a


aprendizagem, mesmo a mais complexa, já que esta poderia ser reconhecida
como encadeamentos, combinações e generalizações de condicionamentos
simples.

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Coerente com a ênfase dada à aprendizagem, atribuiu-se papel primordial ao
ambiente na formação da personalidade, em contraste com a quase descrença
na influência da hereditariedade. A aprendizagem é a responsável principal,
inclusive, pelas mudanças observáveis no comportamento com o aumento da
idade. A noção de instinto foi abandonada.

A importância atribuída por Watson à influência do meio ambiente pode ser


avaliada pelas suas palavras: “Dai-me uma dúzia de crianças sadias, bem
formadas, e um mundo de acordo com minhas especificações em que criá-las e
garanto que, tomando uma ao acaso, posso treiná-la para que se torne qualquer
tipo de especialista que se escolha — médico, advogado, artista, comerciante
chefe e, sim, até mendigo e ladrão - independente de suas inclinações,
tendências, talentos, habilidades, vocações e da raça de seus ancestrais”.
Watson, apud KelIer, (1970). As ideias de Watson foram consideradas bastante
radicais no início, mas acabaram ganhando aceitação ao mesmo tempo em que
foram sendo introduzidos “abrandamentos” na posição original.

Hoje, o “behaviorismo clássico” não existe mais, porém é possível afirmar que
grande parte, se não a maior, da Psicologia americana tem orientação
behaviorista, O próprio conceito de Psicologia como “ciência do
comportamento”, amplamente aceito, parece indicar isto. O behaviorismo
propõe uma Psicologia basicamente experimental, e os temas da aprendizagem
e da motivação devem a ele o seu grande desenvolvimento.

Gestalt

Movimento de origem alemã, mas que se desenvolveu nos Estados Unidos,


nasceu como oposição às outras correntes psicológicas. Afirmava que o
estruturalismo e o behaviorismo subestimavam o papel do indivíduo,
principalmente nos processos da percepção e aprendizagem, acreditando-o um

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“registador” passivo dos estímulos do ambiente. Opunha-se também à
decomposição feita pelos estruturalistas dos fenómenos mentais em elementos
simples e àquela feita pelos behavioristas, do comportamento complexo em
pequenas unidades de reflexos ou respostas. Estas decomposições, afirmavam
eles, destituíam de sentido o fenómeno estudado.

A palavra alemã “gestalt” não tem perfeita tradução em português, mas


significa, aproximadamente, o todo, a estrutura, a forma, a organização. O lema
da Gestalt veio a ser “o todo é mais do que a soma das partes”. Os gestaltistas
ilustram esta afirmação mostrando que uma melodia, por exemplo, não pode
ser decomposta em suas notas musicais componentes sem perder a estrutura
que a identifica e, inversamente, constituir-se-á na mesma melodia se tocada
com outras notas (uma escala acima ou abaixo, por exemplo). Os tópicos da
percepção e da aprendizagem (“insight” e raciocínio) foram por eles bastante
investigados através de pesquisas rigorosamente experimentais.

Os principais representantes da Gestalt ou Psicologia da Forma foram Max


Wertheimer (1880-1943), Wolfgag Kohler (1887-1964) e Kurt Koffka (1886-
1941), além de Kurt Lewin (1890-1947) que foi um dos mais famosos
gestaltistas, dedicando-se, entre outras coisas, ao estudo da interacção social
em situações experimentais controladas.

Psicanálise

Criada por Sigmund Freud (1856-1939), a psicanálise é, provavelmente, o


sistema psicológico mais conhecido pelo público em geral, apesar de não ser
igualmente bem compreendido. Este sistema, que influenciou e ainda
influencia tão fortemente não só os rumos da Psicologia, mas também das
artes, da literatura, enfim, de toda a cultura ocidental, teve um

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desenvolvimento inicial bastante independente da Psicologia como tal. Freud
desenvolveu a sua teoria numa época em que a Psicologia se preocupava com a
experiência consciente, estudada pela introspecção.

Ele era médico neurologista, trabalhava como psiquiatra clínico e, insatisfeito


com os procedimentos médicos tradicionais no tratamento das desordens
mentais, passou a investigar as origens mentais dos comportamentos.

Divulgou a noção de motivação inconsciente para o comportamento, enfocou a


importância da primeira infância na formação da personalidade. Sua ênfase
sobre a sexualidade como um dos motivos básicos do comportamento e como
fonte de conflitos foi uma das razões da grande polémica que se gerou em
torno da teoria.

Esta abordagem explicou o comportamento humano de forma radicalmente


diversa das demais, e sem levá-las em consideração. Hoje, a psicanálise é
considerada uma das correntes psicológicas, apesar de ter nascido e se
desenvolvido de maneira completamente independente.

A posição neopsicanalítica apresenta algumas diferenças em relação à posição


freudiana original, mas continua a suscitar controvérsias. Pela ausência da
experimentação, as colocações psicanalíticas costumam ser rejeitadas pelo
cientista de laboratório, mas o clínico, particularmente, tende a apoiá-las.

Humanismo

É um movimento mais recente em Psicologia, que enfatiza a necessidade de


estudar o homem, e não os animais, e indivíduos normais psicologicamente, ao
invés de pessoas perturbadas. Além disto, critica a utilização excessiva do
método experimental, cujo rigor e precisão tem impedido a pesquisa mais
significativa com seres humanos.

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O homem tem características próprias, é singular e complexo e, por isso, não
pode ser investigado com os mesmos procedimentos aplicados ao estudo de
ratos ou outros animais em laboratórios. Advoga o estudo de processos mentais
tipicamente humanos, como: pensar, sentir, etc., apesar de não serem
directamente observáveis.

Além disso, o homem tem a capacidade de avaliar, de decidir, de escolher, não


sendo um ser passivo que apenas reage aos estímulos do meio. É alguém que
se caracteriza pelas suas potencialidades, pela sua tendência a realizá-las, por
estar em contínua modificação. São representantes do Humanismo: Abraham
Maslow, Rollo May e Carl Rogers. Este conjunto amplo e heterogéneo de
posições teóricas encontradas na Psicologia contemporânea não deve ser
tomado como indício de caos ou confusão, mas, sim, como um estágio no
processo histórico de investigação do homem a respeito de si mesmo. Esta
investigação seguiu, naturalmente, diversos caminhos, com objectos de estudos
e métodos diferentes, o que resultou em diferentes pontos de vista, que não são
sempre, necessariamente, contraditórios, mas podem, apenas, estar se referindo
a aspectos diferentes de uma única unidade complexa, o homem. Talvez se
possa esperar chegar, um dia, a um estágio de desenvolvimento tal que exista
uma única teoria psicológica que consiga englobar todas as posições e
descobertas actuais.

1.2. O Conceito de Psicologia

De acordo com a origem grega da palavra, Psicologia significa o estudo ou


discurso (logos) acerca da alma ou espírito (psique).

Atribui-se o “cunho” da palavra a Philip Melanchthon (1497- 1560),


colaborador de Martin Lutero. A generalização do termo, entre tanto, só se deu
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cem anos mais tarde. Christian von Wolf (1679-1754) o popularizou ao
estabelecer a diferença entre psicologia empírica e racional e ao escrever
diferentes tratados sobre cada uma delas.

A breve visão histórica da Psicologia mostrou que este significado foi se


alterando no decorrer do tempo e que, hoje, é uma tarefa difícil formular um
conceito razoavelmente amplo para abranger todas as posições em Psicologia.
Apesar disto, a maioria dos psicólogos concordam em chamar a Psicologia de
“ciência do comportamento”. Alguém poderá argumentar que esta é uma
definição nitidamente behaviorista e que, portanto, não serve para expressar a
variedade de concepções actuais. Ocorre que hoje se atribui um sentido bem
mais amplo do que o sentido behaviorista para o termo comportamento.

Como colocam muito bem Telford e Sawrey (1973), “o comportamento inclui


muito mais do que movimentos flagrantes, como os que fazemos ao andar de
um lado para o outro. Inclui actividades muito sutís, como perceber, pensar,
conceber e sentir. A Psicologia se ocupa de todas as actividades da pessoa
total”.

“Comportamento”, portanto, é aplicado para designar uma ampla escala de


actividades. Para Henneman (1974) pode incluir: actividades directamente
observáveis como falar, caminhar, etc; reacções fisiológicas internas como
batimentos cardíacos, alterações químicas sanguíneas, etc.; e processos
conscientes de sensação, pensamento, sentimento, etc.

Outro autor, Bleger (1979), também sugere uma distinção entre o que chama
de áreas da conduta. Um tipo de conduta se daria na área dos fenómenos
mentais, tais como raciocinar, planificar, imaginar, etc.; outra área seria a do
corpo, onde estariam incluídos os movimentos como caminhar, falar, chorar e
também as modificações orgânicas internas; e, finalmente, a área do mundo

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externo onde estariam as acções do organismo que produzem efeitos sobre o
meio social, meio físico ou sobre si mesmo. Seriam exemplos: esbofetear
alguém, conduzir automóvel, vestir-se.

Naturalmente sempre há manifestação coexistente das três áreas, isto é, não é


possível que nenhum fenómeno numa das áreas sem que as de mais estejam
implicadas.

Bieger (1979) assinala que a Psicologia não é a ciência apenas das


manifestações observáveis e nem apenas dos fenómenos mentais, mas abarca o
estudo de todas as manifestações do ser humano. Na verdade, qualquer
tentativa de tratamento isolado de fenómenos activos, sensíveis, intelectuais ou
outros não corresponde à realidade, pois em cada ato, em qualquer reacção do
homem, há inter-relação dos aspectos: o homem é uma unidade indivisível.

Procurando, provavelmente, incluir todas as manifestações do ser humano é


que Dorin (1976) denomina a Psicologia Humana de “ciência do
comportamento e da experiência”. Por experiência ele entende o “estado
consciente ou fenómeno mental experimentado pela pessoa como parte de sua
vida interior (vivência) ”.

De todas estas concepções a respeito da Psicologia e seu objecto de estudo, o


comportamento, surge uma questão importante: estudando fenómenos não
observáveis como os sentimentos, pensamentos, vivências e outros, a
Psicologia permanecerá sendo uma ciência?

Chega o momento, então, de se discutir a palavra ciência.

Entende-se por ciência um conjunto de conhecimentos sistematizados, obtidos


por uma actividade humana que segue métodos rigorosos. Dentre as principais
características da abordagem científica está a objectividade, isto é, as

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conclusões deverão ser baseadas em dados passíveis de mensuração, que as
tornem independentes de inclinações pessoais ou tendenciosidades por parte de
quem investiga.

O cientista deverá, também, descrever minuciosamente os procedimentos


utilizados na investigação, de forma a possibilitar a réplica do estudo por
qualquer outra pessoa que deseje corroborar os resultados. A Psicologia, apesar
de se propor a estudar, também, fenómenos não directamente observáveis,
atende a todos estes critérios da ciência. A chave da questão está em distinguir
fatos de inferências.

Apenas o que alguém faz, isto é, o seu comportamento, pode ser medido
objectivamente, mas isto não significa que sentimentos, pensamentos e outros
fenómenos deixem de existir ou de ser estudados por não serem observáveis.
Eles são inferidos através do comportamento. A partir da conduta das pessoas é
que se inferem motivos como a fome, a necessidade de prestígio; estados
emocionais como o medo, a frustração; atribui-se-lhe certas capacidades como
níveis de inteligência e certas características como a introversão.

A Psicologia estuda tudo isso e muito mais, mas, como pretende ser uma
ciência, baseia suas conclusões em dados objectivos, e estes só podem vir do
comportamento. Assim, como toda a ciência, a Psicologia usa métodos
científicos rigorosos e também como qualquer outra ciência, procura entender,
predizer e controlar os fenómenos que estuda, neste caso, os comportamentos.

Apesar de ser o comportamento humano o seu principal interesse, a


Psicologia também estuda o comportamento animal, com o objectivo de,
através dele, melhor compreender o comportamento humano ou porque o
estudo do comportamento animal se justifica por si mesmo.

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Dentre os seres vivos, é sem dúvida o homem que apresenta o comportamento
mais variado e complexo. Por isso, e também porque é mais difícil estudar um
objecto que somos nós mesmos, o objectivo de compreender o comportamento,
não é nada fácil de ser alcançado. Os psicólogos admitem que ainda não
conhecem todas as respostas dos problemas relacionados ao comportamento
humano. Apesar disto, não desejam apenas compreender, mas também predizer
os fenómenos. Se já estiverem estabelecidas as condições sob as quais um
determinado evento ocorre, é possível antecipar que ele ocorrerá se tais
condições estiverem presentes.

Quando uma ciência atinge este ponto de desenvolvimento em relação a um


tópico qualquer, então também pode se tornar possível o controle do
fenómeno. Controlar pode significar eliminar as condições produtoras do
fenómeno, se ele é indesejável; pode significar, pelo contrário, a sua cuidadosa
produção; também pode incluir a sua utilização para fins práticos; enfim, de
uma maneira geral, controlar significa utilizar a compreensão e a capacidade de
predição obtida para fazer algo a respeito do evento.

Em algumas ciências altamente desenvolvidas, como a física, por exemplo,


estas três etapas do trabalho científico estão plenamente atingidas, pelo menos
em relação a alguns tópicos.

Na Psicologia, entretanto, uma ciência jovem, os cientistas estão ainda, na


maioria dos temas, procurando obter a compreensão dos eventos
comportamentais e a última etapa, o controle do comportamento, apesar de já
ter sido centro de calorosas controvérsias, está, na prática, longe de ser
atingida.

Apesar de todas as dificuldades, muitas compreensões foram sendo obtidas


pelos estudos científicos que, muitas vezes, são chamados de ciência “pura”, e

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o desejo de utilizar as descobertas nas situações da vida cotidiana deu origem à
psicologia “aplicada”.

1.3. Amplitude e Aplicação da Psicologia

A distinção que se costuma fazer entre ciência “pura” e “aplicada” é dizer que
a primeira busca o conhecimento desinteressado, sem vistas à sua aplicação, e
que a segunda investiga os temas com o objectivo antecipado de usá-lo em
alguma área de actividade humana.

Tal distinção é, na verdade, apenas académica, estabelecida para fins


didácticos, já que ambas estão intimamente relacionadas. Muitos cientistas que
se dizem “aplicados” fizeram grandes contribuições para o conhecimento
básico e, inversamente, outros, aparentemente “puros”, descobriram fatos e
teorias que foram quase imediatamente aplicados a problemas práticos. Para
fins apenas didácticos, portanto, listam-se os principais subcampos da
Psicologia comummente descritos como dedicados à investigação científica
básica:

A Psicologia Geral, que busca determinar o objecto, os métodos, os princípios


gerais e as ramificações da ciência; a Psicologia Fisiológica, que procura
investigar o papel que eventos e estruturas fisiológicas desempenham no
comportamento; a Psicologia do Desenvolvimento, que estuda o
desenvolvimento ontogenético, isto é, as mudanças que ocorrem no ciclo vital
de um indivíduo (os períodos mais estudados deste ciclo vital têm sido a
infância e a adolescência); a

Psicologia Animal ou Comparada, que tenta estudar o comportamento animal


com o objectivo de, comparando-o ao do homem, melhor compreendê-lo e,

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também, por buscar a compreensão do comportamento animal em si; a
Psicologia Social, que investiga todas as situações, e suas variáveis, em que a
conduta humana é influenciada e influencia a de outras pessoas e grupos; a
Psicologia Diferencial, que busca estabelecer as diferenças entre os indivíduos
em termos de idade, classe social, raças, capacidades, sexo, etc., suas causas é
efeitos sobre o comportamento, além de procurar criar e aperfeiçoar técnicas
de mensuração das variáveis consideradas; a Psicopatologia, que é o ramo da
Psicologia interessado no comportamento anormal, como: as neuroses e
psicoses; a Psicologia da Personalidade, que é a denominação da área que
busca a integração ampla e compreensiva dos dados obtidos por todos os
sectores da investigação psicológica.
Alguns dos principais ramos da Psicologia aplicada serão descritos
brevemente, a seguir, para que o estudante tenha uma visão inicial da
amplitude e utilidade desta ciência.

A Psicologia educacional lida com aplicações de técnicas e princípios da


psicologia, quando o professor procura dirigir o crescimento do educando para
objectivos valiosos. Os tópicos mais importantes nestas tarefas, das diferenças
individuais, aprendizagem e memória, crescimento e desenvolvimento da
criança, motivação, comportamento grupal e outros.

Psicologia aplicada ao trabalho é o nome genérico que se dá a um conjunto de


subcampos, onde, através da aplicação de dados da psicologia, os instrumentos
de trabalho que o homem utiliza podem ser melhor planejados, o trabalhador
pode ser mais apropriadamente seleccionado e o ambiente de trabalho
adequado às características do ser humano. Com isto se objectiva um melhor
atendimento às necessidades do homem e um maior rendimento do seu
trabalho.

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Além disso, os conhecimentos psicológicos sobre relações humanas na
empresa, no comércio, as descobertas sobre a psicologia do consumidor, sobre
liderança e dinâmica de grupo e outros têm também contribuído grandemente
para estas finalidades.

A Psicologia aplicada à medicina pode auxiliar o médico em suas tarefas de


diagnóstico, tratamento e prevenção de doenças. Hoje, em pesquisa da
psicologia aplicada à medicina, são temas preferidos: efeito de drogas sobre o
comportamento humano e animal; efeitos de privação sensorial prolongada
sobre sentimentos e respostas de um indivíduo (ex.: vítimas de poliomielite que
permanecem longos períodos em balões de oxigénio, vôos espaciais longos);
produção de distúrbios psicossomáticos em animais; efeitos do stress sobre as
funções fisiológicas humanas, enfim, as perturbações psicossomáticas.

A Psicologia jurídica envolve a aplicação dos conhecimentos da Psicologia no


campo do Direito. Servem de exemplos as contribuições sobre a confiabilidade
do depoimento feito por testemunhas, as condições adversas da segregação
racial, classes sociais desfavorecidas, efeitos da excitação emocional sobre o
desempenho de delinquentes e criminosos, etc. Assim, em cada sector em que
os conhecimentos e técnicas da Psicologia são aplicados, ela recebe uma
denominação que indica qual o ramo da actividade humana no qual são
utilizados seus conhecimentos.

Há muitos outros sectores em que isto também ocorre como a propaganda, a


arte, a religião, etc. Pode-se concluir afirmando que a Psicologia é uma ciência
de um campo de aplicação muito amplo, o que justifica plenamente sua
importância e a denominação que tem recebido de “a ciência do nosso século”.

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1.3.1. Profissionais em Psicologia

Assim como existem muitos e variados campos de aplicação da Psicologia,


assim também existem muitos profissionais que trabalham basicamente com a
Psicologia.

Sem dúvida, o principal deles é o psicólogo, que pode actuar em áreas diversas,
como sugere a lista de subcampos e aplicações da Psicologia.

Mas muitas pessoas confundem psicólogos com psiquiatras. O psicólogo é o


profissional que faz o curso de graduação ou licenciatura em Psicologia e pode
se especializar em qualquer das variadas áreas da Psicologia.

Já o psiquiatra é o médico que se especializa em doenças ou distúrbios


mentais. O psicólogo clínico também trata destes problemas, trabalha em
clínicas e hospitais, mas tratamentos que envolvem a prescrição de drogas,
terapias de eletrochoques e outras são prerrogativas dos psiquiatras.

Psicanalista é o termo que designa o profissional que em cursos especializados


se torna habilitado a usar a psicanálise.

Outros profissionais, ainda, têm na Psicologia um instrumento importante de


trabalho. Entre eles estão o orientador educacional, o assistente social, o
pedagogo, o enfermeiro e muitos outros.

1.4. Relação da Psicologia com outras Ciências

Costuma-se denominar a Psicologia de ciência “biossocial” porque ela se


relaciona principalmente com a Biologia e com as Ciências Sociais.

Para ilustrar estas relações, basta lembrar as inúmeras pesquisas psicológicas


orientadas para os aspectos biológicos do homem e do animal, como as
realizadas pela Psicologia Fisiológica, Animal e Comparada; e, também,

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aquelas que investigam as actividades sociais dos indivíduos como as da
Psicologia Social, Educacional, do Trabalho.

Mas as relações da Psicologia com outras ciências não se limitam à Biologia e


às Ciências Sociais. A Psicologia conota-se hoje pela sua natureza
interdisciplinar. Assim como a maior parte dos outros campos de estudo, a
Psicologia não se preocupa com a extensão em que uma investigação
permanece dentro dos limites formalmente definidos da disciplina. “Quase
todos os campos da Psicologia se sobrepõem a outros campos de estudo,
servem-se deles e, por seu turno, contribuem para eles” Telford e Sawrey,
(1973).

Podem-se ilustrar estas afirmativas mostrando que a Psicologia Fisiológica


contribui para o desenvolvimento da fisiologia, bioquímica, biofísica, da
biologia geral, etc., mas também se serve das mesmas para seu
desenvolvimento.

A Psicologia Social, em suas regiões limítrofes, se confunde com a sociologia,


a antropologia, a ciência política e a economia.

As pesquisas de opiniões e atitudes, as previsões de comportamento e a


dinâmica de grupo exigem recursos ou conhecimentos de Psicologia, assim
como de outras ciências sociais. Novas áreas de interesse mútuo para diversas
disciplinas surgem constantemente. Um desses campos, de grande interesse
actual, é a psicolinguística que estuda as relações acaso existentes entre a
estruturação linguística e a actividade cognitiva e que consegue congregar
psicólogos, linguistas, sociólogos, antropólogos, filósofos num trabalho
conjunto para o desenvolvimento da mesma.

Das ligações da neurologia com a psicologia apareceu um novo ramo da


Psicologia que se apresenta como uma nova interciência: a neuropsicologia,
23
que é o estudo sobre as relações do comportamento com os dados da fisiologia
nervosa e da neuropatologia. Muitos outros exemplos poderiam ser dados, mas
o que importa é ressaltar que não há, hoje, a preocupação de manter as ciências
dentro de um âmbito de investigação restrito pela definição de seu objecto de
estudo.

Para concluir este capítulo, que procurou mostrar em linhas gerais o que é a
Psicologia contemporânea, repete-se, com Marx e Hillix (1974) que “a
Psicologia de hoje nega-se a ser limitada a um estreito objecto de estudo por
definições formais ou prescrições sistemáticas”. BRAGHIROLLI e Elaine
Maria, (2002).

QUESTÕES

1. Esquematize o desenvolvimento histórico da Psicologia.

2. Caracterize brevemente as principais posições teóricas actuais em


Psicologia.

3. Explique o significado atribuído hoje ao “comportamento” como


objecto de estudo da Psicologia.

4. Por que é possível denominar a Psicologia de “ciência”?

5. Liste os principais subcampos de pesquisa básica em Psicologia e


explique brevemente o que cada um deles investiga.

6. Aponte os mais importantes ramos da Psicologia aplicada,


descrevendo-os brevemente.

7. Por que a Psicologia é, muitas vezes, denominada de ciência


“biossocial”?

8. Como se distingue o psicólogo do psiquiatra e do psicanalista?


24
9. Aponte alguns exemplos de assuntos cujo estudo implica a relação
da Psicologia com outras ciências.

II

2. Linguagem e Pensamento

A linguagem, segundo estudiosos, é uma função inata que permite ao


indivíduo simbolizar o seu pensamento e decodificar o pensamento do outro.
Através dela facilita-se a troca de experiências e conhecimentos, interferindo
na percepção da realidade. A origem da linguagem é resultado de um
processo de socialização  do ser humano, que é estimulado pelo meio em que
se vive, no qual ocorre a adequação dele e a transformação, proporcionando
associações das diferentes áreas sensitivas, Perceptíveis e motoras. O
pensamento precede a linguagem, que também é considerada outra forma de
pensamento. A etapa das imagens mentais precede a primeira palavra da
criança. As imagens mentais, segundo estudiosos, são cópias activas da
realidade que é organizada pelo cérebro.

É de extrema importância que fique bem esclarecido que ao fazer referência


da palavra imagem a primeira coisa que vem em mente são as imagens,
porém não se restringe aos modelos visuais, considera-se também as
auditivas, somestésicas (sensibilidade ou seja capacidade que os seres humanos e

animais tem de receber informações sobre diferentes partes do corpo) , Cinestèsicas

(conjunto de sensações que nos permite perceber os nossos movimentos musculares. Ou


seja conjunto dos sentidos que nos possibilita ter uma noção mais pratica das coisas) , etc.

Na medida em que a criança se desenvolve e aprende sobre os indivíduos,

25
linguagem e objectos de forma simultânea, logo em seguida esse se modifica
devido à linguagem que sofre algumas influências de outras aquisições.

Primeiramente, se desenvolve a compreensão por volta dos 3 meses, quando a


criança já apresenta compreensão das situações e em seguida a expressão. São
processos independentes, porém na aquisição do vocabulário, do ponto de vista
interno permitida pela expressão, faz com que a compreensão se desenvolva
mais. (CAIADO, Elen Cristine).

2.1. As Funções da Linguagem 

Fala e actividade linguistica que se realiza por meio de sons produzidos pelo
aparelho fonador humano a fim de veicular significados.

Funcoes linguagem sao formas de utilizacao da linguagem para cumprir


determinado objectivo, de acordo com a intencao de quem fala ou traz a
mensagem.

1. Explicar uma palavra , um texto« metalinguistica,


2. Iniciar ou finalizar uma conversa «fatica,
3. Intecoes na comunicacao- funcoes
4. Informar algo- referencial-
5. Emocionar- emotiva
6. Enfeitar a linguagem- estetica
7. Convencer alguem- conativa.

26
Não se pode perder de vista, ao falar da linguagem na constituição da autoria
do pensamento, que estas podem atender a diversas funções, em especial a
linguagem verbal, oral ou escrita. A função mais comum da linguagem é
a referencial, que visa uma comunicação o mais possível exacta e despida de
ambiguidade. A função fática visa o contacto entre os seres humanos, seu
objectivo é diminuir o nível de ameaça diante da presença de outro ser humano
e manifesta-se através das fórmulas de cortesia comuns no dia-a-dia da
convivência social. Mas, a linguagem também pode servir à função emotiva,
centrada na expressão da emoção da fonte da mensagem. A
função conectiva ou imperativa visa persuadir o receptor e influir no seu
comportamento. Finalmente, cabe mencionar a função estética, que no caso da
linguagem verbal pode ser chamada de função poética, e a
função metalinguística, que permite a elaboração do discurso a respeito da
própria linguagem.

A função poética (no caso da linguagem escrita) ou função estética (no caso
das demais linguagens) está centrada na própria mensagem, no tratamento
desta e no uso inusitado do código. Ela tem como uma de suas características a
multivocidade do sentido.

A função referencial e a função emotiva da comunicação relacionam-se,


respectivamente, às funções denotativa e conotativa do código linguístico. A
denotação é o primeiro significado de uma palavra dentro de um idioma. A
conotação consiste em uma ampliação ou acréscimo dos significados, um
sentido figurado para uma palavra, que, naturalmente não pode existir antes
que ela possua um sentido próprio, a denotação. Portanto, existem palavras que
possuem apenas sentido denotativo, mas o contrário não é possível, " O que

27
constitui a conotação enquanto o tal é o fato de que ela se instituiu
parasitariamente". (Eco, 1991b, p.46)

2.1.1. Características das Funções de Linguagem:


1. Emotiva, centralizada no emissor, a função emotiva demonstra e revela
o estado de ânimo dele e não do receptor, pois a mensagem está distante deste
último. Também conhecida por função expressiva evidencia as marcas
pessoais, emoções e avaliações do falante (emissor).
É a linguagem das biografias, memórias, poesias líricas e cartas de amor, pois
o emissor deixa claro que está presente no texto, pois ele é produto da
mensagem e irá aparecer em cena colocando-se nu perante ouvintes e ou
telespectadores.
Nela prevalece a 1ª pessoa do singular, interjeições e exclamações.

2. Conativa, centralizado no receptor, é comum a sua presença nos


discursos (familiares, jurídicos, religiosos, jornalísticos) além dos sermões,
propagandas, etc. Texto marcado pelo pronome de tratamento (tu/você) já que
tem por objectivo seduzir, convencer o receptor a aceitar a mesma ideia do
emissor adoptar um determinado comportamento.
3. Referêncial, centralizado no referente, quando o emissor objectiva
informações directas, denotativas, sem manifestações pessoais.
Conhecida também como função denotativa ou informativa, prevalecendo a 3ª
pessoa do singular. Linguagem usada nas notícias de jornal e livros científicos.

4. Metalinguística, centralizada no código, é a linguagem falando dela mesma,


isto é, quando o emissor utiliza o código para desvendar o código.
Exemplos: A poesia que fala da poesia, da sua função e do poeta, um texto que

28
comenta outro texto, dicionários que usam da língua para explicar e falar dela
mesma. Geralmente é utilizada em análises e críticas literárias diversas, em
filmes, linguagem teatral, musical e em textos científicos (citações,
referências).

5. Poética, centralizada na mensagem, tem por objectivo tratar do universo


estético e dos recursos que o condicionam, sendo assim, abre espaço para a
criatividade, ritmo, cadência, estilo, para as figuras de linguagem.
Busca também despertar surpresa e prazer estético e é geralmente utilizada
pela publicidade, letras de música e literatos em geral.
É afectiva, sugestiva, conotativa e metafórica, pois valoriza as palavras e suas
combinações.

6. Fática, centralizada no canal, tendo como objectivo prolongar ou não o


contacto com o receptor, ou testar a eficiência do canal, ou seja, quebrar o
silêncio e estabelecer a comunicação. Os murmúrios, som de telefone, celular,
torpedos, sussurros, espirros, tosses, buzinas, pigarros, comentários
cotidianos, tais como: hum hum; frio né; como vai, bom dia, olá, que trânsitos,
que horas são, etc. são comuns no uso da função fática.
E a linguagem das falas telefónicas, saudações e similares.
Obs: Em um mesmo texto podem aparecer várias funções da linguagem. O
importante é saber qual a função predominante no texto, para então definiu.

29
 2.1.1.1. A Linguagem como Determinante do Pensamento

O conhecimento objectivo e desapaixonado da realidade foi o objectivo de


estudiosos durante muitos séculos. A ilusão de atingi-lo foi a pretensão das
primeiras gerações de cientistas. Hoje, temos uma melhor compreensão de
como se dá a percepção da realidade e do quando nossas próprias crenças, nem
sempre racionais, interferem nesse processo. Entre o objecto, aquilo que é
representado, a realidade, e a representação que dela se faz através do signo
(no conceito de Pierce) ou do significante (da terminologia de Saussure) existe
sempre um conceito, uma imagem mental, ou seja, uma construção mental a
respeito da realidade percebida, que é o significado.

Na linguística moderna, entretanto, a tendência dominante tem sido considerar a língua


como organizadora da estrutura conceitual do universo e já se tornou lugar-comum
afirmar que ela é “o molde do pensamento”, ou “o instrumento de análise ou recorte da
realidade” (...); trata-se, em última análise, da tese clássica de W. von Hulboldt, para quem
a língua é “o órgão construtor do pensamento ” (“das bildende Organdes Gedanken”)

(Blikstein, 1983, p. 40).

Pelo esquema de Chomsky (Apud Blikstein, 1983. p. 50), entre o estímulo


externo e a percepção haveria a filtragem feita pelo sistema de crenças,
estratégias perceptuais e outros factores. Resta a questão de como se formaria
esse sistema que selecciona e organiza a realidade percebida. Pode-se afirmar
que é através da socialização que o ser humano adquire os modelos perceptivos
através dos quais vê a realidade. Isto num processo individual de adaptação à
sociedade, mas esta também constrói modelos perceptivos compartilhados a
partir da práxis.

30
"Somente uma pequena parte das experiências humanas são retidas na consciência. As
experiências que ficam assim retidas são sedimentadas, isto é, consolidam-se na lembrança
como entidades reconhecíveis e capazes de serem lembradas. Se não houvesse essa
sedimentação o indivíduo não poderia dar sentido à sua biografia. A sedimentação
intersubjectiva também ocorre quando vários indivíduos participam de uma biografia
comum, cujas experiências se incorporam em um acervo comum de conhecimento. A
sedimentação intersubjectiva só pode ser verdadeiramente chamada social quando se
objectivou em um sistema de sinais desta ou daquela espécie, isto é, quando surge a
possibilidade de repetir-se a objectivação das experiências compartilhadas. Só então
provavelmente estas experiências serão transmitidas de uma geração à seguinte e de uma
colectividade à outra." (Berger, Luckmann, 1976. pp. 95-96).

Existe, pois, uma relação directa entre a experiência concreta e a organização


do pensamento. Entretanto, não se trata de um contacto directo e único. Os
grupos sociais organizam sua experiência em forma de conhecimento com a
finalidade de preservação da vida. Entretanto, essa experiência, ao organizar-se
utiliza-se da mediação da linguagem, e, de certo modo, cristaliza-se, de
maneira que, as novas experiências tendem a ser organizadas de acordo com os
padrões pré-estabelecidos. A mudança desses padrões é um processo longo e
cheio de atritos.

Por que organizamos nossa percepção desse modo? Porque a realidade é


caótica e pouco significativa, a menos que seja filtrada e organizada pelo
observador. Assim sendo, na dimensão da práxis vital, o homem cognoscente
desenvolve, para existir e sobreviver, mecanismos não-verbais de
diferenciação e de identificação: dentro do próprio grupo social a que pertence,
o indivíduo estabelece e articula traços de diferenciação e de identificação. A
partir deste é que ele se torna capaz de discriminar, reconhecer e seleccionar,
por entre os estímulos do universo amorfo e contínuo do “real”, as cores, as

31
formas, as funções, os espaços e tempos necessários à sua sobrevivência.
(Blikstein, 1983, p. 60).

Os traços adquirem valores positivos e melhorativos ou negativos e


pejorativos, transformando-se assim em traços ideológicos, os quais vão
configurar os corredores semânticos ou isotopias. Os corredores semânticos
formam os “óculos sociais” que vão dirigir a percepção e a cognição. É
através, pois dos estereótipos de percepção que vemos a realidade.

Blikstein (1983, p. 63) explica a formação do aparelho perceptivo, através do


qual a realidade será filtrada, e construída, ou como ele prefere dizer,
fabricada. O referente, que normalmente identificamos com a coisa, ser ou
objecto percebido, não é, pois, a realidade propriamente dita, mas a realidade
percebida através dos “óculos sociais” que permanentemente utilizamos. A
compreensão de que a cognição se dá de forma tão complexa e mediatizada é
um instrumento útil quando se a autoria do pensamento, que embora seja
subjectiva na medida em que o indivíduo dá ao seus saberes uma carga de
emoção, baseada nas suas vivências sociais, é marcadamente social e cultural
em seus limites e contornos.

Em seu estudo sobre a questão da linguagem e seu desenvolvimento na


infância, Souza (1997) ressalta a influência do meio social e do sistema
ideológico na construção do sujeito, apoiando-se em Bakhtin.

“Bakhtin sugere, assim, que a distorção que o sujeito opera na compreensão da realidade
não pode ser explicada exclusivamente pela história individual de um psiquismo, como
pretende a psicanálise e busca as conexões esclarecedoras da verdade do sujeito nos
sistemas ideológicos sedimentados no contexto social e que este se encontra submetido”
(Souza, 1997, p. 62).

32
Mesmo quando se trata da manifestação artística como um caminho
terapêutico, existe uma influência do meio cultural. Os afectos que se
manifestam através do fazer artístico de crianças e adultos em situação de arte-
terapia não estão totalmente desvinculados da influência do seu meio cultural.
Assim como a linguagem (que só existe numa determinada cultura e grupo
social) possibilita, limita e conduz o pensamento, também o código simbólico
iconográfico é influenciado pela cultura.

A selecção dos temas, o valor dos contrastes, a utilização de certas cores ou


materiais, a busca da textura, de luminosidade ou de horizonte, assim como
tentativas de negação de todos esses valores tradicionais constituem diversas
modalidades de representação próprias a uma cultura. (Pain & Jarreau, 1996, p.
44). Portanto, o estudo das relações entre as linguagens e o pensamento é
amplo e oferece inúmeras possibilidades ao pesquisador da área de
Psicopedagogia. Esta breve discussão sobre o tema não passa de um primeiro
levantamento, que visa, principalmente suscitar o debate multidisciplinar e
interdisciplinar entre aqueles que se dedicam a essa área de estudo tão nova e
tão promissora que é a Psicopedagogia.

Tudo está por fazer, porque o ser humano em sua complexidade é ainda para
nós um mistério. A contribuição da Semiótica, em estudos interdisciplinares
com a Psicopedagogia poderá ajudar a levantar um pouco mais a ponta desse
véu, desvelando aspectos inesperados da cognição e da afectividade.

2.1.2. Relação entre o Pensamento e a Linguagem


A linguagem sistematiza a experiencia direita da criança e serve para orientar
seu comportamento, propiciando-lhe condições de ser tanto sujeito como

33
objecto desse comportamento. Sendo assim, a linguagem tanto expresso o
pensamento da criança, quanto age como organizadora desse pensamento.

“A função organizadora da linguagem emigre da relação entre a fala e acção,


no momento em que as duas se deslocam, assim com a ajuda da fala, as
crianças adiquem a capacidade de ser tanto sujeito como objecto de seu próprio
comportamento.”

Na fala o pensamento e linguagem se articulam, formando o pensamento


verbal, sendo o biológico reelaborado a partir do sócio-histórico. Isto é, a
linguagem se modifica a partir dos estímulos.
Piaget, diz que a fala esta subordinada ao pensamento, é fruto da organização
dos esquemas sensório-motor. Aqui falar e pensamento estão subordinados a
maturação de funções inatas.
A linguagem é social, portanto, sua função inicial é a comunicação, expressão
e compreensão. Essa função comunicativa está combinada com o pensamento.
A comunicação é uma espécie de função básica porque permite a interacção
social e, em simultâneo organiza o pensamento.
O pensamento, seja qual for a sua forma de realização, ele é impossível sem a
linguagem, visto que é através da linguagem que temos a possibilidade de
exteriorizar o nosso pensamento.
O pensamento influencia a linguagem, uma vez que, quanto mais qualidade
tiver o nosso pensamento, consequentemente maior qualidade terá a nossa
linguagem.

34
2.1.3. Importância da linguagem
Tendo em vista a função social da linguagem que, por meio dos signos,
estabelece a comunicação e viabiliza o ato de interacção entre os homens, faz-
se necessário que os professores tenham conhecimentos sobre seu
desenvolvimento e sua relação com o pensamento a fim de organizarem o
trabalho educativo. A linguagem verbal é instrumento que opera o pensamento
e desempenha papel fundamental no processo do desenvolvimento humano, o
qual começa no seio da família e se estende para outros espaços sociais, como
a escola. É a educação formal que viabiliza as condições socioeducativas
necessárias para a realização da apropriação dos conhecimentos historicamente
produzidos pela humanidade, entre eles, os conceitos científicos. O professor
usa a linguagem para ensinar, o aluno aprende por meio da linguagem e o
pensamento se materializa nas palavras, sejam elas ditas ou escritas. Assim, a
linguagem, em suas modalidades oral e escrita é o elemento central do
desenvolvimento da consciência humana e da relação entre o homem e o
mundo que o circunda.

A aprendizagem e a linguagem são indissociáveis. Através da linguagem e de


suas diversas formas de comunicação verbal e não-verbal (olhares, gestos, e
movimentos), o s alunos interagem uns com os outros e com o mundo que os
rodeia, produzindo conhecimento.
O professor deve proporcionar condições para que os alunos possam dialogar,
duvidar, discutir, questionar e compartilhar saberes. A sala de aulas deve ser
um lugar onde há espaço para transformações, para a diferença, para o erro,
para as contradições, para a colaboração mútua e para a criatividade.

35
O PEA é concebido como um processo global de relação interpessoal, e que
para desenvolver de forma efectiva esta ralação é indispensável a comunicação
que só é possível graças à linguagem.

2. 2. Linguagem e Comunicação

Comunicação (do latim communicatio.onis, que significa "acção de


participar") é um processo que envolve a troca de informações entre dois ou
mais interlocutores por meio de signos e regras semióticas mutuamente
entendíveis. Trata-se de um processo social primário, que permite criar e
interpretar mensagens que provocam uma resposta.

Quando se estabelece a comunicação, as pessoas seleccionam palavras que vão


constituir a mensagem; escolhem também qual vai ser a estrutura da
mensagem, assim como o que vão dizer, a quem e em qual lugar.
Todos os factores entram em jogo, pode-se falar em predominância de um
deles, conforme o tipo de mensagem, assim como as respectivas funções da
linguagem.
Os elementos são: emissor, receptor, mensagem, código, canal de
comunicação, contexto ou referente e ruído. Todos eles possuem seus
significados que são importantes para uma boa comunicação, o que pode fazer
toda a diferença em muitos sectores.
a) A linguagem, como meio de comunicação, possui múltiplas finalidades
ou funções:
 Dá unidade a um povo;

36
 Coloca o ser humano em sintonia com a família, amigos, com o mundo
em redor;
 É um instrumento que serve para informar, dar ordens, suplicar,
prometer, maldizer, persuadir, enganar, rezar, meditar;
 Ajuda a pensar, sonhar, criar, calcular.

b) Esta aparente multiplicidade pode ser sintetizada em seis funções básicas


da linguagem:
 Apelativa ou conotativa;
 Emotiva ou expressional;
 Informativa ou referencial;
 Metalinguística;
 Poética,
 Fática.
Sabemos que o ato comunicativo é um ato social e, como tal, concretiza as
diversas manifestações cotidianas e culturais por meio da interacção, ou seja,
sempre estamos nos relacionando com o (s) outro (s) por meio da linguagem.

2.2.1. Desenvolvimento da Linguagem

A linguagem é o uso organizado e combinado de palavras para fins de


comunicação, principalmente do pensamento. Para Piaget, a linguagem têm
carácter universal, pertence à espécie humana, o que possibilita que as pessoas
sejam capazes de dominar e usar um sistema linguístico bastante complexo.
A utilização da linguagem possui dois aspectos: um de produção e um de
compreensão. Produzir linguagem significa partir de um pensamento que de

37
alguma maneira é traduzido numa oração e expressado através de sons.
Compreender parte da audição de sons, atrelar significado a estes sons na
forma de palavras que consistem na criação de uma oração para posteriormente
extrairmos significados dela. Ambos aspectos compõem o processo de
aquisição da linguagem e apresentam os níveis da sintaxe, da semântica e da
fonologia, que envolvem, respectivamente, as unidades de oração, a
transmissão de significados e os sons da fala.
Contudo, é importante salientar que a linguagem não consiste apenas na
comunicação e transmissão de ideias pelas palavras, que são cruciais no
desenvolvimento cognitivo, mas também na comunicação não-verbal, isto é,
em gestos e as acções, movimentos que expressam emoções sociais.
A linguagem é o que permite ao homem a comunicação com outros e também
é a forma de elaborar seus pensamentos, idéias, fazer planeamentos, entre
tantas outras funções. A linguagem é um instrumento de comunicação e de
conhecimento, é social e individual e nasce da necessidade que temos de nos
comunicar. Na psicologia se torna fundamental observar a comunicação verbal
e a não-verbal que nos dá outras informações a respeito do que esta
acontecendo com o paciente.

a) Tipos de linguagem
Linguagem verbal é aquela que faz uso das palavras para comunicar algo,
expressas oralmente ou através da escrita.
Linguagem não-verbal é aquela que utiliza outros métodos de comunicação,
que não são as palavras. Dentre elas estão a linguagem de sinais, as placas,
sinais de transito, a linguagem corporal, uma figura, a expressão facial, (gestos,
mímica, atitudes, objectos); sinais sonoros e sinais tácteis.
b) Características da linguagem
38
 Linguagem pode se referir tanto a capacidade especificamente humana
para aquisição e utilização de sistemas complexos de comunicação,
quando a uma instância específica de um sistema de comunicação
complexo;
 Universalidade ou seja, é uma faculdade humana universal;
 Função de comunicação entre os membros de uma determinada
comunidade social;
 Carácter abstracto, a linguagem é uma abstracção, pois consiste numa
operação mental através da qual os seres humanos se comunicam entre si
e promovem a análise do real.

c) Estágio do desenvolvimento da Linguagem

1o Sensório-motor (0-2 anos)


Neste período o bebé percebe um mundo e actua nele ouve, coordena as
situações vivenciados juntos com o comportamento motor simples, juntando o
sensorial a uma condenação primária, o bebé desenvolve o mundo através do
seu desenvolvimento corporal, neste período o bebé desenvolve a capacidade
de reconhecer a existência do mundo, o objecto só existe se estiver em seu
alcance o mundo é ela.

2o Pré-operatório (2-7 anos)


É durante este estágio que a criança desenvolve a inteligência representativa,
ligada à aquisição da linguagem. Ela desenvolve a capacidade de representar
qualquer coisa por meio de outra coisa, isto é, um significado qualquer

39
(objecto, acontecimento) por meio de um significante diferenciado que só
servirá para essa representação: linguagem, gesto simbólico, imagem mental.
O principal progresso desse período em relação ao sensório-motor é o
desenvolvimento da capacidade simbólica. Nesta fase a criança já não depende
unicamente das suas sensações, de seus movimentos, mas já distingue um
significador (imagem, palavra ou símbolo) daquilo que ele significa (objecto,
ausente), o significado.
Nesse período caracteriza-se com o aparecimento da linguagem, a criança vai
ter contacto com as outras crianças. Exemplos: na escola, onde vai permitir o
desenvolvimento da inteligência e do pensamento. A criança cria imagem do
objecto que lhe traga prazer. Quando ela entra dentro da coisa e imagina que é
carro.

d) Características do período pré-operatório


Egocêntrico (2-4 anos)
As acções ou preocupações da criança estão centrada em si mesmo, sendo
indiferente aos demais. A criança é incapaz de se colocar do ponto de vista do
outro.
Intuitivo (5-7 anos)
Centralização e descentralização a criança focaliza apenas uma dimensão do
estímulo (ou atributo), centralizando-se nela e sendo incapaz de levar em
contra mais de uma dimensão ao mesmo tempo. 
Estados e transformações, o pensamento pré-operacional é estático e rígido. A
criança fixa impressões de estados momentâneos, mas não consegue juntar
uma totalidade de condições sucessivas em um todo coerente e integrado em
que leve em conta as transformações que unificam essas partes isoladas.

40
Desequilíbrio, o período pré-operacional é um estágio em que há um
desequilíbrio, e as acomodações predominam marcadamente sobre as
assimilações. Irreversibilidade, refere-se a incapacidade da criança entender
que certos fenómenos são reversíveis, isto é, que quando fazemos uma
transformação, podemos também desfaze-la e reinstaurar o estado original.
Raciocino transidutivo, a criança usa um tipo de raciocínio que Piaget chama
de transdutivo, isto é, ela chega as conclusões partindo do particular e
chegando ao particular, enquanto que o adolescente ou adulto usa o raciocínio
dedutivo (do geral para o particular) ou indutivo (do particular para o geral).     

3o Pré-operatório concreto (7-11anos)


Este é um período que se caracteriza por um tipo de pensamento que demostra
que a criança já possui uma organização assimilativa rica e integrada,
funcionando em equilíbrio. A criança começa a realizar operações mentais
correctos e lógicos, capacidade de interiorizar acções e começar a forma-se
possível.
4o Pré-operatório formal (12 anos em diante)
Neste estagio a criança já é capaz de resolver problemas a respeito de todas as
relações possíveis entre eventos. O adolescente, nessa fase, já é capaz de
pensar em termos abstractos de fórmula.
Em diante neste período a criança é capaz de realizar operações mentais dentro
do princípio da lógica. 

2.2. Aquisição e desenvolvimento da Linguagem: Contribuição de


Piaget, Vygotsky e Maturana
Após toda essa explanação referente ao processo de aquisição e
desenvolvimento da linguagem nas perspectivas de Piaget, Vygotsky e
41
Maturana, interessa ressaltar o ponto de convergência entre esses autores, o
que não significa, entretanto, desconsiderar os demais aspectos de suas teorias,
os quais são imprescindíveis para a convergência aqui em destaque.

Contribuição de Piaget
A base da inteligência e para o exercício da actividade da função simbólica, o
período do estágio sensório-motor é de suma importância visto que nesse
momento um indivíduo executa acções sobre o meio que traduzem motivo em
necessidade, a qual é expressa através de novas acções num constante processo
de reajustamento e equilibração que se torna cada vez mais complexo. Isso é o
que vai possibilitar o aparecimento da linguagem e tornar as estruturas de
pensamento cada vez mais refinadas.

É visível que, para Piaget, o papel da linguagem é acessório na construção do


conhecimento, pois as raízes do pensamento estão na acção e nos mecanismos
sensório motores, mais do que no fato linguístico; da mesma maneira que o
jogo simbólico faculta a possibilidade de se representar individualmente o
mundo, “a linguagem transmite ao indivíduo um sistema todo preparado de
noções, de classificações, de relações, enfim, um potencial inesgotável de
conceitos que se reconstroem em cada indivíduo, apoiados no modelo
multissecular já elaborado pelas gerações anteriores”. A linguagem é uma
condição necessária, mas não suficiente para a construção das operações
lógicas.

Os verdadeiros mecanismos de passagem de um estado de desenvolvimento a


outro são os processos de abstracção empírica que se realizam sobre os
objectos e, sobretudo, as abstracções via pensamento que se aplicam às acções
42
e a suas coordenações. Assim, a linguagem constitui uma organização, ao nível
representativo, dos progressos realizados pela abstracção via pensamento, mas
não pode engendrar uma nova operação cognitiva.

A linguagem tem origem a partir do estágio sensório-motor, quando a função simbólica


passa a exercer sua actividade: dar ao sujeito, à criança a capacidade de representação de
objectos, acções e palavras. Através de uma concepção de desenvolvimento baseada na
génese do conhecimento, esse autor assegurou que a origem do pensamento antecede à
linguagem com suas funções, formas e características. Por esta razão, a aquisição da
linguagem só é possível quando as condutas sensório-motor as passam às acções
conceitualizadas por meio da socialização e dos progressos da inteligência pré-verbal com
a interiorização da imitação na forma de representação. (PIAGET, 1967).

(os processos de abstracção empírica que se realizam sobre os objectos e,


sobretudo, as abstracções via pensamento que se aplicam às acções e a suas
coordenações.) ou seja cada vez que a crianca cresce vai aprimorando cada
vez mais a sua iteligencia. O desenvolvimento da linguagem se divide em
dois estádios: pré – lingüístico, quando o bebê usa de modo comunicativo os
sons, sem palavras ou gramática; e o lingüístico, quando usa palavras. No
estádio pré – lingüístico a criança, de princípio, usa o choro para se comunicar,
podendo ser rica em expressão emocional.

Contribuição de Vygotsky
Ainda que tenha feito claras críticas às construções de Piaget acerca do
processo em análise nesse trabalho, sobretudo no que concerne ao método de
investigação, também aponta a importância das acções no curso do

43
desenvolvimento da linguagem, porque, segundo ele, o uso de instrumentos
(acção, percepção tátil e visual) está directamente relacionado (ou
condicionado) ao funcionamento da fala, os quais se associam e dão origem a
novos e complexos comportamentos.

A linguagem humana, sistema simbólico fundamental na medição entre sujeito e objecto de


conhecimento, tem, para Vygotsky, duas funções básicas: a de intercâmbio social e a de
pensamento generalizante. Isto é, além de servir ao propósito de comunicação entre
indivíduos, a linguagem simplifica e generaliza a experiência, ordenando as instâncias do
mundo real em categorias conceituais cujo significado é compartilhado pelos usuários
dessa linguagem. Ao utilizar a linguagem para nomear determinado objecto estamos, na
verdade, classificando esse objecto numa categoria, numa classe de objectos que têm em
comum certos atributos. A utilização da linguagem favorece, assim, processos de
abstracção e generalização. (OLIVEIRA, 1992).

Contribuição de Maturana
A aquisição e desenvolvimento da linguagem ocorrem através da actividade
recursiva ( repeticao) e consensual entre integrantes de comunidades que
mantém um histórico recorrente de interacções, nas quais têm origem
referentes, significados, a capacidade de fazer distinções, a cognição. Em
outros termos, são as actividades colectivas com que um indivíduo se envolve
que os possibilita adquirir e desenvolver linguagem por meio de gestos, sons e
coordenações consensuais de acções, que por sua vez, se passam a ser
recorrentes e recursivas, viabilizam a existência dos processos e eventos
mentais.

44
Quando a criança começa a desenvolver a linguagem, ela aprende a falar sem obter
símbolos, transformando-se no interior do ambiente de convivência constituído por suas
interacções com os cuidadores (a mãe e o pai) e com os demais adultos e crianças que
compõem seu mundo. Este ambiente de convivência culmina numa história que promove
mudanças no corpo da criança, seguindo um percurso contingente com esta história. É
interessante salientar que a emoção além da ênfase dada à linguagem, nesta perspectiva, é
destacada porque a realização humana acontece pela emoção. Essa emoção é demonstrada
pelo bem-estar do indivíduo em conversar com outro, o que faz com que a emoção esteja
entrelaçada com a linguagem. (COSTAS, 2002).

Desta forma, diante do que foi exposto nessa breve discussão das perspectivas
de cada autor, é interessante considerar e enfatizar que para Piaget, Vygotsky e
Maturana as acções possuem papel essencial para aquisição e desenvolvimento
da linguagem, sobretudo por elas constituírem-se fundamentalmente por
emoções e afectividade decorrentes ou proporcionadas pelas e desde as
primeiras interacções e experiências de um indivíduo com outros indivíduos
(geralmente por seus cuidadores) e com o mundo em que vive ao longo de todo
seu desenvolvimento, já que é pela emoção (identificada em si mesmo, em
outros indivíduos e até em animais), que o homem constrói sua história, a qual
promove mudanças no próprio corpo e no curso das acções desempenhadas, e
cuja expressão se dá na e através da linguagem, o recurso psíquico tipicamente
humano por meio do qual as experiências das relações estabelecidas são
organizadas.

Referências

 ATKINSON.R. L. et al, Introdução à psicologia de Hilgard, 13. Ed,  Porto Alegre: Artmed,


2002.BENVENISTE. E, problemas de linguagem geral são paulo: pontes 2008.

45
COSTAS. F, et al, o processo de construção da linguagem a partir dos aportes de Piaget e
Maturana, centro de Educação, santa, 2002.

LEONTIEV.A, Actividad, Conciencia y personalidade, Editorial Pueblo y Educacion,


Habana1983.

MATURANA.H, Cognição, ciência e vida cotidiana. Org. e Trad. Cristina Magro,


Victor  Paredes, Belo Horizonte: Ed. UFMG. 2001.

OLIVEIRA.M. K, Dantas, Heloysa. Piaget, Vygotsky, Maturana: teorias psicogenéticas em


discussão, São Paulo,1992.

PIAGET.J, et al, Teorias da Linguagem Teorias da Aprendizagem, Lisboa, Edições 70,


1967.VYGOTSKY.L, Pensamento e linguagem, V. N. Gaia, Estratégias Criativas, 2001.

III

A Linguagem e Comunicação Humana

A comunicação humana, ou antropossemiótica, é o campo dedicado a entender


como os humanos se comunicam. A comunicação humana está fundamentada
nos elementos da comunicação que são: o emissor, o receptor, a mensagem, o
canal de propagação, o código, a resposta (feedback) e o ambiente onde o

46
processo comunicativo se realiza, também chamados de componentes da
comunicação. Portanto, a comunicação humana é um processo que envolve a
troca de informações, e utiliza os sistemas simbólicos como suporte para este
fim. E toda comunicação humana tem uma fonte, uma pessoa ou um grupo de
pessoas com um objectivo. Por conta disso o ser humano se comunica e,
jamais deixou de comunicar. O ser humano se comunica consigo mesmo, o ser
humano se comunica com os outros seres humanos, o ser humano se comunica
com os outros animais. O ser humano, em dado momento, aprendeu a falar.

A Comunicação é importante porque na nossa vida pessoal, constitui-se


como um factor extremo para que possamos transmitir informações, factos,
ideias, desejos, etc., tornando-se evidente que quem não comunica
eficazmente, acaba por ficar fora do círculo que nos permite sentir parte
integrante.

A comunicação inclui temas técnicos (por exemplo, as telecomunicações),


biológicos (por exemplo, fisiologia, função e evolução) e sociais (por exemplo,
jornalismo, relações públicas, publicidade, audiovisual e mídia). No processo
de comunicação em que está envolvido algum tipo de aparato técnico que
intermédia os locutores, diz-se que há uma comunicação mediada. Para a
semiótica (estudo de construção de significados, estudo do processo de signo e
do significado de comunicação), o ato de comunicar é a materialização do
pensamento/sentimento em signos conhecidos pelas partes envolvidas. Esses
símbolos são transmitidos e reinterpretados pelo receptor. Também é possível
pensar em novos processos de comunicação, que englobam as redes
colaborativas e os sistemas híbridos, que combinam comunicação de massa e
comunicação pessoal. (wikipedia).

47
Como ato humano carregado de significados, a linguagem liga os indivíduos
entre si. Por ela se expressam sentimentos, dores, raciocínios e ideias,
esperanças, desejos; por ela a alma se expressa e se mostra pela arte, sinais e
signos. Ela, é pela sua alta complexidade o grande milagre que fez passar o ser
animal do homem ao ser social consciente e civilizado que ele quer se tornar
sempre e sempre.

O homem não vive sem comunicar-se. A linguagem para ele é o meio mais
eficaz de conquistar o saber, seja através da escrita, seja das expressões
corporais mudas, na dança, na música, na mímica, expressões faciais, na
gestualidade de um corpo que pode falar sem boca, e que traz na boca o poder
em forma de palavra, de verbo, de desejo e de paixão. Deve ficar claro, por
isto, que a linguagem não precisa ser somente linguagem falada, mas também
a linguagem visual. Dentro da Escrita pode ser verbal e não-verbal.

A linguagem torna-se, assim, o elemento essencial para caracterizar o homem.


Que é o homem? E respondem: É o ser que tem linguagem que se comunica
pela palavra, que interpreta os sinais, além de criá-los sem o estrito auxílio do
instinto. Toda comunicação é metódica, objectiva, pois tem um objectivo em
vista no sentido mais íntimo: expressar o interior do homem. Quais são os
elementos essenciais da comunicação?

A procura de uma linguagem purificada, limpa, clara, coesa e verdadeiramente


honesta é o ideal da boa comunicação para o bom convívio social. O ruído, a
má articulação, inibição, má dicção, timidez devem ser evitados. É claro que as
traves que impedem a boa linguagem podem ser de carácter médico, mas em
sua maioria podem ser trabalhadas com uma boa dose de psicologia e
fonoaudiologia.

48
Vale lembrar: aquele que fala bem tem maior chance de escrever bem. Quem
escreve bem, fala melhor. Quem mais se comunica interpreta melhor. A
recíproca também é verdadeira. (www.Stanislaw Azir).

3.1. Conceitos e Categorização: Os Blocos de Construção do


Pensamento

O pensamento pode ser considerado como a "linguagem da razão". De fato, é


possível mais de um idioma. Um dos modos de pensar corresponde ao fluxo de
frases que "ouvimos em nossa consciência"; e chamado de modo de: -
Pensamento proposicional porque expressa proposições ou enunciados; modo
de - Pensamento figurativo, corresponde às imagens, especialmente as
visuais, que “vemos” em nossa consciência; Finalmente, provavelmente, existe
um terceiro modo - o pensamento motor correspondente à sequência de
"movimentos mentais" Bruner, Olver, Greenfeld et al. (1966).

Embora o estudo dos estágios do desenvolvimento cognitivo preste alguma


atenção ao pensamento motor em crianças, os estudos do pensamento em
adultos foram dedicados principalmente a dois outros modos, e principalmente
ao Pensamento proposicional. Uma afirmação pode ser vista como uma
sentença que afirma algo sobre um fato. "Mães são trabalhadoras" é uma
afirmação. "Gatos são animais" é outra afirmação. É fácil perceber que esses
pensamentos consistem em conceitos como “mãe” e “trabalhadores” ou
“gato” e “animal”, unidos de uma certa maneira. Para entender a idéia contida
na declaração, primeiro você precisa entender os conceitos que compõem essa
declaração.

3.2. Funções de conceito


49
Um conceito é um representante de uma determinada classe - é um conjunto
definido de atributos que associamos a essa classe. Nosso conceito de "gato",
por exemplo, inclui, entre outras coisas, a posse de quatro pernas e um bigode.
Na actividade mental, os conceitos desempenham várias funções importantes.
Uma delas é promover a economia cognitiva, dividindo o mundo em unidades
que podem ser manipuladas. O mundo está cheio de tantos objectos diferentes
que, se considerássemos cada um deles como algo separado, em breve
estaríamos perdidos nesse conjunto. Por exemplo, se cada objecto separado
que encontramos tivesse de receber um nome separado, nosso dicionário se
tornaria tão gigantesco que a comunicação seria impossível. (Pense no que
aconteceria se tivéssemos um nome separado para cada uma das sete milhões
de cores que podemos distinguir!)

Felizmente, não consideramos cada objecto como único, mas o vemos como
um caso especial de um determinado conceito. Assim, muitos objectos
diferentes são considerados como exemplos do conceito de "gato", muitos
outros - como exemplos do conceito de "cadeira" e assim por diante.
Considerando vários objectos como representantes do mesmo conceito,
reduzimos a complexidade do mundo que precisamos imaginar em nossas
mentes.

3.2. Aquisição de conceitos

Como são adquiridos muitos conceitos que possuímos? Alguns conceitos


podem ser inatos, por exemplo, os conceitos de "tempo" e "espaço". Outros
conceitos precisamos aprender.

50
Você pode aprender um conceito de duas maneiras: ou somos especialmente
ensinados sobre algo em particular, ou aprendemos isso através de nossa
própria experiência. A maneira como a assimilação ocorrerá depende do que
aprendemos. O treinamento especial serve como um meio de ensinar os
núcleos de conceitos, enquanto na experiência pessoal adquirimos protótipos.
Então, alguém diz a uma criança que um "ladrão" é alguém que toma a
propriedade de outra pessoa e não a devolve (o núcleo do conceito), enquanto
que, por sua própria experiência, a criança pode aprender que os ladrões são
preguiçosos, desarrumados e perigosos (protótipo).

As crianças também devem aprender que o núcleo é um indicador melhor de


pertencer a um conceito do que a um protótipo, mas precisam de tempo para
descobrir. Em um estudo, crianças entre 5 e 10 anos foram apresentadas com
descrições dos elementos e tiveram que decidir se pertencem a conceitos
específicos e bem definidos. Este estudo pode ser ilustrado pelo exemplo do
conceito de "ladrão". Uma das descrições do "ladrão" falava de uma pessoa
que correspondia ao protótipo, e não ao cerne do conceito:

“O miserável homem fétido, com uma arma no bolso, que veio a sua casa e leva sua TV
porque seus pais não precisam mais dele e disseram que ele pode levá-la.”
Outra descrição do "ladrão" correspondia ao núcleo, não ao protótipo:
"Uma mulher muito amigável e alegre que o abraçou, mas depois desconectou o vaso
sanitário e o levou embora sem permissão e sem a intenção de devolvê-lo."
As crianças pequenas eram mais propensas a considerar uma descrição do
protótipo como um exemplo desse conceito do que uma descrição
correspondente ao núcleo. Somente aos 10 anos de idade, as crianças
mostraram uma mudança do protótipo para o núcleo como critério final nas
decisões conceituais keil &Batterman, (1984).

51
Os pais podem ensinar as crianças a nomear e classificar objectos. Mais tarde,
a criança, vendo outro objecto, pode determinar se é da classificação como a
instância memorizada anteriormente.

3.3. Aprendizagem através da experiência

Há pelo menos três maneiras de assimilar um conceito através da experiência


com exemplos desse conceito. O mais simples é chamado de estratégia de
instância; Pode ser ilustrado como a criança aprende o conceito de “móveis”.
Quando uma criança encontra um exemplo ou instância conhecida, digamos
uma tabela, ela armazena sua representação na memória. Mais tarde, quando
uma criança deve decidir se um novo elemento, digamos uma tabela, é ou não
um exemplo de "móveis", ele compara esse novo objecto com os "móveis"
armazenados na memória, incluindo a tabela. Essa estratégia é amplamente
usada por crianças e funciona melhor com exemplos típicos do que com
exemplos atípicos. Portanto, se o conceito de uma criança pequena sobre
“móveis” consistisse apenas nos exemplos mais comuns (por exemplo, uma
mesa e uma cadeira), ele conseguiria classificar correctamente outros exemplos
que se parecem com instâncias familiares (mesa ou sofá), mas não aqueles que
diferem de amigos (candeeiro ou estante), Mervis & Pani, (1981).

A estratégia de instância continua a fazer parte de nossas maneiras de adquirir


conceitos; há muitas evidências de que os adultos costumam usá-lo para
adquirir novos conceitos, Estes, (1994).

À medida que crescemos, também começamos a usar outra estratégia - teste de


hipóteses. Estudamos exemplos bem conhecidos do conceito, procuramos
sinais que são relativamente comuns a eles (por exemplo, muitos componentes

52
de “móveis” estão localizados em instalações residenciais) e levantamos a
hipótese de que esses sinais gerais caracterizam esse conceito. Em seguida,
analisamos novos objectos, procurando esses sinais críticos neles, e mantemos
a hipótese apresentada se levar à categorização correta de um novo objecto, ou
substituí-lo se ele nos desviar. Essa estratégia, portanto, é baseada em
abstracções - características que caracterizam vários exemplos, e não apenas
um exemplo separado - e visa à busca de características nucleares, uma vez
que são comuns à maioria dos exemplos Bruner, Goodenow & Austin, (1956).

3.3.1. Blocos de construção de pensamento


1. Neurônios: A principal unidade do sistema nervoso, é uma célula
especializada que transmite impulsos ou sinais nervosos para outros
neurônios, glândulas e músculos. Compreender a função dos neurônios é
importante porque, sem dúvida, os segredos do funcionamento do cérebro e,
consequentemente, os segredos da consciência humana espreitam neles.

2. Mecanismos neurológicos para formação de conceitos e


categorização:
Embora tenhamos enfatizado anteriormente as diferenças entre conceitos
estritamente definidos e vagos, estudos conduzidos no nível neurológico
mostram que existem diferenças importantes entre os próprios conceitos
vagos.

Em particular, os conceitos associados aos animais e relacionados aos


objectos criados pelos seres humanos são aparentemente armazenados em
várias partes do sistema neural do cérebro. Ao mesmo tempo, observamos que
53
há pacientes com capacidade prejudicada de reconhecer imagens de animais
com uma capacidade relativamente normal de reconhecer objectos criados
artificialmente, como ferramentas, mas ao mesmo tempo pacientes com
padrão oposto de violações.

Estudos recentes mostram que os efeitos que se estendem às imagens também


se aplicam às palavras. Muitos pacientes que perderam a capacidade de
nomear as imagens dos objectos apresentados a eles também não podem dizer
o que as palavras correspondentes significam. Assim, por exemplo, um
paciente que não sabia o nome da girafa mostrada na fotografia também não
sabia dizer nada sobre girafas quando foi chamado a palavra “girafa”. O fato
de esta violação se aplicar a palavras e imagens também indica que esta
violação está relacionada a conceitos: o paciente perdeu parcialmente o
conceito de “girafa” Farah & McClelland, (1991).

Outros estudos se concentraram nos processos de categorização. Uma das


direcções de tais pesquisas mostra que outras partes do cérebro participam na
determinação da semelhança entre o objecto e o protótipo do conceito do que
na determinação da semelhança entre o objecto e as instâncias armazenadas
na memória. Esses estudos são baseados nas seguintes considerações: o
processamento da instância envolve extrair exemplos individuais da memória
de longo prazo; essa extracção é possível devido às estruturas dos lobos
parietais medianos. Consequentemente, um paciente com lesões nessas áreas
do cérebro será incapaz de categorizar eficientemente objectos com base em
um processo que envolve o processamento de amostras, embora a capacidade
do paciente de usar protótipos possa permanecer normal. È o que as
pesquisas indicam.
54
3. Na vanguarda da pesquisa psicológica: Dado que factores congênitos
desempenham um papel importante na aquisição da fala, não é de surpreender
que certas partes do cérebro humano sejam especializadas em fala.

4. Vozes modernas em psicologia


A linguagem determina o pensamento ou o pensamento determina a
linguagem? Como a linguagem pode determinar o pensamento: relatividade
linguística e determinismo linguístico. Ninguém argumenta com a tese de que
a linguagem e o pensamento têm uma influência significativa um sobre o
outro. No entanto, há discordância quanto à afirmação de que cada idioma tem
seu próprio efeito no pensamento e nas acções das pessoas que o falam. Por um
lado, todos os que aprenderam dois ou mais idiomas ficam surpresos com os
muitos recursos que distinguem um idioma do outro. Por outro lado,
assumimos que as maneiras de perceber o mundo ao nosso redor são
semelhantes em todas as pessoas.
Nesse sentido, surgem dois problemas: a relatividade linguística e o
determinismo linguístico.

A relatividade é bem fácil de demonstrar. Falando em qualquer idioma, é


necessário prestar atenção aos significados determinados por sua gramática.
Em inglês, por exemplo, você deve usar o verbo na forma apropriada para
indicar a correlação temporal do evento em questão: “está chovendo, choveu”
etc. etc. Em turco, assim como nos idiomas dos índios norte-americanos,
existem vários tempos passados, que são usados dependendo da fonte de
informações sobre o evento em discussão. Existem duas formas do passado,

55
uma das quais serve para se comunicar sobre o que ele viu pessoalmente, e a
outra - sobre o que se tornou conhecido por uma conclusão lógica ou pelas
palavras de outras pessoas. Assim, se você fosse exposto à chuva na noite
passada, diria: “Choveu na noite passada” usando o formulário que mostra que
você testemunhou a chuva. E se, ao acordar de manhã, você viu calçadas e
folhagens molhadas, deve usar uma forma diferente do passado, o que implica
que você não viu a própria chuva.

Referência

AZEVEDO, C. As emoções no processo de alfabetização e a actuação docente.  1. ed.


São Paulo: Vetor Editora, 2003. 254 p.

BARROS, C. S. G. Pontos de psicologia do desenvolvimento. 11. ed. São Paulo: Ática


Editora,  1998.212 p.

BORGES, L.C.; SALOMÃO, N. R. Aquisição da linguagem: considerações da perspectiva


da interacção social. Psicologia: Reflexão e Crítica, v.16, n. 2, p. 327-336, 2003.
Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/%0D/prc/v16n2/a13v16n2.pdf>. Acesso em: 22
out. 2012.

CARROL, J. B. Psicologia da linguagem. Trad. Maria Aparecida Aguiar. 2. ed. Rio de


Janeiro: Zahar Editores, 1972. 172 p.

MACEDO, L. A perspectiva de Jean Piaget. CRE Mário Covas, São Paulo, v. 2, n. 2, p.


47-51, 1994. Disponível em: <http://www.crmariocovas.sp.gov.br/pdf/ideias_02_p047-
051_c.pdf>. Acesso em: 28 set. 2012.

56
MARTINS, L. M. O ensino e o desenvolvimento de crianças de zero a três anos. In:
ARCE, A.; MARTINS, L. M. (orgs) Ensinando aos pequenos de zero a três anos.
Campinas-SP: Alínea, 2009. p. 1-25.

MONTOYA, A. O. D. Pensamento e linguagem: percurso piagetiano de


investigação. Psicologia em Estudo, Maringá, v. 11, n.1, p.119-127, jan./abr. 2006.
Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/pe/v11n1/v11n1a14.pdf>. Acesso em: 29 out.
2012.

SABINI, M. A. C. Psicologia do desenvolvimento. 1. ed. São Paulo: Editora Ática S.A,


1993. 168 p.

VIGOTSKI, L. S. A. Construção do Pensamento e da Linguagem.Trad. Paulo Bezerra.


2. ed. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2009. 496 p.

VYGOTSKI, L. S. (1931) Historia del desarrolo de las funciones psíquicas superiores.


In: Obras Escogidas, Tomo III. Madri: Visor e MEC, 1995. p. 11-340.

VYGOTSKY, L. S. Historia del desarrolo de las funciones psíquicas superiores. In:  Obras
Escogidas, Tomo III. Madri: 1931. Disponível em:
<http://es.scribd.com/doc/28804811/Vygotsky-Obras-Escogidas-TOMO-3>. Acesso em:
20 set. 2012.

ZORZI, J. L.; HAGE, S. R. V. PROC - Protocolo de observação comportamental. 1.


ed. São José dos Campos – SP: Editora Pulso, 2004. 93 p

FERRARI, Lilian (2016). Introdução à Linguística Cognitiva. São Paulo: Contexto. pp. 171


página.

Souza; Carvalho, Mariléia; Maria de Lourdes Guimarães


(2013). «Categorização/Classificação». Cadernos CesPuc

57
 Lima, Gercina Ângela Borém de Oliveira (16 de junho de 2010). «MODELOS DE
CATEGORIZAÇÃO: Apresentando o modelo clássico e o modelo de
protótipos». Perspectivas em Ciência da Informação. 15 (2): 108–122

IV

5. Fundamentos Sociologicos do Comportamento


O homem, assim como os Outros animais, vive associado a outros
indivíduos da sua espécie.

Todas as notícias que recebemos da história e da pré-história nos falam


de agregados humanos.

O eremita é uma “excessão à regra” bastante rara e Robinson Crusoé


apenas uma figura literária.

O homem isolado e, na verdade, uma ficção.

Desde o nascimento, os seres humanos vivem num processo de interação


com os semelhantes.

Quem pretender estudar e compreender o comportamento, pois, não pode


deixar de considerar o ambiente social em que ele ocorre.

A Psicologia Social é o ramo da Psicologia que estuda os


comportamentos resultantes da interação entre os indivíduos.

Entende-se por interação social o processo que se dá entre dois ou mais


indivíduos, em que a ação de um deles é, ao mesmo tempo, resposta a outro
indivíduo e estímulo para as ações deste, ou, em outras palavras, as ações de
um são, simultaneamente, um resultado e uma causa das ações do outro.

Estes comportamentos, chamados interpessoais, ou sociais, podem se dar


de muitas formas diferentes. Por exemplo, podem ser movimentos físicos como

58
um sôco, um abraço, uma expressão facial, ou podem ser palavras proferidas
oralmente ou escritas.

É preciso fazer notar que um comportamento interpessoal não


necessariamente se dá apenas quando estão juntos dois ou mais indivíduos.
Quando o adolescente, na solidão de seu quarto, se apronta esmeradamente
para o encontro que terá, no mesmo dia, com a namorada, está oferecendo um
exemplo de comportamento interpessoal porque se comporta com referência a
outra pessoa, na expectativa de uma interação.

Quando este mesmo adolescente dá um pontapé raivoso numa pedra,


numa rua deserta, expressando sua frustração porque o encontro não
transcorreu como ele desejava, também está respondendo a estímulos de uma
interação já ocorrida, por isso pode-se classificar este comportamento de social
ou interpessoal.

Sendo assim, é fácil verificar que praticamente todos os comportamentos


humanos são resultantes da convivência com os demais.

Por isso, muitos estudiosos insistem que, na verdade, toda Psicologia é


Psicologia Social.

Apesar da conceituação da Psicologia Social como “o estudo dos


comportamentos resultantes da interação social” ser bastante ampla e pouco
esclarecedoras (já que quase todos os comportamentos são resultantes do
processo de interação), ela serve para distinguir a Psicologia Social de outros
campos de estudo da Psicologia, como, por exemplo, da Psicologia Fisiológica.

Não há, entretanto, fronteiras delimitadas entre a Psicologia Social e


outros campos da Psicologia, assim como não as há entre a Psicologia Social e
outras disciplinas, especialmente a Sociologia.

59
Para concluir, o comportamento humano se dá num ambiente social, é
decorrência dele, ao mesmo tempo que o determina.

Sendo o objeto de estudo da Psicologia o comportamento e estando o


comportamento tão estreitamente vinculado ao meio social, é evidente a
importância do estudo da influência social sobre o comportamento.

4.1. O Comportamento Social do Individuo

Numa tentativa de estruturar o vasto campo de interesse da Psicologia


Social, alguns estudiosos dividem-no em dois níveis, o do indivíduo e o do
grupo.

Há estudos em Psicologia Social que se interessam pelo comportamento


social individual, como é o caso dos estudos sobre processos de socialização,
percepção social e atitudes sociais. Outros buscam compreender processos
basicamente grupais como o desempenho de papéis, liderança e outros,
investigando as influências do grupo sobre o indivíduo e vice-versa.

É claro que esta divisão em níveis pretende apenas facilitar a


compreensão do amplo campo de estudo da Psicologia Social, porque para se
entender o comportamento social é preciso tanto estudar os processos
individuais quanto os grupais, basicamente interdependentes.

Não se pode pretender, num livro de introdução à Psicologia, o exame


extenso e detalhado de todos os temas da Psicologia Social, por isso o resto
deste capítulo pretende apenas oferecer alguns dados sobre tópicos bastante
estudados em Psicologia Social.

60
Socialização

Chama-se socialização o processo pelo qual o indivíduo adquire os


padrões de comportamento que são habituais e aceitáveis nos seus grupos
sociais. Este processo de aprender a ser um membro de uma família, de uma
comunidade, de um grupo maior, começa na infância e perdura por toda a vida,
fazendo com que as pessoas atuem, sintam e pensem de forma muito
semelhante aos demais com quem convivem.

A influência da cultura (conhecimentos, maneiras características de


pensar e sentir, hábitos, metas, ideais, etc.) da sociedade em que vive um
indivíduo é enorme na formação da sua personalidade.

Por exemplo, nas sociedades ocidentais em geral, a competição é


valorizada e as crianças são recompensadas pelos comportamentos de
competição. Entre os índios Zunis (do Novo México, estudados pela
antropóloga Ruth Benedict) ou nos “kibbutzim” israelenses, pelo contrário, a
cooperação constitui-se num valor realçado de forma que as crianças que
terminam suas tarefas mais rapidamente são contidas para que não provoquem
constrangimento nas outras. Estas crianças aprenderão a preferir manterem-se
iguais, e não superiores, aos seus companheiros.

Assim, a cultura do meio social de um indivíduo influencia


marcantemente suas características de personalidade, seus motivos, atitudes e
valores. As prescrições culturais são ensinadas à criança, inicialmente, pela
família.

A família se constitui no maior agente socializante, isto é, as


experiências da criança na família, particularmente com a mãe, são da maior
importância para determinar seu comportamento em relação aos outros.

61
É a mãe, em geral, que satisfaz as necessidades básicas da criança,
alimentando-a, aquecendo-a, livrando-a de dores, etc. No caso das primeiras
interações com a mãe serem gratificantes, a criança passará a confiar nela e,
por generalização, a confiar nos outros; se ocorrer o contrário, isto é, se a
criança não puder contar com a mãe sempre que houver uma necessidade a ser
satisfeita ou se a mãe não suprir satisfatoriamente suas necessidades,
desenvolver-se-á um sentimento de desconfiança que será generalizado aos
outros.

As reações costumeiras dos pais aos comportamentos exploratórios e


independentes dos filhos pequenos se constituem, também, num exemplo de
fator de socialização.

De maneira geral, pais tolerantes que recompensam e encorajam a


conduta independente e a curiosidade, terão filhos mais ativos, confiantes em si
mesmos, com desejos de domínio sobre o meio. Em contras te, os pais que
restringem a atividade exploratória e liberdade de movimentos de seus filhos,
ou para superprotegê-los ou apenas para conseguir manter o controle sobre
eles, terão filhos submissos, retraídos nas situações sociais e sem confiança em
si próprio.

Foram oferecidos, neste item, alguns exemplos de como o meio social


em geral e o meio familiar em particular influem no processo de socialização
do indivíduo.

No entanto, não se deve perder de vista que é grande o número de fatores


e agentes socializantes, tornando extremamente complexo o processo de
socialização.

62
Percepção Social

Chama-se percepção social ao processo pelo qual formamos impressões


a respeito de uma outra pessoa ou grupo de pessoas.

Sobre as pessoas nunca temos percepções desconexas ou isola das, mas


sempre integramos observações numa impressão unificada e coerente, mesmo
que para isso precisemos “inventar” ou “distorcer” características percebidas.

Já se estudou bastante a respeito das “primeiras impressões” e da sua


importância. Resumidamente, nós todos temos a tendência de fazer
julgamentos bastante complexos a respeito dos outros, com base em bem
poucas informações. As primeiras impressões determinam em mui to o nosso
comportamento em relação às pessoas e têm probabilidade de se tornarem
estáveis, talvez pela tendência dos seres humanos de corresponderem às
expectativas a seu respeito.

Um experimento que ilustra a influência da primeira impressão na


formação de juízo sobre as pessoas, e também a tendência de julgar a partir de
poucos dados, é o realizado por Kelley em 1950.

Nesse experimento, anunciou-se a um grupo de estudantes universitários


que teriam uma palestra com um professor visitante. Antes da palestra foram
distribuídas folhas mimeografadas com uma descrição do palestrante. Metades
dos alunos receberam folhas onde se dizia que ele era uma pessoa “fria,
trabalhadora, crítica, prática e decidida”. Para a outra metade dos alunos, a
descrição diferia apenas numa palavra, o palestrante era descrito como
“afetuoso, trabalhador, crítico, prático e decidido”. A seguir, o “professor
visitante” (na verdade, um cúmplice do experimentador) era introduzido na
sala e conduzia um debate de vinte minutos.

63
Solicitações a avaliar o palestrante, os alunos que receberam a descrição
do professor como “frio” diziam que ele era egocêntrico, cerimonioso, pouco
sociável e sem graça. Os outros que receberam a descrição do professor como
“afetuoso” tenderam a avaliá-lo como atencioso, sem cerimônia, sociável,
benquisto e engraçado.

Pode-se observar, então, que a partir apenas de uma descrição sucinta e


de um contato de vinte minutos, se formaram juízos complexos e coerentes.
Além disso, apesar de todos terem observado a mesma pessoa, na mesma
situação, chegaram a conclusões bem diferentes sobre ela, apenas a partir de
uma primeira impressão diferente, induzida pela informação inicial que
tiveram sobre ela. O comportamento dos alunos, durante os vinte minutos de
debate, também foi diferente, com muito maior participação daqueles que o
acreditavam “afetuoso”.

É claro que, muitas vezes, mudamos, após alguma convivência, a nossa


impressão inicial de uma pessoa, mas isto não invalida a constatação sobre a
tendência de a primeira impressão de ser duradoura.

O processo global pelo qual formamos impressões dos outros é bastante


complexo e as pesquisas mostram que está sujeito a muitos erros, como
aqueles em que atribuímos aos outros, de forma inconsciente ou quase as
nossas próprias tendências, desejos ou motivações.

Dado que as relações entre as pessoas dependerão muito das impressões


que formam umas das outras, a compreensão do processo de percepção social é
muito importante em Psicologia Social.

64
Atitudes

Entende-se por atitude a maneira, em geral organizada e coerente, de


pensar, sentir e reagir a um determinado objeto que pode ser uma pessoa, um
grupo de pessoas, uma questão social, um acontecimento, enfim, qualquer
evento, coisa, pessoa, idéia, etc.

As atitudes podem ser positivas ou negativas e são, invariavelmente,


aprendidas.

Quando uma pessoa pensa, por exemplo, que a democracia é a melhor


forma de governo, gosta das pessoas ou situações que de certa forma a
representem e apoia regimes democráticos, através de palavras e outras ações,
oferece um exemplo de atitudes positivas em relação ao objeto que, neste caso,
é a democracia.

Um exemplo de atitude negativa poderia ser dado pela pessoa que


percebe os negros como preguiçosos e relaxados, não gosta deles e procura
evitá-los ou prejudicá-los.

As atitudes têm, assim, três componentes: um componente cognitivo,


formado pelos pensamentos e crenças a respeito do objeto: um componente
afetivo, isto é, os sentimentos de atração ou repulsão em relação a ele e um
componente comportamental, representado pela tendência de reação da pessoa
em relação ao objeto da atitude.

Na ausência de qualquer um destes componentes, ou na ausência de um


objeto, não se pode falar legitimamente em atitude.

É preciso fazer notar, no entanto, que destes três componentes, apenas


um é observável diretamente: o comportamento. Os outros dois (pensamentos e
sentimentos) são inferidos a partir dele. Assim, se uma pessoa coleciona

65
artigos sobre os Beatles, compra todos os seus discos e procura assistir a todos
os seus filmes, é razoável acreditar que também gosta deles e que pensa a seu
respeito coisas muito positivas.

Não se deve concluir, porém, que atitude seja sinônimo de


comportamento, porque, muitas vezes, o comportamento de alguém, numa
determinada situação, não é coerente com a sua atitude. Um rapaz que afirma à
sua namorada que gosta muito da mãe dela, não necessariamente tem, mesmo,
atitude positiva em relação à provável futura sogra. Somente a observação do
comportamento global e costumeiro do rapaz em relação à mãe da moça,
durante certo período de tempo, poderá responder à questão.

Temos atitudes em relação a quase tudo, exceto em relação a dois tipos


de objetos: os que não conhecemos e os que são de pouca ou nenhuma
importância para nós. Por exemplo, é de se supor que poucos brasileiros
tenham alguma atitude em relação à política interna do governo finlandês ou à
cor da borracha usada pelos escolares.

A importância das atitudes reside no fato do comportamento ser, em


geral, gerado pelo conjunto de conhecimentos e sentimentos. Assim sendo,
conhecendo-se as atitudes de alguém, pode-se, com alguma segurança, prever o
seu comportamento; além disso, se se pretender mudar o comportamento das
pessoas deve-se procurar formar atitudes nelas ou alterar as já existentes.

Muitos comerciais da televisão procuram ensinar atitudes positivas em


relação a determinados produtos (porque o comportamento correspondente será
comprá-los) e muito esforço já foi empregado na tentativa de acabar com o
preconceito racial.

Uma característica importante das atitudes, entretanto, é a tendência para


serem muito resistentes à mudança, isto é, depois de adquiridas, as atitudes são
66
difíceis de serem mudadas. O preconceito racial permanece bastante vigoroso
apesar das inúmeras campanhas antisegregacionistas (um preconceito é uma
atitude negativa extrema contra o “outro” esteriotipado).

A explicação para isto talvez esteja no processo de desenvolvimento das


atitudes.

Nossas atitudes mais básicas (e que vão, portanto, influenciar na


aquisição de outras) são aprendidas na infância, através da interação com os
pais.

Geralmente, os pais são objetos de atitudes muito positivas da criança, já


que eles atendem às suas necessidades, proporcionando-lhe bem-estar. Assim,
tornam-se os principais modelos a serem imitados em suas atitudes. Além
disso, mostrar atitudes iguais às dos pais é costumeiramente reforçado.

Não é verdade, entretanto, que as pessoas tenham as mesmas atitudes


que seus pais em relação a tudo. Ocorre que muitas outras influências se
apresentam a medida que a criança cresce. Aprendemos atitudes com nossos
amigos, escola, igreja, etc.

As influências culturais na formação de atitudes são múltiplas,


constantes e às vezes contraditórias. Grupos sociais diversos, organismos
estatais e particulares, todos procuram fazer com que as pessoas passem a agir
da forma que eles propõem. Nem sempre nos damos conta destas tentativas de
influência, assim como também não percebemos sempre as nossas próprias
tentativas de mudar ou formar as atitudes dos outros.

A mudança numa atitude tem maior ou menor probabilidade de ocorrer


dependendo de seu grau de extremismo, dentre outros fatores. Uma atitude
extrema, como a de ser radicalmente contra a pesquisa nuclear, tem menos

67
chance de ser alterada do que uma atitude pouco extrema (ser moderadamente
contra ou a favor).

As atitudes são mensuradas através, principalmente, de escalas de


atitude, mas são usados, também, os levantamentos, a entrevista e a observação
do comportamento costumeiro da pessoa.

A importância atribuída às atitudes se reflete no número de pesquisas


efetuadas sobre o tema, tornando-o, provavelmente, o tópico mais estudado em
Psicologia Social.

4.2. O Comportamento do Grupo

Certos fenômenos, como o da liderança, desempenho de papel e outros,


só existem porque existe um grupo. Apenas quando as pessoas vivem em
grupos é que a liderança, por exemplo, pode aparecer em forma de
comportamento.

Além disso, o grupo exerce influências importantes no comportamento


humano em geral, por isso é que o comportamento do grupo, em si, merece ser
estudado. Este campo de estudo que investiga os fenômenos grupais é, muitas
vezes, chamado de dinâmica de grupo.

Grupo, Posição, Status e Papel

O que é um grupo? A platéia de um cinema, os metalúrgicos de uma cidade e


as pessoas que aguardam o ônibus numa esquina, são exemplos de grupo?

Olmsted (1970, p. 12), depois de revisar a literatura psicológica e


sociológica, define grupo como “uma pluralidade de indivíduos que estão em
contato uns com os outros, que se consideram mutuamente e que estão
conscientes de que têm algo significativamente importante em comum”.

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Interesses, crenças, tarefas, características pessoais e outras coisas podem ser
este “algo em comum”.

Observa-se, no entanto, que nem a simples existência de interesses ou


atividades comuns (como “ver o filme”, “trabalhar em metalurgia” ou “tomar o
ônibus”) e nem a vizinhança física (como na platéia do cinema ou na parada da
esquina), fazem um grupo.

Para que um conjunto de pessoas possa ser chamado de grupo, é preciso


que atenda, ao mesmo tempo, aos três critérios: estar em contato,
consideraremse mutuamente como membros de um grupo e ter algo importante
em comum.

Assim, nem a platéia do cinema, nem os metalúrgicos e nem os que


aguardam o ônibus, constituem um grupo.

Grupo primário é aquele que, além de satisfazer os critérios de “grupo”,


caracteriza-se pela existência de laços afetivos íntimos e pessoais unindo seus
membros. Em geral é pequeno, face a face, com comportamento interpessoal
informal, espontâneo e os fins comuns não precisam, necessariamente, estar
explícitos ou fora da própria convivência grupal. A família e a turma de amigos
são exemplos de grupo primário.

A importância dos grupos primários reside principalmente no fato de se


constituírem na fonte básica de aprendizagem de atitudes e da formação total
da nossa personalidade.

Nos grupos secundários, as relações são mais formais e impessoais, o


grupo não é um fim em si mesmo, mas um meio para que seus componentes
atinjam fins externos ao grupo. No momento em que o grupo deixar de ser um

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instrumento útil para que estes fins sejam atingidos, ele se dissolverá. O grupo
secundário pode ser pequeno ou grande.

Pode-se apontar como exemplos de grupos secundários: uma sala de


aula, as pessoas que trabalham num escritório e uma equipe de cientistas que
busca a cura do câncer.

Em geral, todos nós participamos de vários grupos, alguns primários e


muitos secundários.

Dentro de cada grupo ou instituição, cada membro possui uma posição,


um status e um papel.

De maneira geral, a posição é definida pelo conjunto de direitos e


deveres do indivíduo no grupo. Há no grupo familiar, por exemplo, a posição
de pai, cujos deveres são prover o sustento da família, dar aos filhos formação
geral, etc., e tem direitos, como o de ser obedecido, respeitado, e outros. Ainda
na família, há a posição de mãe, de filho, e outras. Numa indústria, uma
posição pode ser a de operário, outra a de chefe de secção e outra a de gerente
geral. Os direitos e deveres de cada um são bastante diferentes.

Existem também posições formais, como a de diretor de uma em presa, e


informais como a do operário mais antigo que, apesar de não constar em
nenhum regulamento, tem direitos e deveres diferentes dos de seus colegas.

Status é um conceito bastante relacionado com o de posição, tanto que


alguns autores usam-nos como sinônimos. Pode-se estabelecer uma diferença
entre eles dizendo que status se refere mais ao valor diferencial de cada posição
dentro do grupo ou instituição.

A importância atribuída a cada posição é indicada por símbolos de


status, tanto nas sociedades mais desenvolvidas como nas primitivas e mesmo

70
nas sociedades animais. Um escritório mais espaçoso, com ar condicionado em
geral simboliza a maior importância atribuída à posição de diretor geral, numa
empresa. As medalhas e os galões são símbolos de status na hierarquia militar.
A própria linguagem que usamos nos dirigir às pessoas indica o status que
atribuí mos a elas (“Sr.”, “Excelência”, “você”, etc.}.

O conceito de papel é um dos mais importantes em Psicologia Social e


está, também, relacionado aos anteriores.

“Papel” pode ser entendido como o comportamento esperado da pessoa


que ocupa determinada posição com determinado status.

O papel existe independentemente do indivíduo que o desempenha. O


desempenho do papel faz muito pela relativa uniformidade e coerência da
maioria dos processos sociais.

Espera-se que um pai ou um dirigente político aja de determinada


maneira e se isto não ocorrer, as pessoas que ocupam estas posições estão
sujeitas aos mais variados tipos de sansões sociais. Dependendo do grau de
desvio do comportamento esperado, pode receber desde “caras feias”, multas,
demissão do cargo, até sansões mais sérias como prisão ou pena de morte.

O conceito de papel pode ser mais facilmente compreendido se o


associarmos ao papel de um ator de cinema, teatro ou TV. Cada artista tem a
liberdade de introduzir algumas variações no papel que representa, mas estas
variações têm um limite. O ator precisa conservar os traços essenciais do papel.

O meio social pode ser comparado com um teatro onde a “peça” a ser
representada muda, quando estamos fazendo parte de um ou de outro grupo.
Neste sentido, somos todos bons artistas porque passa mos a “representar”
papéis bem diferentes de um momento para o outro. Uma universitária, por

71
exemplo, assume o papel de aluna na sala de aula (senta, escreve, pergunta), ao
chegar em casa, passa a desempenhar o papel de mãe (prepara o almoço,
atende aos filhos) e ao chegar no escritório onde trabalha, passa a desempenhar
o papel de secretária-executiva (decide, dá ordens, controla o trabalho dos
demais).

E freqüente o conflito de papéis, como no exemplo acima, onde numa


determinada atividade,se espera da pessoa comportamentos submissos,
dependentes e servis e,noutro, a pessoa deve ser autoritária, decidida e
independente.

O conceito de papel é importante para se compreender o comportamento,


porque todos nós temos tendência para corresponder às expectativas dos outros
a nosso respeito (mesmo às negativas). Assim sendo, conhecendo-se o papel
que será desempenhado por uma pessoa, pode-se, até certo ponto, prever e
compreender o seu compor ta mento.

Além disso, papéis que desempenhamos por longos períodos de tempo,


deixam sua “marca” em nossa personalidade As pessoas que estiveram em
cargos de chefia por muitos anos, tendem a adotar comportamentos
autoritários, mesmo em outros grupos ou outros trabalhos.

Um estudo interessante em Psicologia Social é sobre os papéis sexuais.


As diferenças biológicas entre os sexos são genéticas, mas parece que os
papéis adequados para cada sexo são ditados pela sociedade. Assim espera-se
que o menino seja mais ativo, independente e dominador do que a menina. É
natural, pois, que, correspondendo às expectativas sociais, no nosso meio, as
mulheres se tornem mais passivas, submissas e dependentes.

72
Comparações entre culturas ou épocas diferentes mostram que os papéis
sexuais são arbitrários e o comportamento julgado adequado para cada sexo é
bastante diferente.

Liderança

De maneira geral, entende-se por liderança à influência que certos


membros de um grupo exercem sobre os demais.

Durante muito tempo tratou-se a liderança como uma característica


individual e, por isso, um debate interessante era a questão da liderança inata X
aprendida.

Hoje esta questão não tem mais sentido, já que ninguém é líder, mas
apenas atua como líder em determinadas situações. Em outras palavras, só
existe um líder, se existir um grupo e uma pessoa será líder de um grupo,
apenas enquanto o grupo assim o quiser enquanto ela auxiliar o grupo a atingir
os seus objetivos.

Hoje, entende-se a liderança como emergencial, isto é, o líder surge de


dentro do grupo e como situacional, isto é, alguém pode ser escolhido líder
para um tipo de tarefa grupal e não para outro.

Algumas características de personalidade, no entanto, tornam mais


provável que um indivíduo seja escolhido como líder em grande número de
situações. É o caso, por exemplo, de um indivíduo ativo e o nível de atividade
tem muito a ver com hereditariedade.

No entanto, muitas vezes a palavra liderança é usada com o sentido de


“chefia”. Quando uma pessoa é designada “de cima” para coordenar as
atividades de um grupo ou instituição, fala-se de liderança formal, em contraste

73
com a liderança informal, exercida pela pessoa com grande in fluência sobre os
membros do grupo sem ter sido formalmente designa da para isso.

Muitos estudos já puderam constatar a importância da liderança informal


e os conflitos que podem surgir quando os dois tipos de líderes atuam para
objetivos opostos.

Um conhecido estudo sobre liderança (Lippit e White, 1943) buscou


investigar sobre estilos de liderança e usou como sujeitos meninos de 10 a 11
anos, durante um acampamento de verão. Foram treinados líderes adultos para
dirigir grupos de meninos.

Deste estudo surgiram as denominações e a caracterização da liderança


autocrática, “laissez-faire” e democrática.

O líder autocrático é aquele que determina toda a atividade do grupo, é


o que acredita que, pelo simples fato de ser investido de autoridade, todos lhe
obedecerão, independentemente da justiça ou injustiça, acerto ou desacerto,
viabilidade ou não de suas determinações. Neste contexto, as relações
interpessoais sofrem palpável deterioração. Os subordinados manifestam
revolta, hostilidade, retração, resistência passiva ainda que veladamente. O
absenteísmo é outra conseqüência comum num grupo assim liderado.

O líder “laissez-faire” é o que faculta ao grupo completa liberdade de


ação e, na verdade, não atua como líder. Este tipo de liderança é fonte de
atritos e desorganização, anarquia, balbúrdia; a produção costuma ser muito
baixa.

O líder democrático é o que dirige um grupo social qualquer com o


apoio e colaboração espontânea e consciente de seus membros componentes,
interpretando e sintetizando o pensamento e os anseios do grupo. As pessoas

74
lideradas democraticamente integram-se no trabalho livremente, com
otimismo, confiança e o rendimento é, em geral, elevado.

Apesar de a liderança democrática ser o tipo ideal de liderança na


maioria das situações grupais, isto não é sempre verdade.

Em situações em que o grupo precisa efetuar uma tarefa com urgência,


ou em que as tarefas sejam manuais e rotineiras, é provável que a liderança
autocrática consiga maior produtividade.

Quando o grupo é composto de pessoas altamente responsáveis e a tarefa


for essencialmente criativa (como a de uma equipe de cientistas ou artistas), a
liderança “laissez-faire” pode ser a mais indicada.

Nas situações reais, o que se verifica é a inexistência de tipos puros de


líderes, parece mais comum que os chefes sejam uma composição de tipos.

QUESTÕES
1. Por que é importante o estudo das influências sociais para se Compreender
o comportamento?
2. O que estuda a Psicologia Social?
3. O que é “interação social”? E “comportamento interpessoal”? Exemplificar a
resposta.
4. Por que alguns estudiosos consideram toda a Psicologia como Psicologia
Social?
5. Como se costuma dividir os estudos da Psicologia Social? Explicar a
resposta.
6. O que se entende por “socialização”? Dar exemplos que envolvem a cultura
e a família como agentes socializantes.
7. O que é “percepção social”? E “primeira impressão”? Qual a importância
destes conceitos na compreendo comportamento?
8. Explicar o que é “atitude” e oferecer exemplos que destaquem os
componentes da atitude.

75
9. Atitude é sinônimo de comportamento? Por que?
10. Quais s os objetos a respeito dos quais n temos atitudes? Exemplificar a
resposta.
11. Onde e como, principalmente, adquirimos nossas atitudes mais básicas?
12. As atitudes podem ser mudadas? Explicar a resposta.
13. Por que é tão importante a compreensão do tópico “atitudes” para se
entender o Comportamento?
14. O que se entende, em Psicologia, por “grupo”, “grupo primário e
secundário”, “Posição”, “status” e “papel”? Ilustrar a resposta com exemplos.
15. Explicar o que é e como se desenvolve o papel sexual.
16. Justificar a importância atribuída ao conceito de “papel” em Psicologia.
17. O que é “liderança”? O que significa liderança “emergencial” e “situacional”?
18. Qual a diferença entre os conceitos de líder formal e informal?
19. Caracterizar liderança autocrática, “laissez-faire” e democrática e descrever
as conseqüências de cada estilo de liderança sobre as relações interpessoais e
produtividade.

4.3. Comportamento Social

Conceituou-se Psicologia, no capítulo anterior, como “ciência do


comportamento”. A primeira vista, este conceito parece excluir do âmbito de
estudo da Psicologia os processos internos como sentimentos, pensamentos e
outros. Para se evitar esta interpretação, enfatizou-se que “comportamento” é
entendido como toda e qualquer actividade do organismo, observável ou não.

O comportamento é um termo que caracteriza toda e qualquer reacção do


indivíduo, animal, órgão ou instituição perante o meio em que está inserido.

A Psicologia é a área que se dedica em estudar os fenômenos


do comportamento humano ou seja Psicologia estuda o que motiva
o comportamento humano o que o sustenta, o que o finaliza e seus processos

76
mentais, que passam pela sensação, emoção, percepção, aprendizagem,
inteligência. O Behaviorismo é a parte específica que tem
o comportamento como objecto de estudo.

A Psicologia se interessa por todos os tipos de comportamento, mas pretende


estudá-los na medida em que são descritíveis, isto é, alguns serão estudados
directamente e outros de um modo indirecto, tal como se manifestam através
do comportamento observável. Tal procedimento se justifica pela necessidade
de se atender ao critério científico da objectividade. Para isso, além de serem
observáveis, os comportamentos devem ser, preferencialmente, passíveis de
observação pública, isto é, observáveis por mais de uma pessoa.

Os dados obtidos apenas pelos depoimentos introspectivos são bastante


questionáveis. As pessoas, quando relatam suas experiências internas, podem,
deliberadamente ou não, ocultar alguns dados ou, então, não serem capazes de
relatar adequadamente os acontecimentos.

A Psicologia, consciente de todas estas dificuldades, busca, na medida do


possível, usar procedimentos objectivos na colecta de dados, o que permitirá
conclusão válidas sobre o comportamento. No entanto, nem sempre isto será
possível e vezes será necessário combinar a descrição subjectiva da
experiência com a observação directa da conduta.

Os comportamentos sociais, assim como o próprio nome afirma, são


maneiras adequadas de se portar em sociedade. As normas que regem esses
comportamentos são necessárias para orientar as acções dos indivíduos em
suas relações no trabalho, em casa, em festas, em reuniões, entre outros.

Uma regra que hoje todos aplicam sem questionamentos é a do uso do tabaco.
Em 1989 entrou em vigor a lei que proibia o fumo em locais fechados. Na
77
época, essa foi uma lei que impactou o comportamento de muitas pessoas.
Hoje, esse princípio já está implícito no comportamento: qualquer pessoa sabe
que fumar em ambientes fechados é inadequado e desrespeitoso com o
próximo.

Outros exemplos são as normas que regem o comportamento dos alunos em


escolas elas têm a finalidade de evitar o caos em um ambiente de educação e
ensino. No trânsito também há regras que evitam acidentes e cuidam de vidas.
Esses são exemplos práticos de como o bom comportamento demonstra
gentileza e consideração com a vida e o espaço do próximo.

4.3.1. Interesse com os Comportamentos Sociais

Ao procurar uma linha histórica para os comportamentos sociais, percebo que


vários debates construtivos são elaborados, pois o comportamento vária de
cultura para cultura, de país para país, de região para região e até de uma
cidade para outra. Quem imagina que o comportamento social é uma etiqueta
actual, engana-se: o ser humano sempre foi preocupado com a imagem social e
pessoal que passa para o próximo.

Por isso, quando penso em uma análise histórica, reparo que a sociedade
sempre buscou criar normas para guiar e organizar as relações interpessoais, e
esses princípios estavam ligados à ética, à moral e ao valor interno de cada
pessoa. Antigamente, antes mesmo, da imprensa surgir na Europa, não se
usava o termo “comportamento social” ou “etiqueta”: falava-se em “cortesia” e
já existiam manuscritos latinos, franceses, ingleses e outros que descreviam as
regras para uma boa convivência.

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A ideia de cortesia provém da cultura antiga, em que as pessoas que
frequentavam ou se apresentavam à corte deveriam demonstrar uma atitude
delicada e respeitável, e para isso, cumpriam certas formalidades essenciais
para a comunicação.

4.3.2. Valorizar o Comportamento Social

Dentro de toda essa organização existem as normas de comportamento social,


que buscam alinhar uma boa relação entre nós e os companheiros de trabalho,
a família e os amigos. Esse tipo de comportamento interfere directamente na
qualidade de vida, e quando bem aplicado e estudado, gera efeitos positivos
para os ambientes que frequentamos.

Quando eu respeito os limites e o espaço do outro, por exemplo, traduzo a


minha gentileza, simpatia e elegância para o grupo que estou dedicando meu
tempo. Assim, posso promover um contacto saudável sem deixar de respeitar a
mim mesma e a minha opinião. Dessa forma, quando estou em uma reunião de
trabalho, posso prezar pela boa convivência expondo o meu ponto de vista de
forma elegante, investindo em diálogos saudáveis e sabendo ouvir com
paciência e atenção plena.

4.3.3. Importância dos Comportamentos Sociais para o Sucesso na


Carreira

Mesmo que o local de trabalho seja um lugar sério, é possível modificá-lo para
um ambiente agradável. Muitos colaboradores constrõem relações duradouras
e frutíferas, mas é preciso reconhecer que, para obtermos um convívio

79
saudável, são necessárias regras que objectivam manter um clima
organizacional positivo produtivo.

Os comportamentos sociais são importantes nesse momento. É aqui que você


pode encontrar o seu limiar de comportamento e investir nas relações
saudáveis que, por consequência e de forma natural, trarão aspectos
construtivos para a sua carreira.

Saiba que, se o seu trabalho técnico é capaz de abrir portas para o trabalho e a
empregabilidade, será a sua habilidade comportamental que ditará a
velocidade do seu crescimento e do sucesso da sua carreira. Há algumas
pontuações individuais que gosto sempre de destacar, pois preservam a sua
saúde emocional e mental em meio a tantas exigências do mundo empresarial.
Assim, gosto de lembrar que não é possível construir boas relações caso você
não tenha uma boa relação consigo mesmo. Siga as dicas listadas a seguir:

 Respeite-se

Nunca deixe de observar o que faz com que você se sinta bem e o que é
prejudicial. Há ambientes onde nos sentimos bem e valorizados, e há outros
que devemos ser mais objectivos, não que esse segundo lugar seja negativo, ele
apenas não está de acordo com o nosso perfil. Saiba observar esses aspectos.

 Cuide da privacidade

Já parou para pensar que às vezes convivemos mais com os companheiros de


trabalho do que com os nossos familiares? É por isso que devemos valorizar o
nosso espaço e o espaço do outro. Tudo vai depender do grau de intimidade
que você tem com o outro colega. Medie esses momentos, busque

80
compreender o quão importante é a sua privacidade e exponha apenas o
necessário.

 Trabalhe sua auto-estima

Durante a nossa vida passamos por situações que testam a nossa segurança. Por
mais que tenhamos sido aprovados, o que fica na memória é o medo de errar.
Além disso, sempre vemos a grama do vizinho mais verde. Sendo assim,
comece um trabalho de valorização da sua própria história. Se você chegou
onde chegou é porque é merecedor do cargo que ocupa, da menção que recebe,
do conhecimento e das oportunidades atribuídas a si.

 Trabalhe seu corpo e sua mente

É importante nos sentirmos bem com nosso corpo e com a nossa mente. Há
estudos que indicam o quanto trabalhar essa conexão é importante para a nossa
saúde. Então, não falte às actividades físicas. Mesmo que a exaustão chegue,
não dê ouvidos a ela, só siga seu caminho e vá.

As práticas de mindfulness também são essenciais para trabalharmos a nossa


organização mental e os nossos sentimentos, de forma a aprendermos a separar
o que é nosso e o que não nos pertence.

Muitas pessoas funcionam como esponja: absorvem todos os problemas do


trabalho, todas as inquietações do passado e do futuro. A atenção plena e a
percepção de si mesmo vão trabalhar esses aspectos de uma maneira
impressionante para a sua saúde mental. É alinhando o respeito consigo mesmo
ao respeito com o próximo que você poderá trabalhar de maneira positiva
relações cada vez mais saudáveis.

81
4.4. Principais Comportamentos Sociais e as Regras de Etiqueta

Para você não cometer nenhuma gafe, eis os 7 principais comportamentos


sociais e regras de etiqueta:

1. Cumprimento e apresentações

Quando chegar a um local, cumprimente, na medida do possível, todos os


demais presentes. Se houver um número muito grande de convidados, não é
conveniente falar com todos, um a um. A primeira pessoa que você deve se
preocupar em cumprimentar é o anfitrião, no caso de confraternizações, ou
aquele que ocupa um cargo mais elevado, quando no âmbito profissional.

Busque ser amável e sorrir, mas sem exageros! Utilize o bom senso. É isso que
determina se você vai cumprimentar a pessoa com beijo no rosto ou aperto de
mão. O equilíbrio é sempre uma boa medida. Se for dar um aperto de mão, por
exemplo, não o faça com a mão flácida, mas também não tão firme a ponto de
machucar a outra pessoa. Já na hora da apresentação existem diferentes
situações, que vão exigir diferentes comportamentos.

Se você for se apresentar a uma pessoa muito importante ou que esteja sendo
homenageada, não é de bom-tom perguntar o nome dela. Acene com a cabeça
em sinal de respeito e diga algo como: “Prazer, sr. Fulano, me chamo ….
Como vai?”.

Se você está em um ambiente mais informal e com muitas pessoas, é de bom-


tom o anfitrião apresentar cada pessoa que chega aos demais, dizendo o nome
de ambos.

2. Recepção dos convidados em casa


82
Quando for organizar algum evento, o planeamento deve ser a sua maior
preocupação. A bebida está gelada? A comida é suficiente? Foi feita uma boa
limpeza nos ambientes destinados à festa? Deixar tudo organizado para a
ocasião permite que você dê mais atenção aos seus convidados e reaja de
maneira adequada diante de possíveis imprevistos.

O segredo para ser um bom anfitrião é fazer com que os seus convidados
fiquem confortáveis. Para tanto, receba-os na porta e apresente-os aos demais
convidados. Deixe sempre as comidas e bebidas acessíveis, caso não haja
garçons.

Outro importante cuidado é em relação ao ambiente. Se for preciso, mude a


disposição dos móveis para facilitar a circulação das pessoas e invista na
decoração. Uma boa música é sempre importante, mas não deixe o volume
muito elevado a ponto das pessoas não conseguirem conversar. Os convidados
se sentem mais confortáveis quando percebem que o anfitrião se dedicou a
preparar cada detalhe para que eles se sentissem bem acolhidos.

3. Etiqueta à mesa

Quantos negócios não foram fechados durante as refeições? Mais do que um


sinal de educação, saber se portar à mesa demonstra profissionalismo e
segurança. Apesar de existirem diferentes estilos de etiqueta à mesa, há regras
gerais que vão ajudar você nessas horas. Os talheres são utilizados sempre de
fora para dentro, e depois de usados, eles não devem mais retornar à mesa. Eles
servem apenas como um utensílio para facilitar a hora da alimentação, então
tome cuidado para não ficar gesticulando com os talheres em mãos na hora que
estiver conversando. Um pedaço de comida pode, acidentalmente, cair em
outro membro da mesa.

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Use cada talher para sua função específica. Existem facas destinadas ao corte
de carne vermelha e aves e outra específica para peixe, por exemplo. Macarrão
não deve ser cortado: utilize o garfo para enrolá-lo e, assim, levá-lo à boca. Ao
terminar a sua refeição, alinhe a faca e o garfo do lado esquerdo do prato isso
indicará ao garçom que você está satisfeito.

4. Pontualidade

Quantas vezes já ouvimos as pessoas dizendo: “Se o evento está marcado para
20h, eu chegarei às 21h”. Como já comentado aqui sobre os comportamentos
de um bom anfitrião, não ser pontual é um sinal de desrespeito a todo o
trabalho e carinho investido por ele.

Essa regra, muitas vezes esquecida pelos brasileiros, deve ser seguida em
outras situações também, como reuniões de trabalho, aulas e eventos maiores.
Para tudo existe uma hora para começar e acabar além disso, as pessoas têm
outros compromissos. A falta de pontualidade transmite uma imagem de
irresponsabilidade. Pode significar o insucesso em um negócio ou o não
crescimento profissional na sua empresa.

5. Dress code

No momento do trabalho não há um único dress code  (código de vestimenta),


isso varia de acordo com a empresa em que você trabalha. Você deve ter em
mente o segmento de actuação do seu trabalho, a imagem que ele quer passar
para o público. A sua vestimenta deve reflectir a filosofia da empresa. Bom
senso é sempre o seu melhor aliado nessas horas. Em uma empresa jovem, de
produção de games, por exemplo, não é adequado você usar uma roupa para
trabalho como terno ou um tailleur.

84
Do mesmo modo que, em um ambiente executivo, não é recomendado você
utilizar camisas com cores extravagantes, gravatas temáticas ou decotes e
transparências, no caso das mulheres.

6. Netiqueta (comportamento na web)

Boa parte das nossas interacções sociais hoje ocorre no ambiente virtual.
Apesar da internet ser um local livre, onde há o predomínio de certa
informalidade, isso não quer dizer que a netiqueta não seja fundamental para
um bom convívio online.

As regras de convivência gerais são válidas também na internet, então


cumprimente, seja educado etc. Se estiver usando a internet para fins
profissionais, atente-se à escrita. Ela deve respeitar as regras da gramática, ser
concisa e simples, para que não gere dúvidas e não canse o leitor.

Essa dica vale tanto para responder um e-mail quanto na hora de escrever um
texto para um blog ou um post em uma rede social. Por falar nisso, use as redes
sociais com discrição. Você tem que saber que o domínio online é público, e
nem todos os aspectos da sua vida privada devem ser expostos principalmente
quando pessoas do seu trabalho têm acesso a esses conteúdos.

Procure compartilhar conteúdos relevantes e de forma comedida para não


importunar seus contactos. Aquela enxurrada de conteúdos mesmo que úteis
acaba incomodando pela quantidade excessiva. Por último, mas não menos
importante: seja original. Se for reproduzir algo que você encontrou em outro
local, dê o crédito devido à fonte.

7. Postura

85
O comportamento pode gerar consequências muito agradáveis para o seu
desempenho no trabalho. Quando sabemos manter uma postura adequada
usando os gestos, movimentos e a linguagem corporal a nosso favor,
podemos influenciar, ganhar visibilidade e inspirar confiança para as pessoas
ao nosso redor.

Ao ficar de pé, cuide da sua coluna. Mantenha uma postura erecta, com
ombros para trás e a cabeça sutilmente erguida. Quando conversar com as
pessoas, mantenha o contacto visual. Caso não se sinta muito confortável
fazendo isso, olhe para o ponto da testa entre as duas sobrancelhas. Ao falar,
não gesticule tanto, pois movimentos em excesso podem transmitir a ideia de
nervosismo. Busque equilíbrio entre corpo e fala. Quando gesticulamos bem, o
nosso discurso pode ficar mais claro para que vê e escuta.

8. Comportamento em sociedade

Muitas pessoas se enganam ao pensar que determinados comportamentos


sociais e regras de etiqueta são uma forma de moldá-las a um modo rígido de
se portar. Essas regras são flexíveis e adaptáveis aos mais diversos tipos de
situação.

Além disso, elas funcionam como um orientador para que você consiga
transmitir uma boa imagem pessoal e profissional, tão importante nos dias de
hoje. Estamos vivendo em uma época em que cada um quer impor o seu modo
se comportar, de viver em sociedade. Estamos esquecendo de princípios
básicos, que representam a base dos bons comportamentos sociais, como
respeito, cordialidade, saber ouvir etc. detalhes simples que permitem um
melhor convívio em sociedade.

86
Saber como fazer dos comportamentos sociais algo positivo para a sua imagem
é de extrema importância, especialmente para quem deseja alçar voos maiores
na vida. (www.somostodosum.com.br). Portanto, Uma grande parte do
comportamento social é comunicação, que é a base da sobrevivência
e reprodução.

Devido à consolidação do termo comportamento, na análise do


comportamento, para tratar de comportamentos individuais, adoptou-se o
conceito de ‘comportamento social’ apenas para tratar do comportamento do
indivíduo em contacto com contingências sociais. Para o funcionamento de
grupos de pessoas diante das contingências externas, usa-se outros termos
como metacontingência, macrocontingência etc.

V
Cognição social e Afecto
5.1. Evolução da cognição social

De uma forma integrada, Barone, Maddux e Snyder (1997) sugerem que a


cognição social actual evoluiu a partir de quatro grandes tradições em
psicologia: a tradição gestaltista, a teoria social da aprendizagem, o
construtivismo e a teoria do processamento de informação.

A tradição gestaltista, fortemente enraizada na Alemanha, foi uma das linhas


de desenvolvimento que conduziram à actual teoria social cognitiva,
nomeadamente devido aos esforços desenvolvidos por investigadores como
Lewin (1951), Asch (1946) e Heider (1958) em aplicar a teoria perceptiva
da gestalt ao estudo de processos cognitivos num contexto social. Combinando
o interesse da gestalt na percepção, com um interesse psicanalítico na

87
motivação, Lewin (1951) efectua pesquisas ao nível do desenvolvimento da
personalidade, conflito, nível de aspiração e interesse intrínseco, formulando a
teoria de campo que coloca a construção do self e do seu ambiente como
fenómeno psicológico central.

Contudo, esta ideia de que o mundo social percebido pelo indivíduo não é independente das
suas características, conhecimentos, atitudes e motivações não foi imediatamente
incorporada nos primeiros esforços da abordagem sócio-cognitiva. No entanto, a
consideração destas variáveis constitui, actualmente, um dos pressupostos fundamentais da
teoria e investigação em cognição social.

Teoria social de aprendizagem constitui, igualmente, uma linha de


desenvolvimento onde se podem encontrar algumas raízes da abordagem
sócio-cognitiva. Esta proposta teórica combina a aprendizagem animal com formulações
clínicas acerca da personalidade e psicoterapia, especialmente da psicanálise. Ao sugerir
que a aprendizagem tem lugar durante o desenvolvimento da personalidade, e que é
mediada por processos cognitivos e afectivos (e.g., Dollard, Doob, Miller, Mower, &

Sears, 1939), esta proposta contraria teorias mais reducionistas da


aprendizagem (e.g., Skinner, 1953; Watson, 1913). Adicionalmente,
integrando a teoria da aprendizagem e da gestalt na teoria da aprendizagem
social, Rotter (1966) propõe que o comportamento é mediado por expectativas
e valores, e pelo reforço das atribuições acerca do locus de controlo, sugerindo
uma formulação cognitivo-comportamental mais completa do que a
formulação puramente comportamentalista na previsão do comportamento.

Estas duas teorias ofereceram alternativas à fenomenologia e ao


comportamentalismo, contribuindo para o enriquecimento de uma ciência
psicológica durante muito tempo dominada por prescrições objectivas,
elementaristas, mecanicistas e reducionistas. A cognição social actual combina

88
as tradições cognitivas mais recentes com estas duas perspectivas mais
tradicionais: a sua vertente da psicologia social, influenciada
pela gestalt social, e a sua área da personalidade pela aprendizagem social, 
Barone et al.,( 1997).

A tradição construtivista assumiu, igualmente, um papel importante no


desenvolvimento de algumas formulações da cognição social. Esta tradição
assenta nos trabalhos de Piaget (1952) sobre o desenvolvimento cognitivo, mostrando que
as crianças não são percepientes passivos mas que constroem activamente o seu
conhecimento com base na experiência sensorial e motora quotidiana. A epistemologia
genética Piagetiana combina, assim, o construtivismo e a teoria do desenvolvimento,
colocando os esquemas num lugar central ao conhecimento e ao desenvolvimento. Os
esquemas seriam, então, construções simbólicas que representam eventos que orientam o
funcionamento psicológico, e que mudam em resposta à experiência. Paralelamente, a

teoria cognitiva da personalidade de Kelly (1955) reconstruiu a personalidade


como cognição social, sugerindo a existência de um sistema de constructos
pessoais que diferem de pessoa para pessoa, e ao longo do tempo no indivíduo,
que são utilizados pelas pessoas para interpretar a sua experiência.

Finalmente, investigações na área da linguagem e da aprendizagem (e.g.,


Luria, 1976; Vygotsky, 1962, 1978) apontam para uma noção de inteligência
como uma construção social resultante de ferramentas culturais, e o
conhecimento como a negociação de uma realidade virtual.

As ideias da teoria construtivista, e a sua ênfase na concepção de esquemas como


representações simbólicas da experiência passada que orientam o funcionamento cognitivo,
surgem assim como um dos pilares da cognição social actual. Todavia, quer a investigação
da  gestalt social em formação de impressões, quer as teorias construtivistas que sugerem
que os indivíduos vão além da informação dada, foram inicialmente negligenciadas por
esta abordagem.

89
A teoria do processamento de informação, associada à revolução cognitiva
na psicologia, recorre à utilização do computador como metáfora teórica e
ferramenta metodológica para simular processos cognitivos. A inteligência
artificial é simulada em programas de computador que reproduzem as
diferentes fases de processamento da informação, desde o estímulo inicial que
é codificado, ao modo como é representado e posteriormente recuperado.
Note-se ainda que estas simulações exploram o modo como a informação é
processada não só através da aplicação das regras formais da lógica e da
matemática, mas também pela aplicação de estraté.gias heurísticas (Newell &
Simon, 1961). É neste contexto que Simon (1997) desenvolve a teoria da
racionalidade limitada, chamando a atenção para as limitações dos
processadores humanos de informação e dos constrangimentos que a
quantidade e diversidade da informação e as capacidades de computação
limitadas impõem à tomada de decisão. Note-se que esta proposta veio
estabelecer determinados limites às concepções sócio-cognitivas sobre os
processadores humanos de informação, supostamente dotados de racionalidade
e de infinitas capacidades de processamento.

Independentemente da relevância e da influência que as tradições da gestalt social,


da  aprendizagem social  e do construtivismo possam ter tido, enquanto herança teórica na
cognição social, foi sem dúvida a teoria de processamento de informação que, de forma
mais evidente, marcou quer em termos de modelos teóricos, quer metodológicos a
emergência da cognição social. Foi também esta última abordagem teórica que durante
algum tempo impulsionou o estudo da cognição e dos processos cognitivos como
representações e operações simbólicas isoladas no cérebro humano.

90
A Cognição Social constituiu-se com base na vasta tradição teórica e de
investigação da Psicologia Social, e integra ideias e metodologias da
Psicologia Cognitiva na exploração dos fundamentos cognitivos dos
fenómenos sociais. Inicialmente, apoiada no paradigma do processamento da
informação, a abordagem sócio-cognitiva procurou explorar as estruturas e os
processos cognitivos subjacentes à percepção e comportamento social. Mais
recentemente, a disciplina tem vindo a integrar novos contributos, que
enfatizam os constrangimentos emocionais, motivacionais, corporais e os
efeitos situacionais na cognição e comportamento humanos, e a beneficiar dos
desenvolvimentos teóricos e tecnológicos das neurociências sócio-cognitivas.

Por isso a cognição social surgiu como uma abordagem conceptual genérica
com o objectivo de compreender e explicar como é que as pessoas se percebem
a si próprias e aos outros, e como é que essas percepções permitem explicar,
prever e orientar o comportamento social.

Referências

Asch, S. E. (1946). Forming impressions of personality. Journal of Abnormal and Social


Psychology, 41, 258-290.        

Barone, D. F., Maddux, J. F., & Snyder, C. R. (1997). Social cognitive psychology: History
and current domains.  New York: Plenum Publishing Corporation.         

Dollard, J., Doob, L., Miller, N., Mower, O., & Sears, R. (1939). Frustration and
aggression. New Haven; CT: Yale University Press.         

Heider, F. (1958). The psychology of interpersonal relations. New York: Wiley & Sons.

Kelly, G. A. (1955). The psychology of personal constructs (Vols. 1 & 2). New York:


Norton.       

Lewin, K. (1951). Field theory in social science: Selected theoretical papers. New York:
Harper &         

91
Luria, A. R. (1976). Cognitive development: Its cultural and social foundations. Cambridge,
MA: Harvard University Press.        

Newell, A., & Simon, H. A. (1961). Computer simulation in human thinking. Science, 134,
2011-2017.        

Newell, A., & Simon, H. A. (1972). Human problem solving. Englewood Cliffs, NJ:
Prentice-Hall.         

Piaget, J. (1952). The origins of intelligence in children. New York: International University


Press.         

Rotter, J. B. (1966). Generalized expectancies for internal versus external control of


reinforcement. Psychological Monographs, 80, 1-28.        

Skinner, B. F. (1953). Science and human behavior. New York: Macmillan.        

Vygotsky, L. S. (1978) Mind in society: The development of higher


psychological processes. Cambridge, MA: Harvard University Press.        

Watson, J. B. (1913). Psychology as the behaviorist views it. Psychological Review, 20,


158-177.         

5.2. Cognição e Afecto: Duas Dimensões Indissociáveis


A partir dessa discussão, pode-se concluir que a separação entre afecto e
cognição é uma ficção e ela acontece no plano teórico muito mais por
conveniência analítica do que por se tratar da abordagem de faculdades
distintas e independentes da mente. Esta convicção é apoiada pelas teorizações
de vários autores (Fiske & Taylor, 1991; Flavell & cols., 1999; Forgas, 2001).

Nos últimos 20 anos, entretanto, esse panorama vem se alterando, podendo se


observar no campo da cognição social a emergência de estudos voltados para a
compreensão do afecto e sua interacção com a cognição. Algumas
contribuições descrevem como as cognições influenciam as emoções, outras
focalizam como o afecto influencia as cognições e algumas ainda partem da

92
premissa de que afecto e cognição são separados e independentes, conforme
citam Fiske e Taylor (1991).

Forgas (2001) afirmou que “o afecto não é uma parte incidental, mas sim é
parte inseparável de como nós vemos e representamos o mundo em volta de
nós” (p. 11). Concordamos com esse autor e também com Cicchetti e Pogge-
Hesse (1981) quando alertaram que para o estudo das emoções é importante
que os teóricos do desenvolvimento assumam algumas posições, com relação a
determinar o papel da criança na construção da realidade, no sentido de
considerá-la como um construtor activo ou receptor passivo do ambiente e
considerar como a criança representa a informação que capta nele.

Também é necessário especificar o papel que é atribuído ao ambiente no


processo de desenvolvimento. E, sobretudo, é importante levar em conta que o
relacionamento entre cognição e emoção é crucial para a compreensão do
desenvolvimento em geral. Além disso, a forma como este relacionamento é
visto influencia directamente como o desenvolvimento emocional é
conceitualizado. A emoção e a cognição deveriam ser estudadas
concorrentemente. Por exemplo, a distinção entre self e outro é um pré-
requisito para a capacidade do bebê de investir emocionalmente no mundo
externo e por outro lado ele aprende muito sobre ele mesmo e o mundo na
medida em que interpreta os seus estados emocionais. Como cada sistema
(afecto e cognição) provoca ou não mudanças no outro é uma questão
subjacente.

93
Por essas razões, Cicchetti e Pogge-Hesse (1981) destacam que os
pesquisadores deveriam se movimentar de um nível microscópico de análise
para um nível mais integrativo, que possibilitasse a formulação de uma teoria
mais compreensiva da relação entre o desenvolvimento emocional e o
cognitivo. As teorias que têm sido formuladas são complementares em vários
aspectos, os quais podem ser frutíferos como guias para novas investigações.

Westen (1991) discutiu as possibilidades de integração entre os métodos e


conceitos da cognição social e da teoria psicanalítica das relações objectais,
uma vez que focalizam os processos afectivos e cognitivos mediadores do
funcionamento interpessoal. Embora cada um desses enquadres teóricos aborde
o estudo dos processos cognitivos e sócio - afectivos a partir de diferentes
filosofias de ciência, diferentes bases de dados e diferentes metáforas da
mente, essa autora acredita que ambos poderiam se beneficiar com as
contribuições um do outro. A pesquisa no campo da cognição social poderia se
beneficiar da compreensão psicanalítica acerca dos processos afectivos,
defensivos, e das representações inconscientes. As abordagens das relações
objectais poderiam se beneficiar das metodologias de estudo da cognição
social, e dos seus achados a respeito do desenvolvimento.

Acredita-se que a articulação de conceitos da teoria da cognição social e das


teorias que abordam os processos de formação dos vínculos afectivos pode
criar um campo conceitual novo, o qual demanda uma teorização aprofundada.
A complexidade dessa interface e articulação está longe de ser esgotada e
convida os teóricos a debruçarem-se sobre ela.

94
As demandas actuais no campo da construção do conhecimento científico
apontam cada vez mais para a necessidade de se pensar a partir de uma
perspectiva transdisciplinar. Reflexão e Crítica (2003).

Pensamos também que a articulação de conceitos das teorias aqui discutidas


poderá ter uma implicação importante no âmbito da clínica psicológica, na
medida em que nos permite vislumbrar novas possibilidades e propostas de
intervenção, alicerçadas no conhecimento que daí poderia emergir.

Referencias
Bee, H. (1996). A criança em desenvolvimento (7ª ed.). Porto Alegre: Artes Médicas.
Cicchetti, D. & Pogge-Hesse, P. (1981). The relation between emotion and cognition in
infant development. Em M. Lamb & L. Sherrod (Orgs.), Infant social cognition: Empirical
and theoretical considerations (pp. 205-272). Hillsdale, New Jersey: Lawerence Erlbaum.
Fiske, S. T. & Taylor, S. E. (1991). Social cognition (2ª ed). Nova York: McGraw- Hill.
Flavell, J. H., Miller, P. H. & Miller, S. A. (1999). Desenvolvimento cognitivo (3ª ed.).
Forgas, J. P. (2001). Feeling and thinking: The role of affect in social cognition. United
Kingdom: Cambridge University Press.
Lamb, M. E. & Sherrod, L. R. (1981). Infant social cognition: Empirical and
theoretical considerations. Hillsdale, New Jersey: Lawerence Erlbaum.

95
VI

6. Interacção e Influência Social


Dois importantes pensadores abordaram o tema da interacção, relação e
processos sociais, bem como apresentaram diversos aspectos do
desenvolvimento do ser humano. São eles: Lev Semenovitch Vygotsky (1896-
1934), pensador bielorrusso, e Jean William Fritz Piaget (1896-1980),
pensador suíço.

Para Vigostsky (1896-1934), a interacção social possui um papel muito


importante no desenvolvimento dos seres humanos. Ele afirma que

“O comportamento do homem é formado por peculiaridades e condições biológicas e


sociais do seu crescimento”.

Para Piaget, o ser humano (ser social), é influenciado pelas relações sociais que
desenvolve durante sua vida. É a partir dessas relações que são desenvolvidos
os comportamentos sociais. Conforme observa Piaget, o processo de
socialização é desenvolvido em vários estágios: criança, adolescente, adultos.

A Interacção é um tipo de acção que ocorre entre duas ou mais entidades


quando a acção de uma delas provoca uma reacção da outra ou das restantes.

96
Em psicologia interacção social se refere à comportamento sociais ou
episódios interactivos em um comportamento social  (onde há pelo menos duas
pessoas). São comportamentos de curto prazo, por exemplo: conversar.

Segundo Vygotsky, o desenvolvimento cognitivo do aluno se dá por meio


da interacção social, ou seja, de sua interacção com outros indivíduos e com o
meio. A aprendizagem é uma experiência social, a qual é mediada
pela interacção entre a linguagem e a acção.

O aspecto mais importante da interacção social é que ela provoca uma


modificação de comportamento importante nos indivíduos envolvidos, como
resultado do contacto e da comunicação que se estabelece entre eles. A forma
mais típica de interacção social é aquela em que há influência recíproca entre
os participantes.

Na Sociologia, a interacção social é um conceito que determina as relações


sociais desenvolvidas pelos indivíduos e grupos sociais. Trata-se de uma
condição indispensável para o desenvolvimento e constituição das sociedades.
Por meio dos processos interactivos, o ser humano se transforma num sujeito
social. É a partir dela que os seres humanos desenvolvem a comunicação,
estabelecendo o contacto social e criando redes de relações, as quais resultam
em determinados comportamentos sociais.

A interacção social tem sido um dos temas mais discutidos da actualidade nas
áreas da sociologia, antropologia e filosofia. Isso porque, na sociedade
contemporânea, dominada pelos meios de comunicação e as novas tecnologias,
a interacção social adquire uma nova aparência, ou seja, é também
desenvolvida pela internet, de maneira virtual. O fenômeno e expansão da
internet tem proporcionado novas formas de dinâmica social e interacções, ao

97
mesmo tempo que pode gerar problemas de ordem social (exclusão e
isolamento social), ou mesmo outros tipos de preconceitos via rede
(cyberbullying).

6.1. Classificação e Exemplos de Interacção Social


De acordo com o tipo de relação estabelecida, a interacção social pode ser:

 Interacção Social Recíproca: quando há interacção entre as partes que irão


interagir, que pode ser, pessoas ou grupos. Nesse caso, ambos se influenciam e
determinam os comportamentos sociais, tal qual numa conversa com os
amigos.
 Interacção Social Não-Recíproca: nesse tipo de interacção, a principal
característica é a unilateralidade, ou seja, quando não ocorre a interacção
social de ambas as partes, por exemplo, quando estamos vendo televisão
(somente nós que somos influenciados por ela e não o contrário).

6.2. Influência social

Alguém é influenciado socialmente quando o seu comportamento se altera na presença real


ou imaginária de outrem.

A influência social foi definida por Secord Backman (1964) como ocorrendo
quando “as acções de uma pessoa são condição para as acções de outra”. Ou
seja, podemos dizer que o comportamento de alguém foi influenciado
socialmente quando ele se modifica na presença de outrém. É preciso notar
que, para que esta definição se adeqúe ao campo da psicologia social onde se

98
originou, é necessário acrescentar que esta “presença de outrém” não é
necessariamente real. Esse outrém pode ser apenas imaginado, pressuposto ou
antecipado sem que os fenômenos provenientes dessa influência cessem de
ocorrer.

6.2.1. Influência social X comportamento

Tanto a psicologia (especialmente a psicologia social), a sociologia e a


antropologia a influência social é uma das bases que define nossos
comportamentos dialecticamente, ou seja, modelando nossos comportamentos
e sendo modelada por nossas respostas em retorno.

Sua importância para definir nosso comportamento está estimada entre 30 e


90% dependendo da definição utilizada. Definindo, na maioria das vezes
subconscientemente, por exemplo, que roupa vamos utilizar, quais
comportamentos são adequados em determinado ambiente, o que devemos e
não devemos fazer durante uma fase de desenvolvimento e directamente e
indirectamente influenciando as leis de uma nação. Os principais mecanismos
dessa modelagem, segundo a psicologia comportamental ou behaviorismo,
estão no reforço e punição. Sendo mais eficazes de acordo com a assertividade
e a retórica do agente influenciador.

Assim por exemplo um amigo pode mediar comportamentos em outro amigo


com quem tenha empatia sorrindo e elogiando quando ele executar um

99
comportamento que lhe seja considerado como agradável e desejável e ficando
com raiva e criticando comportamentos que ele considere desagradável e
indesejável.

VII

7. Teorias da Personalidade e os Processos de Socialização

Conceito de Personalidade

Todos nós já ouvimos falar, provavelmente muitas vezes, em “personalidade”


Ou é um pai que, orgulhoso, diz que seu filho tem uma personalidade “forte”,
ou alguém que, ressentido, diz que seu colega “não tem personalidade”.

O que estas pessoas estariam querendo significar com esta palavra? Pode ser
que o pai esteja dizendo que seu filho exerce uma influência marcante sobre os
amiguinhos dele e a outra pessoa, quem sabe, está afirmando que o colega não
sustenta suas opiniões em todas as situações.

O que parece comum, neste exemplo, e também sempre que a palavra


personalidade é usada na linguagem informal, é a referência a um atributo ou
característica da pessoa, que causa alguma impressão nos outros. Isto também
é válido quando se ouve falar em “personalidade tímida” ou “agressiva”, etc.

Este significado implícito é derivado, provavelmente, do sentido etimológico


da palavra.

100
Personalidade se origina da palavra latina “persona”, nome dado à máscara que
os atores do teatro antigo usavam para representar seus papéis (“per-sona”
significa “soar através”).

O sentido original do termo está, pois, bastante relacionado ao sentido popular


porque se refere à aparência externa, à impressão que cada um causa no outro.

E os psicólogos, o que entendem por personalidade?

O psicólogo Gordon Allport, da Universidade de Harvard, listou, em 1937,


cinqüenta definições diferentes da palavra e, depois de estudá-las, classificou-
as em categorias gerais. Este estudo e outros que posteriormente foram feitos,
permitiram identificar a existência de idéias fundamentais comuns a respeito
da personalidade, isto é, pode-se perceber princípios subjacentes às várias
tentativas de conceituar personalidade. Estes princípios são:

a) Princípio da globalidade: Os vários traços e características, os vários


sistemas, cognitivo, afetivo e de comportamento são integrados e fundidos.
Elementos inatos, adquiridos, orgânicos e sociais estão incluídos no conceito
de personalidade. Personalidade é tudo o que somos.

b) Princípio social: É impossível pensar em personalidade sem dimensões


sociais. As características de personalidade se desenvolvem e se manifestam
em situações sociais. A personalidade consiste nos hábitos e características
adquiridos em resultado das interações sociais, que promovem o ajustamento
do indivíduo ao meio social.

c) Princípio da dinamicidade: Personalidade é um conceito


essencialmente dinâmico. Os vários elementos interagem, combinando-se e
produzindo efeitos novos e originais. Entende-se, pois, que a personalidade é o
que organiza, integra e harmoniza todas as formas de comportamento e

101
características do indivíduo, de tal maneira que há um grau de coerência no
comportamento. Apesar da coerência e estabilidade, a personalidade é sempre
capaz de receber novas influências, adaptar-se a novas circunstâncias.

d) Princípio da individualidade: A personalidade é sempre uma realidade


individual, que marca e distingue um ser do outro. Há sempre uma dimensão
peculiar e única da personalidade. Cada um de nós é único no mundo. A
personalidade, então, é o conjunto de todos os aspectos próprios do indivíduo
pelos quais ele se distingue dos outros.

A partir de todas estas concepções comumente aceitas, pode-se, resumindo,


dizer que, em Psicologia, entende-se por personalidade àquele conjunto total
de características próprias do indivíduo que integradas, estabelecem a forma
pela qual ele reage costumeiramente ao meio ou é o conjunto de características
psicológicas que determinam os padrões de pensar, sentir e agir, ou seja, a
individualidade pessoal e social de alguém.

É possível perceber que “personalidade” é, talvez, o conceito mais amplo em


Psicologia, já que abrange de uma forma ou de outra, todos os tópicos
estudados por esta ciência, como o físico, as influências sociais, as emoções, a
aprendizagem, as motivações, etc.

Todo o conhecimento psicológico, enfim, contribui, para a compreensão da


personalidade: os fatores que a constituem, como ela se desenvolve, as causas
das diferenças individuais, etc.

7.1. A Formação da Personalidade

A configuração única da personalidade de um indivíduo desenvolve-se a partir


de fatores genéticos e ambientais.

102
Os fatores genéticos exercem sua influência através da estrutura orgânica e do
processo de maturação. Os fatores ambientais incluem tanto o meio físico
como social e começam a influenciar a formação da personalidade já na vida
intrauterina.

No mesmo instante em que o óvulo é fecundado, isto é, no momento da


concepção, o ser humano recebe a totalidade de sua herança genética. Nada
poderá ser acrescentado. Mas a partir do momento da fecundação, este projeto
de indivíduo se encontra necessariamente sob a influência de um ambiente, o
útero materno, habitat primário dos mamíferos. Portanto, do ponto de vista da
genética, nem tudo aquilo com que nascemos (congênito) é hereditariedade.

7.2. Processos de Socialização

Socialização é a assimilação de hábitos característicos do seu grupo social,


todo o processo através do qual um indivíduo se torna membro funcional de
uma comunidade, assimilando a cultura que lhe é própria. É um processo
contínuo que nunca se dá por terminado, realizando-se a través da
comunicação, sendo inicialmente pela "imitação" para se tornar mais sociável.
O processo de socialização inicia-se, contudo, após o nascimento, e através,
primeiramente, da família ou outros agentes próximos, da escola, dos meios de
comunicação de massas e dos grupos de referência que são compostos
para elas nossas bandas favoritas, actores, atletas, super-heróis, etc.

A Socialização é o processo através do qual o indivíduo se integra no grupo


em que nasceu adquirindo os seus hábitos e valores característicos. É através
da socialização que o indivíduo pode desenvolver a sua personalidade e ser
admitido na sociedade. A socialização é, portanto, um processo fundamental

103
não apenas para a integração do indivíduo na sua sociedade, mas também, para
a continuidade dos sistemas sociais.
É o processo de integração do indivíduo numa sociedade, apropriando
comportamentos e atitudes, modelando -os por valores, crenças, normas dessa
mesma cultura em que o indivíduo se insere.

7.2.1. Tipos de Socialização

Socialização Primária: onde a criança aprende e interioriza a linguagem, as


regras básicas da sociedade, a moral e os modelos comportamentais do grupo a
que se pertence. A socialização primária tem um valor primordial para o
indivíduo e deixa marcas muito profundas em toda a sua vida, já que é aí que
se constrói o primeiro mundo do indivíduo.

Socialização Secundária: todo e qualquer processo subsequente que introduz


um indivíduo já socializado em novos sectores do mundo objectivo da
sua sociedade (na escola, nos grupos de amigos, no trabalho, nas
actividades dos países para os quais visita ou emigra etc. ), existindo
uma aprendizagem das expectativas que a sociedade ou o grupo
depositam no indivíduo relativamente ao seu desempenho, assim como
dos novos papéis que ele assumirá nos vários grupos a que poderá
pertencer e nas várias situações em que pode ser colocado.

7.3. Papel Social


Nas ciências sociais, papel social define o conjunto de normas, direitos,
deveres e explicativas que condicionam o comportamento dos indivíduos junto
a um grupo ou dentro de uma instituição. Os papéis sociais, que podem ser

104
atribuídos ou conquistados, surgem da interacção social, sendo sempre
resultado de um processo de socialização.
Ao ocuparem posições sociais, as pessoas vêem o seu comportamento
determinado não tanto pelas suas características individuais, mas em maior
medida, pelas expectativas face à posição que ocupam. Assim, o papel social
vem caracterizar modelos de comportamento que, ultrapassando as diferenças
e as adaptações individuais, orientam a acção dos sujeitos que ocupam uma
determinada posição. Em cada grupo em que o indivíduo participa, ele
desempenha um papel de acordo com o estatuto que lhe é atribuído. A
sociologia serve-se do papel social para demonstrar que a actividade dos
sujeitos é socialmente influenciada e segue padrões de regularidade.

Genericamente, podem identificar-se dois tipos de abordagem à teoria dos


papéis sociais. Numa vertente, a utilização do conceito feita por G.H. Mead
reporta-o ao 1. resultado de um processo de interacção que é criativo. A
assunção de papéis é a forma característica de interacção e tem como resultado
a própria criação de papéis. Numa outra vertente, devedora do 2.
funcionalismo, os papéis sociais são prescritos e correspondem a expectativas
estáticas de comportamento. Vendo a cultura da sociedade como um sistema
unificado, o funcionalismo encara os papéis sociais como prescrições culturais
expressas em normas sociais.
Actualmente reconhece-se a liberdade individual na criação de papéis, embora
esta varie conforme a posição ocupada (por exemplo, papéis desempenhados
no âmbito de uma organização militar terão regras mais formalizadas que o
papel de amigo ou de pai). Podem existir conflitos de papéis sociais nos casos
em que a mesma pessoa assume papéis que supõem exigências incompatíveis
(por exemplo, em certos casos o papel de mãe e esposa pode ser difícil de
105
conciliar com o papel exigido pela profissão). A expressão "conflito de papéis"
é por vezes também utilizada para referir os casos em que o sujeito encara o
seu papel de maneira diferente da definida pelos papéis sociais com os quais se
encontra em interacção.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Socializa%C3%A7%C3%A3o
http://pt.wikipedia.org/wiki/Papel_social

VIII

Mudanças de Atitudes, Propagandas e Comunicação; os Grupos e as


Relações Grupais.
7.1. Mudanças de atitude

Segundo a Psicologia Social as atitudes são avaliações que fazemos das


pessoas, de objectos e idéias e consistem em uma reacção positiva ou negativa
a alguma coisa. Elas são formadas por um componente afectivo (reacções
emocionais ao objecto), um componente cognitivo (nossos pensamentos e
opiniões sobre o objecto) e um componente comportamental (nossas acções ou
comportamento observável em relação ao objecto).

Quando as atitudes mudam, geralmente acontece por influências sociais.


Nossas atitudes em relação a tudo podem ser influenciadas pelo que outras
pessoas fazem ou dizem.  Assim, um método para mudar as atitudes consiste
em apresentar informações persuasivas às pessoas para que ajam da maneira

106
como queremos. Ou ainda apresentar o que é conhecido como comunicação
geradora de medo: uma mensagem persuasiva que tente, através do medo,
mudar as atitudes. Um outro modo de mudar as atitudes das pessoas é através
da mensagem que enfatiza ou os ganhos ou as perdas. Através da mensagem
que enfatiza os ganhos, é mostrado para a pessoa o que ela tem a ganhar ao
adoptar o comportamento que está sendo proposto e a mensagem que enfatiza
as perdas destaca o que ela tem a perder ao evitar o comportamento mostrado.

8.1. Propagandas e Comunicação

O termo "propaganda" tem a sua origem


no gerúndio do verbo latim propagare, equivalente ao português propagar,
significando o ato de difundir algo, originalmente referindo-se à prática
agrícola de plantio usada para propagar plantas como a vinha. O uso da palavra
"propaganda" no sentido actual é uma cunhagem inglesa do século XVIII,
nascida da abreviação de Congregatio de Propaganda Fide de cardeais
estabelecida em 1633 pelo Papa Urbano VIII para supervisionar a propagação
da fé cristã nas missões estrangeiras. Portanto, propaganda é um modo
específico sistemático de persuadir visando influenciar com fins económicos,
ideológicos, políticos as emoções, atitudes, opiniões ou acções do público-
alvo. Seu uso primário advém de contexto político, referindo-se geralmente aos
esforços de persuasão patrocinados por governos e partidos políticos.

Uma manipulação semelhante de informações é bem conhecida: a propaganda


comercial, que normalmente não é chamada de propaganda mas
sim publicidade, embora seja erroneamente utilizada como sinônimo. 

107
Ao contrário da busca de imparcialidade na comunicação, a propaganda
apresenta informações com o objectivo principal de influenciar uma audiência.
Para tal, frequentemente apresenta os fatos selectivamente (possibilitando
a mentira por omissão) para encorajar determinadas conclusões, ou usa
mensagens exageradas para produzir uma resposta emocional e não racional à
informação apresentada. O resultado desejado é uma mudança de atitude em
relação ao assunto no público-alvo para promover uma agenda política. A
propaganda pode ser usada como uma forma de luta política.

Apesar do termo "propaganda" ter adquirido uma conotação negativa, por


associação com os exemplos da sua utilização manipuladora, a propaganda em
seu sentido original é neutra, e pode se referir a usos considerados geralmente
benignos ou inócuos, como recomendações de saúde pública, campanhas a
encorajar os cidadãos a participar de um censo ou eleição, ou mensagens a
estimular as pessoas a denunciar crimes à polícia, entre outros.

A propaganda, seja ela comercial ou ideológica, está sempre ligada aos


objectivos económicos e aos interesses da classe dominante. Essa ligação, no
entanto, é ocultada por uma inversão: a propaganda sempre mostra que quem
sai ganhando com o consumo de tal ou qual produto ou ideia não é o dono da
empresa, nem os representantes do sistema, mas, sim, o consumidor. Assim, a
propaganda é mais um veículo da ideologia dominante.

8.2. O Conceito de Comunicação na Propaganda

Antes da publicidade vem a comunicação. Você não pode ser um bom


publicitário sem entender como as pessoas se comunicam nem um bom
marqueteiro ou vendedor sem descobrir o que seus clientes querem ou gostam.

108
É a premissa sobre o qual essas actividades estão estabelecidas. Esse é o
motivo pelo qual um futuro publicitário estuda na faculdade matérias como:
teorias da comunicação, filosofia, sociologia, cultura, pesquisa e não apenas
planeamento, mídia, design, criação.

Entender os processos da linguagem é vital para se comunicar eficazmente


com diferentes tipos de público. Muitas pessoas acham que todo publicitário é
comunicativo e criativo. Arrisco dizer que publicitário é uma das profissões
menos compreendidas; nenhum pai deseja que seu filho curse a faculdade de
comunicação para trabalhar em agência de propaganda. (E olha que a maioria
nunca entrou em uma.) Há muita coisa por trás de planeamentos de mídia,
comerciais engraçados e da criatividade per se. Ou pelo menos deveria haver.

Antes de pensar em propaganda, é preciso entender que ela existe desde muito
antes dos Classificados serem inventados (onde a publicidade surgiu
oficialmente); que antes do branding, senhores feudais marcavam suas
mercadorias para não perdê-las no meio da concorrência; e que social
networking já era algo vital para o sucesso desde a época de Benjamin
Franklin. De novidade mesmo, apenas os processos e as opções, mas em teoria,
tudo já existia muito antes do seu avô chutar a primeira bola. Isso é algo que
merece ainda mais atenção na era das redes sociais, que têm sido vistas como a
nova galinha dos ovos de ouro da publicidade. Por estar em alta, todos falam
nela, querem usá-la e descobrir a fórmula mágica da viralização. O problema é
que enquanto novas métricas e metodologias surgem,  profissionais
despreparados e campanhas sem sentido pipocam no mercado.

109
Entender de comunicação envolve saber que canal utilizar de acordo com a
necessidade, o público e o objectivo. Significa saber que rede social é rede
social e mídia tradicional é mídia tradicional, todas possuem pontos fortes e
fracos e nenhuma faz milagre. É realmente preciso um bom planeamento,
criatividade, conhecimento e execução impecável. Saber comunicar não é
tagarelar, mas usar as palavras certas, no tom certo, com elementos visuais que
reforcem ou complementem a mensagem, através do canal certo, com um
objectivo em mente e sempre deixando espaço para o outro. Reveja seu
conceito de comunicação e não confunda falar com comunicar.

A publicidade é uma actividade profissional dedicada à difusão pública de


empresas, produtos ou serviços. Pode ser qualificada como uma
"propaganda comercial". É a divulgação de produtos, serviços, e ideias junto
ao público, tendo, em vista, induzi-lo a uma atitude dinâmica favorável. Nesse
sentido geral, a publicidade é parte da técnica de comunicação. Em sentido
estrito, tem um carácter comercial e, então, é parte de um todo que se
chama mercadologia, que abarca o conjunto de meios adoptados para levar o
produto ou serviço ao consumidor. É qualquer forma paga de apresentação não
pessoal e promoção de ideias, bens e serviços por um patrocinador identificado
a uma audiência alvo através dos mass media". A publicidade ajuda a
identificar o significado e o papel dos produtos, fornecendo informação sobre
marcas, companhias e organizações.

Para a maior parte dos gestores e profissionais de marketing, a publicidade


ajuda a vender um produto e constrói a reputação de uma marca ou empresa.
Segundo o Victor Palandi, autor do livro Copywriting Descomplicado, "a

110
comunicação persuasiva é parte essencial do sucesso nas vendas". Publicidade,
então, é um termo que pode englobar diversas áreas de conhecimento que
envolvam esta difusão comercial de produtos, em especial actividades como
o planeamento, criação, produção e veiculação de peças publicitárias. Pode-se
traçar a história da publicidade desde a antiguidade. Foi, porém, após
a Revolução Francesa  (1789), que a publicidade iniciou a trajectória que a
levaria até o seu estágio actual de importância e desenvolvimento.

Hoje, todas as actividades humanas se beneficiam com o uso da


publicidade: profissionais liberais, como médicos, engenheiros, divulgam, por
meio dela, os seus serviços; os artistas anunciam suas exposições, seus discos,
seus livros, CDs etc.; a própria ciência vem utilizando os recursos da
publicidade, promovendo suas descobertas e seus congressos por meio
de cartazes, revistas, jornais, filmes, Internet e outros.

Bibliografia

ARRUDA, Aranha Maria Lúcia. (1993). Introdução a Psicologia. ed. Moderna, SP. Pp. 24-
29.

BAKHTIN, M. M. (1981). Marxismo e filosofia da linguagem. In S. J. Souza, Infância e


linguagem; Bakhtin, Vigoksty, Benjamin. Campinas: Papirus.

BERGER, P. I., & Luckmann, T. (1976). A construção social da realidade. 4a. ed.
Petrópolis, Vozes.       

BLIKSTEIN, I. (1983). Semiose não-verbal e pensamento visual. In I. Blikstein (ed.),


Kaspar Hause ou a fabricação da realidade. SP, pp. 65-75: Cultrix-EDUSP.

111
BRAGHIROLLI, Elaine Maria at all.(2002). Psicologia Geral. ed. 22. Ed. Voz.
Petrópolis.

Païn, S., & Jarreau, G. (1996). Teoria e técnica da arteterapia: A compreensão do sujeito.
Porto Alegre: Artes Médicas.        

Souza, S. M. (1997). Infância e linguagem; Bakhtin, Vygoksty, Benjamin. 3. reimp.


Campinas: Papirus.      

  Saussure, F. (1970). Curso de lingüística geral. (2.ed.) São Paulo: Cultrix.        

Vigotsky, L. S. (1993). Pensamento e linguagem. São Paulo: Martins Fontes.        

A importância do comportamento e da comunicação


https://www.somostodosum.com.br/clube/artigos/autoconhecimento/a-importancia-do-
comportamento-e-da-comunicacao-21403.html

CAIADO, Elen Cristine Maia Campos. "Linguagem e pensamento"; Brasil Escola.


Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/fonoaudiologia/linguagem-pensamento.htm.
Acesso em 25 de Dezembro de 2020.

SaraAfonso3 › atitudes-psicologia

www.somostodosum.com.br

www. Stanislaw Azir

112

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