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André Silva Tuena

Thaís de Andrade El Rassi


Tiago Palmieri Martins de Souza

Arranjos Produtivos Locais: uma análise e sugestão para Mariana/MG

Introdução

A sociedade moderna e o grande desenvolvimento tecnológico têm trazido grandes


mudanças para o cenário empresarial e para as vidas das pessoas. Devido à grande
escala de produtividade da cadeia global e com o foco cada vez mais no
conhecimento como elemento principal e gerador de produtos e serviços, se faz
necessária diferentes abordagens para a obtenção de melhores resultados frente à
grande competitividade mundial. Com isso, as necessidades - inclusive das pequenas
empresas - tomaram novas proporções, tanto no quesito inovação quanto em seus
modelos de gestão, a fim de acompanhar essa tendência.

É neste cenário de grandes mudanças que surge a possibilidade de diferenciação nos


Arranjos Produtivos Locais – APLs. O Arranjo Produtivo Local é, segundo o Ministério
da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, “um aglomerado de empresas e
empreendimentos, localizados em um mesmo território, que apresentam
especialização produtiva, algum tipo de governança e mantêm vínculos de articulação,
interação, cooperação e aprendizagem entre si e com outros atores locais”. 

Desta forma, para que uma aglomeração industrial seja caracterizada como um APL
são necessárias as características baseadas nas premissas de uma mesma
localização geográfica e desenvolvimento local (característica de formação), ter um
número condizente de empresas atuando em determinada atividade produtiva, a
cooperação entre as empresas, a interdependência das mesmas, a confiança mútua e
a necessidade de inovação.

O setor econômico de Mariana/MG está inserido no denominado quadrilátero ferrífero,


no qual representa 60% de toda produção nacional de minério de ferro bruto. Sendo
assim, a cidade possui forte base econômica em indústria e mineração (receita
majoritária do seu PIB – também com grande arrecadação através de royalties de
mineração), turismo cultural (através de atrativos civis, culturais, naturais e religiosos),
comércio e agropecuária.

No ano de 2017, sua receita realizada foi de R$309.158.770,00 e sua despesa


empenhada foi de R$257.822.340,00 (dados de 2018). Segundo dados do censo de
2018, seu PIB per capita é de R$45.786,96.

Mediante a análise da Secretaria do Estado, Mariana/MG passa por uma grande


queda em seus indicadores socioeconômicos, como aumento do desemprego, já que
muitas empresas do ramo da mineração fecharam suas portas em Mariana, em
decorrência do rompimento da estrutura de contenção de rejeitos da barragem de
Fundão, na qual a empresa Samarco era a responsável.

Apresenta ainda grandes desafios socioeconômicos, como por exemplo, a maioria da


sociedade em que vive em Mariana possui mão de obra especializada em mineração,
com o fechamento de empresas deste ramo, a população ficou desempregada e
impossibilitada de exercer outras atividades na região.
Diversos danos foram causados, dentre os quais podemos citar os de caráter
ambiental (danos sobre a qualidade da água, solo e biodiversidade), materiais
(estrutural, macro e microeconômico afetando inclusive turismo, cultura e lazer da
região) e humanos (sobre a saúde, segurança pública).

Desenvolvimento

É evidente que mesmo após o rompimento da barragem, a mineração continua sendo


um dos pontos fortes econômicos, já que Mariana integra o Quadrilátero Ferrífero.

Mariana é banhada por rios importantes, como o Rio do Carmo, Gualaxo do Norte,
Gualaxo do Sul, e afluentes do Rio Doce, considerado grande ponto forte para
escoamento de produções e para o turismo.

Mariana (assim como Ouro Preto), é uma cidade histórica que representa o período do
ciclo do ouro, sendo assim, atrai pessoas interessadas no turismo cultural, que abre
possibilidade de trabalhar com várias abordagens (relacionadas ao meio ambiente,
patrimônio histórico-cultural, sustentabilidade).

Outro ponto forte do município de Mariana são as atividades agropecuárias,


extrativas vegetal, caça e pesca.

Além de todos esses fatores, existe a presença de Universidades, que podem ter
sua atuação fortalecida, e desenvolver projetos e parcerias que busquem iniciativas
para diversificar a mão de obra na região e renda.

Uma das grandes limitações de Mariana está justamente relacionada ao rompimento


da barragem de Fundão, já que o ocorrido trouxe grande camada de lama com baixo
teor de nutrientes e carbono orgânico, que de forma geral deixa o solo praticamente
estéril para recuperação ambiental.  É fundamental um amplo programa de
recuperação ambiental para garantir o processo de recuperação da vegetação. 
Componentes químicos na lama lançada sobre o vale do rio Doce também
ocasionaram a contaminação da água e do solo por metais pesados.

Além disso, podemos considerar a mão de obra de grande parte da população ser de
forma direta ou indireta ligada à mineração outra limitação, já que não há muita
diversidade de segmentos. A limitada oferta de alternativas de trabalho na região gera
elevada dependência dos trabalhadores, que não encontram muitas opções para além
da mineração.

Agora falando a respeito de oportunidades, diversos são os segmentos para a criação


de APLs em Mariana/MG. Através da possibilidade de união de empresas de diversos
setores, os nichos de atuação podem ser variados. Como uma proposta abrangente,
temos a possibilidade de criação de um APL de turismo e comércio. Com a união
das empresas, Universidade e certas entidades vinculadas, tais como a prefeitura e
secretaria do turismo e outras possíveis associações comerciais de Mariana, fazendo
parte da governança do arranjo.

As principais oportunidades e diferenciais da região do APL envolvem diversas


condições e segmentos, tais como:

 Mudanças no consumidor turístico e sua saída dos centros urbanos;


 Crescimento da demanda por turismo cultural e envolvendo natureza;
 Ser uma cidade pequena e autêntica;
 Redução da sazonalidade do turismo e pôr o mesmo estar mais fragmentado e
distribuído o ano todo;
 As dificuldades das grandes cidades em ter lazer envolvendo natureza;
 Turismo local em ferrovias e minas;
 Roteirização de passeios e circuitos históricos de igrejas;
 Famoso centro histórico com potencial de comércio;
 Parque Nacional da Serra do Gandarela (PARNA);
 Entre outros.

Com relação às ameaças, levando-se em consideração a criação de APLs


direcionados aos segmentos de Comércio e Turismo temos as seguintes proposições:

 Fatores ligados à política da cidade, uma vez que nem sempre há uma
convergência de propósitos entre os políticos eleitos, sabendo que,
usualmente, deve haver uma alternância no poder de periódica entre 4 anos;
 Fatores ligados à logística da região, levando-se em consideração às formas
de acesso à região;
 Rede hoteleira não desenvolvida adequadamente para acomodar a
possibilidade de crescente demanda;
 Crise financeira agravada pela pandemia de Covid-19;
 Receio relacionado aos impactos ambientais e suas possíveis consequências à
saúde dos turistas, já que muitos turistas podem associar risco em ocorrer
outro acidente semelhante, enquanto estiver visitando a região, entre outros.

Com o objetivo de apoiar a retomada da economia de Mariana, a ideia do projeto é


manter e estruturar o ponto forte de Mariana que é a Mineração, entretanto, não deixar
a região pautada em apenas um segmento, já que a região é tão rica em outros
aspectos. A sugestão é promover a criação de um Arranjo Produtivo Local do
segmento do turismo, podendo ser explorada a culinária, que está intrinsecamente
relacionada à história de Minas Gerais e carrega tanta tradição.

A região destaca-se pela notória diversidade cultural e gastronômica, contando ainda


com seus atrativos naturais e culturais, podendo ainda ter outras abordagens através
de ecoturismo, lazer e até mesmo turismo voltado para a área de mineração.

Com uma proposta de APL de turismo e o envolvimento de outros pequenos


municípios da região (tais como Ouro Preto/MG), através de um núcleo principal,
Mariana poderia iniciar um projeto que poderia tornar-se um canal de desenvolvimento
e atratividade turísticos. 

Através de uma abordagem visionária para a região, o APL de turismo contaria com o
apoio de instituições (tais como faculdades e prefeituras locais) para o treinamento e
capacitação de mão-de-obra qualificada para o exercício das atividades necessárias
(tais como guias turísticos).

Ainda sobre isso, poderia ser criado um guia turístico específico de Mariana (e região),
onde através de passeios na cidade (ou também intermunicipais) os guias mostrariam
locais e vistas específicos e contariam um pouco da história de cada atração – tais
como igrejas e minas -, além de outros lugares tradicionais de comércio e artesanato
local.

Tendo em vista o que foi citado acima e como uma alternativa de projeto através de
uma abordagem gastronômica, o APL também poderia ter uma abordagem voltada
para comidas regionais, visando suprir a necessidade de integração entre restaurantes
e pontos turísticos, pois quanto mais razões para se ir ao mesmo lugar e mais suporte
e infraestrutura promovida pelo destino, maior a geração de valor nos serviços e,
consequentemente, maior a receita e empregos para o local.

Como formato de projeto já existente em outras regiões, foi pensada a implementação


de um festival gastronômico de Mariana-MG.

O projeto a princípio seria a criação de um festival semestral/anual de gastronomia ou


uma competição de pratos tradicionais Marianenses/Mineiros, nos quais os
restaurantes receberiam uma nota dos clientes referente aos pratos específicos que
entrariam na competição. Com esta ideia inicial de projetos, a criação deste evento
dependeria da associação de diversos segmentos da economia, tais restaurantes,
distribuidores, setor terceirizado de prestação de serviços, entre outros. Pensando
além, em uma possível sinergia com o APL já existente de cervejas artesanais da
RMBH, a região poderia ter uma completude de serviços e atrativos suficientemente
forte para fomentar o interesse de novos turistas.

O conceito disto é promover investimentos tanto financeiros, quanto educacionais que


possibilitem que a região se torne mais resistente e flexível, e não pautada única e
exclusivamente na mineração. Não que a mineração não seja importante para a
região, porém, esta seria uma forma de possibilitar a integração da comunidade em
outras atividades que não sejam somente a mineração.

Sugere-se associação do Governo de Minas Gerais e de Mariana, Sebrae, Fundação


Renova, Startups locais para desenvolvimento de tecnologias necessárias,
Universidade de Ouro Preto (UFOP), criação de cooperativa de artesanato, incentivos
ao turismo e formação de profissionais de Turismo.

Considerações Finais

Esse estudo possibilitou reconhecer como os Arranjos Produtivos Locais (APL) são
importantes para impulsionar o desenvolvimento de uma cidade ou região, e como
deve ser considerado para fomentar a cidade de Mariana/MG. 

Observou-se que a criação de APLs possibilita maior geração de empregos, o que


consequentemente aumenta a empregabilidade e como resultado aumenta e distribui
a renda na região, melhorando a qualidade de vida da sociedade de modo geral.

Os benefícios de um APL são significativos também para micro e pequenas empresas,


que quando associadas ganham mais força. É importante lembrar que a cooperação
deve existir e ser incentivada em um APL, já que é muito valiosa para o seu sucesso. 

Referências

BRASIL. Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Secretaria de


Comércio Exterior. Arranjos Produtivos Locais - APL: Atualizado em 30/04/2021.
Disponível em: <https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/
competitividade-industrial/arranjos-produtivos-locais-apl>. Acesso em: 20 set de 2021.

Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas – SEBRAE. Arranjo


produtivo local - Série Empreendimentos Coletivos. 2017. Disponível em:
<https://www.sebrae.com.br>. Acesso em: 19 set de 2021.

MINAS GERAIS. Prefeitura Municipal de Mariana. Dados Demográficos de Mariana.


Minas Gerais. Acesso em: 19 set de 2021.
ROESER, H. M. P. et al. O Quadrilátero Ferrífero - MG, Brasil: aspectos sobre sua
história, seus recursos minerais e problemas ambientais relacionados. 2010.
Disponível em: <https://periodicos.ufmg.br/index.php/revistageonomos/article/view/
11598>. Acesso em: 10 set de 2021.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE), em parceria com


Órgãos Estaduais de Estatística, Secretarias Estaduais do Governo e
Superintendência da Zona Franca de Manaus - SUFRAMA. PIB Per Capita. 2018.
Disponível em: <https://cidades.ibge.gov.br/brasil/mg/mariana/panorama>. Acesso em:
20 set de 2021. 

NUNES, E. Os Impactos do Rompimento da Barragem de Fundão no Município


de Mariana-MG. Monografia - Faculdade de Ciências Econômicas, Universidade
Federal de Ouro Preto. Mariana, p. 65. 2019.

SIMONATO, T. C. Projeção dos Impactos Econômicos Regionais do Desastre de


Mariana-MG. Dissertação de Mestrado - Faculdade de Ciências Econômicas,
Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte. p. 176. 2017.

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