You are on page 1of 21
Cadernos Tematicos do Nesp | numero 10 ge CEM ANOS COM PAULO PREIRE- DIALOGOS ee ADRIANA MaRIA BRANDAO PENZIM | CARLOS EDUARDO CARRUSCA VrerRA | CLAUDEMIR FRANCISCO ALVES | MARA MARGAL SALES i ROBSON SAvIO REIS SOUZA (ORGANIZADORES) wee ied © 2020 Niicleo de Estudos Sociopoliticos — Nesp Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicacao poderd ser reproduzida sem a auto rizagao prévia do Nesp. Texto revisado segundo o novo Acordo Ortogréfico da Lingua Portuguesa PONTIFICIA UNIVERSIDADE CATOLICA DE MINAS GERAIS a Grio-cranctuex: Dom Walmor Oliveira de Azevedo ~— Reor: Dom Joaquim Giovani Mol Guimaraes SecnerAnio 0& Comunicacho: Mozahir Salomao Bruck CCooroexAoor Do Awa: Pe, Aureo Nogueira de Freitas e EDITORA PUC MINAS cedifora PIRECAO € Coonoenacho eoroniat: Mariana Teixeira de Carvalho Moura Pucmines Comercial: Paulo Vitor de Castro Carvalho PPROJETO GRAFICOE DIAGRAMACAO Do muoLo: Eduardo Magalhaes Salles Capa: Claudio Liitkenhaus CONSELHO EDITORIAL Edil Carvalho Guedes Filho, Eliane Scheid Gazire, Ev/Angela Batista Rodrigues de Barros, Flavio de Jesus Resende, Jean Richard Lopes, Javier Alberto Vadell, Leonardo César Souza Ramos, Lucas de Alvarenga Gontijo, Luciana Lemos de Azevedo, Marcia Stengel, Meire Chucre Tannure Martins, Mozahir Salomao Bruck, Pedro Paiva Brito, Sérgio de Morais Hanriot. Elaborada pela Biblioteca da Pontificia Universidade Catélica de Minas Gerais 393 Cemanos com Paulo Frere: dilogos/organiadore Adriana Maria Brandio Pena [etal] Belo Horizonte: Editora PUC Minas, Nesp, 2020, (oledo Caderos Temstcos do Nesp 10), 200i. ISBN — 978-65-88547-07-6 1. Freire, Paulo, 1921-1977. 2, Psicologia social. 3. Educacéo — Métodos de ‘ensino, 4. Educacao de adultos. 5. Politica e ‘educacao. 6. Sociologia educacinal | Penzim, Adriana Maria Brandéo Il Titulo. Ill. Série. DU: 371-483 Ficha catalogréfica elaborada por Femanda Paim Brito — ‘CRB 6/2999 Nucleo de Estudos Sociopoliticos — Nesp Av. Dom José Gaspar, 500, prédio 4, sala 205 — Coracao Eucaristico — Belo Horizonte - MG CEP: 30.535-901 — Telefone (31) 3319-4978 — e-mail ‘nesp@pucminas.br — site: www.nesp.pucminas.br | eseritor Rubem Alves ao Conselho Unicamp sobre Paulo Freire. a Maria Brandao Penzim lemir Francisco Alves on Sdvio Reis Souza .... gia social em preto e branco: Paulo Freire na a social que fazemos na PUC Minas ibens Ferreira do Nascimento wulo Freire, os dilemas da escola publica as contribuiges da psicologia social Cleiton Donixete Corréa Tereza Fernanda Mendes Resende ents Provocacées do nao saber: notas sobre as dimensoes _ psicoldgicas, pedagégicas e politicas de escuta Betinia Diniz Goncalves Carlos Eduardo Carrusca Vieira ws... Afinidades eletivas entre Paulo Freire € o discurso psicanalitico Carla de Abreu Machado Derzi Cristina Moreira Marcos Valéria Freire de Andrade ...... Por uma educagao que transforme: o trabalho sob o ponto de vista de Paulo Freire Mara Mar;al Sales Amanda da Silva Madeira Logan Andrade dos Santos Paulo Freire e construcionismo social: possibilidades dialogicas e de construgdes de novas realidades na Educacao Natdlia Silva Resende Patricia Eliane de Melo ... Escola sem partido: tentativa de esterilizagio da reflexao ética e negacao da alteridade na educagao Carlos Eduardo Carrusca Vieira .... Paulo Freire: legado e reinvengao na educagao integral Cleidiane Lemes de Oliveira Viviane Augusta Ramos Dias Pascoal Deisy Ferreira dos Santos Teodoro Adriano Costa Zanardi ..... eles) Sobre os autores .... cola sem partido: tentativa de esterilizagao da lexao ética e negacao da alteridade na educacao Cantos Eouaroo Carrusca Vieira Por que nao discutir com os alunos a realidade concreta a que se deva associar a disci- plina cujo contetido se ensina, a realidade agressiva em que a violéncia é a constante e @ convivéncia das pessoas é muito maior com a morte do que com a vida? Por que nao estabelecer uma ‘intimidade’ entre os saberes curriculares fundamentais aos alunos e a experiéncia social que eles tém como individuos? Por que nao discutir as implicagoes Politicas e ideolégicas de um tal descaso dos dominantes pelas areas pobres da cidade? Aética de classe embutida neste descaso? “Porque, dird um educador reacionariamente _ pragmitico, a escola ndo tem nada que ver com isso. Aescola ndo € partido, Ela tem que _ ensinar os contetidos, transferi-los aos alunos. Aprendidos, estes operam por simesmos”, Paulo Freire UCAR E UMA atividade humana direcionada Para a transformacao sciente dos educandos, dos educadores e do mundo em que vi- jos. A educagio constitui-se como uma mediacao social voltada 0 dominio sobre a realidade e para o desenvolvimento do género ano (TASSIGNY, 2004). Os Pprocessos educacionais ocorrem em entes contextos sociais e recebem as influéncias de condicionantes rais, sociais e histéricos. A tarefa de educar guarda dimensées s ¢ politicas inelutaveis, posto que sempre baseada em interesses 1ano-societarios. Na obra de Paulo Freire (2019), afirmam-se as RSs ANOSCOMPRUOFREREDALOGOS “Escola sem partido: tentatva de esterilizacio da reflexdoética e negacao da alteridade na educacio «137 presidenta Dilma Rousseff.’ Obteve vigor, entretanto, no contexto processo eleitoral de 2018, quando as forcas da extrema direita, onservadora e com inspiragGes neofascistas,” apresentaram-se como a solugao para o pais, em um ambiente sensivel, configurado pela inten- iificacao da polarizacao politica e marcado pela aversio de expressivo contingente da populacao as ideias e propostas advindas da “esquerda Iitica”, identificada, principalmente, com o Partido dos Trabalhado- s (PT) e concebida como o que poderia haver de mais degradante, ponto de vista moral, na sociedade. Nesse cendrio, nao apenas se propagou a ideia de que a extrema direita poderia, por seu alinhamen- to 4 politica neoliberal e ao conservadorismo, retomar o crescimento dimensées politicas e éticas como indissociaveis do ato de educar, bem como o papel central da educagio para a conscientizagao, a promosi0 da “curiosidade epistemolégica”, o desenvolvimento da autonomia dos educandos e a defesa veemente da democracia. Os pressupostos aludidos sao claramente afrontados pela proposta da Escola Sem Partido, cujo nticleo estrutura-se em torno de dois objetivos centrais, a nosso ver, o primeiro explicito e 0 segundo escamoteado pelo primeiro. Com a proposta da Escola Sem Partido, difundiu-se a ideia de que a escola e o ensino precisavam ser libertados da “doutrinagao esquer= dista” e também das “posigdes ideol6gicas, politicas, religiosas ou morais” de docentes. O ensino poderia, assim, converter-se finalmente em uma atividade pedagogicamente “neutra”; um objetivo, alias, que, conforme mostraremos, revela-se absurdo e inalcangavel, sendo uma expresso paroxistica da obsessao e da paranoia disseminadas por representantes do Governo Federal e por alguns movimentos que se intitulam liberais, Trata-se de um objetivo que oculta as reais razoes da proposta em tela, aa vl ! evidenciando que ela é tanto mais ideoldgica e politica, quanto mais e news), principalmente nas redes sociais, mas também em meios de conémico, como também “moralizar” o pais, varrendo a corrup¢ao da tha politica” e impedindo o avango das pautas de movimentos sociais, que se expressou na campanha politico-partidaria pelo ataque a todo 0 de projeto, valores ou atores sociais defendidos pelos criticos e/ou nembros da esquerda. A propagacao em larga escala de noticias falsas intenta afirmar 0 contrario, dissimulando seus fins. Educar sob a égidé de valores, crengas e visdes de mundo partilhadas por classes ¢ segmentoy conservadores, simpaticos a légica de mercado, a censura, a afronta aos direitos humanos e & negaco da pluralidade de experiéncias humana, isdes de do e, finalmente, da alteridade; esses sao os objetivos ¢ ltranacionalista, anticomunista e repressivo (contra seus oponentes) (MUSSOLI- deivisbes Ce mines anament i , 2019). Os pressupostos do regime totalitdrio ¢ violento estabelecido por Mus- valores latentes da Escola Sem Partido, a qual tem sido defendida por lini parecem inspirar condutas de alguns representantes do Governo Federal, os aeetin ae ais, abertamente, flertam com valores de regimes ditatoriais, As manifestagoes Foe eee ee eee ees Ps atual presidente da Republica em sua campanha eleitoral (por exemplo, “vamos ditos liberais, e apresentada como alternativa “apolitica”, “neutra ¢ im fuzilar a petralhada...”, referindo-se aos seus adversarios politicos), em 2018 (RI- parcial” para uma suposta melhoria da educagio de nosso pais. bora o movimento Escola Sem Partido tenha sido gestado no inicio do século , ele ganhou corpo apenas quando adentrou o campo legislativo. mbremos que Benito Mussolini, ao propor o Fascismo, na Italia, entendia-o 10 uma “doutrina” e como um regime politico-ideol6gico autoritirio, totalitario, EIRO, 2018); além da nomeacao de ministros que estimulam a perseguigéo aos membros da esquerda, entre outras tantas agdes, certamente evidenciam a afeigao do sidente pelos ideais autoritarios. Lembremos a afirmacao do proprio Mussolini m Doutrina do Fascismo: “Antes d i no que con 0 AMBIENTESOCOPOLTICO EM QUE SE DESENVOWVED Se A PROPOSTA DA ESCOLA SEM PARTIDO iscismo nao cré, de maneira geral, na possibilidade ou utilidade da paz perpétua” (MUS- SOLINI, 2019, p. 24, grifos nossos). E, ainda: “O fascismo imbui a vida do indi @ dessa atitude antipacifista. ‘Nao ligo a minima’ (me ne frego) ~ 0 mote orgulhoso O projeto Escola Sem Partido (Projeto de Lei n.7.180/2014) ganhow 9s esquadrdes combatentes rabiscado por um ferido envolto em ataduras — nao é Rete 1 nt ee penas um ato de estoicismo heroico, mas resume uma doutrina nao meramente maior visibilidade e acolhida por parte da popula¢: P a prova de um espirito combatente que aceita qualquer risco. Significa 0 golpe juridico-parlamentar e midiatico que culminou no impeachmeiif ovo estilo de vida italiano” (MUSSOLINI, 2019, p. 24, grifos nossos). 138 » CEM ANOS COM PAULO FREIRE: DIALOGOS comunicago convencionais, a disseminagao do medo e do dio e sua captura e canalizagao para fins politicos foram expressbes marcantes da campanha eleitoral do partido eleito.’ Empossado em 2019, 0 Governo eleito reafirmou, sem novidades, suas pretensoes e feigdes autoritarias, antidemocraticas e enganosamente “nacionalistas”, posto que absolutamente submisso ao imperialismo norte-americano e 4 légica neoliberal.‘ Prosseguiu com a conduta, ji praticada durante a eleicao de 2018, de disseminar ddio e vociferar truculéncias e mentiras (fake news) contra qualquer um que se opu sesse ou manifestasse pensar diferente — numa reedi¢ao da figura do “inimigo interno” dos Anos de Chumbo.° Ao longo de seu primeito ano de gestdo, o governo eleito desferiu ataques a educacao publica,’ além de criticas e difamacées contra estudantes,’ professores ¢ ilustrey FNio podemos minimizar o efeito politico dos discursos feitos por representantvy do governo, ainda no periodo eleitoral, a respeito da inseguranca € da criminall dade violenta. Com uma postura sempre marcada pelo autoritarismo ¢ pelo uso dé formulas rasteiras para o enfrentamento da violéncia (por exemplo, a flexibilizagiia do porte de armas), a campanha feita pelo candidato eleito certamente convenceit muitos eleitores, 0 que compreendemos bem, dado o fato de que a insegurangi um aspecto importante € critico da vida dos individuos ¢ da sociedade brasileiy Cumpre notar, porém, que a atribuigao de relevancia e centralidade para a seguraniga piiblica nao implica aceitar propostas simplistas. 4 Sobre a producao do inimigo ¢ a insisténcia do Brasil violento ¢ de excerio, 100i mendamos 0 texto de Teles (2018). Sobre a retorica do patriotismo, nacionalismie soberania nacional vide Andrada (2019). 5 Por meio do AI-5 (BRASIL, 1968), o presidente da Repiiblica poderia “decretit intervengio nos estados ¢ municipios, sem as limitagoes previstas na Constitulfii suspender os direitos politicos de quaisquer cidadaos pelo prazo de dez anos ¢ stil Observe-se, ainda, que no Al propunha-se 0 “combate a subversio ¢ as ideologias contriias as tradigdes de nowy mandatos eletivos federais, estaduais ¢ municipais” povo”. © Lembremos, por exemplo, o expressivo corte de verbas das universidades federilt de bolsas de pesquisa que atinge as condigGes bisicas para a produgao de conhee mento no pais, incluindo a infraestrutura e a manutengio de laboratorios. Chali a atengio 0 fato de que, em tais ataques, os representantes do Governo Fee aludiram a fatores politico-ideol6gicos, evidenciando perseguigio ¢ tentativi retaliagao, ainda que as comunicagdes oficiais tendam a se centrar em elem orcamentirios. A respeito disso, sugerimos a consulta a Agostini (2019). 7 Em um dos varios episédios em que se dirigiu de forma negativa e violenta coi 08 estudantes, o ocupante do cargo de presidente da Republica afirmou que 0f Escola sem partido; tentativa de esterilizaao da reflexao éticae negacio da alteridade na educacio 139 nsadores da educacao, reconhecidos nacional e internacionalmente, mo € o caso do educador Paulo Freire.* Os ministros da educacao icados pelo atual governo ¢ os parlamentares apoiadores do projeto ‘ola Sem Partido, em uma clima propiciado pelas agées ¢ discursos ocupante do cargo de presidente da Republica, conclamaram alunos, is e familiares a gravarem videos de professores em aula e a formali- m denuincias contra o ensino que julgam, de seu estreito angulo de ¥ constituir-se como uma “doutrinagao” (cf. BOLSONARO, 2018; TADAO CONTEUDO, 2019b), em flagrante afronta a direitos stitucionais e a garantias da Lei de Diretrizes e Bases da Educagio ional (LDBEN), como: Elivrea expressio da atividade intelectual, artstica, cientifica e de ‘comunicacao, indepen- dentemente de censura ou licenca. (Constituicio Federal, art.5, inciso IX). (BRASIL, 1988). Sao invioléveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegu- _fado o direito a indenizagao pelo dano material ou moral decorrente de sua violacao. -(Constituicao Federal, art. 5, inciso X). (BRASIL, 1988). Liberdade de aprender, ensinar, pesquisar edivulgara cultura, o pensamento, a arte eo ber. (Lei de Diretrizes e Bases da Educacao Nacional, art. 3, inciso Il). (BRASIL, 1996). luralidade de ideias e abordagens pedagogicas. (Lei de Diretrizes e Bases da Educagao ional, art. 3, inciso Ill). (BRASIL, 1996). ito a liberdade e apreco a tolerancia. (Lei de Diretrizes e Bases da Educacao Nacional, 3, inciso IV). (BRASIL, 1996). iza¢ao do profissional da educacdo escolar. (Lei de Diretrizes e Bases da Educacéo lonal, art. 3, inciso VIl). (BRASIL, 1996). ir todas essas razdes, em uma obra como esta, na qual é proposta teflexao sobre as contribuigdes aportadas pelo educador Paulo que se manifestavam contra o corte de verbas na educagao basi i S que se manif <0 d 4o basica e s ‘idiotas titeis” (ESTADAO CONTEUDO, 2019). i ied #0 ver, ndo se trata simplesmente de criticas, mas de acusagbes, difamacdes ¢ iges marcadas por um tom incompativel com a dignidade, a honra e o decoro 9 para os cargos piblicos ocupados pelos representantes do G. inciso VII da Let ne 1.079, de 10 de abril de 1950). ce 140 - CEM ANOS COM PAULO FREIRE: DIALOGOS Freire a Psicologia e a Educagio, o resgate das reflexdes desse importante PI pensador ea critica A proposta politico-ideol6gica que se convencionou chamar de Escola Sem Partido sao tarefas incontorndveis. ESCOLA SEM PARTIDO: TENTATIVA DE ESTERILIZAGAO DA REFLEXAO ETICA E NEGACAO DA ALTERIDADE NA EDUCACAO O projeto de lei (PL) mais antigo a respeito da tematica da Escola Sem Partido, na Camara dos Deputados, é o PL 7180/2014, proposto por Erivelton Santana, do Partido Social Cristao (PSC) da Bahia. A essa primeira ideia foram apensados, de 2014 a 2019, mais 21 projetos de lei, contrarios e favoraveis, sendo Tepresentativos os projetos 867/2015, por Izalci Ferreira, do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) do Distrito Federal; e, atualmente, 0 246/19, por Bia Kicis, do Partido Social Liberal (PSL), do Distrito Federal, que retoma termos centraiy do PL 67/2015. Adiante, apresentamos os principais excertos da justificativa di Proposi¢ao do Projeto de Lei n. 246/2019, e suas prescricdes centrals, Em um momento seguinte, analisaremos a justificativa e alguns pontos centrais das prescrigdes. Da justificativa para o Projeto de Lei E fato notério que professores e autores de livros didaticos vém-se utilizando de suas aulas ede suas obras para tentar obter a adesao dos estudantes a determinadas correntey politicas e ideolégicas, bem como para fazer com que eles adotem padroes de julgamenta e de conduta moral — especialmente moral sexual — incompativeis com os que lhes si ensinados por seus pais ou responsaveis’, (Projeto de Lein. 246/2019). (BRASIL, 2019b) Das prescrigdes do Projeto de Lei: Art. 1° Fica instituido, com fundamento nos artigos 23, inciso|; 24, inciso XV e§ 1; 0 caput, da Constituigao Federal, o “Programa Escola sem Partido” aplicavel aos sistemal de ensino da Uniao, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municipios, em consond com os seguintes principios: Escola sem partido: tentativa de esterilizacdo da reflexio éticae negaco da alteridade na educacio «141 |— Dignidade da pessoa humana; II Neutralidade politica, ideolégica e religiosa do Estado; IIl—Pluralismo de ideias e de concepcoes pedagégicas; IV -Liberdade de aprender, ensinar, Pesquisare divulgar o pensamento, a arte e o saber; V—Liberdade de consciéncia e de crenca; VI— Direito a intimidade; VIl — Protecao integral da crianga e do adolescente; VIII — Direito do estudante de ser informado sobre os proprios direitos, visando ao exercicio da cidadania; IX— Direito dos pais sobre a educacao religiosa e moral dos seus filhos, conforme asse- gurado pela Convencao Americana sobre Direitos Humanos, Art. 2° 0 Poder Publico nao se imiscuiré no processo de amadurecimento sexual dos alunos nem permitird qualquer forma de dogmatismo ou proselitismo na abordagem das questées de género. Art. 3° E vedado o uso de técnicas de Manipula¢ao psicolégica destinadas a obter a adesao _ dos alunos a determinada causa. Art. 4° No exercicio de suas funcdes, o professor: |— Nao se aproveitard da audiéncia cativa dos alunos para promover os seus proprios Interesses, opinides, concepcdes ou preferéncias ideolégicas, religiosas, morais, politicas @ partidarias; — Nao favoreceré nem prejudicaré ou Constrangerd os alunos em razao de suas. convicgoes liticas, ideoldgicas, morais ou religiosas, ou da falta delas; ~ Nao fara propaganda politico-partidéria em sala de aula nem incitard seus alunos participar de manifestacdes, atos puiblicos e passeatas; —Aotratar de questées politicas, socioculturais e econdmicas, apresentard aos alunos, forma justa, as principais versdes, teorias, opinides e perspectivas concorrentes a ipeito da matéria; = Respeitard o direito dos pais dos alunos a que seus filhos recebama educacao religiosa ral que esteja de acordo com as suas proprias conviccées; ~ Nao permitird que os direitos assegurados nos itens anteriores sejam violados pela de estudantes ou de terceiros, dentro da sala de aula. 142 « CEM ANOS COM PAULO FREIRE: DIALOGOS Art. 5° As instituicdes de educacao basica afixarao nas salas de aula e nas salas dos professores cartazes com 0 contetido previsto no anexo desta Lei, com, no minimo, 420 milimetros de largura por 594 milimetros de altura e fonte com tamanho compativel com as dimensdes adotadas. Paragrafo tinico. Nas instituigoes de educacao infantil, os cartazes teferidos no caput serao afixados somente nas salas dos professores. Art. 6° As escolas particulares que atendem a orientacao confessional e ideologia espe cificas poderdo veicular e promover os contetidos de cunho religioso, moral e ideologico autorizados contratualmente pelos pais ou responsaveis pelos estudantes, devendo sey respeitado, no tocante aos demais contetidos, o direito dos alunos 4 educacao, a liberdade de aprender e ao pluralismo de ideias. Paragrafo dinico. Para os fins do disposto no caput deste artigo, as escolas deverdd apresentar e entregar aos pais ou responsaveis pelos estudantes material informative que possibilite 0 pleno conhecimento dos temas ministrados e dos enfoques adotados, Art. 7° E assegurado aos estudantes o direito de gravar as aulas, a fim de permitir melhor absorcao do contetido ministrado e de viabilizar o pleno exercicio do direito dos pais ou responsaveis de ter ciéncia do proceso pedagégico e avaliar a qualidade dos servicos prestados pela escola. Art. 8° £ vedada aos grémios estudantis a promocao de atividade politico-partidarla, Art. 9° 0 disposto nesta Lei aplica-se, no que couber: 1—As politicas e planos educacionais; II Aos contetidos curriculares; Ill — Aos projetos pedagdgicos das escolas; IV — Aos materiais didaticos e paradidaticos; V—Asavaliacdes para 0 ingresso no ensino superior; VI—As provas de concurso para ingresso na carreira docente; Vil —Asinstituigdes de ensino superior, respeitado o disposto no art. 207 da Constituigit Federal. Escola sem partido: tentativa de esterilizacao da reflexao ética e negacao da alteridade na educacao- 143 Art. 10. Configura ato de improbidade administrativa que atenta contra os principios da administracao publica o descumprimento do disposto no art. 5° desta Lei, bem como a remocao indevida ou a destruicao total ou parcial dos cartazes ali referidos. Art. 11. 0 Poder Piiblico contara com canal de comunicacao destinado ao recebimento de reclamacGes relacionadas ao descumprimento desta Lei, assegurado 0 anonimato. Pardgrafo tinico. As reclamac6es referidas no caput deste artigo deverao ser encaminhadas 0 6rgao do Ministério Publico incumbido da defesa dos direitos da crianca e do adolescen- te, sob pena de responsabilidade’. (Fonte: Projeto de Lei n. 246/2019). (BRASIL, 2019b). Deveres do professor 1-0 Professor nao se aproveitard da audiéncia cativa dos alunos para promover os seus proprios interesses, opinides, concepcoes ou preferéncias ideolégicas, religiosas, morais, politicas e partidarias, 2—0 Professor nao favorecerd nem prejudicara ou constrangerd os alunos em razdo de suas conviccOes politicas, ideolégicas, morais ou religiosas, ou da falta delas. 3 — 0 Professor nao fara propaganda politico-partidaria em sala de aula nem incitard seus alunos a participar de manifestacées, atos puiblicos e passeatas. _ 4—Aotratar de questoes politicas, socioculturais e econdmicas, 0 professor apresentara aos alunos, de forma justa — isto é, coma mesma profundidade e seriedade -, as principais Versoes, teorias, opinides e perspectivas concorrentes a respeito da matéria. 5 — 0 Professor respeitard o direito dos pais dos alunos a que seus filhos recebam a educacao religiosa e moral que esteja de acordo com suas proprias conviccdes. 6 — 0 Professor nao permitira que os direitos assegurados nos itens anteriores sejam Violados pela acéo de estudantes ou terceiros, dentro da sala de aula. (Projeto de Lei n? 246/2019). (BRASIL, 2019b). Em face do texto do Projeto de Lei, algumas constatag6es sfo pos- is. Sem a pretensio de esgotar o debate, observamos no texto eixos is, analisados a seguir: denominagio da proposta (Escola Sem Partido) parece-nos es- gica do ponto de vista politico e ideolégico. Em um contexto de 144+ CEM ANOS COM PAULO FREIRE: DIALOGOS intensa polarizagao politica e aversio de parcela expressiva da populagio as pautas de movimentos sociais e de partidos 4 esquerda, o uso da expressio “sem partido” resulta no aliciamento politico de individuos que, ainda que jamais leiam o projeto ou discutam criticamente seus fundamentos, concordarao, prontamente, com a proposta pelo simples fato de imaginarem que a expresso “sem partido” signifique a auséncia de apoio a partidos e politicos de esquerda e as suas pautas. II A justificativa para a proposi¢ao do projeto Escola Sem Partido consiste em uma opiniao. No entanto, ela é apresentada ao puiblico como um “diagnéstico” pressuposto da pratica pedagégica no Brasil: “é fato notério que professores e autores de livros didaticos vém-se utilizando de suas aulas e de suas obras para tentar obter a adesiio dos estudantes a determinadas correntes politicas e ideoldgicas”). Trata-se, notoriamente, de uma estratégia discursiva que visa a criar um falso consenso em torno de um assunto e a naturalizar um posicionamento construido sob um viés politico. Indaguemos: mas com base em qual diagnéstico cientifico a proposta foi elaborada? Quais dados qualitativos e quantitativos do estudo deram origem a proposta? Qual foi a amostra da pesquisa ¢ em quais regides do pais o estudo foi realizado? Quais foram os critérioy para classificar como “doutrinagao” uma dada pratica pedagdgica? Como se verificaram os efeitos supostamente nocivos da pratica pedagdgica? A qual comité de ética em pesquisa tal investigacao foi submetida? Houve o consentimento e a anuéncia dos participantes? Nenhuma dessas quest6es é respondida pela proposta da Escola Sem Partido que adota uma postura anticientificista e autoritaria, ao mesmo tempo em que pleiteia apresentar-se como contribui¢ao para a educagao e pari 4 ciéncia em nosso pais. IIL O projeto apela aos pais e responsaveis, criando “fantasmas” que rot) dariam o mundo da educagao e que seriam responsaveis pelos infortinioy Escola sem partido: tentatva de esteriizaao da refer éticaenegaci da alteridade na educacio «145 le criancas, jovens e adultos. Intenta amedronta-los, demonizando a do professor, na tentativa de sensibiliza-los e obter seu apoio. Os fensores da proposta utilizam, por isso, termos cofio “contaminagao”, doutrinacao”, “manipulacao psicol6gica” para qualificar o ensino atual, locando-o em situagao de descrédito. Posto em contexto, sabemos, bviamente, que a Escola Sem Partido — cujas propostas sao defendidas, liticamente, por partidos politicos — orbita em torno da demonizagao Seus criticos e da esquerda, com o objetivo de neutralizar as resistén- as pautas conservadoras, nas quais a Escola Sem Partido se inspira. lao minimizemos a forca das teorias conspiratorias que se “relacionam rigosamente com a prioridade concedida a emogao e nao a evidéncia, mundo da pés-verdade” (D’ ANCONA, 2018, p. 64) e, junto com “negacionismo cientifico” (D’ ANCONA, 2018), disseminam-se e se fendem da realidade como um virus, que mantém o individuo entrin- leirado em suas convicgdes, apesar dos fatos que podem contradizé-lo. -omo constata D’Ancona (2018, P-67), “como uma infeccao resistente tibidticos, uma teoria da conspiracao virulenta pode se defender até fatos incontestaveis. Sua forca popular depende nao da evidéncia, mas Sentimento; a esséncia da cultura da pds-verdade”. aos 0S que a propria extrema direita cria ¢ alimenta. Com pinceladas um achavascado verniz juridico, dissimulando “neutralidade” e “li- ide”, o programa cria restrigdes absurdas para a pratica docente,em te violagao a direitos constitucionais, Projeto idealiza a escola como uma continuidade da “educagio oferecida pelos pais, sem, assim, oferecer a possibilidade de uma 146 - CEM ANOS COM PAULO FREIRE: DIALOGOS reflexio ética e critica que ultrapasse, inclusive, os limites da cultura ¢ da socializagao familiar. O aluno ficara, entio, encastelado e sera refém da “moralidade” de sua propria familia, de visdes de mundo e opinidey cristalizadas, sem a possibilidade de se encontrar com as divergéncias € as opinides de outros na escola. Um professor nao poderia jamais, segundo a proposta da Escola Sem Partido, propor um questionamenti) sobre certas normas e costumes sociais, com 0 risco de o pensamenti) extravasar a moralidade e alcangar o “perigoso”— para a extrema direita = patamar da reflexio ética. Imaginemos que um professor deseje discutlt o racismo na sociedade brasileira e a insercdo desigual de mulheres ¢ homens, de negros ¢ brancos no mercado de trabalho. Se os responsvelt pelo estudante forem pessoas brancas, por exemplo, que acreditem qué nao ha racismo em nosso pais e nem um genocidio da juventude negriy ainda que as estatisticas comprovem esses fatos (NITAHARA, 201% CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2015; ROCHA, 2019), o professor nao podera dar sequéncia a esses debates, posto quit uma reflexio dessa espécie entraria em conflito com a “educacao moral” oferecida pelos pais ou responsdveis pelo aluno. Do mesmo modo, se 0 docentes, na tentativa de ampliar a formacao humana e socioculturil dos alunos, decidissem discutir nas salas de aula a misoginia e o feml: nicidio (ARIAS, 2019; PESQUISA, 2019), bem como as raizes deswoy problemas no patriarcado, certamente enfrentariam resisténcia por pari dos responsaveis pelos alunos, em especial, daqueles que oprimem ji mulheres mediante uso da violéncia econémica, moral, fisica e sexwil ¢ que classifiquem esses assuntos como irrelevantes. VI Nessa mesma dire¢ao, o projeto censura a veiculacao de contetidly que “possam estar em conflito com as convicgGes religiosas ou morais dit pais ou responsaveis pelos estudantes”. Note-se que, nesse caso, além (li se tratar de uma proposta que afronta direitos constitucionais j4 aludide © texto pressupde a educacdo, mais uma vez, como “continuidade” educacao moral familiar, e como relacao ausente de conflito; tambi _Escola sem partido: tentativa de esterlizagao da reflex ética e negacdo da alteridade na educacgo «147 a educacao e 0 processo de ensino-aprendizagem como se o aluno sse viver em uma “bolha”. Nao deixa de ser impertante o fato de ao cercear a veiculacao de certos contetidos (“que possam estar em ito com as convic¢des dos pais ou responsiveis pelos estudantes”), rojeto, em flagrante contradicao, cerceia a possibilidade de exposicao erentes teorias, perspectivas e opinides. Se os pais dos estudantes adeptos do neoliberalismo e defensores do capitalismo, seus filhos 0 irdo ouvir, em sala de aula, nenhuma palavra a respeito da filosofia de u l Marx, se isso nao for do agrado dos pais. Os professores no poderao, x, estudar com seus alunos o poema “Operdrio em construgao”, de nicius de Moraes, sob o risco de serem taxados como “doutrinadores istas”, subversivos e, sob esse pretexto, serem perseguidos. Igual- Ate, se os responsaveis pelo aluno forem adeptos da ideia da “Terra (ALVIM, 2017), minimizarem 0 impacto do desmatamento, limitada dos responsaveis. O professor nao poder, assim, apresentar ‘sala de aula os dados que comprovam o aumento do desmatamento queimadas na Amaz6nia (TEIXEIRA, 2019) e do aquecimento (AQUECIMENTO, 2020), bem como as consequéncias dessas Ges para a populacio brasileira e mundial, e, tampouco, poder tir a histéria e a importancia dos direitos humanos (GRAGNANI, 8), que continuario a ser concebidos, por muitos, equivocadamente, © uma espécie de “beneficio” oferecido a criminosos. A psicanilise diana nao poderd ser ensinada, sob 0 risco de desagradar aos pais onsaveis no que concerne A natureza da sexualidade humana.’ 10 devera, dessa forma, permanecer circunscrito as perspectivas ho um profissional da psicologia poderé, afinal, com uma formacio preciria como posta pela Escola Sem Partido, escutar um cliente em um consultdrio psicolé- ‘Se nao foi capacitado para estudar as diferentes teorias psicolégicas e nem para far as perspectivas de seus clientes que nao sio iguais as suas ¢ que ultrapassam pectivas ¢ valores familiares? No campo da Psicologia, a Escola Sem Partido Ove a incapacitacao para a empatia, para a escuta clinica e para o debate sobre a llidade de experiéncias humanas, restringindo 0 horizonte dos estudantes. Bree aiescourunercne vos Escola sem partido: tentativa de esteilzacio da reflexio ética e negacio da alteridade na educacio - 149 emocracia”, enfatizando, além disso, os crimes praticados por militares omo feitos histdricos ¢ heroicos, como parecem pretender, absurdamente, ins.° Tudo isso se constituiria em clara afronta ags direitos humanos, dados, inclusive, no reconhecimento de que certos direitos e deveres o inarredaveis se quisermos evitar 0 retorno a barbarie. € opiniGes de seus responsaveis, sem a possibilidade do encontro com outras perspectivas e de um didlogo que se parametrize pela curiosidade epistemolégica, pelo rigor na apuragao dos fatos e pela andlise dos ar- gumentos ¢ fatos historicos. A educagio sera, entao, com a Escola Sem Partido, um processo estéril para o avanco da ciéncia, mas ttil para a politica dominante, de reproducao da mesmice € da mediocridade, além da produgio de alienagao dos alunos, aprisionados em ideias e convicgoes limitadas ao ambito da educagao familiar. Que sentido, entio, teria a escola? Em um contexto assim, as fake news poderao difundir-se em larga escala nas redes sociais e aplicativos, sem a oportunidade de se converterem em objeto de reflexdo critica no ambito educacional. De que modo os educandos poderiam ter acesso, em. sala de aula, as refle~ xes que no correspondem a visdes dominantes que a extrema direiti intenta cultuar? O projeto da Escola Sem Partido pretende esvaziar as dimensées politico-social e ética da educaciio, deixando a educagiia cidada a cargo, quem sabe, da familia e, também, das redes sociais que como sabemos, tém sido fonte de desinformacio, hipocrisia, preconceit, desigualdade, manipulacao, controle politico, difusao de fake news, iiltimas mediadas pela tecnologia dos algoritmos (BARROS, 2017). _ Diante de tudo isso, indagamos: quais so de fato as propostas da Escola Sem Partido e como esse projeto se relaciona aos problemas ividos pela educagao em nosso pais? Desferindo criticas aos professores e alastrando o medo e a raiva, proposta ignora os reais problemas vividos pela educagao brasileira. s proponentes nada avangam no que se refere 4 valoriza¢ao do corpo cente, a melhoria das condigées de trabalho e 4 necessidade de maior stimento de recursos na educagao." O objetivo da Escola Sem Par- o é anular e neutralizar reflexes sobre a pluralidade de experiéncias ilturais, sociais e afetivas do ser humano, assim como condenar visdes mundo que nao sejam aquelas pretendidas por uma elite ¢ por grupos servadores. Ademais, ao se afirmar como neutra e imparcial, a Escola Partido escolhe, na verdade, um lado, mostrando-se simpatica a psura e a ideologias dominantes que amparam um projeto politico tidemocratico. A Escola Sem Partido constitui-se como um projeto intenta transformar a educagao em um enlatado, com o rétulo da liferenca e da insensibilidade em face dos problemas socioculturais. propésito da ideia de que a Escola Sem Partido possa ser neutra liticamente, resgatemos 0 sentido real do “apolitico”, na visio de 0 Ubaldo Ribeiro: vil Igualmente problematica ¢ a ideia de que “ao tratar de questoes pi liticas, socioculturais e econdmicas, [o professor] apresentara aos alunos de forma justa, as principais versdes, teorias, opinides € perspectivilt concorrentes a respeito”. FE. bem evidente que os professores estudem) se dediquem a explicar, diferentes teorias sobre certos assuntos. Conti a prescri¢ao imposta pela Escola Sem Partido obriga, por exemplo, ii} professor de histdria nao apenas a apresentar 0s tragos caracteristicos dit nazismo, como também a expor e defender os motivos do racismo, it xenofobia, do antissemitismo e do Holocausto, dando a essa exposigit mesmo peso e importancia que daria a criticas aos regimes do nazistia# do fascismo. Da mesma forma, teria o professor de apresentar 0 Gol Militar de 1964 e a Ditadura Militar como “interven¢ao em favor di o Brasil, o atual ocupante do cargo de presidente da Repiiblica elogiou, mais de a ve7, um torturador condenado pela justiga por seus erimes. Nao deixemos de iblinhar que a intolerancia e o clogio de “medidas repressivas tomadas por outros mos, tanto no passado quanto em outros lugares do mundo”, sio tragos de jortamento autoritdrio que devem por em alerta a sociedade (LEVITSKY; LATT, 2018, p. 32). Ver também Bolsonaro (2019) e ainda Mazui (2019). onforme se pode verificar na nota ¢ nos relatérios da Oxganizagio para a Coope- go e Desenvolvimento Econémico, no Brasil “o gasto por aluno ainda é muito in- fior ao da maioria dos paises membros e parceiros da OCDE”. (OCDE, 2018, p. 1). 150 - CEM ANOS COM PAULO FREIRE: DIALOGOS Enfim, a presenca da Politica em nossa existéncia desafia qualquer tentativa de enume racao. Porque tudo pode — e deve, a depender do caso — ser visto sob um ponto de vista politico. Eimpossivel que fujamos: da Politica. E possivel, obviamente, que desliguemos a televisdo, se nos aparecer algum politico dizendo algo que nao estamos interessados ei") ouvir, Isso, porém, nao nos torna “apoliticos’, como tanta gente gosta de falar. Torna-nos, sim, indiferentes e, em ultima andlise, ajuda a que o homem que estd na televisao consiga oque quer, jd que ndo nos opomos a ele. 0 problema € que, por ignorancia ou apatia, ds vezes pensamos que estamos sendo indiferentes, mas na verdade estamos fazendo 0 que nos convém. (RIBEIRO, 1998, p. 16-17, grifos nossos) Os problemas existentes no mundo educacional nao serao solucio» nados com a imposi¢ao de um projeto como o da Escola Sem Partido, A resolugio das dificuldades exige, inicialmente, o reconhecimento dos reais problemas enfrentados no cotidiano escolar e de suas varias dimensées; um deles, na contramao do projeto em tela, consiste nit valorizacao de professoras e professores, categoria profissional que © projeto Escola Sem Partido insiste em atacar € desvalorizar, salvo quando os educadores e as educadoras manifestam aderéncia aos valores, ideologias e crengas da extrema direita.” E preciso lembrar que o Supremo ‘Tribunal Federal (STF) ja emitiv parecer a respeito da proposta inspirada na Escola Sem Partido, espe cificamente, sobre a Lei 7.800/2016 do Estado de Alagoas (2016). Em seu parecer (BRASIL, 2017), 0 Ministro Luis Roberto Barroso deter —— 2 Note-se que, em relatério da Camara dos Deputados (BRASIL, 2019a), produzida por comissao externa destinada a acompanhar o desenvolvimento dos trabalhos di Ministério da Educacio, bem como da apresentacao do seu planejamento cstrit tégico, destaca-se a pouca eficiéncia da gestio atual dese Ministério no tocantt 20 cumprimento de metas do Plano Nacional de Educasio: “€ preocupante que MEC ainda nio tenha um plano de aco detalhado para diversas dessas metas @ nem sequer tenha revisado planos de ages de gestdes anteriores. Objetivos come cequmento do atendimento de criancas de 0 a 3 anos em creches, a universalizagie dda educagio basica dos 4 aos 17 anos, a melhoria da qualidade da educasio bisiew co fortalecimento e valorizacao dos profissionais da educasao sio agendas politics de base e que atingem diretamente populasao brasileira a curto, médio ¢ Tonge prazo.” (BRASIL, 201%, p. 61). Escola sem partido: tentativa de esterilizacdo da reflexdo ética e negagao da alteridade na educacao 151 ou a suspensio da integralidade da Lei 7.800/2016, asseverando sua nstitucionalidade. O ministro concluiu, ainda, em sua anilise, que: ~ 49 — Nao ha diivida de que a liberdade de ensinar se submete a consecucao dos fins _ para os quais foi instituida. Deve, porisso, observar os standards profissionais aplicaveis "8 disciplina ministrada pelo professor. Ensinar matematica ou fisica seque padroes distintos de ensinar histéria e geografia. Cada campo do saber tem seus limites e suas "particularidades. Alguns podem trabalhar com maior objetividade do que outros. E 0 _ professor deve ser preparado para observar os standards minimos da sua disciplina, para preservar o pluralismo quando pertinente, para nao impor sua visdo de mundo, _ para trabalhar com os questionamentos e as divergéncias dos estudantes. Preparar 0 _ professor envolvea formulacao de politicas publicas adequadas — e nao seu cerceamento e punicdo. Envolve, ainda, a definicao de tais standards com clareza. 50 — Anorma impugnada vale-se, contudo, de termos vagos e genéricos como direito a educacao moral livre de doutrinacao politica, religiosa e ideolégica” (art. 1°, Vil), vedagao ~ a”condutas que imponham ou induzam nos alunos opinides politico-partidarias, teligio- sas ou filos6ficas” (art. 2°), proibicao a que o professor promova “propaganda religiosa, ‘ideolégica ou politico-partidaria” ou incite “seus alunos a participar de manifestacoes, tos piiblicos ou passeatas” (art. 3°, Il). "51 — Mas 0 que é doutrinacao? 0 que configura a imposicdo de uma opinido? Qual ¢ a “conduta que caracteriza propaganda religiosa ou filoséfica? Qual ¢ 0 comportamento que configura incitagao a participagao em manifestacdes? Quais sao os critérios éticos aplicaveis a cada disciplina, quais sao os contetidos minimos de cada qual, e em que circunstancias 0 professor os tera ultrapassado? 52-A lei nao estabelece critérios minimos para a delimitacao de tais conceitos, enem deria, pois o Estado nao dispoe de competéncia para legislar sobre a matéria. Trata-se, 4 toda evidéncia, de questao objeto da Lei de Diretrizes de Bases da Educagao, matéria ‘da competéncia privativa da Unido, como ja observado. 53 — Onivel de generalidade com o que as muitas vedacGes previstas pela Lei 7.800/2016 foram formuladas gera um risco de aplicacao seletiva eparcial das normas (chilling effect), ‘por meio da qual sera ipossivel imputar todo tipo de infracdes aos professores que nao par- tilhem da visdo dominante em uma determinada escola ou que sejam menos simpaticos 8 sua direcdo. Como muito bem observado por Elie Wiesel: “A neutralidade favorece 0 ressor, nunca a vitima. 0 silencio encoraja o assédio, nunca 0 assediado". EE |] 152. CEM ANOS COM PAULO FREIRE: DIALOGOS 54—Anorma é, assim, evidentemente inadequada para alcancar a suposta finalidade a que se destina: a promocao de educacao sem “doutrinacao” de qualquer ordem. E tio vaga e genérica que pode se prestar a finalidade inversa: a imposi¢ao ideologica ea perseguicao dos que dela divergem. Portanto, a lei impugnada limita direitos e valores protegidos constitucionalmente sem necessariamente promover outros direitos de igual hierarquia. Trata-se, assim, de norma que viola o principio constitucional da proporcio» nalidade (art. 5°, LIVe art. 1°), na vertente adequacao, por nao constituir instrumento apto a obtencao do fim que alega perseguir. ‘A Escola Sem Partido comporta, além do que ja foi dito, outros perigos para a educacao, para a pratica educativa ¢,em Ultima anilise, : tentativa de anulacao das dimensées ética ¢ politica que a educagdo deve trabalhar em cada ato ¢ tentativa de obstar aconscientizagao dos educandos sobre as forcas que causam a opressili), © ensino seria, entao, finalmente, a tarefa de adestrar os corpos ¢ A mentes, para que sejam déceis politicamente e titeis economicament) para a propria democraci para parafrasear Michael Foucault (1987) (aderindo, por exemplo, ideia de que um jovem que trabalha com sua prépria bicicleta realizandd entregas ao longo de dezoito horas por dia, a partir das demandas qué the sao enderegadas por usuarios de um aplicativo de smartphone, é wiih “microempreendedor”). O ensino da técnica alijado de seu sentido ¢ da reflexao ética ¢ Wii} perigo evidente. Pensaremos, na diregao da Escola Sem Partido, nt construgio de técnicas e propostas sem finalidade politica e, aindiy alijadas da reflexao ética sobre o uso do conhecimento na sociedade @ no mundo? Como seria isso? O ato de ensinar, sem posicionamenti} politico (o que nfo significa panfletagem partiddria), implica wim esterilizaco dos “dramas humanos”, produzindo efeitos mortiferos, t inadmissivel. Implica considerar, de forma mistificadora, que nio ha prioridades impostas politica ¢ economicamente. Significa reduzit ensino 4 repeticao, sem a aventura critica necessaria para compreentléf e enfrentar os problemas antigos ou emergentes vividos pela sociediy de. Conduz a reduzir 0 humano a fatores de ajuste ¢ adaptacao Wi Escola sem partido: tentativa de esterilizacdo da reflexdo ética e negacao da alteridade na educacao « 153 dicionamentos do mercado. Implica negar a alteridade. Pressupoe itir passivamente o discurso fatalista neoliberal, o qual naturaliza a yjustica, a desigualdade e a violéncia econdmica, ocultando e negando condicionantes histéricos, politico-econémicos € sociais. Conduz, ente, a imobilidade. O projeto desacredita a educagao, impelindo 4 demonizacao e 4 rseguic’o aos professores, enquanto se arvora em uma “perspectiva” ie visaria, supostamente, a libertagio dos educandos.”* Negligenciando atureza do conhecimento cientifico ¢ de suas respectivas diferengas odoldgicas em relagdo ao conhecimento do senso comum, o projeto ba por pressupor uma equivaléncia entre a ciéncia e as opinides, ‘0 se fossem produzidos da mesma forma. Ignora que a ciéncia € luzida mediante esforgo coletivo, por meio de anilise sistematica itica de seus objetos de estudo, ao passo que o conhecimento do so comum se ancora na experiéncia cotidiana, transmitida de gera- para geracio, sem a exigéncia de uma reflexao critica e sistematica. efeitos podem ser negativos, como Jembra D’Ancona (2018, p. 68), to que o descrédito langado contra a ciéncia pode ser efetivamente igoso quando ameaga a satide publica ou a seguranga dos outros”, o constatamos, por exemplo, nas teorias conspiratorias relacionadas 4 \¢o entre autismo e vacinagao, ja desmentidas pela ciéncia inameras s, mas presentes e circulantes na sociedade. A Escola Sem Partido é reveladora de um projeto politico-ideolégico se ope aos preceitos constitucionais e democriticos. Em um im- te estudo sobre o colapso das democracias no mundo, Levitsky e lat (2018, p. 18) apontam que as democracias nao tém sido devastadas as por golpes militares ou ages dessa natureza, mas tem comegado orrer pelas urnas. Segundo os autores, os autocratas, uma vez eleitos, diferentes partes do mundo, “empregam estratégias notavelmente elhantes para subverter as instituigdes democraticas”. Entre essas Tespeito da perseguigio aos professores, recomendamos a leitura do texto de falente (2020) sobre a aco sigilosa do governo mirando professores ¢ policiais tifascistas. +154» CEM ANOS COM PAULO. FREIRE: DIALOGOS, técnicas, o uso de ameacas punitivas contra seus criticos de partidos rivais e, na sociedade civil ou na midia, o apoio a leis ou politicas que restringem criticas ao governo, © que permite a corrosio da democracia ‘de dentro’. Os dispositivos de alarme da sociedade nao sao disparados, porque nao ha um momento culminante em que se desfira um golpe escancarado contra a democracia. O regime democritico é, dessa forma, corrompido por ages continuas e difusas, nem sempre reconhecidas como ataques, sobretudo quando praticadas por meios juridicos. Levitsky Ziblatt (2018) evidenciam que, nos governos autocraticos, muitos esforcos do governo para subvertera democracia sao'legais, no sentido de que sd aprovados pelo Legislative ou aceitos pelos tribunais. Eles podem até mesmo ser tratados como esforcos para aperfeigoar a democracia — tornar 0. Judicidrio mais eficiente, combater a corrup¢ao ou limpar 0 processo eleitoral. Os jornais continuam aser publicados, mas 540 comprados ou intimidados e levados ase autocensurar. 0s cidadaos: continuam a criticar o governo, mas muitas vezes se veem envolvidos em problemas com impostos ou outras questdes legais. Isso ria perplexidade e confusao nas pessoas. Flas nao compreendem imediatamente 0 que esté acontecendo. Muitos continuam a acreditar que estao vivendo sob uma democracia. (LEVITSKY € ZIBLATT, 2018, p. 17) A proposta da Escola Sem Partido, com seu verniz juridico, ¢ nosso ver, uma das agdes contra © regime democratico, ja que se 0p0e com claro desprezo, 0s valores constitucionais. Nao podemos ignorafy como afirmam Levitsky e Ziblatt (2018, p. 19), que “o paradoxo tragic? da via eleitoral para o autoritarismo € que os assassinos da democracit usam as proprias instituigses da democracia — gradual, sutil e mesmo legalmente para mata-la”. Nessa direcao, encorajados inclusive por pronunciamentos de repre sentantes politicos, pais de estudantes e organizagoes adeptas da ideo logia da Escola Sem Partido j4 deflagraram, em varios cantos do Brasil, reagoes contra instituigdes escolares, sob o pretexto de que as escolas @ professores praticavam uma “doutrinacao politico-ideologica”. O riseo evidente dessas reagdes € 0 estabelecimento de posturas mais defensivat Escola sem partido: tentativa de esterilizacio da reflexao éti ica e negacao da alteridade a parte das instituigoes escolares e dos professores que, talvez, passem autocensurar com receio de retaliacdes e ameagas juridicas,"* Em tltima instancia, se considerarmos a pluralidade de convicgdes raise religiosas dos responsiveis pelos alunos, as-regras pretendidas Escola Sem Partido inviabilizaréo a reflexdo sobre um conjunto nso de tematicas, postas as restrigdes de cada familia. Afinal, se a Ja for concebida, como o € na proposta aludida, meramente como ensio da familia, para qué a escola? ‘A Escola Sem Partido constitui-se, finalmente, como um projeto litico de escola, de educagao e, em altima anilise, de sociedade, ba- lo em um carater conservador, defendido por atores sociais e certos resentantes politicos, visando ao esvaziamento politico da educacao, eriorando as condigdes do processo educacional, a0 restringi-lo aos as, is doutrinas, as opinides e as crengas adquiridas pelo educando ambito familiar. A Escola Sem Partido é, assim, um projeto politi- ideolégico, ainda que dissimule 0 contrario. TRILHAS DE PAULO FREIRE: POR UMA EDUCAGAO CRITICA, TRANSFOR ORA E CONSCIENTE DE SUA FUNGAO SOCIAL E ETICO-POLITICA EF certo que, apesar de avangos, a educacio brasileira ainda nao cou o patamar almejado por Paulo Freire, e, sequer, as condigoes riais, sociais e politicas necessirias ao desenvolvimento de que € z. Mesmo assim, nao se pode ignorar a produgio significativa das versidades e de cientistas brasileiros. De acordo com anilises da aco de Amparo a Pesquisa do Estado de Sao Paulo (Fapesp), nas as duas décadas, a ciéncia brasileira viveu intensas transformagoes, cadas pelo aumento da produgao cientifica, pela formagao de mes- famos que nem sempre, entretanto, as ameagas valem-se apenis de instrumentos Mecod A disseminagao do édio e seu respectivo culto tém relagio evidente com condutas criminosas ¢ violentas praticadas por individuos que . Acesso em: 09 jan. 2020, o desenvolvimento humano e societério ¢ uma das condigées para 0 AGOAS. Assembleia Legislativa. Sistema de Apoio ao Proceso Legislativo. Lei desenvolvimento do pais. A ciéncia nao € “politica”, mas é uma atividade ee 2016. Disponivel em: . Acesso em: 01 i iti joni é i ¢ inevitavelmente — social ¢ politica. Isso significa que € interessada, que ine ILVIM, Mariana. Quem sao e 0 que pensam os brasileiros que acreditam que a Terra rioriza e pretere objetivos. Ha, portanto, a necessidade de uma plana. BBC Brasil. 16 set. 2017. Disponivel em: . Acesso em: 01 jan. 2020. A nicamente vinculada as necessidades IDRADA, Alexandre. Bolsonaro apela ao nacionalismo para encobrir seus crimes pacifica ¢ fraterna, atenta e orga = esma desculpa usada por ditadores. The Intercept. 07 set. 2019. Disponivel em: sociais, ainda que traduza os problemas sob sua propria légica. Na ttps://theintercept.com/2019/09/06/bolsonaro-apela-ao-nacionalismo-para-en- edificagio dos trabalhos cientifico ¢ educacional, as ciéncias humana brir-seus-crimes-mesma-desculpa-usada-por-ditadores>. Acesso em: 09 jan. 2020. e sociais tém relevancia, posto que desmistificadoras das dissimulacoes graficos que mostram em que ponto estamos. BBC Brasil. if : f jan. 2020. Disponivel em: . e das ilusdes que se repetem nos discursos da pedagogia dos opressores Bess0 em: 20 jan. 2020, e que pleiteiam apresentar-se como verdades. AS, Juan. Sinais do aumento de feminicfdio. Por que elas so mortas? El Pais. a i irega i cupitt out. 2019. Disponivel em: . Acesso em: 01 jan. 2020. a , Pre OS, Carlos Juliano. Algoritmos das redes sociais promovem preconceito e mento critico, da reflexao ética frente a desigualdade ea injustica, bert dade, diz matematica de Harvard. BBC Brasil. 24 dez. 2017. Disponivel em: como o progresso da capacidade de refletir, aprender, agir e convively ps://www.bbc.com/portuguese/geral-42398331>. Acesso em: 01 jan. 2020. jentizacao dos educandos sobre os condicionantes histéricomy SLSONARO ja havia convocado alunos a gravarem “professores doutrinadores”. A eee. aoe ales oKictvontl um. 29 out. 2018. Disponivel em: . Acesso pode, verdadeiramente, a nosso ver, ampliar os horizontes da formagil# 09 jan. 2020. cidada, humana e cientifica, de modo a permitir escolhas ancoradas eli) DLSONARO determina comemoragio do golpe de 196: page cee . Sordal ore 19. Disponivel em: . Acesso em 01 jan. 2020. A Gee anal idade. As reflexdes i democritica, da justiga social, da paz e da fraterni ; JURDIEU, Pierre. O Campo Cientifico. In : ORTIZ, R. Pierre Bourdieu: Socio- ire nos parecem fundamentais nesse sentido. ja. Sao Paulo: Atica, 1983. p. 122-155. Paulo Freire nos pi P. Sem a pretensio de esgotar o debate acerca do projeto conservatlif SIL. Camara dos Deputados. Comissio Externa destinada a acompanhar 0 ; 5 Ses que lanl nvolvimento dos trabalhos do Ministério da Educagao (MEC), bem como da da Escola Sem Partido, consideramos que novas reflexGes q) . esentacio do seu Planejamento Estratégico (Comex). Relatério de 2019. Brasilia: mara dos Deputados, dez. 2019a. Disponivel em: . Acesso em: 18 jan. 2020. luz sobre a proposta e a desmistifiquem serao sempre bem-vindi 166 + CEM ANOS COM PAULO FREIRE: DIALOGOS 166» CEM ANOS COM PAULO FREIRE: DIALOGOS BRASIL. Camara dos Deputados. Projeto de Lei n. 7180/2014. Brasilia, 2014. Dis ponivel em: . Acesso em: 20 dez. 2019. BRASIL. Camara dos Deputados. Projeto de Lei n. 246/19. Brasilia, 2019. Dis ponivel em: . Acesso em: 22 dez. 2019. BRASIL, Camara dos Deputados. Projeto de Lei n. 867/2015. Brasilia, 2015. Dispo nivel em: chttps://www.camara.leg. br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposi a0=1050668>. Acesso em 20 dez. 2019. BRASIL. Presidéncia da Republica. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Juridicos Constitui¢ao da Republica Federativa do Brasil de 1988. Brasilia, 1988. Disponivel em: < http:/Avwwplanalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acess0 em: 01 jan, 2020. BRASIL. Presidéncia da Repiblica. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Juridicos, ‘Ato Institucional n. 5, de 13 de dezembro de 1968. Brasilia, 1968. Disponivel em . Acesso em: 01 jan. 2020, BRASIL. Presidéncia da Repiiblica. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Juridicos. Let n. 1.079, de 10 de abril de 1950. Rio de Janeiro, 1950. Disponivel em: . Acesso em: 09 jan. 2020. BRASIL. Presidéncia da Repiiblica. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Juridicos Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996, Estabelece as diretrizes e bases da educagilo nacional. Brasilia, 1996. Disponivel em: . Acesso em: 01 jan. 2020. BRASIL. Presidéncia da Reptblica. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Juridicos. Let n. 12.612, de 13 de abril de 2012. Brasilia, 2012. Disponivel em: < http://www planalto, gov.br/ccivil_03/_Ato201 1-2014/2012/Lei/L12612.htm>. Acesso em: 12 jan. 2020, BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Agao Direta de Inconstitucionalidade 5537 MC 7 AL. Brasilia, 2017. Disponivel em: . Acesso em: 01 jan. 2020. CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Genocidio da populacao jovem ¢ negra: um debate de todos. 13 ago. 2015. Disponivel em: , Acesso em 01 jan. 2020, D’ANCONA, Matthew. Pés-verdade: a nova guerra contra os fatos em tempos dé fake news. Barueri: Fato Editorial, 2018. ESTADAO CONTEUDO. “Idiotas titeis', diz Bolsonaro sobre estudantes que sairam jt ruas para manifestar nesta quarta-feira. Estado de Minas. 15 mai.2019a. Disponivel env . Aces 21 jan, 2020. Escola sem partido: tentativa de esteilizacao da reflexdo ética e negacao da alteridade na educacao » 167 ESTADAO CONTEUDO. Ministro da Educagio diz que filmar professores em € dircito dos alunos. Estado de Minas. 28 abr. 2019b. Disponivel em: . Acesso : 09 jan. 2020. FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento da prisio, Petropolis: Vozes, 1987. REIRF, P, Pédagogia da autonomia: saberes necessirios A pritica educativa. 60. ed, o Paulo: Paz e Terra, 2019. RAGNANL, Juliana. O que sio direitos humanos e por que hi quem acredite que seu ropésito ¢ a defesa de 'bandidos'? BBC Brasil. 25 mar. 2018. Disponivel em: . Acesso em: 01 jan. 2020. INVESTIGACAO aponta assessor de Bolsonaro como responsivel por pagina de fake yews derrubada pelo Facebook. G1, 08 jul. 2020. Disponivel em: . sesso em: 19 jul. 2020. VITSKY, Steven; ZIBLATT, Daniel. Como as democracias morrem. Rio de neiro: Zahar, 2018. MARQUES, Fabricio. A expansio em ntimeros: em duas décadas, parimetros da ciéncia sileira evoluiram de modo consciente. Pesquisa FAPESP. Sio Paulo, v.20, n. 284, 38-41, out. 2019. Disponivel em: . Acesso em: 10 fev. 2020. UI, Guilherme. Bolsonaro chama coronel Brilhante Ustra de ‘heréi nacional’ 08 ago. 2019. Disponivel em: . Acesso em: 01 jan. 2020. ISSOLINI, Benito. A doutrina do fascismo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2019. IITAHARA, Akemi. Negros sio maioria entre desocupados e trabalhadores informais 9 pais. 13 nov. 2019. Agencia Brasil. Disponivel em: . Acesso em: 09 jan. 2020. DE (Organizagio para a Cooperacio e Desenvolvimento Econdmico). Brazil Sountry Note; Education at a Glance 2018; OECDE Indicators. Disponivel em: http://download.inep.gov-br/acoes_internacionais/estatisticas_educacionais/ocde/ lucation_at_a_glance/Country_Note_traduzido.pdf>. Acesso em: 24 jul. 2020. QUISA mostra que casos de feminicidio no Brasil registraram alta de 13% em 19. Forum. 22 nov. 2019. Disponivel em: . gesso em: 01 jan, 2020. BEIRO, Janaina. “Vamos fuzilar a petralhada’, diz Bolsonaro em campanha no Acte. came. 3 set. 2018. Disponivel em: . Acesso em: 18 jan. 2020. 168 - CEM ANOS COM PAULO FREIRE: DIALOGOS RIBEIRO, Joio Ubaldo. Politica: quem manda, por que manda, como manda, }, ei rev. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1998. ROCHA, Matheus. Populagio negra é a principal vitima de homicidio no Brasil, iy IBGE. O Globo. 13 nov. 2019. Disponivel em:

You might also like