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  • Cap.9 Giddens

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    A familia no contexto histérico 243 Acvolucdo da vida familiar 244 Nosso “desamor" de ontem? ‘Mitos da familia tradicional 244 Familias no contexto global 248 2 Familias e relacionamentos intimos 247 Desenvolvimento e diversidade em padrdes familiares. 248 Desigualdade dentro da familia 250 Violéncia intima 252 : Divércio e separagio 256 Mudangas de postura quanto a vida familiar 262 Novas formas de relacionamento, familias teconstituidas e relagdes de parentesco 262 Alternativas as formas tradicionais casamento e vida familiar tradicionais 265 Perspectivas tedricas sobre familias e relacionamentos 269 Funcionalismo 269 Abordagens feministas 270 Teorizando sobre a transformaco do amor e da intimidade 271 : Conclusdo: o debate sobre os valores dafamilia 274 Pontos fundamentais 276 (© amor roméntico nem sempre esteve no centro dos relacio- ‘amentos intimos, ‘océ jd se apaixonou? E quase certo que sim. A maioria das pessoas, a partir da adolescéncia, sabe como & Ve. apaixonado, © amor e o romance proporcionam para muitas pessoas alguns dos sentimentos mais intensos que sentimos. Mas por que as pessoas se apaixonam? A resposta, a primeira vista, parece dbvia, O amor expressa um vinculo miituo e fisico que dois individuos senter um pelo outro. Atualmente, podemos ser céticos quanto & ideia de que o amor é “para sempre’, mas tendemos a pensar que a paixdo é uma experiéncia que advém de emogbes humanas universais. Parece natural querer que um casal apaixonado também deseje realizacéo pessoal sexual em seu relacionamento, talvez casando-se e/ou formando uma familia, Ainda assim, essa situagdo, que pode parecer “natural” para a maioria das pessoas atualmente, na verdade € bastante incomum. Comesar um relacionamento de longo prazo ou uma familia com alguém por quem nos apaixonamos nao é uma experiéncia que a maioria das pessoas tem. Na Europa, do inicio da idade moderna, era ‘comum arranjarem-se casamentos reais e aristocréticos por razes politicas, ou para elevar ou manter o status da familia, B, embora os “casamentos arranjados” hoje em dia sejam menos comuns do que jé foram, entre certas comunidades do sul asidtico, eles continuam sendo a norma. Em todos esses casos, é raro pensar que a paixéo tem qualquer conexo com o casamento ou com former uma familia, A ideia de basear fim relacionamento de longo prazo no amor roméntico nao era comum nas sociedades europeias até pouco tempo atrs, e jamais existiu em uitas outras culturas nas quais razdes mais materiais ou pragmiticas tém precedéncia. eee 292 ‘Anthony Giddens Foi somente nos tempos modernos que o amor ea sexta lidade comegaram a ser relacionados com as sociedades indus- trializadas do Ocidente. John Boswell, um historiador da Euro pa medieval, comenta a natureza inusitada das ideias modernas sobre o amor romantico. Na Europa, durante a Idade Média, praticamente ninguém se casava por amor; havia até um dita ddo medieval que dizia: “amar a pr6pria esposa com suas emo- Bes é adultério” Naqueles dias, e por séculos depois, homens mulheres casavam principelmente para manter propriedades nas mios da familia ou para ter filhos para trabalhar nas terras da familia. Depois de casados, eles poderiam se tornar com- panheiros intimos, mas isso acontecia depois do casamento, € 1no antes. As pessoas is vezes tinham casos extraconjugais, mas, que inspiravam poucas emocdes que associamos atualmente 20 amor. O amor roméntico era considerado, na melhor hipétese, uma fraquezae, na pior, uma forma de doenca ‘As posturas modernas atuais sio quase totalmente 0 ‘posto. Boswell fala com propriedade da “quase obsessio da cultura industrial moderna” pelo amor romantic Aqueles imersos nesse “mar de amor" tendem a conside- ‘ilo dbvio:.. Pougulssimas culturas pré-modernas ou nio industrializadas contemporineas concordariam com aafir- _magio ~ nao contestada no Ocidente — de que “o propésito do homem éamar uma mulher, eo propésito da mulher é amar am homem’. A maioria dos sezes humanos, na maior pparte dos tempos e lugares, consideraria essa uma medida bastante pobre do valor humano! (Boswell, 1995, p. xix) © conceito de amor romantico comecou a ser consi- derado no final do século XVIIL. O amor romantico ~ tio distinto da compulsdo quase universal do amor apaixonado ~ envolvia idealizar seu objeto. A nocio de amor romantico coincidia mais ou menos com a emergéncia da novela como forma lteréria, ea disseminagao de novelas romanticas teve ‘um papel vital na disseminagao da ideia (Radway, 1984). Para as mulheres em particular, o amor romantico envolvia contar historias sobre como o relacionamento poderia levar & satis- facio pessoal ‘O amor romantico, portanto, nao pode ser compreendido como uma parte natural da vida humana, mas foi determina do por influéncias sociaise hist6ricas amplas. Para a maioria das pessoas no mundo industrializado, atualmente, 0 casal casado ou néo ~esté no centro daquilo que a familia significa. casal passou a ocupar o centro da vida familiar na medida fem que o papel econdmico da familia diminuiu, e 0 amor, ou amor ¢ atracio sexual, tornou-se a base para a formagao de la- ‘$08 matrimoniais, Entretanto, também veremos mais adiante neste capitulo que 0 termo “familia” néo deve ser compreen- ido apenas como um casal heterossexual e seus filhos. ‘Atualmente, a maioria das pessoas nos paises desenvolvi- dos actedita que um bom relacionamento baseia-se na comu- nicagdo emocional ou na intimidade. A ideia de intimidade, como tantas outras nogdes conhecidas que discutimos neste livro,é recente, O casamento, no passado, jamais se baseava, em intimidade e comunicagao emocionale, embora isso fosse importante para um bom casamento, nio éra 0 seu alicerce. Para.o casal modlerno, é. A comunicagio ¢ 0 meio de estabele- cer um bom relacionamento em primeiro lugar, e€ principal razio para a sua continuagZo, Um bom relacionamento é um relacionamento entre iguais, no qual ambas as partes tém di- reitos e obrigag6es iguais. Nesse relacionamento, cada pessoa tem respeito, ¢ deseja o melhor para a outra. A conversa, ou 0 idlogo, éa base que faz 0 relacionamento funciona. Os rela-

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