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(Imprensa Marginal – Org.

Domingos
Passos
Textos Reunidos

IMPRENSA MARGINAL
2017
Sumário

Domingos Passos: O “Bakunin Brasileiro”


por Renato Ramos e Alexandre Samis | pág 03

Federação Operária do Rio de Janeiro | pág.11

O 4o Congresso do Rio Grande do Sul | pág 13

Em Frente | pág.20

A F.T.R.J. Desejará a Pulso, Infeccionar-nos? | pág. 22

Perseguições Bernardescas | pág. 24

Sacco & Vanzetti | pág. 28

Federalismo e Centralismo | pág. 29

Socialismo e Anarquismo | pág. 33

A Federação Operária de São Paulo é uma Necessidade | pg.:35

Organização Operária | pg. 36

Breve Apresentação da Imprensa Marginal | pág. 37

*2*
Domingos Passos: O "Bakunin Brasileiro"

Renato Ramos & Alexandre Samis

“Eram 5 horas quando me levantei. O Passos,


acordado não sei desde que horas, estava sentado na
cama, lendo o “Determinismo e Responsabilidade”, de
Hamon.. Tomei a toalha e desci, para banhar o rosto.
Quando voltava do pateo, enxugando-me, vi dois
individuos, que logo tomei pelo que realmente eram, de
revolver em punho, dirigirem-se para mim,
perguntando asperamente.
- Onde está o Domingos Passos?
Prevendo uma dessas violencias de que o nosso querido
companheiro tem sido tantas vezes victima, senti forte
desejo de escondel-o e neguei sua presença, dizendo:
- Domingos Passos não mora aqui! ”
Esse pequeno trecho do depoimento do operário Orlando Simoneck
ao jornal A Pátria1, tomado em 16 de março de 1923, expressa
claramente alguns aspectos da situação então vivida por aquele rapaz
negro, carpinteiro de profissão2, anarquista e ativo sindicalista do ramo
da construção civil: o “camarada Passos” era, já naquele ano, o alvo
preferido da Polícia carioca e, se não o mais, um dos mais queridos e
respeitados militantes operários do então Districto Federal. Outra
característica notável de Domingos Passos, destacada no depoimento de
Simoneck, era seu incansável autodidatismo, sua sede pela instrução e
pela cultura, que o fazia varar as madrugadas devorando os livros da
pequena biblioteca de Florentino de Carvalho, que morava naquela
mesma casa da Rua Barão de São Félix, muito próxima da sede do seu
sindicato.
Domingos Passos era natural do Rio de Janeiro, tendo nascido,
provavelmente, na última década do século XIX3. Sua trajetória militante
está em grande parte ligada à sua organização de classe, a União dos
*3*
Operários da Construcção Civil (UOCC), fundada como União Geral da
Construcção Civil (UGCC) em abril de 1917. Apenas 2 meses após a sua
fundação, a UGCC já com mais de 500 filiados, conseguiu mobilizar
mais de 20.000 trabalhadores para o sepultamento dos 13 operários
mortos no desabamento do New York Hotel, que se transformou em uma
grande manifestação contra a ganância patronal. Nos rastro da greve
geral iniciada em São Paulo, a UGCC e outras associações de resistência,
declararam em 22 de julho de 1917 a extensão do movimento para o Rio
de Janeiro, tendo como consequência imediata o fechamento de várias
sedes sindicais pela polícia até o início de setembro e a prisão de vários
militantes4. Outra consequência nefasta para a luta dos trabalhadores, foi
o banimento da Federação Operária do Rio de Janeiro (FORJ), que só
veio a ser substituída em 18 de janeiro de 1918 pela União Geral dos
Trabalhadores (UGT).
Em 26 de junho de 1918, a UGCC mudou sua denominação para
UOCC. Em outubro desse ano, a epidemia de gripe espanhola causou a
morte de 12.000 pessoas no Rio de Janeiro e a fome assolou a população
trabalhadora, principalmente nos cortiços do Centro e nos subúrbios.
Criou-se então, a partir da UOCC, o Comitê de Combate a Fome, que a
despeito de suas intenções e da tragédia vigente, teve várias de suas
reuniões interrompidas pela polícia e quase todos os seus integrantes
presos5.
Em 18 de novembro de 1918, a UOCC participou ativamente da
tentativa de greve insurrecional, tendo sua sede novamente fechada no
rastro da repressão policial que se seguiu, desta vez por mais de 70 dias.
Centenas de operários foram encarcerados e a UGT, com apenas 9 meses
de vida, foi fechada por decreto federal.
Em abril de 1919, após um ano e meio de disputas internas entre os
anarquistas e a “facção conservadora”6, os primeiros elegeram uma nova
comissão executiva e conseguiram que a organização voltasse a ser
regida pelas Bases de Acordo originais (em dezembro de 1917, um
manobra dos conservadores havia “legalizado” um Estatuto que previa os
cargos de presidente e vice, e que nunca foi reconhecido pelos
libertários).
*4*
Em maio de 1919, a UOCC conquistou finalmente as 8 horas de
trabalho diário e, em julho, vários de seus membros participaram da
fundação do novo organismo federativo, a Federação dos Trabalhadores
do Rio de Janeiro (FTRJ).
Nos meses de setembro e outubro de 1919, uma feroz repressão foi
desencadeada contra as associações de resistência do Rio de Janeiro. No
dia 10 de setembro, a sede da UOCC e de várias outras entidades de
classe foram atacadas pela polícia, com dezenas de prisões efetuadas. No
dia seguinte, a Federação dos Trabalhadores do Rio de Janeiro (FTRJ)
convocou uma manifestação de protesto contra a violência policial, que
degringolou em um conflito que resultou feridos em ambos os lados.
Foi durante esse duro período que registramos a primeira aparição
“oficial” de Domingos Passos, quando este foi eleito, em 16 de outubro
de 1919, o 2o Secretário da UOCC e, em dezembro desse mesmo ano, 1o
Secretário para o período de janeiro a julho de 19207. Destacamos, no
entanto, que o fato de Domingos Passos ter passado a ocupar tais cargos
na organização em um momento tão difícil, indica que sua trajetória na
UOCC vinha, no mínimo, de alguns meses antes.
Domingos Passos foi indicado, junto com José Teixeira8, delegado
da UOCC no 30 Congresso Operário Brasileiro (1920), quando foi eleito
Secretário Excursionista da Confederação Operária Brasileira9. Ao ser
escolhido para tal cargo, Passos certamente já se destacava no campo do
proletariado organizado por sua inteligência e oratória, cultivada no
cotidiano de lutas de sua categoria. Segundo Pedro Catallo10, Passos era
“dono de uma oratória suave, envolvente e agressiva o mesmo tempo,
multiplicava a afluência aos comícios, desejosa de ouvi-lo falar. Quando
terminava, havia sempre um grupo de intelectuais que desejava falar-lhe
e conhecê-lo. Depois, raramente chegava ao seu domicílio porque a
polícia cercava-o no caminho e levava-o para o xadrez, onde repousava
de quinze a trinta dias por vez.”
A repressão durante todo o governo Epitácio Pessoa foi brutal, com
um sem número de deportações de militantes anarquistas, prisões,
torturas e assassinatos, fechamentos de sindicatos e empastelamentos de
jornais operários. Em outubro de 1920, a polícia dissolveu à bala uma
*5*
passeata de trabalhadores na Av. Rio Branco e, não satisfeita, novamente
assaltou a sede da UOCC, ferindo 5 trabalhadores, prendendo 28 e
deportando outros 8 operários11.
O movimento operário sentiu os golpes, e declinou a partir de 1921.
Os sindicatos “amarelos” e “cooperativistas” se fortaleceram
rapidamente, e passaram a disputar a hegemonia de diversas categorias
com os sindicatos revolucionários. Entre os anarquistas, desmoronaram
as esperanças na Revolução Russa, com a chegada das notícias sobre a
repressão bolchevique, notadamente o massacre de Kronstadt, em março
de 1921.
Em 16 março de 1922, nove dias antes da fundação do Partido
Comunista, a UOCC publicou o documento Refutando as afirmações
mentirosas do Grupo Comunista12, declarando sua incompatibilidade
com os comunistas de estado, os “bolxevistas”. Lá, certamente estava o
dedo de Domingos Passos. Os militantes da Construção Civil foram, por
toda a década de 1920, os oponentes mais ferrenhos e intransigentes da
doutrina bolchevista, encarnando a consciência crítica e, em
determinados aspectos, punitiva, dos quadros comunistas.
Em julho de 1922, no rastro do esmagamento da revolta dos
tenentes do Forte Copacabana, a repressão fechou o jornal O Trabalho,
órgão da UOCC, do qual Passos foi assíduo colaborador. Um novo
bastião dos anarquistas na imprensa ficou a cargo de outro militante da
Construção Civil, Marques da Costa, redator da Secção Trabalhista do
jornal A Pátria.
Em 1923, continuamente perseguido pela polícia, Domingos Passos
afastou-se da Comissão Executiva da UOCC e passou a se dedicar à
propaganda e à organização federativa, tendo viajado duas vezes ao
Paraná13 para colaborar com as organizações locais. Durante todo o
primeiro semestre deste ano foi um dos principais articuladores da
refundação da Federação Operária do Rio de Janeiro (FORJ), já que a
FTRJ, sob o controle dos bolchevistas, agonizava e, cada vez mais,
aproximava-se taticamente da Confederação Sindicalista Cooperativista
Brasileira (CSCB), entidade que congregava desde sindicatos
colaboracionistas até entidades como a Liga de Defesa Nacional e o
*6*
Centro Industrial do Brasil14. Quando a FORJ reapareceu, em 19 de
agosto de 1923, Passos foi eleito para o Comitê Federal15.
Domingos Passos, assim como os intelectuais José Oiticica, Carlos
Dias e Fábio Luz, era frequentemente convidado para conferências nas
sedes sindicais. Também participava ativamente dos festivais operários,
atuando nas peças teatrais, declamando e palestrando sobre temas sociais.
Certamente, foram esses festivais alguns dos poucos momentos de lazer
que Passos usufruiu em sua vida de rapaz trabalhador e ativista sindical.
A FORJ, refundada por seis associações de classe (construção civil,
sapateiros, tanoeiros, carpinteiros navais, gastronômicos e o Sindicato de
Ofícios Vários de Marechal Hermes), até meados de 1924 teve a adesão
de mais cinco categorias importantes: fundidores, ladrilheiros, ferradores,
metalúrgicos e operários em pedreiras. O sindicalismo revolucionário, a
despeito da repressão estatal e das manobras bolchevistas, se fortalecia
sob a orientação da FORJ, que organizava uma conferência intersindical
e planejava para 1924 o 4o Congresso Operário Brasileiro.
Em julho de 1924, todo esse afã organizacional foi ceifado pela
repressão que se seguiu à nova revolta dos tenentes, agora em São Paulo.
As sedes sindicais foram invadidas e fechadas, e centenas de anarquistas
encarcerados. Domingos Passos foi um dos primeiros a serem presos e,
após 20 dias de sofrimentos na Polícia Central16, foi recolhido ao navio-
prisão Campos, fundeado na Baía de Guanabara. Sua permanência por 3
meses na embarcação caracterizou-se por momentos de profunda
privação e constrangimento. Embarcado no navio Comandante
Vasconcellos17, enfrentou mais 22 dias de suplícios junto a outras
centenas de cativos (anarquistas, soldados revoltosos de julho de 24,
ladrões, malandros, cáftens, imigrantes pobres, mendigos), inaugurando
em dezembro de 192418 a fase prisional da Colônia Agrícola de
Clevelândia, o “Inferno Verde” do Oiapoque, no atual Estado do Amapá.
Após alguns meses nessa “Sibéria Tropical”, onde os maus tratos e
as doenças dizimaram centenas de homens, Domingos Passos conseguiu
fugir para Saint George, na Guiana Francesa. Entretanto, as febres
adquiridas na selva o obrigaram à buscar medicamentos em Caiena,
tendo sido acolhido fraternalmente por um créole, que o ajudou a
*7*
recuperar as forças19. Da Guiana, seguiu para Belém, onde permaneceu
por algum tempo amparado pela solidariedade ativa do proletariado
organizado daquela capital.
Domingos Passos estava entre os que retornaram ao Distrito
Federal após o estado de sítio imposto por quase todos os quatro anos do
governo de Arthur Bernardes (1922/1926). Ao chegar ao Rio de Janeiro,
no início de 1927, retornou ao ativismo sindical, mesmo sofrendo das
sequelas do impaludismo, contraído no Oiapoque. Nesse mesmo ano,
mudou-se para São Paulo, onde atuou na reorganização da Federação
Operária local (FOSP) e na articulação do Comitê de Agitação Pró-
Liberdade de Sacco e Vanzetti20, tendo ainda participado do 4o Congresso
Operário do Rio Grande do Sul, realizado em Porto Alegre.
Em agosto de 1927 foi preso durante um meeting pró-Sacco e
Vanzetti no Largo do Brás, e levado à temida “Bastilha do Cambucí”,
onde permaneceu por 40 dias sujeito à toda sorte de maus tratos. Solto,
saiu de São Paulo em direção ao Sul do país, perseguido em todos os
cantos, conseguindo chegar a Pelotas, onde foi preso e embarcado à força
em um navio para Santos21. Ao chegar nessa cidade, conseguiu fugir e
voltar a São Paulo, vivendo oculto por algum tempo até que, em
fevereiro de 1928, foi preso juntamente com o operário sapateiro Affonso
Festa22.
Segundo Pedro Catallo23, por ordem do delegado Hibraim Nobre, Passos
foi deixado incomunicável por mais de três meses em um cubículo de 2
m2 da “Bastilha do Cambuci”, escuro e sem janelas, recebendo
alimentação apenas uma vez por dia. Ao ser retirado da cela imunda,
tinha o corpo coberto de chagas e vestia apenas trapos. Foi embarcado
em um trem e enviado para morrer nas matas da região de Sengés, no
interior ainda selvagem do Estado do Paraná. Algum tempo depois,
conseguiu abrigo neste povoado e pôde escrever para os camaradas de
São Paulo solicitando dinheiro, que foi-lhe levado em mãos por um
emissário.
Aí terminou a trajetória conhecida deste que foi um dos mais
influentes e respeitados ativistas do anarquismo e do sindicalismo

*8*
revolucionário de seu tempo. Nunca mais se teve qualquer notícia dele,
apenas boatos esporádicos e nunca confirmados.
Não foi à toa que Domingos Passos ganhou de seus
contemporâneos a alcunha de “Bakunin brasileiro”. Poucos como ele se
entregaram de tal forma ao Ideal e sofreram tanto as consequências dessa
dedicação à luta pela emancipação dos homens e mulheres. Durante
apenas uma década, em grande parte passada nas prisões e nas selvas
tropicais, Passos tornou-se a grande referência de militância libertária e
social de seu tempo...e do nosso também!
Nossos passos seguirão os seus, Passos!

***

Referências
1
A Pátria, Secção Trabalhista, 16/03/1923.
2
“Memórias” manuscritas de Pedro Catallo in Edgar Rodrigues. Os
Companheiros 2. VJR Editores Associados Ltda. Rio de Janeiro, 1995.
3
Leal, Juvenal. Histórico da União dos Operários em Construcção Civil
(18 de março de 1917 a 31 de dezembro de 1919). Edição da União dos
Operários em Construcção Civil, 1920. (disponível no site .
4
Ibidem.
5
Ibidem.
6
Ibidem.
7
Ibidem.
8
Rodrigues, Edgar. Nacionalismo & Cultura Social (1913-1922).
Laemmert, 1972, p.307.
9
Ibidem. p. 314.
10
Rodrigues, Edgar. Os Companheiros 2, p. 26.
11
Rodrigues, Edgar. Nacionalismo & Cultura Social (1913-1922). p.
335-336.
12
UOCC .Refutando as afirmações mentirozas do Grupo Comunista.
Edição da União dos Operários em Construcção Civil, 1922. (disponível
no site www.insurgentes.nodo50.org)
*9*
13
A Pátria, Secção Trabalhista, 08/07/1923.
14
Castro Gomes, Ângela. A Invenção do Trabalhismo. São Paulo:
Vértice; Rio de Janeiro: IUPERJ, 1988, p. 160.
15
A Pátria, Secção Trabalhista, 18/10/1923.
16
A Plebe, 26/02/1927.
17
Samis, Alexandre. Clevelândia: Anarquismo, Sindicalismo e Repressão
Política no Brasil. São Paulo: Ed. Imaginário; Rio de Janeiro: Achiamé,
2002, p. 194.
18
A Plebe, 12/03/1927.
19
A Plebe, 26/02/1927.
20
Rodrigues, Edgar. Novos Rumos (História do Movimento Operário e
das Lutas Sociais no Brasil, 1922-1946). Rio de Janeiro, Edições Mundo
Livre, sem data.
21
Panfleto “Trabalhadores Conscientes, Procurae saber o paradeiro de
Domingos Passos” (1928). Arquivo Biblioteca Social Fábio Luz.
22
Rodrigues, Edgar. Novos Rumos. op. cit. p. 278.
23
Ibidem, p. 279.

*10*
Federação Operária do Rio de Janeiro1
Rio, outubro de 1923
Por Domingos Passos
Prezados companheiros:
A moção seguinte foi aprovada unanimemente quando a 18 do mês
passado se realizou a instalação solene desta federação. Publicamo-la na
imprensa mas tudo faz crer - é mesmo certo - que o nosso apelo não
tenha chegado ao conhecimento da maior parte daqueles a quem nos
dirigimos. Eis porque a convertemos nesta circular.
Esperamos que nos compreendas e faças tudo para compreender
nossa incitação e aos esforços que aqui realizamos pela reorganização
aos trabalhadores do Brasil.
Eis a moção:
A Federação Operaria do Rio de Janeiro, iniciando solenemente
uma nova fase de organização sindical vem concitar-vos a abandonar o
estado de letargia a que quase todos os trabalhadores do Brasil se
entregam há mais de dois anos, e a vir decididamente trabalhar conosco
na formidável obra que devemos levar a efeito, reorganizando os
trabalhadores da extensa região brasileira.
Nunca, como agora, se impôs a necessidade de congregarmos em
torno do nosso rubro pavilhão para opor forte, indestrutível barreira á
ganancia capitalista, que nos assoberba a todos, e a invasão retrograda do
1
Moção publicada na Secção Trabalhista do jornal A Pátria (Rio de Janeiro), no dia 18 de
outubro de 1923. Esta moção já havia sido publicada no dia 18 de setembro, porém sem a
chancela de Domingos Passos. Junto a esse texto, veio o selo confederal da FORJ, com seu lema
"Bem Estar e Liberdade".
F.O.R.J. - O Comité Federal da FORJ reúne-se amanhã, segunda-feira, as 20 horas, na
séde da Associação dos Carpinteiros Navaes, á rua da Saúde 345 sobrado. - Domingos Passos,
secretario adjunto.
Nota publicada na Secção Trabalhista do jornal A Pátria (Rio de Janeiro), de 11 de
novembro de 1923.

*11*
conservantismo que em volumosas ondas ameaça submergir o frágil batel
das reivindicações proletárias.
Ainda há pouco tempo, eram as leis celeradas apontadas como
recurso do conservantismo, contra as nascentes conquistas libertárias. E
hoje após um volumosos acervo de antiquadas tiranias ressuscitadas,
desaparecem, na inundação avassaladora do retrocesso, o direito de
reunião, o direito da livre associação, o direito da livre manifestação do
pensamento.
A exploração é a lei!
A greve, eis o crime!
A submissão, o servilismo, a bajulação - a moral.
A independência, a dignidade, a rebeldia - o delito.
É o regime feudal que se impõe. Os de sangue "azul" são hoje os
pergaminhados, os titulados, os endinheirados.
Contra essa nova casta de exploradores, levantemo-nos, tal qual novos
Espártacos, armados da rebeldia construtora, esclarecidos á luz
vivificante do Ideal, na barricada da Emancipação humana!"

Domingos Passos, secretario do Comitê

*12*
4o Congresso do Rio Grande do Sul Visto por
Domingos Passos 2

"O 3o. Congresso Operário do Rio Grande do Sul'', realizou-se no


governo de Artur Bernardes, sob os efeitos das deportações e expulsões
de trabalhadores estrangeiros, e com a intervenção de alguns partidários
do bolchevismo, cujo partido embrionário já influía nos debates,
provocando desarmonia entre o proletariado. Todavia, assim mesmo, o
sindicalismo continuava vigoroso naquela região sulina, menos atacada
pela repressão do governo bernardista . Dir-se-ia que era o único reduto
da liberdade em terras brasileiras, pois, ali ainda se permitia a realização
de um "4o. Congresso Operário", de amplas proporções anarco-
sindicalistas.
Domingos Passos, um dos mais ativos militantes anarco-
sindicalistas, que participou do 4o. Congresso, presta o seu depoimento.
"Com a chegada da delegação de Porto Alegre no dia 2, iniciou-se
os trabalhos do Congresso.
Estavam representados os seguintes organismos:
“Federação Local de Porto Alegre'', "Trabalhadores de S . Paulo",
"Federação da C . T. do Pará", "Sindicato de Canteiros de Santos", "Liga
Operária de Pelotas", "Sindicato de Ofícios Vários", "Vila Petrópolis",
Bagé, "União G. dos Trabalhadores", "União Geral dos Trabalhadores de
Uruguaiana", "Sindicato dos Canteiros de Porto Alegre". "União
Operária Beneficente de Caciqui", "União O. Beneficente de Alegrete",
"Liga O. Internacional", Poços de Caldas, "Sindicato dos Canteiros do
Capão do Leão", entre outros.
Fizeram-se representar também: "Grupo Libertário de S . Paulo",
"Grupo Cultural Livre Pensamento", "Grupo Braço e Cérebro", "Grupo
de Propaganda Social do Pará", “Grupo de Propaganda Social de
Pelotas", "Grupo GerminaI do Rio Grande".

2 Domingos Passos, havia sido deportado de São Paulo, para o Oiapoque, campo de
concentração na selva amazônica, de onde fugiu para participar deste Congresso.
*13*
Ao iniciarem-se os trabalhos, o secretário da "F.O.R.G.S." propõe
que fosse aclamado um relator e um secretário para os trabalhos, sendo
apontado o 1o. representante dos trabalhadores de S. Paulo, que recusa
alegando estar encarregado de elaborar os relatórios para as organizações
que representa.
Constitui-se a mesa, com os delegados João Martins e Pinto.
Florentino propõe que os delegados libertários devem ter voz e voto
no congresso, aconselhando, também, que se aumente o número de
representantes, sendo aprovado.
Reduzindo, após propor que o secretário fosse efetivo, lê as
condições funcionais da "Federação Estadual", dizendo que durante todo
o ano não foi recebida nenhuma contribuição, e que a "Federação Local
de Bagé", está em idênticas condições.
Florentino historia o movimento da "Federação O. de Porto
Alegre", mostrando como se desenvolveu a campanha pró Sacco e
Vanzetti - tendo, por esta ocasião, sido levados a efeito 30 reuniões
públicas, que das organizações operárias, a única que em Porto Alegre
corresponde às necessidades do momento, é o "Sindicato dos Canteiros".
Lembra a greve dos marítimos, que, apesar de ter sido filiada à
federação, desviou-se deste caminho, enveredando pela ação indireta,
estando, porém, atualmente, em vias de entendimento com a Federação.
Movimenta-se agora o "C.F.", no sentido de organizar os
ferroviários.
João Francisco fala sobre os estivadores de Pelotas, dizendo que
entre eles trabalha-se para a organização, ao lado dos trabalhadores
revolucionários, tendo ultimamente realizado duas reuniões, nas quais
Passos falou longamente, propondo a ação direta.
Pinto chama a atenção do Congresso para a organização de
Uruguaiana, onde os militantes predominam na “União Geral", que é um
dos mais sólidos e confortáveis edifícios sociais, cujos associados lutam
agora pela aquisição de uma tipografia para a publicação de um jornal.
Mostra como Uruguaiana está destinada a influir na cidade
argentina Libres, tendo a sociedade desta cidade pedido filiação à
"Federação de Uruguaiana". Não só no norte da Argentina esta
*14*
organização pode desenvolver a propaganda, mas também ao norte do
Uruguai e do Paraguai.
O "Comitê Pró-Presos e Deportados" declara que distribuiu bônus
pró-deportados do Oiapoque 3, não tendo até certa data sido recebidos.
Procedendo-se à leitura dos temas apresentados, verificou-se que
todos eles coincidem sobre a organização, sendo colocado que se
começasse a discutir "do sindicato à confederação".

1a. PARTE

Pinto, representando a organização operária de Uruguaiana, propõe


a formação de uma associação denominada "Associação Proletária
Regional Gaúcha", que seria o conjunto de todas as associações operárias
do Estado, e que estas associações perdessem por completo o seu caráter
retintamente sindicalista, abandonando a sua norma de combate ao
patronato pelas conquistas imediatas. Acha que o mal que sofrem
atualmente os trabalhadores, deve-se ao sindicalismo, ainda que se diga
revolucionário.
Exemplificando, diz que em Bagé existe um grupo que se
denomina "Federação Operária do Rio Grande do Sul", e outro que se
denomina "União Geral", e assim por diante. Que, em Porto Alegre,
apesar dos inúmeros títulos de organizações e Federações, só existe, em
verdade, o "Sindicato dos Canteiros".
Passos, usando da palavra demonstra o que a respeito concluiu o
"3o. Congresso Operário Brasileiro", quando aconselhou que aos
sindicatos de ofícios, preferíssemos o sindicato da indústria, e, quando
estas fossem insuficientes devido ao pouco número de seus aderentes,
ainda teríamos o recurso dos sindicatos de ofícios vários.
Florentino define lucidamente que o trabalho de organização
divide-se em duas partes: a primeira, de preparação da mentalidade, e a

3 Oiapoque, região amazônica escolhida para construção de um campo de trabalhos forçados,


pelo governo de Artur Bernardes. Lá perderam a vida alguns dos mais esclarecidos militantes
operários: José Alves do Nascimento, Nicolau Parada, Biófilo Panclasta, Pedro Augusto Mota
e Nino Martins, entre outros.
*15*
segunda, depois de ter feito compreender a necessidade da organização;
então, é chegada a ocasião de lançar a organização.
A principal necessidade é de que cada um procure dedicar-se com
todo o ardor a organizar os trabalhadores nas localidades onde residem .
Depois então, de haver séria organização nos locais onde residem,
devem dedicar-se aos lugares afastados.
Pinto é contrário à organização sindicalista, procurando evitar até o
nome de sindicato que, a seu ver, tem causado desorientações aos
militantes anarquistas; que as necessidades de momento e da região o
levou a propor a organização de "Associações Proletárias Sociais", que
admitam em seu meio todos os proletários manuais e intelectuais de
todos os ofícios, em conjunto, as quais corporificarão a "Federação
Operária do Rio Grande do Sul", que passará a denominar-se
"Associação Proletária Regional Gaúcha" .
Nos moldes adotados pela F.O.R.A. e dos U.S.A., cheios de vícios,
condena em absoluto o sindicalismo, quer seja ele neutro ou
revolucionário; é pela organização moldada pelos métodos bakunianos,
que, segundo ele, foram experimentados em 1870, e, mais tarde,
desviados de sua rota inicial por elementos sindicalistas.
Florentino fala da organização por ofícios ou por indústrias,
afirmando ser um fenômeno da organização capitalista, as quais, na
expressão da luta, não representam mais que simples órgãos de defesa à
exploração burguesa. Para demonstrar a falência destes órgãos, cita o
caso de Sacco e Vanzetti, dizendo que, neste caso, primeiro tratavam os
sindicatos de seus interesses, deixando a solidariedade para não
prejudicar o organismo.
O sindicato não corresponde à transformação igualitária e
econômica. A organização, baseada nos moldes apresentados no
Congresso, não é novidade, já tendo sido experimentada em muitos
países da Europa e em S. Paulo, onde milhares de trabalhadores
estiveram agregados em associações proletárias, dando os melhores
resultados.
Quanto à finalidade, acha que deve ser anarquista; não é o
anarquismo que afugenta os trabalhadores das associações operárias.
*16*
As discussões consumiram nada menos que três sessões de 4 horas
cada uma. Motivado pela oposição do delegado de S. Paulo, que
procurava demonstrar a todo o transe que qualquer profunda
transformação na estrutura orgânica das associações operárias poderia
atirar todas as associações nas mãos dos nossos inimigos.
Na quarta reunião, iniciada terça-feira, 2, às 9 horas, Pinta terminou
com a seguinte proposta:

"a) Adotar um sistema de organização compatível com as necessidades


da região e da propaganda, formando somente com as nossas
organizações, a se constituírem em "Associações Proletárias Locais".
b) Estas organizações declaram-se anti-estatais, combatendo todas as
manifestações que visem consolidar ou reformar o Estado, e,
particularmente, a manifestação religiosa, por considera-la um êmulo do
mesmo e um dos maiores obstáculos à evolução natural do cérebro
humano.
c) As "Associações P. Locais" darão corpo à "Federação P. Regional".
d) As "Federações P. Regionais" darão corpo à "Confederação P.
Brasileira".

Florentino continua em sua severa crítica ao Sindicalismo, dizendo


que por ele chegamos à concepção sindicalista do anarquismo, em vez de
chegarmos à concepção anárquica do sindicalismo.
Reduzindo fala do movimento e dos desvios da "Federação Unitária
da França", da "Federação Nacional da Espanha", e de outros organismos
federativos da Europa e do U.S.A., que lhe merecem veementes censuras.
Elogia a organização da "F.O.R.A”.
Pinto, aparteando, toma a palavra. para dizer que tendo militado
muito tempo na Argentina, observou que, tanto no U.S.A. como na
F.O.R.A. , existem bons militantes anarquistas, e que todos os dois
organismos faltam a sua missão histórica, por culpa exclusiva da doutrina
sindicalista; tendo os defeitos originários desta doutrina. Continuando,
afirma que as organizações que pretende não são sindicalistas nem
anarquistas, e que, tão pouco pretende a organização de grandes massas.
*17*
Devemos trabalhar seriamente pela organização do maior número
possível, e, dentro destas organizações, procurar propagar o nosso ideal e
os nossos métodos de luta. Se o sindicato no sul não tem correspondido à
expectativa foi por causa, como se tem observado, das próprias
declarações dos delegados; os anarquistas aparecem nos sindicatos como
estranhos, superiores ou messias; acham que nos devemos confundir com
os trabalhadores, e não destacar-nos; é preciso que nossas palavras
encontrem eco no coração do povo, e não se assemelhem a ordens ou
lições. Concorda que os anarquistas formem agrupações suas, e, que,
depois destas formadas, procurem arrastar para elas todos os homens,
indistintamente.
Mostra como a incompreensão das nossas atividades, pode levar os
trabalhadores a um descalabro.

2a. PARTE

Como auxiliar as Federações?


João Martins e Deontino propõem diversas percentagens.
Florentino concorda com o método adotado nos 2.° e 3.° congressos
nacionais, e no 3o. de Porto Alegre. O congresso, concordando com as
propostas apresentadas, lembra a conveniência de se adotarem cadernetas
federais para todo o Estado, e que as organizações paguem 25% sobre as
cotizações, sendo 10% às federações locais e 15% de auxílio estadual. As
que estiverem aderidas diretamente à estadual, pagarão 25% a esta.
Foi proposta e aceita a volta da "Federação Estadual" para Porto
Alegre.

3a. PARTE

Da confederação
Dada a palavra ao representante dos trabalhadores do Pará e S.
Paulo, este estende-se em considerações sobre o trabalho dos 3
congressos operários brasileiros, demonstrando que a reorganização da
"C.O.B.", não poderia ser considerada como uma obra arbitrária pois iria
*18*
o "Congresso do Rio Grande do Sul" dar vida a um organismo criado no
"1o. C.O.B. ", e referendada pelos dois congressos nacionais que se
seguiram.
O movimento sindical do Brasil, e o estado em que se encontra, ao
menor descuido nosso, deita por terra a obra de organização que tantos
sacrifícios nos tem custado. Podemos contar com o apoio dos
trabalhadores que representam no congresso, além das organizações
revolucionárias do Rio e Ceará, que nos acompanharão. E termina
propondo a criação de um "Comitê de reorganização da C.O.B .",
composto dos camaradas "F.O. do Rio Grande do Sul", de S . Paulo, do
Rio e do Pará, e que Este "Comitê pró-reorganização da Confederação",
publique, o mais brevemente possível, a "Voz do Trabalhador".
Sendo aprovado, o congresso escolheu o militante Domingos
Passos como representante da "Federação Operária do Rio G. do Sul", no
Comitê.
Militantes de Porto Alegre propõem que a Confederação tenha orientação
genuinamente anarquista.
O delegado de S. Paulo e Pará, diz que a orientação da
Confederação será traçada pelo "4o. Congresso O. Brasileiro", de cuja
realização irá empregar esforços o "Comitê da Reorganização da
C.O.B.".
O Congresso, reconhecendo a necessidade de continuar a
publicação de "O Sindicalista", como órgão da "F.O. do G.S.", resolve
que o mesmo saia com o formato do Boletim da C.E. do 3o. C.O.", a fim
de facilitar sua tiragem nas oficinas tipográficas da mesma Federação.
E assim terminaram os trabalhos do 4o. Congresso Operário do Rio
Grande do Sul", debaixo da maior fraternidade possível.

*19*
Em Frente4
Ao Partido Comunista
Por Domingos Passos
Li na “A Pátria” a proclamação do Partido Comunista.
Felizmente para nós, os trabalhadores ligam pouco ao que se diz,
procurando antes observar o que se faz.
Entre os capítulos desta proclamação há alguns que merecem
reparos.
Mostrar, dizem eles aos operários, a vossa condenação contra os
que só se ocupam em promover questões pessoais no vosso seio, porque
eles são lobos vestidos de cordeiros.
Realmente isso têm feito os trabalhadores. Ocorre-me até um fato
interessantíssimo.
Quando o Sindicato dos Ladrilheiros tratou de federar-se, uma
comissão foi enviada aos dois organismos federativos e, coisa
interessantíssima, entre eles verificou a comissão que a “ordem do dia”
do C.F. só constava de dois casos “sérios”: discussão sobre a
Confederação Cooperativista, sobre a vida particular de dois militantes
libertários, sendo que um dos membros da referida comissão até
declarara não ter ido ao CF da F.T.R.J. para saber de coisas privadas de
dois camaradas.
Poderão afirmar que a F.T.R.J. não é o Partido Comunista. Neste
caso, eu daria a palavra ao camarada Manoel Fellipe, então freguês do
boticário do partido.
Ele, Manoel Fellipe, que há algum tempo estava afastado da
organização e que há muito não me via, procurou-me um dia para contar-
me da maneira por que os “inimigos das questões pessoais” diziam ali,
dos anarquistas, as maiores infâmias.
Felizmente para nós, anarquistas, este companheiro - ao contrario
dos outros - procurou sindicar a verdade dos fatos e no dia seguinte,
quando voltou á “botica”, onde tinha contratado algumas injeções - que

4 Artigo publicado na Secção Trabalhista do jornal A Pátria (Rio de Janeiro), no dia 4 de


maio de 1924.
*20*
não eram da vida alheia! - teve ocasião de desmentir aquela e outra
invencionice que se propalava a meu respeito...
E é por isso, simplesmente por isso que dia a dia os trabalhadores
vão abandonando os embusteiros, enveredando pelo caminho da
organização operária, não para fortalecer nenhum partido “socialista” ou
burguês, e sim para fortalecerem a si mesmos, nos seus organismos de
resistência e de combate as explorações da sociedade atual.
Quando a organização operaria tiver atingido o apogeu almejado,
uma das suas principais preocupações é a de atirar por terra não só o
partido “socialista” (dito Comunista) como todos os partidos.
Não é de partidos que precisamos. Os partidos são cacos e os cacos
só tem uma utilidade: a de encher as “garis” e ir aterrar a Sapucaia.
Precisamos é de "inteiros" e estes só se conseguem com a
“organização sindicalista revolucionária”, que une, que eleva, que
constrói.
E é isto mesmo que têm feito os trabalhadores, apesar da ultra-
dionisíaca literatura socialista, bolchevista, e “dita” comunista dos
transfugas do nosso meio, apesar da viagem de Canellas pela Europa, de
onde veio dizendo algumas verdades (e por isso foi expulso do Partido
Comunista do Brasil), apesar ainda do envio de Astrogildo, que já
começou a pregar mentiras, pois lá se tem dito representante do
operariado brasileiro, quando os seus próprios amigos - depois do nosso
protesto - vieram o desmentir.
Felizmente, por toda a Europa já a esta hora os nossos camaradas
estão prevenidos de que o proletariado brasileiro não enviou nenhum
representante á Rússia dos ditadores, com quem não desejamos firmar
qualquer acordo de revolução ..."moscovita".

*21*
A F.T.R.J. Desejará a Pulso, Infeccionar-nos?5
Por Domingos Passos

Há elementos que, interessados em manter afastados do


proletariado organizado do Rio de Janeiro as valorosas associações dos
padeiros, marmoristas e alfaiates, vivem a rotularem-se de secretários
perpétuos da Federação dos Trabalhadores...Não se levante a costumada
gritaria sobre o que escrevemos! Vou demonstrar apenas verdades,
verdades que não possam levantar nem admitir explorações.
A Federação dos Trabalhadores do Rio de Janeiro foi de fato uma
força organizada, mas desde que elementos seus começaram a “dançar de
urso em corda bamba”, ela foi perdendo o prestigio inicial e hoje não é
mais que um rapazoide cadáver a pedir a creolina salvadora que a livre
dos bacilos aristotelisticos do colaboracionismo.
A primeira e séria infecção deu-se quando dos eflúvios das
diminutas palmeiras, saiu a divina inspiração das fracassadíssimas
“Coligação”, “Clarte”, etc.
Aqueles que gritavam: “ficarei sozinho na liça a defender os nossos
princípios...”, foram os primeiros a bater a linda plumagem em busca de
melhores achegos e sinecuras prefeiturais, pois como disse o grande
sábio inglês Ellick Morn, "o estômago é tudo" e o resto são farofas, como
diria qualquer Sabarabussú do alto da Urca ou de ao pé do Corcovado.
Deviam compreender esses tipos que é chegado o momento de
deixar que os trabalhadores se levantem, unidos, coesos e firmes, não
para enviarem deputados ao parlamento, mas para conquistarem, por suas
próprias mãos a sua emancipação.
Que o trabalhador brasileiro é avesso á politica, prova melhor não
podíamos citar de que o abandono a que chegam essas organizações.
A "Coligação" foi um caso típico. Seus fundadores, pessoas da
envergadura moral de Evaristo de Moraes, Mauricio de Lacerda, Nicanor

5 Artigo publicado na Secção Trabalhista do jornal A Pátria (Rio de Janeiro), no dia 9 de


maio de 1924.
*22*
Nascimento, os irmãos Palmeiras, Mancio Teixeira e tantos homens de
relevo, viram claramente que o fracasso não podia ser mais retumbante.
Competência havia, em demasia: porém, os trabalhadores só
assistiam a uma reunião, e quando se retiravam porque lhes fora vedada a
palavra, alguém que estava presente dissera: “são os arruaceiros da
Construção Civil. Aqui não queremos desta gente; queremos
organizadores, queremos capacidades.”
As capacidades lá ficavam. E a Coligação? Descoligou-se... por
efeito de uma lei física que eu talvez desconheça.
Depois foi a “Clarté”, com sua diretoria perpétua... depois o Partido
Laborista Brasileiro, e por fim o Partido Comunista do Brasil. Os
trabalhadores que se encontravam entusiasmados com a revolução Russa,
aderiram ao novo organismo politico. Mas a União dos Operários da
Construção Civil desta vez ainda pode cair em guarda, aparar o golpe e
sair vitoriosa. Hoje o partido vive... partido. E a ex-Federação dos
Trabalhadores do Rio de Janeiro vem recebendo vários e profundos
golpes, dos quais, exangue e exausta, foi cair nos amoráveis braços da
Confederação Cooperativista.
Uma das suas aderentes, porém, a mais forte sem duvida - o Centro
dos Canteiros - acaba de dar-lhe o tiro de misericórdia.
Coitadinha! Quer morrer onde nasceu...
Que o Sabarabussú te deite a bençam e a Mãe-Rússia perdoe os
teus desacertos, te deseja, Domingos Passos.

*23*
Perseguições Bernardescas 6
Por Domingos Passos

Muito se tem dito sobre as barbaridades praticadas contra o povo


nos dias em que para a desgraça da nação reinava no catete o celebérrimo
e fervoroso Católico Apostólico e Romano Arthur Bernardes e na Rua
dos Inválidos, o marechal Escuridão e o coronel Metralha.

Nestes ominosos tempos era de enlouquecer a pemanência na


geladeira da Central. No Brasil, é, aliás, norma antiga das autoridades
maltratar presos, especialmente os que o são por delito de opinião.

Os "muleques cinco", os "bahias", os "vinte e quatro", os "za-la


morte", "padeirinhos", etc., sempre contaram com o beneplácito protetor
de muitas autoridades, especialmente dos agentes de polícia.

Quantas vezes, em minhas inúmeras prisões, não ouvi discussões


entre os "Pifarais" e o "Sizenandos" sobre quotas diárias que pagavam
para fazerem os trens da Central, bancos e avenidas, etc.

Com que avidez e solicitude eram procurados na geladeira para


levarem recados aos advogados, etc. E, no entanto, mal caia, na cadeia,
um anarquista, o mínimo que faziam era anunciar aos outros presos que o
infeliz possuía esta ou aquela quantia escondida - e o resultado era um
natural espancamento.

Em 1924, porém, as coisas foram ao auge.

Com raríssimas exceções, ninguém escapava aos bárbaros castigos.


Noite sim, noite não, aparecia o Barreirinha, 26 e outros mais e todos os
infelizes saiam, um por cada vez, para sofrer os terríveis espancamentos.

Com o camarada Paiva deu-se um caso típico.

6 Artigo publicado no jornal A Plebe, no 250, de 1o de maio de 1927.


*24*
Entre os guardas da geladeira havia um tal denominado Barreto, ou
coisa semelhante. Com pretensões a intelectual, todas as noites que
estava de serviço procurava, conosco, manter discussão.

Fugíamos todos a tal discussão, pois sabíamos de antemão, que esse


individuo estava procurando pretexto para mais uma bravata. O mesmo,
porém, não aconteceu com o nosso camarada Paiva, que todo mundo no
Rio conhece por andar vendendo "A Batalha", "A Communa" e "A
Plebe", por toda a cidade e nas horas de folga.

Provocado, este camarada manteve a discussão e, numa ocasião em


que se discutia o internacionalismo, o pançudo guarda gritou:

“– Cala a boca, galego!

– Não calo, – retrucou o camarada – foi você quem me desafiou


para discussão.

– Não calais? Tornou o carrasco, vou te mostrar como nós te


fazemos calar.”

Dizendo isto, abriu o pesado portão e procurou arrastar o nosso


camarada, que procuramos impedir.
O camarada Paiva pedia-nos que o deixássemos dar uma lição
naqueles bandidos e, depois de muito lutar, não tivemos mais meios de o
evitar. Saiu! Mal pôs o pé para fora das grades, o carrasco deu a volta á
chave e pegou num cacete, dirigindo-se para ele. O nosso camarada
advertiu que se lhe desse uma cacetada teria de se arrepender.

Não pestanejou o carrasco; levantando o pau e, quando tentou arria-


lo na cabeça de nosso camarada, viu-se preso por ele, e, apesar de seu
paquidérmico ventre, foi bater-se ao chão, conjuntamente com o nosso
camarada. Barreto, vendo-se em maus lençóis, gritou e logo acudiram
dois guardas civis e uma agente de policia, procurando todos tirar o pau
que já então se achava nas mãos do nosso camarada. Novos tombos, indo
todos quatro parar num bolo a um canto da sala.
*25*
Ai, Barreto, com voz suplicante, pedia ao camarada que largasse o
pau pois não lhe faria mal algum, ao que o nosso camarada não acedia.

Estiveram pelo chão mais de 5 minutos, findos os quais, apossando-


se Paiva inteiramente o pau o quebrou, dizendo que aquele não
espancaria mais ninguém. Depois disto, levantou-se e dirigiu-se para o
xadrez, como se nada lhe tivesse acontecido.

No dia seguinte, uma turma de agentes retirou nosso camarada da


geladeira, levando-o para os compartimentos superiores.

Passou-se mais de meia hora e nós julgávamos já que o Paiva havia


mudado de presidio quando ele chegou em lastimável estado.

O rosto cheio de equimoses, sinais de unhadas no pescoço e nos


pulsos e uma facada na perna direita.
Trazia-o um agente, que vinha exaltadíssimo. O nosso companheiro
contou-nos haver sido agredido por mais de doze agentes e que se
defendera valentemente de todos, tendo antes quebrado duas palmatorias
e um pau com os quais haviam pretendido espanca-lo.

Contou-nos ainda que estando agarrado por muitos esbirros, um


agente branco e gordo lhe cravara uma faca na perna, dizendo: “–
Aguenta, português!” Ao que, respondera: “– Ah! Covardes!”. E
mostrou-nos a ceroula toda ensanguentada”

Todos os presos verificaram horrorizados os ferimentos do nosso


camarada.
Por muito tempo guardamos a ceroula do camarada para, quando
saíssemos da cadeia, mostrarmos pelos jornais como eram tratados na
policia os presos políticos; porém, como os dias se passaram, e os meses
e os anos, e o nosso camarada foi deportado, tudo ficou olvidado, e , só
agora pelo escândalo do caso Conrado Niemayer é que me lembrei deste
caso, dos espancamentos dos nossos camaradas quando saíram da
geladeira para o navio Campos e os horríveis chibateamentos na entrada

*26*
deste fatídico navio, onde tanta infâmia se cometeu que até se torna
impossível descrever.

*27*
Sacco e Vanzetti7
Por Domingos Passos

Camaradas!
Não vos deveis esquecer que se aproxima a data escolhida para a
execução destes bravos camaradas pela plutocracia norte-americana. De
vez em quando, aparecem notícias da revisão do processo e outras
quejandas, que, a meu ver, são lançadas para arrefecer o entusiasmo da
solidariedade internacional.
É necessário ativar a agitação em prol desses dois camaradas. Que
esta agitação não esmoreça, enquanto não chegar ao nosso conhecimento
a completa libertação destes idealistas.
Lembremo-nos que a comutação da pena seria a mais infame das
condenações pois, à prisão perpétua devemos preferir a morte. Assim
como a solidariedade obreira sustou, por sete anos, a eletrocução, esta
mesma solidariedade elevada ao mais alto grau há de dar-lhes a completa
liberdade.
Lembremo-nos, camaradas, que a causa Sacco e Vanzetti é a causa
do proletariado internacional. Assassinados estes dois companheiros, na
América, imediatamente aparecerão na Itália, Espanha e outros países
mais camaradas a serem assassinados. Lembremo-nos que, há pouco
tempo, também no Brasil se pensou restabelecer a maldita pena de morte.
É preciso criar-se no proletariado uma mentalidade tal que, em
nenhuma hipótese, se admita a ideia da pena de morte.
O proletariado de São Paulo está se agitando sobre este caso. É,
portanto, preciso que no Rio e por todo o Brasil os comícios de protesto
se sucedam, mostrando aos exploradores a nossa resposta contra este
assassínio legal que a América pretende cometer.

7 Publicado em A Plebe, 25/06/1927


*28*
Federalismo e Centralismo 8
Por Domingos Passos
A vida é o resultado da associação natural das forças da natureza.
Quando há miríades de séculos, os habitantes do planeta já
existentes observavam o espaço ao redor do nosso atual Sol, eles haviam
de descobrir uma pequena névoa, girando-lhe ao redor. Com o perpassar
monótono do tempo, aquela névoa foi se unindo, congregando,
solidificando, até adquirir uma forma que, com os movimentos de
rotação e revolução que lhe imprimiam as leis da gravidade e a atração
solar, tornou-se redonda e um pouco achatada nas extremidades. A Terra
é, portanto, o resultado da associação de forças e elementos diversos. A
água é também o resultado da associação de diversos gases, entre eles o
oxigênio e o hidrogênio. Os corpos sólidos, líquidos e gasosos são,
portanto, o resultado da associação de gases e forças diversas.
A vida, enfim, não existiria se a associação não fosse uma verdade.
É por isso que nenhuma razão ou lógica assiste aos individualistas ou,
mais acertadamente, aos egolatristas.
O homem, para não sofrer as sanções da natureza, precisa estudar
suas leis, para, com conhecimento de causa, delas poderem auferir o
máximo resultado possível. Contra as leis da natureza, a vida tornar-se-ia
em sofrimentos, torturas e morte.
E a natureza não perdoa nunca. A dor é o látego com que a natureza
nos chama atenção para todas as infrações de suas leis.
Por ela nos lembramos das necessidades fisiológicas, por ela
evitamos o fogo que abreviaria nossa vida, a água que nos asfixiaria pela
falta de oxigênio livre para nossos pulmões, etc. Quantos suicídios não
tem esse latejo natural evitado que se perpetrassem?
Nenhum homem chegaria a velhice se a natureza não estivesse
sempre alerta, com a fiscalização da dor, para impedir que o gênero
humano desaparecesse. Há tantos momentos nos quais todos os homens
8 Publicado em A Plebe, n° 257, 06/08/1927
*29*
se sentem dispostos a desertar da vida, que, apesar dessa sanção, alguns
conseguem fazê-lo.
É que a mãe Natureza quer que a vida seja bem vivida e o mais
amplamente possível.
A classe trabalhadora quer viver, precisa viver e tem direito a viver.
Para isto deve estudar as leis da natureza e segui-las com o máximo
conhecimento possível.
A lei suprema da natureza é a Harmonia.
Os trabalhadores modernos querem a harmonia, para que a vida
humana caminhe para a felicidade...
Forças diversas formam os elementos, elementos diversos formam
as nebulosas, nebulosas diversas evoluem até formar os mundos.
Estudando estas forças nos elementos, veremos que elas agem
autonomamente e que, apesar de unidas, não perdem a sua autonomia ou
sua liberdade.
O oxigênio que se uniu ao hidrogênio e hoje formou a água, nada
perdeu de sua qualidade, de sua essência a amanhã, naturalmente deixará
o seu companheiro e irá alimentar a combustão do organismo de algum
peixe, transformado pelas guelras dele, sem que por isso tenha também
perdido sua qualidades intrínsecas.
É por isso que, querendo viver de acordo com as leis da natureza,
os trabalhadores optaram pelo federalismo. Federalismo é uma doutrina
que, ao contrário do Centralismo dos políticos e dos sotaina, congregam
homens diversos em organismos ou sociedades na federação, sem perda
da autonomia societária. Congregam ainda as federações nas
confederações e, estas, nas internacionais, mantendo impoluta a
autonomia em toda sua plenitude. Nada de escravidão: internacional,
confederal, social ou individual.
Tal qual as relações existentes entre as constelações solares, os
planetas, satélites, cometas, os minerais, os vegetais, os animais, etc. A
vida enfim.
*30*
Suprema harmonia, na qual todos vivendo sua vida própria,
concorrem para a vida total...
O Centralismo, ao contrário, é a negação da autonomia do
indivíduo, colocada nas mãos do presidente ou do presidium ou seu
organismo ou partido político. Negação ainda deste partido político ou
organismo colocado nas mãos dos chefes da Internacional...
Internacional!!!? Não, só erradamente ou mistificadamente pode-se
na linguagem centralista falar em federações, confederações e
internacionais ou internações.
Em centralismo, formado o partido ou seita, os chefes deste partido
ou seita dão ordens e todos os seus adeptos cumprem-nas sem hesitação,
sem discussão.
Haja vista a Igreja Católica Apostólica Romana, a mais formidável
organização centralista que o mundo possui.
Na igreja, não há federação de católicos da China, França, Portugal
ou Brasil. Ela é a Igreja Católica Apostólica Romana em todo o mundo
porque o poder da igreja está centralizado nas mãos do Vaticano.
Os partidos de atuação religiosa, sabendo o quanto repugna ao povo
trabalhador e aos homens pensantes o centralismo, procuram mistificar
as suas pretensões com os nomes de federações, confederações e
internacionais.
A federação e confederação presume-se a reunião de indivíduos
livres numa mesma cidade, região ou nação.
Internacional é o livre acordo estabelecido por cima das fronteiras
ou divisão política dos povos, é enfim, o auxílio mútuo praticado entre
nações.
Não, camaradas, a única doutrina compatível com o
desenvolvimento intelectual e social do século, é a negação da
escravidão, o estabelecimento da sociedade livre das peias que o
obscurantismo e a ignorância de um lado, e a desenfreada ambição do
outro criaram.
*31*
Unamo-nos, pois, ao redor do rubro pendão do federalismo
anárquico, para o estabelecimento de uma sociedade de iguais, onde os
chefes, presidiuns e presidentes sejam amargas recordações do passado.

*32*
Socialismo e Anarquismo 9
Por Domingos Passos

Apreciador de vossa bem feita revista, venho com estas linhas opor
algumas objeções à brilhante colaboração: “Es el anarquismo una
doctrina liberal o socialista?”, na qual o camarada A. Delfin-Meunier
expõe a sua concepção das doutrinas socialistas e liberais.

Afirma esse camarada que “o liberalismo pretende limitar na maior


medida do possível a intervenção do Estado nos fatos e relações sociais;
pretende desenvolver a iniciativa pessoal, assegurar o bem estar para
todos pelo jogo natural das forças econômicas.”

É certo. Porém, apesar de todos os pesares, o socialismo bate-se


pela socialização de todos os meios de produção.

Socialismo é um vocábulo que designa todos os sistemas que se


batem pela socialização de todos os meios de produção.

Meios de produção compreende-se todos os verdadeiros valores


naturais e sociais: solo, subsolo, quedas d’águas, maquinaria, etc., todos
os valores sociais pertencentes à sociedade. O anarquismo é a negação de
governo, isto é, é uma modalidade do socialismo, segundo a qual a
sociedade pode viver sem governo ou poder coercitivo.

O socialismo pode ser libertário ou autoritário; libertário quando


luta pela socialização dos bens terrestres negando o Estado; autoritário,
quando deseja a socialização superintendida pelo estado.

O socialismo, quando libertário, é também chamado comunismo


anárquico. O socialismo, quando autoritário é designado pelos nomes de
social-democracia, marxismo, bolchevismo, ou ainda republica socialista,
etc.

9 Carta aberta aos camaradas de Acción, São Paulo, Junho de 1927


*33*
Socialismo é, pois, a face econômica da questão social. Socialismo
é a igualdade econômica, anarquismo é a liberdade. Os socialistas-
anarquistas são os que se batem pela igualdade e pela fraternidade. Os
comunistas não anarquistas, os que, tal como os republicanos, pretendem
dar ao povo uma liberdade econômica sob a escravidão política.

Por isso, mais uma vez afirmo que o anarquismo é a concretização


máxima das doutrinas socialistas.

*34*
A Federação Operária de São Paulo é uma
Necessidade 10
Por Domingos Passos

Quem observa o entusiasmo crescente do proletariado paulista vem


ultimamente demonstrando pela organização, deve chegar a conclusão de
que é necessária a organização ou reorganização de uma federação local,
que terá a seu cargo a reorganização de muitos sindicatos operários
desaparecidos nos embates da luta social.
Não pode prevalecer a mania de que não existem organizações
capazes de formar uma federação local. Há em São Paulo organizações
operárias de vida já firmada nas lides proletárias e de real valor social,
como muito bem tem demonstrado a União dos Gráficos, a União dos
Artífices em Calçados, a União dos Chapeleiros, a Internacional, a União
dos Canteiros e outras ainda em via de fundação, como a União dos
Ofícios Vários, etc.
Ora, constatada a efervescência proletária, muito lucrariam as
organizações operárias se, ao lado desta atividade, um comitê federal,
agindo inteligentemente, se encarregasse da organização e orientação de
núcleos operários, evitando a dispersão de energias e atitudes que se bem
coordenadas levariam ao apogeu o desejo de associação que se manifesta
nas massas trabalhadoras.
É tempo, camaradas, de pensarmos seriamente na necessidade de
mantermos altivo o princípio da solidariedade obreira, o qual, no
federalismo, encontra a máxima concretização.
Ao lançar esta ideia, convido a manifestarem sua opinião para,
assim, podermos julgar sua oportunidade.

10 Publicado em 09/07/1927 sem local de publicação


*35*
A Organização Operária11
Por Domingos Passos
O sindicalismo operário foi a doutrina procurada pelos nossos
antecessores para oporem ao desvirtuamento das teorias, orientações e
táticas do socialismo primitivo.
O sindicalismo é o método de organização segundo o qual os
trabalhadores, separando-se dos burgueses, patrões, políticos ou parasitas
sociais, formam a sua associação afora e à parte de toda jurisprudência
burguesa, posto que pretende estabelecer leis em benefício exclusivo de
seus iguais.
O verdadeiro sindicalismo é revolucionário, porque procura
estabelecer novas normas nas relações sociais. A ação direta é a principal
característica dos sindicatos operários revolucionários, em contraposição
à ação indireta, que constitui a norma das organizações operárias de
orientação marxista ou socialistas, burguesas ou indefinidas.

11 Publicado em 09/07/1927, sem local de publicação


*36*
Uma Breve Apresentação da Imprensa Marginal

Há tempos a cultura, a informação e as ideias criadas pelo ser


humano são tratadas como mercadoria geradora de lucros e poder, se
mantendo nas mãos de uma minoria que tem em mãos não só o
conhecimento, mas também os meios de produção e difusão dos mesmos.
Partimos da ideia de que a informação não é produto, e deve estar
nas mãos de tod@s. Buscando sair da lógica do lucro e do mercado, do
comércio de ideias e informação, produzimos e difundimos nossos
livretos a baixos custos, cobrando apenas um valor coerente ao seu custo
real – referente à cópia, montagem e auto-sustentação do projeto. Assim,
pensamos e elaboramos nossos livretos como algo mais do que uma capa
envernizada, brilhante e colorida, ou um papel couché: como algo mais
do que um belo produto que seja sucesso de vendas e esteja nas estantes
das melhores livrarias.
Pensamos no livro como difusor de informação, gerador de senso
crítico e questionamentos individuais e coletivos, como propulsor de
novas ideias. Não queremos ser sucesso de vendas, não queremos
nenhum livreto best seller. Acreditamos que o direito de reprodução e
difusão não é propriedade de quem os cria ou edita.
Contra a ideia de propriedade intelectual, apoiamos a pirataria e a
livre cópia. Informação, ideias, inventos, criações: nas mãos de tod@s, e
não mais propriedade e monopólio de uma indústria cultural! A Imprensa
Marginal é um grupo anarcopunk que traduz, reedita e difunde materiais
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