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segurança pública
Dos silêncios da Constituinte às deliberações do
Supremo Tribunal Federal
1. Introdução
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O projeto identifica seis áreas prioritárias: estrutura da polícia civil, controle e sane-
amento, condições de trabalho, combate à criminalidade, soluções federais e novos rumos
para a polícia militar (MINGARDI, 1992). Previa medidas para as prisões para averigua-
ção, controle excessivamente burocrático, o despreparo na investigação e ineficiência da
existência de duas polícias. Destacavam-se o fortalecimento da corregedoria, as medidas
de “inteligenciamento”, o fim da tortura nas investigações e a estabilidade para delegados.
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Nas palavras do então governador: “Na situação de penúria, o Conselho não poderia
prescindir de nenhum policial, portanto ele não passaria sua administração vasculhando
o passado, mas queria que todos, os bons e os que foram maus, tivessem uma oportu-
nidade de concorrer conosco para o bem comum […] o passado só seria questionado
emergencialmente” (MINGARDI, 1992, p. 99).
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Debate semelhante foi travado entre o representante da OAB Marcio Thomas Bastos
e o deputado constituinte Ottomar Pinto (BRASIL, 1987b, p. 57).
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Em comparação com as políticas de saúde e de educação, as quais, por uma
série de motivos, como a existência de redes de saber especializados (LIMA; BUENO;
MINGARDI, 2016) e a vinculação de receitas orçamentárias, ao longo dos últimos trinta
anos foram organizadas em um sistema nacional, que delineou atribuições e construiu
parâmetros para a distribuição de recursos e para a avaliação dos resultados, nada seme-
lhante ocorreu com a política de segurança pública (PERES et al., 2014). Existe ainda hoje
um vácuo regulatório quanto à organização das polícias no país sobre elementos funda-
mentais como a definição nacional de estrutura e gastos mínimos, a formação básica, os
protocolos de atuação e os protocolos de registro de informações.
taxa de letalidade, sugerindo, assim, que outro b) atuar de maneira preventiva, como força
órgão, autônomo, poderia auxiliar a exercer de dissuasão, em locais ou áreas específi-
cas, onde se presuma ser possível a pertur-
uma espécie de controle da atividade policial. bação da ordem;
O julgamento foi suspenso com um pedido de
c) atuar de maneira repressiva, em caso de
vista do ministro Teori Zavascki e ainda aguar-
perturbação da ordem, precedendo o even-
da o seu desfecho (BRASIL, 2014b). tual emprego das Forças Armadas;
Embora a discussão sobre a constituciona-
d) atender à convocação do Governo
lidade de uma polícia científica seja, como o Federal, em caso de guerra externa ou
próprio relator reconheceu, uma matéria pró- para prevenir ou reprimir grave subversão
xima aos precedentes já julgados, há nesse caso da ordem ou ameaça de sua irrupção, su-
bordinando-se ao Comando das Regiões
clareza sobre a exata controvérsia do desenho
Militares, para emprego em suas atribuições
institucional da CRFB. É no próprio texto, isto específicas de polícia e de guarda territorial
é, no alcance da função das polícias que reside, (BRASIL, 1967).
a um só tempo, sua taxatividade e os limites de
uma inovação legislativa. Perceba-se que, a rigor, a única compe-
tência mantida pela CRFB foi a de policia-
mento ostensivo, sem que se faça qualquer
5. Repensando o regime constitucional referência à forma pela qual será executado.
Nas legislações estaduais, no entanto, a polí-
Sob essa perspectiva, é fácil perceber que cia militar manteve rigorosamente as mesmas
as novidades apresentadas pelo texto constitu- atividades que haviam sido a elas atribuídas
cional de 1988 não fazem remissão a experiên- pelo Decreto-lei no 317. Na Lei no 16.575/2010
cias constitucionais passadas, cujo marco era (PARANÁ, 2010), do Estado do Paraná, por
simplesmente a segurança nacional, mas às leis exemplo, as competências de prevenção e re-
do regime de 1964-1985, que federalizaram e pressão foram expressamente mantidas. Mais
militarizaram a segurança pública. Assim, preocupante, porém, tem sido a manutenção
o Decreto-lei no 317/1967, que reorganizou de um regime disciplinar reproduzido à seme-
6. Conclusões
Sobre os autores
Maria Pia Guerra é doutora em Direito, Estado e Constituição pela Universidade de
Brasília, Brasília, DF, Brasil; professora da Faculdade de Direito da Universidade de
Brasília, Brasília, DF, Brasil.
E-mail: mapiaguerra@live.com
Roberto Dalledone Machado Filho é doutor em Direito, Estado e Constituição pela
Universidade de Brasília, Brasília, DF, Brasil; professor da Escola de Direito do Instituto
Brasiliense de Direito Público, Brasília, DF, Brasil.
E-mail: dalledone@gmail.com
(Parte da pesquisa foi desenvolvida no âmbito de projeto financiado pelo PNUD/
Ministério da Justiça.)
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Sem revisão do editor.
(APA)
Guerra, M. P., & Machado, R. D., Fo. (2018). O regime constitucional da segurança pública:
dos silêncios da Constituinte às deliberações do Supremo Tribunal Federal. Revista de
Informação Legislativa: RIL, 55(219), 155-181. Recuperado de http://www12.senado.leg.
br/ril/edicoes/55/219/ril_v55_n219_p155
Referências
ARRETCHE, Marta T. S. Mitos da descentralização: mais democracia e eficiência nas
políticas públicas?. Revista Brasileira de Ciências Sociais, Rio de Janeiro, v. 11, n. 31, p. 44-
66, jun. 1996.
BRASIL. Constituição dos Estados Unidos do Brasil de 1946. Diário Oficial da União, 19
set. 1946.