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Acordão Do Supremo Tribunal Administrativo
Acordão Do Supremo Tribunal Administrativo
Processo: 0301/21.4BELRA
Data do Acordão: 09-12-2021
Tribunal: 2 SECÇÃO
Relator: JOSÉ GOMES CORREIA
Descritores: OMISSÃO DE PRONÚNCIA
DEVER DE CONFIDENCIALIDADE
DIREITO À INFORMAÇÃO
Sumário: I - A nulidade por omissão de pronúncia, prevista no art. 125.º,
n.º 1, do Código de Procedimento e de Processo Tributário
(CPPT) (Que segue o disposto no art. 615.º do CPC) se verifica
quando o tribunal (a norma refere o juiz, mas é aplicável aos
acórdãos dos tribunais superiores), em violação do seu dever de
cognição, consagrado no n.º 2 do art. 608.º do CPC, aplicável ex
vi da alínea e) do art. 2.º do CPPT, deixe de pronunciar-se sobre
questões que deva apreciar, ou seja sobre «todas as questões
que as partes tenham submetido à sua apreciação, exceptuadas
aquelas cuja decisão esteja prejudicada pela solução dada a
outras».
II - Como a jurisprudência tem vindo a afirmar reiteradamente,
não há omissão de pronúncia sobre questões colocadas quando
o seu conhecimento é expressamente recusado pelo tribunal ou
quando este se abstém de conhecer de uma questão mas indica
as razões pelas quais não conhece dela.
III - Por esse prisma, sendo a tese da Recorrente a de que a
decisão sumária de que reclama incorreu em erro de julgamento
ao enquadrar as questões que lhe foram colocadas e nessa
medida solicita a intervenção da conferência para corrigir esse
seu enquadramento, tal erro não é qualificável como nulidade da
decisão sumária, por falta de pronúncia (até porque o
Reclamante não identifica qualquer nulidade), mas sim erro de
julgamento decorrente da remissão da fundamentação para
acórdão proferido noutro processo.
IV – É que, no regime do art° 652° n° 1 c) e n° 3 ex vi 656° CPC
a reclamação para a conferência da decisão sumária proferida
apenas pelo relator faz retroagir o conhecimento em conferência
do mérito da apelação ao momento anterior àquela decisão
sumária, conhecimento limitado às questões especificadas pelo
recorrente nas conclusões de recurso, sem prejuízo de o
recorrente, ora reclamante, restringir na reclamação o objecto
recursório anteriormente definido nos termos do art° 635° n° 4
CPC.
V - Com a introdução, em 2013, de uma nova excepção ao dever
de confidencialidade - constante da alínea e) do n.º 2 do artigo
64.º da LGT - forçoso se torna concluir que o legislador não só
configura as duas informações ali previstas (NIF e domicílio
fiscal) enquanto “dados pessoais”, como apenas parece aceitar a
transmissão das mesmas nas circunstâncias estritas ali
expressamente previstas.
VI - O direito à informação a que se reportam aqueles normativos
não é um direito absoluto e não pode, sem mais, prevalecer
sobre a tutela outorgada, também constitucionalmente, à reserva
da intimidade da vida privada.
Nº Convencional: JSTA000P28656
Nº do Documento: SA2202112090301/21
Data de Entrada: 22-07-2021
Recorrente: AT – AUTORIDADE TRIBUTÁRIA E ADUANEIRA
Recorrido 1: A................
Votação: UNANIMIDADE
Aditamento:
Texto Integral
Texto Integral:
Acordam, em conferência, na Secção de Contencioso Tributário do
Supremo Tribunal Administrativo
1. – Relatório
A…………………, com os sinais dos autos, vem, nos termos dos artºs 1º
do CPTA e artºs 652º nº 1 c) e nº 3 ex vi 656º CPC, reclamar para a
conferência da Decisão Sumária proferida em 08-09-2021, que decidiu
conceder provimento ao recurso e revogar a sentença do TAF de Leiria,
substituindo-se por outra que julgue improcedente o pedido de intimação
para prestação de informações, deduzido contra a Autoridade Tributária
e Aduaneira – Serviço de Finanças de Alcobaça.
2. FUNDAMENTAÇÃO:
“1 – Relatório
Cumpre decidir.
*
2.- Fundamentação
2.1.- Da incompetência
*
2.2- Do mérito do recurso
3.- Decisão
*
3.- Decisão:
*
Lisboa, 09 de Dezembro de 2021
0856/20.0BELRA
Data do Acordão: 17-02-2021
Tribunal: 2 SECÇÃO
Relator: GUSTAVO LOPES
COURINHA
Descritores: DEVER DE
CONFIDENCIALIDADE
DIREITO À INFORMAÇÃO
Sumário: I – Com a introdução,
em 2013, de uma nova
exceção ao dever de
confidencialidade -
constante da alínea e)
do n.º 2 do artigo 64.º
da LGT - forçoso se
torna concluir que o
legislador não só
configura as duas
informações ali
previstas (NIF e
domicílio fiscal)
enquanto “dados
pessoais”, como apenas
parece aceitar a
transmissão das
mesmas nas
circunstâncias estritas
ali expressamente
previstas.
II - O direito à
informação a que se
reportam aqueles
normativos não é um
direito absoluto e não
pode, sem mais,
prevalecer sobre a
tutela outorgada,
também
constitucionalmente, à
reserva da intimidade
da vida privada.
Nº Convencional: JSTA000P27211
Nº do Documento: SA2202102170856/20
Data de Entrada: 27-01-2021
Recorrente: A............
Recorrido 1: AT - AUTORIDADE
TRIBUTÁRIA E
ADUANEIRA
Votação: UNANIMIDADE
Aditamento:
Texto Integral
Texto Integral: Acordam na Secção do Contencioso Tributário
do Supremo Tribunal Administrativo
I – RELATÓRIO
I.1 Alegações
A…………, melhor identificado nos autos, vem
recorrer da decisão do Tribunal Administrativo e
Fiscal de Leiria proferida 03 de Dezembro de
2020 que julgou improcedente o pedido de
intimação para prestação de informações por si
deduzido contra Autoridade Tributária e
Aduaneira – Serviço de Finanças de Alcobaça.
Apresenta as suas alegações de recurso,
formulando as seguintes conclusões:
16. Nestes termos, deve de ser julgado
procedente o presente recurso e ser revogada
a sentença recorrida, por violação do artigo 5º e
do artigo 6º, número 5 alínea b) e número 9 da
Lei n.º 26/2016, de 22 de Agosto, e do ponto 2
do artigo 268º da Constituição da República
Portuguesa.
17. Não estando o NIF do titular de um
determinado prédio sujeito ao sigilo fiscal nos
termos do artigo 64º da LGT, interpretou mal o
tribunal a quo aquele preceito, porque aquele
dado do contribuinte não configurar a situação
prevista no nº 1 do dito preceito (situação
tributária dos contribuintes ou elementos de
natureza pessoal obtidos no procedimento),
que tem que ser interpretado,
necessariamente, à luz do ponto 2 do artigo
268º da Constituição da República Portuguesa.
Sendo antes um dado público e por isso não
respeitante à “intimidade das pessoas”,
conforme obriga o artigo 108º do Código do
Registo Predial, tem que o tribunal a quo
intimar a AT a faculta-lo.
18. Por isso, deve a sentença recorrida ser
substituída por outra em que o tribunal a quo
intime a AT a divulgar o NIF de B…………,
titular inscrito na Conservatória do Registo
Predial de Alcobaça no prédio que na matriz
predial rústica da freguesia de São Martinho do
Porto, concelho de Alcobaça, tem o n.º de
artigo 1257.
I.2 – Contra-alegações
A Recorrida, Autoridade Tributária e Aduaneira
apresentou contra-alegações a fls. 108 e
seguintes do SITAF, sustentando, em suma,
que deve ser negado provimento ao recurso,
mantendo a decisão do tribunal “a quo” de
acordo com o preceituado no artigo 64.º da
LGT, conjugado com as Leis n.ºs 58/2019 e
59/2019, ambas de 8 de Agosto, e com os
princípios constitucionais previstos no artigo
26.º, 35.º e 266º da CRP, sustenta em síntese
que é legitima a recusa da AT nos termos da
Lei, devendo ser absolvida do pedido com as
legais consequências.
II - FUNDAMENTAÇÃO
II.1 – De facto
O tribunal a quo deu como provada a seguinte
matéria de facto:
1) Pela AP. 16 de 1996/04/02, B…………,
casado com C…………, no regime de
comunhão geral, com morada na ………,
Monte Real, Leiria, registou na Conservatória
do Registo Predial de Alcobaça, a aquisição a
D…………, casado com E…………, do prédio
rústico situado em ………, inscrito na matriz
predial rústica da freguesia de São Martinho do
Porto, concelho de Alcobaça, sob o n.º 1257,
composto de terra de pinhal e mato,
confrontando a norte e nascente com Caminho,
a sul com …………, e a poente com Caminho e
Agueiro (cfr. teor da certidão junta com a p.i.,
de fls. 4 e 5 do documento do SITAF n.º
005221953, e certidão de teor de prédio
rústico, Modelo A, constante do cadastro da AT,
de fls. 49 do SITAF, cujo teor aqui se dá por
integralmente reproduzido).
2) Consta dos dados do Cadastro da AT que
B……….., faleceu em 26/01/2000 – (cfr. artigos
32.º e 55.º da contestação).
3) Pela AP. 3044 de 2020/08/25, o Autor
registou na Conservatória do Registo Predial
de Vila Nova de Poiares, a aquisição a
F…………, do prédio rústico denominado de
“………”, inscrito na matriz predial rústica da
freguesia de São Martinho do Porto, concelho
de Alcobaça, sob o n.º 1261, composto de
pinhal e mato, confrontando a norte com a
Estrada Nacional, a sul e nascente com
Caminho, e a poente com Agueiro (cfr. teor da
certidão junta com a p.i., de fls. 2 e 3 do
documento do SITAF n.º 005221953, , e
certidão de teor de prédio rústico, Modelo A,
constante do cadastro da AT, de fls. 50 do
SITAF, cujo teor aqui se dá por integralmente
reproduzido).
4) Em 17/09/2020, o Autor solicitou através do
e-balcão, no sítio da internet da sua área
pessoal da AT, o seguinte:
“(…)
Nos termos do art 268º nº2 da Constituição da
República Portuguesa, do art 130º nº 1 do
Código do IMI, e por ser titular do prédio rústico
com o nº artigo 1261, vizinho do rústico com o
nº artigo 1257, ambos da freguesia de São
Martinho do Porto, concelho de Alcobaça,
solicito:
O NIF de B…………, casado com C…………
no regime de Comunhão geral, morador em
………, Monte Real, Leiria, ainda que para isso
tenha que fazer uma pesquisa por nome de
cidadão a fim de o encontrar.
Ele é o titular inscrito no prédio vizinho e
preciso saber o seu NIF, a fim de o contactar
para verificação de extremas. Mesmo que o
NIF não esteja na matriz, deve de me fornecer
essa informação, porque o NIF é um elemento
a levar a registo e que deve de constar na
matriz. O meu NIF também consta publicitado
no registo predial.
Junto 5 anexos: planta, registo do meu e do
prédio vizinho, email da conservatória que
considera obrigatório o NIF para o registo, e
parecer do MP do Supremo que considera que
o NIF deve de ser dado (ainda que não esteja
registado).”
(…)” - (cfr. documento junto com a p.i., de fls. 1
do documento do SITAF n.º 005221952, cujo
teor aqui se dá por integralmente reproduzido).
5) Em 21/09/2020, a AT, em resposta ao pedido
a que se alude no ponto anterior, pronunciou-se
nos seguintes termos:
“(…)
Em resposta ao mail infra, informo que na
consulta efetuada à matriz, as confrontações
registadas desde 1957 do artigo rústico 1261
da Freguesia de S. Martinho do Porto, do qual
V.Exa. é atualmente titular, são:
Norte com Estrada Nacional; Sul e Nascente
com Caminho e do Poente com Agueiro.
Consultada a matriz do artigo rústico nº 1257
da mesma Freguesia constatou-se que
nenhuma das confrontações registam como
confinantes quaisquer nomes dos
antepossuidores do artigo rústico 1261 de S.
Martinho do Porto.
Assim sendo, e tendo em conta que os
elementos solicitados estão abrangidos pelo
sigilo fiscal nos termos do artigo 64º da LGT e
pela Lei de Proteção de Dados, não tem
legitimidade para efetuar o pedido.
III. Conclusões
I – Com a introdução, em 2013, de uma nova
exceção ao dever de confidencialidade -
constante da alínea e) do n.º 2 do artigo 64.º da
LGT - forçoso se torna concluir que o legislador
não só configura as duas informações ali
previstas (NIF e domicílio fiscal) enquanto
“dados pessoais”, como apenas parece aceitar
a transmissão das mesmas nas circunstâncias
estritas ali expressamente previstas.
II - O direito à informação a que se reportam
aqueles normativos não é um direito absoluto e
não pode, sem mais, prevalecer sobre a tutela
outorgada, também constitucionalmente, à
reserva da intimidade da vida privada.
IV. Decisão
Termos em que acordam os Juízes da Secção
de Contencioso Tributário do Supremo Tribunal
Administrativo em negar provimento ao
Recurso.