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Direito Penal
Direito Penal
“Normalmente a primeira frequência corre mal”, por causa, sobretudo, dos mecanismos
de imputação, alertou o regente na primeira aula.
CASO PRÁTICO I “
António subtraiu sem autorização uma trotineta de um vizinho seu apenas para dar umas
voltas tendo-a devolvido algumas horas depois. Poderá aplicar-se a A o tipo previsto no
art.208º do CP?” Duas hipóteses: - Se for uma trotineta com motor é um “veículo
motorizado”, enquadrado pelo art. 208º. Trata-se de um crime contra a propriedade. - Se
for uma trotineta sem motor não há a prática do crime previsto no art.208º porque o
artigo não fala na trotineta e em direito penal não pode recorrer-se à analogia.
PRINCÍPIO DA LEGALIDADE (Art.1º CP) Só pode ser responsabilizado quem
pratica um facto (ninguém pode ser punido por antecipação). Quem pratica um facto
previsto em lei anterior à prática do facto.
CASO PRÁTICO II
“António possui 5 mil pesetas em moedas de uma peseta em casa. De acordo com o CP
de 82 quem guardar moeda estrangeira em valor superior a mil escudos é punido com
pena de multa de 120 dias. Com a entrada em vigor do euro saiu uma lei que alterou CP
em 2002 e que veio revogar aquele tipo penal. Poderá António ser responsabilizado
penalmente por ter tido moeda estrangeira em casa desde 1983 até hoje”.
R – Não porque a aplicação da lei penal no tempo determina que o facto punível
segundo a lei vigente no momento da sua prática deixa de o ser se uma nova lei o
eliminar do número das infracções (art. 2.º n.2 do CP). É o que acontece neste caso;
guardar moeda estrangeira deixou de ser um tipo penal e António não poderá ser
responsabilizado penalmente.
CASO PRÁTICO III
“A AR publicou uma lei que indica que durante o período do euro 2004 quem sem ter
título profissional habilitante transportar bebidas alcoólicas em veículos automóveis é
punido com pena de prisão até um ano ou multa até 500 dias. Se se descobrir em
Dezembro de 2004 que Alberto sem título que o habilitasse, transportou bebidas
alcoólicas em Junho desse ano, para o estádio da luz, poderá ser responsabilizado
penalmente?”
R – Poderá – se o tiver feito em veículo automóvel - porque o facto é passível de pena
nos termos do art.2º n.3
CASO PRÁTICO IV
“Em 15 de Março de 2002, António e Belarmino, praticaram crimes de furto qualificado
tendo em conta que os valor dos objectos furtados era superior a 3.500 euros. Em 16 de
Maio ambos foram julgados e condenados em pena de prisão de 4 anos. António
recorreu da decisão mas Belarmino não. Em 12 de Setembro quando ainda não havia
decisão de recurso pelo tribunal superior, saiu uma lei que veio considerar que o furto só
será qualificado caso o objecto furtado tenha um valor superior a 5.000 euros. A pena de
furto simples manteve-se inalterada sendo em ambas as leis de 3 anos de prisão.”
R – António será beneficiado, em relação a Belarmino, com a redução do período de
prisão a que tinha sido condenado. Pondo de parte a consequência material do recurso
que apresentou, só a circunstância de o ter apresentado, confere ao seu caso a
possibilidade de aplicação do disposto no art. 2º n.4 do CP. Ou seja, não tendo
transitado em julgado a sentença a que foi inicialmente condenado, António beneficiará
do regime mais favorável que a alteração da lei representa para o seu caso. Assim,
António terá de ser condenado por furto simples e não qualificado pelo que a sua pena
não poderá ultrapassar os 3 anos de prisão.
FINS DO DIREITO PENAL Os fins do direito penal (em sentido restrito) são
proceder a um ordenamento sancionatório tendo em vista a prevenção, a ressocialização
do delinquente e a sanção do agente.
FINS DAS SANÇÕES PENAIS PENA – É uma sanção criminal, de natureza
repressiva, que tem por fim punir e que tem vários fins. Primeiro a prevenção geral que
tem duas componentes (prevenção geral positiva – visa a integração - e a prevenção
geral negativa – visa a intimidação, a inibição). Segundo a prevenção especial em que a
ideia é prevenir através da acção sobre o(s) próprio(s) delinquente(s).
MEDIDAS DE SEGURANÇA – Não está em causa o “castigo”. Não mede a culpa do
agente mas sim a sua perigosidade. Por exemplo, mesmo que o condutor não tenha
culpa, se for perigoso, pode ser proibido de conduzir.
CASO PRÁTICO IX
Fernanda, portuguesa, enviou por via postal ao seu marido, um bolo feito por suas
próprias mãos, condimentado com uma doze razoável de estricnina. Este encontrava-se
em França, onde recebeu o bolo e o comeu, tendo, em consequência, falecido. a)
Poderia Fernanda ser julgada pela lei penal nacional? b) Imagine que Fernanda o fizera
em França, tendo fugido para Portugal dois meses depois. Poderia ser aplicada a lei
penal portuguesa, sabendo-se que em França o homicídio é punido com uma pena de
limite máximo inferior em dois anos do limite máximo da lei penal portuguesa? R –
Pode: Art. 5.º n.1 d) se não pudermos considerar que o facto se praticou em Portugal ou
Art. 7.º n.1 se considerar-mos que foi praticado em Portugal.
R – Poderia ser aplicada a lei portuguesa, segundo o princípio da nacionalidade. Art. 5.º
n.1 d). Poderia aplicar-se a lei francesa por ser a mais favorável ao agente (Art. 6º n.2)
Estão subjacentes, à aplicação no espaço, os seguintes princípios: Princípio da
Territorialidade (Art. 4º) – Os crimes cometidos no território de um Estado,
independentemente da nacionalidade do agente, do ofendido e dos bens em causa, são
tratado pela lei desse Estado. O critério confere poder jurisdicional ao pais onde o facto
foi cometido ou onde os resultados se produziram (art. 7º).
PRINCÍPIOS COMPLEMENTARES OU SUBSIDIÁRIOS (por ordem de
importância): Princípio da defesa (ou realista) (Art. 5º n.1 alinea A) – A lei aplicável é a
da nacionalidade do bem jurídico violado (independentemente da nacionalidade quer
doa gente quer do local onde é praticado). – Um principio importante porque hoje temos
muitos crimes praticados à distancia.
Princípio da Justiça Universal – O agente é sujeito à lei do país onde foi encontrado.
Princípio da Nacionalidade Activa (ou personalidade) (Art. 5º, n.1, alínea C primeira
parte) – A lei aplicável é a do país de origem do delinquente (independentemente do
local em que ele se encontre) – Trata-se de um princípio superlativo que tem como
objectivo que não haja impunidade. Principio da Nacionalidade Passiva (Art. 5º n.1,
alinea C segunda parte) – Crimes praticados por estrangeiros contra portugueses
Principio da Nacionalidade Activa e Passiva (Art. 5º n.1, alinea D) – Pressupõe uma
espécie de fraude à lei. Impedir que um português cometa fora do pais, no estrangeiro,
um facto que no local não é crime mas que em Portugal é crime (é o caso do aborto).
Princípio de aplicação supletiva (Art. 5º n.1, alínea E) – Aplicável a estrangeiros que
cometeram crimes contra estrangeiros e que se encontrem em Portugal não sendo
possível a extradição. Principio da aplicação convencional da lei penal portuguesa (Art.
5º n.2) – Quando, por acordo ou convenção internacional, Portugal tenha obrigação de
julgar. Princípio da Representação – Aplica-se a lei do país a crimes cometidos em
embarcações ou aeronaves.
CASO PRÁTICO X
Em 1 de Janeiro de 2003 entra em vigor a lei X/2003 com o seguinte conteúdo:
Considerando a existência de uma grave situação de epidemia, a confecção de ou
distribuição de géneros alimentares com compostos de aves será punida com pena de 1 a
3 anos de prisão. Mantendo-se a presente tipificação enquanto vigorar o surto
epidémico. Em 1 de Fevereiro de 2003 Almerinda, portuguesa, assistente de bordo em
avião português, confecciona e serve a alguns passageiros, quando o avião atravessava
espaço aéreo espanhol, uma receita de aves de caça que, com o seu conhecimento, não
se encontravam em boas condições de consumo.
Em 1 de Abril de 2003, é publicada para entrada imediata em vigor, a lei XY/2003 que
revoga a lei X/2003. Quid Júris?
R – Aplica-se a lei portuguesa (art. 4º alínea B). O principio da territorialidade é o
primeiro da aplicação da lei no espaço. Esta alínea B do art. 4º é precisamente uma
extensão deste principio. Além deste há o aspecto da aplicação da lei no tempo: A lei X,
que é uma lei temporária (art. 2º n.3), é a lei em vigor no momento da prática do facto
(art. 3º) logo é a lei que se aplica a este caso e não a lei nova. Assim Almerinda incorre
numa pena de prisão de 1 a 3 anos.
TEORIA DA LEI PENAL PRINCIPIO DA LEGALIDADE – Tem como base duas
coisas; a exigência de que os normativos aplicáveis estejam devidamente aprovados e
em vigor e No direito penal o Principio da Legalidade funciona também como
mecanismo de prevenção geral. No inicio do sec. XIX, Anselm Feuerbach – Dizia
“nullum crimen, nulla poena, sine lege” – Relaciona a previsão (o crime) da norma com
a sua estatuição (pena) sendo que ambos tem que estar previstos na lei. No sec. XX
começa a ser um postulado de garantia. Não só a generalidade dos cidadãos conhece as
normas legais como tem nelas o limite do estado de direito.
O principio da legalidade é assim também um aspecto garantistico para o cidadão. Não
há estado de direito sem principio da legalidade. Garantias do Principio da Legalidade: -
Art. 1º do CP – “Só pode ser punido criminalmente o facto descrito (…) por lei anterior
ao momento da sua prática”.
Há aqui a negação da retroactividade. - Nullun crimen, nulla poena, sine lege previa
(nenhum facto pode ser crime sem uma lei anterior que o qualifique). - Nullun crimen,
nulla poena, sine lege certa (a norma tem que ser “suficientemente densa” determinada
com suficiente precisão, como diz o Prof. Gomes Canotilho). - Nullun crimen, nulla
poena, sine lege scripta (o costume é excluido como fonte de directo, excepto o costume
internacional). - Nulla poena sine judicio (Não pode haver pena sem julgamento).
A RESERVA DE LEI DA AR – É mais utilizada nas questões de processo penal do
que no código penal. É reserva da AR tanto a criminalização como a descriminalização.
CASO PRÁTICO
Alberto decidiu atentar contra a vida de Belmiro enquanto este se encontrava em
viagem de comboio de Lisboa para Coimbra. Introduzindo-se na carruagem onde aquele
seguia, apontou uma arma e disparou dois tiros mortais, 30 segundos depois, em
consequência de um desvio da linha férrea, houve um descarrilamento no qual todos os
passageiros com excepto Alberto, perderam a vida.
R – Há aqui um crime de dano (e não apenas um crime de perigo), um crime de
resultado (evento que se destaca espacio-temporalmente da acção do agente), em que é
possível a imputação a Alberto. É preciso analisar a causa-efeito, uma vez que se trata
de um crime resultado. Logo terá de aplicar-se a teoria da causalidade adequada. A
questão está em saber, também, se é razoável acusar Alberto de homicídio quando
Belmiro teria morrido mesmo sem a sua acção. É que poderá haver uma interrupção ou
desvio do nexo-causal. Não é este o caso. Estamos perante a irrelevância das causas
virtuais e hipotéticas.
Crimes de Perigo Comum – Quando estão em causa vários bens jurídicos. Exemplo de
norma proibitiva de Crime de Perigo Abstrato: - Quem transportar explosivos mal
acondicionados é punido com pena de prisão até 2 anos ou com pena de multa até 240
dias. Exemplo de norma proibitiva de Crime de Perigo Concreto: - Quem transportar
explosivos mal acondicionados, colocando em perigo a vida de outrem, é punido com
pena de prisão até 3 anos ou com pena de multa até 340 dias.
CASO PRÁTICO
Alberto, funcionário judicial, decidiu emprestar ao seu filho um veiculo automóvel,
propriedade do tribunal onde exerce funções, para que aquele tivesse carro no fim-
desemana. Quid Júris?
R – Há uma acção jurídico-penalmente relevante (comportamento humano dominável
pela vontade). É um crime tipificado – Peculato de Uso, art. 376º. É um crime de mera
actividade (crime formal). Não é necessário fazer imputação objectiva. Basta alguém ter
emprestado o carro para que se preencha o tipo. Estamos perante um caso de crime
especifico próprio. No entanto, neste caso, é preciso ver a qualidade do agente. Há dois
tipos de crimes quanto à qualidade do agente: Crimes Comuns - Aqueles que qualquer
pessoa pode praticar. Exemplo, o homicídio simples. Quase sempre quando a norma
começa por “quem…” são crimes comuns. Crimes Específicos – Aqueles em que se
exige uma qualidade para que haja tipo. Crimes Específicos Impróprios – Qualquer
pessoa pode praticar mas se detiver uma determinada qualidade a moldura penal será
diferenciada.
CASO PRÁTICO
Anabela queria conhecer a casa de Barreiros, conhecida estrela. Para tal e usando o seu
cartão de funcionária das finanças, decidiu dirigir-se à residência de Barreiros,
indicando que estaria em funções de investigação e, mesmo contra a vontade do
proprietário, entrou. Quid Júris? Imagine que em vez de Anabela tinha sido o seu
marido, que é pedreiro por conta própria, a entrar.
R – Há uma acção. Um crime formal, especifico impróprio (art. 378º). È um crime
comum (pode ser praticado por qualquer pessoa – a violação de domicilio) art. 190º n.1.
O facto de ser praticado por um funcionário público em abuso de autoridade agrava a
responsabilidade / pena. R 2 – No caso de ser o marido de Anabela, aplica-se o n.1 do
art. 190. Nesse caso é um crime comum.
CASO PRÁTICO
Manuel Triste, republicano fervoroso, descobre que D. Isabel Herédia está grávida e,
furioso, resolve “acabar com o problema”. Para tal observa os hábitos da senhora perto
da sua residência e , sabendo que alguns dias é a própria que conduz, decide colocar
explosivos na viatura. A caminho da cafetaria onde ia habitualmente, o carro explode e
morre D. Isabel, grávida de 18 semanas, e o motorista.
R – Manuel Triste é autor da prática de vários crimes previstos e punidos pelo CP.
Comecemos por atender ao crime de homicídio de D. Isabel de Herédia, que
entendemos constituir um Crime de Homicídio Qualificado, nos termos da alínea E do
n.2 do art. 131 do CP e uma vez que, de acordo com a teoria da infracção penal se
verifica a existência de todos os elementos necessários a tal incriminação.
Nomeadamente:
- Há acção – um comportamento humano dominável pela vontade tendente a atingir
uma finalidade.
- Há um crime tipificado – Foi ofendido o bem jurídico vida, com o dano morte, o que
prefigura um crime de resultado, (Sendo um crime de resultado é necessário fazer a
imputação objectiva) – Atribuir aquele resultado à acção ou omissão de alguém.
Neste caso à acção de Manuel Triste. É preciso estabelecer um nexo de causalidade.
Assim, de acordo com a teoria da causa apta a produzir aquele resultado – através da
técnica da prognose póstuma (que consiste em ser ou não “previsível para o homem
médio que a colocação daquela bomba no automóvel iria causar aquela morte”).
Além desta, há outras teoria, nomeadamente a de sine qua non (afastada pela doutrina),
e a teoria do risco. Trata-se de um crime de agente comum, de forma livre.
Em termos de imputação subjectiva, de acordo com o art. 14º n.1, trata-se de um crime
praticado por dolo directo uma vez que tanto o elemento cognitivo como o volutivo são
muito fortes. É preciso ver ainda: A ilicitude E a culpa Ainda não aprendemos ambas.
Em relação à morte do motorista, em termos de imputação objectiva o caso é igual ao de
Isabel de Herédia. Já quanto à imputação subjectiva há diferenças relevantes. Neste caso
trata-se de dolo eventual uma vez que os elementos cognitivo (ele não sabia que o
motorista iria morrer embora soubesse que assim pudesse acontecer) e volitivo (não
queria que o motorista morresse mas conforma-se com a possibilidade de isso
acontecer) são muito fracos. Embora neste caso exista “apenas” dolo eventual o tipo é
igualmente crime de homicídio qualificado uma vez que a motivação é da mesma forma
o ódio politico. Seria a mesma coisa, em relação à motivação, se em vez de dolo
eventual fosse dolo directo ou dolo necessário.
Há ainda a ver o aspecto de D. Isabel de Herédia estar grávida. Trata-se de um crime de
aborto (art. 140º do CP), um crime de resultado, crime de dano, e, fazendo-se a
imputação objectiva é importante o facto de o agente saber que a senhora estava
grávida.
O agente sabia que o explosivo era apto a produzir a morte do feto. Em termos de
imputação subjectiva, existe dolo directo uma vez que os elementos cognitivo e volitivo
eram muito fortes.
O agente sabia que o feto iria morrer e queria esse resultado. Se o agente desconhecesse
que a senhora estava grávida seria um caso de negligencia inconsciente. Neste caso o
agente não seria responsabilizado pela morte do feto porque o crime de aborto na forma
negligente não está tipificado. Além de tudo isto há aqui também um perigo de
explosão. Crime de perigo comum (art. 272º).
CASO PRÁTICO
António, irritado com Bernardo, dá-lhe um murro no nariz provocando-lhe uma
escoriação. Contudo, e uma vez que Bernardo era hemofílico, ficou com uma
hemorragia que não estancou acabando por falecer. Quid Juris
R – Há acção (comportamento humano dominável pela vontade), tipicidade (ofensas à
integridade física – art. 143º), é um crime de resultado, logo teremos de fazer a
imputação objectiva:
De acordo com a teoria da causalidade adequada, a acção é adequada a produzir o
resultado. Em termos de imputação subjectiva, o elemento cognitivo (sabia que aquela
agressão produzia uma dano físico) e volitivo (queria produzi-la) são fortes, logo existe
dolo directo. Acontece que, com a morte, o crime é agravado pelo resultado (art. 18º). É
um crime que “vai para além da intenção” (Crimes Praeter Intecionais).
ERRO SUPOSIÇÃO – Chama-se também Tentativa Impossível. Art 23º n.3. (Um
caçador vê um movimento atrás do arbusto, quer matar o outro caçador, e dispara,
matando o cão de outro caçador). O caçador esta em erro. Um erro suposição. Ele supõe
que está lá uma pessoa, fica convencido que está a praticar um homicídio, mas está em
erro porque não está lá a vida humana. Este erro é uma tentativa impossível e não é
punível pelo direito penal.
CASO PRÁTICO
António decidiu matar Bernardo. Ao ver na rua principal da cidade passar um homem
com a estatura de Bernardo e convencido de que seria ele, António disparou
mortalmente. Contudo o homem em quem acertara era Cardoso. Quid Iuris?
R – Há uma acção jurídica e penalmente relevante, o bem jurídico é a vida, logo existe
um crime de homicídio. A conduta do agente foi adequada a produzir a morte da vítima.
Há aqui, no entanto, um erro ignorância, quanto ao objecto, mas não quanto ao bem
jurídico, logo o erro é irrelevante. Quando se trata de bens jurídicos idênticos o erro
ignorância é irrelevante. António seria punido por um crime de homicídio. E o dolo é
directo.
Exemplo de “ultrapassagem” do risco permitido: Um industrial alemão fabricava
pincéis com pelos de cabra. Esses pelos exigiam um desinfectante especial porque senão
poderiam provocar a morte de quem os manuseasse. O industrial não usou o
desinfectante e quatro funcionárias morreram. O tribunal considerou que o industrial era
responsável pelas mortes. O risco era superior ao permitido.
Em Portugal a teoria dominante é a da causalidade adequada. Deve-se ao Prof.
Figueiredo Dias ter introduzido na nossa doutrina a teoria do risco. Os mentores da
escola de Lisboa (Prof. Cavaleiro Ferreira) e da escola de Coimbra (Prof. Eduardo
Correia) acolheram a mesma corrente. No fundo é a corrente que tem como principal
referencia internacional o Prof. Klaus Roxin.
O DOLO (Art. 14º do CP) Neste artigo estão previstas três modalidades de dolo:
- DOLO DIRECTO – Implica elemento Cognitivo (consciência da possibilidade da
acção produzir o resultado) e Volitivo (vontade de produzir o resultado).
- DOLO NECESSÁRIO – Implica elemento Cognitivo mas menos do elemento
Volitivo. - DOLO EVENTUAL – Implica menos do elemento Cognitivo e menos do
elemento Volitivo. A figura do dolo teve origem no direito romano onde era a
responsabilidade pela provocação de um resultado (ora isto é mais culpa do que dolo).
O direito germânico era muito mais objectivista. O que interessava era a imputação
objectiva de um dano ao agente. Saber se tinha culpa ou não era menos importante.
DOLO – É o conhecimento e a vontade da realização do facto típico. O prof. Figueredo
Dias inclui ainda, além dos elementos intelectual e volitivo, um elemento emocional: “a
atitude do agente em relação à norma jurídica violada”.
Os outros autores como a Dra. Teresa Beleza, Prof. Rui Pereira e Prof. Rui Palma, não
concordam. Consideram só existirem os dois primeiros elementos.
- O ELEMENTO INTELECTUAL ou COGNITIVO – É o conhecimento de todos os
elementos da factualidade típica. Exemplo de elementos da factualidade típica: No
crime de homicídio o elemento da factualidade típica é uma pessoa viva. No crime de
furto é o bem alheio.
- O ELEMENTO VOLITIVO, da vontade – A resolução de executar a acção típica
pelo agente. Tem que haver uma base de vontade mínima e isso não tem nada a ver com
uma ilusão, um desejo ou uma esperança.
DOLO ANTECEDENTE existe uma intenção prévia do agente que não tem nada a ver
com a acção. Exemplo: A quer matar B e vai planear um acidente de caça para o matar.
Mas acaba por não executar o plano. No entanto, por uma circunstancia negliegente,
acaba por matar o outro. Neste caso o dolo não tem efeitos.
DOLO CONSEQUENTE – Exemplo: A dispara contra B. A não promove o seu
auxilio e B morre por se esvair em sangue. São duas coisas distintas. O dolo reporta-se à
omissão ausente.
Caso Prático
Um grupo de turistas visita uma gruta sem saída onde se encontram já sete pessoas. Ao
entrar um gordo fica entalado à porta da gruta. Não há maneira de alimentar os
enclausurados. Perante o perigo de vida das pessoas encurraladas será licito colocar em
em causa a vida do gordo? Sete vidas valem mais do que uma? Não. Juridicamente essa
comparação não pode ser estabelecida.
Caso Prático
Ana segue numa caminhada pela serra e, com mais 2 pessoas, iniciam uma descida.
Ficaram em risco. Mas Ana só tinha um cabo para auxiliar um deles. Assim um salva-se
mas Bento cai do penhasco e perde a vida. Quid Júris?
R – Há uma omissão imprópria - quando Ana tem uma posição de garante material, por
deter o monopólio dos meios de salvamento - que produz um crime de homicídio. Ana
sabe que vai produzir a morte, embora não queira. Há dolo necessário. Na ilicitude
existe uma causa de exclusão: há um conflito de deveres (deve salvaguardar dois bens
mas só consegue salvar um). Para isso terá de satisfazer-se o dever de valor igual ou
superior. Neste caso os bens (vidas humanas) são iguais. Caso Prático: António está
prestes a desferir um tiro em Bernardo. Contudo Cardoso, rival politico de António,
arremessa-lhe um tijolo à perna para se livrar dos recentes resultados eleitorais. Ao fazê-
lo e com a dor provocada pelo embate, António desvia a trajectória do tiro e não acerta
em ninguém. Quid Júris?
Caso Prático:
Ana entra na sua sala e encontra Bertolino com uma faca apontada ao pescoço da sua
colega Carla. Sem pensar em mais nada agarra num agrafador que estava em cima da
escrivaninha e atira-o ao braço de Bertolino. Bertolino fica com o braço ensaguentado.
Bertolino e Carla, actores amadores, estavam a ensaiar a ultima cena da peça “mais vale
tarde do que sangue no alguidar”. Quid Júris?
R – Estamos perante uma acção jurídico-penalmente relevante, fazendo-se a imputação
objectiva vê-se que a acção produziu aquele resultado (trata-se de um crime de resultado
– crime contra a integridade física). É preciso fazer também a imputação subjectiva.
Assim é preciso apreciar se existem os pressupostos da legitima defesa, de terceiro. Não
existem. Não há agressão actual e ilícita (primeiro pressuposto). O que há é uma má
percepção da realidade por parte do agente. Um erro (art. 16º n.2), uma legitima defesa
putativa. Os requisitos: se a ameaça existisse o meio seria necessário, havia também
animus defendendi. A consequência do erro do 16º n.2 é a exclusão do dolo. O agente
só pode ser punido a titulo de negligência (art. 148º - ofensas à integridade física por
negligência). Ana poderia ser responsabilizada por ofensa à integridade física por
negliegência.
Caso Prático:
Anabela vê o seu amigo B ser mordido por uma cobra. Sem pensar duas vezes e vendo o
seu amigo a desmaiar decide agarrar num canivete e fazer-lhe um corte para extrair o
sangue impregnado. Quando B retoma a consciência fica indignado e diz-lhe que acha
inadmissível o corte que lhe fez afirmando-lhe que nunca lhe permitiria tal coisa se
estivesse consciente.
R – Há uma acção de Anabela (um comportamento humano controlável pela vontade).
É uma acção típica (trata-se de uma agressão à integridade física de B – art. 143º).
Quanto à ilicitude existe uma causa de exclusão da ilicitude: o Consentimento
Presumido (art. 39º).
Autor Material – É aquele que pratica os factos por si mesmo (art. 26º) Instigador –
Alguém que convence outra pessoa a praticar um facto, que lhe cria a vontade de
praticar o facto. Cúmplice Material – O que presta ajuda de meio (fornece o meio para a
prática do facto). Cúmplice Moral – O que presta ajuda na preparação O cúmplice não
entra no domínio do facto. A vontade é do autor. O cúmplice é o que tem a menor
intervenção. É por isso que é punido com uma pena especialmente atenuada (art. 27º). O
artigo diz que o cúmplice é punido com a pena fixada para o autor especialmente
atenuada. Atenção que isto não quer dizer que será punido com uma pena igual á do
autor de que foi cúmplice, porque isso quereria dizer que se aplicaria o mesmo grau de
culpa a ambos Mas antes que se aplica uma atenuação à pena que se fixaria para o
cúmplice se ele próprio fosse o autor (precisamente porque só pode ser punido pela sua
própria culpa). Autor Mediato (autor moral) – É aquele que actua por intermédio de
outro (o autor material).
A diferença em relação ao Instigador é que no caso do Autor Mediato o autor material
não tem uma vontade relevante. Há portanto uma instrumentalização. Co-autoria – Os
agentes acordam praticar o facto em conjunto. I convence A a matar B. A mata porque
sabe que B sofre de uma doença terminal. I é o instigador. A é o autor material. Qual é a
responsabilidade de cada um deles? Começa-se sempre pelo autor material. Assim: A
praticou uma acção jurídico-penalmente relevante, típica (um homicídio), ilícita, não há
causas de exclusão da culpa nem da ilicitude. No entanto ele matou porque não
conseguia ver o sofrimento do B, ou seja, por compaixão (art. 133º). É um homicídio
privilegiado (tem a ilicitude do homicídio simples mas tem uma culpa diminuta, logo
uma pena bastante atenuada). Como se apura a responsabilidade do Instigador? O
princípio da culpa é fundamental (porque é um elemento pessoal). A tipicidade e
ilicitude é igual à do autor. A culpa é que será diferente. No caso do autor há culpa
privilegiada. Mas o instigador não tem essa culpa. Logo será punido por homicídio
simples (terá uma pena mais pesada). Art. 26º (estende a tipicidade e a ilicitude ao
instigador) e 29º (limita a pena ao grau de culpa de cada participante – teoria da
acessoriedade limitada). Teoria da acessoriedade limitada – É possível estender as
circunstâncias de ilicitude do autor para o co-participante mas o que não se pode
estender é a culpa. A culpa terá de ser aferida autonomamente para cada um deles. (O
principio da culpa deve sair na segunda frequência)
Caso Prático
Alberto decidiu matar o seu vizinho Bento por saber que este tinha intenção de sair do
país sem lhe pagar o que devia. Para tal pediu ajuda a Cardoso o qual lhe forneceu uma
arma de dois canos para o efeito. Alberto entrou em casa de Bento e ao vê-lo disparou
acabando porém por acertar em Daniela, mulher daquele, que ficou gravemente ferida
num braço. Ao contar o sucedido a Cardoso, já depois de ter saído dali, este disse-lhe
que, se fosse a si, saia do país e que o melhor era subtrair o Mercedes do vizinho para
não dar nas vistas. Alberto fugiu para Espanha com o carro de Bento. Quid Júris?
R – Alberto é o autor material. Há um erro na execução do crime. Há actos de execução
(art. 22º n.2 alinea B) pelo que em relação a Bento há uma tentativa de homicídio. Em
relação à mulher, Daniela, há dolo (teve intenção) mas atingiu-a por negligência. Pode
ser punido por ofensa à integridade física por negligência (art. 148º). Cardoso é
cúmplice material (forneceu o meio para o crime) art. 27º. Estende-se a ilicitude e a
tipicidade do autor ao cúmplice, pela teoria da assessoriedade limitada. Em relação à
tentativa de homicídio o cúmplice seria também punido mas não em relação à ofensa à
integridade física porque foram praticadas por negligência e não há transmissão dos
elementos ilicitude e tipicidade sem dolo. Quando ao crime de furto do automóvel,
temos um autor material – Alberto que leva o carro – e um instigador - Cardoso porque
convenceu o outro. O instigador seria responsabilizado através da teoria da
assessoriedade limitada. A ilicitude do autor estende-se-lhe. Só a culpa é que não se lhe
transmite. Caso Prático: Alberto, patrão de Bruno, menor de 15 anos, pagou 500 euros a
Carlos para praticar actos homossexuais com o menor. Carlos assim o fez. Quid Júris? R
– Art. 174º, 175º e 177º
Caso Prático
António pagou 500 euros a Bento para ofender a integridade física do namorado da sua
filha, Gastão. Bento aceita o dinheiro e paga por sua vez 250 euros a Cândido para
efectuar o trabalho. Cândido deu vários murros em Gastão deixando-o com um
traumatismo craniano. Quid Júris?
R – Trata-se de um crime de ofensas à integridade física (art. 143º), um crime de
resultado. Em relação a Cândido há imputação objectiva e imputação subjectiva. Não há
causas de exclusão da ilicitude nem da culpa. Quanto a António é o instigador (art. 26º),
foi ele que criou a vontade relevante para a prática do crime, pagando. O Prof. João
Raposo defende que se o instigador tinha como vontade convencer alguém a praticar um
crime mas não é esse segundo que o vai praticar mas sim um terceiro existe uma
“aberratio ictus” (um erro na execução). O mesmo professor João Raposo tem outra
teoria: Admite que há um desvio no nexo causal mas é um desvio irrelevante pelo que o
instigador continua a ser o primeiro. Ou seja, a instigação determina-se pela criação da
vontade relevante. O assistente da cadeira prefere esta segunda teoria.
Bento seria um cúmplice (art. 27º). Teria de aplicar-se a teoria da acessoriedade
limitada. Tanto em relação a A como a B não existem causas de exclusão da ilicitude
nem da culpa.
CÚMULO JURÍDICO (art. 77º) – Não se faz o cúmulo aritmético. Quando alguém
pratica vários crimes aplica-se uma pena como se o conjunto fosse apenas um único
crime. Existem balizas, o limite máximo é a soma das penas de todos os crimes
praticados pelo agente e o limite mínimo é a pena do crime mais grave cometido pelo
agente. O juiz soma as penas que aplicaria ao agente por cada uma das penas, encontra
uma nova “moldura penal” e volta a fazer o cruzamento entre essa nova “moldura
penal” e a medida da culpa do agente.
Caso Prático
António, Maria e José decidiram entrar num plano para assaltar o Banco Espírito
Comercial. Para tal arranjaram umas meias de vidro, enfiaram-nas na cabeça e
dirigiram-se à dependência de Vila Nova de Cima. António e José entraram no banco
tendo Maria ficado à porta para verificar se aparecia alguém. Maria, muito nervosa, e
começando a pensar nos seus filhos, decidiu ir à policia e denunciar todo o sucedido.
António e José foram surpreendidos quando se encontravam à porta do banco com
milhares de euros, prontos para fugirem. Quid júris?
Caso Prático
Artur, Bento e Carlos decidiram assaltar uma ourivesaria em Setúbal e gizaram um
plano nos termos do qual, durante a noite, o primeiro arrombaria a porta, o segundo,
armado com uma pistola, ficaria na rua para verificar se alguém se aproximava e o
terceiro entraria na loja para retirar as jóias mais valiosas. De seguida pôr-se-iam em
fuga num automóvel conduzido por Artur, o qual haviam pedido emprestado a Duarte.
Ainda Artur não acabara de forçar a porta da ourivesaria quando surgiu o primeiro
contratempo: Ernesto, policia de serviço, passou ocasionalmente pelo local. Bento
disparou contra ele dois tiros. O primeiro acertou-lhe no tórax e o segundo passou ao
lado e acabou por acertar em Hermínio que escondido atrás de uns arbustos e não
percebendo até a presença dos assaltantes, se preparava também ele para disparar sobre
Ernesto uma vez que descobrira naquele dia ser aquele amante da sua mulher. Carlos
assustado com tudo o que estava a acontecer decidiu desistir do assalto abandonando os
seus colegas, no entanto estes perseguiram-no e Artur entrou na loja retirando jóias no
valor de 100 mil euros. Atraído pelo ruído, Fernando, que vivia nas redondezas, foi
averiguar o que se passava. Viu Ernesto que se esvaia em sangue mas decidiu não pedir
auxilio porque pensou que ele já estava morto. Receoso de contactos com a policia
resolveu mesmo afastar-se rapidamente. Foi nessa altura que a policia, alertada por um
vizinho que ouvira os tiros, chegou ao local. Vendo Fernando que se retirava, Gil,
agente da polícia, pensando que se trataria de um dos assaltantes, ordenou-lhe que
parasse. Fernando pôs-se em fuga e Gil disparou em direcção às pernas daquele mas
acabou por lhe acertar num pé. Em consequência dos factos descritos Hermínio teve
morte imediata. Ernesto, que ainda estava vivo quando a policia chegou ao local,
morreu a caminho do hospital. Fernando acabou também por morrer mas apenas porque
por ser hemofílico não foi possível
estancar em tempo útil a perda de sangue motivada pelo tiro no pé. Determine a
responsabilidade jurídico-penal dos intervenientes. R – Quanto à autoria, Artur, Bento e
Carlos são co-autores. Ernesto será, à partida, um cúmplice. Bernardo disparou contra
Ernesto. Existe uma acção jurídico-penalmente relevante, que configura um crime de
homicídio (131º), um crime de resultado, em que existe um evento que se destaca
espacio-temporalmente da acção, pelo que terá de ser estabelecido o nexo causal e feita
a imputação objectiva. Para isso existem várias teorias:
- Teoria da equivalência da condição – Saber se o agente produziu a causa sem a qual
aquele resultado não se produziria. - Teoria da causa adequada – Saber se o agente deu a
causa apta à produção daquele resultado. Neste caso teremos de aplicar o mecanismo da
prognose póstuma (verificar se para um homem médio com os conhecimentos do agente
era previsível que a sua acção produziria aquele resultado).
- Teoria do risco – O agente é responsável quando cria, aumenta ou não diminui um
risco não permitido pela ordem jurídica. E através da teoria da causa adequada está feita
a imputação objectiva. A acção produziu aquele resultado.
Depois terá de ser feita a imputação subjectiva: Podemos concluir que há dolo directo
ou dolo necessário. Há elemento cognitivo (ele sabe que disparando contra o tórax de
Ernesto o pode matar) e pode ou não haver elemento volitivo conforme ele tenha ou não
pretendido atingir realmente o tórax. Neste caso podemos argumentar por uma das duas
hipóteses. Não há causas de exclusão da ilicitude, nem da culpa nem da pena. Ao
disparar o segundo tiro Bernardo em vez de acertar Ernesto atinge Hermínio. Há
aberratio Ictus, um erro na execução. Relativamente ao bem jurídico que o agente tentou
atingir há uma tentativa, neste caso de homicídio, em relação ao bem jurídico atingido
existe um crime de homicídio, não com dolo, apenas por negligência porque o agente
não actuou com o dever objectivo e subjectivo de cuidado a que estava obrigado de
forma a não provocar aquele resultado. Teremos então uma situação de negligência e
poderemos, face à hipótese em concreto, sustentar que é consciente ou inconsciente. É
preciso é fundamentar se o agente se conformou ou não com o resultado produzido. Há
por isso uma tentativa por negligência. Acontece que ao atingir Hermínio, Bernardo
impediu que este eventualmente disparasse sobre Ernesto, logo poderá existir aqui uma
legitima defesa de terceiro.
Os requisitos e os pressupostos estão reunidos: a acção foi necessária, a ameaça era
actual e ilícita. Há que verificar também se há animus defendendi (o agente saber e
querer actuar em legitima defesa). Sobre isto a doutrina divide-se. Há autores que
dispensam a obrigatoriedade de animus defendendi (Prof. Germano Marques da Silva e
Prof.ª Fernanda Palma) e outros que exigem esse elemento para se poder considerar
legitima defesa. Neste caso não faz no entanto qualquer sentido considerar que se trata
de legítima defesa porque o agente não está a actuar para tutelar o terceiro mas sim para
ele próprio atentar contra o bem jurídico vida. Há um assalto. Mas Carlos decide desistir
do crime. Aplica-se o art. 25º porque é um caso de desistência em comparticipação.
Carlos praticou apenas actos de execução (art.22º) e uma vez que desistiu temos que ver
se a sua desistência é ou não relevante para a sua punibilidade. Não é relevante porque
ele nada fez para impedir o crime, logo os pressupostos do art. 25º não se verificam. No
elemento subjectivo, ele tinha dolo. Não há causas de exclusão da ilicitude nem da
culpa. Se não fosse um caso de furto qualificado haveria tentativa? Sim porque há uma
condição objectiva de punibilidade – ser um crime com uma moldura penal superior a
três anos (art. 23º n.1). Bento e Artur são co-autores de um crime de furto. Trata-se de
um crime de resultado (fazer a imputação objectiva e a imputação subjectiva). No caso
de Duarte (que emprestou o carro) é cúmplice material – porque ele tinha dolo de
cumplicidade, sabia que o carro se destinava à prática de um crime (art. 27º). O
cúmplice é responsabilizado aplicando-se a teoria da acessoriedade limitada –
estendendo-se as circunstancias da ilicitude e da tipicidade dos autores ao cúmplice,
exceptuando-se a culpa. Verifica-se depois a sua culpa. A pena a aplicar terá de ter em
conta o art. 27º n.2 e o art. 73º. Fernando não auxiliou Ernesto que se esvaía em sangue
porque pensou que este já estava morto. Há uma omissão própria (art. 200º) porque ele
nada fez para evitar a produção do resultado morte. Isto se considerar-mos que
Fernando não tinha uma posição genérica de garante, de fonte material, uma vez que
tinha o monopólio dos meios de salvamento (porque foi o único que viu Ernesto ferido).
Se considerarmos que tinha essa posição de garante Fernando poderá ser punido por um
crime de homicídio negligente (art. 137º).
No entanto existe um erro sobre as circunstancias de facto, sobre o objecto (Fernando
desconhecia que estava lá uma vida) porque Fernando não se apercebeu de que Ernesto
ainda estava vivo (art. 16º n.1). Neste caso o dolo seria excluído pelo que Fernando
poderia ainda ser punido por homicídio por negligência se concluirmos que tinha o
dever de verificar se Ernesto estava vivo. Trata-se de uma negligência inconsciente
porque se o agente pensou logo que a vitima estava morta foi porque nem sequer
admitiu a hipótese de ela estar ainda viva. A partir do momento em que há está omissão
de Fernando verifica-se um desvio do nexo causal entre a acção de B e o resultado
morte de E. Assim B passa a ser acusado de tentativa e não de homicídio consumado.
Isto porque o domínio do facto deixou de estar no B para estar em Fernando. Gil ordena
a F que pare (esta ordem é uma coacção ilícita mas existe uma causa de exclusão da
ilicitude por tratar-se de um policia – art. 31º n.2 alínea C) e depois dispara contra as
pernas – é um crime de ofensa à integridade física – um crime de resultado pelo que
teremos de fazer a imputação objectiva e a imputação subjectiva – em que há dolo
directo ou necessário, conforme a fundamentação. Em consequência deste ferimento
Fernando morreu por ser hemofílico. É um crime agravado pelo resultado. Há então
dolo no primeiro resultado (ofensa à integridade física) e haverá negligência no segundo
(homicídio) se considerarmos que violou o dever objectivo e subjectivo de cuidado mas
como Gil não sabe que Fernando é hemofílico por isso não lhe pode ser exigido esse
cuidado, logo não há negligencia. Gil será responsabilidade por ofensa à integridade
física grave (art. 144º). Mas Gil estava em erro (art. 16º n.2) porque pensava que
Fernando tinha participado no crime, havia então uma causa de exclusão da ilicitude,
logo é afastado o dolo pelo que será acusado apenas de ofensa à integridade física por
negligência (art. 148º). Depois é preciso ver se há concursos. Há em relação a Bernardo
(crimes de tentativa de homicídio doloso, um homicídio por negligência e um furto). É
um concurso verdadeiro (vários crimes), real (várias acções) e heterogéneo (tem vários
tipos).
É uma forma de crime embora não consumado. Em que todos os actos de execução
foram produzidos mas o resultado não se verificou. Não há tentativas negligentes.
Deriva sempre de uma intenção do agente. Tem de haver dolo. Para verificar a tentativa
é essencial apurar o inter criminis (o percurso do agente): Começa com a mera
resolução criminosa (a decisão do agente de cometer o crime – que não é punível
porque ainda não tem relevância no mundo exterior), continua com os actos
preparatórios (art. 21º - já podem ser puníveis – são os actos que antecedem a execução
do crime), e termina com os actos de execução (que são puníveis – preenchem a
tentativa que é punível – art. 23º). Todo o inter criminis é exactamente igual ao do crime
doloso consumado com excepção do resultado, que no caso da tentativa não se verifica.
Há dois tipos de consumação:
- Consumação Formal – É a produção do resultado típico (no homicídio a produção da
morte).
- Consumação Material ou exauriamento do crime – Tem a ver com haver ou não lesão
do bem jurídico. Há lesão material quando além da tipicidade existe lesão do bem
jurídico.
Por exemplo: um pai abandona o filho na serra (há consumação formal do crime de
exposição ao abandono) mas só há consumação material se a criança morrer ou sofrer
lesão. É que o pai pode desistir de lhe provocar a morte e ir busca-lo antes da
consumação material. Nos crimes de dano a consumação material e formal coincidem.
Já não é assim nos crimes de perigo. Quando se verifica o resultado, o perigo, não há
obrigatoriamente lesão do bem jurídico. Neste caso há uma consumação formal mas não
há uma consumação material. Esta distinção dos tipos de consumação é importante para
efeitos de desistência. É que nos crimes de dano ainda é possível ao agente desistir de
provocar a consumação material mesmo depois de já ter consumado a formal.
Teorias sobre a punibilidade da tentativa:
- Teoria Objectiva – Foi a primeira. A punição da tentaiva era fundamentada pela
colocação em perigo do bem jurídico tutelado pela norma. Ou seja, um homicídio
tentado era punido por se ter colocado em perigo o bem jurídico vida. É um raciocino
incipiente porque não se pode aplicar à tentativa impossível. Por exemplo, um individuo
dispara uma arma descarregada (o meio não é apto à produção do resultado). Esta
tentativa impossível é punida pelo alarme social.
- Teoria Subjectiva – Em que o fundamento da punibilidade da tentativa é a
manifestação por parte do agente de uma vontade contrária ao direito.Esta teoria é
demasiado ampla porque se assim fosse os actos preparatória seriam em regra puníveis
(quando o são apenas excepcionalmente).
- Teoria da Impressão – Contem elementos das duas outras. Da teoria subjectiva, com
uma vontade contrária ao direito, mas – misturando a teoria objectiva – não é toda a
vontade contrária ao direitos, apenas a vontade que lese a confiança da ordem jurídica e
da paz jurídica. A tentativa impossível é punida pelo alarme social (há ma lesão da
confiança jurídica entre a comunidade).
Ainda não é a teoria perfeita porque, por exemplo, alguém tenta matar com um veneno
que nem sequer se detecta através da autópsia; isto não causa alarme social nenhum,
porque as pessoas nem sabem que o veneno existe. Contudo a tentativa existiu e esta
teoria não a contempla.
- Teoria do nosso código penal (art. 22º e 23º) Há três elementos essenciais: - Vontade
manifestada contrária ao direito - Lesão da confiança da comunidade - Colocação em
perigo de um bem jurídico.
Elementos subjectivos da tentativa:
- O Dolo - Os elementos subjectivos essenciais da ilicitude – Nos casos em que eles
existam.
- Os elementos objectivos da tentativa – São dois:
Primeiro a prática de actos de execução (art.22º n.1) e a não consumação (art.
22º n.1). Como se separam os actos preparatórios dos actos de execução? Há vários
critérios de distinção:
1 – Formal objectivo – Ver prof. Figueiredo Dias
2 - Material Objectivo – Ver prof. Figueiredo Dias
3 – Subjectivo – Ver prof. Figueiredo Dias
4 - Final Objectivo – (é o critério mais importante)
Um acto será preparatório ou executivo de acordo com o plano concreto do agente.
Significa que o mesmo acto pode ser nuns casos preparatório e noutros casos de
execução. Exemplo: A pretende matar B com veneno. Deita o veneno num copo de
leite. Há duas hipóteses: se dá o copo de leite à vitima (misturar o veneno é um acto
preparatório e o dar o copo é um acto de execução) ou se deixa o copo de leite no sitio
em que a vitima costuma todas as noite beber um copo de leite (misturar é um acto de
execução porque já não há mais qualquer acto depois desse). Requisitos da punição da
tentativa (art. 23º): Tentativa Idónea – A punibilidade é a criação de um perigo para um
determinado bem jurídico. Tentativa Impossível – Diferentemente da tentativa
impossível não é criado perigo para o bem jurídico. Neste caso a punibilidade tem a ver
com o alarme social. A tentativa existe, quase exclusivamente, nos crimes de resultado
(que incluem os crimes de dano). Nos crimes de mera actividade não se fala tanto em
tentativa porque é difícil saber onde acabam os actos preparatórios e os de execução. É
difícil separar os actos de execução da consumação. Nos casos em que for possível
separar os actos de execução da consumação a tentativa pode ser punível mesmo nos
crimes de mera actividade. Para isso é preciso atender ao plano do agente.
A PUNIBILIDADE – Pode conter uma condição objectiva de punibilidade (uma
circunstancia alheia ao tipo de crime). Por exemplo, art. 151º. Outro exemplo de uma
condição objectiva de punibilidade é a exigência de o criminoso se encontrar em
território nacional para que possa ser punido. Existem também as causas de isenção da
pena. Por exemplo, a existência do vinculo matrimonial entre as pessoas é geralmente
uma causa de isenção da pena – o cônjuge pode ser isento da pena de cumplicidade em
relação ao agente. As causas de isenção de responsabilidade criminal (as amnistias ou os
perdões de pena, em que existe tipicidade, ilicitude e culpa mas a conduta deixa de ser
criminalmente ilícita devido a uma causa extrínseca). Ainda as condições
procedimentais da situação criminal - em processo penal o Ministério Publico tem duas
formas de agir: ou actua directamente ou é exigida queixa do ofendido (nos crimes
menos graves). A Desistência CRIMES OMISSIVOS Praticados por quem tem uma
posição de garante Não há acção logo não há causalidade mas tem que haver imputação
objectiva que terá de ser feita em relação não à acção mas à conduta que o agente
deveria ter tido para evitar o resultado. Essa conduta tem de ser dolosa, ou seja, o agente
tendo de tomar uma conduta não a adopta e provoca o resultado. É difícil saber o que é
o dolo numa conduta omissiva. É o grau de intenção do agente (com os elementos
volitivo e intelectual) por forma a não actuar de acordo com o que lhe era exigido.
Assim dolo directo existe quando o agente quer a realização do facto típico (sabe que ao
não mandar a bóia o agente vai morrer). O dolo necessário existe quando o resultado é
uma consequência necessária da sua conduta de não agir (o agente sabe nadar e o
nadador não lhe atira uma bóia sabendo que há o risco de o agente não conseguir salvar-
se mas pensa “se morrer morre”). Ou seja no dolo necessário existe uma hipótese de o
resultado não se produzir. A omissão pode ter tentativa. Numa omissão própria (art.
200º) dificilmente pode haver uma tentativa. O Dr. Rui Pereira defende que ainda assim
é possível (quando o agente para o carro para ligar para o 112 mas não o chega a fazer e
depois aparece um terceiro que acaba por agir). Nos crimes por omissão imprópria (art.
10º n.2 mais outro artigo) pode haver tentativa (um banhista não socorre uma pessoa
que está a afogar-se mas esta acaba por salvar-se de outra forma). Nos crimes por
omissão há menos energia criminosa, menos desvalor da acção (menor ilicitude) e
menos culpa.
A posição de garante tem 3 fontes:
1 - Posição de garante resultante da lei – As relações familiares, entre os cônjuges ou na
união de facto, a relação de pais / filhos 2 - Posição de garante resultante de contrato –
Por exemplo as educadoras de infância em relação às crianças à sua guarda. Não precisa
de ser contrato escrito.
3 - Posição de garante resultante da ingerência – Em que a pessoa criou uma situação de
perigo e tem a obrigação de evitar que se produza o dano. Em qualquer destes 3
situações não há um quantun do dever jurídico. Esse dever não é quantificado em
nenhuma das três fontes.
Para isso fala-se em dois níveis de deveres:
- Deveres de protecção de determinados bens jurídicos – Divide-se em 3 grupos:
1 – Vinculação natural – A relação pai-filho,
2 – Relações comunitárias
3 – A assunção voluntária da tutela de um determinado bem jurídico (por exemplo,
substituir-nos voluntariamente a um socorrista)
- Deveres em que a pessoa que tem a posição de garante está obrigado a controlar certas
fontes de perigo – Quando um carro não está em condições de circular e provoca um
acidente de que resulta um morto – temos nesse caso um crime de homicídio doloso por
omissão porque o condutor tinha a obrigação de controlar essa fonte de perigo. Outro
exemplo, os pais que tem o dever de controle de fonte de perigo em relação a um filho
cuja conduta se aproxima da incapacidade.
TIPO DE CRIMES OMISSIVOS
Casos de interrupção do processo salvador – O agente pega na bóia mas depois não a
atira ao afogado.
Casos de colocação em estado de incapacidade de empreender a acção salvadora – O
agente que se embriaga com o objectivo de cometer o crime Casos de participação
activa em crimes omissivos – A aconselha B a não mandar a bóia. Diferença entre
omissão própria (pura) – é a lei que descreve qual é o comportamento que o agente deve
ter em certas omissões (por exemplo a omissão de auxilio em que os pressupostos estão
definidos na lei, há uma norma perceptiva) e omissão imprópria (impura) – resulta de se
ter a obrigação de se evitar um certo resultado e resulta do artigo 10º justaposto a alguns
artigos do CP (desde que o crime seja um crime de resultado) Crimes de omissão
imprópria - São todos os crimes de resultado a que nós somamos um dever de garante.
Teorias da Assessoriedade: O que é que se comunica dos vários elementos do crime
(acção, tipicidade, ilicitude, culpa e punibilidade) entre o autor e os comparticipantes e
vice-versa.
Assessoriedade Extrema – Nesta teoria transmitem-se todos os elementos
Assessoriedade Mínima – O que se transmite é a acção e a tipicidadeEITO PENAL I
Assessoriedade Limitada – Transmite-se a acção, tipicidade e ilicitude O nosso código
penal exclui as teorias Mínima e a da Inter-acessoriedade (art. 29º) porque a culpa não
se transmite.
A teoria que o nosso código segue é a teoria da Acessoriedade Limitada (os elementos
que se comunicam são a acção, a tipicidade e a ilicitude). Comparticipação na
Tentativa: Sendo uma forma de crime dolosa faz sentido existirem participantes na
tentativa
CRIMES NEGLIGENTES (Art. 13º - o crime é doloso sempre que a lei não diga que é
negligente) A negligência está no art. 15º. O mesmo tipo de crime pode ser doloso (por
exemplo no homicídio, art. 131º) ou negligente (por exemplo no homicídio, art. 137º).
Elementos do Crime Negligente: 1 – Relação causal entre a Acção e o Dano 2 – Relação
entre a Acção do agente e o Dever de Cuidado (se a acção do agente violou o dever de
cuidado). Há Modalidades de negligência (consciente ou inconsciente – art. 15º) e
Graus de negligência (simples ou grosseira). (Os crimes de perigo não tem a sua
correspondência na forma negligente) O crime negligente não admite tentativa (que por
definição é dolosa). A instigação e cumplicidade também não existem. Pode haver
autorias paralelas, não pode é haver coautorias (porque não há intenção logo não pode
haver combinação ou planos).
CONCURSOS
Concurso aparente ou de normas - O individuo mata outro motivado por compaixão
(133º) – Preenche simultaneamente os tipos do 131º e do 133º - Isto é um concurso
aparente ou de norma. Há uma pluralidade de normas das quais se aplica uma. Para isso
é preciso recorrer a critérios como o da especialidade (a norma especial prevalece sobre
a norma geral), subsidiariedade (só se aplica a norma subsidiária se não houver uma
norma primária para aplicar ao caso concreto. Por exemplo art. 152º n.1 in fine), a
subsidiariedade implícita (aplica-se normalmente nos crimes de perigo e de dano. Por
exemplo alguém que deixa uma criança em Monsanto às 3 da manhã: isto pode ser um
crime de exposição ao abandono e pode ser uma tentativa de homicídio, depende da
intenção do agente), da consupção (para chegar ao crime mais gravoso comete outros e
com a consupção é punido não por todos mas apenas pelo último (por exemplo quando
alguém para assaltar uma causa rebenta com a porta. Além do crime de roubo pratica o
crime de dano da porta. Neste caso em principio é punido pelo último que é o crime
mais grave.
Quando o última crime é o mais grave diz-se consupção pura. A impura é ao contrário.
Por exemplo quando para praticar um crime de burla o agente pratica outro, mais grave,
de falsificação de documentos) e ainda o facto exterior não punível (Alguém furta uma
pasta e depois para evitar ser descoberto queima a pasta. Há duas normas que se lhe
aplicam. A doutrina divide-se. Há autores que dizem que o agente deve ser punido por
dois crimes e outros que o agente deve ser punido apenas por um crime). O agente é
punido por um único crime. Concurso verdadeiro (art. 30º) – É um concurso de crimes.
O agente é punido por uma pluralidade de crimes. O concurso verdadeiro pode ser por
duas razões: - Devido a várias acções do agente - Devido a uma única acção do agente
O concurso verdadeiro pode ser: Concurso Ideal – Há uma acção para uma pluralidade
de crimes. Concurso Real – No código penal são equiparados mas em termos
dogmáticos são diferentes os concursos ideal e real. Real é quando há uma pluralidade
de acções para uma pluralidade de crimes. Tanto o concurso real como o ideal podem
ser heterogéneos ou homogéneos. Real Heterogéneo – Vários acções ou vários tipos de
crime. Real Homogéneo – Várias acções e o mesmo tipo de crimes.
As penas principais podem ser: - Aplicáveis - Substituíveis Penas Acessórias (não são
automáticas) – Art. 65º e SS. Não há penas acessórias sem pena principal. Não há
também penas acessórias que decorram directamente das penas principais. Ou seja, para
aplicar a pena acessória é necessária uma fundamentação autónoma, não basta a
fundamentação que sustenta a pena principal. Medidas de Segurança – São em regra
aplicadas aos inimputáveis mas também aos imputáveis particularmente perigosos (por
exemplo, na estrada, a condutores perigosos). Se houver um concurso de circunstâncias
agravantes para o mesmo tipo concorre a agravante que tiver uma responsabilidade
maior. O mesmo acontece se houver um concurso de circunstâncias atenuantes. Deve
ser considerada a atenuante de maior relevância. Para determinar a medida da pena é
preciso primeiro determinar a medida da culpa. Porque a medida da culpa é o limite
máximo da medida da pena (art. 40º). Para graduar a culpa em concreto os juízes
recorrem a critérios subjectivos que passam pela avaliação do plano do agente, pela
censurabilidade, perversidade, intensidade do dolo, padrão da jurisprudência, etc. Essa
culpa a que o juiz chega é depois convertida na medida da pena (art. 71º n.1)