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O ALFERES Ano 8 - N° 24 O ALFERES Revista trimestral de informacao e doutrina sobre assuntos de Policia Militar, editada pela Policia Militar do Estado de Minas Gerais. Comandante-Geral Cel PM Jair José Dias Conselho Editorial Cel PM Amauri Meireles Ten-Cel PM Josemar Trant de Miranda Ten-Cel PM Herbert Magalhdes Maj PM Anténio Caetano de Almeida Jinior Maj PM Edgar Eleutério Cardoso Revisdo Ten-cel PM Herbert Magalhaes Maj PM Lucio Emilio do Espirito Santo Administragao Academia de Policia Militar — Divisdo de Pesquisa Rua Diabase, 320 — Prado 30460 — Belo Horizonte/MG Tel.: 291-5133 — Ramal 119 Telex: (031) 8275 O Alferes.n 1 — 1983 — Belo Horizonte, Academia de Policia Militar da PMMG Quadrimestral Trimestral a partir do n° 8/1986 1, Policia Militar — Periddico 2. Policia Militar do Estado de Minas Gerais Periddico. DD 355.05 CDU 355.11 (05) SUMARIO APRESENTAGAO sea Se ase saat 5 DOUTRINA Tecnicas e Métodos Cientificos Aplicados ao Policiamento Ten-cel PM Josemer Trant de Miranda en) INFORMACGAO Alferes, a palavra Oscar Vieira da Silva... eee eee weeeeeee 77 A Miss Dif cil do Advogado dos Inconfidentes Ricardo Arnaldo Malheiros Fidza. 2.0... eee eee eee eee 96 JURISPRUDENCIA Tribunal de Justiga do Estado de Sao Paulo Mandado de Seguranca n° 9.842-0 — Delegados de Policia — Venci- mentos — Igualdade com Vencimentos do Ministério Publico ....... 107 Apelacdo Civil n° 110.880-1. Infracdo de transito. Apreenséio de veicu- lo. Ato praticado por Sargento da PM, enquanto autoridade publica... 110 LEGISLACAO Resolucdo n° 2458, de 15 de outubro de 1990 Dispée sobre a atuacao da Policia Militar com vistas a operacionalizar, no 4mbito de suas atribuigées, 0 novo ESTATUTO DA CRIANCA E DO ADOLESCENTE ». 2 525.225.% Hao $8 Fa Se ee * 115 DOCUMENTOS Sfntese dos resultados finais do Encontro ce Oficiais Chefes de 49 Secéo de Estado-Maior Ten-Cel Fortunato de Nazareth Ribeiro ....-.. 2.2. . +5 . 121 APRESENTACAO Abre este némero de “O Alferes” um importante trabalho do Comandante 2 APM, Tan-Col Josomar Trant de Miranda. Preocupado com a qualidade da formacdo do policial militar ¢ com os servigos que presta 4 comunidade, detende a tese segundo ¢ aual 6 possivel, atrovés de mecanisimos que indice, preparar a policial para no apenas agir, mas também raciociner como policial. E em torno dessa idéia que desenvolve seu trabe. [Ro que pode abrir novas portas para o ensino especializado nas escolas de formacéo de Policiais-militares, tornando-0 de fato um homem preparado para exercer sua fungso em 10da sua inteireza, j que aliaria, em sue formac3o, o “fazer” 20 “prever’, a acdo a pre- viso. A monogratia do Ten-Cel Trant, pelo que traz de inovador, pode vir a dar nova dimen. so 8 formaco do policial-militar. A Secdo Informagéo traz dois artigos relacionedos, diretamente um, indireta- mente © outro, as rafzes € tradi¢Ges da Policia Militar de Minas Gorsis. O primeira, do Professor Oscar Vieira da Silva, da APM, aborda a palavra “alferes”, tanto sob o aspecte filoldgico quanto sob o aspacto historico, mostrando sua origem, sua antigiiidade e sux longa tradicao, sempre ligada 4 vida militar. 0 conhecido Professor Dr. Ricardo Arnaldo Melheiros FiGea gentilmente autorizou a publicaggo de trabalho seu sobre uma das per. sonagens ligadas 3 Inconfidéncia Mineira @ das menos estuidadas: José do Oliveira Fagundes, © advogado dos Inconfidentes, Na Sogo Jurisprucéncia, publicam-se dois acOrdéos do Egrégio Tribunal de Jus tiga do Estado de Sdo Paulo: a Apelagdo Civel n? 110.880-1 € 0 Mandado de Seguranca no 8.452.U. O primeiro refere-se a questéo de transito, na qual atuou decisivamente Sar- gento da Policia Militar daquele Estado. O Mandado de Seguranga foi impetrado por Dele- Sado: de Policia do Estado, contra ato do Governador, visando a assegurar a percencéo de vencimentos nas mesmas bases vigentes para o Ministerio Pablico, Ambos os acordéos GHlo-nos verdadeiras licBes de Direito, como gerelmente ocorre com as decis6es do Earégio Tribunal de Justica daquela unicade da Federagio, razéo pela qual o Conselho Editorial deciciu dar-ihes divulgacSo nas paginas de ““O Alteres'’ Publica-se também, na secdo prépria, 9 Resolugo 2458, de 18 de outubro de 1990, que “‘Dispde sobre a atuacdo da Policia Militar com vistas » operacionalizar, no Ambito de suas atribuigdes, 0 novo Estatuta da Crianga e do Adolescente”. Neste momento em que se procura integrar o Pas na modernidade @ no assim chamado Primeiro Mundo, nada mais justo do que prateger aqueles que, afinal, fardo essa transicdo © dela se bene ficierdo. Na sua condi¢o de guardié da sociedade, dave 9 Policia Militar integrar-se a ela na defesa das novas geracdes as quais, como lembra © Comandante-Geral, Coronel PM Jair José Dias, nos “considerando”” da Resolucdo, “Deve ser dispensads protecio inte- gral” Finalmente, reproduz-se também neste numero, na seco Documentos, a “’S{n- tese dos Resultados Finais do Encontro de Oficiais chetes da 4? Seco da Estado Maior.” © documento relata o Encontro realizado em Pocos de Caldas, de 16 a 19 de agosto de 1989, Trata-se de documento da maior importéncia, pais reproduz as decisoes que deve crientar os estudos de logfstica da Corporacdo, além de se constituir, por isso mesmo, em quia para “‘adogi0 de uma nova postura profissional diante dos problemas logis Corpora”, como se ressalta em sua Introduc&o, postura essa que se embasa nas dis- cuss6es levadas a efeito no Encontro. Nesta oportunidade, o Conselho Editorial de “0 Alferes" relembra que nosso re- Vista 6 0 foro de debate das questdes atinentes es assuntos concernentes & Corporagao 0 que suas paginas estéo abertas aqueles que se cisponham a, por intermédio dolas, veicular seus vrebalhos que se enquadrem em sua linha editorial, CONSELHO EDITORIAL DOUTRINA TECNICAS E METODOS CIENTIFICOS APLICADOS AO POLICIAMENTO. Ten Cel Josemar Trant de Miranda: Resumo: O autor defende a tese segundo a qual o policial pode ser formado tendo em vista nao apenas o agir como policial. mas tam- bém o raciocinar como policial. Aponta as medidas que devem ser tomadas a tim de transmitir aos paliciais-militares 0s canhecimentos © habilidades mentais que redunderiam no que chama “tino policial”. Para tanto, propée a introdugdo de nova disciplina no plano de ma- térias da instrucéo policial. 4 qual denomina “Metédos e Técnicas aplicados ao policiamento.”* "Comandante da Academia de Polfcia Militar INTRODUGAO 1 OCONTEXTO A partir de 1969, a Pol{cia Militar de Minas Gerais ¢ a maioria das policies mili- tares do Pais, por fora do contide no Decreto- Lei 657/89, voltaram seus estorcos para a manutengéo da ordem publica. © ingresso de expressivo efetivo de policiais militares nas atividades de seguranga pUblice mantave, durante cerca de um lustro, em niveis facilmente tolerdveis, a criminoli- dade violenta nos grandes centros urbancs. Para fazer face a0 crescimento da criminalidade, as policias militares se equipa- ram com os meios indispensavels zo incremento das operacdes — comuntcagdes, transpor- te @ armament — ao mesmo tempo em que aprimoravam os recursos humanos de que dis: punham. Nos anos oitenta 0 problema assumiu maiores proporcbes. Enquanto em algumas organizagdes a solucgo encontrads foi investir cada vez mais em equipamentos, inclusive com a colocacdo da informética na dinamica das operacées policiais, outras, como a PMMG, somaram aos recursos da informética 9 adogéo de doutri nas, através de idéias-forca ‘Apés uma racionslizagio administrative, ecorrida em 73/74, em que a corpo- racdo alijou de sua estrutura vérios érgéos que pouco ou nada tinham a ver com a manu- tengo da ordem piblice, houve em 81/82 outro corte substancial na atividade-meio da Polfcie Militer. A idsia-force vigente era, entao, “tudo pare a atividade-fim”. No perfodo 85/86, a idéia-forca que orientou a doutrina f rer com qualidade e objetividade’’. ‘Além de abranger 2s atuacdes enquadrades como “socorrimento piiblico” visa- ve-se @ outro objetivo: a qualidade do servica prestado. A qualidade do servico prestado & decorrente da qualidade do servidor que presta 0 servico. Concomitantemente com o crescimento do apoio em equipamentos, a Policia Militar de Minas Gerais cresceu em efetivo. A situagdo do efetivo da Corporagéo em 1969 é a seguinte: — no Estado, 2 PMMG tem 01 policial para cads 444 habitantes; — na Regigo Metropolitana de Belo Horizonte — RMBH — a Policia Militar dispde de 01 policial para cada 604 habitantes. E verdade que hé teoris recentes preconizando que 0 aumento em progressio aritmética ds populacgo corresponde ao aumento em progresséo geométrica dos proble- mas de seguranga publica, |4 que a criminalidade resulta das relagdes entre pessoas € quanto 10 ‘proteger e socor- maior for a possibilidade de combinegdo dz relagGes, maior a possibilidade de ocorréncia de delitos. (1) Essas teorias, no entanto, tm servido para reforgar a idéia de que a majoragSo do efetivo da policia ostansiva ¢ proporcional ao crescimento da populagio @ a0 aumento de resideéncias, vilas e bairros de um aglomerado urbano. Isto € verdadeiro apenas em parte. Partindo desse argumento teremos em bre- ve © gigantismo de policia ostensiva, com todas as implicagées que isto acariete: dificul- dade de controle; excesso de burccracia; erescimento exagerado da atividade-meio; nivela: mento dos salérios por baixo, ete. Para proporcionar seguranga publica sem resvalar no gigantismo da organiza- $80 policial, hé que se apoiar em dois aspectos: a tecnologia € os recursos humanos. A transformagéo gradual da pirdmide que representa a hierarquia e o efetivo da Polida Militar, em um losango, aumentando 0 efetivo dos postos e graduagaes inter- mediérios, esté inserida nessa politica de aperfeicaamento dos recursos humanos A respeito do assunto, recentements pronunciouse 0 Cel PM Jair José Dias: “Tanto a Policia Civil como s Policia Militar devem fundementer a sua evo- lugéo numa estratégia da recursos humanos. O Estado da Minas Gerais ndo quer nem pode contar com a policia mais numerosa, mas quer e pode contar com @ melhor policia do Pats. Homens e mulheres com adequada base huma- nistica @ cientifica, tecnicamente capecitades para as tarefas, moral € psica- logicamente preparados para o trato com a sociedade, amantes da ordem tan- to como da liberdade, constituem a condi¢ao e a garantia de uma organizacao Policial moderna, atuante, respeitada e admnirada”. (2) Ha necassidade, pois, de que a Policia Militar de Minas Gerais, como também. as outras policias do Pais, d8em saltos qualitativos, tanto no aspecto tecnoldgico como No aprimoramento dos recursos humanos. A proposta deste trabalho ¢ fornecer a alavanca que possibilite & corporagio um salto qualitative, em termos de recursos humanos. Pretende-se, através da introdugo de métodos e téenicas cientificas na execu do do policiamento—ostensivo € velado — aumentar o rendimento da acéo policial, seja ela preventiva ou repressiva. Aumentando 0 rendimento da acéo policial de cada integrante da Policia Mi- litar, obtém-se maiores resultados na manutengdo da ordem publica, sem que, necessaria: mente, s@ tenha que adicionar novos recursos tecnoldgicos @, prineipalmente, sem quo so tenha que aumentar 0 numero de policiais-militares. Observe-se que se pretende @ utiliza¢io de métodos @ técnicas cientificas na execugo do policiamento, individual mente ou através da guarnigao da radiopatrulha Com efeito, métodos @ técnicas ciontificas jé vém sendo utilizados hé algum tempo no planejamento das acdes policizis @ na execugdo de agées policiais de grande envergadura. Nao se aventou a hipotese @ muito menos se preparou o executante das acces Policiais de rotine — 0 soldado, 0 cabo, o sargento € 0 oficial subeltemo das policies mi itares — para a utilizagao de tais métodos no desenvolvimento didrio de sua atuagdo. ay Esta teoria vern sendo defendida pelo Cel PMMG Amauri Meireles. (2) DIAS, Jair José. Anotagdes sobre Seguranga Piblica Belo Horizonte: Academia de Policia Militar, 1988. (Mimeogratadol. " Naturalmente que néo se trate de um substitutivo para a instrugdo policial mini trada atualmente pela Policia Militar de Minas Gerais e de suas co-irmas. Esta instrucao & necesséria e tem-se revelado adequeda para a execucao da atividade-tim da corporacao. Pode ser aperteicoada com a introdu¢do dos métodos propostos. Examinando 0 que ver sendo ministrado nas disciplinas “Criminal ist “Policiamento Ostensivo’’ nos diversos cursos da Policia Militar de Minas Gerais, verif case que no hé, nos contetidos ou nos procedimentos didaticos, a preocupagio de desper- tar oinstruendo para o problema tratado neste trabalho. 2 JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS Dols indicadores preocupam os comandantes das unidades operacionais da Pol Gia Militar, principalmente aqueles cujas unidades prestam servigos em dreas com acontuada densidade populacional: — a defasagem existente entre o efetivo disponivel para a execucao do policia- mento e as continuas necessidades de seguranca publica, seja por solicitag¥o da comuni dade, seja por inferéncia de dados estatisticos retirados do Boletim Estat istico Operacio — obaixo rendimento de alguns setores de sua tropa no servico policial A partir dessas preocupacdes, 0s comandantes buscam cada vez maior niimero de novos soldados, incluindo candidates e formando poli gat temporariamente o policiamento do local onde esté ocorrando maior incidéncia de ilfeites penais, até que outro local revele maior incidéncia e entdo of recursos humanos sejam remanejados mais uma vez. O baixo rendimento de alguns setores da unidade continua esquecido. Por outro lado, 0 alto rendimento de um policial-militar ou de uma guarnigio de radiopatrulha € enaltecido ¢ apontado como exemplo. Nao se estudam, entretanto, as causas, nem de um procedimento, nem do outro, visando a aleangar a solugao. Participando do comando do policiamento da Regido Metropolitana de Belo Horizonte, acompanhando o historic das ocorréncias de destaque, diariamente, o autor deste trabalho viu, dezenas de vezes, com satisfagdo, 0 resultado de um trabalho bem fé por ume guerni¢go de radiopatrulhe ou por um policial-militer isolado. Viu, também, vé- rios eases em que ficou claro que 0 marginal “‘dera um chapéu"" no policial. Atentou para outros casos em que bastaria a aplicagao de uma técnica simples de observacao ou um ra- ciocinio dedutivo elementar para que 0 ilfcto penal fosse impedido ou o rastreamento (3) surtisse efeito Visendo @ contnibuir para que, através da instrugdo, os éxitos sejam cada vez em maior mero 2 os fracassos diminuam, possibilitando um avanco na qualidade do ser- vigo prestado, 6 que 6 elaborado este trabalho. is-militares, e procuram refor- 3 OPROBLEMA A instrugdo policial, na PMMG, apresenta falhas no proceso ensino/aprendize- gem no seguinte aspecto: o policial-militar aprende o que fazer quands 0 fato ocorre e esti (3) A doutrina vigente na Policia Militar considera “rastreamento” aquelas aées desenvolvides pela guarni¢ao de radiopatrulha ou pelo policial-militar, logo apés a ocorréncia do il/cito penal, visando @ descobrir a autoria e/ou prender o agente. 12 diante dele; quase nada aprende sobre o que fazer para descobrir que o fato esté ocor- rendo, Embora seja instrufdo sobre como agir como um poli Faciocinar como um polici Com 0 continuado desempenho da atividade operacional, alguns policizis, paula tinamente, adquirem 0 conhecimento @ a habilidade empiricas a que chamamos “tino po- licial"'; se maior néimero de policiais adquirissam © “tino policial”’, isto 6, aprendescam a raciocinar como poi (cia, € 0 fizessem no inicio de sua carraira, o rendimento do poli mento ostensivo € velado por certo seria aumentado. A quostdo $: como transmitir 20s policiais militares tais conhecimentos e habili dades mentais? |, ele nao aprende a 4 AHIPOTESE Como bese no problema, foram formuladas as seguintes hipdteses: 3. Os conhecimentos @ as habilidades a que damos o nome de “tino policial’” podem ser sistematizados e transmitidos aos policiais menos experientes; b. HA possibilidade de se aplicarem métodos e técnicas cient ifices ao proceso de ensino/aprendizagem de tais habilidades e eonhecimentos; ©. A aplicaggo de métodos € técnicas cientificas a esse processo de ensino/apren- dizagem apresenta, como resultado, maior rendimento da ago policial. 13 1aPARTE CAPITULO | — DISCUSSAO BIBLIOGRAFICA € curioso que este assunto ngo tenha sido treiado de forma técnica em nenhurra ‘obra de todas as que foram pesquisadas em lingua portuguesa. Esporadicamente, 0 assunto aparece em publicages esparsas, quando os autores Ihe dedicam algumas paginas, quando ngo algumas linhes, Foram encontradss as seguintes publicagBes sobre o assunto: 1 OS SISTEMAS POLICIAIS AMERICANOS No livro “American Police Systems’’ (1) os autores enfocam 0 problema abor- dado nesta monografis: “Porque profissionais de Policia aceitam programas de treinamento bésico in dequado enquanco é comum ouvir um policial antigo dizer 2 um recruta recém-graduado “esquega tudo que eles ensinaram a vocé na academia, eu vou lhe mostrar como fazer 0 trabalho policial!"* (2) deteccdo do crime @ apreensdo de criminosos. E reconhecide que uma prevengio efetive do crime diminui @ necessidade de deteccao e apreensio”. Sobre a educacio e © treinamento na Policia, 0 livro informa que existe nos EUA 684 feculdades e universidades que oferecem cursos destinados @ um grau protissional ‘ou académico em justiga criminal, com duragéo de dois ou quatro anos. A Associagéo Internacional de Chefes de Policia mostrou © crescimento das instituigdes acadBrricas que oferecem cursos sobre policia © justiga criminal: em 1966— 1967, havia 184 instituigdes; em 1976-1977, © numero aumentara para 664, com uma expansio de 261% Verifica.se que o pragmatismo americano jé incorporou a iniciativa privada o ensino policial que, em nosso Pais, s6 ¢ ministrado por instituigdes oficiais ligadas a seau- ranga publica. Com referéncia a rigidez do Departamento Policial, o autor conclui que super- enfatizar o valor do mecanismo ordenado causa prejuizos A eficdcia da Polfcia. Compa- rando a forca policial com a forea armada ele considera: i . “American Police Systems” (excertos) 2) Ibid. p. 298 14 ““O wabalho ca forga policial depende, contudo, como temas visto, da ca- pacidade de cade policial. Em seu setor ou em seu posto, ele desenvolve seu trabslho sozinho, geralmente atendendo emergancias sem auxslio de ourrem, Embora diffceis e inusitadas as circunstancias com as quais con- fronta, ele tem que decidir instanteneamente e por sua prépria responsa- bilidade, quer queira ou ndo, quando pedem sua interferéncia, Apenas ocesionalmente hé uma oportunidad> para agées combinades com seus irmSos policisis. Na maioria das vezes, ele depende de seu proprio desem- barago 2 cristividade, caracteristicas que no s80 desenvolvides no treina- mento da forga armada’. (3) 2 MANUAL DO GUARDA CIVIL (INSTRUCAO POLICIAL) (4) © “Manual do Guarda Civil’, de autoria do Inspetor Chefe de Agrupamento Antonio Belli, da extinta Guarda Civil de S30 Paulo, 6 uma obra abrangente, que trata de nocdes resumidas de Direito Penal positivo e das recomendagées para atuacéo do guar- da-civil, Nos capftulos referente ao “Patruthamento” e “Suspeita”, 0 autor enfoca a matéria de que tratamos nesta monografia. O exemplo absixo ¢ bem ilustrativo: "A regra bécica 6: note as di NGaE: OF Atos desusados, modos de vestir © maneira de fazer as coisas, capazes de diferenciar os criminosos dos ci- dadios ordingrios. Por exemplo, uma pessoa que presta muite atenggo em voo’, sspreitalhe todos os movimentos, repara para que lado vocé se vol- tou, admite observacdo. Naturalmente, isto no significa que o homem acabou de fugir da cadeia, mas no deixa de ser ums indicagso. Houve 0 caso de um empregado de certa companhia que, demonetrando uma cor. dialidade n&o-costumeira a policiais, saindo de seu caminho para cumpri- menté-los, mais tarde foi identificado como autor do furto de grande quantidade de mdquinas fotogréficas”. (5) 3 OPOLICIAL-MILITAR E A TATICA DO CRIME (6) Em artigo publicado na “Revista Unidade” da Brigade Militar, o Cel PM do re- serva Luiz Iponema defendeu 2 crisgdo do ums disciplina na instrugso policiel, com o nome de "“Taties do Crime”. ‘S80 suas palavras: “urge que o problema PREVENCAO DO DELITO seja en- frentado em bases mais s6lidas, mais profundas e mais cientificas, de modo a abranger todos os aspectos"’ (7) (3) ibid. p. 331 (4) BELLI, Antonio, Manual do Guarde Civil — Instru¢éo Policial, 22 ed.. S50 Paulo: Gréfica Séo José, 1966, 270p. 6) BELLI, Antonio. Ob. cit p. 54 (6) IPONEMA, Luiz. O policial-militar e a titica do crime. Revista Unidade Porto Alegre: 0.1, jan./mer, 1983; 7 IPONEMA, Luiz. Ob, cit. p. 7 16 Prop6s 0 autor do artigo que a disciplina ‘'tética do crime" tivesse as seguintes unidades didéticas: a indistria do crime: o status social do criminoso; modo de agdo de as- saltantes comuns; mado de aco dos assaltantes de bancos; modo de ago dos assaltantes de estabelecimentos comerciais; modo de acs dos traficantes de droga; modo de aggo de menores; modo de acao dos terroristas; modo de agdo dos ladroes de automdvels; modo de ago de seqiiestradores. 4 COMO MELHORAR O RENDIMENTO DO SERVICO POLICIAL (8) Major Fausto Afonso do Carmo escreveu um substancioso artigo sobre as ma. neiras de melhorar © rendimento do servigo policial, Seu artigo esté perfeitamente identificado com 0 que s9 propse neste trabalho, em maior escala. Considera 0 autor que: o policial-militar criativo deve ser imprevisivel; 0 aspecto mais importante do trabslho rotineiro do policiamento é que ele nao deve ser tormado como rotineiro pelo policial-militar; 0 policial-militar deve ser detalhista: deve desenvolver 0 sen: tido de percepeo; nem tudo que é diferente 6 um crime; nem todas as pessoas que parecem ser diferentes 80 criminosas. 0 autor aborda ainda a necessidade de 0 policial-militar ser capaz de relacionar fatos ea importancia de o instrutor desenvolver 0 processo ensino-aprendizagem em tres aspectos: cognitive, psicomotor e afetivo. 5 CARTILHAS DE SEGURANGA O 139 Batalhdo de Polfcie Militar, sediado na regiao norte de Belo Horizonte, tem distribufdo com regularidade uma cartilha intitulada ‘‘Seguranca: uma atividade so- lidsria", (9) Destinada a orientar a populacdo sobre como participar de sua propria seguranca, a cartilha trata de: prevengdo contra incéndios; precaugso contra seqiestros, assaltos, furtos em via publica, furtos contra residéncia; medidas para combater o arrombamento @ 0 assalto em edif(cios residenciais. A Policia Militar de Sao Paulo, por ocasiao do lancamento do radiopatrulhamen- 10 padrao, divulgou também uma cartilha de orientacéo 4 populagéo, visando a conseguir que as pessoas colaberassem com a propria seguranca. (10} 6 MANUAL DE CRIMINALISTICA © “Manual de Criminalfstica’ de Gilberto Porto, (11) como outras obres sobre Criminal fstica, faz a distingao entre “pol cia empirica’’ e “pol cia cient/fica” 18) CARMO, Fausto Afonso. Como malhorar 0 rendimento do servico policial Be/o Horizonte: 1987 (mimeogratado) (9) POLICIA MILITAR DE MINAS GERAIS. 139 BPM. Seguranga: uma atividade so- lidsria Belo Horizonte, 1985. (mimeografado) (10) POLICIA MILITAR DE SAO PAULO. SepSo de Assuntos Civis. Folheto Educa. tive. 1988 (11) PORTO, Gilberto, Manual de Criminalistica. So Paulo: Ed. Resenha Universita- ria, 1986. 40 p. 16 "Enquanto a primeira — policia empirica — se vale dos conhecimentos do investigador, de sua habilidade, da sua experiéncia, do seu tato, de sua inteligéncia, do sou esforco pessoal, da sua atividade, das suas relagdes sociais, até do conhecimento do “‘bas-fond”’, a segunda — policia cient i fica — vive dentro de laboratérios especializados, usando © trabalho pa- jante, pertinaz, continuo e exaustivo dos peritos, ou soja, dos técnicos. (42) Verifica-se que, a partir da propria designagdo de “empirica’’, ndo ocorreu ao autor buscar métodos e técnicas que pudessem sistematizar os conhecimentos dos investi- gadores, 7 MANUAL BASICO DO POLICIAMENTO OSTENSIVO (13) Esse manual, elaborado pela Policia Militar do Estado de Sao Paulo, consubstan- cia, em suas quase trezentas paginas, um elevado numero de informagSes € conhecimentos Necessérios 80 policial-militar, para sua atuacdo no policiamento ostensivo. Contudo, com referéncia ao assunto objeto deste trabalho, ha ali apenas duos paginas, sob 0 titulo "ganeralidades”, com exemplos de situacdes que procuram mostrar 0 policial ““o que ver", “onde e como atuar”. (14) & MANUAL BASICO DO VIGILANTE (15) Preparacio pela Diretoria de Ensino da Policia Militar e pela Academia de Po- Iicia Civil, esse Manual se destinava a preparer o vigilante de empresas particulares. Sob 0 titulo de “observago de fregiientadores e situagdes suspeitas”, referi- do Manual dedica cerca de duas péginas 3 importincia da observagdio pelo vigilante. (16) 9 CONTRIBUICAO DA LITERATURA POLICIAL Se, conforme foi verificado, existem poucas obras que tratam do assunto do ponto de vista téenico, o mesmo néo se pode dizer do ponto de vista literdric. A literatura © 0 cinema t8m explorado como um rico fildo a atividade policial Duas vertentes podem ser af consideradas: a atuacéo do policial fardado, que sobrepde as aces a0 raciocinio, mais frequente no cinema, e a atuacéo do policial em trajes civis, ou do detetive particular, que trabalha predominantemente com a observagao e 0 raciccinio, mais freqiente na literatura. (12) PORTO, Gilberto. Ob. cit. p. 30. (13) POLICIA MILITAR DO ESTADO DE SAO PAULO. Manual Bisico do Po! ‘mento Ostensivo. So Paulo: 1985. 296 p. (14) Ibid. p. 154-155 (15) FRAGA, José Soares et al, Manual bésico do vigilante. Be/o Horizonte: Ed. Lit. Maciel Ltds., 1977. 176 p. (16) FRAGA, José Soares et. al. Obra citada, p. 37-29. W Edgar Allan Poe, com 0 conto “Os assassinatos da Rua Morgue’, tem sido consi- derado o criador do género policial na literature. A ele se seguiram dezenas de outros, & os autores mais importantes so 03 ingle ses Arthur Conan Doyle e Agatha Christie. Esta ultima criou Jane Marple e Hercule Poi- rot, dois anti-herdis que usavam a observegio, a conversa com as pessoas envolvides @ 0 ra- ciocicio para solucionar crimes. ‘A criacdo mais destacade do género ¢ a do detetive Sherlock Holmes, de Conan Doyle. As caracteristicas predominantes de Holrmes eram os dotes de observagdo € a cepa: cidade de decugao. Nao hd, na literatura brasileira, tredig3o de autores de historias policiai (7) 10 MANUAL DO DETETIVE (18) Tretando 0 assunto como brincadeira, a Editora Abril traduziu e publicou “Manual do Detetive", propriedade da Usharne Publishing Ltd., Londres. Com base em dois detetives, Armadilha e Fracasso, os autores sugerem que o leitor se divirta € desperte o bom detetive que talvez esteja adormecido dentro dele. Ha, no entanto, no Manual, procedimentos que podem ser de utilidade na ins- trucdo do policial Para aquales que podem encarar de maneira preconceituosa @ utilizagéo de um Manual origindrio de revistas em quedrinhos em um assunto sério como a instrucdo policial, & importante lembrar que as pessoas tém acesso ao conhecimento através das mais variadas formos @ fontes, @ aste trabalho tem como um dos seus principios ¢ valorizacdo de toda in- formaedo, a andlise de seu significado e a sua ligacdo com outros eventos. 11 OBSERVAG AO, MEMORIZAGAO, DESCRICAO A disciplins OMD — Observacao, memorizacao e descricio — lecionada em al- guns cursos especiais de policia, se aproxima um pouco do que pretendemos atingir com este estudo. A matéria apresentads visa a agucar os sentidos — tato, visdo @ audigao, prin- cipalmente — ¢ treinar a meméria para grevar fatos percebidos, descrevendo-os com a maior fidelidade poss{vel. (17) Jé se observou que, no Brasil, a literatura ndo retrata 0 policial como o heréi da historia, 20 contrdria, ele & mostrada com traces de ridiculo ou de arbitré- rio, e bandido aparece travestido de mocinho ou de vitima. (78) Manual do Detetive. So Paulo: Ed. Abril Ltda., 1980. 190p. 18 CAPITULO II — MODELO REFERENCIAL Em 1985, foi elaborade por este autor ui "'Estudo sobre o Didrio de Informagdes de Seguranga Poblica” (1), contendo proposta pare aplicagdo de métodos e técnicas cien- tificas na confaccao e na utilizagao daquele Diaric. Como esse documento ¢, de certa forma, um precursor deste trabelho, foi ele inclufde no Anexo 1 O Diério de Informagées de Seguranga Publica — DISP — ¢ um meio de se vi culerem noticias e informagdes de interesse policial. (2) on MIRANDA, Josemar Trant de. Estudo sobre 0 Didério de I nformegées de Seguran- ¢aPUblica 1985. 18. (Mimeografado) (2) O DISP foi idealizado pelo entéo 19 ten PM Calcagno, chefe da 29 sero do Bate Ihéo de Policia de Choque — BPchq — e aproveitado para as demais unidades da capital, através da Administragao das OperacGes — nr. 04/82 — Adm Op nr. 04/ 62 — de 20 out.82. 19 CAPITULO III - METODOLOGIA 1 APESQUISA Visando a alcencar @ comprovacdo da primeira e segunda hipéteses (1) foi reali- zada uma pesquisa bibliogratica 0 universo dessa pesquise abrange grande parte das obras publicadas no Pais so- bre o assunto: foram feitas pesquisas na Policia Militar de Séo Paulo, na Brigade Mi do Rio Grande do Sul, na Policia Militar de Mines Gerais, na Polfcia Civil de Sao Paulo, na Policia Civil de Minas Gerais e num dos inémeros cursos de Detetives Particulares exis- tentes no Pats. Especificemente para a comprovapéo de segunda hipbtese, foram consultados livros de filosofia, pricologia e de metodologia cientitica Numa segunda fase da pesquisa, foram examinadas as ocorréncias de destaque na Regigo Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH}, no perfodo de 12 de janeiro» 30 de junho de 1987, num total aproximade de 2.800 ocorréncies. Essa amostra representa aproximadamente 1% do universo de ocorréncies da RMBH, que naquele ano ficou em torno de 280.000. 2 LIMITAGOES A primeira grande cificuldade da pesquise ocorreu no quase inexistente nimero de obras que tratam do assunto enfocado. Com efaito, existem, em |ingua portuguesa, varies obras sobre métodos cienti- ficos. Contudo, entre os livros técnicos que tratam da instruggo policial, seja no ambito das policias militares, seja no 2mbito das polfcias civis, apenes algumas péginas e, em al- guns casos pardgrafos, tratam do assunto deste trabalho. As pesquisas levadas 2 efeito indicaram que no hé, em lingus portuguesa, nenhu- me obra que conjugue os dois aspectos, isto ¢, a utilizagdo de métados e técnicas de obser- vagao e dedugéo para o emprego na agao policial. Existem, 6 verdade, obras que tratam do emprego das ciéncias ¢ dos métodos cientificos na criminalfstica, no apoio de laboratorios de policia clentifice na elucidagao de crimes. a 1? hipotese: Os conhecimentos e habilidades a que damos o nome de “tino poli- cial” podem ser sistematizades ¢ transmitides aos policiais menos experientes. 2 hipdtese: Hé possibilidade de se aplicarom métodos @ técnicas cient/iicas no proceso de ensino/sprendizagem do tals conhecimentos e habilidades. 20 0 exame dos manuais empregados na Acaderria de Policia Civil de Minas Gerais — Acadepol — indicou que prevalece © pressuposto de que a pritica 6 que ensina o bom policial a trabalhar: néo hd a sistematizacio de casos ou orientagiio sobre métodos. Matriculado, sob pseudénimo, em uma escola de formagao de detetives, 0 pesqui- sador constatou 2 facilidade de receber um diploma, uma carteira e um emblema logo apés @ inscrigdo, Os conhecimentos a serem adquiridos foram muito poucos: apenas a reproducéo de um manual de criminal{stica de um delegado pauliste, sem citar autoria. Assim, so por um lado a dificuldade de encontrar material foi uma limitaggo para o desenvolvimento do trabalho, por outro serviu para comprovar o ineditismo do as- sunto tratado. Outra limitagao — esta intransponive! no estégio atual — consistiu na compro- vacdo da 3? hipotese: “a aplicagdo de métodos @ técnicas cientificas nesse proceso de en- sino/aprendizagem apresente como resultado maior rendimento da acdo policial’. Trabalhando no assunto hé quase dois anos — as primeiras pesquisas datam de agosto de 1987 — verificou-se que uma pesquiss experimental se impunha para @ compro- vago dessa 3? hipdtese. Isto significaria pelo menos mais 6 (seis) meses de levantamen- 105, instrugdo e nove avaliagdo de desempenho de um determinado grupo, Optouse, assim, pela divulgagio de trabalho no estégio atual, ficando 3 compro- da eficdcia da proposta para uma atapa posterior. vac! 2 CAPITULO IV — FUNDAMENTACAO TEORICA 1 BASE FILOSOFICA A ocorréncia policial abrange desde os fatos delituosos até outros tipos de fatos que, nio tendo caracterfsticas de infragdo da norms, causam perturbagdo da ordem pébli- cae exigom a interferéncia do policial. Resulta inequivaco que a ocorréncia policial é um acontecimento. © que é acontecimento? Como se produz? O que ou quem o pracuz? Os filésofos estdicos distinguem duas especies de coisas: ""1) Os corpos, com suas tensdes, suas qualidades ffsicas, suas relacdes, suas aces, @ paixdes @ os “estados de coisas’ correspondentes"; ngo hd causas @ efeitos entre os corpos: todos os corpos sdo causas, cau- sas uns com relacao aos outros, uns para Os Outros. “2) Os acontecimentos — todos os corpos s40 causas uns com relagéo aos outros, mas de qué? Séo causas de certas coisas, de uma natureza completamente diferente; estes efeitos no so corpos, mas, propria- mente falando, so “incorporais"; no so qualidades ¢ propriedades {fsicas, mas etributos Igicos ou dialéticos; ndo sio coisas ou estado de coisas, mas acontecimentos; nao so agentes, nem pacientes, mas resul- tado de acdes e paixdes “impassivais” — impass(veis resultados”. (1) O filésofo Emile Brehier (2) complementa: “Os Estbicos distinguem radicalmente © que ninguém tinha deles, dois planos de ser: de um lado o ser profundo e real, a forge; de ou- tro, 0 plano dos fatos, que se produzem na superficie do ser e instituem uma multiplicidade de seres incorporais. (g.n.) (3) o antes Sobre a inevitabilidade dos acontecimentos, os estdicos explicam a relacdo entre 0 dois tipos de coisas: os corpos e o$ efeitos incorporais (acontecimentos). (1) DELEUZE, Gilles. Lagica do sentida. S30 Paulo: Perspective, 1971, p. 7. (2) BREHIER, Emile. La theorie des incorporels dans I'ancien stoiscime. In: DELEU- ZE, Giles, A \egica do sentida S¥0 Paulo: Ed. Perspectiva, 1971, p. 6. (3) Emilio Brehier considera que “quando 0 escalpelo corta a carne, 0 primeira corpo produz sabre o segundo no uma propriedade nova, mas um atributo novo, 0 de ser cortado. O atributo no designa nenhuma qualidade real.” 22 Os estéicos consideram que a unidade das causas entre si se chama Desti- no. O Destino primeiramente a unidade ou o ago das causas tre si; 05 efeitos incorporais so evidentemente submetidos 0 destino, na medida em que so 0 efeito dessas cauas. Mas na medida em que di- ferem por natureza destas causas, entram uns com os outros em relagées de quase-causalidade e em conjunto entram em relacéo com uma quase- causa, ela prépria incorporal, que thes assegure uma independéncia muito especial, no exatamente com relac&o ao cestino, mas com relagio a ne cessidade que deveria normalmente decorrer do destino”. (4) isicas en- Para aqueles que acreditam na inevitabilidade co Destino e acham que nada pode ser feito diante da fatelidade, hé aspectos importantes a serem esclarecidos. ‘As pessoas e os objetos sdo causes dos acontecimentos. Nada acontece sem uma causa, seja no mundo f isico, saja no mundo socal. Os filésofos estoicos consideram a coincidéncia das causas ¢ 0 Iago entre os efei tos como o destino. Quer dizer: se um individuo sai de case resolvido @ roubar alguém. havers outro cidadgo que sairé de casa no mesmo hordrio @ mediante determinadas condi Ses — andar em local ermo, a noite, desarmado, com aparéncia de quem conduz valores — que concorreré para fazer surgir 0 acontecimento. Do mesmo modo 0 individuo que habita 4 frente de um borrance a prumo pode ser soterrado pelo lago das causas: seu corpo (12 causa) diante do barranco encharcado de chuva (2? causa) na coinsidéncia dos efeitos — © desmoronamento (19 acontecimento) como causa da morte (29 acontecimento). O destino &, pois, a coincidéncia das causas € a ligacdo entre os efeitos (aconte- cimentos). Ags acontecimentos de que se ocupa a organizagao policial denominam-se “ocor- réncies”. No hé possibilidade de interferir no processo na fase volitive do individuo do pri- meiro exemplo ou interferir ce forma imediate na aco do corpo no segundo exemplo (o barranco)) Pode-se interferir no proceso, no entanto, através do policiamento, na coinci- déncia dos corpos [causas) cu dos efeitos, por meio da obstaculizagéo das oportunidades do primeiro individuo e por meio da divulgago @ aconselhamento ao segundo individuio das condigées que possibilitem os acontecimentos (ocorréncia). Resultam, entéo, duas conclusées As pessozs € as coisas so causas dos acontecimentos e nade acontece sen mo vo, seja no plano f{sico, s2ja no plano sociel. © que se denomina “Destino” & a ligagSo das causas entre si, ¢ 0 laco entre os efeitos e a inevitabilidade do Destino néo é absoluta. 2 BASE METODOLOGICA @, Da associagdo livre a0 pensamento racional Pensar é estabelecer relagdes entre fatos diversos, entre fatos € idéias, entre idéias diversas, entre conhecimentos e idéias ou fatos. © professor M. B. Lourenco Filho, em sua obra "A integracSo individual do com- Portamento e da experiéncia”, (5) apresenta as distingSes entre associacdo livre. pensamen- 10 autistico & pensamento racional (4) DELEUZE, Gilles. Ob. cit p. 175 (5) LOURENGO FILHO, M.8.. A.integra;do individual do comportamento e da ox- perigncia. /a: Enciclopédia Delta Lrouse. v. 4, p. 206%-2089 23 ‘Segundo aquele sutor, na associagdo livre o pensamento 6 conduzido por imagens captadas na experiéncia passade, sem outra diregdo sengo a de fatores emocionais, nao or- genizados om padréas consistentas. Muitas vezes a pessoa se sucpreende em estar pensando em determinado assunto ou pelo fato de ter-Ihe vindo 4 mente uma imagem qualquer. Reconstituindo os pessos da memoria para verificar como chegou até ali, © pessoa vorifica que as relagdes entre as idéias no $80 légicas, so reflexos de experiéncias passadas, de sonhos, de imagens vistas ou frases ouvidas. Observa-se que foi citeda a reconstituigao dos passos de memdrie, ndo do racio- cinio. No ponsamento autistico, “a scluc&o dos problemas que se apresentam atende sobretudo & necessidade de raduzir uma tenséo imperiosa do momento. O adjetivo “au- tistico’” (de si mesmo € para si mesmo) ¢ af empregedo em oposigao a realistico, objetivo ou impessoat”, (6) © pensamento sut{stico se caracteriza pelo devaneio. Segue a linha de maior interesso individual no momento; & pueril @ ocorre na faixa de idade do nascimento até 7 (sete) anos. No pensamento racional, hé esforgo no sentido de confrontar a experiéneia pessoal com a realidade, os conhecimentos j& depurados e a aceitagdo de valores sociais correntes, Hé identificagao de semelhangas € diferencas, relacionadas em sistemas coeren tes que permitem comprovacio. (7) Nenhuma pessoa apresenta, no entanto, uma ou outra dessas formas de pensamen- to como permanente e exclusiva. No pensamento individual hé frequientes oscilagdas entre 05 tr@s oraus progressivos jé citados © que se apresentam num continuum Esquematizando. Associaggo —----—w» Pensamento —————-» — Pensamento live «---- autistico +-—--- recional sonho, incoeréncias, | devaneio; segue linha de identificagdo de semethancas e simbolizagdo pouco | maior interesse individual diferengas, relacionadas em siste- elaborada no momento; pueril temas coerentes que permitem comprovacao E a utilizaco do pensamento racional que este trabalho pretende estimular no policial-militer, para sua atuacdo no policiamento. b, © racioctniog suas formas Maurice Dorolle, em “’Légica e Metodologia’’, escreveu: “© raciocinio no se reduz, por corseguinte, a um simples mecanismo de associacdo de Idéias; isso se comprove ainda pelo fato de ndo haver raciocinig sem cons: (6) Ibid. p. 2076 @ (bid. p. 2076 24 © que justifica 0 raciocinio € a percencao das semethancas entre os tar mos sucessives. Ser capaz de raciocinar bem ¢ ser-capaz de reconhecer ou identificar situagées que sirvam para encadear idéias: apoiar-se numa assimilagio para passar a um novo jufzo”. (8) Hé dois tipos principais de raciocinio: — dedugo: a semelhanga assume a forma de identificacdo; 0 raciocinio se dis- pSe om ordem linear: passa-se de uma id¢ia a outra idéia, Exemplo: se A é igual a Be B igual aC, conclui-se que A é igual aC; — por analogia: procede-se por agrupamento de semelhantes. Exemplos: 1) a semelhanca das palavras maleticio ¢ beneticio exoressa a idéia de atitudes ou coisas reali- zedas, pelo radical, com sentides antagonicos, em razdo das rafzes; 2) a semelhanca des palavras “fig” (fruto) e "figado’’ (viscera), que leva pessoas incultas até a confundi-las, leva-nos 3 conclusdo de que existe ume ligagdo entre elas. (9) ¢. Os métodos cientificos A ciéncie desenvolveu-se 2 partir do senso comum que pode ser considerado como © conjunto de nogses ajustadas as necessidades médias da vida e tem o cardter de empiris- mo, sendo resultante da reflaxdo sobre os resultados de todas as nostas tentetivas de agao. A primeira origem da ciéncia esta na técnica, que é uma forma de aco refletida A técnica € uma ordenagao de ocorréncia gracas a intervencgo ativa do homem na utilize- G0 das coisas. © persamento cientifico, sogundo Maurice Dorolle, (10) se baseie em: a) principio do determinismo; b) 0s fatos podem organizar-se sob a forma de transcrigo matemética; ©) objetividade; espirito positivo; Essas tendencias essenciais pressupdem: a aten¢do aos fendmenos consideradas insignificantes; 0 esforgo para estabelecer seriagio dos fendmenos; 0 esforco de exaticao ede preciséo. A citncia utiliza métodos para examinar seu objeto. Método & um conjunto de processes ou de maios de pesquisa conscientemen- te adaptadas ao estudo de um objeto determinado. Hé dois tipos essenciais de método: a) partir dos dados para chegar as idéias — INDUGAQ; b) organizar ou sistematizar as idéias — DEDUCAO. 1) Método Indutivo A Inducao é 0 método que, partindo dos dados, permite atingir as idéias ou lei A Indugao exige dados. Ao ato de coletar dados d4-se o nome de obsorvar. A indugéo compreende idéias que se submatem 4 discussdo: so as hipéteses. Elabora-se a induco pelo compacto das idgias e dos dados (discuss3o experi mantal). a) A observagio A observacdo 6 0 ato mediante o qual a indugo recolhe seus dados, (6) DOROLLE, Maurice, Logica ¢ metodologia. Tred. de Alberto Castiel. In: En- ciclopadia Delta Larouse. v.4, p. 1986, (9) Com efelto, @ ligapio existe e é conhecida por professores ¢ latinistas: os roma~ nos alimentvam as aves (patos, gensos) com figos, para que aquela viscera se desenvolvesse anormalmente e fosse utilizada na confeccio de patés; a avo submetida a tal processo era chamada “ave ficata”’ 0 que deu origem ao nome Ge viscera — figado. N10) DOROLLE, Maurice. Ob. cit. p. 1991. 25 Observar nao consiste simplesmemte em perceber, mes em apreender os caracte- res de um fato, através de atengio & da andlise desse feto. A otservecio &, portanto, um ato de inteligéncia que supde todas as condicdes do juizo: espirito alertodo por tods sua experiéncia, comparacSes, abstragées. Trata-se de uma ativiade mental apoiada, de um lado, por toda individualidade cu sua evolucéio, ¢ de outro, peles variag®es das coisas: dupla condigdo do surpresa, que prepara a visS0 @ da curiosidade que orienta ou mantém a atencao. © talento da observacdo, constituido de perspicécia, de penetragio e também de paciéncias, provém, sem duvida, de aptiddes intelectusis inatas, mas sobretudo, do exercicio e da cultura, por que adquire nitidamente um cardter profissional e especializedo; & esto cultura que, por interniédio da classificago das idéias, permite percaber, de modo cade vez mais completo e egudo, as caracteristicos das coisas. A observagéo obedece 4 seguinte regra: nada desprezer — tudo ver — e ver as coisas tais como so: riqueza e exatidéo. Maurice Dorolie, em seu excelente trabalho sobre os métodos, afirma: ‘Vas se a observago € essencialmente fungdo de atividade do espirito, So & possivel formular preceitos definidos capezes de ossegurar uma boa observagao. © que estd em jogo 6 toda técnica do controle, Os erros dos sentidos, pois, io constituem dificuldade basica: um sentido, funcio da percepcao, atende a um sistema de condi¢ées que podem ser determinadas € que se determinam efetivamente, com 0 progresso da ci8ncia, fisica ou psico- logica Exemplos: 0 erro resultante da refragéo que nos mostra um bastéo merau- Ihado na dgua como quebrado (Fisica); e a equacdo pessoal (Psicologia), a) A insuficiéncia dos sentidos, conforme Maurice Dorolle, no constitui também. ificuldade, j que a ciéncia busca supri-los por meios de instrumentos que ampliem o al- cance dos sentidos. O instrumento substitui a percepco habitual por outra perceprdo, que tem com a primeira ume relacdo definida a capaz de ser axpressa cientificamente, como 2 imagem, numa luneta, am ralaco ao dado dptico direto. A fim de obter as vantagens das afirmagdes cientificas, as observacées sobre as uais se baseiam devern ser to fidadignas e to precisas quanto possivel. Se alguém relata um evento como ocorrendo, quando na realidade ele no ocor- re, entdo as afirmagOes baseadas sobre esse relato serdo erradas e tenderdo a conducir a pre- dices erroneas. 2) Método Dedutivo E um método que se processa no interior do pensamento, caracterizando'se pelo emprego de cadeizs de raciocinios. Pode utilizar resultados de experiéncias, (11) DOROLLE, Maurice. Ob. cit p. 1994, 26 Segundo Maurice Dorolle (12), as aplicagdes do método diferem segundo a natu- reza das proposig&es iniciais da dedugZo. Podem ser: a) proposi¢ées tém valor absolute pare o espirito, como ume cléncia mateméti- ca, bastande em tal ceso construir as conseqiéncias, cujo valor é igualmente certo; b) as proposigdes inicisis s8o apenas hipdteses; toda cidncia fisica tende a as- sumir esta forma de organizagdo dedutiva que s@ denomina método hipotético-detutivo, Este método ndo fornece prova das conseqiiéncias, mas seu valor 6 duplo: em pri- ‘meiro lugar, construindo as conseqiiéncias (que so fatos) com as hipéteses, ele indica como estas entram na constituigdo do real e thes dé objetividada; em seguida, @ nisto reside espe- cialmente © imenso interesse do método, ele transforma os fatos ou as leis de detalhe em idéias, leva & compreensio, substituindo a exposigdo analitica ou indutiva dos fatos por um sistema de ponsamentos, isto é, um sistema inteligivel, 3) Método Reconstrutivo Os métodos ou raciocinios podem ter duas orientacdes opastas marcha progressiva: 2 que vai dos principios as conseqiiéncias — sintese; + marcha regressiva: a que vai das consequéncias aos princfpios — anélise. © método reconstrutivo se caracteriza pela marcha regressiva, Seu objeto ¢ desco- brir © passado. Os dados, a0 invés de sugerirem icsias, expressam, antes de mais nada, al- 90 concreto, que se reconstitui por intermédio da imaginagio. Onde outros métodos observem, 0 método reconstrutivo ja conclui; ou entéo, © que da no mesmo, 0 “‘fato’’ se reduz, no caso em apreco, a uma hipOtese mais ou menos digna de crédito. Hé autores que consideram esse método como uma dedugao de fato a fato, por eliminagao, das hipsteses, exceto uma. Sva aplicagdo vai desde a Historia, a Geologia, a Paleontolosia até a Intormagao Judiciaria, No seriado “Chantagem’’, exibido pela televisao em 1987, apareceu a aplicacdo desse métode pela polfcia americana. Ne trama secundaria da histéria, um indiv/duo estuprara uma mulher num quarto de pensio, tirera fotografias comprometedoras, abandonara-a num estacionamento e depois Ihe enviava as fotos, exigindo dinheiro, A partir das fotografias, os agentes procuraram localizar a penséo, com base na cena que era vista da janela: parte de uma torre com um relégio. Localizada a penséo, in- vestigaram a ligagdo do dono da pensio com seus cl prador. nites, chegando a identidade do estu- Utiliza-se este método, inconscientemente, quando se busce verificar a époce em. que foi tirada ums fotografia ou se reconstitui um itinerdrio para se encontrar um objeto Perdido. Denomina-se testemunho toda palavra, todo escrito ou todo documento significa- tivo de um fato, Cada fato (mesmo cada dado), nao passa de hipotese; a reconstrucdo se faz, pois, por meio de um sistema cada vaz mais cerrado de correlagdes, da mesma forma que nas assergBes indutivas, (12) DOROLLE, Maurice. Ob. cit p. 1966. 27 ‘Qualquer lembranca tem tendéncia a se deformar, cabendo ester sempre em gui da contra uma credulidade ingénua, Todo testemunho deve, pois, ser submetido 8 cr cida sobre a pessoa que testemunho (intelectualidade, moralidade) sobre 0 fato proposto (verossimilhanga), sobre 0 acordo ou desacordo das testernunhas. 0 prinefpio ¢ o seguinte: a probabilidade cresce com a convergéncia. joa. Essa critics deve ser exer- 28 23 PARTE O PROCESSO DE ENSINO — APRENDIZAGEM DOS METODOS CAPITULO | O CONHECIMENTO E AS HABILIDADES ADQUIRIDOS ATRAVES DA PRATICA A atuacdo ce policials-militares no policiamento ostensivo, principaimente no radiopatrulhamento, propicia a esses profissionais a assimilagdo de razodvel experiéncia, a partir de solugdo de ocorréncias policiais. Cerca de 900 ocorréncias so atendidas por dia, na Grande Belo Horizonte, O Comando de Policiamento da Capital publica, diariamente, um sumério contendo as ocor- rncias de destaque na capital, do dia anterior. Compulsados os sumirios referente ao perfodo de 19 jan 2 30 de junho de 1987, foram selecionadas aquelas ocorréncias em que as qualidedes de observaedo e capacidade de dedugdo foram importantes para a solucdo eficaz da ocorréncia. 1 A OBSERVACAO COMO PONTO DE PARTIDA Verifica-se, nos casos abaixo (1), que a atuacdo policial teve seu inicio na obser: vacdo, pelos policiais, de um aspecto inusitado da realicade: a, No dia 20 Fey 87, &s 20:05 horas, policiais da ROTAM 091 (Rondas Taticas Metropolitanas) do BPchq — Batalhdo de Policia de Choque — comandados pelo cabo Ri- beiro, passavam pela rua X, em frente ao nr. 74, bairro A, quando depararam com W.A.M 28 anos, residente na rua X, em atitude suspeita. Ao perceber a presence da policia, oele- mento tentou fugir e, 20 ser abordado, foram encontrados em seu poder 750 gramas de maconha e uma licenga para passar o fim de semana em casa, O mesmo € devento da Dutra Ladeira, onde cumpre pena por trafic € uso de drogas. Foi conduzido ao Departamento de Investigacdes ¢ autuado em flagrante. b, No dia 19 de abril 87, por volta de 13:00 hs., na rua X, bairro A, o sd PM Marcio Roberto de Almeida, do 130 BPM, suspeitou da atitude de V.P.S., 19 anos, soltei- ro, residente a rua X, Bairro B, que conduzia varios objetos. Ao ser abordado, tentou evadir-se. Foi detido e verificouse que arrombara momentos antes a residéncia do n? 84 da Rua A, de onde furtara uma garrucha calibre 32, com 04 cartuchos, ferramentas, roupos ¢ jéias. Foi autuado am flagranta na 7# Seccional. a) Fonte: Sintese das Ocorréncias de Destaque; Assessoria de Comunicapéo Social da Polfcia Militar de Minas Gerais. 30 c. No dia 19 abril de 87, por volta de 22:15 horas, policiais da ROTAM 080, do BPchq, patrulhavam pela Rua X com Rua Y, bairro A, quando depararam com F.WS., 26 anos, solteiro, residenta na Rua X, em atitude suspeita, conduzindo uma motocicleta vermelha. Ao ser abordada, foi constatada que a moto estava com ligagdo direta eo mesmo confessou té-la furtado no Rio de Janeiro, estando envolvido em furtos de motocicletes do Rio de Janeiro pars Belo Horizonte. O agente foi conduzido, e a moto, rebocade. d. No dia 27 abril 87, 85 05:55 horas, 0 soldado Borges, do 19 BPM, de servico fas proximidedes da Av. X, Bairro A, suspeitou do compartamento de um elemento néo Identiticado, que carregava um arande pacote e is colocé-lo no velculo Rrastlia, de cor azul. Ao perceber que seria abordado, o referido elemento abandonou 0 pacote eo car- ro e fugiu correndo, © vefculo estava com ligacdo direta @ no pacote havie varias pecas de roupas, pares de ténis @ bijouterias. A mercadoria 2 0 vefculas foram entregues na Dele- gecia Seccional Sul. e. No dia 05 maio 87, por volta das 03:00 horas, os patrulheiros da RP 920 passando pela Rua X, no bairro A, resolveram aberdar um individio que conduzia um car- rinho cheio de papel velho. Dabsixo da papelada havia um aparelho de televis#o, um som 3x1 @ varios objetos. O suspeito confessou que havia furtado © material de uma residéncia Nas proximicades, cujos moradores estavam viajando. Foi conduzido 4 Seccional Sul. f, No dia 2 jun 87, por volta de 14:40 horas, policiais da ROTAM 087 patrutha- vam pela Rua X com Rua Y, quando depararam com dois elementos em atitude suspeita. Com a eproximacéo dos policiais, os individuos tentaram fugir, mas foram detidos e identi- ficados. Tratavase de N.A.F, 20 anos @ N.C., 18 anos, tendo sido apreendida uma metra- Ihadora em poder dos mesmos. Conduzidos 3 Delegacia de Furtos @ Roubos, foi constata do que ambos esto envolvidos em assaltos e fazem parte de uma quadrilha que fa2 trafico de drogas na regido do Alto dos Minérios. 2 A OBSERVAGAO DE POPULARES COMO PONTO DE PARTIDA Observar e dedtzir ndo € privilégio de policiais. Pessoas do povo, diretamente interessadas ou nfo, sabem observar os fats, tirar dedugdes e chamar a policia para en- cerrar a ocorréncia. Alguns exemplos bem ilustrativos: a. No dia 18 abril 87, as 19:07 horas, com base om denGncias tolofanicas, a RP. 1387, comandada pelo cabo Luiz Carlos, compareceu 8 Rua X, Bairro A, onde deteve D.B.0., 22 anos, solteiro, porque, conforme as deniincias, hé 15 diac, apés uma discussio com sua amésia, A.L.L., 25 anos, solteira, ele a teria espancado, Ine desferido golpes de faca @ jogado dentro de uma cisterna, que tampou com cimento, Bombeiros comparace- ram ao local e retiraram 0 corpo, em estado de putretardo. O agente foi conduzido ao De partamento de Investigagdes ¢ autuado em flagrante. b. No dia 18 abril 87, a5 01:10 horas, a sta. N.C.S., 48 anos, vitva, residente @ Rua X, comunicou que a residencia localizade a Rua Y nr. 99, Bairro A, cujos moradores esto viejando, esteva sendo arrombada. Compareceu ao local a RP 1400, sgt Jardim, que cercou a residéncia e conseguiu deter os elementos. Eram 5 (cinco) menores, com 16 a 17 anos que ndo chegeram a furtar nenhum objeto. Foram conduzidos ao Departemento de Investigacdes. ¢. No die 24 abril 87, 2 7:10 horas, no Supermercedo Z localizado na Rus A, 4.C.A., 38 anos, casado, estoquista, foi surpreendido usando roupas que haviam sido fur- tades daquele estabelecimento alguns dias atrés, Ao fazer averiguacées, os funciondrios 3 do Supermercado descobriram que tal individuo, juntamente com S.A.M., chefe da Seguren- ‘ca, estariam desligando os alarmes 2 noite e furtando roupas, eletrodomésticos, alimentos ¢ video c2csetes, O total do prajuizo estaria em torno de Cz$80.547,00. A TM 1131 (Té tice Mével 1131), comandads pelo sd lideu, compareceu ao local, deteve J.C. € posterior mente S., conduzindo-cs pata 0 29 Distrito Policial. Segundo os agentes, grande parte do material furtado estaria na residéncia de embos. &. C.P.S., 26 anos, solteiro, residente na Rua X, Bairro A, tave sua moto Yamaha RX 180, cor vermetha, furtada proximo & sus residéncia, no dia 27 abril 88. C. verificou no jornal os enderegos de oficinas que vendism pecas de moto- cicleta e foi visité-las. Chegando & Rua X, no Bairro A, encontrou na oficina sua motoci- cleta sendo desmontada, Acionou a pol cia. Compareceu a RP 1382, do 59 BPM, sot Odilon, que fez @ detencSo de 3 (trés) elementos, tendo um deles confessado 0 furto da motoci- cleta. Foram autuados em flogrante. 3 FALHAS DE OBSERVAGAO E DE DEDUGAO Verifica-se em algumas das ocorréncias pesquisadas qu@ o resultado poderia ter sido outro se houvesse emprego dos métodos indutivo (técnica de observagdo) ¢ deduti- Os exemplos abaixo so bem signiticativos: a. No die 08 Fev 87, 8s 7:12 horas, a ROTAM 031, comandeda pelo cabo, com: pareceu a Rua X, 602 — Bairro A, onde elementos desconhecidos, armados de revélver, entraram na lola amerrando em uma Arvore o vigia, J.M.S,, 72 anos, casado, vigilante. Os agentes, além de 0 amerrarem fora da loja, vedarem seus olhos © 0 amordacaram, deixando- (© no local até 0 amanhecer. O fato ocorreu por volta de 03:40 horas. Do interior da loja foram levados: dinheiro ¢ varias pegas de roupa. Obs.: A Rua X situase em pleno centro comercial da Savassi, local de intense policiamento por radiopatrulhas. De 3:40 horas até 0 amanhecer de um domingo, ninguém = polfcia ou transeunte — viu 0 vigia amarrado a um érvore & porte da loja? b. No mesmo dia 08 Fev 87, por volta de 15:35 hs., RP 1325, do 189 BPM compareceu @ Lagoa Vérzea das Flores, Borragem da Copasa, em Betim, onde um homem ndo identificado, de aproximadamente 40 anos, moreno escuro, trajando calcéo branco, se encontrava nadendo, quando pulou e bateu com a cabeca no fundo, tendo morte ins: tanténea. O corpo foi removido para o Instituto Médico Legal. O falecido estava de posse de um vefculo Monza, cor cinza, placa NJG559 de Rio Bonito/RJ que foi rebocado para (0 depésito da Prefeitura de Betim. A ocorrencia foi registrada na Delegacia de Betim. Obs.: Faltaram observagdo e deducdo para dar continuidade 4 ocorréncia, Tudo leva a crer que o vefculo fosse furtado; no combinam a propriedade do tipo de vefculo encontrado com a atitude de estar nadando sozinho em uma lagoa, « 500 km de sua ci- dade. cc. Alguns locals am que foram encontrados vefculos furtados 1) 5 Fev87 Ford Corcel placa BG4623 — B. Hte. Localizado na Rua Sdo Paulo, 795 — Centro. B.Hte, pele guornigéo da RP 944 — 19 BPM (19 Batalhdo de Polfcia Militar). 2) 3) 4) 5) 6 7” 8) 9) 10) 11) 12) 13) 14) 6 Fev 87 Volkswagen gol, cinza, placa PD5726 — B.Hte. Localizado na Rua Tomé de Souza, 348, Bairro Funciondrios — B. Ht 7 Fev 87 Chevette ezul metélico, placa 109977 de Barra Mansa/ AJ. Localizado na Av, Brasil com Rus Cearé — B. Hie., pela RPB97, cb Lori- valdo, do 19 BPM, 8 Fev 87 Chevrolet Opala, cor marron, placa PLS639, B. Hte Localizado na Rua Dom Bras Baltazar, 25, Bairro Cachoeirinha, em &. Hie., pela guernieao da RP 1444, do 169 BPM, 21 Fev87 Cemioneta Chevrolet, cor oreta, placa C.J2446, B. Hite. Localizada na Av. Olegirio Maciel com Rua Caetés — Centro, B. Hte., pela MT (Moto de Transito) nr. 473, do Batalhdo de Policia de Transit — BP Tran, 20 Fev 87 Volkswagen Santana, cor cinza metdlico, placa 107378 Localizado na Av, Nossa Senhora do Carmo em frente @ Igreja do mesmo nome. Bairro do Carmo — B.Hte., pela guarnig¢do da RP913, do 1° BPM, 12 Fev87 Volkswagen Voyage, cor cinza, placa PA2853, 8. Hte. Localizade na Av. Barbacena com Rua Juiz de Fora, Barro Preto — B. Hite. pela guarnicdo de RP1377, do 5° BPM. 19 Fev 87 Dodge Dart, cor vermeiha, placa 811729 de B.Hte. Localizado na rua Gongalves Dios, 225, birro Funcionérios, B. Hie, 27 abril 87 Volkswagen Kombi, placa BF4265, de B. Hie, Localizada na Av. Prudente de Morais com Av. Gusicuf, Vila Poris, 8, Hte., pela MT 036, do BPTran. 16 abril 87 Volkswagen Sedan, cor azul, placa 81-4731, de B.Hte. Locelizado no estacionamento do Shopping Center Belo Horizonte, pela guarnicgo da RP 955, do 19 BPM, 19 abril 87 Caminhio Chevrolet, cor verde, placa CR 3657, de BH. Localizado na Praga da Liberdade, bairro Funcionérios, 8. Hte., pela guar- nigdo da RP9O2, do 19 BPM, 19 abril 87 Motocicleta Yamaha, cor preta, placa BL 239, de B, Hte. Localizada na Av. Amazonas, pr6ximo ao Parque de Exposigéio — bairro Gameleira, B. Hte., pela guarni¢do da RP 1372, do 50 BPM. 08 jun 87 Chevette, cor branca, placa AT9006, de B.Ht Localized na rua Manaus com Rua Alvares Maciel, bairro Santa Efigh em B.Hte., pala guarni¢do da RP906, do 1. BPM. 13 jun 87 Camioneta Ford F-1000, cor preta, placa C5529, B. Hte. Localizada na Rua Mato Grosso, entre Tamoios e Av. Bias Fortes, Cen- tro, pelo sd Sérgio Luiz Pzis, do BPTran. 15) 13 jun 87 Volkswagen Sedan, cor bege, placa AO-0456, de B. Hte. Localizado na Rua Bernardo Guimaraes, 2957, bairro Sto. Agostinho, pela MP—591 (moto-patrulha), do 19 BPM. 16) 14 jun 87 Chevrolet Opala, cor branea, placa BS5320, de B. Hte. Localizado na Av. Amazonas, proximo ao Parque de Expo: Gameleira, pela guarni¢go da RP 1799, do 59 BPM. 17) 19jun 87 Volkswagen Santana, cor cinza, placa PF1749, de B. Hie. Localizado na Rua Antnio de Albuquerque esquina com Av. do Contor~ no, bairro Funcionarios, B.Hte., pela TM 1123 [Tatico Mével) do 1° PM. o, bairro Observagies: 1a pesquisa se fixou em apenas trés meses: Fev/abr/jun/37; 0s velculos foram encontrados, por policiais-militares, estacionados na via pblica, em situagdo que indicava abandono. Comentérios sobre localiza¢io de veiculos furtados Os leitares que assimilaram o que se pretendeu ensinar até aqui devem estar aptos para as primeiras aplicag&es praticas dos métodos de indugdo — técnica de observagdo dos fendmenos — @ de deducao. A primeira observacdio, para aquele que conheve a cidede de Belo Horizonte, Todos 0s vefculos foram localizados em bairros centrais, dreas de intensa circulaggo de policiais, alguns deles proximos de aquartelamentos. Dedugées possfveis: 1. outros veiculos podem ter sido encontrados em locais diferentes @ ndo foram selecionados; 2. Os veiculos so so encontrados nos locais mencionados; 3. 0 fato de nenhum marginal ter sido preso com © vefculo furtado significa que 0 vefculo s6 foi localizaco varias horas ou dias depois de ter sido abandonado, Para as duas primeiras deducdes contraditorias, no hd elementos, no texto fornecido até aqui. de definic&io por uma ou outra hipotese. (2) ‘A 38 dedugéo implica uma quarta: alguns policieis-militares t8m observado © inusitado do cotidiano — carros estacionados em locais improprios, de forma irregular ‘ou abandonados — mas néo utilizam a relago de ve(culos furtados que Ihes ¢ fornecida Giariamente, nos moldes propostos no modelo referencial, exposto no capitulo I! deste trabalho, (2) A titulo de esclarecimento, & importante acrescentar que os enderacos de lacali- zegéo de velculos na periferia da cidade, em niimero significative. foram despre zados, de vex que no so prestavam a0 exemplo que se pretendia fornecer. CAPITULO II EXERCICIOS DE APRENDIZAGEM DOS METODOS 1 METODO INDUTIVO — EXERCICIOS DE TREINAMENTO DE OBSERVACAO. E importante que o policial-militar aprenda a observar todos os aspectos que se relacionem com sua atuacdo policial, Normalmente. as pessoas obsarvam aquilo que 6 de sou interesse: @ mulher ou o homem que estd pasando; uma oferta de negocio vantajoso: um anncio de emprego; uma noticia fora do comum, etc. Muitas coisas que esto, por assim dizer, bem diante delas, escapam a observagao das pessoas. Um exemplo é bem significative: em uma operagSo de batida om favela, dois soldados vigiavam um beco, conferindo as pessoas que saiam e efetuando buscas; uma mo- cinha com uns quinze anos, de short € camiseta, moradora na primeira casa do beco, sa‘a © entrava em cess com fregiléncia; quando um dos oficiais coordenadores da aperagao che- gou ao local, os soldados the informaram que, na instrugdo preparatéria, eles tinham sido informados de que, naquela rua, no n° 875, morave um menor com vérias entradas na De- legacia Especializada de Orientacgo a0 Menor — DEOM, em virtude da pratica de delitos, mas a rua terminava no numero 890 € eles ndo tinham achado 0 numero 876: 0 oficial recomendou que olhassem o beco, mesmo estando além do n° 890 e foi conferir com eles; na primeira casa do beco, num poste, estava afixedo © numero 875; procuradc em casa, 0 menor no se encontrava; sua irm3, a mocinha de short, trocou de roupa @ sciu lo: go depois, para avisio; desencontrou-se com ele € os soldados o detiveram na outra rua, levando-o para 0 Posto de Triagem. Concluséo: enquanto eles observavam a mocinha de short, sem notarem nem mesmo oendere¢o, ela os vigiava para alertar o irmio da presenga da policia. Os primeiros exercicios visam, assim, a mostrar as falhas de observacio que siio adas. Em seguida comecar um treinamento de observaco. prat a. Croquis da casa O primeira exerci ria, fagam um croquis da planta baixa da case onde moram: os comodas com sua dimensao aproximada, os locais das portas ¢ janelas; o sentido (lado) para o qual as portas s40 abertas, ate. io consiste em solicitar aos instruendos que, da mamé- b. Arua Reproduzir através de croquis 0 quarteirdo em que o instruendo reside, colo- cando 08 jotes vagos, es cosas, se possivel, com a cor de cada uma. Os instruendos perceberdo, com estes dois exercicios, que muitas coisas que 80 vistas varias vezes por dia nao so bem observadas. 35

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