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ALGUMAS CARACTERíSTICAS DE CURSOS DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM

. OFERECIDOS EM TEMPO PARCIAL:


DADOS PARA UMA ANÁLISE DE DEMANDA E EVASÃO·

Mizue Ogasawara**
SOnia Cristina lost Pavarini**

RESUMO: Este trabalho teve por objetivo analisar algumas características de cursos
particulares de Graduação em Enfermagem do Estado de São Paulo. Util izou-se u m
q uestionário para coletar os dados e os resultados mostraram que os curso de
enfermagem em tempo parcial - apesar de pagos - têm uma demanda elevada ; as
bolsas de estudos oferecidas parecem influenciar na manutenção do aluno na escola ;
existem oportun idades para o aluno trabalhar e facilidade de acesso ao curso de
g raduação para os alunos que já atuam na área. Sugere-se que sejam realizados
outros estudos com o objetivo de aprofu ndar a análise em relação à procu ra pelos
cursos de g raduação em enfermagem.

ABSTRACT: This paper has the objective of analysing the characteristics of private
cou rses in n urs i ng g raduation in the state of São Paulo, as well as its relationship to
the demando A q uestionary was used to col lect the data concemed to the cou rse. The
results showed that the part time nursing cou rses, although being paid for, have a high
demand ; t h e scholarships lead t o the maintenance of the student in the school, create
oportunities for the students to work, and make it easy for those who have already being
working in the a rea access such cou rses. It is suggested that other studies be carried
out i n order to establish the causes of such low demand, so that the cou rses can be
developed to atlend the needs of the population and keep their levei of excellency.

UNITERMOS: Curso de Graduação em Enfermagem - Curso em Tempo Parcia l -


Demanda - Evasão

1. INTRODUÇÃO gundo NAKAMAE e TSUNEC H I RO( 1 4), as d is­


cussões , nesse evento , permitiram identificar os
Há atualmente u ma preocupação crescente seguintes aspectos:
com a procura pelos cursos de enfermagem no - o baixo ingresso nos cursos foi mais freqüente
Brasil. Como afirmam NAKAMAE e TSUNECH I­ nos estabelecimentos públicos ;
RO(1 4) , d u ra nte a década de 70 e até a metade
dos anos 80, a procura pelos cursos de gradua­ - nos grupos de debates , os representantes de
ção em enfermagem cresceu de forma acelera­ escolas particu lares não se mostraram espe­
da. Entretanto, a partir de 1 986, observou-se cialmente preocupados com o ingresso, indi­
uma reversão dessa tendência. Esta inquietante cando que, no primeiro ano, esses cursos têm
observação levou à realização do Fórum de as suas vagas preenchidas;
Debates - "Ensino e Mercado de Trabalho em - a evasão ocorre nos primeiros semestres do
Enfermagem", em setembro de 1-988, na Escola curso, principalmente nas escolas particula­
de Enfermagem de Ribeirão Preto - USP. Se- res;

Trabalho apresentado como Tema Livre no 44° Congresso Brasileiro de Enfermagem. Brasllia-DF, 4 a 9 de outubro
de 1 992.
Professoras Assistentes do Departa mento de Enfermagem da Universidade Federal de sao Carlos, SP.

1 34 R. Bras. Enferm., Brasilia. v.47, n.2, p.1 34-1 43, abr.�un. 1 994
- há u ma tendência de atendentes, auxiliares e entidade estudou a possibilidade de se implantar
técnicos de enfermagem (candidatos que já u m curso notumo de enfermagem.
trabalham) buscarem ascensão social dentro Diante da necessidade de u m posiciona­
da própria profissão , na maioria , em escolas mento frente a essa proposta, é que partimos
particulares; para u ma i nvestigação junto às Escolas de En-
- o vestibular, para o curso de enfermagem, é fermagem do Estado de São Paulo, qu e ofere-
usado como trampolim para outros cursos. cem cursos em tempo parcial, visto qu e n os dois
E m 1 990, foi realizado na Escola de Enfer- eventos citados , os cursos oferecido s em tempo
.
mage m de Ribeirão Preto - USP, o workshop parcial (escolas particulares) não mencionam
"Baixa Procura - I mplicações nos Órgãos For- d ificuldades no preench i mento de suas vagas.
madores 't( 1 6). Nesse evento, foram divulgados Os determinantes da baixa procura pelos
a lg u ns trabalhos que estavam sendo realizados cursos de Enfermagem não estão muito claros .
em relação à essa problemática . O estudo de É necessário muita investigação para evidenciar
PEDRAZZANI( 1 5 ) demonstra o gradativo de- e compreender este fenômeno. Assim sendo, de
créscimo na relação candidato/vaga em vestibu- in ício poderíamos pensar em vários fatores qu e
lares para o cursos de graduação em enferma- podem influenciar a opção e a inserção profis­
gem na década de 80 em 5 (cinco) instituições sional.
públicas do Estado de São Paulo. Este fato se A imagem do baixo status social pode ser um
acentuou no final da década e a análise estatís- determinante. Na década de 50, REZENDE e
tica projeta para 1 992 uma relação menor que RIVERA( 1 7 ) afirmam que h á um reconhecimen­
u m candidato por vaga . to, pelos jovens, da enfermagem como prof!ssão
Também foram levantados outros aspectos pouco compensadora economicamente. AL-
relaci onados a esta problemática, tais como: CÂNTARA( 1 ) d iz que
- a estrutura do curso é apontada como coad- . . . o pouco interesse que a enferma-
juva nte do problema da baixa procura pelos gem desperta entre os jovens tem
cursos de g raduação em enfermagem, por sido explicado através de concepções
estes serem, predominantemente, em tempo desfavoráveis acerca da profissão,
integral ; dada a vinculação do trabalho manual
desempenhado predominantemente
- alguns cursos n otumos têm preenchido todas
por pessoas do sexo feminino, de bai-
as suas vagas;
xo n/vel sócio-econ(Jmico.
- d ificuldades de os alunos cumprirem as d isci-
Em estudo recente , ALM E I DA(2) confirma
plinas nos semestres ou anos previstos;
que
- mudança da clientela que procura os cursos . . . o s calouros do curso revelaícfITJ que
de g raduação em enfermagem. a enfermagem é pouco reconhecida
Diante dos fatos analisados, docentes de socialmente [. . .Jpodendo constituir-se
algumas Escolas de Enfermagem da Região em causa da evasão e na baixa pro­
Sudeste, organizararn-se e propuseram o de­ cura pelo curso.
senvolvimento de algumas investigações para MISHIMA( 1 3) também identificou u m perfil
melhor compreender tal situação e talvez possi­ profissional pouco atrativo para a opção pela
bilitar a abertura de canais de i ntervenção nesta enfermagem entre os jovens do 2° g ra u e cursos
realidade. preparatórios. Nessa mesma direção SAL­
Especificamente o curso de Enfermagem da LUM( 1 8 ) refere-se que
U niversidade Federal de São Carlos (UFSCàr) a imagem da enfermagem percebida
tem enfrentado, n estes ú ltimos anos, d ificulda­ pela comunidade goianiense não é
des para preench i mento de suas vagas. totalmente satisfatória! e esperava-se
Conci l iando a pol ítica de oferecimento de que - em função das modificaçljes
cursos n otum os pelas u niversidades públicas e ocorridas em todos os setores da vida
a sugestão para solucionar a baixa procura para social, bem como, a ascensão da pro­
curso de enfermagem, a administração desta fissão a n/vel superior - os estereóti-

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pos tradicionais estivessem menos enfenneiros foram: pressões e estresse no tra­
presentes. balho; salários e sistema de benefícios inade­
Outro possível fator é a desinfonnação ou quados; baixa qualidade e conflitos na supervi­
má informação da sociedade sobre a profissão são; conflito entre a administração do hospital,
e, co nseqüentemente, sobre o curso de enfer­ médicos e outras categorias de pessoal; falta de
magem. CARDOSO(7 ) destaca a falta de infor­ oportunidade para progred ir; falta de incentivos
mação qu e os alunos do 3° ano do ;20 grau de reconhecimento por um bom trabalho; traba­
apresenta m sobre a enfermagem. Vários traba­ lho cansativoltedioso; poucas oportun idades
lhos indicam ser a enfennagem uma profissão para realização profissional; problemas pes­
predominantemente feminina, o que pode deter­ soais/familiares e domésticos. Brief (1 986) e
minar a baixa procura pelo curso. MANZOLLI( 1 0) Prescott e Bowen (1 987) in ANSELMI (4) também
.
afirma qu e . . especificamente a enfennagem citam causas desta natureza .
pennanece ainda com a imagem feminina da Frente a este contexto, cabe-nos busca r in­
profissllo, com a grande maioria de mulheres. fonnaçôes para um encaminhamento adeq uado
O interesse pelos cursos também ocorre, para a questão da procura pelo curso de Enfer­
predominantemente, entre as mulheres. ARCU­ magem na UFSCar.
RI(5) , ao caracterizar os ingressantes na Escola
de Enfennagem da USP (EEUSP) , constatou 2. OBJETIVO
que a maioria dos alunos é do sexo feminino.
SULLEROT, in SI LVA( 1 9) , afinna que . as .. Analisar algumas características dos Cursos
de Graduação em Enfermagem do estado de
profissDes tidas como femininas foram conti­
São Paulo, oferecidos em tempo parcial para
nuam sendo menos valorizadas socialmente.
subsidiar análises de demanda e de evasão.
Os próprios profissionais podem influenciar
negativa mente, ao manifestarem atitudes de in­ 3. PROCEDIMENTO METODOLÓGICO
satisfação com a profissão, geradas por desgas­
te , estresse contínuo, sobrecarga de trabalho A coleta de dados foi feita junto aos cursos
assim como má remuneração e falta de prestí­ de Graduação em Enfennagem do estado de
gio. São Paulo, oferecidos em tempo parcial. Elabo­
MARTINS( 1 1 ) constatou que entre os fatores rou-se um questionário para coletar os dados
analisados existe maior satisfação que insatisfa­ relativos a estes cursos, tais como: d u ração,
ção , entretanto, a integ ração ao trabalho, desta­ horário de funcionamento, carga horária , índice
cou-se com índice maior de i nsatisfeitos. de evasão , características dos campos de práti­
ca, entre outros (Anexo 1 ).
A i nsatisfaÇão pela profissão p� rece não ser
uma realidade só brasileira . Benson (1 986) in O i nstrumento foi entregue aos Diretores
ANSELMI (4) verificou em estudo realizado em elou Coordenadores de cursos das escolas, por
Wakefield , que as causas do desligamento dos ocasião do Fórum Estadual das Escolas de En-
Quadro 1 - Características de Cursos de Enfermagem das Escolas Particu lares que Partici pa m
do Estudo. Sã o Paulo, 1 992.

Caracterlsticas do Curso ESCOLAS


A B C D E F G
Duraç!o 4 anos 4 anos 4 anos 4 anos 4 anos 4 anos··· 4 a nos
Caraa Horária 3. 690 h 2.9 1 2 h 4 .3 1 2 R 4 . 1 40 h 4 . 500 h·· 2 . 7 00 h 3. 450
'f
Horário de FU ionamento 7 :30 às manhã 7 : 20 às 7 :00 às 7 às 1 3 h 7 às 1 3 h 7 às 1 3 h
1 3: 1 0 h 1 3:00 h 1 2 :30 h licenc.:
1 4 as 1 8 h
N° de Vagas Oferecidas 80 80 60 50· 60 80 1 00
Bolsa de Estudo poucas sim nao sim 2 tipos sim sim
• a pa rtir de 1 993 , serAo oferecidas 30 vagas pela Escola D
•• com licenciatura
•• * até 1 99 1 a duraçao do curso da Escola F era de 3 anos. A partir de 1 992 , passou a ser 4 anos.

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Quadro 2 - Vínculo empregatício do aluno segundo a escola. São Paulo, 1992.

Caracteristicas do Aluno ESCOLAS


A B C D E F G

X X X X X X
O aluno trabalha na área de EnfermaQem
X X X
O aluno trabalha em outra área

ferrnagem ocorrido em março de 1992, em São junto aos Diretores e/ou Coordenadores dessas
Paulo. Para as escolas representadas naquela instituições.
reunião encaminhou-se pelo correio um ofício
Constatou-se que, com exceção de uma es­
juntamente com o questionário. Algumas infor­
cola, as demais oferecem bolsas de estudos
mações dos cursos noturnos de enfermagem
para os alunos.
foram coletadas por via telefônica.
Todos os cursos têm, atualmente, a duração
O levantamento das escolas que oferecem
de 4 (quatro) anos, variando a carga horária
cursos de Enfermagem e as respectivas locali­
entre 2.700 a 4.500 horas.
zações foram obtidos através da consuHa ao
catálogo de cursos do Ministério da Educação e A Licenciatura é oferecida por um curso em
CuHura. tempo parcial, no período da tarde, em caráter
não obrigatório.
Foram enviados questionários a 18 Escolas
de Enfermagem particulares do Estado de São Na maioria das escolas é grande o número
de vagas, prevalecendo uma média de 80 vagas.
Paulo, das quais 10 (dez) oferecem cursos em
Apenas uma escola oferece 50 vagas que serão
período parcial (matutino), 3 (três) em período
reduzidas para 30 a partir de 1993.
noturno e 5 (cinco) em período integral. Foram
recebidos mas 7 (sete) questionários preenchi­ Não se obteve resposta ao questionário en­
dos por cursos oferecidos em período parcial viado para as 3 (três) escolas que oferecem
matutino. curso noturno. Sendo de' importância para o
posicionamento do Departamento de Enferma­
4. ANÁLISE E DISCUSSÃO gem frente à administração da UFSCar quanto
DOS RESULTADOS à possíveis mudanças nas características do
curso, obtivemos, por via telefônica, a informa­
O Quadro 1 mostra as características das ção de que a parte teórica do curso é ministrada
escolas consultadas, segundo respostas obtidas n0 período noturno e os estágios são realizados

l
\ MEDIAS P-OR- ESCOLAS
1984 a 1991
1 00 -rr.====,��:==�--=----,-,'-'--"=-:-'--'c"-----=-JI!:'!!
1 1 0 FORMADOS
-------�

90 O MATRICULADOS

I��;;;;;S�O_.....J
60

70

60

_____ � __ C___--,D
B=-_-= -
=-_ E�__F�__G
-= -
-=-__-_

Gráfico 1 'Média de alunos matriculados, de alunos formados e de evasão das escolas de


-

enfermagem em tempo parcial, nos anos de 1984 a 1991.

R. Bras. Enferm., Brasilia. v.47, n.2, p.134-143, abr.�un. 1994 137


nos períodos matutino, vespertino, ou em finais 1 989.
de semana. Na escola de Enfermagem de Ribeirão Preto
Verifica-se no Quadro 2 que os alunos tra­ - USP, segundo MISH I MA, referido por NAKA­
balham, predominantemente , na área de enfer­ MAE( 1 4) , em 1 986 , 1 987 e 1 988 , das 80 vagas
magem. Nas Escolas B, E e G existem alu nos oferecidas, foram preenchidas 1 2, 33 e 1 8 (com
que trabalham em outras áreas. re-opção atingiram 33 ingressantes) , respectiva­
mente, ou seja , menos que 50% das vagas .
É marcante o fato de que em todas as esco­
las o aluno trabalha. Não verificamos a causa . Também, no Gráfico 1 , observa-se- que o
Entretanto , é evidente que o curso em tempo índice de evasão está em tomo de 30% em 3
parcial favo rece o trabalho. Com a finalidade de (três) escolas (A, B, D) . Decresce para 25% na
se visualizar a situação do conju nto das escolas, F, para 20% na escola C e 1 0% na escola E.
utilizou-se o período de 1 984 a 1 99 1 , cujos Apesar da procura elevada , a evasão cuja
dados foram fornecidos por todas as escolas. causa não foi identificada neste estudo, ocorre
Não se sabe o n úmero de ingressantes da esco­ em todas as escolas. Há que se ressaltar a
la G, uma vez que foi informado apenas o núme­ pequena evasão que ocorre naq uelas em que se
ro total de matricu lados . oferece o maior n úmero de bolsas de estudo.
As escolas C e E tiveram 1 00% de preenchi­ Nas escolas públicas também a evasão está
mento de suas vagas; as escolas A, D e F presente ARCURI (5) relata que
tiveram entre 74% e 82% de suas vagas preen­
. . . n a Escola de Enfermagem da USP,
chidas e apenas a escola B teve a procura em
o número de estudantes que abando­
tomo de 20% .
nou o curso entre 1 9 76 a 1 98 1 foi de
U m fato bastante evidente é que, apesar de 1 5% a 1 7%, destacando 1 977 e 1 9 79,
os cursos serem pagos , a procura é alta . Isto cujo número ultrapassou a 25% do
pode ser determinado pelo fato de os cu rsos número de 80 ingressantes, abando­
serem oferecidos em tempo parcial, que por sua no considerado muito alto, principal­
vez possibilita ao aluno trabalhar no período da mente por se tratar de uma escola
tarde, u ma vez que todos os cursos funcionam gratuita.
pela manhã. As bolsas de estudos oferecidas
Nessa escola , KIMURA(9) analisou 44 eva­
pelas escolas podem contribuir para a manuten­
sões no período de 1 980 a 1 983, as quais ocor­
ção do aluno no curso.
reram, predominantemente , nos quatro primei­
Os dados demonstrados no Gráfico 1 vêm ros semestres, sendo que 44% dos alunos não
ao encontro à realidade encontrada por BRAN­ chegaram a freqüentar o curso. Ainda nesta
DI (6) em escolas privadas do mun icípio de São instituição, um Grupo de Trabalho sobre Evasão
Paulo, e que oferece ram cursos em tempo par­ Escola r(8 ) , verificou a tendência crescente da
cia l , n o período de 1 985 a 1 989, os quais tiveram evasão principalmente na seg u nda metade da
1 00% de suas matrículas efetivadas. BRANDI(6) década de 80, a partir dos seguintes pontos:
também verificou que em 2 (duas) escolas públi­ diminuição do número de alu nos concluintes em
cas (tempo integral) o n úmero de candidatos ao 4 (quatro) anos, au mento do n ú mero de desis­
vestibular diminuiu gradativamente e o número tentes; aumento do número de desligamentos.
de alunos matricu lados n u ma das escolas públi­
Na pesquisa de BRAN DI(6 ) , os índ ices de
cas foi de 50% , ou menos , em 1 986, 1 988 e
Quadro 3 - Atividades exercidas pelos docentes nas escolas particulares de enfermagem estudadas.
São Paulo, 1 992
Atividades que o Docente Desenvolve ESCOLAS
A B C D E F G
Ensino X X X X X X X
Pesquisa X X X X
Extensao X X
Administraçao X X X

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Quadro 4 - Vantagens dos cursos de Enfermagem em tempo pacial , seg u nd o d i retores e coor­
denadores de cursos das escolas. São Paulo, 1 992.
Vantagens DESCRiÇÃO DAS VANTAGENS ESCOLAS
Para A S* C D E F G
Possibilita ao aluno trabalhar no Derfodo da graduaçao X X X X X
Oportunidade para as pessoas que iá atuam na área se graduarem X X X
Facilita ao aluno que reside em outros municfpios e viaja diariamente X
O ALUNO
Permite o desenvolvimento de atividades extra-curriculares X X
Melhor a proveitamento acadêmico X
Diminui o estresse do aluno em relacao ao curso em tempo intearal X
Favorece a possibilidade de estudo, planejamento das atividades e X X
até mesmo exercer outras atividades profissionais com outros
O DOCENTE vfnculos emDreaatrcios
Maior integraçao com a equipe de enfermagem, mais contexto e I
X
prestaçao de cuidados aos pacientes pelo fato do estágio ser I
realizado das 7 às 1 3 horas, ou seja , durante toda a jornada de I
serviço . I

O C URSO Minimiza o problema de evasao que ocorria em tempo intearal I X X


Aumento da Drocura Delo curso X X
* As escolas B e F não relataram nenhuma vamagem.
evasão registrados nas instituições públicas no A atividade docente nas escolas particulares
final da década de 80 foi de 3 1 ,2% em 1 986 ; que oferecem cursos em tempo parcia l se con-
30,5% em 1 987 e 40% em 1 988, em d iferentes centra no ensino, como se pode o bservar no
escolas de enfermagem, índices muito supe- Quadro 3. Os docentes realizam a atividade de
riores em relação aos 1 6 ,9% e 2 1 , 1 0% registra- pesqu isa em 4 das 7 escolas respondentes. A
dos e m instituições privadas. atividade de administração é exercida e m 3 das
Seg u ndo M I RANDA( 1 2 ) , na Universidade 7 escolas e a atividade de extensão em apenas
Federa l do Rio de Janeiro (UFRJ) , a evasão do 2.
curso de enfermagem é de 30% . Entre 1 986 e Todas a s escolas que participaram do estu­
1 988, ocorreram 98 trancamentos de matrícula , do oferecem cursos no período matutin o e a pre­
sendo que 67% o fizeram pela primeira vez sentaram 20 vantagens (Quadro 4) e 1 1 desvan­
d u ra nte o ciclo básico , 1 5,3% não chegaram tagem para o curso em tem po parcial (Quadro
nem a cursar, 39,8% trancaram até o 3° período 5) .
do curso e 1 2 ,3% após cursar metade do curso . Quanto às vantagens, 7 contemplam o alu­
Os dados obtidos, bem como os já publica­ no, sendo as que mais se destacam são: a
dos indica m que a questão da evasão é tão possibilidade de o aluno trabalhar no período d e
preocupante quanto a baixa procura . graduação, apontada por 5 escolas; a oportun i­
ANGELO(3 ) coloca que dade das pessoas que já atuam n a á rea de se
g raduarem, citada por 3 escolas e a possibilida­
. . . o risco da evasl10 de alunos é um
de de desenvolvimento de atividades extracurri-
problema para a profissão, visto que
culares referida por 2 escolas, entre outras van­
muitos estudantes ingressam em cur­
tagens.
sos de enfermagem sem que este
seja a sua maior aspiraçl1o, e enfren­ Quanto às vantagens que contribuem para o
tam dificuldades pessoais e de apren­ curso de enfermagem, foram citadas por 3 esco­
dizagem durante o mesmo, levando las, o aumento da procura pelo curso, e por 1
um certo número deles ao abandono. escola a redução do índice de evasão.
Nesse aspecto , também parece que a pro­ Duas escolas apontam co mo vantagem do
blemática não é apenas u ma realidade brasilei­ curso de enfermagem em período parcia l , para
ra . Morris e Russo (1 979) in ARCURI(5) , de­ os docentes, a possibilidade de rea lizarem ativi­
mon stram a sua preocupação com a elevada dades relacionadas ao curso como plan ejamen­
taxa de abandono do curso de enfermagem, em to, pesqu isa, pós-graduação ou outras ativida­
Theorafare . des profissionais não vinculadas ao curso.

R . Bras. Enferm., Srasflia . v.47, n .2, p.1 34-1 43, abr./jun. 1 994 1 39
Quadro 5 Desvantagens dos cursos de Enfermagem em tempo parcial segundo diretores e
.
-

coordenadores de cursos das escolas

Desvantagens DESCRIÇAo DAS DESVANTAGENS ESCOLAS


Para A B* C D E F* G
Aproveitamento insatisfatório, em função do aluno exercer outras atividades além do X
curso
Disponibilidade restrita para o aluno estudar e executar as atividades programadas X X
O ALUNO Dificulta o desenvolvimento d e u m espírito universitário, pois em períodos d e estágio X
as twtnas não se encontram
Dificulta a freqüencia e uso da biblioteca pelos alunos, principalmente porque há X
dificuldade de locomoção cidade-escola
Dificuldade em realizar pesquisas extra-classe pelos alunos por falta de tempo X
Dificulta o desenvolvimento do curso em função de ser classes heterogêneas X X
Dificulta as alterações na estrutura curricular, principalmente no acréscimo de X
O CURSO disciplinas elou conteúdos programáticos
-
Diflfuldade na organização de aulas teóricas e estágios X
Distância do aluno com os pacientes e a equipe de enfermagem entre 5' a 2' feiras, X
' pois os estágios são realizados de 2' a 4' feiras

ADM I N I STRA- Dificuldade de comunicação geral da Faculdade com os alunos, pois quando iniciam X
ÇAO DA os estágios eles só vem à escola na 5- e 6- feiras

ESCOLA
* As Escolas B e F nao relataram nenhuma desvantagem

Das desvantagens, 5 (cinco) são relaciona­ que já atuam na área ,a oportun idade de s�
das com o desempenho e com o aproveitamento graduarem.
do aluno; 4 (quatro) relativas à organização e ao Existem mais vantagens que desvantagens
desenvolvimento do cursQ- e 1 (uma) é relativa à na oferta de um curso em tempo parcial.
administração da escola.
6. SUGESTÕES
5. CONCLUSÕES
Que sejam realizados outros estudos com o
Os curso de enfermagem em tempo parcial, objetivo de esclarecer as características dos
apesar de pagos, têm u ma procura relativa­ cursos de enfermagem em escolas públicas e
mente elevada . sua relação com a procura .
O oferecimento de bolsas de estudo parece Q u e sejam realizados novos levantamentos
contribuir para a man utenção do aluno na nas demais escolas não incl u ídas neste estu­
escola. do.
O curso em tempo parcial favorece ao aluno Que sejam realizados estudos junto aos alu­
a oportunidade de trabalhar. nos para identificar as vantagens e desvanta­
O curso em tempo parcial oferece às pessoas gens do curso em período parcial.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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magem da USP. Boletim Informativo da Esc. de En­ Escola de Enfermagem de Ribeirao Preto/USP, a bro
fermagem da USP, v.4, n .7, p.9-1 5, set. 1 988. 1 990.
1 0 . MANZOLLI , M.C. et aI. Caracterizaçao do estudante de 1 7. REZENDE, MA e RIVERA, S . F . Aceitaçao da Enferma­
enfermagem. Enf. Novas Dimensões, v.3, n.4, p.206- gem como profissao. Rev. Bras. de Enfermagem,
21 4, 1 977. v.32, n.1 , p.75-88, jan/mar 1 978.
1 1 . MARTINS, C.R. et aI. Satisfaçao do enfermeiro no de­ 1 8. SALUM, M.M.C. A visao da comunidade sobre o profis­
sempenho profissional. In: CONGRESSO BRASILEI­ sional de enfermagem . Rev. Bras. Enf. , v.32, n . 1 ,
RO D E E N FERMAGEM, 41 , 1 989. Florianópolis, p.75-88, janlmar 1 988.
1 989. p.83. 1 9. SILVA, G.B. Aspectos sociais da enfermagem. Rev. da
1 2. M I RANDA, M .C.L. e SAUTHIER, J. Evasao: um estudo Esc. de Enfermagem da USP, v . 1 5, n.2, p.205-21 0,
preliminar. Rev. Bras. de Enfermagem, v.42, n . 1 I4, 1 981 .
p.1 34-1 40, 1 989.
1 3. MISHIMA, S.M. A baixa demanda aos cursos de enfer­
magem: um perfil da profissao traçado pelos jovens.
Ribeirao Preto: Escola de Enfermagem de Ribeirao
Preto/USP, 1 990 (dissertaçao).
Recebido para publicaçao em 06. 1 2.93

R. Bres. Enferm., Brasllia. v.47, n.2, p.1 34-1 43, abr.�un. 1 994 1 41
ANEXO 1
ROTEIRO PARA LEVANTAME NTO DE DADOS SOBRE CURSOS DE GRADUAÇÃ O EM
ENFERMAG EM E OBSTETRíC IA OFERECIDOS EM TEMPO PARCIAL
Nome da I nstituição: ________________________

Endereço : ____________________________________
__
Tel: _____
_

Nome da Mantenedora : ___________________________________________

Nome do Diretor/Coord enador. ________________________________________

N° de habitantes da região onde está localizada a Escola: __________


_

Existem outras Escolas nessa Região? ____________________


Quantas : ____

Característica do Vestibular (próprio, quem organiza , etc) ________________

Ano de i n ício do Curso : _____________________ N° de vagas: ______

Houve a lteração do período e do nO de vagas? ________________________

Duração do Curso: _______________________


Carga Horária : _______

Horário do Curso: __________________


_
Horário do Estágio: ________

Tem serviço de secretaria no período em que funciona o curso? _________

Existem prog ramas de bolsas de estudo para alu nos? ____________________

Valor da mensalidade: _________________________________________


_

MATRICULADOS FORMANDOS EVASÃO


ANO N° ANO N° ANO N°

Profissão que exercem os alu nos : _______________________________________

N° de docentes : Profissionais: ------


Pré-Profissionais: ------

H u manas e exatas : _________________________________________


__

Tipo de contrato/doce nte : ___________________________________________

Ativid ade q u e exerce: Ensino: _______ Pes q u is a : ______________

Extensão: Administração : _______

Carga Horária Didática (docente) : ____________________________________


_

Enfoq ue do Cu rrícu lo: ___________________________________________


__

A teoria e a prática são concomitantes ou condensados? ________________

1 42 R. Bras. Enferm., Brasflia. v.47, n.2, p.1 34-1 43, abr.�un. 1 994
Q uais os campos de prática que utiliza :
Creche : Hosp. G e ra l : _____ (U I , CC, CM, PS, UTI , M I , PED.)
Escola Educ. Infantil : Hosp. Psiquiátrico: _____

Escola 1 ° g rau: Mater/Berç. : _______

Escola 2° g ra u : _______ Asilo: _________

Posto de Saúde: -------


Centro de Saúde: _____

I ndústrias : Outros: ------

características dos campos de prática :


N° alunos/g rupo: __________________________
_

N° Docentes: ______________________________________________________
_

Tipo d e Supervisão: __________________________


_

Porte do Campo Estágio: _______________________

Tem estág io fora da cidade? ____________________________________________

Neste caso é subsidiado? _____________________________________________


__
_

Os campos oferecem todas as experiências de aprendizagem? ____________________

Opin iã o dos alunos sobre o cu rso: ________________________________________

Opinião dos docentes sobre o curso: ______________________________________

Já ministrou outro tipo de Curso de Graduação em Enfermagem? Sim ___ Não ___

Q ual : ______________________---------

Avaliação do Curso em tempo parcial, do qual participa :


Vantagens Desvantagens

R. Bras. Enferm., Brasllia. v.47, n .2, p.1 34-1 43, abr.�un. 1 994 1 43

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