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Assim, o objetivo deste trabalho € diseutir as elagdes possives eas divergéncias mais evidentes entre Jomalismo ¢ Historia, além de abor- dar as considerag@es resultantes de uma eflexdo sabre 0 encontro dos offcis do historiadore do comu- nicador social, com vistas a estabelecer os espagos de aproximagio e confiontagio entre essasatividades Pala have: Histria; Jomalismo; Histria Imediata ABSTRACT: Journalism and History are two autonomous disciplines, which, however, share several common traits Although the historian works with the past and the journalist with the present, their jobs are alike inthe sense they build iscutsive representations about the reality. This interdisciplinary aspect opens space for one to rethink the practice of journalism from a different perspective, one that allows the journalist to be reconsidered asa historian of today, The aim ofthis paper isto discuss the possible relationships and the most obvious differences between journalism and history, and also to address the considerations resulting from a reflection about where the duties ofthe historian and the social communicstor meet, with the aim of establishing the areas af proximity and conftontation beoween these activites, Keywords: History; Joumalism; Immediate History. Algo acontece, ¢ a impressio & que a midia prontamente noticia, Por vezes, quando 0 acontecimento soa relevante, os jomalistas chegam a insinuar que esto diante de um fato histé- rico. Sé que, logo a primeira vista, esta ideia parece estar equivocada, Ora, para o senso comum, a Historia, deveria ser a cigncia do passado, do que ja aconteceu, e ndo poderia abordar 0 que ainda esté ocorrendo, o que nao foi finalizado. Como explicar tal situagao em que se impoe de imediato 0 vivido como Historia? De qualquer maneira, tornou-se chavo comentar que uma das, vantagens de trabalhar na imprensa é poder observar de perto eventos que tém grande significa do para nagGes inteiras, ou até mesmo para todo o planeta. Clovis Rossi, por exemplo, no libelo ‘Vale a pena ser jornalista, apos mostrar a dura realidade da rotina jomalistica, destaca que para mim, oferceu area oportunidade de ser testemunha ocular de uma parte da Histria do meu tempo. Nem sempre é uma Histria apradével, [--] Mas € Histria do meu tempo e eu posso até tera iusto de inluir nela, de ‘nunciando, eitcando ou simplesmenteinformando (ROSSI, 1986, p53) Porém, se os jornalistas sio — como reivindicava o célebre bordio cunhado pelo “Repér- ter Esso” :~testemunhas oculares da histéria, ¢ incorreto afirmar que eles conseguem assegurar a historicidade de um determinado fato apenas por noticid-lo. Afinal, o que hoje surge nas prin- 2 Page 2 Astun 12 vt §~So/342013 cipais manchetes como um assunto importante pode néo ter significado algum para as geragSes posteriores. Da mesma forma, um acontecimento que passou despercebido ou foi minimiza- do pelos jomais talvez seja considerado fundamental para compreender um futuro proximo. Apesar disso, essa imagem idealizada do jomalista que escreve o primeiro testemunho do que viré a ser Histéria possui certa sustentagdo. No decorrer de um tnico dia, as noticias cenvelh ram, perdendo qualquer atualidade, e, & noite, papel do jomnal velho s6 serve para, no entender popular, “embrulhar peixe”. Para o historiador, entretanto, aquela edicdo antiga se transforma também em um documento histérico, ou seja, em um registro cristalizado no tempo e passivel de ser analisado a partir de um método historiogréfico. Ao lado de outros. textos acumulados em bibliotecas e acervos, o jomal passa a ser um lugar de meméria, ape- nas d espera de alguém que possa interpreti-lo adequadamente, Em outras palavras, os mate- riais que os jomalistas produzem sero utilizados pelos historiadores como fontes de pesquisa. Além do mais, o relato de alguém que sabe, que viu ou que esteve junto a0 aconteci- mento é fundamental, tanto para o trabalho jomalistico, quanto o historiogrifico, para definir © que realmente aconteceu. O depoimento de uma testemunha garante credibilidade & noticia da mesma forma que a descrigdo de uma meméria contribui para a apreensio do passado. Entdo, a partir des ‘a a perceber algumas interae pressupostos iniciais, jé se com gies que se estabelecem entre as priticas do historiador a do jomalista, Ambas também se alicergam na construgo de discursos, de uma narrativa selecionada e organizada por um su- jeito pensante que esté inserido dentro de um determinado contexto histérico e social. As duas profissdes, cada qual ao seu modo, procuram dar sentido as ocorréncias do mundo. No entanto, ‘hd uma diferenga fundamental na relagdo em que essas atividades estabelecem com o fato: (© historiador no tem tanto em conta, para a averiguagio da importincia de Page 3 lum determinado acontecimento,o seu interesse para o pablico, mas o facto de ele ter sido objecto do trabalho de sedimentagdo que o tempo provocou, a partir nomesda- ‘mente da ponderasio dos seus efeitos. © jornalista, por seu lado, no tem ainda ao seu Aispor este trabalho do tempo Sobre os factos que narra para aprecia a sua imp cia; parte antes do pressuposto de que w piblico tem interesse em os conhece: & por 'ss0 que, enquanto o historiado trabalha com fact histricos, 0 jomalist transforma (9s factos ocorrdos em noticias, em factos dignos de nota (RODRIGUES, 1996, p. 58). Dito de outra forma, o historiador esta submetido aos métodos da pesquisa acadé- mica, ao passo que o jomalista esta mais diretamente envolvido com a légica do mercado. Talvez alguns periddicos ¢ programas jomalisticos sejam excegdes, s6 que o jomnalismo ten- de a se preocupar com a questo da atualidade e da novidade. De um modo geral, os jorna- listas trabalham sob a pressio de prazos muito menores do que os historiadores, mas com- cia pela imensa variedade de fontes a sua disposi jo. A Internet, por pensam essa defici exemplo, pode transmitir as informagdes no exato momento em que elas ocorrem, ¢ uma répida procura nos mecanismos de busca consegue mostrar praticamente tudo o que foi noticiado sobre um dado tema nos iitimos anos. Facilidades que ndo costumam fazer par- te do repertério de instrumentos utilizado pelos historiadores mais tradicionais, que priori- a Aves 12 5 = Jol 3u2013 zam as fontes guardadas em acervos ¢ arquivos ¢ desconfiam da fugacidade do meio digital Tendo tudo isso em vista, pereebe-se que, para a maior compreensio da diferen- a entre o oficio do historiador e a pritica jomalistica da produgao de noticias, é neces- sério um olhar mais apurado sobre as duas disciplinas. Portanto, este artigo ird anali- sar as interseegdes possiveis ao trabalhar com os espagos de convergéncia entre as duas atividades. Tenta-se, assim, pensar além da dicotomia Sbvia que assegura o dominio do passado somente aos historiadores e a eriagao dos fatos do presente apenas aos jomalistas. Percebe-s que, cada vez mais, 0 historiador & chamado para participar dos meios de comunicagao social, a fim de esclarecer sobre os eventos da atualidade; o presente foi reincor- porado aos dominios da historiografia, representando, assim, um ponto de encontro possivel entre a Histéria eo Jomnalismo. Um olhar comparativo sobre o fazer jomalistico e 0 oficio do historiador permite distinguir melhor as duas pratic , que coincidem sem se confundirems, Consideragées sobre a Histéria Dizem que o historiador & aquele que escreve a Histéria, Tal afirmagao, que beira a tautologia, ndo deixa de ter razio, mas & preciso investigé-la a fundo, Ora, nao existiram histo- riadores em todos os tempos ¢ sociedades, e nem por isso a meméria desses povos, sem pessoas que se ocupassem intelectualmente do passado, deixou de ser registrada de alguma maneira. Tampouco a natureza da Historia permaneceu imutavel ao longo do tempo; pelo contririo, seus significados estio em constante mudanga, atendendo as exigéncias de cada época e cultura. Assim, responder as clissicas perguntas “o que é Histéria?” e “qual é 0 oficio do historia- dor?” nao é tarefa simples, pois jamais haveré uma resposta categérica para essas questdes, No Ocidente, é na Grécia Antiga que se encontra o embrido de uma historiografia que se prope a aleangar a verdade, ¢ ndo apenas a repetir lendas ¢ contos sobre deuses € semi-deuses, Alia 4 propria palavra historia vem do grogo antigo historie, que remete eti- mologicamente as raizes indo-européias weid — ver — e a (w) oida — saber, Isso remonta & ideia da visio como a fonte principal do conhecimento, da apropriagao da realidade — aque- le que viu, que presenciou os acontecimentos, é também aquele que sabe, que possui a au- toridade para narré-los conforme ocorreram. Assim, o géneto histérico nasce imbricado com a nogdo do testemunho, do relato capaz de comprovar a vi Jidade dos fatos, algo s melhante, como diz Paul Veyne», & postura adotada pelos atuais jomalistas investigativos. Na época helenistica, a histéria tinha um sentido pritico. Obras de registro histé- rico, como as de Herédoto ¢ Tucidides, foram escritas para que os eventos politicos ¢ mi- litares fossem conservados na meméria coletiva, a fim de que servissem como exemplo moral as épocas futuras: historia magistra vitaes, na formulagdo do senador romano Cice- 10, Esse cariter pedagégico da histéria, de que o passado tem algo a ensinar, até hoje esta presente no senso comum, embora no seja mais tio bem aceito nos meios académicos» Seja como for, desde o tempo dos gregos antigos, a forma dominante da narra- tiva historica tem sido a descrigo de guerras e de acontecimentos politic 44 Page 4 Acinn 208, 5 SafI42013 de eventos excepcionais liderados pelos grandes homens ~ monarcas e chefes mi- litares. Os historiadores tendiam a escrever sobre seu proprio tempo, baseando-se nas suas observagdes ¢ na compilagio de testemunhos de primeira mio. Tal paradigma permane- ceu inconteste no mundo ocidental até meados do século XVIII, até 0 alvorecer do Hlumi- nismo. Estudiosos de toda a Furopa comegaram a se preocupar com o que poderia ser denominado de uma historia da sociedade, que ndo se restringisse apenas as guerras ¢ & po- litica, mas que tratasse também do coméreio e das leis, dos costumes e dos comportamentos. lo XIX Contudo, a Histria s6 se consolidou como disciplina auténoma a partir do que, no por acaso, também & chamado de século da histéria, Foram os historiadores des- se periodo os responsiveis por esbogar os limites do campo histérico, estabelecendo os pri- ‘meiros tratados sobre como a metodologia da Histéria deveria se organizar para que se en- caixasse nos padres tidos como cientificos. Dessa maneira, a Historia se libertou do jugo da literatura ¢ da filosofia ¢ passou a se transformar em um oficio, uma atividade profissio- nal cuja fungio é reconstituir os fatos do passado por meio de um método racional. Eviden temente, esse processo de racionalizagdo ¢ institucionalizago da Historia se confunde com Page 5 © proprio contexto histérico-social da época, marcado pela transigdo entre a modemnidade 4 era contemporanea. Na Europa, a constituigdo dos Estados nacionais, ou seja, a crescente consciéneia de pertencer a um certo povo ou a uma determinada nag, provocou uma pro- jidade de se esta funda mudanga no modo de se pensar a Historia. A medida que a ne belecer a identidade nacional aumentava, os historiadores se viram convocados para a mis- so de legitimar, no passado, uma eriago recente: a ideia de nacionalidade. A procura pela origem das raizes histéricas tornou-se uma obsessio para os historiadores daquele perfodo. A pattir de meados do século XX, varios autores passaram também a discutir sobre 0 pa- pel ocupado pela Histiria, que se institucionalizava cada vez mais, dentro da area das ciéncias humanas. Entre eles, pode-se mencionar Paul Veyne, um especialista da Roma Antiga que trou- xe uma série de questionamentos pertinentes. Seu livro Como se esereve a histéria, de 1971, € um texto provocador, que desmonta o conhecimento hist6rieo, considerado como uma forma de escrita, Para Veyne, a histéria ndo passa de uma narrativa com personagens reais. Como num romance, ela simplifica e ordena as ages dos atores histéricos; resume mil anos em uma pégina, hicrarquiza reinos ¢ impérios em ordens arbitréias, codifica eventos ¢ busca esquematizé-los, ‘num enredo coerente, Diferente das disciplinas exatas, como a Fisica e a Quimica, por exem- plo, no hé como testar a Histéria em um laboratério ou restringi-la a formulas estritas — afinal, © homem, o objeto da historia, é um ser multifacetado, complexo demais para que suas ages reagGes sejam comprovadas por meio de experiéncias. Além do mais, é impossivel retomar ao passado para comprovar se determinada hipétese corresponde ao que realmente aconteceu. Bis porque Veyne refuta o cardter cientifico da histéria: nao sendo passivel de leis, a histéria ndo teria método — “ela esté satisfeita desde que se contem coisas verdadeirass” - € tampouco explica os processos histéricos, embora os tornem mais compreensiveis & me- dida que estabelece as linhas causais entre os fatos. Mesmo que a Histéria seja fundamen- 45 Ass 12 i 5 = Solr 2013 tada em fontes e documentos, esses vestigios representam somente uma fragdo infima do que ocorreu no pasado, sempre restardo lacunas. Assim, um livro sobre Império Romano é, na verdade, o relato daquilo que ainda podemos saber sobre aquele império; nesse senti- do, toda obra historiogréfica é um texto inacabado. A citagdo abaixo ilustra de forma eficaz 6 pensamento de Veyne ¢ algumas de suas principais idéias sobre a Historia. Segundo ele, a histria ¢ um palicio do qual no descobriremos toda a extenslo (nfo sabe- ‘mos quanto nos resta de no-factual a historicizar) e do quel no podemos ver todas as alas ao mesmo tempo; assim no nos aborrecemos nunca nesse palcio em que estamos ‘encerrados. Um espiitoabsoluto, que conhecesse sou geometral e que nao tvesse nada ‘mais para descobrir ou para descrever, se aborreceria ness lugar Esse palicio &, para 1s, um verdadeiro labirinto; a cigncia d-nos Grmulas bem construidas que nos perm tem encontrar saidas, mas que nlo fornocem a planta da prédio (VEYNE, 1971, p. 133) ‘Trés anos depois da publicacdo do ensaio de Veyne, o historiador Michel de Certeau escreven o texto A eserita da histéria, que, de certa forma, também & um contraponto as inda~ gages de Paul Veyne. Enquanto este pregava o ceticismo ¢ o desengajamento da histéria, que deveria ser uma atividade intelectual inocente, sem fins politicos», Certeau reafirma o potencial da histéria como um conhecimento cientifico a servigo do presente, Ao dar énfase a uma forma- 40 pluridisciplinar — em que éreas como a psicanlise, a filosofia e a semiética contribuem para aprimorar 0 conhecimento histérico — coloca que a Histéria designa simultaneamente trés coisas distintas: um conjunto de acontecimentos que se desenrolaram ao longo do tempo; uma disciplina metédica de pesquisa, o que implica em procedimentos especificos de anilise; ¢, fie nalmente, a narragao dos enunciados produzidos pelos historiadores, profissionais que detém a competéncia discursiva e a legitimidade social para conferir sentido ao que ocorreu no passadon. Pata Certeau, a instituigdo onde o historiador pratica o seu oficio restringe e condiciona 1 sua produgio; hd uma gama de variantes, como as presses do cotidiano e as exigéncias do local de trabalho, que influenciam a escrita da historia. Dessa forma, o historiador ndo pode permanecer alheio 20 mundo, pois tem uma fungdo social a cumprir: 0 saber histérico traz, algo relevante para o entendimento do presente, A Histéria é uma operagdo da meméria. El possibilita a reconstrugdo do vivido, ao mesclar elementos literérios —a narrativa histérica per se, repleta de floreios ret6ricoss«, © que pde em cena personagens mortos ~¢ critérios cientifi cos de verificagao — citagdes, referencias, notas explicativas ¢ assim por diante. Ea remissio as fontes, portanto, que assegura algo de cientificidade & Historia; elas demonstram como 0 historiador chegou & construgao dos fatos, permitindo ao leitor refazer 0 caminho percorrido, No entender de Certeau, a escrita da histéria desempenha, na verdade, um pa- pel simbélico de coveiro do pasado, no sentido de que honra a morte, 0 que jd passou, € a0 mesmo tempo a elimina, Remontar a historia é, portanto, determinar esse lugar da mor- sibilidades te, mas também ¢ “redistribuir o espaco das pos , determinando negativamente aquilo que esti por fazer para, assim, utilizar a narratividade, que enterra os mortos, como meio de estabelecer um lugar para os vivos”s, Fazer historia nada mais ¢ do que mediar um didlogo entre os homens do pasado, que voltam a vida através das palavras do histo- 46 Page 6 ate 12 ot 5 = Jal 2013 riador, ¢ os homens do presente, que passam a se localizar melhor no tempo histéri- co, percebendo a si mesmos como iguais ou diferentes daquelas geragdes que se foram. © maximo que a Historia pode ambicionar ¢ uma série de aproximagdes sucessivas’ 4 passos lentos, e confrontando as informagies de antigos registros, a nossa compreensio sobre os eventos histéricos se aperfeigoa, mas jamais correspondera rigorosamente a eles. Portanto, em linhas gerais, a constituigdo da atividade do historiador trans- formou-se de uma histéria cujo conhecimento estava restrito a alguns poucos eru- ditos — escribas, monges reclusos, filésofos — a uma histéria institueionalizada, O historiador tornou-se um professor, um especialista profissional, que desfruta do reconheci mento dos seus pares e da sociedade, ao incorporar a fungdo de guardiao da meméria coletiva. O ser jornalista e a formagao das noticias Assim como 0s historiadores, os jomalistas no so uma categoria social homo- génea, embora sejam, de modo geral, oriundos da classe média, pelo menos na maio- ria dos paises do ocidente, Sob o termo jornalistas se insere uma variedade muito gran- de de atividades individuais: do ancora televisivo, cujo salério ultrapassa os trés digitos, a9 modesto repérter iniciante, todos compartilham, ao menos no nome, a mesma profi so. Ora, chefe da redago cumpre uma fungo mais administrativa, de controle e distri- bbuigdio de tarefas, do que propriamente um trabalho jotnalistico — alids, os jornalistas mais ‘bem pagos costumam se coneentrar nos cargos de administragdo, deixando de lado 0 jorna- lismo genuino, de investigagao, entrevistas e redagdo de matérias, Por isso, “jamais a cate- gorizagio do ou da jomalista dird muita coisa sobre a profissdo, suas mudangas e dilemas” 0 jomalismo nao é, portanto, uma profissio fechada — suas fronteiras so difusas e sua atividade se confunde com o campo enorme da comunicagio social. Nao raro, encontramos Jjomalistas no ramo do entretenimento, trabalhando como Relagdes Pablicas de empresas ¢ fler- tando com a publicidade, Diferente do historiador, cuja atuagao &, grosso modo, circunserita as cétedras universitirias ou as salas de aula da educagdo bisica, o fato ¢ que o jomalista se move em um espaco fluido, de miltiplas possibilidades de trabalho. Dependendo do pais, existem expectativas diferentes sobre como o jomalista deve agir. Jorge Pedro Souza oferece os exem= plos do Reino Unido, onde o jomalista é visto como um relator cuidadoso dos acontecimentos ou, por vezes, como um lutador politico de certas eausas; na Franga, espera-se que 0 repor- ter seja um comentador e intéxprete dos fatos, emergindo como um intelectual do cotidiano. Acima de tudo, ha um consenso em tomo de uma imagem quase missionaria do jomalismo: comprometido com a sociedade, ele teria o papel de fiscalizar as instituigdes piblicas e proteger 0 povo dos eventuais abusos dos govenantes, Quarto poder, ces de guarda da sociedade, responsabilidade social: express es que jé se tornaram clichés, mas que jo ligadas ao ceme da atividade jornalistica. No livro Elementos do Jornalismo, Bill Kovach e Tom Rosenstiel tentaram resumir a natureza do jomalismo ao clencar nove itens fundamentais, que regeriam o exercicio da profissdo. 1A primeira obrigagdo do joralismo & a verdade. 2. Sua primeica lealdade a Page 7 Antes 12 wi $= Sa/Ju2013 € com os cidadios. 3. Sua ess2ncia 6a diseiplina da verifiagdo. 4, Seus profissionais

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