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R 4 a « K vi an Ph aif ig ol Al dis, oi Me si ma, 201 ore} anti opis lade Ain qua on com, mod expt fora suce stow conf empenho na reflexao em torno da histéria dos saberes sie em torno de suas implicagdes no plano das praticas sociais. Faz parte desse movimento, hoje bastante gene- 2 © alizado, o trabalho que desenvolvi zo longo da década i de 1980 e que veioa ser publicado em 1991 com 0 titulo : ee Matrizes do pensamento psicolégice (Vozes). Em segui- Os lugares da psicologia da, ae por um ae caminko de pesquisa; to- F mando ainda como mote a problemética da psicologia > gontempordnea, passei a enfocé-la a partir de um outio {> Angulo, jf anunciado no trabalho anterior: 0 do processo __ hist6rico de constituigéo do pr6prio espaco psicolégico, = espago em que puderam ser formuledos os projetos de Gostaria de iniciar agradecendo 0 conwvite pare parti- F psicologia como area sui generis de saberes e atividades; cipar da abertura deste evento e a oporturiidade de falar E tratava-se, também, de ver como este espaco, na segun- & da metade do século XIX, se estruturou na forma de “lu- gates” que vieram a ser ocupados pelas diversas teorias, nal; mais particularmente, trata-se de consideré-lacomo | sistemas e modelos de atuacéo hoje disponiveis. Essa tum espaco de dispersdo teorice e pratica que, ao mesmo | Fésquisa foi publicecla em 1992 com o titulo A invengao tempo que conservaalguma unidade, abriga em seu seio eo psicolégico - Quatro séculos de subjetivacao (1500- uma pluralidade aparentemen‘e ca6tica de ocupantes: | 1900) (Escuta/Educ), refiro-me, obviamenie, aos diferentes e muitas vezes an- | tag@nicos sistemas psicolégiccs. é de um tera a que venho me dedicando ha anos: trata-se da psicologia como érea de saber e de atuac&o profissio- Hoje gostaria de retornar brevemente alguns aspec- os deste trajeto, sublinhando algumas das conclusées a “Gllé me vi conduzido. Uma deles, talvez a mais importan- / '6, dz respeito ao meu progressivo desinteresse pelas temetodolégica pudesse vira sar alcansada sem esforgo ./Camades questbes epistemologicas (e metodologicay), os curto prazo, se é que um dia foi alcanade, tem con- Be-Pelo menos nos termos de uma yersdo forte da Sone Gluzido muitos psicblagos a uma procura de seus funda- F-mnolgi; designo assim uma episteroloca qu : i trentos- melhor dizendo, de seus pressupostos—eaum | siarespcnsabiidade pela normatizacto ea avchee io conhecimento funcionando como uma espécie dere e 1 fae julza do conhecimento, sien peas + pales oerdanlenents no 1 Encolo Moatodecléndes tr cin vido; paralelamente’ manas, Letras @ Artes, em Sho Jofo de'ey e reaaresontada ne abortus | sci, : ra da Semana dle Psicologia da Unesp, om Assis, em satembro de 1993. ‘ahdo.e se concentrando na Acorvivéncia forgada com esta multiplicidade soma- da a perda des esperancas de que a unidade doutrin que mereceria ser tomado minha atengao foi-se deslo- dimensao ética das praticas Parte! 32 a Da epistemologia a ética uh € dos discursos psicolégicos. Mas para me fazer enten- der seré necessério passar, ainda que brevemente, pot algumas consideracGes de ordem mais geral. O projeto epistemolégico da modemidadeea | gestacéo do espaco psi Nossa cultura ocidental esteve desde 0 século XVI até, pelo menos, meados do século XX obcecada com as “questées do conhecimento’: mais precisamente, coma questo da producao e com a da validacdo das nossas crencas. Ora, a centralidade das questées epistemolégi cas e, em seguida, metodolégicas na filosofia moderna nao ocorreu por acaso nem foi sem conseqiiéncias para © conjunto de nosso regime existencial. Conviria, inicialmente, considerar 0 contexto histér co-cultural em que se instaurou 0 projeto epistemol6gico da modernidade como instancia hegemédnica e decisiva para a legitimagao de todas as nossas crengas e fazeres Através da luxuriante producdo filoséfica, cientifica, teo légica, artistica, musical ¢ literéria dos séculos renascer referenciais estaveis sobre os quais se pudessem assen- lare desenvolver existéncias relativamente apaziquadas rotegidas de episddios cetastréficos que colocassem em risco suas continuidades e suas identidades. Nesse ‘ontexto, o recurso as experiéncias subjetivas individueli- gadas e de cardter privativo passou a ser tanto uma pos: pilidade como uma exigéncia na tarefa de reconstruir frencas e regras de acdo, valores e critérios de decisao sequros e confidveis, j4 que os dispositivos da tradicao }40 se mostravam mais aptos @ manutencéo e & legiti- ‘magao das existéncias individuais e coletivas. O exercicio ~ cada vez mais freqiiente e indispensavel deste capital au- ~ togerado e auto-administrado por cada um —0 capital da ~ consciéneia reflexiva ~ marcou e acentuou uma crescen- ie separacao entre cada sujeito e os seus objetos de ~xa- me e cogitacao e entre os indivicuos e suas coletivida- "des. Naverdade, os saberes da tradicao e os modos cole- tivistas e hierarquicos de vida social, o que € desi jo ta", ndc apenas haviam restringido o leque das pers ti- vas individualizantes, soldando estreitamente os indiv- duos a seus grupos, como haviam enraizado profunda- tistas €, em particular, do século XVI', podemos vislur-| frente cos homens a seus mundos, limitando 0 uso de pro- brar um movimento que foi o da abertura denovose int) cedimertos dstanciadores e objetivantes, isto é, de proce- nitos espacos e perspectivas para a existéncia do he Gimentos que separam nitidamente os sujeitos de seus mem. Mas, ao mesmo tempo, com a faléncia das “trad:) Gbjetos para que estes possam ser contemplados a uma .des histéricas” “| ceria distancia e com o maximo de objetividade. Em tiva reguladas pelas tradic6es e pela obediéncia a.au ‘contraposicao, a dominancia, tipicamente modema, das dades intangiveis, assistimos também a leraizese! tradigdes tedricas e epistemolégicas, em que emergem e | ayultam as questées da fundamentacaoe do método, re- 7 | flete uma nova posicao do homem diante das coisas e no 1.er propdsto “Um sant caldic na cade dapofona’, om Fi 6 as coletividades: agore, cacla vez mais entregue a Mean eee imvengdo do psicoldgico ~ Quatro sézulas de subjetivacéo| (1500-1900) (Escula/Educ, 1992). | si, cada individuo defronta-se com um mundo no qual ja Parte | i Da epistemologla a ética 34 | 35 ido se sente plenamente em casa e de onde ihe surgem f fendmenos dotados de uma certa estranheze e que exi- gem 0 maximo empenho em procedimentos de control sera esta a fungao das representacoes claras e distintas (= capazes ce se integrar em sistemas coesos e aptos a0 exercicio do calculo e as previsSes exatas. O ideal de lin- guagem e, ao mesmo tempo, o pressuposto de todo este | empreendimento representacional esta contido no proje- | to de matematizacao absoluta e ilimitada do universo®: | trata-se de matematiz4-lo no plano do conhecimento por- que ele é por principio de natureza matematica. Contudo, para converter o mundo num estoque de | objetos representave's, is de forma sistemat Cursos naturais", o sujeito da modernidade devia come- Gar por impor a si odisciplina de um méto- do, De fato, € proprio da medemidade que o homem se descubra nao apenas senhor de direito de todas as coi-, sas, mas que também se reconheca como fonte primor- * dial de seus préprios erros e desatinos. Daj a necessida- de de uma autodiscialina. Dessa disciplina esperava-se ; uma espécie de ascese: ao método cabetia a tarefa de} expurgar de cada sujeilo tudo aquilo que 0 tornasse sus: peito, nao confidvel, irregular e idiossincratico de formaa } corstituir a partir desta excluséio uma subjetividade puri-| ficada e elevada (ou reduzida) ao exercicio da razao e da experiéncia na sua invariéncia ¢ na sua universalidade. { Do método, em outras palavras, esperava-se a consti | ' 2. Um aprofundamento dossas quostios pode sar encontrado cnn dvor sos Irabalhos de M. Heidegger tais come "L'éporqe clos conception Wt monde”, Chemins qui ne riBnen rule part (Gallinard, 1980) 0 "Solero, Essals ol conlévances (Gallinaid, 1986), ontio outros, Parte! “| a0 de um sujeito epislémico pleno, sede, fundamento e fiador de todas as certezas. Ora, esta plenitude implica numa exigéncia radical de autonomia, autotransparéncia, unidade e reflexividade. O.sujeito epistémico plenamente constituido deveria ser 0 sujeto plenamente consciente de &i, coincidente consigo mesmo e senhor absoluto de sua nsciéncia e de sua yontade, um sujeito a fungao de fundamento autofundente des mas re presentacionais e de assento seguro para o mundo das re- /presentacdes. Tratava-se, enfim, de produzir metodicamen- té um sujeito capaz de trazer 0 mundo para diante de si (de repiesenté-lo), de forma a poder contemplé-lo com toda a isencéo e sem qualquer mediacdo interposta, li- fe, portanto, de qualquer risco de ilusdo. é i [Oxmétodo lseveria, pcrtanto, operar uma ciséo: de milado, uma subjetividade ascética e expurgada — ado @&nhecedor ideal -, de outro, tudo aquilo que compro- jetesse a confiabilidade do sujeito epistémico, tudo que otornasse varidvel, singular, desejante. padecente, afeta- ‘elem outras palavras, tudo que o encarnasse eo mun- danizasse trazendo para ele as marcas da finilucle; en- fim, era preciso neutralizar tudo que o pudesse colocar | \) facoridigao de fonte de suas prdprias ilusSes e encegue- { »)° cimentos. Nao € dificil perceber que estamos falando da” Separagao, a ser idealmente instituida pelo método, en- re amente, na sua suposta liberdade, e 0 corpo, na pri- sio dos seus determinismos naturais e condicionamen- {cs socials. Boa paite da historia do projeto epistemolé. gico modemo em suas sucessivas verses alesta o i a waclessa cisiio. Nav obstante.sesses fracassos do impeitam queo projeto tivesse uma certa elicacias Da epistemologia a ética . que umdos resultados desta eficdcia viessea ser, algum tempo depois, a constituigao-dorespacoipsicolégico”. No entanto, isto nao ocorreu imediatamente e é preciso que prossigamos mais um pouco nesse breve hist6rico. No momento importa, ao contrario, compreender por que o cardter subjetista de todo o projeto epistemolégico da modernidade — que pretendia ‘azer assentar no sueito e nos seus poderes tuco que poderia haver de certa e se- guto ~ nao era capaz de gerar uma psicologia ciertifica, De fato, embora tenha havido uma espécie de flerte do pensemento empirista desde o final do século XVIll e a0 longo do século XIX com as questées da psicologia tal como hoje a entendemos*, e embora tenha havide tam- | bém um flerte ainda mais comprometedor do pensemen- to romantico com diversos temas privilegiados pelas psi- cologias do século XX, nada de semelhante as psicolo- 3. Colocando-se em um nivel um pouco diferente, vale a pena ver, por exenpl, a interessante lellura comparativa que Francoise Carasso faz ‘da medicine experimental ce Cl Bernaid e Charcot e da terapéutca ps canalilica. Através dessa laitura a autora chega & hipdtese de que os ‘avangos de uma madicina Genii sobre o corpo ajudaram a constitulte clas contempordneas poderia se constituir enquanto a _ aupremacia do sujeito epistémico e a viabilidade da cisao “metodicamente efetuada na esfera da subjetividade nao " fossem radicalmente postas em questao: o'sujeito epis- i ceralmenté avesso a0 alhar psicol6gico”; este, por sua vez, como veremos adiante, vai-se caracterizar "pelo projeto de destiendar exatamente o'avesso do sujei-* “Srosupostamente pleno. O que se pode afirmar, contudo, que tenha ocorrido como que uma gestacao marginal do espaco psi na esteira da tradicdo epistemolégica. De um lado, apsicologia nao teria surgido como area inde- de saberes € cuidados se nao se tivesse institul- ‘Sieiimiar oTerrlério proprio em que se nstala uma irvesiigacao d> sue {6 colao solimenla (Carasso, F. Frecd médecin. insema/Acies Sut, 7982). Esta andlise histdrica pode ser refeitapor qualquer ur que se de- dique a andise das relagdes entre a ordam médica e a escuta psicanali- ite ts dun ncpil gel amare oma, epaatgcze ra ce ei conslalde pie poet enemas mas coro aque ere restora a 4. Ver a propdsito c excelerte capitulo Ill de La filosofia de Ja ilustraci6n, Soe or ca Eaonaice1804rhdvadupao taster 0 Cassie oe dm de. Gay The enighlnment The Norton ay. 1877 Pano prcocderenss owe pacts depen tet free ‘aaa te oa rede Googe Gusto! Jaze ao Romar me: NaS Sa ae em igue a alo ds nives((873), Hone aa coments savor tomar (1682, hone, De, ne Ce orromantie 186), Los sconces hanes Ga @ At 8) pbtendsa pls Eon Peel ee Parte | 8 d ical cis4o cor je esta se con vertia numa reelidade sui a atfair atencoes espe- eis? De outro, é facil perceber que 9 lugardoexcluido ‘oudoexpurgavel pelo Pre aaa 1uia comoo 0 do suieito pleno e omnava-n de intomas e mal-estar, veio aserprecisamente o territ6ri " deeleicao de todas as psicologias, Em outras palavras, a «Psicologia nascera de urn’pracesso histérico-sccial.que, “simultaneamente, instituia’eds6éS navexperiéncia subjeti- jae fracassava naimanutencao destas mesmas cisoes. Prisiifmcassevnnmem sm v te ee minke danuantee (2 oo. 6,m outro trabalho, “A mililéncfa como modo de vida. Um capitulo dos (maus) costumes coniemporaneos" (Cademos de Subjetvidade, 2 205-216 (1993), desenvolvi asle argumento enfecando uma das encar- ages mais encarrigadas do ideal de stjeito soberano, o de miltante, © sua espessa resisténcia ao clhar e @ escuta psicolégica, Em outro trabalho, “O siléncio @ as falas do compo", mostro como esta cisdo & tipicamente moderna @ no se confunde com algumas posites ‘aniigas 2 medievaisem que se opunham razdoe desejoou espiritoe car- ra A esia palestra proferida no simpdsia “Corpo e mente: uma fronteira mével" promovido pela Sociedade Brasileira de Psicanalise de Sao Pau |o.0 lator introssado poderd recor para.uma elaborarao mas deta |Inada deste tema, Da epistemologia a ética 39 {As vicissitudes do projeto epistemolégico e a invengao do psicdlogo O que assistimos a partir da segunda metade do sé- culo XIX, embora ja se anunciassem fenémenos congé- neres desde muito antes, é a perda da vigéncia do sujeito como fundamento autofundante das representacdes ver- dadetcas; ou seja, torna-se cada vez mais dificil conservar nas virtudes ascéticas de qualquer método que tenha como misao constituir um sujeito plenamente senhar de sua propria consciéncia e vontade, capaz de uma dis- ciplina estrita e de uma objetividade sem mécula. Ha uma série de raz6es histéricas (fatores econ6micos, poli- ticos 2 sociais) associadas ou determinantes dessa crise | no processo de subjetivacao, crise que poe em questo o que durante alguns séculos foi o ideal dominante do vir- a-sersujeito: 9 ideal de um sujeito auténomo e unifica- do, Inevitavelmente, uma perturbagao de tal monta nas ‘condigées e vias da subjetivacéo moderna implica, mais cedo ou mais tarde, na faléncia do projeto epistemol6gi- co ena abertura de um espago sui generis para es psico logias®. Este € 0 contexto psicossocial en que emerge pensadores como Nietzsche, Bergson e as pragmatistas dmericanos. O impacto dos pensamentos desses fil6so- fos, elguns mais contundentes que outros, somou-se as incidéncias dissoh edasciéncias sociais no campo epistemolégico ger ap geben * /upile B.Isto de forma alguma si aque 6 alesiado pela perman ‘no mundo contemporaneo, Beare sronomia mM. ando 0 ritca 0 desapare ia do res vestige da 201d Sta Wecogina veda go pages contd, cone Yeremos ce ain gos nao sobrewem sem oempao do alleges Siva © lamentos contraditérios, Que se pense, muito simples: espiiras com el esti or eas ert iborlse "ana dura” que mareara a ste f aon, nes alengae oe eeenomuee i necliberaéno no Basile no mundo pity “7 Parte | 1 AO mento desies valores, 0 ja liberal Le Seo lt Iventes das psicologias ditas cientificas vatiadas versées de naturalismas e historicismos. Os re- Vides epistemolégicos a esses ataques, que grossomodo implicavam na perda de autonomia do sujeito epistémi- co, na sua encarnagao natural e na sua mundanizacao his\6rico-social, enfim, no reconhecimento da sva fini- tude; néo se fizeram esperar: 0 positivismo légico, e, mais ainda, a fenomenologia husseriiana nasceram com a fi- nalidade de resgatar 0 projeto epistemolégico da moder- hiidade e recuperar para o conhecimento a sua forga de {6fviccao abalada por toda sorte de ceticismo naturalis- ee e historicista. Gera-se, desde entéo, um radical mal- entendido entre epistemologias e psicologias. Tudo se passa como se as epistemologias estivessem ainda ro plero exercicio de suas velhas funcées legislativas e judi- clérias, ocupando uma posicao altiva e sobranceira para de lé nos dizerem como e por que meios o conhecimento pode se constituir coro conhecimento valido; no entan- to, de fato, elas estao hisioricamente na defensiva: nem as Cénicias mais consolidacas precisam delas para sua legitimagao, que se dé cada vez mais no plano da eficacia tecnolégica, nem o modo de subjetivagao que sustente- va 08 projetos epistemolégicos conserva sua vigéncia © credibilidade diante dos saberes psico e sociclégicos. No entanto, continua-se freqiientemente assistindo a um pa- sicopedide de reconhecimento e legitimacao por parte Bas cha 7 nn : as Shama as, clncis fumanes, diigido, nem mais hn Paco e seu tempo invadi- IGSIpOF Hovos modos de pensar o sujeito, oriundos pre- amente das mesmas humanidades. Quando nao pro- 4 att ue fer 208) veretieios da epistemologia em al- silanes vio Gealertemer foraneas, 25 ites cién- ‘¢ cen tar faltando € umnia.com- Da epistemotogia & ética _cena_nao.s6 testemunha, mas apressayordeclinio do modo de subjetivacéo que poderia sustentar uma cultur sfegulada pelo ideal epistemolégico. No miolo deste mal-entendido, 9 que se passa em tomo da psicandlise é paradigmatic. Provavelmente, ne- nhum dos outros saberes contemporaneos expressou melhor e mais profundamente a faléncia do sujeito da modernidade com suas pretenses de autonomia, refle- xividade e autocentramento. Nenhum sistema tedrico foi Thais longe que a psicandlise no descrédito do autodom- 5 nio, no descentramento e na dissolucéo da unidade do sujeito, na impugnacao da suposta transparéncia de sua consciéncia, na contestacas da forga de sua vontade, etc, Nao obstante, desde Freud até os dias de hoje, uma preocupacéo da psicandlise tem sido a de ser reconhect da como ciéncia diante de algum tribunal epistemolégi- co. Submete-se de bom grado e sponte sua as mais im- placdveis condenagSes - venham elas dos positivistas 16- gicos, venham dos popperianos, venham, enfim, de qual- quer das intimeras verses remanescentes da velha epis- temologia — sem se dar conta de que o que Ihe cabe nao é particular desse martirizante lava-pés, mas contrapor @ sua compreensdc da subjetividade as visdes ingSnuas ¢ idealizadas de subjetividade que impregnam em maior ‘ou menor medida os pensamentos epistemolécicos. O que se discute em tomo do estatuto do conhecimento psicanalitico deveria nos servir de ligdo, dle formaa aban- donarmos definitivamente esta posicéo deferente de- fensiva que, historicamente, nao é a nossa F ; E b Parte! 42 Quando da elaboragao do livro Matrizes do pensa- mento psicologico eu ja percebia as dificuldades de lidar gm os corpos doutrinarios disponiveis na nossa érea a _pantir de qualquer uma das verses fortes da epistemolo- “igia, vale dizer, de qualquer verso que conservasse as pre- “tensdes legislativas e judicativas sobre nossos procedi- Mentos e nossas crencas. Jé, entéo, percebia que havia _ enlte as teorias psicoldgicas suficientes diferengas quanto aos pressupostos ontoldgicos e quanto aos pressupostos epistemolégicos — ou seja, quanto as compreensées pré- © vias do que é arrealidade a ser estudada e de como produ- zir sobre ela algum conhecimento — para que se tornasse wiével e sem sentido a tarefa de submeter 0 conjunto dessas doutrinas a critérios e normas cue se justificariam cabel legitimarnente, apenas para algunas delas. Nessa medida, néo faria sentido querer decidir uma questo do tipo: quem é mais cientifico, Rogers ou Jung? Ou umaou- ‘Ta questda tal como: quem faz verdadeiramente psicolo- gia, Piaget ou Skinner? Em outras palayras, é preciso re- conhecer que nem temos uma delimitagao univoca‘do campo, uma compreenséo partilhada do que é funda- mentalmente nosso objeto, nem, muito menos, hé entre nds consenso sobre como gerar e validar conhecimentos. De fato, no ha nem mesmo consenso quanto ac que € conhecer. Contudo, 0 que inviabilizava definitivamente 0 recurso a uma epistemologia forte tinha a ver com a pré- pria ratureza do campo: a elaboragao clos saberes psico- légicos impée desafios irrespondiveis a-urna.epistemok da que pretend se funclar numa completa separacéo en tre.um sujeito plenamente. sujeito (pura atividade) esum -cbjeto. puramente objetivo (pura. passividade); ou seja, 0 campo préprio cas psicologias é o que, do ponto de vista epistemolgico, teria o estatuto de clejeto do expurgo o| Da epistomologia a ética 43 1ado pelo método no proceso de constituigao de um su- jeito purificado®, A consiceragao dessas dimensées su- 5 postamente descartéveis ¢ exclufdas da subjetividade como | dignas de estudo, 0 reconhecimento de sua forca € eficd- cia inconternéveis e incontrolaveis s4o incompativeis com a manutencdo da crenga numa subjetividade supranun- dana, desencamada e infinita, cepaz de contemplar desin- teressadamente seus objetos. Foi preciso, entao, recolher-me a trincheira de uma + epistemologia fiaca, ou seja, de umaepistemologia cuja tarefa estaria limitada a elucidagao das condigdes de pos- sibilidade das diferentes teorias, procurando essas con- digdes nos seus pressupostos implicitos. Mediante essa cperacao hermenéutica foi possivel descobrir, ou intro- cuzir uma certa ordem submersa ao caos aparente~ esta crdem aparecia no desenho formado pelas matrizes do pensamento psicolégico a partir das quais so engen- dradas as teorias € sistemas hoje dispontvels; a partir dessa ordem era possivel reagrupar e confrontar teotias, © descobrindo, por exemple, entre elas afinidades insusp taveis e oposicdes imprevisiveis. Embora este trabalho me tena trazido um razoavel ganho em termos da compreensao da area, eleaindame | parece bastante insuficiente. A compreenséo conquista- da era, sem daivida, titil tanto para justificar uma atitude tolerante e ndo dogmitica diante das teorias como para | eraemionee 1 também ovado a pensar quo ace piedlogos cabom os datos 2 so arcade mals apart de consferazoes cule mas ar wan cos ugeres ue sae svignados avs pglogos om nos ‘ambientes fisicos ¢ em muitos espagos imaginarios. E inlerassente ver, ae i coo a oruemmaden a ordnoszoA’@ rt abt aoe roemas amin? ue #arcznnhnad a0 sed pam Ung eventual weceagen Parte | i aa evilar um ecletismo facile irresponsavel. Em outras pala- vias, tanto se vedava a pretensao de alguém se arvorar em Linico € legitimo representante da psicologia cientifica ~ descaitando tudo 0 mais como ou nao cientifico ou nao psicolégico ~ como se vedavam compinacées indigestas entre corpos doutrinarios cujos pressupostos estavam em franca oposicao uns aos outros. O que ficava em aberto, porém, era a questdo da escolha e da avaliacao. E bem verdade que a cuestao da escolha é, em parte, uma falsa questao. Os movimentos de aproximagao e afastamento que os psicdlogos e estudantes de psicolo- gia fealizam diante das teorias e sistemas psicolégicos esto muito distantes do que poderia ser chamado de “estolha". Na verdade, o que parecia estar ocorrendo ReStEs casos € atragao e repulso acionadas por afinida de8e simpatias que dizem mais de ressonancias afetivas dog de exercicio racional. E como se, muito antes de estfimos ém condigdes de escolher. ja tivéssemos sido escélhidos, como que fisgados por dimensdes muito pouco visiveis e objetivaveis das teorias nes suas relages subtenaneas com aspectos também obscuros de nds mesmos. No entanto, mesmo que a escolha seja sem- pre, em primeira instancia, algo ilusério néo estamos dis- pensados de refletir sobre ela, de entendé-la, na medida do posstvel; ndo estamos dispensados, enfim, de nos po- siclonar e nos justificar. Ora, se as epistemologias fortes ‘ido sesustentam, e apenas delas poderiamos esperar al- guin ciltério de decisdo, a epistemologia fraca exercide, Por exemplo, nos estudos das matrizes, nio é, por defini Go, copaz de nos concluzit a escothas nem a justificati- vis racionais a posteriori, Sera, entdo, que o abandono do projeto epistemolégico modemo e das verses nor- On epistemologia a ética ‘as da epistemologia nos deixaria imersos na indeci- 840 € na impossibilidade completa de justificar racional- ces tecricas e praticas? E nesta con- juntura que a dimensao ética dos das psicologias emerge como o plano no qual uma nova racionalidade poderé ser exercida. Uma cultura pés-epistemolégica e os lugares da a Attansigéo de uma cultura regida pelo tribunal epis- temolégico para uma cultura em que a ética assume uma posicSo central vern sendo marcada por empreen- entos filosdficos de variadas procedéncias; temos af desde os trabalhos de Wittgenstein, das décadas de 1930 £ 1940, 20s de Heidegger, para tomar apenas alguns ex- tremos (que em varios aspectos se tocam...). Um pensa- dor contemporaneo e em plena atividade como Richard Pony vern se notabilizando seja pela critica explicita ao epistemclogismo da modemidade, seja pela procura de . inspirade tanto nas obras dos velhos piagmnatistas, em especial Jolin Dewey, como na de au- tores como Heidegger, Wittgenstein, € outros (por exem- pin, Nelson Gooderman)!’ Entre os autores franceses, Foucault, Deleuze € Derrida participam de variados mo- dos desse mesmo processo. Na Alemanha, a escola de to. Fenp seperertemarte te conecstetes Com vids Wee @ 8S Se eT Gasman, uta relererca cbngatona 90 estado Te cal nclusve porque ola esl, petmaneniemeni, $8 nee tips a ssa prucipats aulones que iralan dessas questbos Ce ee etark de Privacy ain maror omar Pont See pitas, Wa, Consoquoncos of praymansm (iwc Us See ce tte) Object lavas and nah @ E54} este ea artemis pam Canine veer, Pies, Yu» 10518) Parte! rermas € K.-O. Appel tormam, em fe¢d0 semelhante, errbora ainda mais com alguns ideais da rnodemidade. O que, no conjunto, caracterza este mr movirnento - que n3o comporta nenhuma sintese f6- mesmo tempo fiel - é, fundamentalrrente tes mencionados, jstas do que outras: h: quanto ao estude da 20 estatuto da fala © c= sues contudo, que as linguzs: vindo a ser — € se encontram uns com 95 sutras, achando estes autores nenhum opos Ora, é aeficacia constintive da fala que as linguas ~ a todos os joyjos de menso ética: por exemplo, cada uma das cher ltinas psicoldgicas ~ independentemente do 11. Acsica dassa noydo @ uo suas amgias lepwcussies em dvescs Hcblomas classicos la hssoba @ da cultura, recomenda-s@ 4 ketura Se BA Rush, Language as ca 4 ‘Study on Hussotl Ha shots, 1989) Da epistemologia a etica 1 «a, cientifica, ainda nos planos dos costumes e modos de civilidade, entre outros; passar, em seguida, pelas vias dominantes de construcao de identidades e representa- (a0 de si (individuais, coletivas e nacionais) e pela cres- cente separacao entre as esferas publica e privada da existéncia, nos séculos XVII e XVIII; acompanhar 0 pro- gressivo amadurecimento da esfera privada, mas tam- bém a penetragao e o aprofundamento dos controles pui- blicos, até chegar no século XIX a formacao do que de- Contudo, o reconhecimento de que a cada doutri a hominei “o territério da ignorancia”. corresponde um ethos — uma morada e um destino para» neat / a aera f O que vai caracterizar este territério, no qual ainda © homem ~nao € suficiente para uma avaliagao éticadas : ‘ . og 7 i iojé estamos plantados, é a presenga conjunta de trés psicologias. E necessério para tal que as teorias e siste. —-.,rlrmrr—<‘( CD pode derivar em termos tecnolégicos, embora este aspec- to ndo'seja negligencidvel ~ nao é basicamente um modo de representar o psicolégico, mas um dispositive apto a propiciar, configurar, formar e constituir tanto os ho- mens como seus mundos ~ suas moradas, tanto os sujei tos como seus objetos, tantoas experiéncias sociais como as experiéncias privadas e “subjetivas” de cada individuo; sdo, em outras palavras, insialagces do humane. i E k BS eda cor beeena des 2g ce lugar que ocupam | brocessos de conslituigo das subjetividades: hd um pélo no espaco sociocultural contemporaneo. __Teptesentado pela{plataforma Liberal em que dominam as exigéncias ¢ os valores de uma identidade claramente estabelecida, auténoma, autocontida e aulotransparer- {. te®{ha um outro pélo representado pela[plataforma Ro- Na reconstituigao que empreendi dos modos de sub- _/manfica}em que dominam as exigncias e valores de es- O espaco psicolégico ¢ os lugares das psicologias jetivacdo modernos desde o final do século XV até o final -- | ‘pontaneidade impulsiva, autenticidade, singularidade e do século XIX fui acompanhando e procurando descre- | ~ insercao organica nos movimentos das forcas natural ver alguns dos momentos da gestagao dojespaco psico- @ lstéricas'3; e, ainda, um terceiro polo representado légico tal como hoje ele se mostra a nés: ele se mostra ' como 0 conjunto daqueles aspectos da “experi 12,Tratago aqui cbs vestigios da moderidade na sua rma dominant, | que de uma forma ou outra sendo, ac longo da historia, €.do Individualism ilustrado. | Sretutdos do campo ds representagcesdentiliias que! eRe nd a ess de una an vr ch eden, ao Sxl » das represe ® {latte om resoosa ave facascos do lberafonvone eon cee elaboramos sobre nds mesmos tanto paramos apresen- | ganaine poncssavs eagtines eerie ieee ae larmos aos outros como para nosso prdprio uso. Trata- | seule nadsio 0 modslode subjavaeao romance lee erro ‘va-se, assim, de realizar uma espécie de genealogia do ina tes seat amos do tio desvinculando-a, porém, dos Patelgio poate preceopoirdo seco Xie des gat netted suas ics experéncias deabertura do campo eitencia,_rntanineinpustniaieamecheoas sen naa ihateanece ei ros; tomb, dos mis ncaon de refonnas onde. ‘aietynlowes Ogham sous ppe pa nadoras incidindo nas esferas politica, teoldgica, artisti- Parte! Da epistemologia a 6 Pelas novas técnicas de poder, sejam as que se aplicam / ~ molecular e calculadamente sobre cada individuo na sua Pretensa independéncia (trata-se do poder racionalizan- te, administrativo e burocratico), sejam as que se apl- cam a docilzacao das massas (trata-se aqui do poder ce- Fismatico); para este conjunto de procedimentos adoieio nome de/Disciplinas'. O que ha ce tipicamente cor- temporaneo neste espago € a dominancia disfarcada ‘mas progressiva do eixo disciplinar sabre os deis outros Jue ora se aliam para dar combate as disci linas, for mando, por exemplo, os movimentos de contracultura, ofa se cliam a elas de forma quase sempre camuilaca™ Ora, 0 que importa ver que entre estes polos formam:se felagSes_ambiguas marcadas por aliancas e conflitos Em uma andlise mais detalhada seria possvel mostrar { como cada um desses eixos subsiste apenas nas suas re- lagdes embivalentes com os dois outros, Ocorre que este padrao autocontraditério estabelece como que um inter- dito cognitivo: desde qualquer um dos lugares possivels~ desse espaco haverd sempre partes do territ6rio que se conservaro na sombra. E neste contexto que o psicélogo se mostraré come © impensavel, como o que operano registro subte:rneo da exclusdo, tanto como o excluido quanto como 0 ex- cludente, vale dizer, como o que resiste ativamente uma incorporacao ao universo cas identidades e repre- 14.Termo que me veio da leitura do Foucault (Vigiar @ punw. Vores, 1977), embora seja aqui adoiedo com win escoyo um Lanta clarente 15. Ein relagao a Isto, convira aprolundar a andliso cos lendinens sa soaiedade admnistrada pecular as democracias ocitunlats — an que isciplinase liberalismo estan aiticulados - ¢ dos fandinenos lotaltarls = 6m que $6 assiste A aniculacdo das diacjplinas como wan WManKea Para tal, polem, Serta necessanio Ocupar um aspaca quia exteapola Gals uma nota de 18 le pagina Parte ou Faces t | | seniacdes. Os lugares que compdem este espaco e de onde emergem 0s processos contemporaneos de subje- {ivagao dever ser vistos, assim, como solucdes de cor _promisso entre os trés polos; desde cada um destes lu- gates gera-se tanto uma identidacle como um inconsci- ente; vale dizer, constitui-se um campo de representa- ‘Gées possiveis e um conjunto de aspectos que se man- tém fora do campo da representacao e do experimenta- vel - so aspectos silenciados (mas cujas vozes acabam se fazendo ouvir € sao interpretadas, por exemp!s, no discurso moral como “vicio” € no discurso médico como “sintoma")"®. 0 “psicoligico” constituisse, portanto, como um meféfenomenal que detém © sear condi: outros sentidos dag seddesec éncia. Por metafenomenal estou des! do, entéo, aqueles aspectos que, embora constitutivos da experiéncia, nao se mostram na prépria experiéncia e nem devem ser buscados a partir da experiéncia, mas para além dela. Cabe aos psicslogos, em primeiro lugar, ter os olhos para ver eno caso da clinica, os ouvidas para escular este interditado'’. Sera preciso, também, 16.Tanlo o view como o sinkyna psweyyinee ean possives como positvidades nas condgses estabelecntas pelo quads de aba as 2 coufitas quo envolvem bberaisms, romanasmy e ASHEN, MAS part culaimenta, eles representam a wrupy ao de um elemento roman, pulsivo 8 compulsive desartiuandd as akkrgas owiZa%as SoM 08 SHS etal 8 discipinas, Lina anaise sugestva da constiiag as historia a wnia pate Se, eocoatraWa NS EVID AS pasitvddada do Vid ¥ cd 3 nsfovmayaes a winwhave slo A Gade (LES), 1233) V7.tsta escola do inteattady @ aiXta mas eugeta guano, tal como ce No Beast @ et parted 9 alweAtMENNS a UMS Popul; Be Que fald apenas inglessaihh’ Na NNIEHAAIO e AUNL Conserv 3@ eNUaLZS (a nunia cutita pio snoveina, o quando tem wo? ante! pals ouvKIS INS Hucbvialzavhy 0 twhto que woven AURA stu @ que NAD Se ene ana quad lo domariias € seus Hoytlninds polas msbtay Sea mae Da epistemotogia a etica Sy) cael elaborar uma linguagem que nos remeta a este metale- |, nomenal: esta serda tarefa das metapsicologias", cujos 5 discursos metaf6ricos, inevitével e indispensavelmente © “estranhos"& experiéncia, farem 9 excluido imomperno /* campo dalesperimental Isto nos conduz, na anélise cas teorias e sistemas ps colégicos, a uma segunda solucdo de compromisso: f elém de ocupar um lugar preciso no espaco da ignorén- | cia, no espaco psicclégico, tal como qualquer identidade { que af se engendre, uma teoria psicolégica deve ser ca-_ paz de estabelecer uma ponte entre o fenonenal eo | “seu” metafenomenal, ou seja; partirda experiencia time- | diata, mas nao se deixar fascinar por ela, enveredando pela buscadas condigées de possibilidade e dos sent. dos ocultos da experiéneia imediata (Figueiredo). Em |. outras palavras, em cada teoria da psicologia devernos, © rocurar as aliangas e conflitos basicos | Romantismo e disciplinas; contudo, |. primeiramente, entre Liberalismo, devemos, além disso, investigar como ela vislumbra propse o Wansilo entre 9 campo des representagoes € das experiéncias em que alguém pode se reconhecer €0 campo do vedado, resistente e obscuro a esta mesma existéncia, Seré a solucdo especifica que uma dada teo- ¢ tia psicolégica consegue articular neste contexto que id : definir 0 seuethos, ou seja, a morada que oferece ao ho- mem neste final de século. 4 E hA umrisco de psicologizar: ee ee oe mi tnen evi preiso cue a sBcsta do pieiogo tenis femal tamer noo compas da aorta oda soogs. 18, Ealou usa aquio temo motapsicolegia’proverienada paca Ito tulana, para csina todos oscuro vo noe area 2 vaenoweneh fs como podem eorencontados om mulls oes oe cortntes da pscolaia coriomperenea, 42. riguerat, LC. Pacvogla Una toa (Ei, 1891). ras Nestes cass, porém, Parte | Hé, portanto, uma duplicidade na questao ética: por um lado ha que se considerar no compromisso entre os Valores liberais, romAnticos e disciplinares consagrados pela teoria psicolégica em exame a forma precisa das ali- angas e das exclusées e os pesos relativas de cada ingredi- ert, Este compromisso se refletié, em andlise, na sua * compreensio bésica do que seja o campe metafenome- iiaP*; as matrizes do pensamento psicolégico podem, portanto, ser repensadas a partir destas consideracées, j4 que elas so as fontes de onde provém e a partir de onde se configuram as teorias que enfocam o campo metafe- hnomenal nas suas relagdes com o campo da experiéncia. Com isso, paderemos avancar na identificacéo do ethos da teoria, mas ainda nao estaremos preparados para uma avaliacao ética, Para tal, hd também que aten- far para, de uma parte, como se efetua o reconhecimen- toeoacolhimento da experiéncia tal como se da ao su- Jello, ¢, de cutra, como se cumpre a larefa de descons- tqugao do reino das identidades © das representagdes desde 0 Angulo do metafenomenal tal como teorizado. Esta Seria a tarefa desilusionadora das psicolocias Podemos identificar facilmante duas formas contras- tantes de renunciar aesta tarefa, Por umm lade, uma teoria psicol6gica incapaz ce estabelecer contato com 0 cam- po fenomenal contribui claramente para a desqualifica- G0 das expe im, para a desautorizacdo dos sujeitos; isto implica, portanto, uma certa legitimacéio 20, Por exemplo, ¢ melafenomeral poo ser tomade como eondigses or {ganismicas abrinclo o campo das psicobiolog as), come concigées ambi- fnlals, com siquilicados fstantes, elv. ¢ em cade caso os ingredientes: oxgluidos do tenitério da ignerancia pectorde promover diferentes con- ‘copyses clo metefonomenal Da epistemologia a ética das formas de poder disciplinares que sobre eles inc. | dem. Esta parece ser, por exemplo, a tendéncia domi- | ante nos behaviorismos, cuja indole disciplinadora nao escapa a um observador atento, Em contraposigéo, uma | teoria que conceda & experiéncia um acolhimento pre- f tensamente integral, mas que seja incapaz de nos colo- | car em contato com o que, do ponto de vista dessa expe: | riéncia e desse lugar, permenece como 0 seu impensé- ; vel, claramente contribui para a conservacao das ilusdes * narcisicas, sejam as da autonomia liberal, sejam as de j espontaneidade e da singularidade romanticas — esta me | parece ser a tendéncia dominente das psicologias auto: proclamadas humanistas e “fenomenolégicas” Se os lugares das psicandlises* me parecem para} digmaticos do que podem ser as novas moradas do ho- | mem, é porque vejo em todas elas, para além de suas di- ferencas doutrinarias, um movimento permanente de irdn- sito entre 0 fenomenal 2 o metafenomenal, entre o que se mostra e o que resiste, entre a representacdo e seu: avessos (suas condi¢des e seus outros sentidos), entre as identidades e seus subterréneos, entre 0 discurso clinica | i 21..sta denominagéo, diga-se de passagem, quase nunca corresponds Pim eo procs do terme e rwuilo menos a adorao de uma perspectha # savers ou de elgum dos seus derivados. De qualquermaneia, 6 ds eae el igs uma pelcaloga esta e exclushvamente fenomenol6gica, ro b | cue tluscen, pudesse se ercarrega das taetas quo a comigure See Sohural contempordnes aesigna &psicologa, $2.0 espega nfo permile uma exposledo cabal dessa idéla; que que 2 rnc tos registrada a hipélose de que as derertes escolas pskanal- ree igorom, iundementalmento, pel fate de ocuparom lugares gis eae ai eioio da ignorance Nao abstato, elas ainda so dstinguon tee oo a convents do pensamento psiclagico palas 192008 que Sel40 dias logo a seguie Parte! eo discurso metapsicoldgico®. Nas psicandlises 0 psico- l6gico ler sempre e assumidamente esta fisionomia bi- Jronte em que se reconhecem os compromissos simulta- Tyeos com o plano da experiéncia e com os planos de suas condigdes € outros sentidos e, mais profundamen- suas condigdes € outros sentidos €, mals prolundamen- ie, o compromisso simulténeo com o “plano do signifi- Gado" e com o das “forcas”, sern qualquer possibilidade de que estas oposigoes € heterogeneidedes possam ser magicamente resolvidas ou ignoradas** ‘neurdlogos, Freud jé explicitava uma comp “Tima psicologia cientifica deva salistazer: esta,“ passa obter do ponto de vista da ciéncia natural, dave satistazer um re uisito fundamental. Com afeito, teré de nos explicar tudo 0 que ja conhe- Gemos, de maneira enigmatica, através de nossa ‘consciencia uma Yer que asea consciéncia nada sabe do que até agora estivemos pressu- pondo—quanto a quantidades e neurGnios -tambem tera de nos explicer {ea falta de conhecimento”. Embora Freud neste texto se refira a0 Sub- Teranods fisiologicos, a mesma exigéncia se aplice a toda a especie 2 ~gces60s da consciéncia: eles precisam nos ajudar a entender tanto o a! ance como os limites co experimentaval. A respeito dessa ideia de um transito permanente enira discursos clinicos e melapsicologices vale a pena assinalar que ndo se tratara jamais de um trinsit facile fuente, mas que, a0 contrario, inevitavelmente havera trombadas e descarriha- nentos decorrentes da propria natureza das coisas tal como modela es- tes dois niveis de fala. Ver €, Wallwork. Psychoanalvsis and athics (Vale University Press, 1991), em 2special “The hermeneutical probiem of rea ding Freud’, p. 19-48. 24. E esta haterogeneidade iredutivel entre significado @ forg2s (pu 's8es), entre o campo das rapresentacdas e um “ngo-representavel” 4 faz do inconscionta reustian® realmente uma tuptura com toa tract da flosotia clo sujeito, ca consciéncia 2 da representagao ~ de que a fe- omenologia husserliana parece ter sito o derradeiro momen'o. Ver & fespelto 0 alucidativo trabalho de M. Henry, Ricceur et Freud: ents psychanalyse et phinomenologia. In: J. Greische & Ri Reamey (0198 ) Paul Ricoour~ Las motamoxphosas de la raison hemensutque Estions Gu Carl, 1991, p. 127-143). HA lambem boas ineteagdes acerca dessa heterogeneidexla em wn texto de LA. Garcia Roza que aponta para um gar das pulsdos" fora io “espago las roprasentay Ses"; nasta media Da epistemotogia a ética ca co ex fo. sul Aqui reside, creio eu, uma plataforma basica para a elaboracaod ética na medida dos novos modos de _Subjetivacao: émelhor uma teoria que teorize‘a'cisdo- e ume que HOS Miantenha na ilusdo'de uma unida- soberania’e transparéncia de hor: uma teoria que teorizee propi c.o.vansttoaounvés de una que. se-esiabeleca rigi- amentecmmumdes lugares disponiveis,impelindo-se. Ssonlalo.com.todosos inpensaveis que deste lugar, SBesonsiituldos. 3 Quem é€ 0 psicologo clinico?* Creio que poderiamos tomar como ponto de partida um fenémeno intimeras vezes descrito: a dominancia da clinica tanto nas representacées sociais do psicdlogo como has preferéncias dos estudantes de psicologia. A esta do- minancia corresponde 0 elevado status do clinico em comparacas com as outras “identidades profissionais” do _psicdlogo. A questao é: sera que isso esté completamente vocado e é um modismo, resultado de preconceitos uu de simples ignoréncia, etc.? Contrariando as resposias ais usuais, cu tentarei aqui dizer que nao, que isto é compreensivel e de uma certa forma é justo, colégica. A primeira confusao ciz respeito ao lugar (0 clinico é _ Oqueatende em consultério particular); aesta confusao ‘lugar das pulsdes estaria para além do propio inconsciente, pelo me: ‘nos na feitura lacaniana do autor, em “A desnaturalizagao da psican: Se". Revista de Psicologia @ de Psicandilse, 3: 67-81. C.S, Katz, numa leitura nao lacaniana de Freud, em Freud @ as psicoses (Xenon, 1994), também acentua a heterogeneidade do aparelho psiquico ea irredutivil- ‘dade das pulsdes 20 campo dos signilicados e representagses, * Notas pea una palestia na mese-redenc to tedenca"O ue 6 6 pscdlogo a GoF-nn Semanadn Psicologia da PUC-SP, out soa, ° Peo ali Parte! ae & Da epistemologia a ética i 57

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