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FLORIANÓPOLIS – SC
2014
M966i Muniz, Zila Maria
A improvisação como um elemento transformador da função do
coreógrafo na dança / Zila Maria Muniz. - 2014.
259 p. : il. ; 21 cm
Banca Examinadora
Orientador:
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Membro:
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Membro:
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Membro externo:
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Membro externo:
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INTRODUÇÃO ..................................................................... 17
1 LIBERDADE, LIBERDADE.................................... 33
1.1 A IMPROVISAÇÃO COMO PRÁTICA DE
LIBERDADE .......................................................................... 33
1.2 ESTAR NO ESPAÇO DA EXPERIÊNCIA ............... 41
2 PROCEDIMENTOS VETORES NA DANÇA PÓS-
MODERNA ............................................................................ 49
2.1 RUPTURAS ................................................................ 49
2.1.1 Merce Cunningham, nada por acaso ao acaso ........ 52
2.1.2 Anna Halprin, por uma autonomia do artista ........ 59
2.2 EMERGÊNCIA DE UM COLETIVO ........................ 64
2.2.1 Expandindo limites e jogando com o imprevisível . 64
2.2.2 Procedimentos e processos, inauguração como
experimento............................................................................ 67
2.2.3 Grand Union, Contato Improvisação, Six Viewpoints
e Viewpoints ............................................................................ 73
2.2.4 Um olhar que se transforma ..................................... 83
3 IMPROVISAÇÃO ..................................................... 89
3.1 DESCOBRIR CAMADA POR CAMADA,
VOCABULÁRIO E COLABORAÇÃO ................................. 89
3.2 INVENTANDO EVENTO, DO VIRTUAL AO
ATUAL ................................................................................... 96
3.3 FAZER ESCOLHAS NA CRIAÇÃO EM MEIO E
POR MEIO DA RESTRIÇÃO .............................................. 100
3.4 UMA DANÇA DE SENSAÇÃO .............................. 116
4 LINGUAGEM, SENTIDO E AFECTO ................ 123
4.1 A LINGUAGEM COMO METÁFORA ................... 123
4.2 O SENTIDO DE SENTIDO NA LÓGICA DO
AFECTO ............................................................................... 130
4.3 EM QUE ESTADO A DANÇA SE APRESENTA A
MIM E AFETA A MINHA IMAGINAÇÃO ....................... 151
5 MAPA DE POSSIBILIDADES NA PERSPECTIVA
DO COREÓGRAFO ...........................................................169
5.1 COREOGRAFIA E COREÓGRAFO........................170
5.2 TÉCNICA E TECNICIDADE ...................................190
5.3 DE-VAGAR PELA CENA DE SOCORRO ..............198
5.4 DO RITORNELO A LUGAR NENHUM .................214
CONSIDERAÇÕES FINAIS ..............................................235
REFERÊNCIAS ...................................................................243
ANEXOS ...............................................................................255
17
INTRODUÇÃO
2
A técnica de Release é um conjunto de princípios e métodos de
treinamento usados na dança contemporânea. Esses princípios enfatizam a
liberação da tensão muscular quando os movimentos são realizados com o
objetivo de alcançar um uso eficaz da energia e da anatomia, de modo que
os movimentos são realizados com um esforço mínimo. Além disso,
trabalha para desenvolver a consciência e o alinhamento corporal,
respiração, mecanismo orgânico das articulações e distribuição do peso do
corpo, e ensina a usar a gravidade a seu favor em vez de usar a força
muscular. A partir dos anos 50, alguns bailarinos e professores de dança
começaram a procurar novas maneiras de treinamento para o corpo na
dança. Eles se voltaram para disciplinas orientais como Yoga, Tai Chi e
artes marciais e incorporaram o conhecimento de técnicas de educação
somática que já haviam sido desenvolvidas, como a Ideokinesis, a técnica
de Alexander e Feldenkrais. A Tecnica de Release não pode ser atribuída a
uma única pessoa, uma única disciplina ou um único período. É a soma de
um esforço coletivo que evoluiu ao longo de gerações no século XX.
Precursores e pioneiros são numerosos. Alguns dos mais influentes são:
Mabel Todd, Lulu Sweigard, Barbara Clark, Erick Hawkins e Irmgard
Bartenieff.
22
3
O ready made nomeia a principal estratégia de fazer artístico de Marcel
Duchamp e é uma forma ainda mais radical da arte encontrada (ou objet
trouvé, no original francês). Essa estratégia se refere ao uso de objetos
industrializados no âmbito da arte, desprezando noções comuns à arte
histórica como estilo ou manufatura do objeto de arte, e referindo sua
produção primariamente à ideia.
23
4
A Educação Somática é o campo disciplinar que reúne um conjunto de
métodos que têm como principal foco o aprendizado da consciência do
corpo em movimento, sempre em sua relação com o ambiente. A
palavra soma, de origem grega, refere-se ao corpo como experiência vivida,
distinguindo-o da ideia de um corpo-matéria ou de um corpo-objeto.
25
5
“Corpo responsivo e inteligente” é um termo que serve para definir um
corpo que tem habilidade de improvisar, um corpo que responde
rapidamente às questões de improvisação, resolvendo problemas, achando
soluções e desmanchando hábitos. Para Damásio (1999), a inteligência se
relaciona à capacidade de manipular conhecimentos com tal êxito que
respostas inéditas possam ser planejadas e executadas. A improvisação pode
desenvolver essa capacidade no corpo e a consciência torna o organismo
ciente da maior esfera de conhecimento possível.
26
6
Assim como outros pesquisadores brasileiros, escolhi afecto como a
tradução para o termo em inglês, affect.
32
33
1 LIBERDADE, LIBERDADE...
7
Períodos da História da Grécia Antiga: Pré-Homérico, entre 2000 e 1100
a.C.; Homérico, entre 1100 e 700 a.C.; Arcaico, entre 700 e 500 a.C.;
Clássico, entre 500 e 338 a.C.; e Helenístico, entre 338 e 146 a.C.
35
8
“Biopoder” é um termo criado originalmente pelo filósofo francês Michel
Foucault para referir-se à prática dos estados modernos e sua regulação dos
que a ele estão sujeitos por meio de "uma explosão de técnicas numerosas e
diversas para obter a subjugação dos corpos e o controle de populações".
Foucault usou-o em seus cursos no Collège de France, mas ele apareceu
pela primeira vez em A vontade de saber, primeiro volume da História da
Sexualidade.
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2.1 RUPTURAS
9
Marcel Duchamp (1887-1968) foi um pintor, escultor e poeta francês
(cidadão norte-americano a partir de 1955), inventor dos ready made.
50
10
John Cage, nascido Milton Cage Jr. (1912-1992), foi um compositor,
poeta, pintor, teórico musical experimentalista e escritor norte-americano. É
o compositor da famosa peça 4'33", pela qual ficou célebre. Composta em
1952, a peça consiste em 4 minutos e 33 segundos de música sem uma nota
sequer.
11
Ivonne Rainer (1934) é uma bailarina, coreógrafa e cineasta americana,
cujo trabalho nessas disciplinas é muitas vezes desafiador e experimental é
considerado minimalista.
52
12
Merce Cunningham, nascido Mercier Philip Cunningham (1919- 2009),
foi um bailarino e coreógrafo norte-americano. Possuía como características
marcantes de sua dança o caráter experimental e o estilo vanguardista. Criou
mais de duzentas coreografias. Entre seus colaboradores figuram John
Cage, Jasper Johns, Andy Warhol e Robert Rauschenberg.
13
Anna Halprin, nascida Anna Schuman em 1920, foi pioneira na forma de
arte experimental conhecida como dança pós-moderna e refere a si mesma
como a interruptora da dança moderna.
14
Bauhaus foi uma escola de design, artes plásticas e arquitetura de
vanguarda que funcionou entre 1919 e 1933 na Alemanha. A Bauhaus foi
53
17
Viola Spolin (1906-1994), autora e diretora de teatro, sistematizou os
Jogos Teatrais (Theater Games), metodologia de atuação e conhecimento da
prática teatral que está presente em todos os fundamentos da atual comédia
norte-americana, inclusive no stand-up comedy.
18
Open Theatre foi um grupo de teatro experimental de Nova York,
funcionou de 1963 a 1973. Fundado por um grupo de ex-alunos de atuação
de Nola Chilton e pelo diretor Joseph Chaikin, ex-integrante do The Living
Theatre, e Peter Feldman. A intenção do grupo era a de continuar a explorar
um “pós-método”, do teatro pós-absurdo de Nola Chilton, por meio de um
processo colaborativo e abrangente, que incluiu a exploração de questões
políticas, artísticas e sociais.
19
Martha Graham (1894-1991) foi uma bailarina e coreógrafa americana
que revolucionou a história da Dança Moderna.
55
20
“Operação com o Acaso” é um termo originado na Música, se relaciona
com a ideia de música aleatória encontrada nos trabalhos de John Cage que,
em parte, foi inspirado por seu amigo Morton Feldman, cujos experimentos
musicais ocorreram por volta de 1950. Cage usou o I Ching na composição
de sua música para introduzir um elemento de acaso sobre o qual ele não
poderia ter controle algum. A primeira vez que ele usou este método foi em
Music of Changes para piano solo em 1951, a fim de determinar a sequência
de notas ou grupos de notas que deveriam ser usadas e o momento preciso
de suas ocorrências. Um exemplo de procedimento comum da “música
aleatória” consiste em introduzir o fator acaso para determinar a ordem das
várias partes de uma peça musical por meio de lançamento de dados.
21
Dance by chance, termo que se refere às operações com o acaso para
determinar sequências e estruturas coreográficas a serem executadas. As
estruturas eram determinadas jogando-se moedas (cara ou coroa), ou
retirando cartas aleatoriamente. A dança dance by chance foi inventada por
Merce Cunningham.
56
22
Margaret Newell H'Doubler (1889-1982) foi coreógrafa e professora de
dança da Wisconsin University. Sua pedagogia da dança era uma mistura de
expressar emoções e descrição científica. Ela usou seu conhecimento sobre
o corpo para ajudar a criar o movimento que expressasse o que os bailarinos
sentiam. Escreveu cinco livros sobre sua pedagogia e sobre a importância da
dança na educação.
61
23
Doris Humphrey Batcheller (1895-1958) foi uma bailarina e coreógrafa,
uma das pioneiras da segunda geração de dança moderna em explorar o uso
da respiração e desenvolvimento de técnicas ensinadas até hoje.
62
24
Rudolf (nascido Jean-Baptiste Attila) Laban, também conhecido como
Rudolf Von Laban (1879-1958). Bailarino, coreógrafo, considerado o maior
teórico da dança do século XX e o “pai da dança-teatro”. Dedicou sua vida
ao estudo e sistematização da linguagem do movimento em seus diversos
aspectos: criação, notação, apreciação e educação.
63
25
Robert Ellis Dunn (1928-1996) foi um músico norte-americano que
ministrou aulas de composição em dança, contribuindo para o nascimento
de dança pós-moderna na década de 1960 em Nova York.
26
O Living Theatre é uma companhia de teatro americana fundada em 1947
e sediada em Nova York. É o mais antigo grupo de teatro experimental
65
ainda existente nos Estados Unidos. Seus fundadores foram a atriz Judith
Malina e pintor/poeta Julian Beck.
66
27
Simone Forti (1935), americana, coreógrafa e música, integra o
movimento pós-moderno.
70
3 IMPROVISAÇÃO
28
Relação transindividual é aquela que ocorre entre realidades pré-
individuais e coletivas e não entre indivíduos constituídos (SIMONDON,
1964).
97
29
Segundo Damásio (2000), padrão neural não é o mesmo que imagem
mental, uma vez que esta é uma experiência privada, única, pertencente
apenas ao sujeito que a vivencia. Imagem não denota exatamente o padrão
de atividades neurais que pode ser encontrado em córtices sensoriais
ativados. Nosso padrão neural, mesmo entendido por nós mesmos, seria
uma perspectiva em terceira pessoa. Como um padrão neural se torna ou
forma uma imagem é uma questão que a neurobiologia ainda não resolveu.
As imagens são a moeda corrente de nossa mente. São construídas quando
mobilizamos objetos ou quando reconstruímos objetos a partir da memória.
Nem todas as imagens que o cérebro constrói se tornam conscientes. O
cérebro é um sistema criativo. Cada cérebro constrói mapas do ambiente
usando seus próprios parâmetros e sua própria estrutura interna, criando
assim um modo único para cada pessoa. A produção de imagens nunca
cessa enquanto estamos acordados e continua mesmo durante parte de nosso
sono, quando sonhamos. O pensamento é esse fluxo de imagens.
107
30
O esquema corporal é a representação das relações espaciais entre as
partes do corpo percebidas cinestesicamente e proprioceptivamente, uma
interação neuromotora que permite ao indivíduo estar consciente do seu
corpo no tempo e espaço. Trata-se de um fator biologicamente determinado
e diretamente relacionado com a organização neurológica e com o
homúnculo cortical (FREITAS, 2004). Le Boulch (1984) classifica o
esquema corporal como o reconhecimento imediato do nosso corpo em
função da inter-relação das suas partes, com o espaço e com os objetos que
o rodeiam, tanto no estado de repouso como de movimento.
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mais em jogo. Se uma escolha for feita, você não tem como
prever exatamente o possível resultado da sua ação. Isso tem a
ver com o fato de que a escolha é manipulada pelo
tempo/evento de uma forma imprevisível. Não se pode pensar
em todas as consequências de um movimento, da mesma forma
não há como calcular exatamente tudo que irá acontecer em
uma improvisação, principalmente porque esse não é o objetivo
dessa forma de dança. É justamente na imprevisibilidade que se
define o desafio de improvisar. Claro que essa não é uma regra
e não é correto generalizar, tampouco existe apenas uma
maneira de pensar e praticar a improvisação. No entanto, cada
núcleo criativo que utiliza a improvisação define suas próprias
regras. Mesmo assim, um dos aspectos fundamentais da
improvisação com restrições é conhecer que, de dentro da
estrutura, é impossível o controle sobre o todo, seja como
resultado ou como resolução.
Na improvisação, escolha significa oportunidade.
Improvisação é sobre o presente, sobre o aqui e agora. Talvez
em alguns momentos haja um forte desejo de controlar os
eventos futuros, mas um improvisador só pode criar ou ser
levado pelo momento presente – perceber-se, situar-se no
espaço e começar a desencadear ações que se conectam e criam
pontes entre cada corpo, objeto ou sujeito. Isso se dá entre cada
um dos elementos que compõem o espaço, as linhas de tensão
que se criam para reforçar o tempo do aqui e agora, para cada
ação uma percepção que toma forma de sensação para ressoar
em outra ação e assim, simultaneamente, transbordar as
possibilidades de estar, dilatar e potencializar o momento,
experiência do presente.
A fim de fazer escolhas, a memória entra como
elemento indissociável da inteligência do corpo. Memória está
intimamente relacionada à percepção e à ação. A memória é
uma reencenação da percepção. Esta afirmação é suportada por
resultados fenomenológicos da investigação que a atividade
neural associada com a memória ocorre de acordo com
114
dança é “uma coisa que é justamente uma coisa que aqui está”
(apud GIL, 2005, p. 71). Nesse ponto, deparamo-nos com uma
questão que vem sendo discutida por vários autores que
trabalham com dança: se esta é ou não linguagem.
Para José Gil (2005) e Sparshot (1995), o que não
permite à dança ser tratada como linguagem diz respeito à
“quase-articulação” do corpo em relação ao esqueleto e sua
constituição anatômica. Em primeiro lugar, o que se articula no
corpo não são unidades de movimento, mas zonas inteiras do
espaço, zonas que se interpõem e que, portanto, impossibilitam
traçar os limites entre os movimentos numa sequência, ou
sequências.
A segunda questão da “quase-articulação” do corpo diz
respeito às limitações anatômicas que impedem certos
movimentos de serem executados pelo corpo devido à sua
constituição anatômica. Esse repertório inacessível de
movimentos estabelece um determinado tipo de gestos e de
sequências, assim como impossibilita outros, ainda dentro de
um repertório de indeterminação. O simples movimento de
levantar um braço pode ser realizado de muitas maneiras se
pensarmos nas possibilidades de modulação do corpo ao
executar essa tarefa, porém, ainda adequado a um esquema
limitado na “quase-articulação” do corpo.
31
Termo problematizado por Sally Banes em seu livro Greenwich Village
1963: Avant-garde, performance e o corpo efervescente (1999).
159
32
Veja mais em: [http://publicdomainreview.org/2012/05/01/choregraphie-
1701/#sthash.ma4LJkil]. Acesso em: 06/07/2014.
174
1701/#sthash.ma4LJkil].
175
Fonte: [http://publicdomainreview.org/2012/05/01/choregraphie-
1701/#sthash.ma4LJkil].
176
produção das danças criadas ali. “O que você viu o que você
fez, o que aconteceu, como é que você pensou na construção e
na ordenação. Quais são os materiais, quando você encontrou
ou como é que você deu forma a eles, etc.” (DUNN apud
FOSTER, 2011, p. 97).
Para os coreógrafos da vanguarda americana da década
de 1960, a técnica cultiva o potencial do corpo para articular e
demonstrar uma variedade de possibilidades do movimento.
Como consequência desse processo de articulação e
desarticulação, o coreógrafo não é mais o criador visionário de
uma dança; até mesmo no papel de diretor, tornou-se a pessoa
que organiza e preside sobre a colaboração. Contrários à ideia
de focar na criação de uma visão individual artista e singular,
ou ainda em criar metodologias rigorosas para inventar
sequências e gramáticas de movimento, os artistas
contemporâneos embarcaram em colaborações direcionadas
por projetos e por processos de criação coletiva. É comum que
cada projeto exija uma variedade de habilidades e repertórios
específicos de movimento ou de determinada técnica ou campo
artístico.
Na dança contemporânea, é comum que o coreógrafo
trabalhe com bailarinos provenientes de uma diversidade em
termos de cultura, formação e experiência. Percebe-se que a
experiência corporal desses artistas também engloba conjuntos
de habilidades de variadas técnicas, tais como: técnicas de
dança; técnicas circenses; técnicas de teatro; habilidades
específicas, como o skate; ginásticas; e danças populares,
incluindo o Hip Hop, salsa, danças de salão, etc. O que resulta
desta característica é que se formam grupos de bailarinos
heterogêneos. A dança contemporânea se inspira basicamente
por uma crescente consciência das diferenças e das qualidades
e deficiências de cada corpo, o que imprime a promoção de
uma afirmação não hierárquica das fisicalidades e sua
diversidade.
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33
Antroposofia é uma filosofia que serve como um caminho de
conhecimento para guiar o espiritual do ser humano ao espiritual do
universo. O objetivo do antropósofo é tornar-se mais humano, ao aumentar
sua consciência e deliberar sobre seus pensamentos e ações; ou seja, tornar-
se um ser espiritualmente livre. Rudolf Steiner (1861-1925), austríaco, é o
fundador da Antroposofia.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Coreógrafo como Ativador da imaginação
Instruções...
Imagine que estamos nos deslocando em linhas pelo
espaço da cidade e que a cada passo a atenção se desloca das
sensações que o corpo atravessa para o espaço ao redor, do
vulto que o movimento deixa no tempo para o olhar de
encontro que você troca com alguém que curioso te olha, te
julga, media, pergunta e se vai.
Imagine que as ações que você evidencia são destinadas
a dialogar com o tic-tac dos relógios na calçada sendo vendidos
por um ambulante e cada movimento é sentido pelo tempo
passando e o momento é experimentado, é dilatado, enquanto
um novo movimento em suspensão está para aterrissar.
Imagine que neste passeio de janelas abertas em que a
percepção faz explodir os sentidos e que tudo ao seu redor
possui a mesma importância: pedra rolando, criança chorando,
bolsa pendurada, árvore de muletas, poste rachado, carro
vermelho, vitrine de joias brilhantes, banco de madeira, céu
azul com nuvens, pombo magrinho, gente correndo, cadeira
com dono, janela fechada, flor na mão, menino parado...
olhando. Nesse jogo de percepção, sensação e memória, porém
o que conta é o que é captado pela sua atenção, que acontece
em planos, em camadas, em níveis, por perspectivas, por
ressonância, por contaminação.
Imagine que ao caminhar para trás algo toca as costas e
você percebe que são mãos que estão ali para conter o
movimento num jogo disparador de vontades. A vontade de
compor, de co-composição em flashes ativa tudo ao redor.
Todos os sentidos desvendam e busca reconhecimento na
memória para situar a sensação e prontamente encontra um
lugar de encaixe para cada imagem que provoca a ação.
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REFERÊNCIAS
ROSS, Janice. “Anna Halprin and the 1960s: acting in the gap
between the personal, the public, and the political”. In:
BANNES, Sally (Ed.). Reinventing Dance in the 1960s:
everything was possible. Wisconsin, USA: The University of
Wisconsin Press, 2003.