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1 AS PESQUISAS SOBRE O CRESCIMENTO DA PRODUTIVIDADE E SUAS DIFERENGAS: OS BECOS SEM SAIDA E AS NOVAS PERSPECTIVAS! Certamente, nio hé qualquer justificativa para mais um artigo falan— do dos principaisaspectos das pesquisas ecoabmicas sobre as fontes do ‘rescimento da produtividade, e aqui nfo estamos apresentando uma. 1H uma necessdade real de um ensaio que explique de forma con vincente a recente diminuigio do crescimento da produtividade para aque se posamn perceber as causa bisices deste deckinio, se alae tio por sistentes oa transitérias, ¢ quais as opdes de politicas. Este capitulo, zo entanto, nao constitul um enssio sobre 80, apesar de ter sido mo- tivado pelt falta de conclusées dos estados a respeito desse vépica. A promissa subjacente a eite exsaio é 4 de que o modelo tedrico pres- suposto pelos economistas na maiorin das pesquisa sobre © cresci- mento da produtividade através dos tempos © nos diversos paises & superficial e até certo ponto erréneo com respeito aos veguintes as pectos: os determinantes da prodatividade nas empresas © as diferen- as entre elas os processos que geram, selecionam e difindem as novas ‘ecnclogis; a influéncia das condigGes macroeconémicas € das insth- ‘TOeimate plcado ae Juma f Bonne Lette de 81}, p 125-4 RICHARD R. NELSON tuigdes econdmicas no crescimento da produtividade. As Segbes 2:3 ‘cf abordardo estes topicos, evando em conta as literatures heterodo- Jae ortodoxa que 0s analisaram, Na Segio 5, é apreentada usna 3e~ Senha dos recentes esforgos para o dezenvolvimento de modelos evo- tuciansrios dor cescinrenter dx produtividide, Mas, antes,na Segd0 1, apresento tum pequeno resamo sobre 0 atal estado da arte em rela~ {Go aos estudos da predutividade,sugerindo que hi uma ovidente i- trangillidade quanto 3s formulacdes teéricas vigentes. Ao mesmo tempo que algurnas peequisas empfricas se agarsam a esis teoris, uma substancial quansidade de estudos tem avangado a0 longo de linhas que se afastum consideravelmente dos dogmas postalados por elas. 1A ESQUIZOFRENIA DAS PESQUISAS CONTEMPORANEAS SOBRE © CRESCIMENTO DA PRODUTIVINADE E DOS FENOMENOS A ELE RELACIONADOS Para comesar, € preciso descrever wim pouco da bistéria intelectual: Enquanto o aparato conceitual usado hoje € relativamente novo, 0 interesse de economtistas pelo crescimento da produtividade & dos ‘mais antigos. O Capitulo 1 de A rigueza das nagbes verse basicamente fobte 0s avangos tecnolégicos ¢ 0 erescimento da produtividade, conforme sio chamados atualmente. John Stuart Mill, assim como Karl Mars, foi um tedrico do crescimento. Alfred Marshall esava muito interessado nas mudangas econdmicas dc longo prazo. Na teo- ria clissica do creseimento, as empresas eram vistas como tendo fins Jucrativos e os ramos de atividades como competitivos. Mas a ccno- tagio de ambos eta mais flexivel que a da ortodoxa teoria coneem- porinea dos pregos..Na dscusio verbal, ve aio na anilise formal 0 crescimento econdmico era visto como um processo evolucionirio. As instivuigdes de um pais eram consideradas estimoladoras ou con- servadoras, responsveis pela canalizagia frutifera ou pelo desvio des se process. » IMENTO ECONOMICO Vale a pena cbservar que, darante os primeiros anos do pos guerra, as concepedes microeconémicas subjacentes 3 anslises em- pirieas do erescimento de produtividade pareciam estar mais pr6zxi ‘mas da antiga tradigio teérica do que da nova. Em sew artigo de 1952, Moses Abramovitz destacou os vinculos que existiam entre as pesquisas empiricas da época ¢ © pensamento’clissico, chamando a atengio para a anséncia de um miimero maior de novos desenvalvi- ‘mentos teérices. Contudo, apesar da auséncia de um sistema mais moderno de pensamento econdmico sobre o crescimento éa produ- tividede, os trabalhes de Jacob Schmookler (1952), Theodoce Shultz (1952), Solomon Fabricant (1954), John. Kendrick (1956) © Moses Abramovite (1956) foram notéveis exemplos de premonigio das con~ clases centrais de estudos feitos mais tarde no contexto do sistema neoclisico ~ de que o aumento éa produgio experimentado pelos Estados Unidos tinha sido significativamente maior do que racional- mente se poderia atribuir ao crescimento de seus insumos. Os avan= 505 tecnolbgices, as mudangas da composigao da forga de trabalho, 05 invesiimentos em capital humano, a redistribuicio dos recursos das atividades de baixa para as de alta produsividade, as economias de es- cala, foram todos reconhecidos como partes da explanacio. E nenhu- ima tentativa foi feitt no sentido de repartic os méritos de cada um. [A possbilidade de uma interaco significativa foi reconhecida. Nes- ses estudos, 0s preces'dos fatores foram usados para pendent a ¢30 dos varios insumos a fim de obter uma medida de seu crescimento tol. Conndo, nfo foi apresentads qualquer justificativa disso como tum meio para rastrear movimentos ao lango de uma fungo de pro- ddugdo, ¢ nenhum desses autores chegou a postular que as tajetérias do crescimento econémico coctespondiam 3s de um equilfbrie com- petitivo mvel. Schmookler referizse a Joseph Schumpeter € Abra- movitz. a Simon Kuznets, ambos os quais baviam ressaltado que 0 srescimento era processo desequilibradcr. # inceresante observar tambim que a discussio teériea sobre 0 érescimento econdmico no pés-guerra deixou de usar linguagem & RICHARD , NELSON ‘os conceitos da teoria micraecondmica, pssando a envolver o-uso de expresses da teotia keynesiana adotadas por Roy Harrod ¢ Evsey omar. Esses modelos nio empregavam nem o pressuposto di mnaxi- smizagio dos lucros, nem a presungio de wm equilibrio competitive, ce nem sequet a hipotee de plano devemprego: Com efeito, estes mo- (dels foram concebidos para explorar as condiges sob a5 quais a de~ manda agregada ¢ a oferta de pleno emprego poderiam crescer nO ‘mesmo ritmo. Dados esses pressupostos, as condigdes requeridas era. cextremamente estrita. 1.1.A forma da arte neoclissica e sua claboracao « asinalava que a propriedade finda cra devida em boa parte a0 pressuposto de ‘coeficientes fixos. Através de cocficientes flexiveis de ftores a relax {Go entre capitil € trabalho poderia ajustarse, d> modo que, pare ‘qualquer taxa de poupanja (on investimento), tanto a demands co- mo a ofeeta de trabalho poderiam creséer 3 mesma taxa, Ele conti- maou nee caminho até desenvolver 0 que viria a ser chamado de modelo neoclisico bisico” do cpescimento econdmico. (Trevor Swan, também publicou em 1956 uma anélise similar, poréin menos in- ravi admitido frescimento a varios fatores, e corso se deveria medir © avango tec~ rnolégico, de acordo coma su2 formulasio tebrics. Reapresento aqui suas idéias bésicas a fim de chamar atencdo para certas caracteristicas {gue ji se sornaram tio familiares que s6 saramente sio tomacla co mo objetos de reflexdo, Sipe Smo egal 7) AS FONTES DO CRESCIMENTO ECONOMIC nestame-se GU olégico ses plc ou poo mma € ho gor ed ico no own abrangendo a fangio de produgio de urn ramo de atividades ou da hem um ponto na sva fan¢io dent de dadas condi- de seu produto e da oferta industrial. Geralmente esses mercados sio considerados perfeitamente competitivos, de mo- do que as empresas acabam tvatando Su pondo que of pregor dos fatores de desenvolvimento se ajustem, ¢ que no ocorrm quaisquer dificuldades keynesianas, esse anodelo & considerado consistente com uma taxa de pleno emprege. Com 0 do em consideragio a diferenciabitidade da ‘de produgto, os pressupostos da maximizacio de lueros dos pregos de ores impos tos &s empresas, a clsticidade do produto em relagio a qualquer in- sumo é igual 4 sua parcela no retorno total dos fatores, pelo menos para pequenos acréscimos nos insumos. © crescimento proporcional da produgio devido ao aumento dos insumes ao longo da fango de producio equivale 4 soma dos aumentos proporcionais dos insunos. (© residuo que houver seré resultante de um deslocamento da fungi de producto — ou seja, de um avango tecnolégico. Claramente, exstem aqui fortes presuneSes.A vido das empre~ excaos € muico esilizada RICHARD B. NELSON, ue 0 avango tecnolégice (vis inovagio empresaial) € 0 equilibrio concorrendal nio podem coexistir— é ignorida. O pleno emprego é apenas presumido; 0 modslo nio contém qualquer mecanismo capaz de assegurar esta condigio. As origens do crescimento a vistas co- smo s¢ operasem de mods indepertiente-c-ativamente:Enquante, em parte, reflete uma anilise matemética de pequenas mudangss, na con tubilidade do ctescimento esta visio € transposta para uma enslise das corigens. do crescimento durante perfodos de tempo relatvamente ‘0 propésito de qualquer formulcio tebrica 6 0 uma perspectiva especifica e ums interpresagio para determinado issunto,A realidade, inevitavelmente, 6 muito mais rica do que qual- {quer teoria, Os pesquisadores empfricos da economia reconhecem que a teoria é uma abstrago,¢ tentam levar em consicerardo os im- portantes fatores omitidos pelas teorias vigentes. Além disso, um simp teoria, inicialmente formulada, é pasivel de faruras amplia- ‘60s, aprofiundamentos ¢ modificagbes que lem com anormalidades. © caciter frutifero de uma estrutura teérica ampla tem de ser jul ado pela sua capacidade de fomentar a pesquisa, ¢ pelo poder do conhecimento alcangado através dela, Portas crtérios,a modelagem neoclissica deve ser clatamente julgada como tendo sido muito fru- tifera. Bl tem dado vids, diego ¢ um comsiderivel grau de coerén- cia 4s pesquiss redlizadhs por um grande niimero de economists durante um. considerivel periodo de tempo. Essas pesquisis tém au- nentado consideravelmente nosso conhecimento dos fatores subje- cenies ao crescimento da produtividade. ‘Mas, enquanto os pesquisadores sensitos dio & teorizagdo formal tum tatamento praginitico, ewe mesmo sistema tanto restinge como focaliza,etanto obscurece como itumina as ventarvas de pesquisa ex pirica. A teoria formal vigente influencia profurndamente quais dados éempiticos io ignorados e como 0$ dads levados em conta sio inter AS FONTES DO CRESCIMENTO ECONEMICO ‘retados. Nos casos em que os pesquisadores empiricos consideram fe- nndmenos além daqueles que tim um espaco assegurado na teotia, a anilce detses fondmenos tende a ce tormar imediaista (ad he) No meu entender, as pesquisas guiadas pelo: quada.Além do mais, um volume considersvel das pesquises sobre © crescimento da produtividade, embora inicalmente empreendidas com vistas 4 amplirio ¢ 20 aprofimdamento do simples modelo ncocléssico, tem identificado fendmenos e relacSes nfo tratados ade~ ‘quadamente, ou mesmo recusados, pela teoria, Nao & 0 meu objetivo aqui rever em todos os detalhes 3 pesquisis que oni estio sendo Aiscutidas; j6 existe uma produgio exeessiva dessas revisdes. Enere- tanto, para estabelecer meu ponto de vista, parece til fizer uma revisio de parte dessa literaturz, partindo de duas perspectivas. A pri- zmeira consite da pesquiss que aparenta,d primeira vist, seguir uma lioka neoclissice de form mais préxima.A segunda refere-se Acuela «que se tem desviado claramente dessa linha em alguns de seus impor- {antes encaminhamentos 11.1 A teoria do crescimento € a contabilidade de seus fatores Desde meados dos anos 1950, numerosas pesquisas tém se guiado de perto pela formulacio neoclissica. Alguns deses tabalhos So te6ri~ cot. Virias forimas da fangio de produgio slo inventadas. Medelos sio desenvolvidos asumindo que os avangos tecnolégicos devem estar esses fatores. Muites deses modelos foram revistos por Solow em. 1970, e por Hans Binswanger eVernon Ruttan em 1978, | Boa parte desses trabalhos tem sido empirica ¢ guiada pela contabilidade do crescimento implicita no modelo neodissien. | Edward Denison (1962; 1967; 1974), John Kendrick (1961; | 1973), Zvi Griliches (1960) e Dale W. Jorgerson & Zvi Griliches (1967) fizeram-contribuigSes-porticularmente importantes a esta li- teratura. Umna boa patte desses tabalhos s¢ dedicow a recugao do t- manho yEnquanto a interpretagio de Solow deu- The um significado econdmico particular, equiparando-o a0 avan¢o teznolégico, para a maioria dos demas economistas,o fator residual tanha posigio aniitica secundiria em relego 3 parte do crescimen~ to que podetia set explicido pelos movimentos 20 longo de uma fungo de produgio, Cereamente havia uma razdo para os economis- tas tentarem assegurar-se de que qu:lquer mudanga na produtivids- de passivel de set atribuiéa a movimentos 20 longo da fun¢io da dc fone asim tata a SS Soe cen» ef Iguns estadiosos Centaram incorporat aos insi~ ‘0s of recursos naturas, Em anos mais recentes,» eletricidade foi contabilzada como tm insumo & parte. Pata wma boa andlise dos pei- ios trabalhos a ess respeito, ver Nadiri (1970) e Hahn 8 Mathews (1967). Por sua vez, Denison (1979) © Kendrick & Grossman (1980) fornecem andlises mis recentes com incursGes nas tendéncias mais contemporineat Varios estudiosos empfricos tém incorporado volumes de PD Ver a respeito Edwin Mansfield (1958, cap. 3), Zvi Griliches (1980) « ML. Nadisi (1940). Fssas abordagens depreciados numa metafungao de producio para tentarem medir a nematode produ AS FONTES DO ERESCINENTO ECONOIICO Um importante desenvolvimento metodolégico recente na adaptagio da fungio de producio e da contabilidade do crescimento tem sido na veoria cal solu ‘io para o problema da maximiza¢io dos lucros de uma empresa de- ‘Eses métodos permitem um uso mais amplo dos ‘chdos de pregos na estimativadas relagdes de produgao. Jorgenson € seus colegas (ver particulrmente Christensen & Jorgenson, 1971) tém se destacado no desenvolvimento desses métodos. ‘As pesquias aqui sucintamente descrits variam consideravel- mente quanto co grit de adesio ao modelo neocliaico bisico de crescimento econémico. O trabalho de Jorgerson e seus colegas € 05, «d Griliches situam-se muito perto dessa linha teérica. O tratalho de contabilidade dos fatores do crescimento de Kendrick c, particular- ‘mente, o de Denison demonstram, todavia, de forma viva uma ques tio j@ apresentaca anteriormente. Perspicazes pesquisidores empfricos nnormalmente tendem a acrescentar variéveis que os modelos teéri- cos formas nfo contém e, de modo mais gerd, a interpretar a teoria subjacente com muita flexbilidade. Desa forma, Denison explicita- ‘mente incloi ineficiéncias na distribuigdo de recursos e obsticuios institucionsis na adogio ou difisio da melhor pritica tecnolégica. Em seus recentes estudos sobre a diminuigao do crescimento da pro- 1 importants not, extrstanto, que noe cts orn ie argumentos de uma teoria relaivamente formal sio usados nos Grads de conaie do cements sso exis do no s varifvsis ndo-ncoclissicas tendem, simplesmente, ‘ser acrescentadas de uma maneira imediata. As varifveis, porém, s6 sdquizem 0 significado no contexto de uma estruturs teérica formal ou informal. Se esses tipos de variiveis, on processos, forem impor- tantes, precsamios revise nosa conceituagio do processo de cresci- tonto, Examine a seguir algsmas pesguisas que, mais do que os es sudos-de-contabilidide-do-crescimente,sugerem.uma necessidade de reconceituagdo ¢ apontam para algumas diregBes interessintes. 1.1.2 Pesquisas ecléticas sobre © crescimento da produtividade (CURES wna empresa simples dre. Enquan- to muitos economistas estavam wand essa teoria bisica de empre~ ‘uma visio diferente e mais complex sobre sua Ver a espeito Charles Perrow (1979), Otutros ‘estudiosos dirigiam suss atengSes 3s extudo cEtsico & 0 de! ). AvaliagGes mais recentes chs diferenjas entre os s- tados Unidos eo Reino Unido sio descrita: por (1980). Embora esse Gltimo extudo nio tenha etabelecido definitiva- mente qualquer correlacio mais sélida, ele term proporcionado evi din ——o ‘mesmo tempo que alguns estudiosos estavam incluindo a Pann na fangio de produco neodissica, outros (¢ as veres os mesos estudiosos com outeat propésitos) estivam explorando mais pragmy ticamente a microzconomia dos avangos tecnolégicos. Os estados Edwin Mansfield c seus colegas (1968; 1971; 1977) tém sido especial- este proveitosos. Deis importantes achados deve ser destacados as parcialmente reqiéncia da incerteza, mas também se origi tna, em parte, do fito de bos parte do conhecimento tecnolégico ter 0 construida incorpo seus donos. Em termos mais gens, a su jum fendmeno destacado por escritos anteriores, ms que fora repr: mido na formulasio macroneodlissiga, Foram| (Denison, 1962, teins) Mao rdncommeto ds reson coves ole © envolve discrepincias entre 0 retorno dos fatores em diferentes se- tore Eenhon wae si eamdir nme mele er ia incl tos ecto gin fda dee moe con tinvou comprometida com o eqailibrio continuo, ¢ nfo com um re~ Slerlommono de ecorcladnida peo desyiel ia "Eze modclo também et comprometdo com : iG (GUABRIEEREED, citi o relative plo emprego e a consice- estabilicade macroecon6muca que caracterizaram © auge do r= pido crescimento durante os diimos anes da década de 1950 € os anos 1969. Angus Maddison (1967) e Andrew Schoniield (1968), entre outros, aribuiram uma boa parte do crédito para o ripide crescimen- © da produtividade a0 pleno emprego sustentado, e questionaram as condigdes responsiveis por aquela situagio que contrastiva tio economistas nio t2m cmprecndide muitas pesquisa empfricas sobre os determinantes da produtividade de empresas individuais. Os Interesses pelasdiferengas de produtividide entre as empresas tém se irecionado principalmente as diferengas entre médias de paises e de ames industriais. Em parte, esse desinteresse deve-se 20 fato de que, «em geral, economista estio mais interesados em dados agregadas, pelo menos no amtito de um ramo de atividades..Em parte isso re- flete-0 fato de que, na perspectiva neoclissica, hi poucas questies in- teressantes a ser exploradas através do estudo de firmas individuals ou pela andlise das diferengzs entre empress individuais em condigSes de mercado similares, Da perspectiva neoclissica, 2 produtividade de uma empresa em qualquer momento é simplesmente determinada pelas tecnolo- gias dspontwois ¢ pelas condigaes de mercado (basicamente of pre 608 dos facores de producio). Pode haver, no entanto, algumas razSes pata abrir mio dos fortes pressupostos contidos nessa anilise. Bm pri- zciro lugar, as grandes empresas sio organizagics complenan. Se ex se fato & aceito, certasdificuldades com a simples teoria neoclisica da produtividade nao tardam a aparecer. Em segundo, o pressuposto de-que 0 conhecimento tecnologico € ptilico, podendo ser obtido ¢ explorado livremente, o que é implicito a esa anilise,torna-se sis- ppeito, mesmo como uma simples primeira aproximacio; com efeito, 4 presungio de conhecimento teenolégico pablco pode impedir ‘qualquer andlis efeiva do processo pelo qual sio geradas, seleciona- das ¢ disseminadas as noves teenologias. Nesta Serio, examinarei,pri- ‘meiro, alguns trbalhos sobre 2: religSes entre a organiracio € a pro- Gutividade das empresas, Em seguida, voltar-me-ei para alguns esta os sobre as diferencas de produtividade entre empress. 2.1 A empresa como uma organizagio ‘A teoria neockissica da empresa contém duas fortes hipGteses. A pri- meira 6 a de que o conhecimento teenalégico constitu 0 detecmi- rrante bésico dos possiveis insamos e produtos a disposicéo de uma empresa. A segunda é a de que a escolha administrativa entre opgdes laramente definidas determina © que ama empresa faz. A imagem implicita € a dt empresa como uma miquina, com algumas partes hhumanas, com um comando gerencial contsolando suas agbes © fa- zendo escolhas que so postas em pratica através de um comand reto, talver mediado por uma rigids estrutura hierirquica. Esses pres- supostos podem ou nao ser tieis como uma primeira aproximasio. Para comegar, reconhegamos que a maioria das empresas agea~ ‘pa muitas pessoas c, goralmentc, tem um corpo administrative sepa- rado dos individuos que efetivamente se encarregam da produgio. Isso chama a stengio para algumas complicagdes reprimidas pela teoria neocléssica de produgio. Uma € a necessidade de mecanismos para coordenar aces. Numa dada divisio do teabalho,as fangies de- vem ser compativelmente projetadas ¢ adequadamente integradas. B necessirio que haja uma rede de informacSes para que todos os tra- balhes sejum efewuidos sem dificuldades. Esse problema existiria mesmo se todos os individues assumissem os objetivos da adminis- tragio, Mss, de um modo genl, os empregados de ua empress nio partilham automaticamente os mesmos objetivos dos gerentes. Dal a necesidade de promover a motivagio ¢ © monitoramento do traba- Tho. A literatura sobre organizagio e suas relagdes com a produtivi- ddade,em sua maior parte externa 3 economia, conterapla ambos es- AS FONTES D0 CRESCIMENTO ECONOMICO Jaines March ¢ Herbert Simon (1958) distinguem duss grandes linbas de desenvolvimento do que eles denominam a teoria “clissi~ ca” das organizagdes. Uma, derivada dos trabalhos de FW. Taylor (1910), refere-se 4s atividades fisicas envolvidas na produgio. Sua principal caracterstica 60 interesse pela “administragio eientifica” — ou sei, pelo projeto de uma determinada tarefa, 0 fluo da produ- Go entre seus varios estigios etc.A segunda linka, oriunda dos tra~ balhos de Gulick 6 Urvick (1997) e de Max Weber (1947), focaliza problemas de estrutura organizacional - como questdes sobre até que onto certos servicas devem estar subordinadios a um departamen- to deservicos ou descentralizados entre varios outros depattamentos. [Ambas as tradigdes estio diretamente preocupadas com a coorde~ nagio (embora de diferentes maneiras) ¢ também com os esquemas de motivagio. Assim, Taylor escreveu sobre os esquemas de incenti- v9» financeiros e Weber discutiu as vantageas dos planos de carrei~ va, Mas ambos retrataram organiza¢io como uma méqina com elementos humanes ¢ encararam sevs problemas administrativos como uma espécie de projeto desi miquina para garantir seu bom ‘Algo parecido com esa imagem da organizagio encontra-se por tris da teoria convencional da empresa, Os atores humanos si0 dlassficados como “tor trabalho”, mas as consideragBes sobre seus problemas de coordenacio ¢ controle sio reprimidas. Fm alguns mo= delos mais complexns, os aspectos organizacionais da produgio che~ gam 4 ser admitidos pelo recoahecimento de que recursos io envol- vidos na coorlenario © controle, em adigio aos envolvides na “produgic”. Até a tecnologia de coordenacao e de controle poce ser admitida como uma variivel, da mesma forma que a tecnologia de produgio. Mas, dados esses obsticalos, a adminisragio ainda € vista como capacidaie de escalher o que seri feito, Fssa carcterizacio es- 1 presente no espirito da teoria das equipes de Jacob Marschak & Roy Radner (1972),.¢ & comsistente com 0 recente trabalho sobre agenciagio,Ver s respeite Steven Ros (1973). Mas sio poucos,atualmente, os estudiosos da onganizayio que ‘vim 0 compertamento em oxganizacées tal como firecam 04 te6- ricos clissicas. O famoso experimento dos trabalhos de Hlawthor= ac (Roethlisberger & Dickson, 1929), reairado hi mais de cin alienta anos, levou-oste6ricos.dz-organizagéo.2 abandons 1 nogao de que as organizagSee exam como “miquinas” que poderiam ser programadas ¢ rigidamente controlidas pela alta administracio, © a reconhecer explicitamente que 2 organizag2o constitai win siste= ‘ma social que pode ser resitente ou indiferente 20s comandos ad~ rministrativos. Estudiosos como George Homans (1950) © Chatles Percow (1979) detereveram ese tipo de visio sobre © comparta= ‘mento organizacional ‘A tecnologia encarada como conjunto de instrugSes bem ar~ ticuladas apenas define 0 que esté para ser feito dentro de amplos limites, eatre os quais hi vim considerivel espago para variagSes quanto 20 empenho, atencio e & cooperago. Um cuidadoso “pla- ngjamento do trabalho” pode eseitar os limites, mas no elimins~ os.Da mesma forme, os administradores no podem “escolher” efti- ‘vamente 0 que deve ser fico de forma detalhad, ¢ somente dispoem de uum controle ample sobre o que vem sondo feito e sua qualidade, ‘Apenas ums pequena parcela do que as pessoas realmente fezem 10 ttabalho pode ser posmenorizadamente menitorada, Dada a ampla margem de flexiilidace permitida pela tecnolo~ gia e pela instrugies © supervises adiministatvas, € 0 sistema secial cde rabalho que estabclece norms, a impée e ressce 3s pressOes ou ‘2 ordens dministraivas que slo inconsistentes com essas norinas. Os ‘veildes inferiones representativar ca administeagio, tis camo os c2- ppatazes que tém por funpio monitorar e disciplinar a peformanc,sio pense parcialmente cooptsdot pelo sistemas social. De forms consis- tence com a teoria classica dis omganizacées, certas maneinas de fazer a coisas ¢ ccttos niveis de desempenho serio exabelecidor e aceites, sma, 10 contririo do. que é ensinado pela teoria clissca, esses niveis serio influeaciados tanto pela cstruruca social como pelas dirctrizes © | | press da adminstago, Por out lado, ess procedientes ¢ wo sna: porlem ee inftenciados pelos sensimentoreatitedes dos tabs Thalores ede modo mas geal plo esptito da onganizapo. A admni- ristrogio tem muito a ver com a natreza dees espfrito. A ramcira como es trabilhadoss se sentem em relegio a eu tabilho a 3038, cologs de taba, dante da adiinitasioe bre « oraniagio tal ‘vez seja mais importante na influéncia sobre a produtividade do que 4 mancce pattcuar pela qu cles so istaos a fcr seus tabse Thos, da que a estatira organiracional formal ou do qu até mesmo os incenivs financiros F atmal que, dada exe perspectia da simsgio, ax varie resakadas por Tylor & Gulick e seus seguidores posam parecer ins- trumentos adminisnatver reatinamente desinteresantes © pouco promisores. Os estidiosos das onganizagSes que sceitiam 2 nora perapectiva do “sistema social” olhacain para outs dines, Viras trices derentes de pesquss se desenvolveram. Chester Barnard (1998) mais ale Hecbert Simon (1957) xe salar que 2 alta adminisragio das eraprera em lmitages noni zero de cols que pode contol ou cuidar em detahe, © explora tam as fangBes dos administadcres nese ceniio mais restito. Tes fangoes de amplo alcance foram identificacas: 0 estabelecimento das cstmtigias de longo prazo que proporcomum orintagder aos csa- Ines inferozes na tomaca de deciset «crise de wm context so- Gil ede um sien de inceniv pura que eae esas inferiors aruer de acordo com os interes da empresa: ¢ 2 negoczcio dos casos problemas cxcepcionis que ro podem ser tras ov dele= {peor rotinciramente. Ourtos estdiosos— Christopher Argyrs (196) € um exempio importnte~preccupitm-se com or estos ¢procedimentor dat to rmadas de decsoer As questor-chive que eles formularam cram $2, com melhores infbrmagSes, poderiam ser temadas melhores deci ‘shes, ¢ se a implementacio debs seria mais efetiva em moldes parti- cipstives da tomada de decisBex ov mam regime hierrgsico em que RICHARD R NELSON as decisdes sao Mmadas de cima, com pouea participagto dos eics- ies inferiores ‘Onuteas teadiySes rokaram-se para at questbes ch dsposigio e ‘da Jeakdade dos trabalhadores em relag2o & organizagdo, Un grupo de estudicsor concentrot-se-no-fito-deque os trbalhadores trzem pe- rasseas emprego: sentimentes ¢ problemas externcs,assinslando que, 20 negligencit-los, a administrigio etava promovendo 2 aienarao. Virias formas de reclamagBes foram estudadas para poder entender come isso afeava a relagio dos wabalhalores com seus emrpregos © de que maneia isso inflaenciava seus indices de absentefsma, de gre ves ¢ de produtvidade. Ouues pexquisadores estadiram 09 modos ‘como projeros do processo de trabalho influenciavath a satisiagio € interesie dos tabathadoros. Richard Hackman &¢ Greg Oldham (1980) fornecem uma excelente visio a repeito dests linhas de pesquiss. Fea amoera dis quessdes exploradas pelos pesquisadores dis organizagies nao cem a intenglo de ser exaustiva. Contude, oss quests sio bastante ilustativs da ampla variedade de espicos abraagidos pelo favo de as empresas apresentarem um sistema soci {que infuencia como 25 “tecnologias” sto de fito uiizadas © como as docisdesadministrativ:s” io taduridas em agdes. Setia de grande valia © mito compensador se estadiosos dis relagées humans ¢ da organizacio social das empresas fessem capi~ zes de identficar ¢ documentar relagaes esiveis bem dofnilas entre a vativeis sob controle admainisrarivo ¢ a efetividae do desempe- tho dos teabathadores. Mas, minha leirura sobre os resutades de cin- ‘qenta anos de pesquisas, constente com a avaliagic critica de visias resonhas de estudioses nesas Sess, 2 de que poucis des relagSes ‘estiveis tim sido encontradas até 0 momento.Ver a respeito 0s tabi~ Thos de Hackman & Oldham (1980) ¢ de Victor Vroom (1916). Acre= dito que essa trdigo de pesquisa mais recente tem sido persuasiva ris divida: que hngou sobre 0 modelo mecinico dh organizagio cempresarial, Entretanto, ainda no tem sido capaz de identificar ¢ me- ras principaisvardveisorganizacionais e suas influence. “ As FONTRE nO CREICIMENTO RoNEMICS Em alguns experimentos, a maior participagio dos trabalha~ dors nat decitSer aumenton a produtividade, mas, em outcor, ea iminnia,e,em outros ainda, ndo chegou a infu. Em alguns expe- rimentos, 0 “enriquecimento com o trabilho” deixou os funcion’~ ios mais coatentes € mais produtivos, em outros, mais contentes porém rio mais produrivos,¢ em auttos, menos contentes mus nem, poriso menos produsves. Pode ser que tit vaiives, omitidas noe modelos econdmicos habituais, devam ser eratachs simplesmente como introdutoras de um elemento aleatrio, On pode ser que ba- Jp tehagdes estiveis a ser descoberas, mas que talvez seam ois ‘complicadas do que aquelas que nio foram contempladss iniciel- mente pelos experimentos. Ror exomplo, o desejo dos tabalhado res de putticipar das decisestalvez degenda do grav como 0% a- ‘sunzot envolvidos sio visor, em termas cientificos « thcnicos, em contraposigio a0 proprio bem-estar (Gouldner, 1954). Nessa pess~ pectiva, o enriguecimento do trabalho poderi ser preferido pelos tmbalhadores se iso nio 0 cor tabalhas mais arduamonte (Cold- mann, 1975). Posie ser que o alcance de tat consideragesseja mais mitado em alguns comtexios do que em ouuos. Assi, algumas tecnologia poder impor conirles mais tigidos sobre o ritmo do trabalho ~ por exemplo, a teenologia de procestos quimico: incorpozada aos oqui- ppamentes que controlam 0 fluxo dos maceriais. Em contraposicao, fem maitas operagSer mecinieas, at tecnologias se prestsm a algum sau de controle pelos trbalhadores (Woodward, 1965) Alguns am- bientes de mercado sio flexiveis 0 sufciente para permite uma redu- ‘ode desempenho;outrs sio extemaments competitivos¢ Forgan tanto os administrdores como os tabalhadores a tomarem cuidado com tido o que fazem (Lupton, 1963). Os tebricos dat onganizagBes ‘stlo comegando a reconhecer esas complenidades. De qualquer ‘modo, os economists que defearam de Indo esse tipo de questdes ‘que influenciam. a produsvidade difcilmente podem queixarse do Tento avanco de seu conhecimento, ‘Em anos mais recenes, alguns economists comegaram a pro _jetar modelos de empresas em que as pessoas sio vistas como indivi ‘dot, ¢ nde como autématos. A teoria comportamental de Richard CGyert & James Mareh (1963) obviamente se encaixa nesse molde. © mesmo se di comas anilises de Oliver Williamson (1970). Este autor tem motrado come a organizigio de uma empresa com virios pro=

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