You are on page 1of 33

DIREITO PENAL

“Normalmente a primeira frequência corre mal”, por causa, sobretudo, dos mecanismos
de imputação, alertou o regente na primeira aula.

CASO PRÁTICO I “
António subtraiu sem autorização uma trotineta de um vizinho seu apenas para dar umas
voltas tendo-a devolvido algumas horas depois. Poderá aplicar-se a A o tipo previsto no
art.208º do CP?” Duas hipóteses: - Se for uma trotineta com motor é um “veículo
motorizado”, enquadrado pelo art. 208º. Trata-se de um crime contra a propriedade. - Se
for uma trotineta sem motor não há a prática do crime previsto no art.208º porque o
artigo não fala na trotineta e em direito penal não pode recorrer-se à analogia.
PRINCÍPIO DA LEGALIDADE (Art.1º CP) Só pode ser responsabilizado quem
pratica um facto (ninguém pode ser punido por antecipação). Quem pratica um facto
previsto em lei anterior à prática do facto.

CASO PRÁTICO II
“António possui 5 mil pesetas em moedas de uma peseta em casa. De acordo com o CP
de 82 quem guardar moeda estrangeira em valor superior a mil escudos é punido com
pena de multa de 120 dias. Com a entrada em vigor do euro saiu uma lei que alterou CP
em 2002 e que veio revogar aquele tipo penal. Poderá António ser responsabilizado
penalmente por ter tido moeda estrangeira em casa desde 1983 até hoje”.
R – Não porque a aplicação da lei penal no tempo determina que o facto punível
segundo a lei vigente no momento da sua prática deixa de o ser se uma nova lei o
eliminar do número das infracções (art. 2.º n.2 do CP). É o que acontece neste caso;
guardar moeda estrangeira deixou de ser um tipo penal e António não poderá ser
responsabilizado penalmente.
CASO PRÁTICO III
“A AR publicou uma lei que indica que durante o período do euro 2004 quem sem ter
título profissional habilitante transportar bebidas alcoólicas em veículos automóveis é
punido com pena de prisão até um ano ou multa até 500 dias. Se se descobrir em
Dezembro de 2004 que Alberto sem título que o habilitasse, transportou bebidas
alcoólicas em Junho desse ano, para o estádio da luz, poderá ser responsabilizado
penalmente?”
R – Poderá – se o tiver feito em veículo automóvel - porque o facto é passível de pena
nos termos do art.2º n.3

CASO PRÁTICO IV
“Em 15 de Março de 2002, António e Belarmino, praticaram crimes de furto qualificado
tendo em conta que os valor dos objectos furtados era superior a 3.500 euros. Em 16 de
Maio ambos foram julgados e condenados em pena de prisão de 4 anos. António
recorreu da decisão mas Belarmino não. Em 12 de Setembro quando ainda não havia
decisão de recurso pelo tribunal superior, saiu uma lei que veio considerar que o furto só
será qualificado caso o objecto furtado tenha um valor superior a 5.000 euros. A pena de
furto simples manteve-se inalterada sendo em ambas as leis de 3 anos de prisão.”
R – António será beneficiado, em relação a Belarmino, com a redução do período de
prisão a que tinha sido condenado. Pondo de parte a consequência material do recurso
que apresentou, só a circunstância de o ter apresentado, confere ao seu caso a
possibilidade de aplicação do disposto no art. 2º n.4 do CP. Ou seja, não tendo
transitado em julgado a sentença a que foi inicialmente condenado, António beneficiará
do regime mais favorável que a alteração da lei representa para o seu caso. Assim,
António terá de ser condenado por furto simples e não qualificado pelo que a sua pena
não poderá ultrapassar os 3 anos de prisão.

HISTÓRIA DAS PERSPECTIVAS: - Visual - Auditiva – Cinestésica


ELEMENTOS DO CRIME:
- ACÇÃO – Acção dominável pela vontade - TIPICIDADE – Tipos incriminadores que
constam do CP
- ILICITUDE – A grande maioria dos comportamentos típicos são também ilícitos,
salvo nos casos de “causa de exclusão de ilicitude”.
- CULPA - Determinar se o agente poderia ou não ter actuado de outra forma. Se não
pudesse o comportamento não é culposo. (Ininputável – é um incapaz de culpa)

FINS DO DIREITO PENAL Os fins do direito penal (em sentido restrito) são
proceder a um ordenamento sancionatório tendo em vista a prevenção, a ressocialização
do delinquente e a sanção do agente.
FINS DAS SANÇÕES PENAIS PENA – É uma sanção criminal, de natureza
repressiva, que tem por fim punir e que tem vários fins. Primeiro a prevenção geral que
tem duas componentes (prevenção geral positiva – visa a integração - e a prevenção
geral negativa – visa a intimidação, a inibição). Segundo a prevenção especial em que a
ideia é prevenir através da acção sobre o(s) próprio(s) delinquente(s).
MEDIDAS DE SEGURANÇA – Não está em causa o “castigo”. Não mede a culpa do
agente mas sim a sua perigosidade. Por exemplo, mesmo que o condutor não tenha
culpa, se for perigoso, pode ser proibido de conduzir.

PRINCÍPIO DA AUTONOMIA – O direito penal ancora-se muito bem na


constituição, de onde decorre a sua autonomia. No entanto não deixa de ser um ramo do
direito.
PRINCÍPIO DA LEGALIDADE – Art. 29º da CRP – O direito penal é matéria da
reserva de competência da Assembleia da República.
PRINCÍPIO DA JURISDICIONALIDADE – A competência para aplicação das
sanções cabe exclusivamente aos tribunais.
PRINCÍPIO DA CULPABILIDADE – Não é possível aplicar uma pena a quem não é
passível de pena. A culpa é o limite máximo da responsabilidade do agente. A culpa é
pessoal (não quer dizer que não se possa responsabilizar as pessoas colectivas).
PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE – Fazer corresponder a um determinado
tipo de crime uma moldura penal razoável em função desse tipo.
PRINCÍPIO DA SUBSIDIARIEDADE – O direito penal só trata de ilícitos a um
determinado nível. Quando está em causa um certo grau de bens jurídicos.
PRINCÍPIO DA FRAGMENTARIDADE – Um ramo do direito que pode ser visto
como fragmentário.
PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA – Tem duas consequências:
1 – As penas – São limitadas por este princípio nos termos da CRP (que impede, por
exemplo, a pena de morte e a prisão perpétua).
2 – O cumprimento das penas.
CASO PRÁTICO V
Em 15 de Novembro de 2004 saiu uma nova lei penal que veio indicar que a
imputabilidade passaria a ser considerada para quem tivesse 16 anos e a escolaridade
mínima obrigatória. Para um agente que pratique um facto criminal em 12 de Novembro
de 2004 com 16 anos de idade e sem ter cumprido a escolaridade mínima que lei se
aplicaria?
R – A lei anterior a esta nova. Nos termos do art.2º n.1 é a lei vigente à data da prática
dos factos e é a lei mais favorável (aplicando-se o art.2º n.4). Estamos perante o
fenómeno da SUCESSÃO DE LEIS NO TEMPO O menor de 16 anos é inimputável
(art.19º).
NA SUCESSÃO DE LEIS NO TEMPO – Há várias leis que incidem sobre o mesmo
facto de formas diferentes. Nestes casos aplica-se a lei mais favorável ao agente (art.2º
n.4).
CASO PRÁTICO VI
Em 12 de Dezembro de 2003, António praticou um crime de abuso sexual contra
menores. Em 12 de Janeiro de 2004 surge uma lei que indica ser atenuante o facto de
alguém ter sido vítima de abuso sexual. António prova que foi alvo de abuso sexual
quando tinha 15 anos. O crime sexual na lei anterior era semi-publico e na nova público.
Quid Júris?
R – (Abuso sexual de crianças – art. 172º). Estão em causa duas leis diferentes e ambas
tem aspectos positivos (mais favoráveis) para o agente. O juiz terá de optar por aplicar
uma ou a outra. A diferença é que na lei mais antiga o crime é semi-publico. Na mais
nova há uma atenuante. Não podendo aproveitar o melhor de ambas as leis, o juiz terá
de seguir por um dos regimes. Assim o mais favorável pode ser um ou outro,
dependendo de várias hipóteses. Se houver desistência do queixoso, o regime mais
favorável é o da primeira lei. No caso de não haver desistência, a atenuante aproveita
mais ao agente. O problema é que o juiz tem que optar antes de saber se há ou não
desistência. Este é um dos dilemas do direito penal. Em tese o ser um crime semi-
publico, em princípio, é sempre mais favorável. No entanto o problema existe. Escolher
em concreto qual é a lei mais favorável não é fácil. Crime Publico – Desde que haja
noticia que aconteceu o MP promove o processo Crime Semi-publico – Depende de
queixa e é o MP quem então promove o processo. Admite que o queixoso desista da
queixa.

CASO PRÁTICO IX
Fernanda, portuguesa, enviou por via postal ao seu marido, um bolo feito por suas
próprias mãos, condimentado com uma doze razoável de estricnina. Este encontrava-se
em França, onde recebeu o bolo e o comeu, tendo, em consequência, falecido. a)
Poderia Fernanda ser julgada pela lei penal nacional? b) Imagine que Fernanda o fizera
em França, tendo fugido para Portugal dois meses depois. Poderia ser aplicada a lei
penal portuguesa, sabendo-se que em França o homicídio é punido com uma pena de
limite máximo inferior em dois anos do limite máximo da lei penal portuguesa? R –
Pode: Art. 5.º n.1 d) se não pudermos considerar que o facto se praticou em Portugal ou
Art. 7.º n.1 se considerar-mos que foi praticado em Portugal.
R – Poderia ser aplicada a lei portuguesa, segundo o princípio da nacionalidade. Art. 5.º
n.1 d). Poderia aplicar-se a lei francesa por ser a mais favorável ao agente (Art. 6º n.2)
Estão subjacentes, à aplicação no espaço, os seguintes princípios: Princípio da
Territorialidade (Art. 4º) – Os crimes cometidos no território de um Estado,
independentemente da nacionalidade do agente, do ofendido e dos bens em causa, são
tratado pela lei desse Estado. O critério confere poder jurisdicional ao pais onde o facto
foi cometido ou onde os resultados se produziram (art. 7º).
PRINCÍPIOS COMPLEMENTARES OU SUBSIDIÁRIOS (por ordem de
importância): Princípio da defesa (ou realista) (Art. 5º n.1 alinea A) – A lei aplicável é a
da nacionalidade do bem jurídico violado (independentemente da nacionalidade quer
doa gente quer do local onde é praticado). – Um principio importante porque hoje temos
muitos crimes praticados à distancia.
Princípio da Justiça Universal – O agente é sujeito à lei do país onde foi encontrado.
Princípio da Nacionalidade Activa (ou personalidade) (Art. 5º, n.1, alínea C primeira
parte) – A lei aplicável é a do país de origem do delinquente (independentemente do
local em que ele se encontre) – Trata-se de um princípio superlativo que tem como
objectivo que não haja impunidade. Principio da Nacionalidade Passiva (Art. 5º n.1,
alinea C segunda parte) – Crimes praticados por estrangeiros contra portugueses
Principio da Nacionalidade Activa e Passiva (Art. 5º n.1, alinea D) – Pressupõe uma
espécie de fraude à lei. Impedir que um português cometa fora do pais, no estrangeiro,
um facto que no local não é crime mas que em Portugal é crime (é o caso do aborto).
Princípio de aplicação supletiva (Art. 5º n.1, alínea E) – Aplicável a estrangeiros que
cometeram crimes contra estrangeiros e que se encontrem em Portugal não sendo
possível a extradição. Principio da aplicação convencional da lei penal portuguesa (Art.
5º n.2) – Quando, por acordo ou convenção internacional, Portugal tenha obrigação de
julgar. Princípio da Representação – Aplica-se a lei do país a crimes cometidos em
embarcações ou aeronaves.

CONCURSO APARENTE DE NORMAS OU LEIS PENAIS


É sempre o concurso de normas. Por exemplo art. 131º Vs art. 133º. Hà uma relação de
especialidade entre as duas normas e aplica-se a norma especial. É aparente
precisamente porque sabe-se exactamente qual a norma aplicável. Existem outras
relações de normas (que não apenas a de especialidade – norma especial / norma geral):
Relação de subsidiariedade (expressa, art. 152º n.1, ou tácita, art. 150º n.2) – As normas
subsidiárias relacionam-se com outras.
Relação de consumpção – (Inter-criminis) Prática de crimes relacionados em que se é
condenado por um deles. Por exemplo quando há contrafacção de moeda e colocação da
mesma em circulação. Há dois crimes.
Em principio o crime punido é o último (consunpção pura), excepto quando o primeiro
é mais grave (consunpção impura). Os bens jurídicos violados pelos sucessivos crimes
têm de ser os mesmos.
CONCURSO REAL DE LEIS PENAIS É sempre de crimes. Quando são praticados
mais do que um crime. É de dois tipos:
CONCURSO HOMOGÉNEO – Se é o mesmo ilícito várias vezes CONCURSO
HETEROGÉNEO – Se os tipos de ilícito são distintos.

CASO PRÁTICO X
Em 1 de Janeiro de 2003 entra em vigor a lei X/2003 com o seguinte conteúdo:
Considerando a existência de uma grave situação de epidemia, a confecção de ou
distribuição de géneros alimentares com compostos de aves será punida com pena de 1 a
3 anos de prisão. Mantendo-se a presente tipificação enquanto vigorar o surto
epidémico. Em 1 de Fevereiro de 2003 Almerinda, portuguesa, assistente de bordo em
avião português, confecciona e serve a alguns passageiros, quando o avião atravessava
espaço aéreo espanhol, uma receita de aves de caça que, com o seu conhecimento, não
se encontravam em boas condições de consumo.
Em 1 de Abril de 2003, é publicada para entrada imediata em vigor, a lei XY/2003 que
revoga a lei X/2003. Quid Júris?
R – Aplica-se a lei portuguesa (art. 4º alínea B). O principio da territorialidade é o
primeiro da aplicação da lei no espaço. Esta alínea B do art. 4º é precisamente uma
extensão deste principio. Além deste há o aspecto da aplicação da lei no tempo: A lei X,
que é uma lei temporária (art. 2º n.3), é a lei em vigor no momento da prática do facto
(art. 3º) logo é a lei que se aplica a este caso e não a lei nova. Assim Almerinda incorre
numa pena de prisão de 1 a 3 anos.
TEORIA DA LEI PENAL PRINCIPIO DA LEGALIDADE – Tem como base duas
coisas; a exigência de que os normativos aplicáveis estejam devidamente aprovados e
em vigor e No direito penal o Principio da Legalidade funciona também como
mecanismo de prevenção geral. No inicio do sec. XIX, Anselm Feuerbach – Dizia
“nullum crimen, nulla poena, sine lege” – Relaciona a previsão (o crime) da norma com
a sua estatuição (pena) sendo que ambos tem que estar previstos na lei. No sec. XX
começa a ser um postulado de garantia. Não só a generalidade dos cidadãos conhece as
normas legais como tem nelas o limite do estado de direito.
O principio da legalidade é assim também um aspecto garantistico para o cidadão. Não
há estado de direito sem principio da legalidade. Garantias do Principio da Legalidade: -
Art. 1º do CP – “Só pode ser punido criminalmente o facto descrito (…) por lei anterior
ao momento da sua prática”.
Há aqui a negação da retroactividade. - Nullun crimen, nulla poena, sine lege previa
(nenhum facto pode ser crime sem uma lei anterior que o qualifique). - Nullun crimen,
nulla poena, sine lege certa (a norma tem que ser “suficientemente densa” determinada
com suficiente precisão, como diz o Prof. Gomes Canotilho). - Nullun crimen, nulla
poena, sine lege scripta (o costume é excluido como fonte de directo, excepto o costume
internacional). - Nulla poena sine judicio (Não pode haver pena sem julgamento).
A RESERVA DE LEI DA AR – É mais utilizada nas questões de processo penal do
que no código penal. É reserva da AR tanto a criminalização como a descriminalização.

A SUCESSÃO DAS LEIS PENAIS NO TEMPO


I-------------------------------I----------------------------I Momento Pratica Caso Julgado Fim
do Cumprimento do facto da Pena Até que momento se deve aplicar o principio da lei
mais favorável ao agente? Há autores que consideram que deve ser até ao caso julgado.
Outros defendem que deve ser até ao fim do cumprimento da pena (Profs. Taipa de
Carvalho, Germano Marques da Silva, Cavaleiro Feirreira).
O momento da prática do facto é unanimemente definido pela doutrina (art. 3º). É o
momento em que agente actuou ou deveria ter actuado (e não o momento do resultado).
Isto é mais simples para os crimes instantâneos (aqueles cuja actuação se desenvolve
num único momento). Há outros crimes que é mais difícil de determinar o momento.
Os crimes duradouros e crimes continuados. Quer nuns quer noutros a execução protela-
se no tempo e o momento da prática será qualquer um entre o início e o termo da acção.
Nos crimes duradouros a acção protela-se no tempo por unidade natural (o crime de
sequestro, por exemplo).
Nos crimes continuados a acção (art. 30º) protela-se no tempo através da realização
sucessiva do mesmo tipo de crime ou de vários tipos de crimes. Crimes duradouros são
os chamados crimes duradouros (o sequestro, por exemplo) Só há sucessão de leis no
tempo quando o facto é criminalizado quer pela lei antiga quer pela lei nova. A regra é a
da aplicação da lei mais favorável ao agente.
Trata da aplicação da lei penal extra-territorial a Portugal. (é a possibilidade de nós
julgarmos determinados factos que foram praticados no estrangeiro). É basicamente o
artigo 5º e 6º do CP. Direito Internacional Penal – Conjunto de normas remissivas para
os ordenamentos nacionais (tal como o direito internacional privado). Resulta dos
tratados e convenções internacionais. O Tribunal Penal Internacional é supletivo
relativamente aos tribunais nacionais; só julgará se o tribunal interno o não fizer.

TEORIA GERAL DA INFRACÇÃO PENAL ou teoria geral do crime É a forma


doutrinal para depois o interprete ser capaz de aplicar os diferentes tipos de crime aos
factos ilícitos. São as regras para fazer a subsunção da parte especial do CP aos factos
ilícitos puníveis.

CLASSIFICAÇÃO DE CRIMES TIPICIDADE


CASO PRÁTICO XIII
Álvaro, adversário político de Belmiro, ao vê-lo na rua a passear, agarra num taco de
basebol e desfere-lhe uma violenta pancada na cabeça. Belmiro morre imediatamente.
Quid Júris?
R - Trata-se de um crime de Resultado, logo tem de estabelecer-se a relação entre a
acção e o efeito – saber se há nexo de causalidade. É preciso fazer a imputação
objectiva – atribuir a responsabilidade de determinado evento à acção de alguém (é isto
que caracteriza um crime de resultado – que tem um resultado espaço-temporalmente
distanciado da acção do agente). Como se faz a imputação objectiva? Há várias teorias
(3):
1 – Teoria da equivalência das condições (conditio sine qua non – condição sem a qual
não existe) – Há imputação objectiva quando o agente dá a causa sem a qual não
existiria o resultado/crime. Esta teoria tem um problema, não é segura. há sempre uma
cadeia de condições até ao resultado.
2 – Teoria da Causalidade Adequada – Não é qualquer causa que pode servir para
estabelecer a imputação objectiva. Não é qualquer causa, é a causa apta (conceito de
aptidão). Ou seja; aquela que é determinada pela Prognose Póstuma. Aquela que se
afigura a causa previsível, para o homem médio e tendo em conta os conhecimentos do
agente, do resultado verificado.
3 – Teoria CASO PRÁTICO XIV Alberto participou num jantar de natal de turma tendo
ingerido diversas bebidas alcoólicas. No regresso a casa, de automóvel, foi mandado
parar por um agente da PSP, que após ter efectuado teste do balão, lhe detectou uma
taxa de 1.4 gramas de alcoolemia por litro de sangue. Quid Júris? R – Trata-se de um
crime de Mera Actividade (ou crime formal). O tipo preenche-se com a simples
actuação do agente.
CASO PRÁTICO XIV
A E se Alberto tivesse, momentos antes, batido noutro veiculo?
R – Existe uma acção jurídico-penalmente relevante (porque Alberto quando se
embriagou sabia que ia conduzir – actio liber in causa – Acção Livre na Causa), Há
tipicidade (art. 212º CP – Crime de Dano – um crime de resultado). Tem de ser feita a
Imputação Objectiva (atribuir o dano à acção do agente) – teoria da causalidade
adequada - causa apta a produzir o resultado verificado – verifica-se através da técnica
prognose póstuma. Em conclusão Alberto praticou um crime de dano.
Mas praticou também um crime de condução sobre efeito do álcool (art. 292º) na forma
simples (sem colocar em perigo a vida ou integridade física de outrem). Há um
concurso de crimes.
CASO PRÁTICO XV
Álvaro odiava o seu tio Belarmino. Sabendo que poderia vir a ser o seu único herdeiro
ofereceu-lhe um bilhete de avião na esperança de que Belarmino morresse. Na viagem
de regresso a Portugal o avião cai e Belarmino morre. Quid Júris?
R – Há acção. Mas a oferta do bilhete é a causa apta a produzir o resultado? Não. Mas
há aqui um risco que tem de ser analisado. Por isso há também a Teoria do Risco –
Quem cria o risco também deve ser responsabilizado. O risco terá de ser adequado em
termos sociais. (Há riscos assumidos pela ordem jurídica, como andar de carro ou de
avião). Tem de ser um risco não permitido pela ordem jurídica. Quando o agente cria,
aumenta ou não diminui um risco não permitido pela ordem jurídica. Para determinar se
o risco é ou não permitido pela ordem jurídica é necessário utilizar um critério de
adequação social.

CASO PRÁTICO XVI


António disparou um tiro contra Belmiro com intenção de o matar. Uns minutos depois
Carlos que observou a acção de António, chamou uma ambulância. Diniz condutor da
ambulância, levou Belmiro mas antes de chegar ao hospital fez uma curva com tal
velocidade que a ambulância caiu por uma ravina. Belmiro morreu, Diniz sobreviveu.
Quid Júris?
R - AS FONTES DA POSIÇÃO DE GARANTE São fontes formais e de três ordens:
1. Fonte legal – Imposta pela ordem jurídica (Exemplo; o dever do pai em relação
ao filho).
2. Fonte contratual – Nasce de um contrato
3. Posição de ingerência – Quando o agente cria um perigo para o bem jurídico fica
numa posição de garante do bem (exemplo; quando alguém faz uma queimada fica
obrigado a prevenir, evitar ou combater o incêndio).

A Doutrina e a Jurisprudência vêem a criar as SITUAÇÕES MATERIAIS DE


GARANTE. Porque há casos em que as situações formais de garante não chegam para
resolver os casos. Porque há casos em não há posição específica de garante mas, ainda
assim, pode sustentar-se a existência de um homicídio em vez de apenas uma omissão
de auxílio. Se a vida da vítima depende única e exclusivamente do agente este passa a
ter uma posição específica de garante em vez de uma posição genérica de garante.
Um exemplo de uma fonte material: Quando alguém recebe filhos de amigos em casa e
ao gerar-se uma situação em que é necessário actuar. O dono da casa tem uma situação
específica de garante. CASO PRÁTICO António e Bento foram escalar uma montanha.
Bento caiu e partiu um pé. António viu mas decidiu seguir caminho. Bento foi
encontrado morto ao fim de 48 horas. Quid Júris? R – Há uma omissão de António, que
tinha uma posição especifica de garante, ao nada fazer para auxiliar Bento, sendo que só
ele o poderia fazer. Há jurisprudência que defende que há uma solidariedade em práticas
de risco, que o facto de queremos fazer a escalada em grupo em vez de irmos sozinhos
implica uma solidariedade entre os elementos participantes.

TEORIA GERAL DA INFRACÇÃO CRIMINAL Há um FACTO CONCRETO e


uma HIPÓTESE LEGAL.
É preciso fazer uma SUBSUNÇÃO que permita aplicar a hipótese legal ao facto
concreta. A subsunção faz-se através de 5 elementos:
1 – Acção – Comportamento socialmente relevante dominável pela vontade. Há três
doutrinas principais: - Conceito Causal - Comportamento humano dependente da
vontade que produz determinada consequência no mundo exterior. Implica sempre a
intenção do agente logo não pode explicar a omissão. Além disso, tratando-se de um
conceito demasiado amplo, não permite uma imputação correcta na medida em que
corresponde a uma responsabilização ad infinitum. - Conceito Finalista – A teoria
defende que o agente age sempre com uma determinada finalidade. Existe também uma
má relação com a omissão. - Conceito Social – Parte do principio do comportamento
socialmente relevante, voluntário. Uma outra vantagem deste conceito é permitir
expurgar acções ou comportamentos que não interessam para o caso.
2 – Tipicidade – Previsto num tipo legal. Existem dois tipos de imputação; a objectiva
(adaptarmos o conceito de causalidade adequada para saber se o facto é imputável ao
agente do ponto de vista objectivo ao agente, despido da intenção do agente) e a
subjectiva (avaliar a intenção do agente no sentido de apurar se houve dolo ou apenas
negligencia).
3 – Ilicitude – Conduta condenável pela ordem jurídica como um todo, sem causas de
justificação. Mesmo que seja típica a acção pode ser lícita. Pode existir uma causa de
justificação. Como por exemplo a legitima defesa.
4 – Culpabilidade – Censurável. Sem causas de exclusão da culpa.
5 – Punibilidade – Preenche as condições de punibilidade.
A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA TEORIA DO ILÍCITO PESSOAL
Há várias teorias:
TEORIA CLÁSSICA (Teoria de Liszt / Beling) Surgiu nos finais do sec. XVII e
vigorou até ao sec. XIX – Baseava-se nos quatro elementos. A acção era o movimento
corpóreo, um movimento corporal dentro do movimento mecanicista. (Não servia para a
omissão). A tipicidade era a discrição objectiva da própria conduta. (Não há elementos
subjectivos mas apenas objectivos). A ilicitude era vista do ponto de vista objectivo (a
intenção do agente não interessava). A culpabilidade era o único elemento que
concentrava todos os elementos subjectivos. Logo a culpa tinha duas modalidades: o
dolo e a negligência. A teoria admitia os incapazes de culpa.
TEORIA NEOCLÁSSICA - (surgiu nos anos 1920). Também conhecida como filosofia
dos valores. Não rompe completamente com a teoria clássica. Antes adapta os seus
conceitos.

CASO PRÁTICO
Alberto decidiu atentar contra a vida de Belmiro enquanto este se encontrava em
viagem de comboio de Lisboa para Coimbra. Introduzindo-se na carruagem onde aquele
seguia, apontou uma arma e disparou dois tiros mortais, 30 segundos depois, em
consequência de um desvio da linha férrea, houve um descarrilamento no qual todos os
passageiros com excepto Alberto, perderam a vida.
R – Há aqui um crime de dano (e não apenas um crime de perigo), um crime de
resultado (evento que se destaca espacio-temporalmente da acção do agente), em que é
possível a imputação a Alberto. É preciso analisar a causa-efeito, uma vez que se trata
de um crime resultado. Logo terá de aplicar-se a teoria da causalidade adequada. A
questão está em saber, também, se é razoável acusar Alberto de homicídio quando
Belmiro teria morrido mesmo sem a sua acção. É que poderá haver uma interrupção ou
desvio do nexo-causal. Não é este o caso. Estamos perante a irrelevância das causas
virtuais e hipotéticas.

Nos crimes de perigo (aqueles em que há apenas a susceptibilidade da lesão de um bem


e não a lesão efectivamente) temos: Crimes de Perigo Abstrato – São os aqueles em que
não é preciso provar a efectiva colocação dos bens em perigo. (Exemplo; a condução
sob o efeito do álcool). Crimes de Perigo Concreto – É indispensável provar a efectiva
colocação de um bem em perigo. (Exemplo; art. 138º). Crimes de Perigo Abstrato /
Concreto – Quando os meios são de tal forma perigosos que é de esperar que alguém
fique efectivamente em perigo. Há quem defenda que existe este tipo de crimes de
perigo. O exemplo mais apontado é o da propaganda ao suicídio – art. 139º). Crimes de
Perigo Singular – Quando está em causa apenas um único bem jurídico.

Crimes de Perigo Comum – Quando estão em causa vários bens jurídicos. Exemplo de
norma proibitiva de Crime de Perigo Abstrato: - Quem transportar explosivos mal
acondicionados é punido com pena de prisão até 2 anos ou com pena de multa até 240
dias. Exemplo de norma proibitiva de Crime de Perigo Concreto: - Quem transportar
explosivos mal acondicionados, colocando em perigo a vida de outrem, é punido com
pena de prisão até 3 anos ou com pena de multa até 340 dias.

CASO PRÁTICO
Alberto, funcionário judicial, decidiu emprestar ao seu filho um veiculo automóvel,
propriedade do tribunal onde exerce funções, para que aquele tivesse carro no fim-
desemana. Quid Júris?
R – Há uma acção jurídico-penalmente relevante (comportamento humano dominável
pela vontade). É um crime tipificado – Peculato de Uso, art. 376º. É um crime de mera
actividade (crime formal). Não é necessário fazer imputação objectiva. Basta alguém ter
emprestado o carro para que se preencha o tipo. Estamos perante um caso de crime
especifico próprio. No entanto, neste caso, é preciso ver a qualidade do agente. Há dois
tipos de crimes quanto à qualidade do agente: Crimes Comuns - Aqueles que qualquer
pessoa pode praticar. Exemplo, o homicídio simples. Quase sempre quando a norma
começa por “quem…” são crimes comuns. Crimes Específicos – Aqueles em que se
exige uma qualidade para que haja tipo. Crimes Específicos Impróprios – Qualquer
pessoa pode praticar mas se detiver uma determinada qualidade a moldura penal será
diferenciada.
CASO PRÁTICO
Anabela queria conhecer a casa de Barreiros, conhecida estrela. Para tal e usando o seu
cartão de funcionária das finanças, decidiu dirigir-se à residência de Barreiros,
indicando que estaria em funções de investigação e, mesmo contra a vontade do
proprietário, entrou. Quid Júris? Imagine que em vez de Anabela tinha sido o seu
marido, que é pedreiro por conta própria, a entrar.
R – Há uma acção. Um crime formal, especifico impróprio (art. 378º). È um crime
comum (pode ser praticado por qualquer pessoa – a violação de domicilio) art. 190º n.1.
O facto de ser praticado por um funcionário público em abuso de autoridade agrava a
responsabilidade / pena. R 2 – No caso de ser o marido de Anabela, aplica-se o n.1 do
art. 190. Nesse caso é um crime comum.

Ver art. 136º É crime especifico próprio, impróprio ou crime comum?

ESTRUTURA DE TIPO DE ILICITO É necessário considerar dois conceitos:


BEM JURÍDICO – Valor ideal da ordem social que está juridicamente protegido. (A
vida, por exemplo, a propriedade, a vida intra-uterina).
OBJECTO DA ACÇÃO – É aquilo a que se dirige a acção do tipo criminal. (No caso de
homicídio, o objecto da acção é uma pessoa em concreto). (No crime de furto o objecto
é a coisa móvel alheia).
Estes conceitos interessam para a definição material de crime por forma a agrupar os
tipos que visam tutelar os diversos crimes. Na definição material de crime o conceito de
bens jurídicos vai definir uma hierarquia. O conceito de bem jurídico é muito
importante também ao nível interpretativo e ao nível dogmático. Neste último aspecto é
importante para avaliar a causa de exclusão da ilicitude ou a causa de exclusão da culpa.
O objecto da acção é importante para distinguir os vários estádios do cometimento do
crime. Mais especificamente para distinguir a tentativa da consumação. Na tentativa
temos todo o desvalor da acção. Na consumação temos…

GÉNEROS DOS TIPOS DE CRIMES CRIMES DOLOSOS POR ACÇÃO:


CRIMES FORMAIS (não há qualquer evento, o que há é uma conduta) E
MATERIAIS (existe um evento de que depende a consumação).
CRIMES DE MERA ACTIVIDADE – Condução sob o efeito do álcool.
CRIMES DE RESULTADO – O Homicídio
CRIMES DE PERIGO – Quando NÃO HÁ uma efectiva lesão do bem juridico Há os
Crimes de Perigo Abstrato (o perigo funciona apenas como pressuposto ou motivo da
incriminação, podendo não haver uma situação realmente perigosa. Por exemplo o
perigo de posse de armas proibidas. Estes crimes são reduzidos ao mínimo no código
penal porque normalmente são punidos ao nível da contra-ordenação); os Crimes de
Perigo Concreto (o perigo é um pressuposto ou motivo da incriminação mas também o
resultado. Por exemplo o crime de exposição ao abandono) e os Crimes de Perigo
Abstrato-Concreto (têm elementos dos outros dois tipos de crimes. O pressuposto é o
perigo mas, ao contrário do concreto, o perigo não é o resultado do evento, no entanto
não basta apenas o crime abstrato para a incriminação. É então quando o perigo resulta
da própria acção-tipo. Resulta de meios particularmente perigosos. Por exemplo, o
crime de propaganda do suicídio).
CRIMES DE DANO – Quando HÁ uma efectiva lesão do bem jurídico. Nem sempre
os crimes de dano são um crime de resultado.
CRIMES COMUNS – Os que podem ser cometidos por qualquer pessoa.
CRIMES ESPECÍFICOS – Os que só podem ser cometidos por determinadas pessoas.
Por exemplo o infanticídio. Os crimes específicos podem ser PRÓPRIOS (só podem ser
cometidos por uma determinada pessoa. Exemplo; crime de prevaricação de advogado
ou solicitador) e IMPRÓPRIOS (podem ser praticados por qualquer pessoa mas se o
forem por certas pessoas a moldura penal é agravada. Exemplo; o crime de violação de
domicilio por funcionário).
CRIMES PERMANENTES – Os que se executam num período não limitado de tempo.
Exemplo; o crime de sequestro. O crime permanece ao longo de todo o tempo em que
decorre o sequestro. CRIMES DE PERIGO COMUM (não confundir com os outros
tipos de crimes de perigo) – São os do art. 272º - Incêndios, explosões… que ameaçam
uma multiplicidade de interesses jurídicos.

CASO PRÁTICO
Manuel Triste, republicano fervoroso, descobre que D. Isabel Herédia está grávida e,
furioso, resolve “acabar com o problema”. Para tal observa os hábitos da senhora perto
da sua residência e , sabendo que alguns dias é a própria que conduz, decide colocar
explosivos na viatura. A caminho da cafetaria onde ia habitualmente, o carro explode e
morre D. Isabel, grávida de 18 semanas, e o motorista.
R – Manuel Triste é autor da prática de vários crimes previstos e punidos pelo CP.
Comecemos por atender ao crime de homicídio de D. Isabel de Herédia, que
entendemos constituir um Crime de Homicídio Qualificado, nos termos da alínea E do
n.2 do art. 131 do CP e uma vez que, de acordo com a teoria da infracção penal se
verifica a existência de todos os elementos necessários a tal incriminação.
Nomeadamente:
- Há acção – um comportamento humano dominável pela vontade tendente a atingir
uma finalidade.
- Há um crime tipificado – Foi ofendido o bem jurídico vida, com o dano morte, o que
prefigura um crime de resultado, (Sendo um crime de resultado é necessário fazer a
imputação objectiva) – Atribuir aquele resultado à acção ou omissão de alguém.
Neste caso à acção de Manuel Triste. É preciso estabelecer um nexo de causalidade.
Assim, de acordo com a teoria da causa apta a produzir aquele resultado – através da
técnica da prognose póstuma (que consiste em ser ou não “previsível para o homem
médio que a colocação daquela bomba no automóvel iria causar aquela morte”).
Além desta, há outras teoria, nomeadamente a de sine qua non (afastada pela doutrina),
e a teoria do risco. Trata-se de um crime de agente comum, de forma livre.

Em termos de imputação subjectiva, de acordo com o art. 14º n.1, trata-se de um crime
praticado por dolo directo uma vez que tanto o elemento cognitivo como o volutivo são
muito fortes. É preciso ver ainda: A ilicitude E a culpa Ainda não aprendemos ambas.
Em relação à morte do motorista, em termos de imputação objectiva o caso é igual ao de
Isabel de Herédia. Já quanto à imputação subjectiva há diferenças relevantes. Neste caso
trata-se de dolo eventual uma vez que os elementos cognitivo (ele não sabia que o
motorista iria morrer embora soubesse que assim pudesse acontecer) e volitivo (não
queria que o motorista morresse mas conforma-se com a possibilidade de isso
acontecer) são muito fracos. Embora neste caso exista “apenas” dolo eventual o tipo é
igualmente crime de homicídio qualificado uma vez que a motivação é da mesma forma
o ódio politico. Seria a mesma coisa, em relação à motivação, se em vez de dolo
eventual fosse dolo directo ou dolo necessário.
Há ainda a ver o aspecto de D. Isabel de Herédia estar grávida. Trata-se de um crime de
aborto (art. 140º do CP), um crime de resultado, crime de dano, e, fazendo-se a
imputação objectiva é importante o facto de o agente saber que a senhora estava
grávida.
O agente sabia que o explosivo era apto a produzir a morte do feto. Em termos de
imputação subjectiva, existe dolo directo uma vez que os elementos cognitivo e volitivo
eram muito fortes.
O agente sabia que o feto iria morrer e queria esse resultado. Se o agente desconhecesse
que a senhora estava grávida seria um caso de negligencia inconsciente. Neste caso o
agente não seria responsabilizado pela morte do feto porque o crime de aborto na forma
negligente não está tipificado. Além de tudo isto há aqui também um perigo de
explosão. Crime de perigo comum (art. 272º).
CASO PRÁTICO
António, irritado com Bernardo, dá-lhe um murro no nariz provocando-lhe uma
escoriação. Contudo, e uma vez que Bernardo era hemofílico, ficou com uma
hemorragia que não estancou acabando por falecer. Quid Juris
R – Há acção (comportamento humano dominável pela vontade), tipicidade (ofensas à
integridade física – art. 143º), é um crime de resultado, logo teremos de fazer a
imputação objectiva:
De acordo com a teoria da causalidade adequada, a acção é adequada a produzir o
resultado. Em termos de imputação subjectiva, o elemento cognitivo (sabia que aquela
agressão produzia uma dano físico) e volitivo (queria produzi-la) são fortes, logo existe
dolo directo. Acontece que, com a morte, o crime é agravado pelo resultado (art. 18º). É
um crime que “vai para além da intenção” (Crimes Praeter Intecionais).

Um crime agravado pelo resultado tem dois resultados:


1 – Que deriva da acção do agente
2 – Que deriva do primeiro resultado. Nestes casos é necessário estabelecer um duplo
nexo causal:
1 – Entre a acção e o resultado
2 – Entre o primeiro resultado e o segundo resultado. Através deste exercício podemos
concluir que a acção, em termos objectivos, foi apta a produzir o resultado morte. Em
termos de imputação subjectiva; há dolo em relação ao primeiro resultado e negligencia
em relação ao segundo resultado. É um crime agravado pelo resultado (art. 18º). Neste
caso de ofensa à integridade física agravada pela morte (art. 145º). É preciso provar que
o agente foi pelo menos negligente em relação ao segundo resultado.

TEORIAS DA IMPUTAÇÃO SUBJECTIVA


(Aplica-se apenas nos crimes de resultado):
- TEORIA DA CONDICTIO SINE QUA NON (Ou da equivalência das condições) –
Primeira das teorias. É causa de um fenómeno todo aquele outro fenómeno sem cuja
existência ele também não teria existido, sendo o primeiro consequência do segundo.
Chama-se também teoria da “equivalência das condições” porque todas as condições de
um fenómeno se equivalem, ou seja, basta que seja retirada uma única delas para que o
fenómeno deixe de produzir-se. É a teoria mais próxima das ciências naturais. Mas
como é que se percebe a relação causal) – Com o recurso a um juízo hipotético de
eliminação de uma fenómeno e concluir então se assim, sem esse fenómeno, o segundo
fenómeno se produziria. (Por exemplo, tendo A dado um tiro a B, poderemos fazer o
seguinte juízo: se A não tivesse dado o tiro B não teria morrido). A principal critica a
esta teoria é o número infinito de causas que figuram sempre para cada fenómeno. Além
disso esta teoria poderia conduzir a responsabilização objectiva. (Por exemplo, se A dá
um murro a B e este morre por sofrer uma traumatismo craniano em consequência da
queda, o fenómeno murro, nesta teoria, seria a causa da morte, quando na realidade não
é assim. O agente seria responsabilizado pela morte em vez de ser responsabilizado pelo
murro, apesar de não ter tido intenção de matar). Outro exemplo dos defeitos desta
teoria é o das autorias comulativas, ou seja, se César foi assassinado com 23
punhaladas, poder-se-ia ilibar alguns dos assassinos se considerasse-mos que as outras
punhaladas eram suficientes para provocar a morte. É portanto uma teoria demasiado
ampla, que não distingue entre as várias condições aquelas que são relevantes do ponto
de vista penal e ainda porque, em algumas situações, não é suficientemente restrita.
- TEORIA DA CAUSALIDADE ADEQUADA – O conceito de causa é idêntico ao da
teoria anterior (a relação entre o primeiro e o segundo fenómeno). A diferença é que
nesta teoria só a acção adequada (apropriada) é que é relevante para efeitos de direito
penal. A acção adequada é encontrada através do Juízo de Prognose Póstuma. Um
sujeito dispara contra uma pessoa, matando-a. O juiz terá de observar se “era previsível
a um homem médio, colocado no lugar do agente, que em virtude do tiro a vitima
morresse”. É a esta técnica que se chama teoria da adequação.
Esta técnica tem o “defeito” de não puder aplicar-se nos casos em que estão em causa
conhecimentos específicos por parte do agente. Por exemplo, um médico conhecedor de
venenos raros, pode prever que determinada substancia provoca a morte apesar de o
homem médio não o poder saber.
TEORIA DA RELEVÂNCIA – Considera o conceito de causa e restringe-o pela
análise do tipo de homicídio. Os resultados desta teoria são muito semelhantes aos da
teoria da causalidade adequada. mas não encara o crime em concreto mas em abstracto.
É mais casuística em relação à consequência do que a anterior. Um individuo recebe
uma bala próxima do coração. A teoria da condição sine qua non só demonstra que a
bala foi disparada por um determinado individuo (mas só por isso não se pode sustentar
que se trate de um homicídio tentado).
- TEORIA DO RISCO (estudar Klaus Roxin) – É uma melhoria da teoria da
causalidade adequada e funciona como complemento desta. O resultado pode ser
imputado a alguém quando ele cria, aumenta ou não diminui o risco proibido que se
concretiza no resultado obtido. A teoria do risco trabalha em 7 tópicos que não são
convenientemente tratados pela teoria da causalidade adequada:
1 – Os casos de “diminuição do risco”. Exemplo: A dispara sobre B, pretendendo atingi-
lo na cabeça, isto é, mata-lo. Mas C está próximo de B e dá-lhe um empurrão em
resultado do qual B cai e sofre uma ofensa corporal. Esta ofensa corporal significa uma
diminuição do risco para o bem jurídico tutelado. Não haveria imputação objectiva das
ofensas corporais infringidas a B por C.
2 – Os “cursos causais hipotéticos”. É o trajecto que não se materializa mas que noutras
condições ou circunstâncias se teria materializado. Exemplo: A e B administram cada
um por si um veneno a C. C acaba por morrer por haver ingerido o veneno ministrado
por A. Mas vem a provar-se que C mesmo que não tivesse ingerido o veneno de A teria
morrido na mesma. A causa real é o veneno ministrado por A a causa hipotética é o
veneno ministrado por B. A teoria da adequação teria grandes dificuldades em
responder a esta situação porque mesmo sem uma causa haveria o resultado. Para este
caso é preciso lançar mão do curso causal hipotético para demonstrar que os dois
agentes podem ser responsáveis pela morte da vitima. A seria responsabilizado por
crime de homicidio e B por crime de tentativa de homicídio. Neste caso o risco era
proibido.
3 – Casos em que há “Risco não proibido”. Há casos em que o risco não é proibido.
Exemplo: A, herdeiro de B, compra um bilhete de avião para oferecer a este na
esperança de que o avião caia. A intenção de A é que o avião caia, embora não faça
nada para que o avião caia. A teoria da causalidade adequada poderia imputar a morte a
quem comprou o bilhete mas comprar o bilhete não é um Risco Proibido.
4 - Resultado que cai fora do âmbito de protecção da norma. É a chamada interrupção
do nexo causal. (O Dr. Lince de Faria prefere resolver os casos pela interrupção do nexo
causal). Exemplo: A dispara um tiro contra B que cai no chão a esvair-se em sangue
mas que, enquanto ainda está viva é atingida por um raio que lhe causa morte imediata.
Nesta situação não há imputação objectiva. Há uma interrupção do nexo causal. O
resultado fica fora do âmbito de interpretação da norma.
5 – Nos (apenas) crimes negligentes, os “casos dos comportamentos lícitos
alternativos”. Mesmo que o agente tivesse agido sem negligência o resultado danoso
ter-se-ia provavelmente produzido. Exemplo: o agulheiro dos caminhos-de-ferro
engana-se e provoca o choque entre dois comboios. Em princípio seria responsável por
vários homicídios por negligencia. Mas vem a provar-se que, mesmo sem o erro, na
outra linha também circulava uma composição em sentido contrário e também haveria
acidente. Esta situação é suficiente para que o agente não seja responsabilizado.
6 – Caso da “constituição anormal da vitima”. Exemplo: Um arranhão não é causa
adequada para provocar a morte. No entanto, num hemofílico, pode provocar a morte.
Se o agente conhecer a condição anormal da vitima é responsabilizado por esta teoria.
7 – “Crimes agravados pelo resultado”. Tem dois resultados: o resultado mais grave e o
resultado menos grave. O primeiro resultado é a título de dolo (a agressão por exemplo)
e o segundo resultado a título de negligência (a morte resultante da agressão). Exemplo:
A dá uma bofetada a B e este morre. Para haver uma imputação objectiva da morte a A
é preciso provar um duplo nexo causal: entre a acção e o primeiro resultado e entre o
primeiro resultado (a bofetada) e o segundo resultado (a morte). A teoria do risco diz-
nos que a bofetada não é passível de morte da vitima. O perigo representado pela
bofetada não é passível de concretização em morte da vitima. Em conclusão, destes 7
tópicos os mais importantes são: - A diminuição do Risco - Os cursos causais
hipotéticos - O risco não proibido - Resultado fora do âmbito de protecção da norma
(interrupção do nexo causal) - Comportamento licito alternativo para os crimes
negligentes Para os casos de constituição anormal da vitima basta saber se o agente
conhece ou não essa condição da vitima. Não é preciso aplicar a teoria.

O ERRO – Falsa (ou deficiente) percepção da realidade. A melhor maneira é distinguir


entre erro-ignorância e erro-suposição.
ERRO IGNORÂNCIA – É o único verdadeiramente tratado como erro em direito
penal. (Um caçador que mata outro pensando que disparava sobre uma peça de caça
encoberta pelos arbustos). Há um erro sobre elementos de facto, essenciais para
preencher o tipo. Há um desconhecimento (uma ignorância) sobre elementos de facto
(ou de direito). Este erro está no art.16º do CP. Este erro exclui o dolo mas não a
negligência.

ERRO SUPOSIÇÃO – Chama-se também Tentativa Impossível. Art 23º n.3. (Um
caçador vê um movimento atrás do arbusto, quer matar o outro caçador, e dispara,
matando o cão de outro caçador). O caçador esta em erro. Um erro suposição. Ele supõe
que está lá uma pessoa, fica convencido que está a praticar um homicídio, mas está em
erro porque não está lá a vida humana. Este erro é uma tentativa impossível e não é
punível pelo direito penal.

CASO PRÁTICO
António decidiu matar Bernardo. Ao ver na rua principal da cidade passar um homem
com a estatura de Bernardo e convencido de que seria ele, António disparou
mortalmente. Contudo o homem em quem acertara era Cardoso. Quid Iuris?
R – Há uma acção jurídica e penalmente relevante, o bem jurídico é a vida, logo existe
um crime de homicídio. A conduta do agente foi adequada a produzir a morte da vítima.
Há aqui, no entanto, um erro ignorância, quanto ao objecto, mas não quanto ao bem
jurídico, logo o erro é irrelevante. Quando se trata de bens jurídicos idênticos o erro
ignorância é irrelevante. António seria punido por um crime de homicídio. E o dolo é
directo.
Exemplo de “ultrapassagem” do risco permitido: Um industrial alemão fabricava
pincéis com pelos de cabra. Esses pelos exigiam um desinfectante especial porque senão
poderiam provocar a morte de quem os manuseasse. O industrial não usou o
desinfectante e quatro funcionárias morreram. O tribunal considerou que o industrial era
responsável pelas mortes. O risco era superior ao permitido.
Em Portugal a teoria dominante é a da causalidade adequada. Deve-se ao Prof.
Figueiredo Dias ter introduzido na nossa doutrina a teoria do risco. Os mentores da
escola de Lisboa (Prof. Cavaleiro Ferreira) e da escola de Coimbra (Prof. Eduardo
Correia) acolheram a mesma corrente. No fundo é a corrente que tem como principal
referencia internacional o Prof. Klaus Roxin.

O DOLO (Art. 14º do CP) Neste artigo estão previstas três modalidades de dolo:
- DOLO DIRECTO – Implica elemento Cognitivo (consciência da possibilidade da
acção produzir o resultado) e Volitivo (vontade de produzir o resultado).
- DOLO NECESSÁRIO – Implica elemento Cognitivo mas menos do elemento
Volitivo. - DOLO EVENTUAL – Implica menos do elemento Cognitivo e menos do
elemento Volitivo. A figura do dolo teve origem no direito romano onde era a
responsabilidade pela provocação de um resultado (ora isto é mais culpa do que dolo).
O direito germânico era muito mais objectivista. O que interessava era a imputação
objectiva de um dano ao agente. Saber se tinha culpa ou não era menos importante.
DOLO – É o conhecimento e a vontade da realização do facto típico. O prof. Figueredo
Dias inclui ainda, além dos elementos intelectual e volitivo, um elemento emocional: “a
atitude do agente em relação à norma jurídica violada”.
Os outros autores como a Dra. Teresa Beleza, Prof. Rui Pereira e Prof. Rui Palma, não
concordam. Consideram só existirem os dois primeiros elementos.
- O ELEMENTO INTELECTUAL ou COGNITIVO – É o conhecimento de todos os
elementos da factualidade típica. Exemplo de elementos da factualidade típica: No
crime de homicídio o elemento da factualidade típica é uma pessoa viva. No crime de
furto é o bem alheio.
- O ELEMENTO VOLITIVO, da vontade – A resolução de executar a acção típica
pelo agente. Tem que haver uma base de vontade mínima e isso não tem nada a ver com
uma ilusão, um desejo ou uma esperança.
DOLO ANTECEDENTE existe uma intenção prévia do agente que não tem nada a ver
com a acção. Exemplo: A quer matar B e vai planear um acidente de caça para o matar.
Mas acaba por não executar o plano. No entanto, por uma circunstancia negliegente,
acaba por matar o outro. Neste caso o dolo não tem efeitos.
DOLO CONSEQUENTE – Exemplo: A dispara contra B. A não promove o seu
auxilio e B morre por se esvair em sangue. São duas coisas distintas. O dolo reporta-se à
omissão ausente.

A NEGLIGENCIA (Art. 15º) Consciente e inconsciente são modalidades de negligência


(não são graus).

CAUSAS DE JUSTIFICAÇÃO (OU DE EXCLUSÃO DE ILICITUDE)


As causas de justificação ultrapassam o Código Penal. Algumas estão fora do direito
penal. Para o Prof. Cavaleiro de Ferreira as causas de justificação integravam apenas
elementos objectivos e nenhum elementos subjectivos. Hoje a doutrina (por exemplo o
Prof. Figueiredo Dias) entende que as causas de justificação integram também
elementos subjectivos. O Prof. Figueiredo Dias entende que a lógica do 38º n.4 pode ser
aplicado analogicamente a todas as outras situações de justificação. O CP não responde
directamente.
Mas indirectamente o n.4 do art. 38º diz-nos que o elemento subjectivo é importante
para esta causa de justificação. Por exemplo; na legitima defesa, A vai agredir B, porém
B ignora que A o vai agredir e por sua vez agride A. Estamos perante um pressuposto de
legitima defesa, o problema é que A ignora essa situação, logo A não pode invocar a
legitima defesa. Falta o elemento subjectivo.
Para o Prof. Cavaleiro Ferreira o não saber que ia ser agredido não era importante. O
que interessava era haver objectivamente uma situação de legítima defesa. Havia então
uma actuação justificada. Em conclusão, para uma teoria que defende os elementos
subjectivos, o conhecimento é essencial nas situações de causas de justificação. O Prof.
Rui Pereira considera que não há causas de justificação sem elementos subjectivos.
Invoca razões sistemáticas, com base na teoria do ilicito pessoal (da teoria do crime): a
acção comporta um elemento finalista. Se a acção é tendencialmente finalista como é
que podemos agir para repelir uma agressão se não sabemos que o outro nos vai
agredir? Isto quer dizer que para actuar em legitima defesa o agente tem que ter
conhecimento da intenção do outro. Todas as causas de justificação tem pelo menos o
elemento intelectual presente (o conhecimento). Nalgumas existe também o elemento
volitivo. Os elementos subjectivos são:
- Elemento intelectual (o conhecimento) - Elemento volitivo (o querer) Causas de
Justificação: - O consentimento (art. 38º) - obriga ao conhecimento – Elemento
intelectual - A legitima defesa - obriga ao conhecimento e ao animus defendendi –
Elementos intelectual e volitivo Art. 38º n.4 – Porque é que agente neste caso não é
punido pelo crime mas apenas pela tentativa?
R – Porque existe uma semelhança com a tentativa (na tentativa existe uma intenção do
agente mas o resultado não se vem a verificar). A causa de justificação não vai interferir
na intenção do agente (que nem tem conhecimento), vai é retirar a consumação do
crime. É que se existe consentimento, a vitima já está à espera. Por exemplo, se a vitima
gosta de levar estalos, embora o agente não saiba disso, a vitima já está à espera de levar
o estalo e até aprecia. Logo não há consumação do crime. É por isso que nestes casos a
acção é punida como tentativa. (o consentimento, no entanto, só é admitido para certos
crimes. Não se admite quando estão em causa bens indisponíveis, como a vida, por
exemplo).
Em conclusão: o resultado é justificado (é consentido pela vitima) a intenção é que não
é justificada (porque não havia conhecimento do agente), logo é a intenção que é punida
como tentativa. A Ilicitude tem dois desvalores: - Desvalor da acção - Desvalor do
resultado Com o consentimento fica justificado o desvalor do resultado. Logo só a
tentativa (desvalor da acção) é punida. Sempre que a causa de justificação contenha
apenas o elemento intelectual aplica-se o 38º n.4.
No caso da legítima defesa é diferente porque estão em causa dois elementos
subjectivos (intelectual e volitivo).
Para o Prof. Figueiredo Dias esta lógica do 38º n.4 poderia ser aplicada à legitima
defesa e o agente deveria ser punido apenas por tentativa (em caso de A agredir B sem
saber que este ia agredi-lo).
No caso da Legitima Defesa Objectiva (quando o agente não sabe que ia ser agredida),
há quem defenda a aplicação do 38º n.4 e quem defenda que o agente deve ser punido
por crime consumado. É o caso do Prof. Rui Pereira que defende que o 38º n.4 só se
aplica a causas de justificação que tenha apenas o elemento intelectual. Logo em todas
as outras, que contém também o elemento volitivo, o agente deve ser punido pela
consumação do crime.

SITUAÇÃO DE ERRO Faltam os elementos objectivos. Por exemplo, B aproxima-se


de A, B pensa que A o vai agredir e agride-o. Há um erro. B está em erro. Outro
exemplo: B agride A porque pensa que A consente. Consentimento Putativo. B está em
erro. Aplica-se o art. 16º n.2 – porque falta um elemento objectivo. No caso de erro o
agente está em erro sobre os pressupostos de facto da causa de justificação. Há
consentimento putativo ou legitima defesa putativa. Ou seja; o agente pensa que há
consentimento ou que está a agir em legitima defesa. O agente convence-se que há um
incêndio em sua casa e para se salvar arromba a porta de casa do vizinho. Há um Direito
de Necessidade Putativo. O agente pensa que existe Direito de Necessidade.

A doutrina: - Teoria Rigorosa da Culpa (Welzel – autor da escola finalista) – Quem


estivesse em erro seria punido por crime doloso. O erro poderia ser desculpável (excluía
a culpa) ou indesculpável (se atenuava a culpa). É difícil perceber, ao nível da culpa, se
o erro é desculpável ou indesculpável, pelo que a teoria era difícil de aplicar. - Teoria
dos Elementos Negativos do Tipo – O tipo teria elementos positivos e negativos (ou
permissivos ou causas de exclusão). As causas de justificação enquadravam-se no tipo
(tipicidade) e não na ilicitude. Isto significa que só preencheria o tipo quem praticasse
um homicídio (elemento positivo) mas simultaneamente não tivesse uma causa de
justificação (elemento negativo). Também não se aplica hoje, diz-se que esta teoria é
uma pura ficção. O Código Penal separa os tipos incriminadores das causas de
justificação ou tipos permissivos.
Teoria da Culpa Moderada (é a do nosso CP) – Sempre que houver erro sobre os
pressupostos de facto de uma causa de justificação o agente pode ser punível por crime
negligente. É por isso que o Art. 16º n.2 – Exclui o dolo. (Segue a mesma estatuição do
n.1 do mesmo artigo). Aplica-se sempre o n.3: “fica ressalvada a punição por
negligência”. Causas de exclusão da ilicitude e Causas de exclusão da culpa. Ambas
implicam a não punição do agente. Mas têm consequências diferentes. No caso de causa
de exclusão da culpa é possível outra causa de exclusão da ilicitude mas em causa de
exclusão da ilicitude já não é possível outra causa de exclusão da ilicitude. Primeira
situação: Não há causa de justificação sobre causa de justificação (não há legitima
defesa sobre legitima defesa).
Segunda situação: A causa de justificação, quando aplicável é extensível a todos os
participantes (cúmplice e instigador). No caso de exclusão da culpa é possível a legitima
defesa (art. 33º). Mas, ao contrário da ilicitude, é subjectiva, não é extensível a todos os
comparticipantes. Teria de haver uma causa de exclusão da culpa para cada um.
TIPOS DE CAUSAS DE EXCLUSÃO DE ILICITUDE (DE JUSTIFICAÇÃO)
LEGAIS:
- Legitima Defesa (32º) – Tem dois grandes princípios de base: O direito não deve
ceder perante o ilícito (a necessidade de assegurar o direito no momento) e o Principio
da autonomia (cada um tem uma faculdade de autoprotecção).
PRESSUPOSTOS (elementos extrínsecos) da legítima defesa – São dois.
A existência de interesses juridicamente protegidos (quaisquer interesses protegidos
pelo direito mas individualizados e não difusos)
A existência de uma agressão actual e ilícita (acção dominável pela vontade, ou
omissão, mesmo negligente, desculpável ou inimputável, que terá de ser actual ou
iminente e ilícita).
REQUISITOS (elementos intrínsecos) da legítima defesa – São dois.
Primeiro a necessidade de defesa (que não seja possível recorrer à tutela publica e
utilizar o meio menos gravoso disponível em tempo útil) e
Segundo o animus defendendi (tem dois elementos, o intelectual e o volitivo). - Direito
de Necessidade (34º) - Conflito de Deveres (36º) - Obediência Hierárquica (36º) -
Consentimento do Ofendido (38º) – O consentimento pode ser causa de exclusão da
tipicidade (art. 190º, por exemplo) ou da ilicitude (art. 38º - apenas nos casos de bens
jurídicos livremente disponíveis – art. 149º, por exemplo - e se o facto não ofender os
bons costumes).
O consentimento pode ser expresso, por qualquer meio, de forma séria, livre e
esclarecida, ou presumido (art. 39º). O consentimento tem de ser conhecido do agente. -
Direito de Detenção (C. Processo Penal) – Quando há uma situação de flagrante delito,
sempre que ao crime couber uma determinada pena, o próprio particular, na ausência de
uma autoridade policial, pode deter o agente até à chegada das autoridades. É uma causa
de justificação para o crime de coação.
Acção Directa (C. Civil, art. 336º) – Pode operar quando estão em causa bens
patrimoniais. Tem aspectos da legítima defesa e do direito de necessidade. É praticável
em casos em que tenha havido uma agressão ilícita mas que já não é actual (se fosse
actual seria legitima defesa ou direito de necessidade). Existe quando alguém é roubado,
não percebe logo (pelo que não à legitima defesa) mas detecta a sua carteira na mão de
uma pessoa que se preparara para apanhar um avião. Pode agir em acção directa para
recuperar a sua carteira. - Direito de Correcção (C. Civil, art. 1878º e 1875º) – O direito
dos pais de educarem os filhos (com limites porque senão pode chegar à fronteira dos
maus tratos). - Direito à Greve (Lei da Greve) – É uma causa de justificação
relativamente ao art. 385º do Código Penal. - Causas Especificas - Causas Especificas
para a Interrupção Voluntária da Gravidez (142º) – Causas de justificação para a
interrupção voluntária da gravidez. A alínea a) pode agrupar-se com a alínea b) – é a
indicação saúdo-terapeutica: a vida ou grave perigo para a saúde da mãe – a alínea c) –
é a chamada indicação eugénica (do grego “bem nascida”): tem um prazo, excepto para
fetos inviáveis - e a alínea d) – indicação ética, tem prazo. SUPRA LEGAIS: - Legitima
Defesa Preventiva - Estado de Necessidade Defensivo – A CULPA – O comportamento
só é culposo se for exigível ao agente, se for censurável. (história da Tábua de
Carniades – num naufrágio, existindo uma tábua de salvação já no limite da lotação, não
é censurável que não se admitam mais pessoas apesar de se saber que os excluídos vão
morrer). A culpa é constituída por três elementos: - A Censurabilidade / Exigibilidade -
A Capacidade de Culpa do Agente (imputabilidade) – É importante devido à
inimputabilidade – art. 19º e 20º (em razão da idade, devido a anomalia psíquica ou a
provocada pelo próprio agente). - A Consciência da Ilicitude Os dois últimos elementos
são os elementos… O critério para aferir a culpa – Se uma outra pessoa (o homem
médio) colocada no lugar do agente agiria ou não de outra forma. Princípio da Culpa –
Decorre, desde logo, da Constituição (art.1º, 13º, 18º). É a existência de um efectivo
nexo subjectivo entre o agente e o facto. (Não tem nada a ver com a imputação
subjectiva, que tem a ver com o dolo ou a negligência. O dolo e a negligência fazem
parte do tipo, da tipicidade). É obvio, no entanto, que uma conduta dolosa é mais
culposa que uma conduta negligente, mas são estádio diferentes. Pode haver dolo com
maior ou menor culpa. Não há pena sem culpa e a medida da pena não pode exceder a
medida da culpa (art. 71º). Nexo subjectivo porque a culpa respeita individualmente a
cada um dos agentes independentemente de quantos praticaram o crime. O direito penal
é, por isso, um direito penal da culpa e não um direito penal do agente (o agente até
pode ser um agente da pior espécie, mas se não tiver culpa…).

O juízo da ilicitude começa em sede de imputação objectiva e subjectiva da ilicitude.


Tem a ver com a apreciação da situação jurídica de um ponto de vista objectivo (teorias
de imputação – da causalidade adequada e teoria do risco). O juízo da culpa é apreciado
mais adiante (noutro estádio). Há também um nexo objectivo mas distinto da imputação
objectiva porque é apreciada também a formação da vontade do agente. É preciso ver,
em relação a cada agente individualmente, a capacidade de culpa (imputabilidade ou
inimputabilidade do agente, ou ainda imputabilidade diminuída), a censurabilidade ou
exigibilidade (a inexigibilidade é também uma causa genérica de exclusão da culpa) e
ainda a consciência da ilicitude (art. 17º - é também uma causa de exclusão da culpa
desde que o erro não seja censurável). O juízo de ilicitude precede o juízo de
culpabilidade. A concepção normativa da culpa (teoria doutrinária – estudar) – Assenta
grandemente no elemento censurabilidade.
Caso Prático:
Alberto arromba a porta da casa de Bento, introduz-se lá dentro e encontra B inanimado
devido a uma fuga de gás. Graças à ventilação provocada pelo arrombamento da porta
Bento começa a recuperar. Quid Júris?
R – O comportamento de Alberto é uma acção humana, controlável pela vontade,
penalmente relevante. Existe um concurso aparente de crimes. Um de introdução em
local vedado ao público qualificada (por existir arrombamento). É um crime de mera
actividade (não é preciso fazer imputação objectiva). Terá de fazer-se a imputação
subjectiva (em que há dolo directo, existindo os elementos cognitivo e volitivo). Quanto
à ilicitude, existe uma causa de exclusão da ilicitude (art. 34º - e por faltar o elemento
subjectivo intelectual, a intenção de protecção, - conjugado pelo art. 38º n.4 que é
aplicado analogicamente). Assim Alberto seria punido apenas pela tentativa do crime
que praticou. Se o perigo não existisse e Alberto entrasse na casa de Bento pensando
que precisava de o salvar, tratava-se de um erro sobre as circunstâncias do facto (art. 16º
n.2). Haveria um erro de necessidade putativo. Neste caso seria excluído o dolo (art. 16º
n.3) pelo que o agente deveria ser responsabilizado por negligência. Como a negligência
não está ressalvada no tipo este agente não poderia ser responsabilizado (art. 13º).

Caso Prático
Um grupo de turistas visita uma gruta sem saída onde se encontram já sete pessoas. Ao
entrar um gordo fica entalado à porta da gruta. Não há maneira de alimentar os
enclausurados. Perante o perigo de vida das pessoas encurraladas será licito colocar em
em causa a vida do gordo? Sete vidas valem mais do que uma? Não. Juridicamente essa
comparação não pode ser estabelecida.
Caso Prático
Ana segue numa caminhada pela serra e, com mais 2 pessoas, iniciam uma descida.
Ficaram em risco. Mas Ana só tinha um cabo para auxiliar um deles. Assim um salva-se
mas Bento cai do penhasco e perde a vida. Quid Júris?
R – Há uma omissão imprópria - quando Ana tem uma posição de garante material, por
deter o monopólio dos meios de salvamento - que produz um crime de homicídio. Ana
sabe que vai produzir a morte, embora não queira. Há dolo necessário. Na ilicitude
existe uma causa de exclusão: há um conflito de deveres (deve salvaguardar dois bens
mas só consegue salvar um). Para isso terá de satisfazer-se o dever de valor igual ou
superior. Neste caso os bens (vidas humanas) são iguais. Caso Prático: António está
prestes a desferir um tiro em Bernardo. Contudo Cardoso, rival politico de António,
arremessa-lhe um tijolo à perna para se livrar dos recentes resultados eleitorais. Ao fazê-
lo e com a dor provocada pelo embate, António desvia a trajectória do tiro e não acerta
em ninguém. Quid Júris?
Caso Prático:
Ana entra na sua sala e encontra Bertolino com uma faca apontada ao pescoço da sua
colega Carla. Sem pensar em mais nada agarra num agrafador que estava em cima da
escrivaninha e atira-o ao braço de Bertolino. Bertolino fica com o braço ensaguentado.
Bertolino e Carla, actores amadores, estavam a ensaiar a ultima cena da peça “mais vale
tarde do que sangue no alguidar”. Quid Júris?
R – Estamos perante uma acção jurídico-penalmente relevante, fazendo-se a imputação
objectiva vê-se que a acção produziu aquele resultado (trata-se de um crime de resultado
– crime contra a integridade física). É preciso fazer também a imputação subjectiva.
Assim é preciso apreciar se existem os pressupostos da legitima defesa, de terceiro. Não
existem. Não há agressão actual e ilícita (primeiro pressuposto). O que há é uma má
percepção da realidade por parte do agente. Um erro (art. 16º n.2), uma legitima defesa
putativa. Os requisitos: se a ameaça existisse o meio seria necessário, havia também
animus defendendi. A consequência do erro do 16º n.2 é a exclusão do dolo. O agente
só pode ser punido a titulo de negligência (art. 148º - ofensas à integridade física por
negligência). Ana poderia ser responsabilizada por ofensa à integridade física por
negliegência.
Caso Prático:
Anabela vê o seu amigo B ser mordido por uma cobra. Sem pensar duas vezes e vendo o
seu amigo a desmaiar decide agarrar num canivete e fazer-lhe um corte para extrair o
sangue impregnado. Quando B retoma a consciência fica indignado e diz-lhe que acha
inadmissível o corte que lhe fez afirmando-lhe que nunca lhe permitiria tal coisa se
estivesse consciente.
R – Há uma acção de Anabela (um comportamento humano controlável pela vontade).
É uma acção típica (trata-se de uma agressão à integridade física de B – art. 143º).
Quanto à ilicitude existe uma causa de exclusão da ilicitude: o Consentimento
Presumido (art. 39º).
Autor Material – É aquele que pratica os factos por si mesmo (art. 26º) Instigador –
Alguém que convence outra pessoa a praticar um facto, que lhe cria a vontade de
praticar o facto. Cúmplice Material – O que presta ajuda de meio (fornece o meio para a
prática do facto). Cúmplice Moral – O que presta ajuda na preparação O cúmplice não
entra no domínio do facto. A vontade é do autor. O cúmplice é o que tem a menor
intervenção. É por isso que é punido com uma pena especialmente atenuada (art. 27º). O
artigo diz que o cúmplice é punido com a pena fixada para o autor especialmente
atenuada. Atenção que isto não quer dizer que será punido com uma pena igual á do
autor de que foi cúmplice, porque isso quereria dizer que se aplicaria o mesmo grau de
culpa a ambos Mas antes que se aplica uma atenuação à pena que se fixaria para o
cúmplice se ele próprio fosse o autor (precisamente porque só pode ser punido pela sua
própria culpa). Autor Mediato (autor moral) – É aquele que actua por intermédio de
outro (o autor material).
A diferença em relação ao Instigador é que no caso do Autor Mediato o autor material
não tem uma vontade relevante. Há portanto uma instrumentalização. Co-autoria – Os
agentes acordam praticar o facto em conjunto. I convence A a matar B. A mata porque
sabe que B sofre de uma doença terminal. I é o instigador. A é o autor material. Qual é a
responsabilidade de cada um deles? Começa-se sempre pelo autor material. Assim: A
praticou uma acção jurídico-penalmente relevante, típica (um homicídio), ilícita, não há
causas de exclusão da culpa nem da ilicitude. No entanto ele matou porque não
conseguia ver o sofrimento do B, ou seja, por compaixão (art. 133º). É um homicídio
privilegiado (tem a ilicitude do homicídio simples mas tem uma culpa diminuta, logo
uma pena bastante atenuada). Como se apura a responsabilidade do Instigador? O
princípio da culpa é fundamental (porque é um elemento pessoal). A tipicidade e
ilicitude é igual à do autor. A culpa é que será diferente. No caso do autor há culpa
privilegiada. Mas o instigador não tem essa culpa. Logo será punido por homicídio
simples (terá uma pena mais pesada). Art. 26º (estende a tipicidade e a ilicitude ao
instigador) e 29º (limita a pena ao grau de culpa de cada participante – teoria da
acessoriedade limitada). Teoria da acessoriedade limitada – É possível estender as
circunstâncias de ilicitude do autor para o co-participante mas o que não se pode
estender é a culpa. A culpa terá de ser aferida autonomamente para cada um deles. (O
principio da culpa deve sair na segunda frequência)
Caso Prático
Alberto decidiu matar o seu vizinho Bento por saber que este tinha intenção de sair do
país sem lhe pagar o que devia. Para tal pediu ajuda a Cardoso o qual lhe forneceu uma
arma de dois canos para o efeito. Alberto entrou em casa de Bento e ao vê-lo disparou
acabando porém por acertar em Daniela, mulher daquele, que ficou gravemente ferida
num braço. Ao contar o sucedido a Cardoso, já depois de ter saído dali, este disse-lhe
que, se fosse a si, saia do país e que o melhor era subtrair o Mercedes do vizinho para
não dar nas vistas. Alberto fugiu para Espanha com o carro de Bento. Quid Júris?
R – Alberto é o autor material. Há um erro na execução do crime. Há actos de execução
(art. 22º n.2 alinea B) pelo que em relação a Bento há uma tentativa de homicídio. Em
relação à mulher, Daniela, há dolo (teve intenção) mas atingiu-a por negligência. Pode
ser punido por ofensa à integridade física por negligência (art. 148º). Cardoso é
cúmplice material (forneceu o meio para o crime) art. 27º. Estende-se a ilicitude e a
tipicidade do autor ao cúmplice, pela teoria da assessoriedade limitada. Em relação à
tentativa de homicídio o cúmplice seria também punido mas não em relação à ofensa à
integridade física porque foram praticadas por negligência e não há transmissão dos
elementos ilicitude e tipicidade sem dolo. Quando ao crime de furto do automóvel,
temos um autor material – Alberto que leva o carro – e um instigador - Cardoso porque
convenceu o outro. O instigador seria responsabilizado através da teoria da
assessoriedade limitada. A ilicitude do autor estende-se-lhe. Só a culpa é que não se lhe
transmite. Caso Prático: Alberto, patrão de Bruno, menor de 15 anos, pagou 500 euros a
Carlos para praticar actos homossexuais com o menor. Carlos assim o fez. Quid Júris? R
– Art. 174º, 175º e 177º
Caso Prático
António pagou 500 euros a Bento para ofender a integridade física do namorado da sua
filha, Gastão. Bento aceita o dinheiro e paga por sua vez 250 euros a Cândido para
efectuar o trabalho. Cândido deu vários murros em Gastão deixando-o com um
traumatismo craniano. Quid Júris?
R – Trata-se de um crime de ofensas à integridade física (art. 143º), um crime de
resultado. Em relação a Cândido há imputação objectiva e imputação subjectiva. Não há
causas de exclusão da ilicitude nem da culpa. Quanto a António é o instigador (art. 26º),
foi ele que criou a vontade relevante para a prática do crime, pagando. O Prof. João
Raposo defende que se o instigador tinha como vontade convencer alguém a praticar um
crime mas não é esse segundo que o vai praticar mas sim um terceiro existe uma
“aberratio ictus” (um erro na execução). O mesmo professor João Raposo tem outra
teoria: Admite que há um desvio no nexo causal mas é um desvio irrelevante pelo que o
instigador continua a ser o primeiro. Ou seja, a instigação determina-se pela criação da
vontade relevante. O assistente da cadeira prefere esta segunda teoria.
Bento seria um cúmplice (art. 27º). Teria de aplicar-se a teoria da acessoriedade
limitada. Tanto em relação a A como a B não existem causas de exclusão da ilicitude
nem da culpa.
CÚMULO JURÍDICO (art. 77º) – Não se faz o cúmulo aritmético. Quando alguém
pratica vários crimes aplica-se uma pena como se o conjunto fosse apenas um único
crime. Existem balizas, o limite máximo é a soma das penas de todos os crimes
praticados pelo agente e o limite mínimo é a pena do crime mais grave cometido pelo
agente. O juiz soma as penas que aplicaria ao agente por cada uma das penas, encontra
uma nova “moldura penal” e volta a fazer o cruzamento entre essa nova “moldura
penal” e a medida da culpa do agente.

Caso Prático
António, Maria e José decidiram entrar num plano para assaltar o Banco Espírito
Comercial. Para tal arranjaram umas meias de vidro, enfiaram-nas na cabeça e
dirigiram-se à dependência de Vila Nova de Cima. António e José entraram no banco
tendo Maria ficado à porta para verificar se aparecia alguém. Maria, muito nervosa, e
começando a pensar nos seus filhos, decidiu ir à policia e denunciar todo o sucedido.
António e José foram surpreendidos quando se encontravam à porta do banco com
milhares de euros, prontos para fugirem. Quid júris?
Caso Prático
Artur, Bento e Carlos decidiram assaltar uma ourivesaria em Setúbal e gizaram um
plano nos termos do qual, durante a noite, o primeiro arrombaria a porta, o segundo,
armado com uma pistola, ficaria na rua para verificar se alguém se aproximava e o
terceiro entraria na loja para retirar as jóias mais valiosas. De seguida pôr-se-iam em
fuga num automóvel conduzido por Artur, o qual haviam pedido emprestado a Duarte.
Ainda Artur não acabara de forçar a porta da ourivesaria quando surgiu o primeiro
contratempo: Ernesto, policia de serviço, passou ocasionalmente pelo local. Bento
disparou contra ele dois tiros. O primeiro acertou-lhe no tórax e o segundo passou ao
lado e acabou por acertar em Hermínio que escondido atrás de uns arbustos e não
percebendo até a presença dos assaltantes, se preparava também ele para disparar sobre
Ernesto uma vez que descobrira naquele dia ser aquele amante da sua mulher. Carlos
assustado com tudo o que estava a acontecer decidiu desistir do assalto abandonando os
seus colegas, no entanto estes perseguiram-no e Artur entrou na loja retirando jóias no
valor de 100 mil euros. Atraído pelo ruído, Fernando, que vivia nas redondezas, foi
averiguar o que se passava. Viu Ernesto que se esvaia em sangue mas decidiu não pedir
auxilio porque pensou que ele já estava morto. Receoso de contactos com a policia
resolveu mesmo afastar-se rapidamente. Foi nessa altura que a policia, alertada por um
vizinho que ouvira os tiros, chegou ao local. Vendo Fernando que se retirava, Gil,
agente da polícia, pensando que se trataria de um dos assaltantes, ordenou-lhe que
parasse. Fernando pôs-se em fuga e Gil disparou em direcção às pernas daquele mas
acabou por lhe acertar num pé. Em consequência dos factos descritos Hermínio teve
morte imediata. Ernesto, que ainda estava vivo quando a policia chegou ao local,
morreu a caminho do hospital. Fernando acabou também por morrer mas apenas porque
por ser hemofílico não foi possível
estancar em tempo útil a perda de sangue motivada pelo tiro no pé. Determine a
responsabilidade jurídico-penal dos intervenientes. R – Quanto à autoria, Artur, Bento e
Carlos são co-autores. Ernesto será, à partida, um cúmplice. Bernardo disparou contra
Ernesto. Existe uma acção jurídico-penalmente relevante, que configura um crime de
homicídio (131º), um crime de resultado, em que existe um evento que se destaca
espacio-temporalmente da acção, pelo que terá de ser estabelecido o nexo causal e feita
a imputação objectiva. Para isso existem várias teorias:
- Teoria da equivalência da condição – Saber se o agente produziu a causa sem a qual
aquele resultado não se produziria. - Teoria da causa adequada – Saber se o agente deu a
causa apta à produção daquele resultado. Neste caso teremos de aplicar o mecanismo da
prognose póstuma (verificar se para um homem médio com os conhecimentos do agente
era previsível que a sua acção produziria aquele resultado).
- Teoria do risco – O agente é responsável quando cria, aumenta ou não diminui um
risco não permitido pela ordem jurídica. E através da teoria da causa adequada está feita
a imputação objectiva. A acção produziu aquele resultado.
Depois terá de ser feita a imputação subjectiva: Podemos concluir que há dolo directo
ou dolo necessário. Há elemento cognitivo (ele sabe que disparando contra o tórax de
Ernesto o pode matar) e pode ou não haver elemento volitivo conforme ele tenha ou não
pretendido atingir realmente o tórax. Neste caso podemos argumentar por uma das duas
hipóteses. Não há causas de exclusão da ilicitude, nem da culpa nem da pena. Ao
disparar o segundo tiro Bernardo em vez de acertar Ernesto atinge Hermínio. Há
aberratio Ictus, um erro na execução. Relativamente ao bem jurídico que o agente tentou
atingir há uma tentativa, neste caso de homicídio, em relação ao bem jurídico atingido
existe um crime de homicídio, não com dolo, apenas por negligência porque o agente
não actuou com o dever objectivo e subjectivo de cuidado a que estava obrigado de
forma a não provocar aquele resultado. Teremos então uma situação de negligência e
poderemos, face à hipótese em concreto, sustentar que é consciente ou inconsciente. É
preciso é fundamentar se o agente se conformou ou não com o resultado produzido. Há
por isso uma tentativa por negligência. Acontece que ao atingir Hermínio, Bernardo
impediu que este eventualmente disparasse sobre Ernesto, logo poderá existir aqui uma
legitima defesa de terceiro.
Os requisitos e os pressupostos estão reunidos: a acção foi necessária, a ameaça era
actual e ilícita. Há que verificar também se há animus defendendi (o agente saber e
querer actuar em legitima defesa). Sobre isto a doutrina divide-se. Há autores que
dispensam a obrigatoriedade de animus defendendi (Prof. Germano Marques da Silva e
Prof.ª Fernanda Palma) e outros que exigem esse elemento para se poder considerar
legitima defesa. Neste caso não faz no entanto qualquer sentido considerar que se trata
de legítima defesa porque o agente não está a actuar para tutelar o terceiro mas sim para
ele próprio atentar contra o bem jurídico vida. Há um assalto. Mas Carlos decide desistir
do crime. Aplica-se o art. 25º porque é um caso de desistência em comparticipação.
Carlos praticou apenas actos de execução (art.22º) e uma vez que desistiu temos que ver
se a sua desistência é ou não relevante para a sua punibilidade. Não é relevante porque
ele nada fez para impedir o crime, logo os pressupostos do art. 25º não se verificam. No
elemento subjectivo, ele tinha dolo. Não há causas de exclusão da ilicitude nem da
culpa. Se não fosse um caso de furto qualificado haveria tentativa? Sim porque há uma
condição objectiva de punibilidade – ser um crime com uma moldura penal superior a
três anos (art. 23º n.1). Bento e Artur são co-autores de um crime de furto. Trata-se de
um crime de resultado (fazer a imputação objectiva e a imputação subjectiva). No caso
de Duarte (que emprestou o carro) é cúmplice material – porque ele tinha dolo de
cumplicidade, sabia que o carro se destinava à prática de um crime (art. 27º). O
cúmplice é responsabilizado aplicando-se a teoria da acessoriedade limitada –
estendendo-se as circunstancias da ilicitude e da tipicidade dos autores ao cúmplice,
exceptuando-se a culpa. Verifica-se depois a sua culpa. A pena a aplicar terá de ter em
conta o art. 27º n.2 e o art. 73º. Fernando não auxiliou Ernesto que se esvaía em sangue
porque pensou que este já estava morto. Há uma omissão própria (art. 200º) porque ele
nada fez para evitar a produção do resultado morte. Isto se considerar-mos que
Fernando não tinha uma posição genérica de garante, de fonte material, uma vez que
tinha o monopólio dos meios de salvamento (porque foi o único que viu Ernesto ferido).
Se considerarmos que tinha essa posição de garante Fernando poderá ser punido por um
crime de homicídio negligente (art. 137º).
No entanto existe um erro sobre as circunstancias de facto, sobre o objecto (Fernando
desconhecia que estava lá uma vida) porque Fernando não se apercebeu de que Ernesto
ainda estava vivo (art. 16º n.1). Neste caso o dolo seria excluído pelo que Fernando
poderia ainda ser punido por homicídio por negligência se concluirmos que tinha o
dever de verificar se Ernesto estava vivo. Trata-se de uma negligência inconsciente
porque se o agente pensou logo que a vitima estava morta foi porque nem sequer
admitiu a hipótese de ela estar ainda viva. A partir do momento em que há está omissão
de Fernando verifica-se um desvio do nexo causal entre a acção de B e o resultado
morte de E. Assim B passa a ser acusado de tentativa e não de homicídio consumado.
Isto porque o domínio do facto deixou de estar no B para estar em Fernando. Gil ordena
a F que pare (esta ordem é uma coacção ilícita mas existe uma causa de exclusão da
ilicitude por tratar-se de um policia – art. 31º n.2 alínea C) e depois dispara contra as
pernas – é um crime de ofensa à integridade física – um crime de resultado pelo que
teremos de fazer a imputação objectiva e a imputação subjectiva – em que há dolo
directo ou necessário, conforme a fundamentação. Em consequência deste ferimento
Fernando morreu por ser hemofílico. É um crime agravado pelo resultado. Há então
dolo no primeiro resultado (ofensa à integridade física) e haverá negligência no segundo
(homicídio) se considerarmos que violou o dever objectivo e subjectivo de cuidado mas
como Gil não sabe que Fernando é hemofílico por isso não lhe pode ser exigido esse
cuidado, logo não há negligencia. Gil será responsabilidade por ofensa à integridade
física grave (art. 144º). Mas Gil estava em erro (art. 16º n.2) porque pensava que
Fernando tinha participado no crime, havia então uma causa de exclusão da ilicitude,
logo é afastado o dolo pelo que será acusado apenas de ofensa à integridade física por
negligência (art. 148º). Depois é preciso ver se há concursos. Há em relação a Bernardo
(crimes de tentativa de homicídio doloso, um homicídio por negligência e um furto). É
um concurso verdadeiro (vários crimes), real (várias acções) e heterogéneo (tem vários
tipos).

É uma forma de crime embora não consumado. Em que todos os actos de execução
foram produzidos mas o resultado não se verificou. Não há tentativas negligentes.
Deriva sempre de uma intenção do agente. Tem de haver dolo. Para verificar a tentativa
é essencial apurar o inter criminis (o percurso do agente): Começa com a mera
resolução criminosa (a decisão do agente de cometer o crime – que não é punível
porque ainda não tem relevância no mundo exterior), continua com os actos
preparatórios (art. 21º - já podem ser puníveis – são os actos que antecedem a execução
do crime), e termina com os actos de execução (que são puníveis – preenchem a
tentativa que é punível – art. 23º). Todo o inter criminis é exactamente igual ao do crime
doloso consumado com excepção do resultado, que no caso da tentativa não se verifica.
Há dois tipos de consumação:
- Consumação Formal – É a produção do resultado típico (no homicídio a produção da
morte).
- Consumação Material ou exauriamento do crime – Tem a ver com haver ou não lesão
do bem jurídico. Há lesão material quando além da tipicidade existe lesão do bem
jurídico.
Por exemplo: um pai abandona o filho na serra (há consumação formal do crime de
exposição ao abandono) mas só há consumação material se a criança morrer ou sofrer
lesão. É que o pai pode desistir de lhe provocar a morte e ir busca-lo antes da
consumação material. Nos crimes de dano a consumação material e formal coincidem.
Já não é assim nos crimes de perigo. Quando se verifica o resultado, o perigo, não há
obrigatoriamente lesão do bem jurídico. Neste caso há uma consumação formal mas não
há uma consumação material. Esta distinção dos tipos de consumação é importante para
efeitos de desistência. É que nos crimes de dano ainda é possível ao agente desistir de
provocar a consumação material mesmo depois de já ter consumado a formal.
Teorias sobre a punibilidade da tentativa:
- Teoria Objectiva – Foi a primeira. A punição da tentaiva era fundamentada pela
colocação em perigo do bem jurídico tutelado pela norma. Ou seja, um homicídio
tentado era punido por se ter colocado em perigo o bem jurídico vida. É um raciocino
incipiente porque não se pode aplicar à tentativa impossível. Por exemplo, um individuo
dispara uma arma descarregada (o meio não é apto à produção do resultado). Esta
tentativa impossível é punida pelo alarme social.
- Teoria Subjectiva – Em que o fundamento da punibilidade da tentativa é a
manifestação por parte do agente de uma vontade contrária ao direito.Esta teoria é
demasiado ampla porque se assim fosse os actos preparatória seriam em regra puníveis
(quando o são apenas excepcionalmente).
- Teoria da Impressão – Contem elementos das duas outras. Da teoria subjectiva, com
uma vontade contrária ao direito, mas – misturando a teoria objectiva – não é toda a
vontade contrária ao direitos, apenas a vontade que lese a confiança da ordem jurídica e
da paz jurídica. A tentativa impossível é punida pelo alarme social (há ma lesão da
confiança jurídica entre a comunidade).
Ainda não é a teoria perfeita porque, por exemplo, alguém tenta matar com um veneno
que nem sequer se detecta através da autópsia; isto não causa alarme social nenhum,
porque as pessoas nem sabem que o veneno existe. Contudo a tentativa existiu e esta
teoria não a contempla.
- Teoria do nosso código penal (art. 22º e 23º) Há três elementos essenciais: - Vontade
manifestada contrária ao direito - Lesão da confiança da comunidade - Colocação em
perigo de um bem jurídico.
Elementos subjectivos da tentativa:
- O Dolo - Os elementos subjectivos essenciais da ilicitude – Nos casos em que eles
existam.
- Os elementos objectivos da tentativa – São dois:
Primeiro a prática de actos de execução (art.22º n.1) e a não consumação (art.
22º n.1). Como se separam os actos preparatórios dos actos de execução? Há vários
critérios de distinção:
1 – Formal objectivo – Ver prof. Figueiredo Dias
2 - Material Objectivo – Ver prof. Figueiredo Dias
3 – Subjectivo – Ver prof. Figueiredo Dias
4 - Final Objectivo – (é o critério mais importante)
Um acto será preparatório ou executivo de acordo com o plano concreto do agente.
Significa que o mesmo acto pode ser nuns casos preparatório e noutros casos de
execução. Exemplo: A pretende matar B com veneno. Deita o veneno num copo de
leite. Há duas hipóteses: se dá o copo de leite à vitima (misturar o veneno é um acto
preparatório e o dar o copo é um acto de execução) ou se deixa o copo de leite no sitio
em que a vitima costuma todas as noite beber um copo de leite (misturar é um acto de
execução porque já não há mais qualquer acto depois desse). Requisitos da punição da
tentativa (art. 23º): Tentativa Idónea – A punibilidade é a criação de um perigo para um
determinado bem jurídico. Tentativa Impossível – Diferentemente da tentativa
impossível não é criado perigo para o bem jurídico. Neste caso a punibilidade tem a ver
com o alarme social. A tentativa existe, quase exclusivamente, nos crimes de resultado
(que incluem os crimes de dano). Nos crimes de mera actividade não se fala tanto em
tentativa porque é difícil saber onde acabam os actos preparatórios e os de execução. É
difícil separar os actos de execução da consumação. Nos casos em que for possível
separar os actos de execução da consumação a tentativa pode ser punível mesmo nos
crimes de mera actividade. Para isso é preciso atender ao plano do agente.
A PUNIBILIDADE – Pode conter uma condição objectiva de punibilidade (uma
circunstancia alheia ao tipo de crime). Por exemplo, art. 151º. Outro exemplo de uma
condição objectiva de punibilidade é a exigência de o criminoso se encontrar em
território nacional para que possa ser punido. Existem também as causas de isenção da
pena. Por exemplo, a existência do vinculo matrimonial entre as pessoas é geralmente
uma causa de isenção da pena – o cônjuge pode ser isento da pena de cumplicidade em
relação ao agente. As causas de isenção de responsabilidade criminal (as amnistias ou os
perdões de pena, em que existe tipicidade, ilicitude e culpa mas a conduta deixa de ser
criminalmente ilícita devido a uma causa extrínseca). Ainda as condições
procedimentais da situação criminal - em processo penal o Ministério Publico tem duas
formas de agir: ou actua directamente ou é exigida queixa do ofendido (nos crimes
menos graves). A Desistência CRIMES OMISSIVOS Praticados por quem tem uma
posição de garante Não há acção logo não há causalidade mas tem que haver imputação
objectiva que terá de ser feita em relação não à acção mas à conduta que o agente
deveria ter tido para evitar o resultado. Essa conduta tem de ser dolosa, ou seja, o agente
tendo de tomar uma conduta não a adopta e provoca o resultado. É difícil saber o que é
o dolo numa conduta omissiva. É o grau de intenção do agente (com os elementos
volitivo e intelectual) por forma a não actuar de acordo com o que lhe era exigido.
Assim dolo directo existe quando o agente quer a realização do facto típico (sabe que ao
não mandar a bóia o agente vai morrer). O dolo necessário existe quando o resultado é
uma consequência necessária da sua conduta de não agir (o agente sabe nadar e o
nadador não lhe atira uma bóia sabendo que há o risco de o agente não conseguir salvar-
se mas pensa “se morrer morre”). Ou seja no dolo necessário existe uma hipótese de o
resultado não se produzir. A omissão pode ter tentativa. Numa omissão própria (art.
200º) dificilmente pode haver uma tentativa. O Dr. Rui Pereira defende que ainda assim
é possível (quando o agente para o carro para ligar para o 112 mas não o chega a fazer e
depois aparece um terceiro que acaba por agir). Nos crimes por omissão imprópria (art.
10º n.2 mais outro artigo) pode haver tentativa (um banhista não socorre uma pessoa
que está a afogar-se mas esta acaba por salvar-se de outra forma). Nos crimes por
omissão há menos energia criminosa, menos desvalor da acção (menor ilicitude) e
menos culpa.
A posição de garante tem 3 fontes:
1 - Posição de garante resultante da lei – As relações familiares, entre os cônjuges ou na
união de facto, a relação de pais / filhos 2 - Posição de garante resultante de contrato –
Por exemplo as educadoras de infância em relação às crianças à sua guarda. Não precisa
de ser contrato escrito.
3 - Posição de garante resultante da ingerência – Em que a pessoa criou uma situação de
perigo e tem a obrigação de evitar que se produza o dano. Em qualquer destes 3
situações não há um quantun do dever jurídico. Esse dever não é quantificado em
nenhuma das três fontes.
Para isso fala-se em dois níveis de deveres:
- Deveres de protecção de determinados bens jurídicos – Divide-se em 3 grupos:
1 – Vinculação natural – A relação pai-filho,
2 – Relações comunitárias
3 – A assunção voluntária da tutela de um determinado bem jurídico (por exemplo,
substituir-nos voluntariamente a um socorrista)
- Deveres em que a pessoa que tem a posição de garante está obrigado a controlar certas
fontes de perigo – Quando um carro não está em condições de circular e provoca um
acidente de que resulta um morto – temos nesse caso um crime de homicídio doloso por
omissão porque o condutor tinha a obrigação de controlar essa fonte de perigo. Outro
exemplo, os pais que tem o dever de controle de fonte de perigo em relação a um filho
cuja conduta se aproxima da incapacidade.
TIPO DE CRIMES OMISSIVOS
Casos de interrupção do processo salvador – O agente pega na bóia mas depois não a
atira ao afogado.
Casos de colocação em estado de incapacidade de empreender a acção salvadora – O
agente que se embriaga com o objectivo de cometer o crime Casos de participação
activa em crimes omissivos – A aconselha B a não mandar a bóia. Diferença entre
omissão própria (pura) – é a lei que descreve qual é o comportamento que o agente deve
ter em certas omissões (por exemplo a omissão de auxilio em que os pressupostos estão
definidos na lei, há uma norma perceptiva) e omissão imprópria (impura) – resulta de se
ter a obrigação de se evitar um certo resultado e resulta do artigo 10º justaposto a alguns
artigos do CP (desde que o crime seja um crime de resultado) Crimes de omissão
imprópria - São todos os crimes de resultado a que nós somamos um dever de garante.
Teorias da Assessoriedade: O que é que se comunica dos vários elementos do crime
(acção, tipicidade, ilicitude, culpa e punibilidade) entre o autor e os comparticipantes e
vice-versa.
Assessoriedade Extrema – Nesta teoria transmitem-se todos os elementos
Assessoriedade Mínima – O que se transmite é a acção e a tipicidadeEITO PENAL I
Assessoriedade Limitada – Transmite-se a acção, tipicidade e ilicitude O nosso código
penal exclui as teorias Mínima e a da Inter-acessoriedade (art. 29º) porque a culpa não
se transmite.
A teoria que o nosso código segue é a teoria da Acessoriedade Limitada (os elementos
que se comunicam são a acção, a tipicidade e a ilicitude). Comparticipação na
Tentativa: Sendo uma forma de crime dolosa faz sentido existirem participantes na
tentativa

CRIMES NEGLIGENTES (Art. 13º - o crime é doloso sempre que a lei não diga que é
negligente) A negligência está no art. 15º. O mesmo tipo de crime pode ser doloso (por
exemplo no homicídio, art. 131º) ou negligente (por exemplo no homicídio, art. 137º).
Elementos do Crime Negligente: 1 – Relação causal entre a Acção e o Dano 2 – Relação
entre a Acção do agente e o Dever de Cuidado (se a acção do agente violou o dever de
cuidado). Há Modalidades de negligência (consciente ou inconsciente – art. 15º) e
Graus de negligência (simples ou grosseira). (Os crimes de perigo não tem a sua
correspondência na forma negligente) O crime negligente não admite tentativa (que por
definição é dolosa). A instigação e cumplicidade também não existem. Pode haver
autorias paralelas, não pode é haver coautorias (porque não há intenção logo não pode
haver combinação ou planos).
CONCURSOS
Concurso aparente ou de normas - O individuo mata outro motivado por compaixão
(133º) – Preenche simultaneamente os tipos do 131º e do 133º - Isto é um concurso
aparente ou de norma. Há uma pluralidade de normas das quais se aplica uma. Para isso
é preciso recorrer a critérios como o da especialidade (a norma especial prevalece sobre
a norma geral), subsidiariedade (só se aplica a norma subsidiária se não houver uma
norma primária para aplicar ao caso concreto. Por exemplo art. 152º n.1 in fine), a
subsidiariedade implícita (aplica-se normalmente nos crimes de perigo e de dano. Por
exemplo alguém que deixa uma criança em Monsanto às 3 da manhã: isto pode ser um
crime de exposição ao abandono e pode ser uma tentativa de homicídio, depende da
intenção do agente), da consupção (para chegar ao crime mais gravoso comete outros e
com a consupção é punido não por todos mas apenas pelo último (por exemplo quando
alguém para assaltar uma causa rebenta com a porta. Além do crime de roubo pratica o
crime de dano da porta. Neste caso em principio é punido pelo último que é o crime
mais grave.
Quando o última crime é o mais grave diz-se consupção pura. A impura é ao contrário.
Por exemplo quando para praticar um crime de burla o agente pratica outro, mais grave,
de falsificação de documentos) e ainda o facto exterior não punível (Alguém furta uma
pasta e depois para evitar ser descoberto queima a pasta. Há duas normas que se lhe
aplicam. A doutrina divide-se. Há autores que dizem que o agente deve ser punido por
dois crimes e outros que o agente deve ser punido apenas por um crime). O agente é
punido por um único crime. Concurso verdadeiro (art. 30º) – É um concurso de crimes.
O agente é punido por uma pluralidade de crimes. O concurso verdadeiro pode ser por
duas razões: - Devido a várias acções do agente - Devido a uma única acção do agente
O concurso verdadeiro pode ser: Concurso Ideal – Há uma acção para uma pluralidade
de crimes. Concurso Real – No código penal são equiparados mas em termos
dogmáticos são diferentes os concursos ideal e real. Real é quando há uma pluralidade
de acções para uma pluralidade de crimes. Tanto o concurso real como o ideal podem
ser heterogéneos ou homogéneos. Real Heterogéneo – Vários acções ou vários tipos de
crime. Real Homogéneo – Várias acções e o mesmo tipo de crimes.

PENAS Art. 40º – Fim da pena e principio da culpa Conceitos de Penas:


- Moldura Penal, Pena Legal ou Pena Aplicável:
- Penalidade simples – Aquela que aponta exclusivamente para uma pena de prisão.
- Penalidade compósita – sempre que o CP aponta para duas modalidades diferentes de
pena.
-Pena Aplicada, Pena Judicial ou Pena Concretamente Aplicada Como se determina a
medida aplicável, a medida abstrata da pena?
- Passa pela moldura penal específica e pela construção que se fizer relativamente aos
vários subtipos. Atenuação especial – Art. 73º (para os casos de cumplicidade e de
tentativa) e por via do art. 72º n.1. Penas principais no nosso CP: - Pena de Prisão
- Pena de Multa (art. 47º) – É fixada em dias num mínimo de 10 dias e um máximo de
360. A pena de multa pode ser substituída por trabalho.

As penas principais podem ser: - Aplicáveis - Substituíveis Penas Acessórias (não são
automáticas) – Art. 65º e SS. Não há penas acessórias sem pena principal. Não há
também penas acessórias que decorram directamente das penas principais. Ou seja, para
aplicar a pena acessória é necessária uma fundamentação autónoma, não basta a
fundamentação que sustenta a pena principal. Medidas de Segurança – São em regra
aplicadas aos inimputáveis mas também aos imputáveis particularmente perigosos (por
exemplo, na estrada, a condutores perigosos). Se houver um concurso de circunstâncias
agravantes para o mesmo tipo concorre a agravante que tiver uma responsabilidade
maior. O mesmo acontece se houver um concurso de circunstâncias atenuantes. Deve
ser considerada a atenuante de maior relevância. Para determinar a medida da pena é
preciso primeiro determinar a medida da culpa. Porque a medida da culpa é o limite
máximo da medida da pena (art. 40º). Para graduar a culpa em concreto os juízes
recorrem a critérios subjectivos que passam pela avaliação do plano do agente, pela
censurabilidade, perversidade, intensidade do dolo, padrão da jurisprudência, etc. Essa
culpa a que o juiz chega é depois convertida na medida da pena (art. 71º n.1)

You might also like