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revista

F i s i o t e r a p i a M a n i p u l a t i v a
Volume 7 nº 30 Março/Abril de 2009 - Brasil R$ 40,00 • Portugal € 16,00

• Efetividade De Protocolo Cinesioterapêutico-Proprioceptivo em Pacientes com Assimetrias Torcionais Pélvicas em


Anteversão
• Analise Eletromiografica do Exercício Agachamento com Utilização do Cinto Pélvico
• Avaliação dos Sintomas e Capacidade Física Em Indivíduos Com Osteoartrose De Joelho
• Treinamento Muscular Ventilatorio em Pacientes Asmaticos
• Avaliacao da Latencia de Ativacao do Quadriceps Durante o Movimento de Levantar no Hemiparetico
• Classificação de Adultos Jovens Pelo Índice Anamnético de Fonseca e sua Relação com o Sinal de Emg dos Mús-
culos Da Mastigação e dos Valores Antropométricos
• Influencia Da Crioterapia Na Espasticidade - Uma Analise Qualitativa E Quantitativa
• Estimulacao Tatil E Dor Em Recem-Nascido Pre-Termo Submetido A Ventilacao Mecanica Estudo Piloto
• Avaliação Podal De Crianças Do Ensino Fundamental De Uma Escola Pública
• Os Efeitos Do Metodo Kaltenborn Em Pacientes Com Gonartrose
• Fisioterapia Respiratória no Tratamento da Espondilite Anquilosante - Estudo de Caso
• Remodelamento do Músculo Esquelético: Papel da Matriz Extracelular
Ter. Man. 2009
Abr-Mai 7(30)
ISSN 1677-5937

SUMÁRIO
Editorial....................................................................................................................................................................................................................... 03

Artigos Originais

• Efetividade de Protocolo Cinesioterapêutico-Proprioceptivo em Pacientes com Assimetrias Torcionais Pélvicas


em Antersão
Effectiveness of Kinesiotherapeutic-Proprioceptive Protocol in Patients With Anteversion Torsional Pelvic
Asymmetries...................................................................................................................................................................... 05

• Análise Eletromiografica do Exercício Agachamento com Utilização do Cinto Pélvico


Electromyographic Analysis of the Bending Down Exercise Using the Pelvic Belt................................................................10

• Avaliação dos Sintomas e Capacidade Física em Indivíduos com Osteoartrose de Joelho


Evaluation of Symptoms and Physical Capacities of People With Knee Osteoarthrosis.......................................................14

• Treinamento Muscular Ventilatório em Pacientes Asmáticos


Ventilatory Muscles Training In Asmathic’s Patients.................................................................................................................. 19

• Avaliação da Latência de Ativação do Quadríceps Durante o Movimento de Levantar no Hemiparético


Assessment of Latency of Quadriceps During Sit-to-Stand Movement on Hemiparetic...................................................... 24

• Classificação de Adultos Jovens pelo Índice Anamnético de Fonseca e sua Relação com o Sinal de Emg dos Músculos
da Mastigação e dos Valores Antropométricos
Young Adults Classification By The Fonseca Anamnesis Index And His Relation With The Chewing Muscles Emg Sign And The
Anthropometric Values.............................................................................................................................................................30

• Influência da Crioterapia na Espasticidade: uma Análise Qualitativa e Quantitativa


Influence of Cryotherapy on Spasticity: Qualitative and Quantitative Measures................................................................... 37

• Estimulação Tátil e Dor em Recém-Nascido Pré-Termo Submetido à Ventilação Mecânica: Estudo Piloto
Tactile and Pain Stimulation in Newborn Pre-Term Submitted to the Mechanical Ventilation: Pilot Study.........................................43

• Avaliação Podal de Crianças do Ensino Fundamental de uma Escola Pública


Podal Evaluation of the Childrens in Fundamental Teaching of a Public School....................................................................48

• Os Efeitos do Método Kaltenborn em Pacientes com Gonartrose


The Effect of Kaltenborn Method in Patients With Gonarthrosis........................................................................................... 54

• Fisioterapia Respiratória no Tratamento da Espondilite Anquilosante - Estudo de Caso


Respiratory rehabilitation in Ankylosing Spondylitis – Case report..................................................................................... 61

• Remodelamento do Músculo Esquelético: Papel da Matriz Extracelular


Skeletal muscle remodeling: role of extracellular matrix.........................................................................................................68

Agenda de Eventos....................................................................................................................................................................................................75
Normas para publicação............................................................................................................................................................................................76
EXPEDIENTE

Editor Chefe
Prof. Dr. Luís Vicente Franco de Oliveira
• Fisioterapeuta • Doutor em Ciências da Saúde pela Universidade de
Ter Man. 2009 Brasília - UnB – DF, Pesquisador do Conselho Nacional de Pesquisa -
CNPq e Professor do Programa de Pós-graduação Mestrado em Ciências
Jan-Fev 7(30) da Reabilitação da Universidade Nove de Julho - UNINOVE - SP

ISSN 1677-5937 Sistema Regional de Información


Editores Associados en Línea para Revistas Científicas
de América Latina, el Caribe, España y Portugal
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Prof. François Soulier • Fisioterapeuta • Osteopatia Sydney (Austrália) • Activator Methods (Hawai e Phoenix 1º e 2º Níveis and Caribbean Health Science, LATINDEX
USA) • Activator Methods - Advanced Proficiency Rating Examination (Seattle USA) • MicroKinesitherapie (França) e associada a ABEC

Conselho Científico
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Universidade Aix-Marseille – França. Pesquisadora do Prof. Dr. João Carlos Ferrari Corrêa • Fisioterapeuta Professora do Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento da
CNPq e professora do Centro de Ciências da Saúde • Doutor em Morfologia pela Universidade de Campinas UNIVAP - SP.
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Recife - PE. em Ciências da Reabilitação da Universidade Nove de Julho Doutora em Ciências Médicas pela Universitat Roviri i Vigili -
Profª. Dra. Claudia Santos Oliveira • Fisioterapeuta • – UNINOVE-SP. Réus/Espanha • Doutora em Engenharia Biomédica
Doutora em Ciências da Saúde pela Universidade de Brasília Profª. Dra. Josepa Rigau i Ma • Médica • Doutora em pela UNIVAP – SP, Professora do Instituto de Pesquisa e
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em Ciências da Reabilitação da Universidade Nove de Julho Professora da Universitat Roviri i Vigili – Réus/Espanha. Prof. Dr. Renato Amaro Zângaro • Engenheiro
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Profª. Dra. Daniela Biasotto Gonzalez • Doutora em Fisiologia e Farmacologia – Instituto de Ciências Massachusetts Institute of Technology - MIT/EUA, Professor do
Fisioterapeuta • Doutora em Eletromiografia e Articulação Biológicas ICB/ UFMG, Professora do Programa de Pós- Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento da UNIVAP - SP.
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Piracicaba - FOP/ UNICAMP, Professora do Programa de Federal de Minas Gerais – UFMG - MG. Ortopedista • Pós-Doutorado pela Universidade de Liverpool
Mestrado em Ciências da Reabilitação da Universidade Nove Profª. Dra. Luciana Fernanda R. M. Fernandes • – Inglaterra, Professor pesquisador do Centro Universitário
de Julho - UNINOVE - SP. Fisioterapeuta • Doutora em Biodinâmica do Movimento UNITRI - MG.
Profª. Dra. Débora Bevilaqua Grossi • Fisioterapeuta Humano pela UNICAMP – SP, Professora da Universidade Profª. Dra. Sandra Kalil Bussadori • Odontóloga •
• Doutora em Ciências pela UNICAMP, Professora do Metodista de Piracicaba- UNIMEP - Piracicaba - SP. Doutora em Odontopediatria pela Universidade de São Paulo
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Aparelho Locomotor da FMUSP - Ribeirão Preto - SP. em Ciências pela UNIFESP • Professor da UFMG - Belo em Ciências da Reabilitação da Universidade Nove de Julho
Prof. Dr. Dirceu Costa • Fisioterapeuta • Doutor em Horizonte - MG. – UNINOVE-SP.
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Universidade Metodista de Piracicaba UNIMEP/UFSCar - SP Fisioterapeuta • Professora do Departamento de Fisioterapia Doutora em Neurociências e Comportamento Humano pela
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Granada – Espanha, Professora da Universidade Federal da de Fisioterapia da Universidade Federal de Pernambuco Profª Dra. Selma Sousa Bruno • Fisioterapeuta •
Paraíba - UFPA - Paraíba (DEFISIO - UFPE) – PE Doutora em Ciências da Saúde pelo Centro de Ciências da
Profª. Dra. Elizabel de Souza Ramalho Viana • Profª Dra. Maria do Socorro Brasileiro Santos • Saúde pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Fisioterapeuta • Doutora em Ciências da Saúde pelo Centro de Fisioterapeuta • Doutora em Ciências pela Universidade – UFRN, Professora do Programa de Pós-Graduação em
Ciências da Saúde – CCS da UFRN – Professora do Programa Federal do Estado de São Paulo – UNIFESP/EPM, Professora Fisioterapia da UFRN - RN.
de Pós-Graduação Mestrado em Fisioterapia da Universidade do Centro de Ciências da Saúde da UFPE. Prof. Dr. Sérgio Swain Müller • Médico • Doutor em
Federal do Rio Grande do Norte – UFRN - Natal Prof. Dr. Mário Antônio Barauna • Fisioterapeuta • Cirurgia - UNESP – Botucatu – SP, Professor do Departamento
Profª. Dra. Eloísa Tudella • Fisioterapeuta • Doutora Doutor em Educação Especial e Reabilitação pela Universidade de Cirurgia e Ortopedia da UNESP – SP.
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Universidade Federal de São Carlos - UFSCar - SP. Prof. Dr. Mauro Gonçalves • Fisioterapeuta • Pós- de Ciências da Saúde da UFRN, Professora do Programa de
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Centro Universitário Augusto Motta – UNISUAM - RJ. Ciências da Reabilitação da Universidade Nove de Julho – Doutor em Engenharia de Produção na área de Ergonomia
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Responsabilidade Editorial
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Afonso S. I. Salgado • Supervisão Científica: Prof. MSc. Daniel C. L. Ribeiro • Revisão Bibliográfica: Michele Mologni • Bibliotecária - CRB-9/1526
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Andreoli
Diagramação Andréia Garcia • Produção Gráfica Equipe E&A • Impressão e acabamento Expressão e Arte

EDITORA ANDREOLI Rua Padre Chico, 705 - Pompéia - CEP 05008-010 - São Paulo - SP - Tel.: (11) 3679-7744

ASSINATURA ANUAL 6 edições: R$ 240,00


Editorial
Caro leitor, neste ano de 2009 a Fisioterapia comemora 40 anos de existência enquanto profissão regu-
lamentada. Atualmente, percebemos uma atuação profissional baseada em evidências científicas veiculadas
por periódicos nacionais e internacionais. Com certeza a Revista Terapia Manual tem contribuído muito neste
crescimento. Imbuídos do ideal de exercer nossa profissão cada vez mais alicerçados na ciência, ressaltamos o
nosso compromisso de oferecer à vocês um leitura de qualidade.

Prof Dr Luis Vicente Franco de Oliveira

Editor Chefe

Em 13 de outubro de 2009, a Fisioterapia e a Terapia Ocupacional completam 40 anos. Chegamos a essa


marca com 120 mil profissionais habilitados para exercer a profissão em todo o país. Temos muito a comemorar.
Evoluímos e conquistamos nosso espaço. Temos mais de 500 cursos no país reconhecidos pelo MEC e regidos
por diretrizes curriculares estabelecidas pelo Conselho Nacional de Educação.

No Brasil já são 380 cientistas atuando na fisioterapia e terapia ocupacional com bolsa de produtividade em
pesquisa, mais de 500 profissionais com doutorado e milhares com mestrado em programas reconhecidos pela
Capes. Um censo do CREFITO-SP feito pela VUNESP em 2008 revelou que 75% dos profissionais do Estado de
São Paulo possuem Pós-graduação Lato Sensu.

Somos uma população jovem, mas que ainda vive uma década a menos do que as pessoas dos países
desenvolvidos, devido à alta incidência de doenças crônicas, deficiências físicas, entre outras. Essas doenças
e disfunções podem e devem ser combatidas com a oferta dos serviços de nossos profissionais à sociedade.
Para tanto, basta que o Governo cumpra a Constituição Federal e oferte os serviços de nossos profissionais à
sociedade. Lembrando que 75% da população depende do SUS para ter acesso aos serviços de Fisioterapia e
Terapia Ocupacional, enquanto hoje menos de 5% de nossos profissionais prestam serviços para o Estado. Por
outro lado, os Planos de Saúde também mantém nossos profissionais trabalhando por preço vil e dificultando o
acesso dos seus usuários aos nossos serviços.

A boa notícia é que essa situação de afronta à dignidade de nossos profissionais e de desrespeito aos direitos
do cidadão está mudando. Ações políticas e jurídicas do CREFITO-SP têm logrado êxito em fazer com que os
serviços de nossos profissionais sejam colocados para garantir a longevidade e a qualidade da vida.

A era em que a Fisioterapia e a Terapia Ocupacional serão ofertadas a toda a população, com uma remune-
ração digna aos profissionais, só depende de você. Prescreva nossos serviços e oriente seus pacientes a fazer
valer seus direitos, exigindo das autoridades competentes a oferta dos atendimentos de Fisioterapia e Terapia
Ocupacional. Ao fazer a sua parte você está contribuindo para que o futuro chegue logo. Esse é o legado que
devemos deixar para as próximas gerações.

Prof. Dr. Gil Lúcio Almeida, PT, MS, PhD, Pós-doc

Universidade de Ribeirão Preto (Unaerp)

Universidade de Campinas (Unicamp)

New York Institute of Technology (NYIT)

Presidente do Conselho dos Fisioterapeutas e Terapeutas Ocupacionais do Estado de São Paulo


4

Artigo original

Efetividade de Protocolo Cinesioterapêutico-


Proprioceptivo em Pacientes com Assimetrias
Torcionais Pélvicas em Antersão
Effectiveness of Kinesiotherapeutic-Proprioceptive Protocol in Patients With Anteversion
Torsional Pelvic Asymmetries
Alexandre Carvalho Barbosa1, Dayane Coelho da Costa2, Rúbia Tenile dos Santos3, Bianca Callegari3,
Alessandro Pin3, Karla Baraúna3

Resumo: Os distúrbios assimétricos da articulação sacroilíaca podem desencadear perda da funcionalidade e limi-
tações das atividades de vida diária, representando cerca de 40% das dores lombossacrais. O objetivo foi analisar
a efetividade de protocolo cinesioterapêutico-proprioceptivo para redução angular e de dor em pacientes que apre-
sentam assimetrias torcionais pélvicas em voluntárias com idade entre 20 a 35 anos, apresentando anteversão.
Dividiu-se a pesquisa em três etapas: (1) avaliação inicial da angulação pélvica e de dor percebida das voluntárias
(escala visual analógica), (2) intervenção fisioterapêutica através de exercícios concêntricos para músculos isquio-
tibiais e exercícios excêntricos para músculo quadriceps durante 45 dias (três sessões semanais com três series de
dez repetições), e (3) reavaliação da dor e da angulação pélvica. Esta foi realizada por meio da biofotogrametria
computadorizada, na qual mensuramos o ângulo de anteversão iliaco. Para o protocolo foram adotados exercícios a
20% de carga submáxima. Na avaliação biofotogramétrica inicial observamos 18,69º de anteversão e posteriormen-
te 12,05º. A avaliação subjetiva de dor apresentou média de 5,65 pontos iniciais e 4,49 pontos na avaliação final.
Ambos os dados com diferenças significantes entre os momentos. O protocolo mostrou-se efetivo para correção de
assimetrias em anteversão para as voluntárias estudas, com diminuição do quadro álgico.
Palavras-chave: Fisioterapia, Terapia Manual, Pelve, Propriocepção.

Abstract: The sacroiliac joint assymmetries may cause loss of functionality and daily life activities limitations, representing
about 40% of low-back pains. The purpouse of this study was to analyze the effectiveness of kinesiotherapeutic-
proprioceptive protocol in patients who have torsional pelvic anteversion asymmetry aged 20 to 35 years-old. The
research was divided into three stages: (1) initial evaluation of volunteers pelvic angle and pain level (visual analogue
scale), (2) physical therapy intervention through concentric exercises to hamstrings muscles and concentric exercise
to quadriceps muscle for 45 days (three sessions/week, three series of ten repetitions), and (3) revaluation of pain
and pelvic angle. This was performed by biophotogrammetry, measuring the pelvic angle. The protocol included 20%
sub-maximum exercises levels. Initial biophotogrammetric evaluation showed 18,69º and the final, 12,05º of pelvic
anteversion. Pain subjective evaluation showed initial mean of 5,65 points and 4,49 points on final evaluation, both
datas demonstrate significant differences between the moments. The protocol demonstrates effectiveness to treat
anteversion asymmetries on the studied group, with pain decrease.
Keywords: Physical Therapy, Manual Therapy, Pelvis, Proprioception.

* Artigo recebido em 14 de janeiro de 2009 e aprovado em 13 de março de 2009.

1 Coordenador e docente do Curso de Fisioterapia – Faculdade Seama - Macapá - AP, Brasil.


2 Acadêmicas de Fisioterapia – Faculdade Seama - Macapá - AP, Brasil.
3 Docentes do Curso de Fisioterapia – Faculdade Seama - Macapá - AP, Brasil.

Endereço para correspondência:


Alexandre Carvalho Barbosa – Av. Ana Nery 1150 Casa O – Jesus de Nazaré – Macapá/AP CEP 68908-186 Tel.: (96) 3223-3465 /
(96) 8111-2742 e-mail alexwbarbosa@yahoo.com.br

Ter Man. 2009; 8(30):4-9


Alexandre Carvalho Barbosa, Dayane Coelho da Costa, Rúbia Tenile dos Santos, Bianca Callegari 5

Introdução torcional as alterações posicionais tos básicos, como câmera digital e


Articulações sacroilíacas (ASI) de um ilíaco em relação ao outro computador, permitindo realizar a
formam o arco entre os dois ossos associado à disfunção sacroilíaca avaliação postural e quantificar as
pélvicos. Juntamente com a sínfi- (DSI), condições em que a arti- alterações encontradas. Esse re-
se púbica, elas ajudam a transfe- culação tem sua função mecânica curso proporciona inúmeras vanta-
rir o peso da coluna vertebral para alterada por fixações sacroilíacas7, gens, tais como praticidade, baixo
os membros inferiores e provêem podendo inibir a capacidade de tor- custo, precisão e característica não
elasticidade ao anel pélvico. Essas ção compensatória dos segmentos invasiva. Sua utilização pode faci-
articulações também atuam como vertebrais adjacentes8. litar a quantificação das variáveis
amortecedores para reduzir a força A anatomia dessa articulação morfológicas relacionadas à postu-
de choques e impactos que incidem é complexa e exclusiva, com um ra, obtendo-se dados mais confiá-
sobre a coluna vertebral e a porção compartimento superior sindesmó- veis do que aqueles conseguidos
superior do corpo em decorrência tico e um compartimento inferior pela observação visual. Esta técnica
do contato dos membros inferiores sinovial. O osso ilíaco apresenta de análise mostra-se relevante tan-
com o solo. Por causa dessa função cartilagem fibrocartilaginosa delga- to para a credibilidade quanto para
amortecedora de choques, a estru- da e o sacro é coberto por uma car- a confiabilidade das pesquisas em
tura das articulações sacroiliacas e tilagem hialina mais grossa, o que reabilitação11,12.
da sínfise púbica é diferente da es- deixa o lado do ilíaco mais vulnerá- Este estudo teve como objetivo
trutura da maioria das articulações1. vel a qualquer patologia capaz de verificar a efetividade de protocolo
A ASI é vinte vezes mais vulne- afetar a articulação9. Para garantir experimental onde o processo de
rável a falhas compressivas axiais a estabilidade e ainda lidar com estabilização muscular seja regido
e duas vezes suscetível a torções seu papel funcional, a ASI é forta- por estímulos neurofisiológicos, bem
axiais excessivas que os segmentos lecida pelo ligamento interósseo e como analisar o grau de anteversão
lombares2, portanto sua estabilidade por superfícies congruentes que fa- da pelve através do recurso da bio-
é extremamente necessária durante cilitam a integração óssea. Acredi- fotogrametria antes e após interven-
atividades locomotoras ou mesmo ta-se que ASI nos bípedes suporte ção, verificando estabilidade da pel-
durante o ortostatismo. Acredita-se duas vezes a carga do tronco devi- ve, e minimizar ou abolir o processo
atualmente que a ASI seja parcial- do às influências gravitacionais. O álgico do grupo de voluntárias.
mente responsável pela ocorrência equilíbrio e a sustentação do peso
de dor lombossacral, podendo atin- impuseram alteração posicional da Métodos
gir cerca de 40% dos casos3. É tam- ASI do bípede, alinhada mais para- A pesquisa experimental, tipo
bém uma articulação muito estável lelamente à coluna vertebral10. estudo intervencional prospectivo,
e com pouca mobilidade4. A biofotogrametria computado- pelo método de abordagem quan-
A relação da ASI com distúrbios rizada é definida como a mensura- titativa incluiu 10 voluntárias com
musculares tem sido discutida de ção de determinado fenômeno por idade de 20 a 35 anos com diag-
forma a relacionar tais distúrbios meio de fotografias. É um recurso nóstico fisioterapêutico de DSI e
com assimetrias torcionais pélvicas acessível à maioria dos fisiotera- AT. Critérios de exclusão: histórico
(ATs) . Entende-se por assimetria
5,6
peutas que possuem equipamen- de patologias reumáticas e pato-
logias musculares, portadoras de
quaisquer doenças neurológicas.
As voluntárias foram esclarecidas
sobre o estudo e todas assinaram
termo de consentimento, concor-
dando em participar da pesquisa,
de acordo com a Resolução 196/96
do Conselho Nacional de Saúde. A
pesquisa foi aprovada previamente
pelo Comitê de Ética e Pesquisa da
Faculdade Seama.
As voluntárias foram solicitadas
a marcarem na Escala Visual Ana-
lógica (EVA) o nível de dor compre-
endido para quantificá-la antes de
iniciar o tratamento. Na ficha de
Figura 1. Biofotogrametria computadorizada: método de avaliação de anteversão pélvica. avaliação de dor foram registrados

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6 Efetividade de Protocolo Cinesioterapêutico-Proprioceptivo

dados pessoais e o exame físico em pronação e membros inferiores A normalidade dos dados foi
realizado. Seguiu-se a avaliação em flexão de quadril e extensão de verificada pelo teste de Shapiro-
da anteversão pélvica com biofo- joelho. Solicitamos exercícios excên- Wilk. Considerando que os dados se
togrametria computadorizada pelo tricos do músculo quadríceps, utili- mostraram normais, optou-se por
software ALCIMAGE®, com as vo- zando resistência no tornozelo, as tratamento paramétrico nas com-
luntárias trajando roupa adequada. voluntárias realizaram o movimento parações realizadas. Os momentos
Identificamos e a demarcamos os de flexão do joelho e a terapeuta re- de avaliação foram comparados
pontos anatômicos espinha ilíaca alizou o movimento de extensão, re- pelo Teste t pareado e pelo ANOVA
ântero-superior (EIAS) e póstero tornando à posição original, ou seja, 1 via para verificar diferenças.
superior (EIPS), de forma palpatória a voluntária não realizava a volta do
manual. Estes pontos foram identi- membro à posição original. Em se- Resultados
ficados por marcadores adesivos guida, as voluntárias realizaram a Foram observadas as médias
e, traçando retas: uma paralela ao segunda parte do protocolo, onde o de angulações feitas pela biofoto-
solo – 180o entre 2 retas – e outra exercício concêntrico dos músculos grametria inicial (M1) de 18,69º ±
entre os pontos anatômicos marca- isquiotibiais era preconizado em de- 1,83º, e na avaliação final (M2), ob-
dos – vértice na EIAS (figura 1). cúbito ventral. Neste, as pacientes servamos uma redução angular para
A intervenção fisioterapêutica faziam flexão de joelho também 12,05º ± 2,21º na média (Figura 2).
foi desenvolvida por cinco semanas. com a resistência no tornozelo e, Diferenças significantes foram ob-
As voluntárias realizaram três ses- durante a volta (extensão do jo- servadas entre os dois momentos.
sões semanais com três séries de elho), a terapeuta auxiliava, não Na avaliação da dor subjeti-
dez repetições de cada exercício permitindo que a voluntária desen- va, encontramos média de valores
proposto, ministrados pela tera- volvesse força excêntrica. em M1 de 5,65±2,90 pontos e em
peuta. As sessões foram realiza-
das em maca e, durante a terapia,
as voluntárias trajavam roupas
de ginástica. Comando verbal foi
utilizado, com vocabulário de fácil
compreensão às voluntárias.
A proposta de protocolo visou
a correção de AT em anteversão, de
forma a minimizar a predominância
dos músculos flexores de quadril
(reto femoral para este estudo – es-
tímulo quadricipital) sem perda da
estabilidade pela contração muscu-
lar isotônica excêntrica como alter-
nativa ao tratamento para estímulo
proprioceptivo específico.
De modo análogo, o uso de
exercícios concêntricos foi preconi- Figura 2. Biofotogrametria. Diferença significativa assinalada (p<0,05).
zado para os músculos isquiotibiais
(semi-tendinoso, semi-membrano-
so, bíceps da coxa), fornecendo es-
pecificidade proprioceptiva ao sis-
tema. Sendo os mecanorreceptores
musculares ou articulares providos
de estímulos de prioridade proprio-
ceptiva adequada ao distúrbio que
deseja-se corrigir. Os exercícios re-
sistidos foram realizados a 20% da
carga submáxima, evitando a piora
proprioceptiva.
Os exercícios foram realizados
na posição sentada, com os braços
estendidos poiando-se na maca, mão Figura 3. Escala Visual Analógica. Diferença significativa assinalada (p<0,05).

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Alexandre Carvalho Barbosa, Dayane Coelho da Costa, Rúbia Tenile dos Santos, Bianca Callegari 7

M2 de 4,49±2,96 pontos, havendo cinética fechada. Observando-se para que os sinais lesionais fossem
também diferença significante en- os músculos extensores do quadril minimizados em detrimento do re-
tre as avaliações (Figura 3). vê-se o contrário: uma insuficiência sultado com o controle motor. Es-
dos ísquiotibiais e do glúteo máxi- tudos recentes demonstram que o
Discussão mo, juntamente com os retos ab- treino sensoriomotor pode induzir
As articulações sacroilíacas, dominais em estabilizar o excesso diferentes adaptações neurais que
sendo articulações sinoviais e pos- dos flexores. Como o objetivo final afetam especificamente o recru-
suidoras de movimento, estão su- consiste em músculos bem contro- tamento e as taxas de disparo de
jeitas à diversos mecanismos e lados, a proposta, em nosso proto- unidades motoras no início da con-
condições que afetem a sua função. colo experimental, foi de não ape- tração voluntária20. Neste sentido,
Geralmente o trauma é o principal nas alongar os músculos flexores do ainda não temos dados para afir-
fator, agudo ou repetitivo. Outros quadril, especificamente o reto fe- mar se as adaptações de controle
incluem desuso, alterações postu- moral. Para este, propusemos prio- motor foram no aumento dessas
rais, causas inflamatórias ou doen- rizar o exercício isotônico excêntri- taxas de disparo ou na quantidade
ça . A manutenção das posturas
13
co, pelos benefícios do treinamento total de fibras que reforçam o posi-
assimétricas denota ocorrência de e para o estímulo proprioceptivo cionamento pélvico, porém clinica-
microtraumas cumulativos intra e específico, desejando um músculo mente temos, pelos dados obtidos,
periarticulares. As alterações posi- que estabiliza excentricamente o a melhora na condição álgica e
cionais de um ilíaco em relação ao sistema16. O exercício isotônico ex- postural das pacientes estudadas.
outro, associadas à disfunção pélvi- cêntrico tem a propriedade de gerar
ca, ocasionaram estresses nas arti- maior tensão ao músculo do que o Conclusões
culações sacroilíacas, sendo esta a exercício isotônico concêntrico ou Os resultados biofotogramé-
causa mais comum e menos diag- o isométrico17, porém é o exercício tricos e a análise da dor percebida
nosticada da disfunção pélvica14,15. que também mais ocasiona micro- pelas voluntárias sugerem que o
Não foram constatados, neste es- traumas teciduais musculares por protocolo cinesioterapêutico-pro-
tudo, quaisquer fatores descartas- ruptura de retículos sarcoplasmá- prioceptivo aplicado foi efetivo para
sem a causa postural, pelo contrá- ticos e extravasamento de Ca+2, minimizar a assimetria torcional
rio, o resultado biofotogramétrico que ativa o processo de espasmo em anteversão, bem como para
demonstrou assimetria torcional (tensão passiva) e de inflamação redução de dor e consequente me-
presente em todas as pacientes es- para subsequente reparo tecidual, lhora funcional. Estudos para ve-
tudadas (anteversão), e disfunção exigindo adaptações teciduais mus- rificação de desempenho muscular
sacroilíaca com dor lombossacral. culares e conjuntivas . No entan-
18 em situações análogas, bem como
Na anteversão, fator posicio- to, exercícios excêntricos, quando em associação com outros protoco-
nal deste estudo, podemos obser- adequadamente prescritos e repe- los de tratamento e avaliação estão
var a predominância dos músculos tidos de forma subseqüente, geram em desenvolvimento pelo Núcleo
flexores de quadril (ílio-psoas e reto redução dos sintomas e proporcio- de Pesquisa em Fisioterapia Trau-
femoral) e dos paravertebrais (qua- nam o efeito de treinamento mus- mato-Ortopédica – NUPEFIT.
drado lombar em cadeia cinética fe- cular . A carga aplicada, o número
19

chada basculando anteriormente o de repetições e as séries de treino Agradecimentos

ilíaco a que se fixam. A contração foram fundamentais para minimizar À Faculdade Seama e ao NU-
PEFIT pelo apoio dado aos pesquisa-
muscular é então realizada e manti- tais alterações e consequentes da-
dores durante o desenvolvimento da
da por estes grupos para a ocorrên- nos teciduais. Preconizamos o tra-
pesquisa e na revisão do trabalho.
cia da báscula anterior em cadeia balho a 20% de carga submáxima

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Ter Man. 2009; 8(30):5-9


9

Artigo Original

Análise Eletromiografica do Exercício Agachamento


com Utilização do Cinto Pélvico
Electromyographic Analysis of the Bending Down Exercise Using the Pelvic Belt.
Carlos A. Kelencz1,2, Cesar F. Amorim2, Ibrahim R. El Hayek1

Resumo: O objetivo deste estudo foi analisar eletromigraficamente os músculos: reto femoral (RF), bíceps femoral
(cabeça longa) (BFCL), eretor da espinha (ES) e glúteo máximo (GM), de ambos os lados nas fases excêntrica e
concêntrica durante a execução do exercício agachamento, que podem ser realizadas com ou sem a utilização de um
cinto pélvico. Participaram deste estudo (10) voluntárias praticantes do agachamento, com idade de 20 a 22 anos, e de
antropometria semelhante e sem antecedentes de lesões músculo esqueléticas. Com os resultados obtidos, concluiu-
se que: o uso do cinto não apresenta um efeito significativo sobre as ações da RF, BFCL, ES e GM músculos, este fato
ocorrendo apenas para o direito músculo glúteo máximo, que apresentou um maior nível de atividade, sem o uso do
cinto. Todos os músculos apresentam maior atividade na fase concêntrica do movimento.
Palavras-chave: Eletromiografia, Agachamento, Músculo.

Abstract: This study examined the electromyographic muscles: rectus femoris (RF), biceps femoris (long head)
(BFCL), erectors spinae (ES) and gluteus maximus (GM), on both sides during eccentric and concentric during execution
the squat exercise, which can be taken with or without the use of a belt pelvic. Participial this study (10) voluntary
practitioner’s squat, aged 20 to 22 years, and similar anthropometry and without a history of skeletal muscle injury.
With the results obtained, it was concluded that: the use of the belt does not present a significant effect on the actions
of the RF, BFCL, ES and GM muscles, this fact occurring only for the right gluteus maximus muscle which presented
a greater level of activity without the use of the belt. Regarding the movement phases, all of the muscles presented
greater levels of activity while raising the load.
Keyword: Electromyographic, Squat, Muscle.

*Artigo recebido em 20 de janeiro de 2009 e aprovado em 23 de março de 2009

1. Centro Universitário Ítalo Brasileiro - UNIÍTALO - São Paulo - SP, Brasil.


2. Universidade do Vale do Paraíba - UNIVAP - São José dos Campos – SP, Brasil.

Endereço para correspondência:


Carlos Alberto Kelencz - R. Ermelinda Meletti Teldeschi, 630, São Paulo-SP - e-mail:carloskelencz@terra.com.br

Ter Man. 2009; 8(30):9-13


10 Análise Eletromiografica do Exercício Agachamento com Utilização do Cinto Pélvico

INTRODUÇÃO eletromiografia semelhantes nas Os sinais eletromiográficos


O agachamento ou “squat”, é diferentes condições de uso do foram amostrados com uma fre-
extremamente valorizado por seus cinto. O autor conclui que existe quência de 2000 Hz (2000 amos-
praticantes devido a grande exi- pouca diferença entre os tipos de tras por segundo), digitalizados
gência dos grupos musculares lo- cinto e que o uso do mesmo pode por uma placa de conversão A/D
calizados nos membros inferiores. ajudar a apoiar o tronco aumen- (analógico-digital) com 16 bits de
Para obter-se resultados melhores tando a pressão intra-abdominal. resolução, e armazenado em um
com a prática deste exercício, é O efeito do cinto usado durante o computador padrão para posterior
necessário que o praticante obser- levantamento de carga no traba- análise. Em todos os procedimen-
ve com atenção a técnica correta lho, a partir de diferentes alturas tos relativos à coleta, ao registro
de execução. Geralmente o equi- iniciais da carga, foi analisado por e ao tratamento do sinal de EMG,
líbrio entre conforto e eficiência é Gonçalves7, concluindo que no le- foi seguida às recomendações da
obtido com os pés afastados cerca vantamento de carga manual, os Sociedade Internacional de Ele-
de trinta centímetros e dirigidos músculos eretores da espinha e trofisilogia e Cinesiologia (ISEK)
ligeiramente para fora. A velocida- obliquo externo do abdome apre- relativas ao emprego da eletro-
de de execução em geral deve ser sentaram atividade eletromiográ- miografia9.
lenta, especialmente na fase ex- fica semelhante independente da Para existir um sincronismo
cêntrica do movimento (descida), posição inicial, com e sem o uso entre a aquisição do registro ele-
que é em geral menor que na fase do cinto pélvico. tromiográfico com o registro cine-
concêntrica (subida). Um dos pon- Neste sentido o presente es- mático, foi utilizado um sistema
tos fundamentais do agachamento tudo tem o propósito de analisar fotoeletrônico10. possibilitando fa-
é a respiração, na qual deve-se eletromiograficamente os múscu- zer a análise a partir de um flech
inspirar mantendo o fechamento los, reto da coxa, bíceps da coxa que determina o início da coleta
da glote durante a descida. Esta (cabeça longa), glúteo máximo e eletromiográfica, possibilitando
apnéia é mantida até que se passe eretores da espinha, do lado di- determinar quadro a quadro do
pela parte mais difícil da fase as- reito e esquerdo, durante o exer- filme quando examinado o vídeo.
cendente que compreende o últi- cício denominado agachamento na Em cada registro realizou-se o cal-
mo terço da subida, quando então musculação, nas fases de descida e culo do valor de RMS (root mean
se deve expirar. A apnéia é impor- a subida, com e sem a utilização de square) do sinal após o procedi-
tante neste exercício, porque cria cinto pélvico. mento de retificação de onda to-
maior pressão intra-abdominal e tal. A atividade eletromiográfica
intratorácica, o que ajuda a esta- MATERIAL E MÉTODOS de cada músculo foi normalizada
bilizar a coluna1,2. Participaram deste experi- pela atividade eletromiográfica
Outro mecanismo utilizado mento dez (10) voluntários do produzida por contração isomé-
com o objetivo de aumentar estas sexo feminino com idade variando trica voluntária máxima (CIVM =
pressões e estabilizar o tronco, de 20 a 22 anos sem antecedentes 100%) da atividade.
é o uso do cinto pélvico3, assim de doenças músculo-esqueleticas O movimento foi realizado
como uma redução das forças e de antropometria semelhante a partir da posição em pé, com a
compressivas sobre os discos os quais foram orientados sobre barra apoiada na região póstero-
intervertebrais4,5. as atividades a serem realizadas superior do tronco, abaixo da sé-
Com o objetivo de verificar o no momento do experimento, e tima vértebra cervical. A distância
efeito do uso do cinto pélvico du- assinaram termo de consenti- entre as mãos na barra, era a mais
rante o agachamento e com por- mento. Este estudo foi foi apro- confortável possível. O tronco per-
centagens de carga diferentes sob vado pelo comité de ética e pes- maneceu estendido durante todo o
a força de reação do solo, a pres- quisa da Univap sob o protocolo movimento e com uma ligeira in-
são intra-abdominal, a atividade no H076/2006. Para o registro do clinação à frente, os pés permane-
eletromiográfica do músculo reto sinal eletromiográfico, utilizou-se ceram no solo durante todo o mo-
do abdome, obliquo externo e ere- o sistema de eletromiografia de vimento, ficando afastados a uma
tores da espinha6, constatou que 08 canais da marca Emg System distância confortável e dirigidos
as maiores diferenças foram regis- Do Brasil Ltda, composto por ele- ligeiramente para fora.
tradas com 90% de 1RM, onde foi trodos diferencias ativos , com Os dados foram analisados
observado que a pressão máxima ganho de amplificação de 100 estatisticamente utilizando o teste
intra-abdominal era sempre maior vezes, filtro analógico passa ban- de Friedman e Wilcoxon para p<
quando era usado o cinto, sendo da de 20 a 500 Hz e rejeição de 0,05.
que os valores encontrados na modo comum > 120 dB8.

Ter Man. 2009; 8(30):10-13


Carlos A. Kelencz, Cesar F. Amorim, Ibrahim R. El Hayek 11

RESULTADOS

Tabela 1 – Valores de RMS normalizados médios e desvios padrão dos músculos reto da coxa (RC), bíceps da coxa
(cabeça longa) (BCCL), glúteo máximo (GM) e eretores da espinha (EE), do lado direito e esquerdo, durante o exercício
agachamento, nas fases de descida e a subida, com cinto (CC) e sem cinto (SC).

MÚSCULOS
DIREITO ESQUERDO
R.C. B.C.C.L. E.E. G.M. R.C. B.C.C.L. E.E. G.M.
46,47 k 27,96 m 56,66 a 21,71 o 42,42 l 32,30 n 57,65 b 20,22 p
DESCIDA ± 50,58 ± 23,10 ± 40,83 ± 18,30 ± 43,72 ± 26,92 ± 44,12 ± 20,56
SC
124,48 c 45,10 108,73 40,26 j v 105,15 57,73 104,75 33,04
SUBIDA ± 107,85 ± 39,27 ± 112,05 ± 38,82 ± 64,89 ± 45,40 ± 103,55 ± 33,37

45,93 q 26,65 s 57,43 d 22,06 39,12 r 32,11 t 61,56 u e 20,81


DESCIDA ± 27,63 ± 23,33 ± 37,26 ± 20,02 ± 24,91 ± 26,07 ± 52,71 ± 20,13
CC
105,42 f 43,85 103,67 g 36,56 90,71 h 53,27 120,84 i 33,29
SUBIDA ± 97,72 ± 39,71 ± 85,68 ± 36,35 ± 50,34 ± 39,17 ± 115,10 ± 30,80

Teste de Friedman, para p< 0,05 e teste DMS Todos os músculos analisados
a. p< 0,05 em relação ao músculo GD na mesma fase SC. apresentaram maior atividade ele-
b. p< 0.05 em relação ao músculo GE na mesma fase SC. tromiográfica durante a fase de su-
c. p< 0,05 em relação ao músculo BD na mesma fase SC. bida, independente do uso ou não
d. p< 0,05 em relação ao músculo GD na mesma fase CC. do cinto, devido ao fato da direção
e. p< 0,05 em relação ao músculo GE na mesma fase CC. a favor da gravidade imprimir uma
f. p< 0,05 em relação ao músculo GD na mesma fase CC. aceleração que por um período
g. p< 0.05 em relação ao músculo GD na mesma fase CC. muito rápido não exige uma ação
h. p< 0,05 em relação ao músculo GE na mesma fase CC. muscular efetiva, o que reinicia ao
i. p< 0,05 em relação ao músculo GE na mesma fase CC. final do movimento com intuito de
desacelerar e proteger as estru-
turas ósteoligamentares e iniciar
Teste Wilcoxon para p< 0,05 a fase de subida18. Nesta fase de
j. p< 0,05 em relação ao músculo GE, na mesma fase SC. subida o movimento é concêntrico
k. l, m n, o, p, p< 0.05 em relação ao mesmo músculo na fase de subida SC. para todos os músculos analisados,
q. r, s, t, u, p< 0,05 em relação ao mesmo músculo na fase de subida CC. o que torna geralmente a atividade
v. p< 0,05 em relação ao mesmo músculo na mesma fase CS. eletromiográfica maior para com-
pensar a desvantagem mecâni-
ca que gradativamente se impõe,
DISCUSSÃO mentar ainda mais sua atividade o que é somado a sua realização
Com e sem o uso de cin- pois atua como um extensor do contra a força de gravidade e por
to pélvico verifica-se que existiu tronco11-14. este motivo o registro eletromio-
uma diferença significativa para O músculo reto da coxa direi- gráfico foi maior, com exceção para
os músculos eretor da espinha to e esquerdo, com e sem o uso o músculo glúteo máximo direito e
direito e esquerdo em relação ao de cinto pélvico na fase de subida esquerdo com o uso do cinto pél-
glúteo máximo direito e esquerdo apresentou diferença significativa vico cuja atividade foi semelhante
respectivamente durante a fase em relação ao músculo glúteo má- para as duas fases, provavelmente
de descida e subida, sendo o ere- ximo direito e esquerdo nas mes- pela estabilização do tronco pelo
tor da espinha aquele que apre- mas condições, sendo o músculo cinto reduzindo assim a velocida-
sentou maior atividade em ambas reto da coxa foi o que apresentou de angular do quadril e exigindo
situações, pelo fato do músculo maior atividade uma vez que pela constantemente uma atividade em
eretor da espinha além de ser um extensão do joelho estes atuam ambas as fases com objetivo de
músculo antigravitatório, particu- como motores primários13,15-17, promover um momento extensor
larmente nesta situação necessita destacando-se algo muitas vezes que compensasse o momento fle-
manter a carga da barra sobre o contrário aos objetivos dos prati- xor promovido pela carga durante
tronco o que enfatiza sua ativida- cantes desta modalidade os quais este movimento.
de durante a fase de descida ao acreditam ter o glúteo máximo
mesmo tempo que para vencê-las uma atividade muito intensa em CONCLUSÕES
durante a subida necessita au- ambas as fases. Conclui-se com este estudo

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12 Análise Eletromiografica do Exercício Agachamento com Utilização do Cinto Pélvico

que os músculos reto da coxa, mento tanto na fase concêntrica músculos.


eretor da espinha, bíceps da coxa como na fase excêntrica, sendo Na fase concêntrica foi onde
cabeça longa e glúteo máximo, que o uso ou não do cinto pélvico todos os músculos apresentaram
apresentaram atividade elétrica não demonstrou qualquer altera- maior atividade elétrica dos mús-
significativa durante este movi- ção na atividade elétrica destes culos.

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Artigo Original

Avaliação dos Sintomas e Capacidade Física


em Indivíduos com Osteoartrose de Joelho
Evaluation of Symptoms and Physical Capacities of People With Knee Osteoarthrosis
Fernanda Akemi Okumura1, Filipe Abdalla dos Reis2, Ana Carulina Guimarães Belchior2, Paulo de Tarso Camillo
de Carvalho2, Baldomero Antônio Kato da Silva2, Daniel Martins Pereira2, Erica Martinho Salvador Laraia2

Resumo: A osteoartrose (OA) é uma doença articular crônico-degenerativa de caráter inflamatório que provoca
destruição da cartilagem articular levando a deformidade da articulação e quando sintomática progride em um padrão
que inclui dor articular, perda de força, incapacidade para marcha e redução da aptidão física. O presente estudo teve
o objetivo de avaliar os sintomas e capacidade física em indivíduos portadores de OA de joelho. Foram avaliados 30
voluntários, provenientes do Centro de Reabilitação da Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região
do Pantanal – UNIDERP, com média de idade de 64,5 (±10,8) de ambos os sexos. A avaliação foi feita por meio de
questionário algo funcional de Lequesne. Pode-se observar maior número de voluntários (33,3%) com índice de
gravidade classificado como grave. Quando testado a hipótese de correlação entre idade e capacidade física, observou-
se dependência positiva, no coeficiente de correlação linear de Pearson mostrando que quanto maior a idade, pior
o índice de gravidade obtido pelo score (p=0,0242). O peso e a relação peso/altura caracterizada pelo IMC não
demonstrou correlação no resultado final do score de Lequesne. Com os resultados obtidos neste estudo, conclui-se
que o maior número de pacientes (33,3) encontra-se com índice de gravidade classificado como grave; e que quanto
maior a idade, pior o índice de gravidade de lesão da osteoartrose.
Palavras-Chave: Osteoartrose, Joelho, Capacidade Física.

Abstract: Osteoarthritis (OA) is a chronic, degenerative joint disease of character that causes inflammatory destruction
of articular cartilage leading to joint deformities and when symptomatic progresses in a pattern that includes joint
pain, loss of strength, inability to walk and reduced physical exercises. This study aimed to evaluate the symptoms and
physical capacity in individuals with OA of the knee. We assessed 30 volunteers from the Rehabilitation Center of the
University for Development of the State and the Region of the Pantanal - UNIDERP, with a mean age of 64.5 (± 10.8)
of both sexes. The evaluation was made through a questionnaire algo funcional of Lequesne. It was possible to observe
that most of volunteers (33,3%) with severity index, classified as serious. When tested the hypothesis of correlation
between age and physical ability, there was positive dependence in coeficiente linear correlation of Pearson showing
that the greater the age, the worst rate of gravity obtained by the score (p = 0.0242). The weight and the weight /
height characterized by BMI showed no correlation in the final score of the Lequesne. The results from this study, it
appears that the largest number of patients (33.3) is to index of severity classified as serious, and that the greater the
age, the worst index of severity of injury of osteoarthritis.
Keywords: Osteoarthritis, Knee, Physical Capacities

*Artigo recebido em 26 de janeiro de 2009 e aprovado em 27 de março de 2009

1 Curso de Fisioterapia da Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal – UNIDERP - Campo Grande – MS,
Brasil.
2 Docentes do Curso de Fisioterapia da Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal - UNIDERP - Campo
Grande – MS, Brasil.

Endereço para correspondência:


Filipe Abdalla dos Reis - Rua: Irmãos Vilasboas, nº 140, Bairro: Vila Margarida. CEP: 79023-036 - Campo Grande – MS. Tel.: (67)
9207-6011 - E-mail: fi_abdalla@terra.com.br

Ter Man. 2009; 8(30):14-18


14 Avaliação dos Sintomas e Capacidade Física em Indivíduos com Osteoartrose de Joelho

INTRODUÇÃO A incapacidade resultante reduz a O questionário de Leques-


A osteoartrose (OA) é a forma qualidade de vida e aumenta ris- ne foi desenvolvido na França nos
mais comum de doença articular no cos de morbidade e mortalidade. anos 70 e publicado pela primeira
mundo ocidental, sendo uma doença Segundo a Organização Mundial da vez nos anos 80. Foi atualizado em
articular crônico-degenerativa que Saúde (OMS) a OA seria a quarta 1997 e novamente revisado em
evidencia desgaste da cartilagem causa mais importante de incapa- 2003 por Faucher e colaboradores,
articular e formação marginal osteo- cidade entre mulheres e a oitava sendo validado para a língua portu-
fitária, com dor, tumefação e rigidez entre homens1,2. guesa em 20062.
à movimentação, os quais refletem O arsenal terapêutico atual A compreensão do processo de
algum grau de sinovite e crepitação, emprega medidas farmacológicas e alterações funcionais na OA de joelho
indicativos de lesão cartilaginosa não-farmacológicas que visam prin- pode contribuir para a elaboração de
que progride com o tempo. Os as- cipalmente ao alívio dos sintomas . 8,9
medidas de prevenção e tratamento
pectos radiológicos demonstram re- Vários consensos foram publi- em populações de risco7.
dução do espaço articular, aumento cados visando às melhores indica- O presente estudo teve como
da densidade óssea subcondral, al- ções de tratamento. Embora não objetivo avaliar os sintomas e ca-
terações proliferativas marginais das haja cura para a OA, o tratamento pacidade física, em indivíduos com
articulações e formação de cisto no é dirigido a cada paciente indivi- OA de joelho, por meio da aplica-
osso subcondral1-4. dualmente, procurando minimizar ção do questionário algo funcional
A OA do joelho pode ser classifi- dor, manter ou melhorar amplitude de Lequesne.
cada em primária (idiopática) ou se- de movimento articular e limitar a
cundária a patologias inflamatórias, incapacidade. Entretanto, as de- CASUÍSTICA E MÉTODOS
infecciosas ou traumáticas que des- cisões terapêuticas dependem da Foram avaliados 30 pacientes
troem a estrutura da cartilagem5,6. intensidade da dor e do grau de in- com diagnóstico de Osteoartrose
Os fatores de risco para a OA capacidade física dos pacientes2,10. de joelho, com média de idade de
de joelho encontram-se bem es- Sabe-se que um elemento 64,5±10,8 (variação entre 42 e
tabelecidos. Por manifestar-se em também importante na fisiopatolo- 83) anos, sendo 5 (16,7%) do sexo
cerca de 50% dos idosos com mais gia da osteoartrose é a perda das masculino e 25 (83,3%) do sexo
de 65 anos e em 80% dos acima propriedades viscoelásticas do líqui- feminino avaliados pela aplicação
de 75 anos, o envelhecimento in- do sinovial e, assim, foram desen- do questionário de Lequesne.
clui-se entre estes fatores. Além volvidos os hialuronatos como tra- Como critérios de exclusão:
do envelhecimento, a obesidade, tamento conservador, eficaz nas ar- (1) presença de dor aguda articu-
lesões ou cirurgias prévias, esforço troses através de infiltração destes lar ou muscular; (2) cirurgia an-
ocupacional ou recreacional cumu- fármacos por via intrarticular11-13. terior em joelho, quadril; (3) pa-
lativo, lesões periarticulares, mau A capacidade funcional dos tologias ortopédicas prévias; (4)
alinhamento articular e fraqueza MMII pode ser avaliada de vá- falta de cooperação ou capacida-
muscular são alguns dos fatores rias formas, tais como: testes de cognitiva para a realização dos
que também predispõem à OA1. que quantificam restrição de ati- procedimentos clínicos.
Estima-se que 4% da popu- vidade física como: caminhada O estudo foi realizado no
lação brasileira apresentem OA, de seis minutos, subida de esca- Centro de Reabilitação Clinicas de
sendo o joelho a segunda articula- das, suporte de pesos, utilização Fisioterapia e Psicologia da Uni-
ção mais acometida pela doença, de questionários, inquirindo o versidade para o Desenvolvimento
com 37% dos casos7. paciente sobre suas limitações e do Estado e da Região do Pantanal
A maioria dos indivíduos com incapacidades. Este último méto- – UNIDERP entre o mês de outubro
OA são assintomáticos, quando do é relevante e muito apreciado e novembro de 2008.
sintomáticos progridem em um pa- por sua simplicidade e por avaliar Antes do início da pesquisa,
drão que inclui dor articular, perda a opinião do paciente sobre suas todos os voluntários foram escla-
de força, incapacidade para marcha incapacidades2,7. recidos sobre os procedimentos da
e redução da aptidão física2,3. O índice de avaliação algo pesquisa, com assinatura do Termo
Nos membros inferiores funcional de Lequesne é um óti- de Consentimento Livre e Informa-
(MMII) a OA tem grande reper- mo instrumento para mensuração do (Apêndice B) segundo as Dire-
cussão nas articulações de joe- de dor, capacidade de caminhar e trizes e Normas Regulamentado-
lhos e quadris. Nas mulheres, a atividades de vida diária para indi- ras de Pesquisa envolvendo Seres
OA de joelhos é mais prevalente, víduos portadores de OA de joelho Humanos constantes da Resolução
enquanto nos homens a manifes- e quadril, sendo recomendado in- do Conselho Nacional de Saúde Nº.
tação é mais comum nos quadris. ternacionalmente pela OMS2. 196/96.

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Fernanda Akemi Okumura, Filipe Abdalla dos Reis, Ana Carulina Guimarães Belchior, 15

Tabela 1. Característica da amostra estudada e valores dos domínios do Questionário algo funcional de
questionário de Lequesne. (n=30) Lequesne validado e traduzido por

Variáveis Média±dp Limites Marx et al., 2006 (Anexo A), é com-


posto por 11 questões sobre dor,
Altura (metros) 1,60±0,1 1,20 – 1,75 desconforto e função. Dessas, seis
Peso (Kg) 78,7±12,7 52 – 108 questões são sobre dor e descon-
forto (sendo uma destas distintas
IMC (Kg/m2) 31,2±5,7 20,3 – 50,0
para joelho e outra para quadril),
Questionário Lequesne Pontuação Limites uma sobre distância a caminhar,
Dor ou desconforto 4,9±2,1 0,0 – 8,0 e quatro distintas para quadril ou
joelho sobre atividades da vida di-
Máxima distância caminhada 1,9±1,9 0,0 – 6,0
ária. As pontuações variam de 0 a
Atividades do dia-a-dia 3,4±1,7 0,5 – 20,0 24 (sem acometimento a extrema-
mente grave, respectivamente).
Foi aplicado o questionário
Tabela 2. Distribuição de frequência com relação ao índice de gravidade do algo funcional de Lequesne nos
Questionário Lequesne. (n=30)
voluntários supracitados, tendo
Índice de gravidade Frequência Freq relativa (%) como objetivo avaliar os sintomas
Extremamente grave (≥ 14 pontos) 8 26,7 e capacidades físicas dos mesmos.
Muito grave (11 a 13 pontos) 5 16,7 Os dados foram agrupados
e encaminhados para tratamento
Grave (8 a 10 pontos) 10 33,3
estatístico, utilizando o teste t de
Moderada (5 a 7 pontos) 4 13,3
Student. Com índice de rejeição da
Pouco acometimento (1 a 4 pontos) 3 10,0 hipótese de nulidade em p<0,05.
TOTAL 30 100,0 Os dados foram tabulados
em Software Microsoft Excel 2007
e analisados estatisticamente no
Tabela 3. Correlação entre o score de Lequesne e a variável idade, peso e Software Bio Estat 5.0 com plota-
IMC. Teste de correlação linear de Pearson, nível de decisão p<0,05. (n=30)
gem gráfica no Software Graphpad
Score Prism 5.0.
Idade Peso IMC
Lequesne Para investigação da hipótese
Pearson r 0,4107 -0,1306 0,2006 de associação do resultado do sco-
re do Questionário de Lequesne foi
Valor “p” 0,0242 * 0,4914 ns 0,2877 ns
aplicado o teste de correlação line-
ns (não significativo); * (valor estatisticamente significativo)
ar de Pearson, o nível de decisão
para confirmação da hipótese foi
estabelecido em p<0,05.

RESULTADOS
Foram avaliados 30 pacientes
com diagnóstico de Osteoartrose
de joelho, com média de idade de
64,5±10,8 (variação entre 42 e
83) anos, sendo 5 (16,7%) do sexo
masculino e 25 (83,3%) do sexo
feminino avaliados pela aplicação
do questionário de Lequesne.
As características antropomé-
tricas mensuradas e os domínios do
questionário estão demonstrados na
tabela 1.
Foi realizada a distribuição de
frequência de acordo com o índice
de gravidade obtido pela aplicação
Figura 1. Associação entre a idade e o score de Lequesne. Correlação Linear de Pearson.
(n=30) do Questionário Lequesne. De uma

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16 Avaliação dos Sintomas e Capacidade Física em Indivíduos com Osteoartrose de Joelho

forma geral o maior número de pa- nário) estrangeiro sem realizar a do maior número de pacientes ter
cientes (33,3%) se encontra com sua validação para o país em que apresentado o índice de gravidade
índice de gravidade classificado se deseja aplicá-lo, quando se ob- classificado como grave e quanto
como grave. Os valores de frequ- jetiva usá-lo em uma população de maior a idade pior a gravidade da
ência e frequência relativa estão cultura e idioma diferentes do país doença pode ter ocorrido devido ao
expostos na tabela 2. onde o instrumento foi gerado2. fato da maior parte dos participan-
Para investigação da hipótese Em um estudo realizado9 o tes serem idosos e poderem apre-
de associação do resultado do sco- Índice Algo funcional de Leques- sentar a AO há algum tempo.
re do Questionário de Lequesne ne juntamente com o Índice Algo Segundo Toffoletto4, a osteo-
foi aplicado o teste de correlação funcional de WOMAC apresentam a artrose não é sinônimo de envelhe-
linear de Pearson, o nível de deci- eficácia para a avaliação da quali- cimento, porém uma vez instalada,
são para confirmação da hipótese dade de vida em pacientes porta- progride com a idade.
foi estabelecido em p<0,05. dores de OA, porém nesse estudo De acordo com Alves15, a pre-
Quando testamos a hipótese eles preferiram a utilização do Ín- sença de uma artropatia aumenta
de associação observamos depen- dice de Lequesne, por ser validado em 59% a chance do idoso ser de-
dência somente entre a variável para a língua portuguesa. pendente nas atividades instrumen-
idade e score de Lequesne, mos- De forma geral no presen- tais da vida diária (AVD’s). A dificul-
trando que quanto maior a idade, te estudo pode-se observar que o dade na realização dessas tarefas
pior o índice de gravidade obtido maior número de pacientes apre- representa um risco elevado para a
pelo score (p=0,0242). O peso e a sentou índice de gravidade classifi- perda da independência funcional.
relação peso/altura caracterizada cado como grave. A manutenção da capacida-
pelo IMC não mostraram influência E quando testamos a hipótese de funcional é um dos requisitos
no resultado final do score de Le- de associação neste estudo obser- para o envelhecimento saudável.
quesne (tabela 3, figura 1). vamos dependência somente entre A função física é um indicador uni-
a variável idade e score de Leques- versalmente aceito do estado de
DISCUSSÃO ne, mostrando que quanto maior saúde e importante componente
O objetivo desse estudo foi a idade, pior o índice de gravidade da qualidade de vida. Do ponto
avaliar os sintomas e capacidade obtido pelo score. de vista individual, a função física
física em indivíduos portadores de O estudo realizado por Marx2, é necessária para manter o indiví-
Osteoartrose de joelho, através da a grande quantidade de pacien- duo independente e participante na
aplicação do questionário Algo fun- tes com osteoartrose classificados comunidade. Dessa forma, a inca-
cional de Lequesne. como muito grave foi (32,22%) e pacidade funcional é um problema
Segundo Marx2, quando se extremamente grave (34,44%), se- social, que traz maior risco de ins-
institui um tratamento, devem-se gundo o questionário de Lequesne, titucionalização e altos custos para
possuir instrumentos capazes de provavelmente ao fato de muitos os serviços de saúde14,16-20.
monitorá-lo. No caso da osteoar- dos entrevistados terem sido sub- Sugere-se a realização de no-
trose de joelho e quadril, as áreas metidos aos questionários quando vos estudos para a avaliação da ca-
de maior interesse são as referen- internados para intervenções cirúr- pacidade funcional que contenham
tes à dor e incapacidade funcional. gicas no quadril ou joelho, decor- a história do paciente, correlacio-
Questionários que inquiram aspec- rentes da doença em questão. nando tempo de lesão, mecanis-
tos de dor, disfunção de marcha e Já outro estudo14, observou mo, entre outros.
atividades da vida diária (AVD) são valor médio do índice de Lequesne
preciosos para avaliação do esta- para OA de joelho de 9±7 (grave) CONCLUSÃO
diamento da doença e resultados para OA de quadril foi 9,5 (grave) Com os resultados obtidos nes-
do tratamento. e para OA de joelho e quadril foi te estudo, conclui-se que o maior
A maioria dos instrumentos 14,1±3,9 (extremamente grave). número de pacientes (33,3 %)
utilizados na avaliação de osteoar- Os resultados demonstram que a encontra-se com índice de gravida-
trose é baseada em questionários. OA apresenta uma forte influência de classificado como grave; e que
No entanto, não há como aplicar um na capacidade funcional do idoso. quanto maior a idade, pior o índice
instrumento de avaliação (questio- No presente estudo, o fato de gravidade da osteoartrose.

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18

Artigo Original

Treinamento Muscular Ventilatório em Pacientes


Asmáticos
Ventilatory Muscles Training In Asmathic’s Patients

Luciana Maria Malosa Sampaio1, Elisangela Cristina Ramos2, Julio César Mendes de Oliveira2, Valéria Duarte
de Souza3, Luis Vicente Franco de Oliveira1, Adriana Marques Battagin4

Resumo: O objetivo da pesquisa foi avaliar a força muscular ventilatória em pacientes asmáticos submetidos ao
treinamento muscular respiratório. Compuseram a amostra 15 pacientes que realizaram o treinamento muscular
ventilatório (TMV). Todos foram submetidos a uma avaliação inicial, a qual constou de anamnese, exame físico,
avaliação de força muscular ventilatória, através das pressões ventilatórias máximas (PImáx e PEmáx) e do teste de
caminhada de seis minutos. Os pacientes foram submetidos a um programa de TMV, 3 vezes por semana, durante 6
semanas consecutivas, totalizando 18 sessões de treinamento, com duração aproximada 1 hora cada. Essas sessões
constituíram-se de orientação sobre padrões respiratórios, exercícios de coordenação da respiração associados a
movimentos de tronco e membros, alongamento geral da musculatura e relaxamento muscular. Utilizou-se o dispositivo
Threshold para a realização do TMV, durante 10 minutos, com uma carga de 40% da PImáx obtida na avaliação diária.
Após o período de treinamento, ambos os grupos foram reavaliados. Foram observadas diferenças significativas nos
valores da PImáx (55,5±18,5 para 81,7±21,2 cmH2O) e PEmáx (54,1±22,8 para 75,8±25,8 cmH2O) e aumento na
distancia percorrida em metros (545,3±56,7 para 676,3±83,6 m). Esses resultados permitem concluir que o TMV
proporcionou um aumento na força muscular inspiratória e na distância percorrida de sujeitos asmáticos promovendo
consequentemente, melhora no padrão respiratório e na performance de caminhada.
Palavras-chave: Asma, Treinamento Muscular Ventilatório, Força Muscular Ventilatória, Padrão Respiratório.

Abstract: The propose of study was evaluate the ventilatory muscles strength in asthmatic patients undergoing
respiratory muscle training. The sample was composed of 15 patients underwent ventilatory muscles training (VMT). All
were subjected to an initial assessment, which consisted of history, physical examination, measurement of ventilatory
muscles strength, through the peak respiratory pressure (MIP and MEP), and the test of a six-minute walk test.
Patients underwent a program of VMT, 3 times a week, for 6 consecutive weeks, totaling 18 training sessions lasting
approximately 1 hour each. These sessions consisted of orientation of breathing patterns, exercises for coordination of
breathing associated with the movement of trunk and limbs, general lengthening of the muscles and muscle relaxation,
and used the Threshold Inspiratory Muscles Training (IMT) for 10 minutes, with a load of 40% of MIP obtained in the
daily valuation. It appeared that there were significant differences MIP (55.5±18.5 to 81.7±21.2 cmH2O) and MEP
(54.1±22.8 to 75.8±25.8 cmH2O) and increase walking distance (545.3 ± 56.7 to 676.3 ±83.6 m). These results
demonstrate that the VMT has an increase in muscle strength and the distance traveled thus encouraging these.
Keywords: Asthma, Ventilatory Muscle Training, Ventilatory Muscle Strength, Respiratory Pattern.

*Artigo recebido em 28 de janeiro de 2009 e aprovado em 26 de março de 2009-04-15

1 Docentes do Programa de Mestrado em Ciências da Reabilitação – Universidade Nove de Julho - UNINOVE, São Paulo – SP, Brasil.
2 Aluno do Programa de Mestrado em Ciências da Reabilitação – Universidade Nove de Julho - UNINOVE, São Paulo – SP, Brasil.
3 Aluna do curso de Fisioterapia da Universidade Nove de Julho - UNINOVE, São Paulo – SP, Brasil.
4 Docente do curso de Fisioterapia da Universidade Nove de Julho - UNINOVE, São Paulo – SP, Brasil.

Endereço para correspondência


Luciana Maria Malosa Sampaio - Rua Tijuco Preto, 1001 apto 43 – Tatuapé - São Paulo, SP – Brasil - CEP 03316-000
Fone: 11 3589 2792 - Fax: 11 3665 9325 e-mail: lucianamalosa@uninove.br

Ter Man. 2009; 8(30):19-23


Luciana Maria Malosa Sampaio, Elisangela Cristina Ramos, Julio César Mendes de Oliveira, 19

Introdução gias de carga percentual da PImáx Universidade Nove de Julho, pro-


O treinamento dos músculos do paciente. Larson et al.9 demons- cesso nº. 133331/2007. Os sujei-
ventilatórios em atletas, sujeitos traram que pacientes submetidos a tos foram classificados quanto aos
sedentários e pneumopatas têm um treinamento com Threshold, à sintomas de sibilância episódica,
sido objeto de interesse de vários 30% de sua PImáx, por 2 meses, tosse, falta de ar e resposta aos
pesquisadores preocupados com foram capazes de aumentar sua broncodilatadores sendo reversí-
diversas alterações ocorridas, so- força e endurance muscular venti- vel ao fluxo aéreo. Todos os pa-
bretudo com a força muscular latória. cientes apresentavam quanto as
ventilatória1,2. A respeito dos exercícios provas de função pulmonar asma
O mecanismo da dispnéia respiratórios para asmáticos, in- leve a moderada (definida pelo
resulta da percepção dos esfor- dependentemente da magnitude VEF1> 60% do previsto dos valo-
ços dos músculos respiratórios3,4. das resistências, alguns autores res normais).
Pacientes asmáticos são expostos têm propostos que as metas são Os critérios de inclusão leva-
a um aumento da resistência das melhorar a postura, fortalecer os ram em consideração o diagnóstico
vias aéreas e da hiperinsulflação. músculos abdominais, ensinar a clínico de asma leve e moderada,
A hiperinsulflação dos pulmões respiração diafragmática e preve- fornecida pelo médico pneumolo-
aplaina o diafragma e limitam os nir os padrões respiratórios que gista e ausência de qualquer outra
músculos inspiratórios levando a levam à respiração do tipo cos- patologia pulmonar.
uma desvantagem mecânica. Além tal10. Outros autores demonstra- Os critérios de exclusão fo-
disso, a redução da eficiência dos ram que os padrões respiratórios ram a impossibilidade de caminhar
músculos inspiratórios e o grande exacerbados têm levado à expan- devido a comprometimentos or-
trabalho requerido para vencer al- são torácica apical e aumentado a topédicos, infecções respiratórias
tas resistências das vias aéreas, demanda ventilatória. Alcançando imediatamente antes ou no decor-
sugerem um desfavorecimento da as metas propostas por Strunk rer do treinamento e cardiopatias
performance dos músculos inspira- et al.11 e Sampaio et al.12 pode- graves associadas.
tórios nestes pacientes5. se diminuir o esforço ventilatório, Todos os pacientes foram
Weiner et al.6 também obser- aumentar a ventilação e, conse- submetidos à avaliação e reava-
varam uma melhora nos sintomas quentemente otimizar o consumo liação, conforme roteiro estabele-
de pacientes asmáticos submetidos de oxigênio. cido na ficha de avaliação cons-
a um treinamento muscular venti- Assim sendo este estudo tando de espirometria, teste de
latório (TMV). Durante 6 meses de teve como objetivo avaliar a força força muscular ventilatória por
treinamento, usando uma carga muscular ventilatória e a capaci- meio da avaliação das pressões
progressiva de 15% a 80% da PI- dade funcional, após treinamento inspiratórias máximas (PImáx),
máx, os autores observaram que muscular ventilatório (TMV) em pressão expiratória máxima (PE-
de seis pacientes do grupo avalia- pacientes asmáticos. máx) e teste de caminhada de
do, cinco deles deixaram de usar seis minutos (TC6)
corticosteróides. Já, com cargas Metodologia A prova espirométrica foi
mais homogêneas (60 a 70% da Este estudo foi um ensaio clí- realizada por meio de espirô-
PImáx), Shahin et al.7 realizaram nico prospectivo. O tipo de amostra metro da marca Vitalograph, da
um TMV com carga de 60 a 70% foi consecutiva proveniente da Clí- MedGraphis. Esse teste permitiu
da PImáx, durante 6 meses, 6 ve- nica de Fisioterapia da Universidade avaliar diretamente os volumes,
zes na semana, constatando um Nove de Julho (UNINOVE). Foram capacidades e fluxos pulmonares,
aumento da PImáx, diminuição da avaliados 15 pacientes portadores tais como: volume expiratório for-
dispnéia, aumento na capacidade de asma, encaminhados pelo mé- çado no primeiro segundo (VEF1),
de caminhada e melhora na qua- dico para tratamento fisioterapêu- capacidade vital (CV), capacidade
lidade de vida de pacientes com tico. Previamente aos protocolos, vital forçada (CVF), fluxo expira-
DPOC. Da mesma forma Weiner os pacientes e responsáveis foram tório forçado 25-75% (FEF25-75%)
et al.8 observaram um aumento da informados sobre os objetivos e o e ventilação voluntária máxima
PImáx e uma redução na escala de caráter metodológico dos testes. (VVM), sendo realizado com os
Borg após o TMV. Após concordarem em participar rigores técnicos recomendados
O TMV tem sido utilizado com da pesquisa, cada responsável as- pelas diretrizes de pneumologia
metodologias diferentes, porém na sinou o termo de consentimento, da SPPT13.
maioria dos estudos tem prevaleci- conforme a resolução 196/96 do A força muscular ventilatória
do a preocupação com os músculos Conselho Nacional da Saúde (CNS) foi mensurada por meio da PImáx
inspiratórios e através de estraté- e aprovado pelo Comitê de Ética da e a PEmáx, que verificou a força

Ter Man. 2009; 8(30):19-23


20 Treinamento Muscular Ventilatório em Pacientes Asmáticos

muscular inspiratória e expirató- cientes no inicio e no decorrer do so, em decúbito dorsal, sentado e
ria respectivamente, sendo obti- teste a caminhar mais rápido pos- em pé.
das segundo o método de Black & sível, sendo que o encorajamento Por um período de 5 minutos,
Hyatt14. Para tanto, os indivíduos foi padronizado16. exercícios de relaxamento, onde
permaneceram na posição ortostá- Foram realizadas intervenções o paciente ficava em uma posição
tica usando o clipe nasal. Foi uti- durante seis semanas, com frequên- confortável (em decúbito dorsal
lizado um manovacuômetro ane- cia de 3 dias por semana. ou sentado reclinado), realizando
róide escalonado em cmH2O, com Utilizou-se o dispositivo exercícios respiratórios relaxando
limite operacional de +300 a - 300 Threshold IMT com uma carga de os músculos acessórios da respira-
cmH2O da Gerar (Gerar Comércio 40% da PImáx obtida na avaliação ção, promovendo relaxamento glo-
e Indústria), equipado com adap- diária de cada paciente, realizando bal, ajudando a diminuir a ansieda-
tador de bocais e contendo uma 5 séries de 15 repetições. Consi- de associada a falta de ar.
válvula de escape através de um derando que os indivíduos neces- Foi aplicado o teste Kolmogo-
orifício de aproximadamente 2 mm sitavam primeiramente de uma rov Smirnov, determinando que a
de diâmetro, a fim de prevenir a reeducação do padrão respiratório amostra apresentava distribuição
elevação da pressão da cavidade diafragmático, somente a partir da normal. Para a comparação pré e
oral gerada exclusivamente por 3a sessão de treinamento é que se pos intervenção utilizou-se test t
contração da musculatura facial15. introduziu o Threshold IMT como Student pareado e não pareado. O
A PImáx foi obtida por meio de um recurso para o TMV. nível de significância adotada foi de
uma manobra de inspiração má- Foram realizados exercícios p< 0,05.
xima, partindo de uma expiração sem cargas para os membros su-
máxima e a PEmáx foi obtida por periores e inferiores, associados à Resultados
meio de uma manobra de expira- reeducação funcional respiratória Quinze pacientes foram ini-
ção máxima, partindo de uma ins- (RFR), estando os pacientes pri- cialmente triados no estudo. Qua-
piração máxima. Cada manobra foi meiramente sentados e depois, na tro pacientes não conseguiram
mantida por um mínimo de dois posição ortostática. Foram utiliza- concluir o estudo por exacerbação
a três segundos. Tanto a PImáx dos bastões e bolas, incentivando e um desistiu do protocolo. As ca-
quanto a PEmáx foram realizadas sempre a respiração diafragmáti- racterísticas basais dos 20 pacien-
no mínimo três vezes para cada ca. Sendo esses exercícios descri- tes se encontram apresentadas na
paciente, sendo que, para efeito de tos a baixo. Tabela 1.
análise, computou-se a média dos Por um período de 10 minu- A força da musculatura venti-
três valores obtidos. tos, exercícios de membros supe- latória foi determinada pela PImáx
Todos os indivíduos foram riores associados a mobilidade de e PEmáx (cmH2O), apresentando
submetidos a seis minutos de ca- tronco, realizado nas diagonais de valores significativos de 55,5±18,5
minhada (TC6’), sendo este re- Kabat para melhor recrutamento para 81,7±21,2 cmH2O e 54,1±22,8
alizado em uma superfície plana dos músculos motores secundá- para 75,8±25,8 cmH2O respectiva-
de trinta metros de comprimento rios ao movimento. Os exercícios mente após o treinamento mus-
e um metro e meio de largura. foram realizados em séries de 10 cular ventilatório de acordo com a
Cada paciente foi acompanhado repetições, com pausas de repou- tabela 2.
pelo examinador, o qual monito-
rou o teste com um oxímetro di-
gital portátil (Nonim 8500 A), que Tabela 1. Característica demográfica dos pacientes avaliados
verificou a saturação periférica de
oxigênio (SpO2) e a frequência n=10
cardíaca (FC) a cada dois minutos.
Sexo 3M 7F
Além disso, a sensação subjetiva
de dispnéia foi avaliada através da Idade, anos 23,4±7,0
escala de percepção de esforço de Peso, Kg 54,5±6,8
Borg CR10.
Altura, cm 161,0±6,1
Visando evitar interferência
da aprendizagem no teste e procu- VEF1 /CVF (% predito) 78±2,4
rando garantir maior fidedignidade
VEF1 (% predito) 57,3±6,2
nos resultados, foram realizados
IMC - Índice de Massa Corpórea , F - Feminino e M- Masculino; VEF1 volume expiratório
dois TC6’ na avaliação. O exami-
forçado no 1 segundo; CVF= capacidade vital forçada
nador orientou e incentivou os pa-

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Luciana Maria Malosa Sampaio, Elisangela Cristina Ramos, Julio César Mendes de Oliveira, 21

Tabela 2: Dados da força muscular ventilatória, distância percorrida antes e temente do TMV ter sido direciona-
após o treinamento muscular ventilatório. do mais aos músculos inspiratórios,
este proporcionou aumentos tam-

Variáveis Avaliação Teste t bém de PEmáx. Acredita-se que isso


ocorre pelo fato de passar a existir,
PImax (cmH2O) 55,5±18,5 81,7±21,2 0,0006 em função do aumento da PImáx,
maior mobilidade ou amplitudes dos
PEmax (cmH2O) 54,1±22,8 75,8±25,8 0,01 movimentos do tórax e do abdome
proporcionadas pelos músculos ins-
Escala de Borg 1,5±1,0 0,4±0,3 0,007
piratórios.
O TC6 tem-se constatado na
Distancia Percorrida (m) 545,3±56,7 676,3±83,6 0,003
literatura, que, tanto nos treina-
PImax = pressão inspiratória maxima; PEmax = pressão expiratória maxima; cmH2O= mentos específicos para os mús-
centímetros de água; m= metros culos respiratórios, como o trei-
namento físico geral, que envolve
Foram constatados aumentos o treinamento, evidenciando uma um contingente ainda maior de
significativos para o TC6‘, na dis- acentuada melhora de força mus- exercícios físicos, ocorre aumento
tância percorrida (de 545,3 ± 56,7 cular. da distância percorrida, muitas
para 676,3 ± 83,6 metros) e na es- Os resultados do presente es- vezes por longos períodos18. Em
cala de Borg final (1,5 ± 1,0 para tudo estão de acordo com traba- nosso estudo foram observados
0,4 ± 0,3) como podemos observar lhos que constataram um aumento aumentos em seis semanas de
na tabela 2. na força muscular ventilatória em treinamento.
pacientes com patologias obstru- O nossos registros de aumen-
Discussão tivas após um treinamento mus- to da distância percorrida e uma
A força muscular respiratória cular inspiratório específico, com redução nos valores da escala de
avaliada neste estudo apresentou consequente melhora clínica dos Borg ao final concordam com os
um aumento após o treinamento mesmos .
6,12,16 de Shahin et al.7 que realizaram o
muscular ventilatória juntamente Corroborando também com os TMV com carga de 60% um 70%
com a distância percorrida em pa- achados de Leith e Bradley , Lima
17 da PImáx seis vezes por semana,
cientes asmáticos. et al. que constataram um ganho
2 durante seis meses relatando um
Este fato pode ser explicado de força muscular inspiratória e ex- aumento da PImáx, redução da
pela ação dos músculos ventilatórios piratória em indivíduos sadios após dispnéia, aumento na capacidade
estar alterada devido a hiperinsul- um treinamento muscular ventila- de caminhada e melhora na qua-
fação gerada durante as frequen- tório, durante 6 semanas. Nossos lidade de vida dos pacientes com
tes crises nestes pacientes. Por isso resultados indicam que houve um DPOC. Weiner et al.19, Garcia et
faz-se importante o treinamento dos ganho de força muscular ventilatória al.20 verificaram um aumento da de
músculos inspiratórios na tentativa tanto inspiratória como expiratória, PImáx após treinamento muscular
de melhorar a vantagem mecânica. adquirindo um maior suporte mus- ventilatório, além de uma redução
A força muscular ventilatória cular frente às crises de broncoes- na escala de Borg.

foi avaliada através da PImáx e da pasmo, que normalmente levam à


PEmáx, conforme metodologia de um esforço físico exagerado, que Conclusão

quando são prolongados levam a Com esses resultados pode-


Black & Hyatt , que tem-se firmado,
14

se concluir que TMV proporcionou


através de sucessivos experimentos, fadiga muscular ventilatória.
um aumento na força muscular
como uma técnica eficaz e confiável Esse aumento da força mus-
inspiratória e na distância percor-
para este tipo de avaliação. cular ventilatória (PImáx e PEmáx)
rida desses indivíduos asmáticos
Os valores apresentados pelos indica também que o TMV propor-
promovendo consequentemente,
pacientes asmáticos submetidos ao cionara uma melhora na eficiência
melhora na mecânica pulmonar
TMV apresentaram significativo au- mecânica dos músculos respiratórios
respiratória.
mento (p= 0,006) da PImáx após desses pacientes, pois, independen-

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23

Artigo Original

Avaliação da Latência de Ativação do


Quadríceps Durante o Movimento de Levantar
no Hemiparético
Assessment of Latency of Quadriceps During Sit-to-Stand Movement on Hemiparetic
Nayara Corrêa Farias1, Wagner Menna Pereira2, Carlos Eduardo de Albuquerque3

Resumo: Um dos movimentos funcionais mais utilizados é o passar do sentado para em pé que representa um
importante passo para a mobilidade e independencia do paciente hemiparético. Objetivo: avaliar a latência de ativação
do músculo quadríceps em hemiparéticos durante o movimento de levantar. Participou da pesquisa um grupo de 12
hemiplégicos, com histórico de lesão cerebral única, 15 idosos saudáveis e 15 adultos jovens saudáveis. Foi realizado
avaliação por eletromiografia com os dados coletados a partir do músculo vasto lateral bilateral. A análise dos valores
de eletromigrafia mostrou o atraso na latência de ativação do músculo vasto lateral no movimento de levantar sem
apoio no grupo hemiplégicos, todos do lado afetado, com média de 126,11ms (+26,92); quando comparado ao grupo
de idosos e jovens saudáveis. Verificou-se que a latência de ativação múscular do quadríceps nos músculos afetados
alertam sobre a falha de planejamento ou execução motora no paciente pós AVC.
Palavras-chave: Acidente Vascular Cerebral, Paresia, Eletromiografia, Atividade Motora.

Abstract: Sit-to-stand represents an important step towards mobility and independency hemiparetic patient. To
evaluate the latency of activation of the quadriceps muscle in hemiparetic during sit-to-stand movement. Group of 12
hemiparetics, 15 healthy elderly subjects and 15 healthy young adults. Assesment was performed by eletromiografia
with data collected from vasto lateralis bilateral muscles. Result: The analysis of the values of eletromygraphy showed
delay on latency of muscles at sit-to-stand movement without support on group hemiparetics at affected side. I`as
with an average of 126.11ms (+26.92), compared to elderly and young healthy groups. Conclusion: I’as found that
latency on vastus lateralis muscles affected alert on the failure of planning or motor control in patient after stroke.
Keywords: Stroke, Paresis, Electromyography, Motor Activity.

*Artigo recebido em 19 de janeiro de 2009 e aprovado em 23 de março de 2009.

1 Fisioterapeuta Pós-graduada em Fisioterapia Clínica em Neurologia, Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE), Cascavel
- PR, Brasil.
2 Mestrando em Bioengenharia da Universidade do Vale do Paraíba (UNIVAP) – São José dos Campos - SP, Brasil.
3 Docente do Programa de Pós-Graduação em Fisioterapia Clínica – Universidade Estadual do Oeste (UNIOESTE), Cascavel - PR,
Brasil.

Endereço para correspondência:


Nayara Correa Farias - Rua Etori Giovine, 2720 Paranavaí-PR. CEP: 87701-150 - Email: nayaracf@hotmail.com

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24 Avaliação da Latência de Ativação do Quadríceps Durante o Movimento de Levantar no Hemiparético

INTRODUÇÃO vés das estratégias compensatórias muscular em repouso e sua altera-


O acidente vascular encefálico que vai tornar mais difícil adotar ção durante o movimento, e assim
(AVE) é definido como uma inter- uma postural normal11. Essas alte- especificar a correta utilização dos
rupção súbita da função cerebral, rações dificultam a manutenção do músculos19.
com alterações histológicas, tendo centro de massa dentro da base de O sucesso da reabilitação des-
como a seqüela mais importante a apoio, tornando mais fácil os riscos tes pacientes está na compreensão
hemiparesia1,2. Os pacientes com de quedas2. dos déficits motores de alinhamen-
hemiparesia, apresentam perda Quanto maior a assimetria na to e simetria, que causam redução
significativa no controle postural distribuição do peso corporal de da capacidade de realização das
que afetam a sua capacidade de indivíduos hemiparéticos, maior a atividades de vida diária (AVDs)20.
cumprir funções independentemen- incidência de quedas. Essa assi- Devido aos déficits no con-
te3. As respostas posturais e organi- metria promove um deslocamento trole motor dos pacientes com
zação sinergística dos músculos do do peso corporal para o lado não seqüela de AVE é necessário uma
membro parético podem estar atra- afetado com conseqüente diminui- avaliação detalhada na prescrição
sadas ou interrompidas4. Durante a ção de força vertical exercida pelos de uma reabilitação favorável, para
recuperação dos desafios ao equilí- MMII, necessitando assim de um que estes indivíduos não adquiram
brio, os músculos podem apresen- maior tempo para realizar a ativi- suas compensações e assimetrias
tar disparos antes dos músculos dade, quando comparados aos in- que levam ao prejuízo das AVDs,
distais ou muito depois deles. Pode divíduos saudáveis12. Marcha e outros17. Allison e Den-
também haver perda da ativação Um dos movimentos funcio- nett21 afirmam em seu estudo a
antecipatória dos músculos du- nais mais utilizados é o passar do importância da atividade de levan-
rante os movimentos voluntários, sentado para em pé que representa tar nesse processo, pois permite
promovendo uma instabilidade um importante passo para a mobili- observar seus prejuízos motores,
durante a execução de atividades dade e independencia do paciente, justificando assim sua utilização
funcionais5,6. Devido a essas alte- e contem componentes favoráveis durante a avaliação e reabilitação.
rações, os hemiparéticos apresen- para uma marcha mais segura13. O objetivo deste trabalho foi
tam uma desigual destribuição de Na passagem desse movimento avaliar a latência de ativação do
peso, favorecido por estratégias requer a habilidade de transfirir músculo quadríceps em hemipa-
compensatórias que resultam em o centro de massa e a adaptaçao réticos durante o movimento de
uma postura assimétrica7. postural. As alterações dos sistema levantar.
Os principais sinais clínicos, do motor e sensorial podem dificultar
hemiparético, que influenciam na a realização desse movimento14,15. MÉTODO
assimetria postural são as altera- A transferência de peso correta é Tratou-se de um delineamento
ções perceptuais, heminegligência, fator importante para os movimen- transversal, aprovado pelo Comitê
alterações de trofismo no lado he- tos funcionais e, por isso o movi- de Ética em Pesquisas da UNIOES-
miparético, limitação articular de mento de levantar capacita uma TE – sob o parecer 226/2006. Os
tornozelo, fraqueza muscular no melhor avaliação desse processo16. participantes foram alertados sobre
membro inferior e o déficit de al- Indivíduos hemiparéticos de- os procedimentos e concordaram
teração de peso8. As alterações de senvolvem estratégias compensa- em participar. O grupo experimental
equilíbrio também estão relaciona- tórias que causam alteração nos foi composto por 12 hemiplégicos
das à transferência de peso, às difi- componentes do equilíbrio dinâmi- (3 mulhes e 9 homens) com idade
culdades no recrutamento muscular co e nos padrões de ativação mus- média de 56,59 anos +10,63 (44-
e aumento de instabilidade postural cular para realizar o movimento de 68), apresentando índice de Barthel
em pé9. O déficit somatosensorial sentado para em pé17. A compensa- modificado superior a 40 pontos,
tem um efeito negativo sobre os ção mais frequentemente utilizada com histórico de lesão cerebral
resultados funcionais dos pacientes é a descarga de peso no membro única (5 a esquerda e 7 a direita)
hemiparéticos aumentando assim o inferior não afetado18. há no máximo 18 meses, índice de
processo de reabilitação10. Para analisar a ativação mus- massa corpórea de 27,5 (+8,56) e
Os hemiparéticos apresentam cular na atividade de passar do teste Timed Up and Go (TUG) 14,8s
déficit no recrutamento dos mús- sentado para em pé um recurso (+8,23); Grupo Idosos: 15 idosos
culos que são favoráveis para a favorável é a eletromiografia de saudáveis (5 homens e 10 mu-
manutenção do equilíbrio, gerando superfície por ser um método fácil, lheres) com idade média de 61,0
uma descarga de peso para o lado não invasivo e que registra a ativi- (+8,55); IMC de 28,36% (+4,37) e
não comprometido, adotando as- dade muscular durante sua contra- TUG: 8,15s (+1,15); Grupo Jovnes:
sim uma postura assimétrica atra- ção. Esta técnica mostra a energia 15 adultos jovens (7 homens e 8

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Nayara Corrêa Farias, Wagner Menna Pereira, Carlos Eduardo de Albuquerque 25

mulheres), saudáveis e com idade hemiplégico menos o lado sadio. O por uma lesão cerebral. A latência
média de 21,3 (+2,7). início das contrações foi identifica- encontrada nos pacientes do grupo
Os indivíduos foram orienta- do através de rotina desenvolvida hemiplégicos não se verificou nos
dos a permanecer sentados, com em MathLab (MATHWORKS, versão grupos jovens e idosos. A atividade
os pés posicionados de forma si- 7.0). Os dados foram analisados de levantar representa uma ativi-
métrica, e após comando verbal por ANOVA e pós-teste Tukey com dade básica de vida diária e embo-
teriam que levantar. Os participan- nível de significância em 5%. As ra possibilite de forma reprodutível
tes estavam acomodados em uma análises foram realizadas pelo pro- o estudo de diversas variáveis as-
cadeira de madeira, sem apoio para grama BioEstat versão 4.0. sociadas ao controle motor é indi-
os braços e com os pés sobre uma cada em casos restritos por ser de
placa sintética. O tempo estabele- RESULTADOS execução complexa.
cido de coleta foi de 6 segundos. O A análise dos valores de ele- A incapacidade de transferir
procedimento foi repetido 5 vezes tromiografia dos sujeitos avaliados peso sobre o membro inferior pa-
com intervalo de 1 min e utilizado (Figura 1) mostrou o atraso na la- rético pode ocorrer devido à dor,
para análise o valor médio excluí- tência de ativação do músculo vas- espasticidade, déficit de equilíbrio,
dos o melhor e pior resultado. to lateral no movimento de levantar comprometimento sensorial, ne-
Os dados da eletromiografia sem apoio no grupo hemiplégicos, gligência, fraqueza muscular e
foram coletados a partir do músculo todos do lado afetado, com mé- alteração do controle postural16. A
vasto lateral bilateral. Previamente dia de 126,11ms (+26,92); quan- descarga de peso no membro in-
a pele foi preparada e os eletrodos do comparado ao grupo de idosos ferior afetado tende a ser espon-
(0,9cm2, Meditrace – USA) foram saudáveis o atraso encontrado foi taneamente evitada, prejudicando
posicionados no terço inferior da 36,11ms (+20,92); nos jovens a realização correta do movimento
coxa, face anterio-lateral. A am- o atraso encontrado foi 18,92ms sentado para em pé e, possivel-
plificação do sinal foi 1000x com (+9,39). Comparado os grupos foi mente, a independência do indiví-
filtragem banda de 20-500hz. O verificada variação de +90,84% duo, tornando-se um mau hábito e
equipamento utilizado foi EMG entre jovens e idosos (p>0,05); incentivando o desuso e compen-
1000 (Lynx, Brasil) e a frequência jovens e hemiplégicos 566,47% sações22. De acordo com as neces-
de amostragem de 2000Hz. (p<0,0001) idosos e hemiplégicos sidades motoras e sensoriais dos
A latência para os grupos jo- +249,23% (p<0,0001). pacientes com hemiparesia[8] faz-
vens e idosos foi estabelecida pela se necessário uma avaliação apri-
diferença entre o instante de inicio DISCUSSÃO morada para verificar sua evolução
das contrações. Para o grupo hemi- Este trabalho ilustra as condi- durante o processo de reabilita-
plégico a diferença foi estabelecida ções de planejamento neuromus- ção23 e o movimento funcional de
entre o inicio da contração do lado culares em um sistema influenciado levantar possibilita caracterizar dé-
ficits e compensações prejudiciais
a este processo24.
Indivíduos hemiparéticos de-
monstram alteração na seqüência e
redução da atividade eletromiográfi-
ca dos músculos do membro inferior
parético com aumento de atividade
muscular compensatória do lado
não afetado durante a atividade de
passar de sentado para em pé. Além
disso, uma menor ativação do mús-
culo quadríceps no membro parético
pode afetar a simetria e distribuição
de peso no indivíduo25.
A simetria18 possibilita a me-
lhor realização do movimento de
levantar e reduz o risco de quedas.
Mas afirma que mesmo a simetria
seja prioridade do processo de re-
Figura 1. Boxplot da comparação entre os grupos jovens, idosos e hemiplégicos.
abilitação do paciente não existem
(***p<0,001). evidências de que esta exerça um

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26 Avaliação da Latência de Ativação do Quadríceps Durante o Movimento de Levantar no Hemiparético

papel importante no desempenho do joelho no desempenho do hemi- terizar a amostra de acordo com
funcional. O autor ainda ressalta a parético no movimento de levantar. sua capacidade funcional e a pre-
importância do movimento funcio- Sua ativação vai caracterizar a ve- disposição desses indivíduos a um
nal de levantar na fase de reabili- locidade e suas limitações durante episódio de queda.
tação, pois este adapta o paciente esta atividade funcional por ser uma Galli et al.34 quantificou o mo-
para a marcha. atividade de caráter importante no vimento de levantar em hemipa-
De acordo com Chou et al.24 o controle postural do indivíduo. réticos através da cinemática das
treinamento funcional do movimen- Nos estudos13,31 foram Realiza- articulações e obteve como resul-
to de passar de sentado para em dos a avaliação por EMG nos múscu- tado alguns parâmetros significan-
pé pode ser uma tarefa apropriada los dos membros inferiores durante tes para a caracterização motora,
para indivíduos hemiparéticos que o movimento de levantar, compa- como a inclinação e rotação de
necessitem melhorar a força mus- rando a ativação dos músculos do tronco anormal, déficit na transfe-
cular e o controle motor do membro membro afetado com o saudável. rência de peso para o membro in-
inferior afetado a fim de alcançar Os autores ressaltam a importân- ferior parético e assimetria eviden-
melhor desempenho na marcha. cia do músculo quadríceps, pois foi te. No mesmo estudo é ressaltado
Nos estudos23,26,27 é colocada considerado um dos principais mús- a importância da avaliação do mo-
à importância de se avaliar indiví- culos geradores desse movimento, vimento de levantar e de marcha
duos saudáveis no movimento de quanto maior sua ativação melhor nesses indivíduos para assim obter
levantar para então ser comparado seu desempenho. Destaca também maior êxito na reabilitação.
com indivíduos paréticos, pois es- a grande variabilidade nas latências O paciente hemiplégico apre-
tes apresentam alterações impor- musculares durante a realização de senta-se como um importante ins-
tantes durante esse movimento, levantar em hemiparéticos. trumento para o aprendizado do
sendo destacado a lateralizacão Mazza et al.32 realizou uma controle motor sendo foco de di-
do centro de massa, a fraqueza avaliação em indivíduos hemipa- versos estudos e abordagem me-
do músculo quadríceps no mem- réticos, por sequela de AVE, du- todológicas. Mas consolida-se o
bro parético e a transferência de rante a passagem do movimento consenso sobre o estudo da ativi-
peso para o membro não afetado. de sentar e levantar. Com o uso dade muscular em hemiplégico as-
O mesmo estudo conclui que os da plataforma de força observou- sociado a uma atividade funcional,
indivíduos paréticos já partem de se que esses indivíduos não des- indicadora de independência e mo-
uma postura assimétrica, mesmo locavam seu Centro de gravidade bilidade que contribua no processo
sentados, e que o posicionamento anteriormente durante o movi- de reabilitação.
do pé parético para trás proporcio- mento, mas sim de forma rotacio-
na uma melhora na simetria moto- nal com lateralização. Foi quan- CONCLUSÃO
ra. Salmela et al.28 em seu estudo tificado no estudo as estratégias Em conclusão, verificou-se
também avaliou o posicionamento utilizadas durante o movimento, nesse estudo que a latência de
dos pés durante o movimento de juntamente com a velocidade, ativação muscular do quadríceps
levantar associado com a analise prejuízos e habilidades funcio- encontrado nos músculos afetados
de EMG em quadríceps, tibial an- nais. A assimetria foi fator impor- descrita neste trabalho alertam
terior e sólio, e concluiu uma maior tante nesse estudo. sobre a falha de planejamento ou
ativação desses músculos com os No trabalho de Belgen et al.33 execução motora que o paciente
pés posicionados de forma simétri- foram avaliados nos hemiparéti- pós acidente vascular encefálico
ca durante o mesmo movimento. cos os déficits do equilíbrio, força apresenta e propõe a investigação
Brunt et al.29 e Cameron et e mobilidade funcional através da da participação deste evento na as-
al.30 afirmam em seu estudo a im- escala de Berg e do movimento de simetria postural e implicações na
portância dos músculos extensores levantar. Assim foi possível carac- postura estática.

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29

Artigo Original

Classificação de Adultos Jovens pelo Índice


Anamnético de Fonseca e sua Relação com o
Sinal de Emg dos Músculos da Mastigação e
dos Valores Antropométricos
Young Adults Classification By The Fonseca Anamnesis Index And His Relation With The Chewing
Muscles Emg Sign And The Anthropometric Values.
Tabajara de Oliveira Gonzalez1; Fausto Bérzin2.

Resumo: Os Índices Anamnéticos são ferramentas apropriadas aos estudos epidemiológicos que envolvem a população
geral e podem classificar e caracterizar a Disfunção Temporomandibular (DTM), assim como a Eletromiografia (EMG)
que tem sido amplamente empregada na avaliação dos desequilíbrios musculares de indivíduos com DTM. O objetivo
deste trabalho foi classificar indivíduos com e sem sinais e sintomas de DTM por meio do Índice Anamnético de Fonseca
(IAF) e correlacionar com o sinal eletromiográfico dos músculos da mastigação, com o peso corporal, a idade e a
estatura. Para tanto, foram avaliados 33 voluntários de uma Universidade Privada da Grande São Paulo, sendo todas
do gênero feminino, com idade média de 20,73±1,20 anos. As voluntárias foram divididas em dois grupos, sendo
um com DTM (DTM) composto de 17 sujeitos e um sem DTM (s/DTM) com 16 sujeitos, segundo a pontuação obtida
pelo IAF. Foram coletados os sinais de EMG em posição postural de repouso da mandíbula, aferidos o peso, a idade
e a estatura dos participantes, para correlacionar com a classificação obtida pelo IAF. Houve uma maior prevalência
de DTMs de grau leve na amostra estudada (33,3%), e a presença de dor, cansaço da musculatura, ruídos articulares
e o hábito de ranger ou apertar os dentes foram mais prevalentes nos sujeitos com DTM. Apenas o peso corporal
apresentou relação positiva com a severidade da DTM na classificação pelo IAF (p=0,0137).
Palavras-chave: Disfunção Temporomandibular, Eletromiografia, Índice de Fonseca.

Abstract: Anamnesis indexes are appropriate tools to epidemiological studies that involve the general population. It may
classify and characterize Temporomandibular Disorders (TMD) just as Electromyography (EMG) that has been extensively
used in the assessment of unbalanced muscles of TMD subjects. The purpose of this study was to classify individuals with and
without TMD signs and symptoms with the Fonseca Anamnesis Index (FAI) and correlate such finding with the masticatory
muscles electromyographic signal, body weight, age, and height. Thirty three volunteers from a private university located
in the region of São Paulo city were assessed, and they were all female subjects with average age of 20.73±1.20 years.
They were divided into two groups according to the score obtained in the FAI, in which one group with TMD was comprised
of 17 subjects, and the other group comprised of 16 subjects without TMD. EMG signals were collected during mandible
rest postural position. Also, participants’ weight, age, and height were collected to further correlate with the FAI scores
obtained. A higher prevalence of mild TMD was detected in the assessed sample (33.3%), and the presence of pain, muscle
fatigue, articular noises, and habits like grinding and clinching of teeth were observed with higher prevalence in the TMD
subjects. Body weight alone presented positive correlation with TMD severity obtained with FAI classification (p=0.0137).
Keywords: Temporomandibular Disorder, Electromyography, Fonseca Index.

*Artigo Recebido em 26 de janeiro de 2009 e aprovado em 24 de março de 2009.


1 Professor do Departamento de Fisioterapia da Universidade de Mogi das Cruzes – Mogi das Cruzes – SP, Brasil; pós-graduando em
Fisioterapia da UFSCar – São Carlos – SP, Brasil.
2 Professor Titular da Faculdade de Odontologia de Piracicaba – FOP/UNICAMP – Piracicaba – SP, Brasil.

Endereço para correspondência:


Tabajara de Oliveira Gonzalez, Estrada do Itapeti, nº. 100 quadra 79-A lote 01 - CEP: 08771-910, Cid. Parquelândia, Mogi das Cruzes, SP,
Brasil - Telefone (11) 4794-1310, e-mail: togonzalez@ig.com.br

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30 Classificação de Adultos Jovens pelo Índice Anamnético de Fonseca

Introdução para um bom prognóstico e, devido e geração de força muscular. Vá-


A Articulação temporoman- à dificuldade em se classificar as rios autores20-27 vêm empregando
dibular (ATM) é uma articulação DTMs quanto à sua etiologia, é ne- a EMG como método diagnóstico
complexa compreendida por um cessário avaliar da forma mais com- e de acompanhamento dos resul-
conjunto de estruturas que permite pleta possíveis alterações estrutu- tados terapêuticos em indivíduos
a mandíbula realizar diversos mo- rais e sua sintomatologia, para que com DTM. Alguns estudos28,29 tem
vimentos, incluindo a mastigação, possa ser proposta a melhor forma mostrado características específi-
fala, deglutição, entre outros. O li- de intervenção terapêutica6,7. cas do sinal eletromiográfico, como
mite de movimento da mandíbula é Em uma extensa avaliação epi- indicativo de desordens temporo-
observado durante o contato entre demiológica alguns autores8-10 inves- mandibulares e bruxismo, como a
a arcada dentária inferior com a ar- tigaram os sinais e sintomas de DTM hiperatividade muscular.
cada dentária superior e existe, por- em uma população de não-paciente, Esta prevalência de alterações
tanto, uma relação íntima e direta e encontraram uma predominância da atividade muscular dos músculos
desta articulação com os dentes1,2. elevada. Calcula-se que 50-70% da da mastigação na DTM tem atraído
As disfunções nesta articula- população apresenta sinais da dis- os esforços de vários pesquisado-
ção são constantes e presentes na função em algum estágio durante a res na tentativa de quantificar esta
grande maioria da população, pois vida, enquanto que 20-25% da po- alteração e tentar utiliza-la como
qualquer desarmonia entre a mus- pulação tem sintomas de DTM8,11,12. método diagnóstico de DTM e de
culatura, dentes, nervos, ossos ou Inúmeras ferramentas ana- acompanhamento dos resultados
ligamentos levará a um sintoma mnéticas tem sido utilizadas para terapêuticos empregados30.
de disfunção temporomandibular auxiliar no diagnóstico e no grau A necessidade de correlacio-
(DTM)3. de severidade das DTMs, e se nar os achados eletromiográficos e
A Academia Americana de Dis- mostram apropriadas para os es- os achados dos diversos métodos
funções Temporomandibulares ca- tudos que envolvem a população de triagem de pacientes motivou
racteriza sua etiologia como multi- geral permitindo investigar os fa- o presente estudo, que teve por
fatorial, entretanto o papel exato de tores desencadeantes. Entretanto, objetivo, identificar indivíduos com
tais agentes na fisiopatologia das inúmeras escalas, questionários e e sem sinais e sintomas de DTM
DTM varia muito para cada indiví- índices podem ser encontrados na por meio do Índice Anamnético de
duo, já que é grande o número de literatura o que gera muitas vezes, Fonseca e correlacionar com o sinal
assintomáticos que se apresentam resultados controversos entre os eletromiográfico dos músculos da
clinicamente com um ou mais fa- trabalhos13-15. mastigação com a mandíbula em
tores aceitos potencialmente como O índice anamnético de Fonse- posição postural de repouso, ida-
desencadeantes ou perpetuantes4. ca apresenta uma forte correlação de, peso corporal e estatura.
A etiologia está classificada com o índice de Helkimo. Tem como
em cinco teorias, a teoria do des- vantagem o menor tempo de apli- Metodologia
locamento da posição do côndilo, cação e, portanto, um menor custo; Participaram deste estudo, 33
causando uma atividade muscular facilita a capacidade diagnóstica do voluntárias do gênero feminino, com
inadequada e adversa; a teoria profissional, gera condições de uso média de idade de 20,73±1,20 anos,
neuromuscular, onde as interferên- por um técnico em serviços públi- sendo 16 sem sinais e sintomas de
cias oclusais, presença de estresse cos; utilização em estudo epidemio- DTM e 17 com graduação entre leve,
e tensão, parafunções como ranger lógico e comparação de tratamen- moderada ou severa, previamen-
e apertar os dentes, causam espa- tos. Dentre as inúmeras vantagem, te selecionados através do preen-
mos e hiperatividade muscular; a cabe ressaltar a possibilidade da chimento do Índice Anamnético de
teoria muscular que sugere que a obtenção do índice de severidade DTM elaborado por Fonseca16.
tensão nos músculos da mastigação baseado em relatos subjetivos do As voluntárias foram divididas
seja o principal fator etiológico; a paciente em questionário auto-ad- em dois grupos sendo um Grupo
teoria psicofisiológica, que segun- ministrado, o que diminui a influên- intitulado DTM e o outro s/DTM
do a qual, o espasmo dos múscu- cia do examinador16-19. através dos scores obtidos no pre-
los da mastigação é causado pelas A eletromiografia é um mé- enchimento do Índice Anamnético
parafunções e a teoria psicológica, todo para expressar o registro da de Fonseca (IAF).
que propõe que os distúrbios emo- atividade elétrica de um músculo, Foram excluídos da amostra,
cionais iniciam uma hiperatividade sendo uma ferramenta atraente, sujeitos com falhas dentárias,
muscular que levam a parafunção pois proporciona um fácil acesso aparelho ortodôntico, doença que
e a anormalidades oclusais5. aos processos fisiológicos que co- pudesse comprometer o sistema
A avaliação é o primeiro passo dificam a produção de movimento estomatognático ou sujeitos fazen-

Ter Man. 2009; 8(30):30-36


Tabajara de Oliveira Gonzalez; Fausto Bérzin. 31

do uso de qualquer medicamento. dos grupos da pesquisa, o ques- antebraço do voluntário por uma
Para o registro EMG foram uti- tionário elaborado por Fonseca16 fita de velcro e ligado a um dos ca-
lizados: (1) Sistema de Aquisição intitulado de Índice Anamnético de nais do eletromiógrafo.
de Sinais-Módulo Condicionador de Fonseca (IAF). O sinal eletromiográfico foi
Sinais da Lynx Eletronics Ltda., por- Foi utilizada ainda, uma ba- captado com a mandíbula em po-
tátil, com 16 canais, 12 bites de re- lança antropométrica digital da sição postural de repouso por um
solução de faixa dinâmica, filtro do marca Líder® modelo P150C para período de 15 segundos, sendo
tipo Butterworth de passa-baixa de aferir a estatura e o peso corporal analisados apenas 10, sendo por-
509 Hz e passa-alta de 10,6 Hz e dos voluntários. tanto, eliminados os 2,5 segundos
ganho de 100 vezes; (2) Placa con- Primeiramente, a todos os iniciais e finais da coleta.
versora A/D, modelo CAD 12/32 da voluntários da pesquisa foram es- Para os registros eletromiográ-
Lynx Eletronics Ltda., de 12 bites e clarecidos dos objetivos e proce- ficos, os voluntários permaneceram
(3) Software Aqdados versão 5.0 da dimentos adotados durante todo sentados em uma cadeira, com as
Lynx Eletronics Ltda. para apresen- o estudo e solicitado o preenchi- costas completamente apoiadas no
tação dos sinais dos diferentes ca- mento do consentimento formal de encosto, plano de Frankfurt paralelo
nais simultaneamente, e tratamento participação, aprovado pelo Comitê ao solo, olhos abertos, pés paralelos
do sinal (valor RMS, média mínimo, de Ética em Pesquisa da Universi- e apoiados no solo, e braços apoia-
máximo e desvio padrão) com fre- dade de Mogi das Cruzes (Processo dos sobre os membros inferiores.
quência de amostragem de 2000Hz. 049/07; CAAE: 0048.0.237.000-02). Foram realizadas três capta-
Os canais de entrada dos ele- Após sua aceitação em par- ções do sinal eletromiográfico de
trodos foram calibrados diariamen- ticipar do estudo, os voluntários repouso com 1 minuto de intervalo
te. Esse procedimento é realizado receberam o IAF, sendo estes pre- entre cada uma delas.
para atribuir como valor zero de enchidos na presença do exami- Os sinais eletromiográficos re-
referência à voltagem registrada nador. Após o preenchimento do gistrados foram armazenados em
durante o curto-circuito do eletrodo questionário, o examinador aplicou arquivos na memória do computa-
ativo e o eletrodo de referência. a chave de correção para classificar dor e em CD para análise (off-line).
Foram utilizados quatro ca- os voluntários em “com disfunção” A análise do Índice Anamné-
nais de entrada dos eletrodos, para (DTM) ou “sem disfunção” (s/DTM), sico Fonseca (IAF) foi executada
a coleta do sinal eletromiográfico, determinando assim a constituição pela chave de correção contida no
sendo os canais correspondentes dos grupos da pesquisa. próprio questionário, determinan-
aos músculos estudados: Canal 0 Foi solicitado ao participante do desta forma a classificação de
- porção anterior do músculo tem- que subisse na balança antropo- DTM dos sujeitos da pesquisa.
poral direito; 1 - músculo masseter métrica da marca Líder® onde fo- O sinal eletromiográfico dos
direito; 2 - porção anterior do mús- ram aferidos seu peso corporal e músculos estudados foi utilizado
culo temporal esquerdo; 3 - mús- estatura, com os mesmos vestindo para derivar análises no domínio do
culo masseter esquerdo. roupas leves, sem calçados e man- tempo e amplitude sendo apresen-
Foram utilizados eletrodos de tendo a postura ereta com o olhar tada através dos valores da Root
superfície diferenciais compostos no horizonte. Solicitou-se também Mean Square (RMS), que é compre-
por duas barras retangulares (10x1 a apresentação de documento para endido como a amplitude de uma
mm) paralelas, de prata pura (Ag), a comprovação de sua idade. corrente elétrica contínua virtual.
espaçadas por 10 mm e fixas em A coleta dos registros eletro- Para obtenção do padrão de
um encapsulado de resina acrílica miográfico foi iniciada pela limpeza ativação muscular, o primeiro passo
de 20x41x5mm, da Lynx Eletro- da pele com algodão embebido em do processamento do sinal eletro-
nics Ltda. Estes eletrodos possuem álcool 70% e adequada colocação miográfico foi a retificação comple-
impedância de entrada maior que dos eletrodos ativos diferenciais de ta do sinal eletromiográfico bruto
10GΩ, CMRR mínimo de 84 dB e superfície no ventre dos múscu- para obtenção de um valor abso-
ganho de 20 vezes (Figura 2 A). los masseter e porção anterior do luto de todo o traçado, de maneira
Para redução de ruídos de músculo temporal, sendo orientada que as deflexões negativas serão
aquisição utilizou-se um eletrodo pela direção das fibras musculares convertidas a valores em módulo.
de referência (terra), de aço ino- e prova de função de cada um dos O passo seguinte foi a supres-
xidável, sendo este untado em sua músculos estudados, a fim de evitar são das altas flutuações da ampli-
interface de contato com gel à base erros no posicionamento dos ele- tude do sinal através do alisamento
de água (Figura 2 B). trodos ativos diferenciais. (smooth) do sinal. Este alisamento,
Foi utilizado para a classifica- O eletrodo terra foi fixado na conhecido como envoltório linear
ção dos indivíduos e constituição região anterior da porção distal do do sinal, foi realizado após a re-

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32 Classificação de Adultos Jovens pelo Índice Anamnético de Fonseca

tificação do traçado obtido. Além Tabela 1. Frequências e porcentagens da distribuição das classificações do
disso, foram calculados os coefi- grau de DTM da população estudada pelo Índice de Fonseca.
cientes de variação das curvas de Grau de DTM Frequência Porcentagem
cada um dos músculos estudados Normal 16 48,5%
de cada voluntário. Leve 11 33,3%
O processamento dos sinais Moderada 5 15,2%
eletromiográficos brutos registrados Severa 1 3,0%
foi realizado por rotinas do softwa-
re MATLAB versões 7.0.1, especial- Tabela 2. Modelo de regressão logística de chances proporcionais para a
mente criadas para os sinais pro- variáveis classificação de DTM para o repouso.
cessados pelo software Aqdados.
Variáveis Erro Odds Ratio
Assim, os valores de RMS Estimativa p-valor
(médias) padrão (IC95%)
obtidos durante atividade mas-
Idade 0.5683 0.4458 0.2024 -
tigatória bilateral simultânea de 1.366 (1.066 -
Peso 0.3117 0.1264 0.0137*
cada um dos músculos estudados, 1.750)
foram retificados e normalizados Altura -15.8872 12.2804 0.1958 -
para posterior análise estatística TD -0,5027 0,4131 0.2236 -
pelo software MATLAB (versão TE 0,5554 0,5343 0.2020 -
7.0.1).
MD 0,6071 0,5343 0.2558 -
Após o tratamento dos da-
ME -0,2974 0,5714 0.6027 -
dos estes foram analisados atra-
TD=Temporal Direito, TE=Temporal Esquerdo, MD=Masseter Direito e ME=Masseter
vés do Software SAS for Windows®
Esquerdo.
v.9.1.3, considerando o nível de
significância de 5% ou p-valor cor- Considerando a classificação tas em cada item foram compa-
respondente. da DTM em normal, leve, modera- rados pelo teste de diferença de
Inicialmente foi feita uma da e severa como variável respos- proporções. Os resultados constam
análise descritiva com o cálculo de ta, foi ajustado um modelo logísti- das Tabelas 3, 4 e 5.
média e desvio padrão das medi- co de chances proporcionais já que Podemos observar na Tabela
das coletadas dos sujeitos (peso, a variável resposta é ordinal e con- 4, referente as respostas “não” as-
altura, idade, TD, TE, MD e ME) na siderou-se peso, idade, altura, TD, sinaladas no IAF, que as questões
posição postural de Repouso dos TE, MD e ME como variáveis expla- 3, 4, 6, 7 e 8 apresentaram dife-
grupos DTM e s/DTM. natórias. Como foram três medidas rença estatisticamente significante
Após a classificação de DTM em cada voluntário, ajustou-se entre os grupos DTM e s/DTM. Para
(normal, leve, moderada severa), o modelo levando-se em conta a a questão 3, que avaliou a presença
foi ajustado um modelo de regres- repetição aninhada a voluntários. de cansaço da musculatura quando
são logística de chances proporcio- Como não houve significância nes- mastiga, no grupo DTM 23,5% dos
nais considerando a variável res- se efeito, considerou-se a média sujeitos responderam “não”, en-
posta a classificação de DTM como das medidas para o ajuste final. Os quanto que o grupo s/DTM 93,8%
ordinal e as medidas coletadas dos resultados constam da Tabela 2. responderam “não” apresentarem
sujeitos e da RMS de Respouso. Considerando a categoria cansaço ao mastigar.
Considerando o questionário normal como a linha de base para Na questão 4, que pergun-
de Fonseca, foi feita uma compa- o modelo, o teste do modelo de ta se sente dores na cabeça com
ração do número de respostas sim, chances proporcionais forneceu um frequência, 23,5% dos sujeitos do
não e às vezes utilizando o teste de p=0,8631, ou seja o modelo está grupo DTM responderam que “não”
comparação de proporções. bem ajustado. Nota-se aqui que contra 68,8% do grupo s/DTM. Em
somente a variável peso foi signi- relação a questão 6, sobre a pre-
Resultados ficativa e, sendo o coeficiente po- sença de dor no ouvido ou na re-
As frequências para a classifi- sitivo, indica que a quanto maior o gião da articulação temporomandi-
cação através do Índice Anamnéti- peso, maior a chance do indivíduo bular (ATM), 41,2% dos sujeitos do
co de Fonseca (IAF), do grupo DTM, ser classificado com DTM severa. grupo DTM responderam que “não”
demonstraram uma prevalência de Considerando as respostas do e 100% dos voluntários do grupo
DTM de grau leve, com 33,3% dos questionário Fonseca dos voluntá- s/DTM responderam “não” apre-
entrevistados, seguido do grau Mo- rios, foram calculadas as frequên- sentarem dor nesta regiões.
derado com 15,2% e grau Severo cias de respostas “não”, “às vezes” Para a questão 7, que pergun-
com apenas 3,0% (Tabela 1). e “sim”. Os percentuais de respos- ta sobre a presença de ruído nas

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Tabajara de Oliveira Gonzalez; Fausto Bérzin. 33

ATMs quando mastiga ou abre a Tabela 3. Frequências absolutas e percentuais de respostas “não” para o
boca, 23,4% dos sujeitos do grupo questionário Fonseca e teste de comparação dos percentuais.
DTM responderam “não” ter ruído
Respostas não
contra 93,8% do grupo s/DTM. Fi-
Questão DTM % DTM s/DTM % s/DTM χ2 p-valor
nalmente, na questão 8, referente
a presença de hábitos de apertar 1 14 82,4 16 100,0 1,3376 0,2475
ou ranger os dentes, 35,3% dos 2 15 88,2 16 100,0 0,4701 0,4929
sujeitos do grupo DTM responde-
3 4 23,5 15 93,8 17,1123 <0,0001*
ram que “não” apresentam tais há-
4 4 23,5 11 68,8 17,1123 <0,0001*
bitos contra 81,3% dos sujeitos do
grupo s/DTM. 5 8 47,1 11 68,8 0,8238 0,3641
Em relação as respostas “às 6 7 41,2 16 100,0 10,5623 0,00098*
vezes”, apresentadas no preenchi- 7 5 29,4 15 93,8 11,7228 0,00061*
mento do Índice de Fonseca, apenas
8 6 35,3 13 81,3 5,3694 0,02049*
a questão 3, referente a presença
9 11 64,7 15 93,8 2,604 0,10660
de cansaço durante a mastigação,
apresentou diferença estatistica- 10 3 17,6 6 37,5 0,7895 0,37410
mente significante entre os grupos
estudados; sendo que 58,8% dos
sujeitos do grupo DTM responde- Tabela 4. Frequências absolutas e percentuais de respostas “às vezes” para
ram “às vezes” e apenas 6,3% dos o questionário Fonseca e teste de comparação dos percentuais.
sujeitos do grupo s/DTM apontaram
Respostas às vezes
a mesma resposta (Tabela 5).
Questão DTM % DTM s/DTM % s/DTM χ2 p-valor
Na Tabela 5, onde são apre-
sentadas as estatísticas das respos- 1 3 17,6 0 0,0 1,3376 0,2475
tas “sim”, apenas as questões 7 e 8 2 2 11,8 0 0,0 0,4701 0,4929
apresentaram diferenças significan- 3 10 58,8 1 6,3 8,0225 0,004262*
tes estatisticamente, sendo que na
4 8 47,1 5 31,3 0,3277 0,567
questão 7, referente a presença de
ruídos na ATM, 35,3% dos sujeitos 5 8 47,1 5 31,3 0,277 0,5670
do grupo DTM relataram ter ruídos e 6 5 29,4 0 0,0 3,4943 0,06158
nenhum sujeito do grupo s/DTM re- 7 6 35,3 1 6,3 2,604 0,10660
latou a presença de tal sinal clínico;
8 4 23,5 3 18,8 0,8062 0,36930
já em relação a questão 8, sobre a
9 0 0,0 0 0,0 - -
presença de hábitos de apertar ou
ranger os dentes, 41,2% dos sujei- 10 9 52,9 7 43,8 0,0332 0,85750
tos do grupo DTM responderam ter
pelo menos um estes hábitos, já no
grupo s/DTM, nenhum sujeito assi- Tabela 5: Freqüências absolutas e percentuais de respostas “sim” para o
nalou a alternativa “sim”. questionário Fonseca e teste de comparação dos percentuais.

Respostas sim
DISCUSSÃO
Questão DTM % DTM s/DTM % s/DTM χ2 p-valor
A caracterização da amostra
aponta para uma semelhança en- 1 0 0,0 0 0,0 - -
tre os grupos estudados, DTM e s/ 2 0 0,0 0 0,0 - -
DTM, em relação aos valores de 3 3 17,6 0 0,0 1,3376 0,2475
RMS, pois não apresentaram dife-
4 5 29,4 0 0,0 3,4946 0,06458
rença estatística entre eles, este
5 1 5,9 0 0,0 0 1,0000
achado corrobora com os dados de
diversos autores10,12,31 que identifi- 6 5 29,4 0 0,0 3,4946 0,06158
caram alterações nos traçados de 7 6 35,3 0 0,0 4,7333 0,02958*
EMG e sintomas de DTM em indiví-
8 7 41,2 0 0,0 6,0797 0,01367*
duos sem DTM.
9 6 35,3 1 6,3 2,604 0,10660
Após a classificação dos volun-
tários pelo IAF podemos observar 10 5 29,4 3 18,8 0,0948 0,75820

Ter Man. 2009; 8(30):30-36


34 Classificação de Adultos Jovens pelo Índice Anamnético de Fonseca

uma prevalência maior de DTMs de A diferenciação dos grupos ruídos ao mastigar ou abrir a boca,
grau leve na população estudada DTM e s/DTM pelo IAF demonstrou cansaço na musculatura masti-
(33,3%), seguida de moderada que o grupo s/ DTM não apresenta gatória e os hábitos de ranger ou
(15,2%) e uma menor parcela de dor no ouvido ou na ATM (100%), apertar os dentes se mostraram
grau severo (3,0%), este achado não apresentou ruídos e nem can- mais prevalentes no grupo DTM,
vem ao encontro dos estudos de saço ao mastigar (93,8%), não este achado vai ao encontro aos
Nomura et al.17 ; Gracia et al.12 e apresenta hábitos de apertar ou relatos de Yap et al.32, que relatou
Bevilaqua-Grossi et al.18. que re- ranger os dentes (81,3%) e não que ruídos e cansaço ao mastigar,
lataram uma maior prevalência de relatam dores na cabeça com fre- dores na ATM foram as queixas
DTMs de grau Leve, sobre as Mo- quência (68,8%); já os indivídu- mais apontadas em seus estudos,
deradas e Severas. os do grupo DTM, apesar de não assim como o ranger dos dentes
Na análise pelo modelo de sentirem dificuldades em abrir a apontados por Magnusson et al.33.
regressão logística de chances boca (82,4%) ou movimentar a
proporcionais, apenas a variável mandíbula (88,2%), apresenta- CONCLUSÃO
peso corporal apresentou relação ram mais o hábito de ranger ou A população estudada apre-
com a classificação proposta pelo apertar os dentes (41,2%), rela- sentou maior prevalência de DTMs
IAF, apontando para um aumento tam com mais frequência que, ás de grau leve, sendo o grau de se-
na severidade das DTMs com o au- vezes, apresenta cansaço para veridade agravado pelo aumento
mento do peso corporal, embora a mastigar (58,8%), apresentaram do peso corporal, não apresentan-
literatura não tenha apresentado maior prevalência de ruídos nas do relação direta com o sinal de
estudos que investigassem tal rela- ATMs quando mastigam (70,6% EMG; as queixas que diferenciaram
ção, acreditasse que o aumento do sim e ás vezes) e maior prevalên- os dois grupos foram dor, ruídos
peso corporal provoque mudanças cia de queixas de dores no ouvido articulares, cansaço ao mastigar
posturais que estão relacionadas ou ATM (58,8% sim e ás vezes). e hábitos de ranger ou apertar os
as DTMs. Portanto, a presença de dor, dentes.

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36

Artigo Original

Influência da Crioterapia na Espasticidade: uma


Análise Qualitativa e Quantitativa
Influence of Cryotherapy on Spasticity: Qualitative and Quantitative Measures
Márcia Moreira Valim1, Adriano Rodrigues Oliveira1, Fabiana Freitas Canuto1, Cláudia Santos Oliveira2, Fer-
nanda Ishida Corre3, João Carlos Ferrari Correa4.

Resumo: O uso da crioterapia para diminuir hipertonia em músculos espásticos tem se mostrado um recurso bastante
conhecido e utilizado na reabilitação. Com isso, uma melhor compreensão dos efeitos do resfriamento em movimentos
voluntários pode proporcionar uma percepção dos mecanismos da espasticidade, que contribui à inaptidão funcional
no paciente. A proposta deste estudo foi de determinar o efeito do resfriamento na musculatura espástica, por meio
de uma escala clínica; o padrão da ativação muscular em um teste de movimentos repetitivos e subseqüentemente
avaliar as diferentes reações da coordenação muscular durante o resfriamento dos músculos tibial anterior e gastroc-
nêmio; e medidas eletrofisiológicas. Os voluntários foram submetidos a exame clínico do reflexo tendinoso patelar e
aquileu, no lado afetado, além da avaliação do clônus, atividade eletromiográfica e da variação angular da articulação
do tornozelo. Pelos resultados demonstrados neste estudo, verificamos que o efeito do resfriamento para a adequação
de tônus de pacientes hipertônicos por meio da crioterapia mostrou-se extremamente valioso e de uma importância
significativa.
Palavras-chaves: Crioterapia, EMG, Espasticidade.

Abstract: The use of the cryotherapy to diminish hypertonia in spastics muscles if has shown a resource sufficiently
known and used in the rehabilitation. With this, one better understanding of the effect of the cooling in voluntary mo-
vements can provide a perception of the mechanisms of the spasticity, which contributes to the functional ineptitude in
the patient. The proposal of this study was to determine the effect of the cooling in the spastic muscles, by means of a
clinical scale; the standard of the muscles activation in one test of repetitive movements and subsequently to evaluate
the different reactions of the muscular coordination during the cooling of the muscles tibialis anterior and gastrocne-
mius; and electrophysiological measured. The volunteers had been submitted the clinical examination of the tendinous
reflexes to patellar and aquileu, in the affected side, beyond the evaluation of clonus, eletromyographic activity and of
the angular variation of the joint of the ankle. For the results demonstrated in this study, we verify that the effect of
the cooling for the adequacy of tonus of hypertonics patients by means of the cryotherapy revealed extremely valuable
and of a significant importance.
Keywords: Cryotherapy, EMG, Spasticity.

*Artigo recebido em 9 de fevereiro de 2009 e aprovado em 13 de abril de 2009

1 Discente do PPG em Ciências a Reabilitação da Universidade Nove de Julho, São Paulo - SP, Brasil.
2 Profa Dra do PPG em Ciências a Reabilitação da Universidade Nove de Julho, São Paulo - SP, Brasil.
3 Profa MSc do Curso de Fisioterapia da Universidade Nove de Julho, São Paulo - SP, Brasil.
4 Prof Dr do PPG em Ciências a Reabilitação da Universidade Nove de Julho, São Paulo - SP, Brasil.

Endereço para correspondência:


João Carlos Ferrari Correa - Av. Francisco Matarazzo, 612, Água Branca, 05001-100. São Paulo – SP - e-mail: jcorrea@uninove.br

Ter Man. 2009; 8(30):37-42


Márcia Moreira Valim, Adriano Rodrigues Oliveira, Fabiana Freitas Canuto, Cláudia Santos Oliveira 37

INTRODUÇÃO reflexia, característica na espasti- mais confiáveis, eliminando com-


Espasticidade é quando ocor- cidade10. plicações associadas com a repro-
re um aumento do tônus muscular, Até agora o efeito do resfria- dutibilidade inter-sujeitos.
causado por uma condição neuro- mento na espasticidade foi descrito Por tudo isso, a proposta deste
lógica anormal, resultando ainda principalmente em termos de reflexo estudo foi de determinar o efeito
em aumento do reflexo de estira- -T, -H e -M. Infelizmente estes resul- do resfriamento na musculatura
mento, clônus, e espasmos invo- tados não podem ser generalizados espástica, por meio de uma escala
luntários. Os músculos espásticos a prejuízo da coordenação dos movi- clínica; o padrão da ativação mus-
são mais resistentes a contração mentos sob o controle voluntário11. cular em um teste de movimentos
do que os músculos normais e Em alguns trabalhos sobre es- repetitivos e subsequentemente
também custam mais a se relaxar, pasticidade, reflexos de estiramen- avaliar as diferentes reações da co-
permanecendo contraídos por um to involuntário em músculos anta- ordenação muscular durante o res-
período de tempo mais longo do gonistas são inibidos por esforços friamento dos músculos tibial an-
que os músculos normais1,2. voluntários do músculo agonista, terior e gastrocnêmio; e medidas
O efeito do resfriamento mus- ainda em outros é aumentada a eletrofisiológicas quantitativas.
cular para diminuir temporaria- co-contração existente. Além dis-
mente a hipertonia em músculos so, a diminuição da sensibilidade MÉTODO
com espasticidade é um recurso do fuso neuromuscular também Foram selecionados 10 volun-
terapêutico bem conhecido3-8; po- poderia afetar a produção de uma tários que sofreram alguma lesão
rém, o recrutamento e a configu- maior coordenação muscular12. do sistema nervoso central (SNC)
ração dos potenciais de ação das Completamente o efeito da apresentando por consequência
unidades motoras (PAUM) não têm supressão de atividade do fuso um quadro característico de espas-
sido claramente elucidado, sendo neuromuscular, pelo resfriamento ticidade. Foram fatores de exclusão
que poucas referências têm repor- em movimentos ativos, não é dire- a neuropatia periférica, simpatec-
tado algo sobre este assunto . 9
tamente correlacionada com movi- tomia, reações alérgicas ao resfria-
Devido a tal conhecimento, mentos voluntários das atividades mento, síndrome de M. Raynaud
esse recurso tornou-se um impor- funcionais. Uma melhor compre- (excessiva vasoconstricção com
tante componente de intervenções ensão dos efeitos do resfriamento reação à exposição ao frio).
terapêuticas, sendo principalmente em movimentos voluntários podem Todos os voluntários foram
aplicado por causa de seu efeito fa- proporcionar uma percepção dos informados do protocolo de estudo
cilitado. Porém, às vezes não asse- mecanismos da espasticidade, que que estavam sendo submetidos e
gura a todos os pacientes que após contribui à inaptidão funcional no deviam assinar o Termo de Con-
o resfriamento do músculo haja a paciente13. sentimento, aprovado juntamente
diminuição esperada da hipertonia9. A efetividade desta modali- com o projeto do estudo pelo Co-
A excitabilidade de neurônios dade terapêutica na espasticidade mitê de Ética em Pesquisa (Proces-
motores espinais é influenciada tem sido demonstrada por obser- so nº 133260-2006).
através de vários tratos descenden- vações qualitativas, como resposta Após essa fase informativa, os
tes que ou trabalham diretamente reflexa, clônus, sinal de Babinski e voluntários foram submetidos a um
ou influenciam a inibição ou faci- escala de Asworth. exame clínico do reflexo tendinoso
litação dos interneurônios dentro Tem sido proposto medidas da patelar e aquileu, no lado afetado
dos tratos espinais reflexos. Uma espasticidade por métodos quanti- (espástico) em uma pontuação que
diminuição da inibição pré-sinápti- tativos, tais como a eletromigrafia, varia de 0 a 4 (0 = nenhum reflexo;
ca que facilita o reflexo segmentar contudo essas medidas não tem 1 = reflexo diminuído; 2 = normal;
também tem sido utilizado para se ganho aceitação por uma varieda- 3 = exagerado; 4 = extremamen-
explicar a causa da espasticidade. de de razões. Há desde a percep- te exagerado); além da avaliação
Como estes mecanismos contri- ção que as medidas quantitativas do clônus em uma escala que varia
buem para a espasticidade, seu não se correlacionam com as men- de 0 a 5 (0 = nenhum clônus; 1 =
efeito é proporcional à quantidade surações clínicas qualitativas; até dificilmente eliciado; 2 = presente:
de inputs aferentes provenientes a dificuldade em empregar essa < 3 repetições; 3 = presente: < 10
dos fusos neuromusculares. Então técnica na rotina clínica, uma vez repetições; 4 = presente: > 10 re-
é provável que reduzindo a sensibi- que requer equipamentos caros e petições; 5 = espontâneo)12.
lidade dos fusos neuromusculares, sofisticados. Mas, por outro lado, O paciente foi posicionado na
pela ação da crioterapia, possamos estudos2,5,6 relatam que tais me- posição sentada, de maneira con-
avaliar o reflexo de estiramento didas providenciam além de uma fortável em uma cadeira com al-
sem causar um aumento da hiper- melhor métrica, dados objetivos tura ajustável, de modo que seus

Ter Man. 2009; 8(30):37-42


38 Influência da Crioterapia na Espasticidade: uma Análise Qualitativa e Quantitativa

pés estejam livres para realizar o Os eletrodos de superfície fo- tensão elétrica convertidos, por ca-
teste de reflexo tendinoso (percus- ram colocados sobre o ponto motor libração, em graus de movimento
são do tendão por um martelo clí- dos músculos tibial anterior e gas- articular, durante o movimento das
nico), além do teste de movimento trocnêmio do lado comprometido hastes, e que foi utilizado para me-
repetitivo (RM), o qual foi instruído (espástico), acompanhando o sen- dir o movimento de flexo-extensão
a realizar de maneira repetitiva a tido longitudinal das fibras muscu- da articulação do tornozelo durante
dorsiflexão e flexão plantar máxi- lares (fixados junto à pele por meio o RM17.
ma do tornozelo do lado afetado de uma fita adesiva de dupla face, Como sistema de referência,
pela espasticidade. O movimento internamente, e outra fita adesiva utilizamos as medidas sugeridas
foi realizado em um ritmo confor- usada externamente aos eletrodos, pela American Academy of Orthopa-
tável, estabelecido pelo próprio pa- proporcionando assim uma melhor edic Surgeons, onde a posição neu-
ciente durante 30 segundos. fixação destes). A técnica de loca- tra da articulação do tornozelo deve
Ambos, teste de reflexo ten- lização do ponto motor empregada ser igual à 0º, apud Araújo et al.15.
dinoso e teste RM foram realizados foi a mesma sugerida por Dainty e
antes e após os 2 experimentos, a Norman14, e que conforme relatado RESULTADOS
saber: por Araujo et al.15, está sujeita a
- Experimento 01: temperatu- menos erros sistemáticos. Análise Eletromiográfica
ra ambiente da sala de experimento Após o tratamento do sinal, Para apresentar a análise com-
(± 24ºC); um traçado médio do teste de mo- parativa da atividade eletromiográ-
- Experimento 02: resfria- vimentos repetitivos (RM) foi obti- fica dos músculos TA e GA, pode-se
mento com saco de gelo triturado do, sendo representativo da ativi- fazer comparações entre o padrão
focalmente posicionado sobre o dade funcional do músculo de cada do sinal EMG de um único voluntá-
nervo sural por 30 minutos5; voluntário. Finalmente, um traçado rio, obtendo desta forma o padrão
O sistema de aquisição de si- médio representativo da atividade intra-sujeito, assumindo o valor
nais EMG utilizado consistiu de dois funcional dos voluntários da amos- médio como valor representativo.
pares de eletrodos de superfície do tra foi obtido e submetido à análise Os dados referentes ao pa-
tipo ativo, bipolar e diferencial, uti- estatística comparativa, entre os drão intra-sujeito, quando do ciclo
lizado para captação da atividade músculos analisados16. completo da dorsi-flexão ativa da
elétrica dos músculos. O sinal foi Quanto ao eletrogoniômetro, articulação do tornozelo, do mem-
pré-amplificado no eletrodo dife- o sistema foi programado para ex- bro hemiplégico, podem ser visua-
rencial com ganho de 10 vezes e pressar seus valores de variação da lizados nas Figuras 1 e 2.
razão do modo comum de rejeição
igual a 80 dB e uma frequência de
amostragem de 2000 Hz; além de
um eletrogoniômetro (constituído
de duas hastes plásticas, interliga-
das por um potenciômetro linear e
resistência de 10 KΩ), sobre o eixo
articular de rotação da articulação
do tornozelo em estudo, cuja téc-
nica permitiu o registro da variação
angular contínua e automática.
Esses dois componentes do
sistema de aquisição de sinais fo-
ram conectados a um módulo con-
dicionador de sinais, da empresa
“EMG System5”, onde os sinais
analógicos foram filtrados com fil-
tro passa banda de 10 Hz a 500 Hz,
e amplificados novamente, com um
ganho de 100 vezes, totalizando Figura 1. Atividade eletromiográfica do músculo Tibial Anterior (TA), durante ciclo com-
portanto um ganho final de 1000. pleto de dorsi-flexão ativa da articulação do tornozelo, ciclo este demonstrado em forma
de porcentagem (0-100%), pré e pós-utilização da crioterapia como forma de adequa-
ção tônica do padrão extensor desta articulação.

5 EMG System. São José dos Campos - SP - Brasil.

Ter Man. 2009; 8(30):37-42


Márcia Moreira Valim, Adriano Rodrigues Oliveira, Fabiana Freitas Canuto, Cláudia Santos Oliveira 39

Análise da Variação Angular


Através da eletrogoniometria
foram obtidos valores referentes à
variação angular da articulação do
tornozelo durante o ciclo completo
da dorsi-flexão.
Para a análise da variação an-
gular, utilizou-se como sistema de
referência as medidas sugeridas
pela American Academy of Ortho-
padic Surgeons.

Análise do Clônus, Reflexo Pa-


telar e Aquileu
Após ter sido submetido ao
exame clínico do reflexo tendinoso
patelar e aquileu, no lado afetado
(espástico) os voluntários demons-
traram as seguintes pontuações
Figura 2. Atividade eletromiográfica do músculo Gastrocnêmio (GA), durante ciclo
médias (tabela 01).
completo de dorsi-flexão ativa da articulação do tornozelo, ciclo este demonstrado em
forma de porcentagem (0-100%), pré e pós-utilização da crioterapia como forma de
adequação tônica do padrão extensor desta articulação. DISCUSSÃO
Nota-se que na Figura 1, refe-
rente ao padrão EMG desenvolvido,
quando do ciclo completo da dorsi-
flexão da articulação do tornozelo,
tanto pré quanto pós-utilização da
crioterapia como forma de adequa-
ção tônica do padrão extensor des-
ta articulação, apresentaram um
mesmo padrão de ativação elétrica
no decorrer de todo o ciclo da dor-
si-flexão, evidenciando sua ativi-
dade mais importante de 0 a 60%
do ciclo completo, sendo que de 61
a 100% temos um decréscimo de
sua atividade, o que caracteriza a
fase de retorno a partir da dorsi-
flexão completa, ou seja, a fase de
flexão-plantar.

Figura 03. Variação angular da articulação do tornozelo hemiplégico durante o ciclo


completo da dorsi-flexão (0-100%).

Tabela 01. Pontuações médias obtidas pré e pós aplicação da crioterapia sobre o nervo sural pelo período de 30 minutos.
Pré-Crioterapia Pós-Crioterapia
Mensuração Clínica
Clônus 5±1 3±1*
Reflexo Patelar 4±1 4±1
Reflexo Aquileu 4±1 3±1*
Mensuração Eletrofisiológica
Latência Reflexo Patelar (ms) 24,81 (±6,7) 25,13 (±3,9)
Latência Reflexo Aquileu (ms) 22,29 (±12,31) 36,73 (±5,8)*
Valor p teste Student e post hoc de Tukey: * p < 0,05.

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40 Influência da Crioterapia na Espasticidade: uma Análise Qualitativa e Quantitativa

Isto talvez se explique pelo Nota-se que a variação angular não conseguimos realizar tal aferi-
fato de ocorrer uma resposta refle- (Figura 3) tanto pré, quanto pós- ção, a não ser de modo invasivo,
xa deste músculo frente ao estímulo crioterapia são correspondentes que entre outras explicações, não
de estiramento causado pelo mús- tanto no que diz respeito ao padrão seria rotineiro na clínica.
culo tibial anterior (motor principal desenvolvido durante todo o ciclo Podemos encontrar uma varia-
da dorsi-flexão) durante o início do do movimento, quanto aos valores ção muito grande da quantidade e
ciclo completo da dorsi-flexão. médios do CV encontrados. profundidade do tecido entre a pele
Como parte de nosso objetivo, Annaswamy et al.3, em seu e o músculo a ser atingido duran-
verifica-se que as curvas produzidas estudo de correlação do torque te um tratamento; variação inter
pelos músculos TA e GA, durante es- comparado com a escala modifi- e intra-indivíduos da temperatura
ses mesmos tipos de movimentos, cada de Asworth, apresentam em corporal basal; variação da tempe-
mostram-se muito semelhantes, seus resultados uma fraca corre- ratura climática, incluindo variação
apresentando um desvio padrão e lação desta escala na avaliação intra-dia e entre estações do ano
com valores do CV muito próximos da espasticidade, o que nos leva a (verão e inverno, por exemplo);
aos valores médios, o pode carac- sugerir o método quantitativo pro- além da modalidade de resfriamen-
terizar a existência de um padrão posto neste estudo, como mais um to (técnica) escolhida; entre outras
de ativação eletromiográfica seme- recurso prático e rápido na avalia- variáveis, que limitam e muito nossa
lhante entre esses músculos nesta ção da espasticidade. certeza do tempo de aplicação desta
análise intra-sujeito. Verifica-se (Tabela 1), pelos da- modalidade terapêutica. Neste estu-
Outro ponto que corrobora dos obtidos, o efeito significante da do adotamos para resfriamento um
com esta afirmação é o valor mé- crioterapia, aplicada no nervo sural saco de gelo triturado focalmente
dio dos coeficientes de correlação pelo período de 30 minutos, sobre posicionado sobre o nervo sural pelo
cruzada (medida de similaridade o reflexo aquileu e clônus da articu- período de 30 minutos, conforme
entre duas amostragens em fun- lação do tornozelo; já esse resulta- relatado no estudo de Lee, Bang e
ção do tempo) encontrado para do não mostra-se evidente sobre o Han5; contudo reconhecemos a di-
as curvas eletromiográficas pro- reflexo patelar, isso explica-se pelo ficuldade de reprodutibilidade deste
duzidas pelo voluntário, durante fato do efeito do resfriamento pro- estudo no uso clínico diário.
os 10 ciclos completos da dorsi- vocado pela crioterapia ocorrer na Outro ponto que merece
flexão, para os músculos tibial an- inervação abaixo daquela responsá- destaque, apesar de não ter sido
terior (0,987503), e gastrocnêmio vel pelo reflexo sobre o tendão pate- avaliado sob critérios metodoló-
(0,998512). lar, portanto, algo já esperado. gicos, que torna necessário estu-
Já na Figura 02, referente Uma limitação importante, dos a cerca dessa observação, foi
ao padrão EMG desenvolvido pelo que deve ser relatada, diz respeito o resultado pós-crioterapia18, cujo
músculo gastrocnêmio, percebe- a temperatura intramuscular, ne- apresentou-se satisfatório apenas
se que o músculo em questão, cessária para alcançarmos o feito por um curto período de tempo.
apresenta diferença significati- da crioterapia sobre a espasticida-
va; a atividade pré-utilização da de. Lee, Bang e Han5, encontraram, CONCLUSÃO
crioterapia, denota uma maior em seu estudo controlado, realiza- Podemos concluir, pelos resul-
atividade elétrica deste músculo do em coelhos, que é necessário tados demonstrados neste estudo,
durante a fase de 0 a 60% (fase atingirmos a temperatura entre que o efeito do resfriamento para a
da dorsi-flexão), período este em 25 e 30 graus Celsius para termos adequação de tônus de pacientes
que o músculo gastrocnêmio no- uma esperada diminuição dos pa- espásticos por meio da crioterapia
tadamente não tem sua atividade râmetros clínicos observados neste mostrou-se extremamente valioso
evidenciada. estudo; contudo, no ser humano e de uma importância significativa.

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42

Artigo Original

Estimulação Tátil e Dor em Recém-Nascido


Pré-Termo Submetido à Ventilação Mecânica:
Estudo Piloto
Tactile and Pain Stimulation in Newborn Pre-Term Submitted to the Mechanical Ventilation: Pilot Study
Cristiane Aparecida Moran1, Neila Lira Serra2, Adriana Sucasas Negrão3, Claudia Santos Oliveira4

Resumo: Na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN) o recém-nascido pré-termo (RNPT) é submetido à diver-
sos procedimentos dolorosos, assim, várias escalas foram desenvolvidas para avaliação da dor.No intuito de contribuir
com seu bem estar, o presente estudo teve como objetivo avaliar a dor em RNPT sob ventilação mecânica submetido a
estimulação tátil. Ensaio clínico, duplo cego, realizado no Conjunto Hospitalar do Mandaqui. A estimulação tátil (toque)
foi realizada por acadêmicos de 4o ano do curso de fisioterapia, sendo realizado fisioterapia torácica e aspiração de
cânula orotraqueal e vias aéreas superiores seguida da estimulação tátil. Ao término da sessão se reavaliava os sinais
correspondentes à escala NIPS. A análise estatística mostrou que não há diferenças estatísticas significativas entre os
valores medianos de NIPS antes e NIPS após (p-valor = 0,312). Em relação as variáveis da escala NIPS, na expressão
facial, 5 (83,3%) apresentaram melhora da dor após a estimulação tátil, no choro, se observou que 6 (100%) não
demonstraram choro, ou desconforto após a estimulação tátil e na consciência, 6 (100%) após a estimulação tátil se
mantiveram sem alteração.A estimulação tátil promove maior conforto nos indicadores comportamentais de dor como
a expressão facial, choro e consciência, pois se apresentaram alteradas na pré estimulação tátil e após cessaram.
Palavras-chave: Recém-Nascido Pré-Termo, Estimulação Tátil, Dor.

Abstract: In the Terapy Intensive Unity Neonatal (UTIN) the premature newborn (RNTP) is submitted to several painful
procedures, several scales were developed for evaluation of the pain. In intention to contribute with your welfare, the
present study had as objective evaluates the pain in premature newborn under to mechanical ventilation submitted the
tactile stimulation. Clinical trial, duble blind, executed in Conjunto Hospitalar do Mandaqui. The tactile stimulation (touch)
did by students of 4o year to physiotherapy course, they executed chest phydiotherapy and endotracheal succion and the
upper aerial ways following tactile stimulation. In the final of the session the signs correspondents were assessed with the
scale NIPS. The statistic analysis present that there weren’t significant statistic difference between the intermediate values
before and after NIPS (p-valor = 0.312). In relation to scale variables NIPS, in the face expression, 5 (83,3%) improve the
results of the pain after of the tactile stimulation, in the crying, was observed 6 (100%) that didn’t demonstrate crying, or
discomfort before the tactile stimulation and in the conscience, 6 (100%) after the tactile stimulation still be without rele-
vant changes. The tactile stimulation offered better comfort in the indicators behaviors of the pain as the face expression,
crying and conscience, because it was not regular before the tactile stimulation and it be regular after.
Keywords: Premature Newborn, Tactile Stimulation, Pain.

*Artigo recebido em 27 de fevereiro de 2009 e aprovado em 8 de abril de 2009

1 Fisioterapeuta. Mestre em Ciências da Saúde pela Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP e docente da Universidade Nove de
Julho – São Paulo – SP, Brasil.
2 Graduanda do curso de Fisioterapia da Universidade Nove de Julho– São Paulo – SP, Brasil.
3 Neonatologista. Diretora do núcleo de neonatologia do Conjunto Hospitalar do Mandaqui – São Paulo – SP, Brasil.
4 Fisiotearapeuta. Doutora em Ciências da Saúde pela UnB, professora do mestrado em Ciências da Reabilitação Universidade Nove
de Julho– São Paulo – SP, Brasil.

Endereço para correspondência:


Cristiane A Moran - Av. Manoel dos Santos Braga, 174 apto 88 - Ermelino Matarazzo – cep 03807-320 crismoran@uninove.br

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Cristiane Aparecida Moran, Neila Lira Serra, Adriana Sucasas Negrão, Claudia Santos Oliveira 43

INTRODUÇÃO histamina, assim os efeitos hemo- própria onde não necessita de uma
O ambiente da unidade de dinâmicos são minímos11-14. experiência posterior20,21.
terapia intensiva neonatal (UTIN) O RNPT quando submetido a Os estudos relacionados a dor
proporciona uma experiência ao ventilação mecânica (VM) observa- no RNPT são de extrema importân-
recém nascido pré-termo (RNPT) se pela sua mimíca facial dor e/ou cia, afim de se evitar comprome-
diferente da vida intra-uterina. desconforto, mas esses sinais po- timento no seu desenvolvimento e
Assim, o recém nascido (RN) é ex- dem ser aliviados através dos medi- também contribui para o seu bem
posto á luzes intensas, barulhos, camentos opiódeos que irão trazer estar10,21.
mudanças de temperatura, inter- uma analgésia e um conforto maior A estimulação tátil proporcio-
rupção do sono, monitoramento que são percebidos pela modifica- na diversos benefícios, ao RNPT,
constante, sondas e catéteres cau- ção da mimica facial e pela diminui- considerando o uso da VM causa-
sando desconforto, sofrimento e ção da frequência cardíaca .
9,15,16
dor de dor, o seguinte estudo se
dor1-3. A estimulação tátil através do justifica diante da possibilidade de
Sabe-se que o RN possue to- toque tem diversos efeitos bené- maior conforto ao RNPT.
dos os componentes funcionais e ficos para o RN contribuindo com O presente estudo teve como
neuroquímicos para a percepção e o ganho de peso, melhorando o objetivo avaliar a dor em recém-
transmissão de estímulos doloro- vínculo afetivo, o comportamen- nascido pré-termo sob ventilação
sos, sendo assim capaz de respon- to, aumentando o tempo de sono, mecânica submetido a estímulos
der a estímulos através das modi- proporcionando menor agitação, táteis.
ficações fisiológicas e comporta- saturação de oxigênio estáveis,
mentais, apesar de não existir um menores crises de apnéias, frequ- MÉTODO
medidor para se avaliar a dor, os ência respiratória e cardíaca mais Ensaio clínico, duplo cego, re-
profissionais da saúde conseguem estáveis, assim como a promoção alizado na UTI neonatal do Conjun-
identificar a dor através de expres- de maior conforto e consequente- to Hospitalar do Mandaqui localiza-
sões faciais, mas mesmo com este mente, contribuindo para um me- do na cidade de São Paulo.
recurso de fácil aplicação os profis- nor tempo de internação3,17-19. A coleta de dados foi iniciada
sionais encontram ainda dificulda- Devido o caráter subjetivo da após aprovação do comitê de ética
des para saber a real necessidade dor, vários métodos são adotados em pesquisa nº 164375 / 2008 e
de analgésia para o RN4-7. para uma avaliação adequada. autorização dos pais e/ou respon-
Existem alguns indicadores de Geralmente as ferramentas utili- sável do RN através do termo de
dor de fácil aplicação que são a fre- zadas são as características que consentimento livre e esclarecido.
quência cardíaca, frequência respi- o RNPT apresentam após um es- Os critérios de inclusão foram
ratória, pressão arterial, saturação tímulo como os batimentos cardí- RNPT com menos de 37 semanas
de oxigênio e de dióxido de carbo- acos, saturação ou até mesmo as de idade gestacional, hemodina-
no e dosagens hormonais, ligadas à mímicas faciais após os estímulos. micamente estáveis, em intubação
resposta endócrino-metabólica de Afim de uma melhor avaliação da orotraqueal (IOT) sob ventilação
estresse, mas essas medidas fisio- dor foram desenvolvidas diversas mecânica e com indicação de fisio-
lógicas não estão especificamente escalas como PIPP “ Premature in- terapia conforme prescrição mé-
relacionadas à dor segundo alguns fant Pain Profile”, NFCS “ Neonatal dica, totalizando assim os 6 (seis)
autores. Assim, as principais vari- Facial Coding System”, entre elas a RNs. Foram excluídos os RNs com
áveis de dor são o choro, mímica NIPS “Neonatal Infant Pain Scale” mais de 37 semanas de idade ges-
facial e atividades motoras8-10. frequentemente utilizada na UTIN tacional, hemodinamicamente ins-
No tratamento da dor no RNPT devido sua fácil aplicabilidade4,9. táveis, em respiração espontanêa
são administrados medicamentos A NIPS é indicada para RNPT ou sem indicação de fisioterapia.
como os analgésicos não-opióides, estáveis nas primeiras seis sema- Após avaliação fisioterapêutica
indicados para dores de baixa in- nas após o nascimento e avalia as realizada por um acadêmico do 4o
tensidade e para dores mais in- alterações comportamentais frente ano do curso de fisioterapia, englo-
tensas os analgésicos opióides. O a dor4,9,13. bando aspectos clínicos do recém-
fentanil é bastante utilizado na UTI A avaliação comportamental nascido e sinais de dor através da
neonatal por ser um opióide semi- da dor fundamenta-se nas modi- escala NIPS. Dando continuidade à
sintético com rápida ação, sua ficações de determinadas expres- rotina fisioterapêutica, o graduan-
potencia é considerada maior que sões comportamentais após estí- do realizava manobras de higiêne
a morfina porque possuem uma mulos dolorosos4,9,13. brônquica como vibração, acele-
maior atividade nos receptores O RN tem percepção da dor, ração do fluxo expiratório (AFE) e
opiódes e não aciona a liberação de pois é uma condição primária e aspiração de cânula orotraqueal e

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44 Estimulação Tátil e Dor em Recém-Nascido Pré-Termo Submetido à Ventilação Mecânica: Estudo Piloto

vias aéreas superiores seguida da


estimulação tátil. Ao término da
sessão se reavaliava os sinais cor-
respondentes à escala NIPS.
A estimulação tátil (toque) foi
aplicada uma única vez, entre 1o
e 5o dia de intubação oro-traqueal,
durante 5 minutos. No decorrer da
estimulação tátil não foi executado
nenhum procedimento susceptível
à dor ou desconforto. A estimu-

Figura 1. Comparação pré e pós aplicação da Estimulação tátil


lação tátil foi iniciada na face em
seguida, pescoço, membros supe-
riores, tórax, abdome e membros
inferiores, tocando com um estí-
mulo preciso e constante.
Para registro da avaliação da
dor utilizamos a escala validada
NIPS, que integra 5 indicadores de
dor comportamentais e um fisioló-
gico que são expressão facial, cho-
ro, respiração, posição de braços
e pernas e estado de consciência;
distinguindo estímulos dolorosos
de não dolorosos, considerando seu
Figura 2. Comparação pré e pós aplicação da Estimulação tátil sobre o indicador escore 4 ou maior representando
expressão facial.
dor e menor que 4 não apresen-
tando dor, sendo o RN seu próprio
controle. Guinsburg9, constata em
seu estudo que a NIPS é um instru-
mento sesnével e específico para
avaliação da dor no RNPT22 .
Consideramos o RN seu pró-
prio controle sendo selecionado
para a pesquisa somente uma vez
durante sua internação.

RESULTADOS
A dor no recém-nascido pré-
Figura 3. Comparação pré e pós estimulação tátil sobre o indicador choro. termo foi analisada através da es-
cala NIPS (figura 1), antes e após
a estimulação tátil, sendo usado o
teste estatístico não paramétrico
de Wilcoxon para as duas amostras
relacionadas (dependente), pois a
mensuração antes e depois é feita
no mesmo individuo23,24. Este tes-
te verifica se há diferença entre
o valor mediano de NIPS antes e
após a intervenção. O p-valor do
teste, calculado no software SPSS
16, mostrou que não há diferenças
estatísticas significativas entre os
valores medianos de NIPS antes e
Figura 4. Comparação pré e pós estimulação tátil sobre o indicador consciência. NIPS após (p-valor = 0,312).

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Cristiane Aparecida Moran, Neila Lira Serra, Adriana Sucasas Negrão, Claudia Santos Oliveira 45

Em relação a variável da es- pecíficos para avaliar a dor aguda De acordo com a literatu-
cala NIPS, expressão facial, figura em recém-nascidos pré-termo ou ra pesquisada a estimulação tá-
2, 5 (83,3%) RNPT apresentaram termo em Unidades de Terapia In- til beneficia o RNPT no ganho de
melhora da dor após a estimula- tensiva Neonatal, por ser um mé- peso, comportamento, bem estar
ção tátil. todo sensível e não invasivo25. e desenvolvimento, diminuição no
Em relação ao choro, na figu- Em relação ao choro, segundo período de internação e de compli-
ra 3, observamos que 6 (100%) Guinsburg9, é considerado um mé- cações; além de ser uma forma de
dos RNPTs não demonstraram todo primário de comunicação nos terapia que apresenta baixo custo
choro, ou desconforto após a es- recém-nascidos, revelando o estres- segundo o estudo de Figueiredo26.
timulação tátil. se como medida de dor, sendo um A estimulação tátil age direta-
Em relação a consciência, fi- instrumento útil para avaliar a dor mente na redução da dor, devido
gura 4, os 6 (100%) RNPTs após quando associado a outras medidas sua ação no nível do corno pos-
a estimulação tátil se mantiveram como indicadores da escala NIPS. terior da medula, estimulando os
sem alteração. Para Guinsburg9, dentre as aferentes que transmitem mensa-
Nas variáveis respiração e po- respostas mais conhecias do or- gens menos nocivas, assim esti-
sicionamento dos braços apenas 1 ganismo humano ao estímulo do- mulos não dolorosos, como o tato,
RN (16,6%) apresentou alteração loroso agudo, se destaca a taqui- podem ser empregados para redu-
ao término da aplicação da estimu- cardia22, o que contrasta com nosso ção da dor25.
lação tátil e em relação a variável estudo, pois não observamos alte-
posicionamento das pernas 3 RNs rações sugestivas de aumento da CONCLUSÃO
(49,9%) apresentaram alteração. frequencia cardíaca com a estimu- O estudo foi proposto afim de
lação tátil. qualificar um melhor atendimento
DISCUSSÃO Observamos no presente es- para os RNPT, já que estão cons-
A presente pesquisa revelou tudo que a escala comportamen- tantemente expostos a dor, mesmo
que a estimulação tátil promove tal NIPS é de fácil aplicabilidade diante da necessidade dos procedi-
maior conforto nos indicadores com- no âmbito hospitalar, favorecendo mentos dolorosos.
portamentais de dor como a expres- sua utilização pelos profissionais Devido ao tamanho da amos-
são facial, choro e consciência, pois da saúde visando a distinção de tra ser inferior ao esperado, os da-
se apresentaram alteradas na pré dor e/ou desconforto nos diversos dos são sugestivos de melhora nas
estimulação tátil e após cessaram. procedimentos realizados com os variáveis expressão facial, choro e
Segundo alguns autores, a mesmos. No estudo de Guinsburg9 consciência. Assim, salientamos a
resposta motora é mais específi- observamos que a escala NIPS tem necessidade de outros estudos ou
ca ao estímulo doloroso, quando se mostrado útil para avaliação da ampliação da amostra na aplicação
comparada á resposta fisiológica. dor em recém-nascidos pré-termos da técnica, no intuito de contribuir
Assim, a expressão facial é consi- corroborando com a presente pes- com a diminuição da dor nessa po-
derada um dos métodos mais es- quisa. pulação.

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47

Artigo Original

Avaliação Podal de Crianças do Ensino


Fundamental de uma Escola Pública
Podal Evaluation Of The Childrens In Fundamental Teaching Of A Public School
Eduardo José Martins1, Daniela Aran dos Santos1, Márcio Roberto Thomé1, Fabrício Furtado Vieira1, Wagner
Menna Pereira2, Luiz Alfredo Braun Ferreira2, Ivo Ilvan Kerppers3

Resumo: Para o processamento normal das funções como deambulação e sustentação do peso corporal, é consi-
derado que a integridade do membro inferior é de fundamental importância. O presente trabalho tem por finalidade
avaliar e quantificar os pés de crianças das primeiras e segundas séries do ensino fundamental, com idade entre 6 a
12 anos, elaborar palestras sobre a importância da patologia, orientando e conscientizando os responsáveis sobre a
mesma. Foi obtido um total de 153 amostras. Verificou-se que houve normalidade dos pés em 57 crianças (37,25%)
da amostra, 44 crianças (28,75%) apresentaram pé plano tipo dois, 31 crianças (20,26%) o pé cavo e em 15 crian-
ças (9,8%) encontrou-se o pé plano tipo três. A normalidade foi prevalente no sexo masculino, com um total de 31
crianças contra 26 do sexo feminino, também a presença de pé plano tipo dois foi prevalente entre os sexos, com 30
indivíduos masculinos contra 14 para o sexo feminino. Embasando-se nos resultados encontrados, foram elaboradas
palestras para explanar aos responsáveis sobre a importância da patologia e da realização de um tratamento. Contu-
do, foi possível orientar e conscientizar aos responsáveis, da importância de uma visão criteriosa no desenvolvimento
podálico das crianças, evitando-se dessa forma a instalação de possíveis patologias e deformidades, decorrentes do
incorreto desenvolvimento plantar.
Palavras-chave: Pé Chato, Criança, Prevalência.

Abstract: For the normal processing of the functions as walking and sustenance of the corporal weight, is considered
that the integrity of the inferior member is of fundamental importance. For so much, the present work has for purpose
to evaluate and to quantify the children’s of the first ones feet and second series of the fundamental teaching, with age
among 6 to 12 years totaling 153 samples. It was verified that there was normality of the feet in 57 children (37,25%)
of the sample, with the foot plane type two in 44 children (28,75%), in 31 children (20,26%) the concave foot and in
15 children (9,8%), he/she was the foot plane type three. The normality was prevalence in the masculine sex, with a
total of 31 children against 26 of the feminine sex, the presence of foot plane type two was also prevalence among the
sexes, with 30 masculine individuals against 14 for the feminine sex. Being based in the found results, lectures were
elaborated to explain to the responsible on the importance of the pathology and of the importance of a treatment.
However, it was possible to guide and to become aware to the responsible, of the importance of a discerning vision in
the children’s development podálico, being avoided in that way the installation of possible pathologies and deformities,
current of the incorrect development to plant.
Keywords: Flatfoot, Child, Prevalence.

*Artigo recebido em 13 de janeiro de 2009 e aprovado em 16 de março de 2009.

1 Pós-Graduando Em Terapia Manual e Postural/CESUMAR - Maringá – PR, Brasil.


2 Mestrando da Universidade do Vale do Paraíba - São Jose dos Campos – SP, Brasil.
3 Mestre em Bioengenharia, Docente da Universidade Estadual do Centro-Oeste -Guarapuava – PR, Brasil.

Endereço para correspondência:


Rua Lauro Ferreira Calda, 137, Bairro Nossa Senhora Aparecida - Pinhão – PR. CEP 85170-000 - Tel: (42) 3677-1565; (42) 99216905
e-mail: edumartins18@yahoo.com.br

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48 Avaliação Podal de Crianças do Ensino Fundamental de uma Escola Pública

Introdução plano ocorre uma insuficiência mus- siana e supinação do antepé em


As alterações estático-pos- cular, distensão dos ligamentos e a relação ao retropé6.
turais dos pés encontram-se en- abóbada plantar se aplaina levando A perda do arco longitudinal
tre um dos assuntos mais discuti- a alterações anatômicas do pé e medial se deve principalmente a
dos da ortopedia, principalmente possíveis alterações posturais4. debilidade de seus meios de supor-
quando se trata da área infantil. A mensuração e análise da in- te naturais, músculos e ligamentos
Na evolução humana foi o pé, e tensidade do desabamento do arco ou um tônus exagerado dos mús-
não a mão, que passou por modi- longitudinal medial, assim como culos anteriores ou posteriores7.
ficações ímpares. Verificasse nos a divisão dos tipos de pés pla- Entre as causas da deformida-
conceitos sobre a evolução do pé nos, podem ser obtidas através de de em pé plano valgo, estão o en-
humano que o membro inferior, medidas em centímetros de uma curtamento dos músculos fibulares,
em particular o pé, está entre as impressão plantar do pé, sendo músculo tibial anterior e ligamen-
características mais distintas da classificada como grau um (I) o pé to calcâneonavicular alongados e
anatomia humana. O desenvolvi- que possuir a largura do médio-pé deslocamento estrutural do talo,
mento do córtex cerebral humano, superior a um terço da largura do calcâneo e navicular8.
do aparelho vocal e da estrutura do antepé. Grau dois (II) a medida do O pé plano ocorre quando se
membro inferior e pé formam uma médiopé é superior à metade da trata de um defeito na constituição
tríade que distingue o homem dos largura do antepé. Graus três (III) da articulação subtalar. O ligamen-
outros mamíferos1. a região do médio pé é superior to interósseo é deficiente, deixando
Diante do elevado número à largura do antepé. E grau qua- com que o calcâneo gire em prona-
de disfunções posturais encontra- tro (IV) corresponde ao pé chato ção e que as superfícies adjacentes
das em crianças pertencentes ao que apresenta um abaulamento da se adaptem à sua nova posição. O
ensino fundamental de diversas borda medial, surgindo à imagem posicionamento em valgo do cal-
instituições de ensino, obtém-se semilunar lateral e cinco total de- câneo, inicialmente moderado, se
a relevância de desenvolver estu- formidade plantar, caso este dificil- agrava com aumento da angulação
dos nas diversas áreas da saúde, mente encontrado5. e por bipedestações prolongadas.
destacando-se o estudo e a abor- Somente é considerado calcâneo
dagem de disfunções dos pés em valgo quando o pé alcança 10, 15,
crianças com o desenvolvimento 20 ou mais graus de valgismo, sen-
motor normal. Considera-se que do considerado normal, a criança
a integridade do membro inferior que apresenta o pé plano até os 6
seja essencial, para que funções anos de idade9,10.
como a deambulação e a susten- Os mesmos autores citam
tação do peso corporal, sejam de- ainda que com o rompimento do
sempenhadas de maneira normal2. equilíbrio da cúpula plantar, ocorre
O pé plano pode ser chamado à rotação interna da tíbia, fazendo
de pé valgo; pé pronado; pé cha- com que o centro das pressões se
to ou pé plano valgo. Caracteriza- desloque um pouco para trás e para
se pela diminuição ou ausência do fora do centro do talo, movendo o
arco longitudinal medial, dividindo- calcâneo para dentro, procedendo
se em pé plano flexível ou rígido. a uma hiperpressão na articulação
No pé plano rígido com ou sem o talonavicular, a cabeça do talo roda
apoio do peso sobre o pé, o arco para baixo e para dentro enquanto
longitudinal permanece ausente, Figura 1: Classificação da impressão
que o arco interno desce.
enquanto que no flexível em cadeia plantar, segundo os critérios de Valenti, Em relação às alterações du-
aberta o arco longitudinal medial 1979. rante a marcha, há ocorrência de
esta presente e em cadeia fechada choque do calcanhar inadequada
se aplaina3. Ocorre ainda um conjunto de durante a fase de oscilação; flexão
De acordo com estudos de deformações, tais como uma pos- plantar excessiva durante a subfa-
Snider3 os apoios dos pés no chão tura em valgo do calcâneo, leve se de oscilação inicial; valgismo do
condicionam toda a estática. Uma subluxação da articulação subtalar, calcanhar e dos joelhos, tornando
deformação ou assimetria qualquer em que a cabeça do talo se inclina uma característica marcante do
dos pés repercutirá sempre mais para dentro e para direção plantar, pé plano flexível, e com relação
acima e necessitará de uma adap- eversão do calcâneo, angulação ao quadril, uma rotação externa
tação do sistema postural. No pé externa na articulação médio-tar- durante a oscilação final e rotação

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Eduardo José Martins, Daniela Aran dos Santos, Márcio Roberto Thomé, Fabrício Furtado Vieira, 49

interna durante o contato inicial, Outubro de 2007, com as devidas ra onde eram orientados a ficarem
reação ao peso, suporte terminal e autorizações da coordenação do em posição ortostática, relaxados
pré-oscilação11. educandário, dos pais dos alunos com o olhar fixo horizontalmente.
No adolescente, o pé plano constituintes da amostra e dos Com a câmera sob o vidro, a uma
dificulta a prática de atividades es- professores. Foi realizada uma se- distância de aproximadamente 50
portivas, no adulto, é incômodo e no qüência de coleta que se iniciou cm, foram tiradas fotografias da
idoso torna-se um pé incapacitante. com uma análise da massa corpo- planta do pé. Os instrumentos uti-
Podendo acarretar consequências ral dos indivíduos, seguida de uma lizados na coleta de dados foram
compensatórias ao nível dos joelhos, avaliação da estatura e obtendo a obtidos através da fotografia da
quadril e coluna, principalmente se a fotografia da imagem dos pés em face plantar dos indivíduos através
deformidade for unilateral12. ortostatismo sobre uma platafor- de uma máquina digital Cybershot
Cada seguimento corporal ma de vidro com 1 cm de espessu- Sony® DSC-S600.
equilibra-se sobre o adjacente em
um processo ascendente. O pé
equilibra-se e adapta-se ao chão,
a perna sobre o pé, a coxa sobre
a perna, a cintura pélvica sobre os
membros inferiores, a coluna lom-
bar sobre o quadril, a coluna dorsal
sobre a lombar, sendo o objetivo
final desse equilíbrio à boa posi-
ção no centro de gravidade acima
da base de sustentação do corpo,
por isso a importância da base de
apoio para o equilíbrio estático,
que depende da forma do pé e da
forma da superfície de apoio2.
O presente artigo tem por fi-
nalidade avaliar e quantificar os pés
de crianças da primeira e segunda
série do ensino fundamental.

Materiais e Métodos
Trata-se de uma pesquisa de
campo do tipo observacional descri- Figura 2. Ilustração do procedimento (fotografia da face plantar).
tiva transversal, realizada em crian-
ças da 1ª e 2ª séries (85 meninos e
68 meninas) matriculados no segun- A avaliação podálica foi reali- porcentagem simples.
do semestre letivo de 2007 no Colé- zada com o auxílio de um progra-
gio Nossa Senhora Aparecida, da ci- ma de computador para Avaliação Resultados
dade de Boa Ventura do São Roque/ Postural – SAPO, sendo realizada Na tabela 1 pode-se obser-
PR, com idade entre 6 a 12 anos, a medição do ante-pé, médio-pé e var os dados antropométricos das
num total de 153 sujeitos. A esco- retro-pé, para a classificação dos crianças avaliadas. Nota-se que a
lha da faixa etária embasou-se no indivíduos como normais, pés pla- idade média ficou em 6.38 anos na
conhecimento das etapas matura- nos tipo um a cinco e pés cavos, primeira série e 7,72 anos na se-
cionais do desenvolvimento podálico descritos por Bricot4 e Valenti5. A gunda. O Índice de Massa Corporal
normal, considerando o período de análise estatística dos dados co- (IMC) ficou 15.09 nas primeiras sé-
alterações fisiológicas, na busca por letados consistiu na aplicação de ries e 15.59 nas segundas.
uma ação preventiva precoce. Este
trabalho foi aprovado pelo Comitê
de Ética da Universidade Estadual do
Tabela 1. Dados Antropométricos dos indivíduos avaliados.
Centro-Oeste, (nº 053/2007), se-
Idade Altura Peso IMC
gundo a Resolução 196/96 do CNS.
A coleta de dados foi realiza- 1ª Série 6.38 1.2 21.91 15.09
da entre os meses de Setembro e 2ª Série 7.72 1.28 25.88 15.59

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50 Avaliação Podal de Crianças do Ensino Fundamental de uma Escola Pública

Em relação aos tipos de pés e trabalho, destaca-se o estudo de Jordão e Bertolini14 pesquisa-
ao sexo, tanto no gênero masculi- Abrantes, Lamounier e Colosimo 13
ram a incidência de pé plano nos
no como no feminino houve a pre- onde a prevalência de sobrepeso diferentes gêneros, sendo que, em
valência da normalidade com 31 em adolescentes variou entre 1,7% seu estudo a porcentagem de me-
meninos (36,47%) e 26 meninas no Nordeste, e 4,2% no Sudeste. ninos com pé plano (66,2%) so-
(38.23%). Na sequência, encon- A prevalência de obesidade em bressaiu-se ao número de meninas
tramos o pé plano tipo dois, que adolescentes variou entre 6,6% e (33,8%), em uma amostra de 304
no gênero masculino obteve um 8,4%, e em crianças entre 8,2% e crianças entre 7 e 9 anos. O nú-
total de 30 indivíduos da amostra 11,9%, nas regiões Nordeste e Su- mero de crianças com pé plano na
(35,29%) e no sexo feminino 14 deste, respectivamente. Agrupan- rede particular de ensino foi supe-
indivíduos (20,58%) apresentaram do-se os dados das duas regiões, a rior aos da rede de ensino munici-
essa patologia. prevalência no sexo feminino foi de pal, sugerindo que o uso constante
Na tabela 3, nota-se que a 10,3% de obesidade entre crian- de calçados tem trazido conseqü-
predominância na primeira série ças, 9,3% de obesidade e 3,0% de ências negativas para a morfofisio-
foi de 29 crianças com pé plano, sobrepeso entre adolescentes. No logia dos pés.
26 crianças com pé cavo, 18 com sexo masculino, a prevalência foi Beloto et al.15 avaliaram 400
pé normal e 11 com pé plano tipo de 9,2%, 7,3% e 2,6%, respecti- indivíduos de diversas faixas etá-
três. Na segunda série observa-se vamente. rias, referindo que existe uma pre-
que a predominância foi para o pé Em nosso estudo pode-se ob- valência de pé plano em crianças
cavo com 28 crianças, 16 crianças servar que as crianças avaliadas menores de 9 anos, com predo-
com pé normal, 15 crianças com pé através de balança digital não apre- minância de pés planos no sexo
plano tipo dois e 5 crianças com pé sentaram sobrepeso, estando à mé- masculino (30,4%) em relação ao
plano tipo três. dia de peso nas primeiras séries em feminino (14,8%).
21,91 Kg e nas segundas séries em Lucena12 realizou um inquérito
Discussão 25,88 Kg, sendo assim, o IMC ficou de prevalência para pé plano, que
Com relação aos dados an- dentro dos parâmetros normais para contou com um questionário e uma
tropométricos obtidos no presente a idade das crianças avaliadas. ficha de avaliação da face plantar,
com auxílio de pedígrafo. Foi inves-
tigada a associação entre preva-
Tabela 2. Tipos de pé e suas porcentagens com relação ao gênero no grupo lência de pé plano, tipo de escola,
avaliado sexo e idade. Em relação aos seus
resultados ocorreu à prevalência
Gênero Masculino Feminino
de pé plano, com predomínio no
Normal 31 26 sexo masculino.
No estudo proposto, obteve-se
Plano 43 22 uma maior prevalência do pé plano
no sexo masculino com um percen-
Plano 1 0 1
tual de 50,58%, e de 38.23% de pé
Plano 2 30 14 normal no sexo feminino, corroban-
do com os estudos citados acima.
Plano 3 9 6 Por outro lado, outro estudo
teve como objetivo calcular o índi-
Plano 4 3 1
ce do arco plantar de Staheli e a
Plano 5 1 0 prevalência de pés planos. Para tal,
utilizaram-se do pedígrafo e, atra-
Cavo 11 20
vés deste, foi realizado o cálculo. A
casuística do trabalho foi composta
por 100 crianças, as quais foram
Tabela 3. Tipos de pé nas séries avaliadas.
divididas em 5 subgrupos, que cor-
Plano Plano Plano Plano Plano respondias as idades de 5, 6, 7,
Cavo Normal 8 e 9 anos completos, e conside-
1 2 3 4 5
radas clinicamente sem afecções.
1ª Série 1 29 11 3 0 26 18 Cada subgrupo era constituído por
20 crianças distribuídas, quanto ao
2ª Série 0 15 5 0 1 28 16
sexo, em 10 meninas e 10 meni-

Ter Man. 2009; 8(30):48-53


Eduardo José Martins, Daniela Aran dos Santos, Márcio Roberto Thomé, Fabrício Furtado Vieira, 51

nos. Concluíram com este estudo No estudo de Vianna e Vian- são plantar, e sua associação com
que os valores médios do índice na18 foram avaliadas 30 crianças escoliose. Após análise estatística
do arco plantar, entre os cinco e os de ambos os sexos, dessas 19 dos resultados não se observou as-
nove anos de idade são estáveis e (63,33%) eram do sexo femini- sociação significante entre as vari-
estão entre 0,61 e 0,67 na amostra no e 11 (36,67%) do masculino. áveis correlacionadas. Dessa for-
estudada, o que é considerado nor- Do total das crianças avaliadas ma, nessa população, não foi en-
mal pela “Pediatric Orthopaedic So- 12 (40%) apresentaram queda no contrada associação considerável
ciety”. Não foi observada diferença arco plantar, sendo que das crian- entre pés cavos e escoliose, seja
significativa entre os sexos16. ças que apresentaram pé plano 7 ela evidente ou não, nem entre a
Em estudo de Prado17 foi re- (58,33%) eram do sexo masculino magnitude da curva e a presença
alizado a comparação da ocorrên- e 5 (41,67%) do sexo feminino. O do pé cavo20.
cia de pés planos e pés cavos em mesmo relata que o pé chato qua- No presente estudo pode-se
crianças de populações carentes se sempre é indolor, mas quando observar uma prevalência de pé
e não-carentes assintomáticas, não tratado pode acarretar desvios cavo no sexo feminino (29.41%)
através de exame clínico e análise posturais, afetando joelhos, quadril em relação ao masculino.
de podograma. Verificaram que a e coluna vertebral.
ocorrência de pés planos nas crian- O estudo de Zuri 19
teve como Conclusão
ças não-carentes em relação às objetivo analisar a distribuição da Pode-se concluir através da
carentes, não era estatisticamente pressão plantar de crianças do sexo pesquisa, que a incidência de pé
significante, porém estatisticamente masculino, normais, com sobrepeso plano foi maior em meninos do que
significante foi a maior prevalência e obesas, de 6 a 10 anos de idade, nas meninas na primeira serie, e
de pés planos nos meninos em re- por meio da baropodometria. Os que as meninas apresentam mais
lação às meninas, nas duas classes resultados encontrados demonstra- pé cavo na segunda série do ensino
socioeconômicas. Em relação ao pé ram que as crianças obesas apre- fundamental.
cavo, sua ocorrência foi significati- sentaram pressões maiores nas Portanto, é de fundamental
vamente superior no grupo não-ca- três regiões plantares (ante, médio importância que as crianças sejam
rente (38%) em relação ao carente e retropé) com relação aos indiví- encaminhadas desde cedo para
(11,7%). Diferença significativa foi duos eutróficos e com sobrepeso. uma avaliação podal minuciosa,
encontrada entre os dois sexos nas No estudo em questão não foi com a finalidade de detectar pos-
crianças carentes, sendo o pé cavo observado as pressões plantares síveis alterações, a fim de manter
mais freqüente no sexo feminino. das crianças, porém as impressões a integridade das funções do mem-
Conclui o autor que as diferenças plantares obtidas digitalmente po- bro inferior, já que sabemos que o
observadas provavelmente estariam dem favorecer a análise destas seu funcionamento normal é im-
relacionadas com os hábitos de vida pressões. prescindível para um bom desen-
dos dois grupos, como atividades lú- Outro estudo teve como obje- volvimento do processo de deam-
dicas, prática de esportes, tipos de tivo analisar a incidência e o grau bulação e de sustentação do peso
calçados e alimentação. dos pés cavos, através da impres- corporal.

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52 Avaliação Podal de Crianças do Ensino Fundamental de uma Escola Pública

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53

Artigo Original

Os Efeitos do Método Kaltenborn em Pacientes


com Gonartrose
The Effect Of Kaltenborn Method In Patients With Gonarthrosis
Aglis Alegria Batalha1, Denise do Nascimento Soares Lima da Silva1, Silvana do Socorro de Souza Morais2,
Fernando César Vilhena Moreira Lima3

Resumo: Com o aumento da expectativa de vida da população, a incidência da osteoartrose vem aumentando, o que
estimula a busca por novas terapêuticas. Diante do exposto, realizou-se este estudo, objetivando avaliar os efeitos pro-
duzidos pelo Método Kaltenborn na gonartrose, levando-se em consideração parâmetros como dor, trofismo, amplitude
de movimento e espaço articular. O estudo constou de uma amostra de 23 participantes com idade média de 49 anos.
A amostra como um todo apresentava diagnóstico de gonartrose e não estava fazendo uso de medicamentos ou outras
terapêuticas que pudessem influenciar os reais efeitos do tratamento proposto. Os participantes foram submetidos a uma
avaliação inicial e em seguida realizaram 15 atendimentos com cinco técnicas eleitas do método Kaltenborn. Cada técnica
foi aplicada por cinco minutos em cada atendimento, totalizando 25 minutos por sessão. Obtiveram-se resultados positivos
com tal modalidade terapêutica. 74% dos participantes apresentaram ganho de perimetria da musculatura envolvida; 70%
obtiveram aumento de espaço articular, o que foi constatado comparando-se radiografia pré e pós tratamento. Além disso,
todos os participantes relataram redução do quadro álgico em maior ou menor proporção de acordo com a escala visual
analógica. Foi possível constatar também a influência causada pelo sobrepeso no tratamento da gonartrose, em que dos
sete participantes que não obtiveram ganho de espaço articular, cinco estavam acima do peso considerado normal. Com
esses resultados, conclui-se que o método Kaltenborn é de grande valia no tratamento da osteoartrose de joelho.
Palavras-chave: Osteoartrose, Joelho, Kaltenborn.

Abstract: With the increase of life expectancy of the population, the incidence of osteoarthritis is increasing, which
stimulates the search for new therapies. In face of the above took place this study, to evaluate the effects produced by
Method KALTENBORN in gonarthrosis, taking into consideration parameters such as pain, trophism, range of motion and
joint space. The study consisted of a sample of 23 participants with a mean age of 49 years. The sample as a whole
had a diagnosis of gonarthrosis and was not using drugs or other therapies that could influence the actual effect of the
proposed treatment. The participants were subjected to an initial assessment and then held 15 consultations with five
technical method of Kaltenborn elected. Each technique was applied for five minutes in each service, totaling 25 minutes
per session. There were good results with this therapeutic modality. 74% of participants had won the perimeter of the
muscles involved; obtained 70% increase in joint space, which was found comparing the radiographs before and after
treatment. In addition, all participants reported reduction in pain to a greater or lesser proportion according to the visual
analogue scale. It can also see the influence caused by overweight in the treatment of gonarthrosis, in which the seven
participants who have been unsuccessful in articulating space, above the five were considered normal weight. With these
results, it appears that the method Kaltenborn is of great value in the treatment of osteoarthritis of the knee.
Keywords: Osteoarthritis, Knee, Kaltenborn.

*Artigo recebido em 17 de fevereiro de 2009 e aprovado em 14 de abril de 2009.

1 Bacharel em Fisioterapia pela Faculdade Santa Terezinha/CEST


2 Especialista em Terapia Manual e Postural/CESUMAR, Maringá – PR, Brasil.
3 Mestre em Saúde e Ambiente - UFMA

Endereço para correspondência:


Aglis Alegria Batalha - Rua Existente, 32, Qd. A, Residencial Boa Esperança, Cohama - CEP: 65.062-703 - Fone: (98) 8163-5359
e-mail: aglisbatalha@hotmail.com

Ter Man. 2009; 8(30):54-60


54 Os Efeitos do Método Kaltenborn em Pacientes com Gonartrose

Introdução consequência de outras condições mente por músculos e ligamentos


A osteoartrose é também de- (traumatismo, luxação, infecção, sem nenhuma estabilidade óssea.
nominada artrite degenerativa, deformidade, obesidade, hemofilia, Isso explica porque o termo artro-
doença articular degenerativa ou idade avançada, menopausa, hi- se é comumente associado a essa
artrite deformante. É considerada pertireoidismo ou mesmo desenca- articulação. É sabido, porém que
a doença articular mais comum, deada pela atividade laboral)1,3,4,6. a gonartrose (artrose da articula-
especialmente entre a 4ª e 5ª dé- Fisiopatologicamente são des- ção do joelho) não é o único tipo
cadas de vida, além de uma das critas cinco etapas: quebra da su- existente8,15-18.
mais freqüentes causas de incapa- perfície articular, irritação sinovial, Dentre as manifestações clíni-
cidades laborativas. São considera- remodelamento, eburnação óssea, cas, destacam-se a dor (inicialmen-
dos principais fatores de risco para formação de cisto e desorganiza- te associada ao movimento e, em
a osteoartrose, a idade avançada, ção .
7
uma fase mais avançada da doen-
predisposição genética, obesidade Primeiramente ocorre uma ça, associa-se ao repouso, surgin-
e estresse mecânico. Afeta ambos lesão da cartilagem articular, as do com frequência à noite), rigidez
os sexos, embora tenha maior in- arcadas das fibras de colágeno matinal inferior a 30 minutos, crepi-
cidência nas mulheres pós meno- quebram e a superfície se torna tação à movimentação ativa, déficit
pausa pela redução hormonal. Está irregular. A fricção contra a super- proprioceptivo e fraqueza muscular
também relacionada com história fície irregular gera partículas de (principalmente em flexores e ex-
ocupacional e fatores raciais (sendo cartilagem que são derramadas tensores de joelhos), outro critério
mais comum em caucasianos)1-4. na articulação e absorvidas pela diagnóstico é o raio-X de joelho, que
Das afecções reumáticas, tra- sinóvia, causando uma resposta comumente apresenta osteófitos
ta-se da mais habitual, atingindo inflamatória que se manifesta por marginais, redução do espaço arti-
aproximadamente um quinto da enrijecimento e dor articular após cular e esclerose. Ao exame físico
população mundial. Na articulação o exercício. Pode ocorrer reparação observa-se ainda: edema articular,
do joelho evidenciou-se que 52% limitada da cartilagem e do osso hipotrofia ou atrofia do quadríceps,
da população adulta apresentam subcondral; neste último há um limitação da mobilidade articular e
sinais radiológicos de osteoartrose, aumento da densidade tecidual e alteração sensitiva1,19-24.
sendo que 20% destes apresentam do número de células, dando ori- O tratamento da gonartrose
alterações consideradas modera- gem aos osteófitos que restringem é prioritariamente conservador,
das ou graves. A osteoartrose se o movimento articular8,13,14. devendo-se sugerir cirurgia ape-
manifesta em cerca de 50% dos Com o repouso articular, pode nas quando esse não obtiver bons
idosos com mais de 65 anos e em se formar tecido fibroso no defei- resultados. O tratamento conser-
80% acima de 75 anos2,5. to da superfície articular, mas com vador engloba medidas como: uso
Caracteriza-se por uma insu- o passar do tempo, este processo de auxiliares de marcha, orienta-
ficiência quantitativa e qualitativa de reparação gradualmente falha e ções, analgésicos, antiinflamató-
da cartilagem articular associada a superfície articular sofre erosão, rios não hormonais, infiltrações e
a alterações do osso subcondral. expondo o osso subcondral, que fica fisioterapia8,25,26.
É comumente definida como uma polido e eburnado. Há um aumento Convencionalmente, os recur-
doença articular degenerativa, pro- da transmissão de peso para a ar- sos fisioterapêuticos mais utiliza-
gressiva, que se caracteriza pela ticulação afetada, sobrecarregando dos são: crioterapia, infravermelho,
destruição da cartilagem de arti- algumas partes da superfície arti- ondas-curtas, ultra-som e exercí-
culações diartrodiais (sinoviais). O cular, gerando microfraturas. Essas cios de fortalecimento muscular.
envelhecimento leva à diminuição microfraturas consolidam forman- A reabilitação física em pacientes
da função condrocitária e da elas- do um calo, aumentando a rigidez com osteoartrose visa manter ou
ticidade dos tecidos periarticulares. e a densidade óssea. À medida que aumentar a mobilidade articular,
O processo de osteoartrose no ido- a doença avança, a articulação se alongamento muscular, melhorar a
so resulta em geral do grau de so- torna mais rígida e deformada8,13. estabilidade da articulação acome-
brecarga mecânica que é aplicada A osteoartrose acomete es- tida, além de otimizar a biomecâ-
sobre a articulação do joelho, com o pecialmente as articulações de nica articular para manter o alinha-
avanço da idade e inatividade3,4,6-12. suporte de peso, sendo o joelho mento correto e reduzir o excesso
A classificação da osteoartro- uma das articulações mais fre- de carga sobre essa articulação.
se se dá em primária e secundária, qüentemente lesadas no corpo Fazem parte dos objetivos ainda o
em que a primeira geralmente é por estar constantemente exposta alívio da dor e rigidez27-29.
de origem hereditária; enquan- a severo estresse e esforço e por As técnicas de manipulação
to a segunda pode surgir como ser suportada e mantida exclusiva- articular têm sido utilizadas há mi-

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Aglis Alegria Batalha, Denise do Nascimento Soares Lima da Silva, Silvana do Socorro de Souza Morais 55

lênios como recurso terapêutico; terapêutica eleita em participantes “Avaliação de Joelho”, após prévia
no último século adquiriu cientifici- com diagnóstico clínico de gonar- explicação de alguns termos técni-
dade e passou a ser definida como trose, atendidos na Vital Clínica de cos aos participantes e assinatura
técnica de terapia manual. Existem Reabilitação Física, proporcionando do “termo de consentimento livre e
vários métodos dentro da terapia à amostra estudada, os efeitos tra- esclarecido - TCLE”, que informou
manual, sendo o método Kalten- zidos por esse método. aos voluntários os objetivos do es-
born, o eleito para este estudo. As O objetivo geral do estudo foi tudo, bem como sua participação
técnicas descritas por Kaltenborn avaliar os efeitos gerados pelo mé- no mesmo, permitindo a realização
são utilizadas nos casos de hipomo- todo Kaltenborn nos participantes do estudo, exposição de fotos e dos
bilidade e dor. No joelho, trata-se do estudo; e os específicos: anali- dados obtidos, sem que houvesse
da mobilização da superfície articu- sar o quadro álgico através da es- divulgação de sua identidade. Tal
lar côncava da tíbia em relação aos cala visual analógica – EVA antes e avaliação foi confeccionada pelas
côndilos femorais e da superfície após o tratamento; verificar a am- fisioterapeutas responsáveis pelo
articular posterior côncava da pa- plitude de movimento ao final do artigo e aplicada pelas mesmas du-
tela em relação à tróclea femoral. tratamento; comparar o trofismo rante os meses de agosto e setem-
O método é baseado na mecânica muscular inicial e final, comparar bro. A avaliação foi composta de
articular, considerando vetores de o espaço articular pré e pós trata- identificação, diagnóstico clínico,
compressão, movimentos muscu- mento e relacionar a influência do queixa principal, história da doença
lares, superfícies articulares e os sobrepeso com o ganho de espaço atual, histórias de patologias pre-
movimentos permitidos no com- articular após a aplicação do mé- gressas, exames complementares,
plexo articular do joelho30,31. todo Kaltenborn. exame físico (goniometria, perime-
O método Kaltenborn consis- tria, grau de força muscular, pre-
te em um conjunto de técnicas de Metodologia sença ou não de crepitação, ava-
terapia manual que trabalha com O presente estudo teve ca- liação de tônus, trofismo e teste de
movimentos de folga articular de ráter prospectivo transversal não sensibilidade).
tração, compressão e deslizamen- controlado Após a primeira avaliação os
to, em que a compressão é utili- Participaram deste estudo 23 participantes foram tratados por
zada como método de avaliação e voluntários com diagnóstico de quinze sessões de aproximada-
os outros dois tanto como avalia- gonartrose. Os critérios de inclu- mente vinte e cinco minutos cada
ção como tratamento. A tração é são da amostra estudada foram: através das seguintes técnicas do
um movimento translatório de fol- faixa etária entre 40 e 60 anos método Kaltenborn: deslizamen-
ga articular (movimento acessório com média de 49 anos e não es- to distal da patela para restrição
que não está sob controle voluntá- tar fazendo uso de analgésicos ou da flexão; deslizamento posterior
rio, produzido com um movimento antiinflamatórios para não mas- da tíbia para restrição da flexão;
passivo linear ao osso) e é utiliza- carar os resultados, além de não deslizamento lateral da tíbia para
da para reduzir a dor, aumentar a apresentarem grandes deformi- restrição da flexo-extensão; des-
mobilidade da articulação ou para dades em membros inferiores. Os lizamento anterior do joelho para
testar os movimentos acessórios critérios de exclusão são: indiví- restrição da extensão; tração do
(rotação interna e externa da tí- duos com idade inferior a 40 anos joelho para dor e hipomobilidade.
bia). A compressão funciona como e superior a 60 anos, indivíduos O tratamento foi realizado cinco
teste na diferenciação de lesões que estejam fazendo uso de an- vezes por semana, totalizando três
articulares e extra-articulares. O tiinflamatórios ou analgésicos e semanas, e depois da décima quin-
deslizamento é possível ao longo indivíduos que apresentem gran- ta sessão realizou-se nova avalia-
de curta distância em todas as ar- des deformidades de membros ção para análise de dados.
ticulações. É utilizado para testar a inferiores. O deslizamento distal da pa-
mobilidade passiva bem como para A pesquisa foi realizada na tela (Figura 1A) foi realizado com
mobilização articular para ganho Vital Clínica de Reabilitação Física, o paciente em decúbito dorsal
de amplitude31. localizada na cidade de São Luís/ com um apoio abaixo do joelho.
O objetivo das técnicas é au- MA, durante os meses de agosto e A área hipotenar das mãos do
mentar o espaço articular, diminuir setembro de 2008, a partir da ob- terapeuta ficava sobre a borda
o atrito e a dor, além de aumentar tenção da autorização por parte da proximal da patela enquanto os
a mobilidade do joelho31. instituição. antebraços repousavam sobre a
Desta forma, fez-se necessá- Seguida à seleção da amos- coxa do paciente e aplicava uma
rio realizar este estudo, destacando tra, foi realizada uma avaliação fi- força deslizando a patela no sen-
o Método Kaltenborn como conduta sioterapêutica específica intitulada tido caudal.

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56 Os Efeitos do Método Kaltenborn em Pacientes com Gonartrose

O deslizamento lateral foi feito


de forma similar ao deslizamento
anterior, alterando apenas o decú-
bito do paciente que era lateral.
Para o registro da coleta de
dados através de fotos foi utiliza-
da uma câmera fotográfica SONY
Cybershot, W90, 8.1 mega pi-
xels.
As variáveis numéricas foram
agrupadas em números absolutos
e em percentuais. Para o proces-
samento dos dados foi utilizado
o programa Microsoft Office Ex-
cel 2007 – Sistema Operacional
Windows XP Home Edition e para
o cruzamento de dados foi utili-
zado o GraphPad InStat 3,05 ver-
sion, 32 bit for win 95/NT, sendo
Figura 1. A – deslizamento distal da patela; B – deslizamneto posterior; C – tração; demonstrado através do teste do
D – deslizamento anterior. Qui-quadrado que é considerado
significante quando ≤ 0,05.
O deslizamento posterior da maca enquanto a outra segura a A pesquisa teve início após
tíbia (Figura 1B) foi feito com o pa- perna acima do tornozelo com o aprovação do Comitê Permanente
ciente em decúbito dorsal e joelho antebraço posicionado na linha da de Ética em Pesquisa do CESUMAR
flexionado próximo do final de sua perna e a tração foi feita no sentido – COPec.
amplitude em flexão e rotação me- cranial.
dial. O fisioterapeuta estabilizava Com o paciente em decúbito Resultados
acima do joelho e, segurando a tí- ventral, a coxa fixada na maca e Ao término dos atendimen-
bia em sua face ântero-medial pró- as pernas pendentes, realizava-se tos os participantes foram reava-
ximo ao joelho, aplicava uma força o deslizamento anterior da tíbia liados e obtidos os resultados a
no sentido posterior. (Figura 1D), com as mãos do te- seguir:
A técnica de tração (Figura rapeuta apoiadas do lado medial A Tabela 1 mostra, que do to-
1C) foi realizada com o pacien- proximal ao tornozelo e distal ao tal de 23 participantes (100%), 6
te em decúbito ventral, uma das joelho pressionando a tíbia para (26%) não tiveram ganho de pe-
mãos do terapeuta fixa a coxa na baixo. rimetria.
A Tabela 2 revela que o sobre-
Tabela 1. Ganho de Perimetria – mostra do ganho de trofismo (em centíme- peso tem influência negativa nesse
tro) nos participantes do estudo (n=23). aspecto, uma vez que o P foi esta-
tisticamente significante (0,0196).
Perimetria Reavaliação
Dos 7 participantes que não tive-
(ganho de trofismo) (nº de participantes)
ram ganho de espaço articular, 5
0,0 cm 06 (26%) estavam com sobrepeso e 2 com
0,5 cm 10 (44,%) o índice de massa corpórea dentro
1,0 cm 03 (13%) da normalidade.
1,5 cm 04 (17%) Na Figura 2 observa-se a va-
riação dos graus de extensão pré
e pós tratamento. Na avaliação,
Tabela 2. Relação do índice de massa corpórea com o ganho ou não de es- 8 (35%) participantes apresen-
paço articular (n=23). taram grau de extensão menor
Espaço Com Sem que 10° e 15 (65%) apresenta-
P ram 10°. Na reavaliação, 3 (13%)
Articular sobrepeso sobrepeso
permaneceram com a extensão
Com Ganho 02 14
0,0196 menor que 10° e 20 (87%) com
Sem Ganho 05 02
extensão de 10°.

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Aglis Alegria Batalha, Denise do Nascimento Soares Lima da Silva, Silvana do Socorro de Souza Morais 57

A Figura 3 demonstra o grau


de flexão antes e após os atendi-
mentos. Na avaliação 100% dos
participantes encontravam-se com
algum grau de limitação de flexão
de joelho, apresentando amplitude
articular inferior a 120°. Na rea-
valiação, 7 (30%) ainda permane-
ciam com amplitude articular re-
duzida e 16 (70%) tiveram ganho
de mobilidade, superando os 120°
de amplitude de flexão de joelho.
A dor foi graduada de acordo
com a Escala Visual Analógica de
0 a 10. Sendo 0-2 leve, 3-7 mo-
derada e 8-10 intensa. A figura 3
Figura 2. Ganho de amplitude de movimento.
mostra que na avaliação, 6 (26%)
referiram dor intensa e 17 (74%)
participantes referiram dor mode-
rada, nenhum dos participantes
apresentou dor leve na avaliação.
Ao término dos atendimentos 16
(70%) participantes encontravam-
se com dor de grau leve, 7 (30%)
com dor moderada e nenhum com
dor intensa.

Discussão
Os indivíduos com gonartro-
se apresentam sintomas de dor ao
deambular, fraqueza ao redor da
articulação e dificuldade para subir
escadas. Com a progressão da pa- Figura 3. Graduação da dor.

tologia, o indivíduo tende a poupar


a articulação afetada, levando ao
desuso da musculatura ao redor, Kaltenborn ao descrever os efei- mais comum para a gonartrose,
principalmente do quadríceps. Esse tos mecânicos da tração. Segundo apresentando nítida relação com
desuso associado à hiperssensibili- esse autor, a tração promove a mo- o aparecimento e evolução da de-
dade da linha articular ou ao redor vimentação do líquido sinovial que generação cartilaginosa, principal-
dela e à hipertrofia óssea, geram transporta os nutrientes para as mente no joelho3,21. Em conformi-
comprometimento da flexão com- porções avasculares de cartilagem dade com as informações descri-
pleta de joelho30. articular, além de reduzir as forças tas, o presente estudo mostrou
Constatou-se no estudo que de compressão intra-articular28,29. que há diferenças estatisticamente
a média de dor na Escala Visual A osteoartrose tem sido a cau- significantes (P=0,0196) entre os
Analógica foi de 6,47 antes do tra- sa mais comum de dor em idosos. participantes com e sem sobrepeso
tamento e de 1,65 ao final (Figura O quadro álgico, por sua vez, de- para o ganho de espaço articular,
3). Com relação à flexão de joelho, sencadeia hipomobilidade dos seg- indicando que o grupo com sobre-
ao início obteve-se uma média de mentos acometidos e conseqüente peso obteve ganho em menor pro-
104,69° e na reavaliação, a média inatividade, ou seja, assim sendo, porção ou não obteve ganho em
aumentou para 118,08°. A exten- na articulação do joelho, a artrose relação aos participantes com IMC
são teve uma média 8,47° inicial implica em redução dos graus de dentro da normalidade.
para uma média final de 9,69° (Fi- flexão e extensão . 32 Vários são os estudos reali-
gura 2). A obesidade é um dos fatores zados no sentido de relacionar a
Tais alterações observadas no predisponentes para a osteoartro- obesidade ao desencadeamento ou
quadro clínico são explicadas por se, constituindo o fator de risco mesmo à evolução da osteoartro-

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58 Os Efeitos do Método Kaltenborn em Pacientes com Gonartrose

se. Em outros segmentos do cor- A fraqueza muscular e hipo- Conclusão


po, essa relação direta não está trofia são características comuns Considerando-se os resulta-
bem definida. No joelho, porém, é no curso da osteoartrose30. Este dos obtidos com este estudo, con-
bem estabelecida e o tratamento mesmo autor relaciona o declínio clui-se que as técnicas eleitas para
da gonartrose deve englobar re- do trabalho muscular (e conse- o tratamento da gonartrose com
dução de peso, sempre que este qüente redução da força e trofis- base no Método Kaltemborn pro-
estiver presente. Em um estudo mo) com o quadro de dor e rigidez porcionaram à amostra estudada,
realizado com 55 mulheres com articular. Este estudo mostrou que redução do quadro álgico, aumento
diagnóstico de gonartrose, com- com a redução do quadro álgico e de amplitude de movimento para
parou-se o espaço articular fêmu- recuperação da amplitude de mo- flexão extensão de joelho, ganho
ro-tibial e o índice de massa cor- vimento, houve ganho de trofismo de trofismo mensurado através da
pórea. O resultado dessa pesquisa em 74% dos participantes. A força perimetria e aumento do espaço
mostrou significância com relação muscular, entretanto, não pôde ser articular fêmuro-tibial com base
a esse fator. As pacientes obesas um dos parâmetros comparativos em imagens radiográficas. Sugere-
tinham espaço articular menor ao dos efeitos do método Kaltenborn se a realização de outros estudos
se comparar com as que se en- pois os voluntários apresentavam- com amostras maiores e associan-
contravam com índice normal, se, em quase sua totalidade com do o método a outras técnicas a
concordando com os achados do grau 5 de força muscular na ava- fim de potencializar o resultado do
presente estudo33-38. liação inicial. tratamento.

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Artigo Original

Fisioterapia Respiratória no Tratamento da


Espondilite Anquilosante - Estudo de Caso
Respiratory rehabilitation in Ankylosing Spondylitis – Case report
Luciana Martins Lopes1, Vanessa Silva de Souza1, Luciana Maria Malosá Sampaio2, Andréa Marques Berbel3,
Kristianne Porta Santos Fernandes2, Manoela Domingues Martins2, Sandra Kalil Bussadori2, Raquel Agnelli
Mesquita-Ferrari2.

Resumo: A Espondilite Anquilosante (EA) é uma doença inflamatória crônica, sistêmica e de etiologia desconhecida que
afeta primariamente o esqueleto axial, causando rigidez progressiva, diminuição da complacência pulmonar e da expan-
sibilidade da caixa torácica. Objetivo: verificar o efeito da fisioterapia respiratória na força muscular respiratória, expan-
sibilidade torácica e qualidade de vida de um portador de EA. Metodologia: participou do estudo um paciente portador
de EA, 43 anos e este foi submetido a 4 avaliações fisioterapêuticas, pré, pós 10 sessões e 20 sessões de tratamento e
após 2 meses seguintes sem tratamento, compostas por: avaliação da qualidade de vida (questionário SF-36), avaliação
da força muscular respiratória (pressão inspiratória e expiratória máximas) e da mobilidade toracoabdominal. As sessões
de tratamento tiveram a duração de 30 min cada, freqüência de duas vezes por semana e foram constituídas por exer-
cícios de Reeducação Funcional Respiratória e exercícios utilizando espirômetros de incentivo (Respiron e Threshould).
Resultados: Após 10 e 20 sessões de tratamento foi verificada a melhora na qualidade de vida evidenciada pela obten-
ção de escores maiores na maioria dos domínios avaliados pelo SF-36 além de aumento da força muscular respiratória
(aumento de PImáx e PEmáx) e da expansibilidade torácica em todos os níveis avaliados. Além disso, após 2 meses
sem tratamento, a melhora obtida com o tratamento tanto na qualidade de vida como na força muscular respiratória e
expansibilidade torácica, foi mantida. Conclusão: a fisioterapia respiratória promoveu a melhora do paciente portador
de EA evidenciada pelo aumento da força muscular respiratória, expansibilidade torácica e qualidade de vida.
Palavras-chave: espondilite anquilosante, força muscular, qualidade de vida, tratamento.

Abstract: Ankylosing spondylitis (AS) is a chronic inflammatory rheumatic disease, with unknown etiology, characterized
by insidious inflammation of the spine and sacroiliac joints leading to pain and rigidity resulting in limited motion of
the chest wall with the reduction in expansion of the ribcage, motion of the chest wall. Objective: The aim of this
work was to evaluate the effects of respiratory physical therapy in respiratory maximal pressure, respiratory muscle
strength, expansion of the ribcage and health quality in an AS patient. Methods: One male AS 43 year’s old patient was
submitted to an initial evaluation, before treatment and another two evaluations after 10 and 20 treatment sessions
respectively and another one after two months without treatment. Each evaluation was constituted by measure of
respiratory strength and maximal inspiratory and expiratory pressures, an evaluation of quality of life using the Short
Form-36(SF-36) Generic Questionnaire and the analysis of expansion of the ribcage in axilar, xyfoidean and abdominal
levels. Each treatment session had 30min duration, was realized twice a week and included functional respiratory and
spirometers (Respiron and Threshould) exercises. Results: The results obtained after 10 and 20 treatment sessions and
after 2 months without treatment showed increase in expansion of the ribcage, respiratory muscle strength and a an
improvement in the majority of SF-36 domains.
Conclusion: The respiratory physical therapy treatment induced improvement in the functionality and life’s quality of
an AS patient.
Keywords: Ankylosing spondylitis, muscle strength, quality of life, treatment.

1
Aluna de graduação em Fisioterapia, Universidade Nove de Julho – UNINOVE, bolsista FAPIC/UNINOVE;
2
Docente do Mestrado em Ciências da Reabilitação da Universidade Nove de Julho – UNINOVE;
3
Docente do curso de Fisioterapia da Universidade Nove de Julho – UNINOVE.
Endereço para correspondência: Raquel Agnelli Mesquita-Ferrari () Mestrado em Ciências da Reabilitação, Universidade Nove
de Julho - UNINOVE, Centro de Pós Graduação. Av. Francisco Matarazzo, 612, Água Branca - CEP 05001-100, São Paulo – SP, Brazil,
phone: 55-11-3665-9325. e-mail: raquel.mesquita@gmail.com

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Luciana Martins Lopes, Vanessa Silva de Souza, Luciana Maria Malosá Sampaio, Andréa Marques Berbel 61

INTRODUÇÃO e articulações costovertebrais4,8. metimento das articulações verte-


As espondiloartropatias (EAP) Os ligamentos interespinhosos se brais torácicas e costovertebrais,
referem-se a um grupo de doenças ossificam e formam pontes ósse- que podem diminuir a complacên-
reumáticas que apresenta particu- as entre as vértebras lombares, cia torácica e associar-se a uma
laridades quanto a dados demo- levando ao aspecto radiológico de capacidade vital diminuída10,12,13.
gráficos, manifestações clínicas e coluna em “bambu”. O comprome- Dentre as hipóteses sugeridas
alterações radiográficas e laborato- timento cervical varia de uma pe- para explicar esta fibrose, pode-
riais. Entre as alterações laborato- quena limitação do pescoço até a se incluir o distúrbio de ventilação
riais, destaca-se a associação com anquilose completa10. apical, devido à marcante restrição
o antígeno leucocitário humano Assim, a EA costuma causar da expansibilidade torácica causa-
(Human Leucocyte Antigen – HLA) como sintoma inicial a lombalgia da pela anquilose das articulações
B27. Fazem parte das EAP a espon- de ritmo inflamatório, caracteri- costovertebrais. A avaliação da fun-
dilite anquilosante (EA), a artrite zada por melhorar com o movi- ção pulmonar na EA tem revelado
reativa (ARe), a artrite psoriásica mento e piorar com o repouso, elevada prevalência de defeito ven-
(AP), a artropatia das doenças in- com rigidez matinal prolongada tilatório restritivo, caracterizado
flamatórias intestinais (ADII), a e predomínio dos sintomas axiais pela diminuição da capacidade vital
espondiloartropatia indiferenciada durante a sua evolução10. A evo- forçada, geralmente correlaciona-
(EAPI) e a espondiloartropatia ju- lução costuma ser ascendente, do à diminuição da expansibilidade
venil (EAP juvenil)1, 2, 3, 4. acometendo progressivamente as torácica; estas alterações podem
A EA trata-se de uma doença colunas dorsal e cervical, contri- ocorrer devido a um aumento da
inflamatória osteoarticular crônica buindo para o desenvolvimento resistência da parede torácica, as-
e sistêmica de etiologia desconhe- da postura do “esquiador”, carac- sociado a uma diminuição da sua
cida sendo uma espôndilo-artrite terizada pela retificação da lordo- complacência 14
.
soronegativa que afeta primaria- se lombar, acentuação da cifose Devido à diminuição da com-
mente o esqueleto axial, causando dorsal e retificação da lordose placência pulmonar e da restrição
rigidez progressiva na coluna4,5,6, cervical com projeção da cabeça da caixa torácica esses pacientes
. Esta patologia tem a carac-
7,8,9
para frente4. também podem apresentar uma
terística de acometer predomi- O exame físico pode revelar, diminuição da força muscular respi-
nantemente indivíduos do sexo dependendo do tempo de duração ratória. As cúpulas diafragmáticas
masculino na segunda e terceira e da gravidade da doença, desde deixam de realizar a sua incursão
décadas de vida. É mais comum achados precoces como a dor à durante o ciclo respiratório, fazen-
em populações brancas, nas quais compressão bimanual das articula- do com que as pressões inspirató-
a prevalência do HLA-B27 é bem ções sacroilíacas (manobra de Me- ria e expiratórias (PImáx e PEmáx)
maior. Em adição, a positividade nell) e a retificação da lordose lom- diminuam, e por levar a uma dimi-
desse antígeno nos pacientes com bar, até a limitação da mobilidade nuição por conseguinte da ventila-
EA pode variar em torno de 90%, lombar, dorsal ou cervical nos pla- ção pulmonar esses tem uma piora
sendo mais elevada em populações nos ântero-posterior, rotacionais e na sua qualidade de vida15.
brancas não-miscigenadas do nor- laterais, bem como a limitação da Como a EA é uma patologia
te da Europa4, 10. expansibilidade torácica .
12
crônica e acomete preferencial-
Em geral, tem início no adulto O envolvimento extra articu- mente a população adulto-jovem,
jovem, da 2ª a 4ª década da vida, lar é freqüente e inclui uveíte (ob- gera um forte impacto socioeco-
principalmente no sexo masculino servada em até 40% dos pacien- nômico e na qualidade de vida dos
(na proporção de 5:1) e em indiví- tes, estando em geral associada ao pacientes7, 16. Atualmente, o ques-
duos com o antígeno de histocom- HLA-B27 positivo) ; manifestações
4
tionário mais utilizado para avaliar
patibilidade HLA-B27 positivos4,10. cardíacas, fibrose pulmonar, sín- a qualidade de vida mundialmente
A incidência da EA está entre 0,5 drome da cauda eqüina, amiloido- empregado é o Short-Form-36 (SF-
e 14 por 100000 pessoas por ano, se, colite ulcerativa, enterite regio- 36), instrumento multidimencional
enquanto que a prevalência é entre nal, psoríase, esclerose múltipla, formado por 36 itens reunidos em
0,1 e 1,4%. Os homens são afeta- doença de Reiter entre outras3,10. dois grandes componentes denomi-
dos cerca de duas vezes mais que A complicação pulmonar mais nados físico e mental 17, 18, 19, 20, 21, 22,

as mulheres .
9,11
prevalente é a fibrose do lobo su- . Apresenta oito domínios: capa-
23

O processo inflamatório pode perior, que em alguns casos simula cidade funcional, aspectos físicos,
ter início nas articulações sacroi- a tuberculose. A gravidade da lesão aspecto emocional, saúde mental,
líacas e se estender em sentido pulmonar acentua-se por limitação aspectos sociais, vitalidade, dor e
ascendente na coluna vertebral da expansão torácica por compro- percepção geral de saúde. O esco-

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62 Fisioterapia Respiratória no Tratamento da Espondilite Anquilosante

re é de 0-100, com valores maio- Participou do estudo um pa- uma manobra de inspiração máxi-
res indicando melhor qualidade de ciente, 43 anos, sexo masculino, ma, precedida de expiração má-
vida8,16. com diagnóstico médico de EA, que xima ao nível do volume residual
Definir atividade de doença realizava tratamento fisioterapêu- (VR) e a PEmáx através de uma
em afecções crônicas é uma tarefa tico convencional (com ênfase em manobra de expiração máxima
difícil ainda mais no caso de doen- reabilitação motora) na clínica de precedida de uma inspiração má-
ças reumáticas de evolução lenta e fisioterapia da UNINOVE. Este foi xima, ao nível da capacidade pul-
com ausência de marcador labora- convidado a participar do estudo e monar total (CPT)24. Cada manobra
torial definido, como a EA. Assim, para isso foi devidamente esclare- foi realizada no mínimo três vezes,
diversos instrumentos para a ava- cido quanto à metodologia adotada sendo considerado o maior valor.
liação da atividade, a maioria em e assinou um Termo de Consenti- Para avaliação da mobilidade
forma de questionários, tem sido mento Pré-informado. (expansibilidade) toracoabdominal
desenvolvidos para auxiliar nesta Os critérios de inclusão adota- foi utilizada a cirtometria toracoa-
difícil tarefa 7,16. dos foram: diagnóstico médico de bdominal, que consiste em medir
Opções terapêuticas para pa- EA atestando, por meio de exames os perímetros torácicos nos pontos
cientes com EA são escassas. Dro- laboratoriais, que a doença não axilar, xifoideano e o abdominal ao
gas anti-reumáticas como anti-infla- se encontra em período de exa- nível supra umbilical, foi utilizada
matórios não hormonais são usadas cerbação; ausência de patologias uma fita métrica e considerado o
para controle de dor. Além disso, a associadas como estado depressi- valor no final de cada inspiração e
fisioterapia intensiva tem recebido vo severo; ausência de patologias expiração máximas 24.
cada vez mais atenção em virtude cardíacas ou pulmonares graves e
dos resultados positivos que têm doenças metabólicas não controla- Protocolo de Tratamento
causado aos pacientes, porém não das (diabetes, dislipidimias, hipo O tratamento constou da reali-
estão bem estabelecidos os proto- ou hipertireoidimos, entre outras). zação de 20 sessões de fisioterapia
colos e atividades mais eficazes 6. Já os critérios de exclusão foram: respiratória, realizadas com freqü-
Com base nos dados levanta- abandono ou faltas durante o pro- ência de duas vezes por semana e
dos fica evidente a necessidade do grama de tratamento que pudes- com duração de 30 min cada. Cada
estabelecimento de novos proto- sem comprometer os resultados, sessão foi composta por (a) exer-
colos de tratamento, direcionados desconforto do paciente na reali- cícios com os Incentivadores
especialmente à redução de limita- zação das atividades propostas; Respiratórios: Espirômetros de
ções funcionais que possam ocor- presença de doenças reumáticas incentivos como o Respiron (Mar-
rer em pacientes com EA devido às associadas. ca NCS®) (3 séries de 10 repeti-
alterações ocorridas na caixa torá- ções) e Threshold IMT® com carga
cica. Além disso, a baixa incidência Avaliação pré-tratamento (Marca Respironics®) (4 séries de
desta patologia justifica a impor- O participante foi submetido 15 repetições com 40% da PImax,
tância da realização deste estudo a uma avaliação fisioterapêutica, atualizada a cada sessão); (b)
de caso para um melhor entendi- na Clínica de Fisioterapia da UNI- Reeducação Funcional respira-
mento dos efeitos de ferramentas NOVE, constituída por avaliação tória incluindo exercícios para a
terapêuticas, como a fisioterapia da qualidade de vida utilizando o conscientização do padrão respi-
respiratória, para o tratamento questionário SF-36, da força mus- ratório diafragmático, juntamente
desta condição. cular respiratória por meio da veri- com exercícios para melhora da
Assim, o objetivo deste traba- ficação da pressão inspiratória má- expansibilidade torácica. Os exer-
lho foi verificar o efeito de um pro- xima (PImáx) e pressão expiratória cícios utilizados com este objetivo
grama de fisioterapia respiratória máxima (PEmáx) e da mobilidade incluíram exercícios sem cargas
na força muscular respiratória, ex- toracoabdominal. para os membros superiores e in-
pansibilidade torácica e qualidade A força muscular respiratória feriores, associados à Reeducação
de vida de um portador de EA. foi obtida pelas técnicas de medi- Funcional Respiratória (RFR), tanto
das da PImáx e PEmáx, através em posição sentada como ortos-
MATERIAIS E MÉTODOS de um manovacuômetro escalo- tática (3 séries de 10 repetições
A metodologia utilizada foi ela- nado em ± 300 cmH2O (Marca RE- cada); exercícios com bastões para
borada respeitando as resoluções CORD), equipado com adaptador membros superiores e o comando
196/96 do Conselho Nacional de de bocais, contendo um orifício de verbal para a realização da respi-
Saúde e foi aprovada pelo Comitê 2 milímetros de diâmetro, servindo ração diafragmática; manobras de
de Ética em Pesquisa da UNINOVE como válvula de alívio dos múscu- expansibilidade da caixa torácica,
(Protocolo número:133742/2008). los bucais. A PImáx foi obtida com costal e diafragmática em 2 séries

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de 5 repetições cada; (c) Alon- tamento para avaliação dos efeitos tamento e pós período sem trata-
gamentos para tronco na lateral da reversibilidade do treinamento mento (pausa) permitiram verificar
e em decúbito dorsal, utilizando respiratório devido a pausa equi- que os valores de cirtometria em
bolas em três séries de 1 minuto valente ao período de tratamento nível axilar foram maiores após o
cada; (d) Relaxamento muscu- (2 meses). tratamento e o ganho obtido (20%)
lar geral realizando movimentos Foi realizada uma análise des- após o tratamento foi mantido após
lentos de membros superiores e critiva dos valores obtidos para PI- o período de pausa de 2 meses
inferiores associados a respiração. máx, PEmáx e Índice de Amplitude sem tratamento. Em nível xifoidea-
Torocoabdominal e para os escores no, o paciente apresentou manu-
Avaliação pós-tratamento e após dos domínios do SF-36 nas situa- tenção das medidas após o trata-
2 meses ções pré-tratamento, após 10 e 20 mento e elevação de 20% destas
Ao término da realização de sessões de tratamento e após 2 me- após período sem tratamento. Em
10 e 20 sessões de tratamento, ses subseqüentes sem tratamento. nível abdominal houve aumento da
o paciente foi submetido à ava- expansibilidade após o tratamen-
liação fisioterapêutica composta RESULTADOS to (66%), sendo este ainda maior
pelos mesmos itens citados para após período equivalente sem tra-
avaliação inicial. Além disso, este Avaliação da expansibilidade tamento (100%) (figura 1).
paciente também foi submetido à torácica
outra avaliação, idêntica a esta, Os resultados de cirtometria Avaliação da força muscular
após 2 meses do término do tra- torácica obtidos no pré, pós tra- respiratória
A avaliação da força muscular
respiratória permitiu verificar que a
PImáx sofreu aumento após as 10
sessões de tratamento (65%) e uma
pequena redução após 20 sessões
e 2 meses sem tratamento, porém
com valores ainda bem superiores
a condição pré-tratamento corres-
pondendo a melhora de 54,4% e
45,6% respectivamente em relação
a condição pré-tratamento.
Os valores de PEmáx sofreram
aumento após 10 sessões (12,9%)
e este foi maior após 20 sessões de
tratamento (22,2%). Porém, após
2 meses sem tratamento foram
Figura 1: Valores da diferença de cirtometria nos diferentes níveis (axilar, xifoideano, e apresentados valores levemente
abdominal) obtidos na inspiração e expiração.
superiores (3,7%) à condição pré
tratamento (figura 2).

Avaliação da Qualidade de Vida


Os resultados do SF-36 per-
mitiram verificar que o paciente
apresentou aumento nos escores
de 5 domínios após 10 sessões de
tratamento em comparação a situ-
ação pré-tratamento (capacidade
funcional, estado geral de saú-
de, aspectos emocionais e sociais
e saúde mental) porém em três
domínios (limitação por aspectos
físicos, dor e vitalidade) houve re-
dução com relação aos valores ob-
tidos inicialmente (figura 3).
Figura 2: Valores de PImáx e PEmáx obtidos no pré, pós tratamento e após período
equivalente sem tratamento. Após 20 sessões de tratamen-

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64 Fisioterapia Respiratória no Tratamento da Espondilite Anquilosante

to, 6 domínios dos 8 domínios (ca- aos valores encontrados por Leal brais torácicas e costovertebrais,
pacidade funcional, dor, estado ge- et al , evidenciando que este pa-
25
que podem diminuir a complacên-
ral de saúde, aspectos emocionais ciente apresentava redução na for- cia torácica e associar-se a uma
e sociais e saúde mental) eviden- ça muscular respiratória. capacidade vital diminuída. Além
ciaram aumento nos valores de es- Outros estudos, realizado por disso, estas fusões articulares po-
cores quando comparados a condi- Pagano et al 26 e Berber 27 avaliaram dem causar atrofia da musculatura
ção pré-tratamento, caracterizan- a qualidade de vida de pacientes intercostal que associada à redução
do, dessa forma, uma melhora de com fibromialgia utilizando como da mobilidade da parede torácica
75%. Contudo, houve leve redução instrumento o questionário SF-36. faz com que a ventilação torne-se
no escore do domínio vitalidade e Analisando os resultados destes cada vez mais dependente do dia-
manutenção do escore do domí- estudos é possível verificar que a fragma . Nossos achados per-
10, 29

nio limitação por aspectos físicos, EA parece afetar de forma menos mitiram verificar que o tratamento
voltando este último a apresentar intensa a qualidade de vida quando utilizando fisioterapia respiratória
um valor próximo a situação pré- em comparação a esta outra pato- causou o aumento da expansibi-
tratamento (figura 3). logia crônica, uma vez que nosso lidade torácica avaliada em três
Quando analisados os resul- paciente apresentou escores maio- níveis distintos do tórax, ou seja,
tados após o período de pausa de res na maioria dos domínios deste axilar, xifoideano e abdominal e
2 meses (sem tratamento) não foi mesmo instrumento de avaliação aumento de força da musculatura
verificada a piora (redução) nos va- de qualidade de vida, o SF-36. respiratória minimizando as con-
lores dos escores nos domínios que Braum et al28 avaliou a qua- seqüências nocivas desta patologia
apresentaram melhora após o tra- lidade de vida de pacientes com no sistema respiratório.
tamento de 20 sessões e o domí- diferentes patologias crônicas, in- Vanderschueren et al30 avalia-
nio vitalidade voltou a apresentar cluindo a EA, Insuficiência cardíaca ram 30 pacientes com EA, com ida-
valores próximos aos de pré trata- congestiva (ICC), Diabete Melito de média de 43 anos, e encontraram
mento. Apenas o domínio capaci- (DM), Hipertensão arterial sistêmi- valores médios de cirtometria axilar,
dade funcional voltou a apresentar ca (HAS) e depressão submetidos abdominal e diafragmática de 3,24,
valor próximo ao obtido antes do a tratamento medicamentoso uti- 4,12 e 3,79 cm respectivamente.
tratamento (figura 3). lizando o Etanercept. Os valores No presente estudo foi encontrado
obtidos para os domínios do SF-36 um valor um pouco superior para
Discussão no presente estudo comprovaram o nível axilar (5 cm) e um pouco
Os resultados apresentados que o paciente EA apresentou me- inferior para o nível abdominal (3
permitiram verificar que o trata- lhores escores em 8 domínios em cm), porém estes podem ser con-
mento de fisioterapia respiratória comparação com os pacientes que siderados semelhantes uma vez
proporcionou benefícios ao por- realizaram tratamento medicamen- que houve muita variação entre o
tador de Espondilite Anquilosante toso (etanercept) e que possuíam menor e maior valor encontrado
especialmente no que se refere a estas as crônicas citadas. nestes 30 pacientes para cada ní-
qualidade de vida, expansibilidade A gravidade da lesão pulmo- vel, dependendo da intensidade de
torácica, controle da dor e força nar na EA acentua-se por limitação acometimento pela EA. Além disso,
muscular respiratória. da expansão torácica por compro- estes mesmos autores verificaram
No estudo realizado por Leal metimento das articulações verte- nestes pacientes a PEmáx de 110
et al 25
foi feita uma comparação
entre valores de força muscular
respiratória entre sexo e idade de
indivíduos sedentários e os resul-
tados mostraram que os homens
de 41-50 anos apresentaram em
média PImáx de 97cmH2O e PEmáx
136cmH2O. Os valores apresenta-
dos para o portador de EA deste
estudo, que encontra-se na mes-
ma faixa etária descrita, evidencia-
ram que tanto a PImáx quanto a
PEmáx na pré avaliação foram de
57cmH2O e 108cmH2O respectiva-
Figura 3: Valores dos escores obtidos para os domínios de SF-36 pré, pós tratamento
mente, ou seja, ambas inferiores e após 2 meses sem tratamento.

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cmH2O e PImáx de 75 cmH2O porém al31 uma vez que estes verificaram tada com a evolução da patologia.
com desvio padrão alto, em torno de redução da força muscular respira- Assim, pelos presentes acha-
30 em ambas medidas. Assim, es- tória em portadores de EA em com- dos fica evidente a importância da
tes valores se assemelham aos en- paração a indivíduos saudáveis, po- ênfase que deve ser dada a fisiote-
contrados em nosso paciente (108 rém, um aumento da mesma após rapia respiratória no tratamento da
e 57 cm H2O respectivamente) na o treinamento de “endurance”. EA uma vez que se trata de uma
condição pré-tratamento. Já ao tér- A EA é uma patologia de bai- patologia que acomete progressi-
mino do tratamento o paciente de xa incidência e que pode acarretar vamente a mobilidade torácica e
EA passou a apresentar valores de grandes limitações. Dessa forma, qualidade de vida de seus pacien-
132 e 88 cmH2O para PEmáx e PI- fica evidente a necessidade do tes. Em conclusão, o tratamento
máx respectivamente, evidenciando estabelecimento de novas ferra- proposto no presente estudo trou-
assim os efeitos positivos da reabili- mentas (protocolos) terapêuticas xe benefícios ao paciente portador
tação proposta no que se refere ao que possibilitem uma melhora da de EA proporcionando aumento da
aumento força muscular respirató- condição funcional e da qualidade expansibilidade torácica nos três
ria. Estes achados estão em concor- de vida destes pacientes, especial- níveis avaliados, aumento da força
dância com os dados encontrados mente no que se refere ao controle muscular respiratória e melhora da
no estudo realizado por Carter et da limitação respiratória apresen- qualidade de vida.

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Artigo Original

Remodelamento do Músculo Esquelético: Papel da


Matriz Extracelular
Skeletal muscle remodeling: role of extracellular matrix
Vanessa Christina Santos Pavesi1, Raquel Agnelli Mesquita-Ferrari2, Dayane Aparecida Mesquita3, Juliana
Baptista4, Manoela Domingues Martins2.

Resumo: A plasticidade ou remodelamento do músculo esquelético em resposta a estímulos diferentes, tanto em situ-
ações fisiológicas como patológicas, tem sido demonstrada em vários modelos experimentais e estudos clínicos. Este
processo depende de uma ação coordenada entre a degradação e síntese da matriz extracelular (MEC) e, portanto,
as alterações nos componentes da matriz vêm sendo alvo de inúmeros trabalhos nos últimos anos. O objetivo do pre-
sente estudo foi revisar a literatura sobre o papel dos diversos tipos de colágeno, que são os principais componentes
da MEC, das metaloproteinases (MMPs) e dos inibidores de metaloproteinases (TIMPs) no processo de remodelamento
muscular esquelético.
Palavra-chave: Músculo esquelético; Matriz extracelular, Remodelamento muscular, Colágeno, Metalopeptidase.

Abstract: The skeletal muscle remodeling in response to several stimuli in physiological and pathological conditions
have been demonstrated by different experimental and clinical studies. This process depends on an interaction be-
tween the degradation and synthesis of extracellular matrix. Therefore, the modifications in the extracellular matrix
components have been studied in last years. The aim of this study was to revise the literature about collagen types
that are the main components of the MEC, metallopeptidases (MMPs) and metallopeptidases inhibitors (TIMPs) during
the skeletal muscle healing process.
Keywords: Skeletal muscle, Extracellular matrix, Muscle remodeling, Collagen, Metallopeptidase.

1
Cirurgiã-dentista. Mestre em Ciências da Reabilitação da Universidade Nove de Julho.
2
Docentes do Mestrado em Ciências da Reabilitação da Universidade Nove de Julho.
3
Fisioterapeuta. Aluna do Programa de Mestrado em Ciências da Reabilitação da Universidade Nove de Julho.
4
Fisioterapeuta. Ex-aluna de Iniciação Científica do Curso de Fisioterapia da Universidade Nove de Julho e bolsista PIBIC/CNPq.

Endereço para contato:


*Manoela Domingues Martins - Rua Demóstenes, 636 - apto 11 - Campo Belo - CEP 04614-010 - São Paulo-SP, Brasil, 11-83156030
E-mail: manomartins@gmail.com

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68 Remodelamento do Músculo Esquelético: Papel da Matriz Extracelular

Introdução O objetivo principal do pre- tecido muscular por meio da secre-


Os músculos esqueléticos re- sente estudo foi revisar a litera- ção de fatores quimiotáticos para
presentam cerca de 40 a 45% do tura sobre o papel dos diferentes outras células inflamatórias e pro-
peso corpóreo total e são essen- componentes da MEC, das metalo- dução de fatores de crescimento
ciais para o movimento do corpo, proteinases (MMPs) e inibidores de que agem na ativação das células
respiração e manutenção da postu- metaloproteinases (TIMPs) no pro- satélites (2,7).
ra. Esse tecido é dinâmico e pode cesso de remodelamento muscular Após o aumento da sínte-
alterar suas características fenotí- esquelético. se e da liberação de mediadores
picas, proporcionando uma melhor químicos como o IGF (Insulin-like
adaptação funcional frente a estí- 1. Regeneração e Remodela- Growth Factor) e HGF (Hepatocyte
mulos variados. Sendo que, após mento do Músculo Esquelé- Growth Factor) e fatores de trans-
o nascimento, a massa muscular tico crição como o MyoD, no local da
e o fenótipo são determinados, em A lesão muscular é um fenô- agressão as células satélite tor-
parte, por influências e sinais am- meno comum que pode ocorrer em nam-se ativadas (7,8). Após a ati-
bientais (1,2). função de exercícios físicos inten- vação, as células satélites passam
Existe considerável interesse sos, traumas, contusões, eletroes- por uma série de estágios que en-
na regeneração do músculo esque- timulação entre outros e envolve volvem proliferação, diferenciação
lético em função de várias situa- uma resposta inflamatória seguida em mioblastos e fusão as miofibras
ções que necessitam desta como: de processo de cicatrização e repa- para reparar o dano muscular e/ou
reparo rápido de lesões em atletas, ro tecidual. Este processo de remo- para facilitar o aumento de tamanho
transplantes, distrofias musculares, delamento do músculo esquelético do músculo (6). Esses fenômenos
atrofias por desuso ou permanência após injúria é complexo e ocorre estão acompanhados do aumento
no espaço entre outras (2). em várias etapas interconectadas da síntese protéica e da expressão
O remodelamento tecidual fi- que envolvem a ativação de dife- gênica no tecido muscular.
siológico ou patológico do músculo rentes tipos de células, em especial Assim como pode ocorrer em
esquelético depende da ação co- as inflamatórias e as células saté- outros tecidos conjuntivos vascula-
ordenada da degradação e síntese lites, com a função de manter e rizados, o músculo quando agredi-
de proteínas intracelulares e dos preservar a estrutura e função do do, pode ter ao final do processo
componentes da matriz extrace- tecido muscular (2,6). inflamatório a regeneração tecidual
lular (MEC). Esta por sua vez, re- O reparo muscular ocorre em ou a fibrose (cicatrização da ferida).
presenta uma enorme e complexa quatro fases interdependentes: Alguns fatores são determinantes
rede de macromoléculas compos- degeneração, inflamação, regene- para definir qual desfecho irá ocor-
tas de várias proteínas versáteis e ração e fibrose. As duas primeiras rer tais como severidade da injúria,
polissacarídeos que são secretados fases são observadas nos primei- tipo de músculo lesado, interven-
localmente e montados em asso- ros dias após a agressão enquanto ção realizada após a lesão, entre
ciação com a superfície celular que que, a regeneração muscular ocor- outros fatores (2,9).
os produz. As interações entre cé- re por volta de 7 a 10 dias, com Pesquisas vêm sendo desen-
lula-célula e célula–MEC suprem as pico máximo na 2 semana dimi-
a
volvidas na área de remodelamen-
células com informações essenciais nuindo na 3a semana. A formação to tecidual para desenvolvimento
para homeostase e para o controle de fibrose (escara) inicia-se entre a de novas terapias e tecnologias
da morfogênese, funções tecido- 2a semana e 3a semana após injú- para manter as citocinas e fatores
específicas, migração celular, repa- ria aumentando de tamanho com o de crescimentos importantes para
ro e morte celular (3,4). passar do tempo (2,6,7). a regeneração muscular atuantes,
As variações nas quantidades Estudos demonstram que por longo período de tempo, até
relativas dos diversos tipos de ma- após a agressão muscular, ocorre que o reparo muscular ocorre por
cromoléculas e o modo como são dano ao sarcoplasma ou reticulo completo.
organizadas na MEC geram uma sarcoplasmático levando a necrose
grande diversidade de formas, das fibras musculares e os fenôme- 2. MEC no músculo esquelé-
cada uma adaptada às necessida- nos de regeneração muscular são tico
des funcionais particulares de cada iniciados pela infiltração de neu- A MEC representa uma com-
tecido. Nos tecidos musculares a trófilos, seguidos de fagocitose dos plexa rede de macromoléculas com-
MEC circunda as fibras musculares restos necróticos pelos macrófagos posta de várias proteínas versáteis
conferindo suporte e proteção e é que invadem a área danificada. As e polissacarídeos que são secre-
importante na manutenção da in- células inflamatórias também au- tados localmente e montados em
tegridade funcional das fibras (5). xiliam na formação de um novo associação com a superfície celular

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Vanessa Christina Santos Pavesi, Raquel Agnelli Mesquita-Ferrari, Dayane Aparecida Mesquita 69

que os produz. As interações entre estar aumentada e alguns outros No músculo, o colágeno tipo
célula-célula e célula–MEC suprem tipos podem ser sintetizados local- IV é o principal componente da
as células com informações essen- mente tais como laminina -8,-9,- membrana basal sendo responsá-
ciais para homeostase, controle da 10, -11 e sindecano (13). vel pela manutenção da estabili-
morfogênese, funções tecido-espe- Os principais colágenos iden- dade mecânica da fibra muscular
cíficas, migração celular, reparo e tificados no músculo esquelético esquelética. Tem sido sugerido que
morte celular (3,10,11). são os tipos I e III no epimísio, pe- o colágeno tipo IV tem um papel
As principais macromoléculas rimísio e endomísio (Figura 1 a-f), crítico no arranjo dentro do tecido,
que compõem a matriz extracelular sendo que os tipos IV e V estão embora ele sozinho constitua uma
são representadas por proteínas presentes na membrana basal, pequena parte do total da MEC. No
colagênicas (colágenos) e não-co- em volta das fibras individuais do entanto, a tolerância da membrana
lagênicas (fibronectina, tenascina, músculo, fibras de músculo liso basal celular ao “stress” pode no
laminina, entre outras), proteo- de vasos sanguíneos e células de caso de lesões extensas, ser de-
glicanas, incluindo-se o ácido hia- Schwann (3). O tipo e a quantidade pendente da integridade do com-
lurônico, sulfato de condroitina e de colágeno variam de acordo com ponente colagenoso (16).
sulfato de heparana e fosfolipídios o músculo avaliado devido ao papel
(3,10,11). que o tecido conjuntivo apresenta 3. Remodelamento da ma-
No músculo esquelético, a em cada tipo de músculo (3,14). triz extracelular em mús-
MEC além de proporcionar a estru- Assim como, nas situações de dano culo esquelético frente a
turação do tecido possui um papel muscular gerado por exercício tem estímulos fisiológicos e
bioativo na regulação do compor- sido observado aumento da síntese patológicos
tamento celular, influenciando as- de colágeno durante a regeneração Modificações na composição
sim o seu desenvolvimento e o (15). da MEC em músculo esquelético
remodelamento tecidual fisiológico O colágeno I é importante humano sob condições fisiológicas
ou patológico (3,4,12). para a estabilização da arquitetura e patológicas têm sido demons-
A MEC circunda as fibras tecidual e é chamado de colágeno tradas (3,14,17) e, em especial,
musculares conferindo suporte e intersticial uma vez que forma es- são analisados os colágenos e as
proteção e é importante na ma- truturas fibrilares no espaço inter- MMPs.
nutenção da integridade funcio- celular (Figura 1a,b,c). O colágeno No que diz respeito ao com-
nal das fibras (5). Assim, frente a tipo I representa a maior parte do ponente colagenoso da MEC, uma
qualquer estímulo mecânico existe colágeno intramuscular variando íntima relação tem sido estabele-
uma adaptação da MEC que pro- entre 30% e 97% do colágeno to- cida entre aumento da síntese de
cura tornar o músculo mais resis- tal (2,3,15). colágeno e o processo regenerati-
tente ao dano, para permitir uma Os colágenos II e III também vo que ocorre no músculo esque-
transmissão adequada da força são chamados de colágenos inters- lético em resposta as diferentes
durante a contração muscular (3). ticiais, uma vez que formam estru- atividades físicas (3). Sendo que,
Além disto, a MEC possui im- turas fibrilares no espaço intercelu- o aumento da síntese de colágeno
portante papel no remodelamento lar. O colágeno III é mais presente após exercício pode representar
do tecido muscular, pois este ocor- em tecido conjuntivo frouxo, possui uma adaptação fisiológica ou parte
re a partir da ação coordenada da uma importante função na elastici- do processo de reparo com ou sem
degradação e síntese de proteínas dade do tecido (32). dano tecidual evidente (18).
intracelulares e dos componentes O colágeno IV é exclusivo de Estudos demonstram que o
da MEC (3,4,12). membrana basal e é produzido pe- colágeno IV aumenta nos músculo
No tecido muscular adulto, las células musculares sendo for- de ratos após longos períodos de
um grupo distinto de moléculas da mado por moléculas de colágeno treinamento (19), após contra-
MEC está envolvido na manutenção que não se associam em fibrilas, ções (20, 21), exercícios agudos
da estrutura e função normal deste mas prendem-se umas as outras (14,15,22,23) e hipertrofia com-
tecido. As proteínas predominantes pelas extremidades, formando uma pensatória experimental (40). As-
são a laminina-2 e 4 , fibronectina, rede semelhante a uma tela de ara- sim como, foi verificado o aumento
tenascina, colágeno I, III e IV, e as me (Figura 1g,h,i). Ele se associa dos níveis de RNAm de colágeno I
proteoglicanas como o sulfato de as várias moléculas não fibrosas e III no músculo esquelético de ra-
dermatano e de heparana. Nas si- da matriz extracelular e forma uma tos após corrida (18).
tuações onde é necessária a adap- membrana contínua que comparti- Koskinen et al. (14) estudaram
tação e regeneração do músculo a mentaliza certos tecidos denomina- o efeito do exercício intenso no re-
expressão destas moléculas pode da de membrana basal (3). modelamento da MEC do músculo.

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70 Remodelamento do Músculo Esquelético: Papel da Matriz Extracelular

Estes autores mostraram que o lágeno (25,26,27) mas com dimi- extracelular (MEC). Alterações da
dano muscular causado pelo exer- nuição na taxa de degradação do exigência do músculo esquelético
cício agudo em animais ocasiona colágeno (25,28). A imobilização (sobrecarga ou redução da ativi-
modificações na concentração de de membros de ratos leva a uma dade contrátil) promovem o remo-
colágeno IV intramuscular. Neste diminuição da atividade de biosín- delamento da MEC e consequente-
estudo foi observado que a MMP-2, tese de colágeno (3,26,29) eviden- mente ativam as MMPs específicas
enzima que degrada o colágeno tipo ciando-se pela diminuição dos ní- que garantirão este processo (35).
IV, esteve aumentada nas fases de veis de RNAm dos colágenos I, III As alterações na atividade
dano muscular severo e o aumento e IV após imobilização (17, 28). das MMPs podem também estar
de colágeno IV esteve associado à associadas a quadros patológicos
regeneração da membrana basal Metaloproteinases de Ma- uma vez que a excessiva ou ina-
da miofibrilas. TIMP-1, uma enzi- triz (MMPs) propriada expressão de MMPs con-
ma que inibe a atividade de MMP, As metaloproteinases de ma- tribui para a patogênese de muitos
parece estar ativada durante as triz (MMPs) compreendem uma fa- processos teciduais destrutivos, in-
fases iniciais do dano tecidual en- mília de pelo menos vinte enzimas cluindo artrite reumatóide, miosite
quanto que o inibidor TIMP-2 foi (endoproteases) que degradam um focal, esclerose múltipla e perio-
ativado nas fases tardias do dano ou vários componentes da matriz dontite (36) e falhas na atividade
muscular. extracelular, portanto, estão envol- de MMPS podem ser notadas nas
Mackey et al. (21) avaliaram vidas no remodelamento da matriz doenças fibróticas devido a uma
o efeito da contração excêntri- extracelular em situações fisiológi- maior deposição de MEC (10,11).
ca máxima no remodelamento do cas e patológicas (30, 31,32). Várias MMPs estão presentes
colágeno em humanos. Os volun- Com base em sua estrutura no músculo, mas particularmente
tários realizaram 100 contrações primária, organização, especificida- duas possuem um importante pa-
excêntricas máximas voluntárias de de substrato e localização celu- pel na adaptação muscular frente a
de extensão do joelho. Foram rea- lar, as MMPs tem sido classificadas alteração de demandas contráteis
lizadas biópsias musculares antes, em 6 subfamilias maiores quem e em resposta a lesão, sendo estas
após 4 e 22 dias de exercício. Os incluem as colagenases (MMP-1, a MMP-2 (também conhecida como
autores observaram um aumento MMP-8, MMP-13 e MMP-18), gelati- gelatinase A) e MMP-9 (gelatinase
do colágeno tipo IV no endomisio nases (MMP-2 e MMP-9), estromeli- B). Ambas pertencem a um grupo
após uma única contração excên- sinas (MMP-3, MMP-10 e MMP-11), de endoproteinases de cálcio e zin-
trica máxima sugerindo um remo- MMPs tipo membrana (MMP-14 até co que degradam o colágeno tipo
delamento da MEC. MMP-17), e outras MMPs como a IV e tem uma importante função
Moore et al. (24) avaliaram matrilisina (MMP-7), e metaloes- na homeostase da MEC durante a
o perfil do colágeno e de proteí- lastase (MMP-12) (33). O número morfogênese, proliferação e apop-
nas miofibrilares após contração de MMPs descritas tem aumenta- tose celular em uma larga gama de
muscular máxima em posição do, embora o atual conhecimento tecidos (37).
de alongamento e encurtamento sobre seus padrões de expressão Nos músculos esqueléticos
muscular. Ambas as situações de em vários tecidos permaneça in- normais os níveis de MMP-2 ativas
contração máxima provocaram completo (34). são relativamente baixos na MEC e
aumento na síntese das proteínas As MMPs podem degradar os a atividade da MMP-9 está ausente,
miofibrilares, entretanto durante componentes da matriz extracelular sendo que a expressão destas en-
o alongamento este aumento foi sendo que as colagenases (MMP-1 zimas sofre regulação por citocinas
mais rápido e maior quando com- e MMP-8) iniciam a degradação do e fatores de crescimento (37). No
parado a outra situação podendo colágeno tipo I, colágeno tipo II e entanto, o aumento de expressão
ocasionar hipertrofia muscular. outras fibrilas colagênicas; as gela- de ambas MMPs, -2 e -9, têm sido
A análise da síntese de colágeno tinases (MMP-2 e MMP-9) quebram demonstrado em várias miopa-
mostrou aumento desta proteína o colágeno tipo IV e outros com- tias e em condições inflamatórias
após contração máxima em ambas ponentes da matriz extracelular no músculo esquelético (Figura 2)
as formas de contração. enquanto que a MMP-9 também é (37,38). Além disso, o aumento da
Em contraste com o aumen- capaz de digerir colágeno tipo XI, MMP-2 também tem sido descrito
to muscular, durante o envelheci- and XIV (5,26). em situações de proliferação e di-
mento, imobilização e denervação, No músculo esquelético, as ferenciação de células musculares,
ocorre um aumento na concentra- MMPs desempenham um importan- cicatrização após injúria e manu-
ção da MEC no músculo sem uma te papel no desenvolvimento, ho- tenção do tecido conjuntivo circun-
alteração do conteúdo total do co- meostase e regeneração da matriz jacente (35).

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Vanessa Christina Santos Pavesi, Raquel Agnelli Mesquita-Ferrari, Dayane Aparecida Mesquita 71

Outros estudos evidenciaram estão implicadas na miosite focal, tivo e pode degradar vários coláge-
que a expressão de MMP-2 nos pois as amostras desta condição nos intersticiais (I-V) e a MMP-9 é
músculos esqueléticos sofreu au- não mostraram imunoreatividade produzida nos músculos principal-
mento após aplicação de estimu- para estas proteínas teciduais. mente pelas células inflamatórias e
lação elétrica crônica (39), após Reznick (42) avaliaram as sua expressão está aumentada em
corrida e após exercícios de alta MMPs após imobilização e verifica- condições inflamatórias severas.
intensidade (35). Já a expressão ram por meio de zimografia que a Apesar de MMP-2 e MMP-9 terem
de MMP-9 aumentou após aumen- MMP-2 sofre aumento de expressão os mesmos substratos elas são ex-
to crônico do fluxo sanguíneo (40), durante as 4 semanas de imobiliza- pressas e moduladas por diferentes
após corrida (35) e em fases ini- ção. Com relação a MMP-9 também citocinas e fatores de crescimento.
ciais da resposta inflamatória do foi possível observar uma aumento Por exemplo, TNF (fator de necrose
músculo frente à miotoxina (41), de expressão após esta imobiliza- tumoral) secretado pelos macrófa-
Rodolico et al. (36) estuda- ção e, além disso, deve ser ressal- gos regula positivamente mais a
ram o padrão imunoistoquímico das tado o fato de que esta protease MMP-9 do que a MMP-2.
MMPs 2, 7 and 9 em miosite focal e não foi detectada nos animais con-
compararam com polimiosite e der- trole, que não sofreram imobiliza- Inibidores de metalopro-
matomiosite. Os autores observaram ção. De acordo com os autores, o teinases (TIMPS)
que existe um aumento de imuno- papel da MMP-2 e MMP-9 provavel- Existem vários mecanismos
reatividade para MMP-9 nas células mente seja diferente uma vez que regulatórios que influenciam na
musculares em todas as miopatias e a MMP-2 é secretada por vários ação das MMPs sobre a degra-
sugerem que a MMP-2 e MMP-7 não tipos de células do tecido conjun- dação da MEC. Dentre estes, os

Figura 1: Fotomicrografias de marcação imuno-histoquímica para colágeno I, III e IV em músculos normais. O colágeno I (a,40x; b,100x;
c,400x) e III (d,40x; e,100x; f,400x) distribui-se de forma linear em torno do endomísio e perimísio. O colágeno III mostra uma marcação
mais intensa (d,e,f). O colágeno IV no endomísio (g, 40x) e perimísio (h, 100X; i,400x) mostra marcação mais delicada.

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72 Remodelamento do Músculo Esquelético: Papel da Matriz Extracelular

mais estudados são a regulação petitivas, é provável que a ativida- principalmente, para desenvolver
da transcrição, ativação de MMPs de da MMP proceda a atividade dos métodos de prevenção e reabilita-
latentes e inibição por TIMPs, uma TIMPs, e portanto, TIMPs servem ção de lesões musculares; seleção
família de proteínas que inibem como reguladores da degradação de tipo, carga e duração do exer-
seletivamente e reversivelmente terminal para garantir um limite de cício em treinamento físico e para
as MMPs (43). degradação. Para sustentar mais contribuir no desenvolvimento de
Os TIMPs são derivados das que uma reação de integração das novas terapias para doenças mus-
células musculares e secretados MMPs e TIMPs existentes, TIMP-2 culares congênitas e inflamatórias.
na MEC e se ligam as MMPs na tem se mostrando importante para Desta forma, o melhor entendimen-
forma de zimogênio regulando a uma ativação de pro-MMP-2 in to sobre a participação de MMPs e
formação e a maturação da MMP-2 vivo. TIMP-1 tem sido encontrada respectivos TIMPs na adaptação
e MMP-9 (31). TIMP-2 é conhecido correlacionada com ICTP em pa- tecidual frente aos diversos tipos
por se ligar mais efetivamente a cientes com câncer indicando ativi- de demanda torna-se um ponto
MMP-2, enquanto que TIMP-1 pos- dade em e controle da degradação crucial para o estabelecimento das
sui maior afinidade pela MMP-9. de colágeno (3). vias que estariam envolvidas e que
Assim, os níveis de atividade dos Embora MMPs e TIMPs sejam permitiriam o remodelamento do
TIMPs mudam em paralelo com as expressados no músculo, pouco é músculo esquelético.
alterações da atividade da MMP-2 e conhecido sobre seu papel no de-
MMP-9 (14,44). senvolvimento, remodelamento e Agradecimentos
Alterações no balanço entre função do tecido músculo esquelé- À Fundação de Amparo à Pes-
MMPs e TIMPs podem causar al- tico (46). quisa do Estado de São Paulo (FA-
terações na composição da MEC e PESP) pela bolsa de IC de Daya-
afetar as funções celulares (45). Considerações finais ne Aparecida Mesquita (processo
Curiosamente, TIMPs são as Os estudos sobre as modifica- no 07/55439-6) e de mestrado de
vezes ativados juntos com as MMPs ções da MEC no músculo esqueléti- Vanessa C.S.Pavesi (processo no
em resposta a atividade física in- co, em situações fisiológicas e pato- 07/52927-0). Ao Conselho Nacio-
dicando estimulação simultânea e lógicas, vêem sendo desenvolvidos nal de Desenvolvimento Científico
inibição da degradação. Em vez de para melhor compreender o papel e Tecnológico pela bolsa de Inicia-
considerar estas, como ações com- da cada proteína tecidual, mas, ção Científica de Juliana Baptista.

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Agenda de Eventos

13 A 16 de maio
II CIRNE
Congresso Internacional de Reabilitação
Neuromusculoesquelética e Esportiva
Minascentro, Belo Horizonte, MG
Informações: WWW.cirne2009.com.br

29 a 31 de maio
I Jornada de Fisioterapia Dermatofuncional do RS e o I encontro de ex alunos do curso de aprimoramento
profissional em Fisioterapia Dermatofuncional do Centro de Estudos e Qualidade de Vida.
Local: Porto Alegre- RS
Informações: (51) 3019-3373 ou www.vida-rs.com.br

Junho de 2009
XX CONGRESSO NACIONAL DA ABENEPI 10 A 13 de junho de 2009
The Royal Palm Resort, Campinas, SP
WWW.abenepi.com.br/xxcongresso
Informções: 11 3361-3053

XVIII Congresso Brasileiro de Fisioterapia


Fisioterapia Brasileira - 40 Anos Promovendo a Inclusão Social
Data: 14 a 17 de outubro de 2009
Local: Centro de Convenções SulAmérica
Tel.: 55(21) 2273-8827
Rua Paulo de Frontin, 1 - Centro - Rio de Janeiro - RJ - Brasil
http://www.jz.com.br/congressos/2009/cobraf/pt/

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A Revista Terapia Manual Fisio- Ao longo do texto evitar a men- buição. Os artigos que não apre-
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excetuando-se os resumos e re- crescente de importância. Deve dições, retornarão aos autores
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direita de 2cm, superior de 3cm em tese, dissertação ou mono- Requirements for Manuscripts
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deverá ser iniciada em uma nova o título, ano e instituição onde foi Updated October 2007. Disponí-
página, na seqüência: Identifica- apresentado; i) se foi apresen- vel em http://www.ncbi,nml,nih.
ção, Resumo, Descritores, Abs- tado em reunião científica (con- gov/books/bv.fcgi?rid=citmed.
tract, Key Words, Introdução, Mé- gresso, seminário), indicar o TOC&depth=2)
todos, Resultados, Discussão, nome do evento, local e data da O(s) autor(es) ainda deverá(ão)
Conclusão, Agradecimentos, Re- realização. enviar devidamente preenchi-
ferências, Tabelas, Figuras e Le- Os manuscritos submetidos à das a Declaração de Conflito de
gendas. A não observância das Revista Terapia Manual, que Interesses e Transferência de di-
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na devolução do manuscrito pela blicação de Artigos e que se co- As instruções, documentos e o pro-
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o direito de efetuar adaptações tica abordada, que considera-
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