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(Cmara Bese d Livre SE Bes) 5s iin ge Fan oe) — ‘aso gage 2 2 Mine — Bt cop 3 ain ats ere cig nti a hlgdcepn 92 2 Ms oment hang 31822 Apresentacao Faustino Teixeira Oestudo da mistica comparada ganha um espago cada ‘vex mas sgrifiatvo em universidadese lens de pee usa esplhados por toda a parte. Nos ilimos anos pode- tos registrar, no mbit internacional, os seminiros orga- nzados pelo Centro Internacional de Estudos Misticos de Avila (Espana), com a contrbuig deintelectais de re nome como Lice Lépez-Baralt (Universidade de Prt Rico), Pablo Beneito (Universidade de Sevilha) e outros. Como resultado de ais semindios fram produzidas obras de refe- ‘réncia para o tema, como El sol a medianoche;' Mujeres de luz? e La mistica en el siglo XI? Um semethante interesse tem movido pesquisadores brasileiros, de diferentes universidades. Na Universidade Federal de Juiz de Fora hé um programa de pés-graduago ‘em Ciéncia da Religifo (PPCIR) que contempla em uma de suas reas de concentragdo 0 tema do didlogo inter-eligio- ‘0, com um projeto de pesquisa especifico sobre o tema da ‘mistica comparada, No intuito de ampliar e desenvolver a reflexio sobre o tema, aconteceu, em setembro de 2001, um seminério de mistica inter-eligiosa, que contou com a Pans, Leen (Or) manok. Le expert aa Moana T1956, * ser Pal, Pen, Lena, Bacoos,nJon (Or) Mr de ‘entomen oeninsemcn Madd Trot, 20 » Cannone de die Mins Le mie et Mods Tro, Soo Rami: a paixdo pela unidade Faustino Teixeira “Toda a érvore ganha beleza quando tocada pelo so.” Rowt Introdugaio ( grande interessesuscitado pelo didlogo inter-religio- 0 nos tempos atuais tem igualmente favorecido 0 processo de aproximacio tedrico e existencal de tradigbes religiosas distntase de suas experincias mistcas, Impde-se com cada ‘vez maior clareza a necessidade deste contato mais esteito, esta abertura& alteridade como requistos essenciais para ‘uma justa avaliagdo das outras tradigSes religiosas.Verifica- se igualmente que um dos campos mais ricos e promissores do didlogo ocorre no ambito da experiéncia mistica, onde «em nivel mais profundo celebra-se a dinémica de enriqueci mento reciproco e de cooperagio fecunda, indicando a ri- queza de um encontro para além das diferencas. (© aprofundamento das grandes correntes misticas pre- sentes no interior do islamismo tem sido um dos campos ‘importantes de pesquisa na drea do didlogo inter-religioso e a mistica comparada, favorecendo pistas inusitadas para ‘uma compreensio mais significativa da dinimica relacional ue envolve as tradigdes religiosas e, de modo particular, 0 cristinismo eo islamismo. Este ensaio visa asituar, de for- 21 sma sintética, a teflexdo de um dos mais importantes e signi- ficativos nomes da experiéncia mistica do isla, Mevldna Djalél od-Dia Rami, nascido em setembro de 1207 em Balk, ino Khorassan, regido oriental do Ira, atual Afeganistio. Na rica linhagem da tradigo postica persa, Rimi traduziu como ‘poucos a riqueza infinta da experiéncia do amor eda busca {do mistério que envolve e banha a dinémica do humano. Foi também um dos primeiros mestres espirituais a manifestar jnusitada abertura inter-religiosa, reconhecendo e acolhen- do a dinimica revelacional presente nas diversas tradigdes religiosas. Na visto de ume das autoras que consagrou sua vvidaa estudare traduzir a extensa obra de Rimi para ofran- és, Eva de Vitray-Meyerovitch, a mensagem deste mistico traduz um radical universalismo: “Uma mensagem de amor que retoma os valores mais essenciais do cristianismo € do jsli, sem deles nada negar, acrescentando-Ihes uma dimen- ‘io integralmente fraterna e ecuménica”.' Amarca do sufismo (0 sufismo € 0 nome mais recorrente para designar cexperiéncia mistica do isl, traduzindo uma “dimensao inte- rior” muitas vezes desconhecida ou desapercebida da tredi- ‘gio slimica. O termo sufismo, tradugio de tasawwu, deri- ‘eremitas crstios, em sinal de peniténcia e destacamento do ‘mundo. A idéia que predomina ¢ ade “pureza” (safi), sen- 0 0 sufi aquele “puro de corns”, em razio da presenga envolvente do Bem Amado. Na busca de uma definigio mais sintética, G. C. Anawatiindicou que a mistica sufi consttui ‘um “método sistematico de unio intima, experimental, com Deus”? Nao hé, porém, uma definiglo que esgote a com- plexidade do fendmeno. Rémi ilustrou de forma admirével esta complexidade através da parabola do elefante, descrita no tercero livro do Masnavi: ‘Alguns hindus estvam enbindo um elfante num quarto eto, ¢ mata ge en pure vo, Mas ao 0 quart estava escuro demas para que cles pudessem ver © ‘lente, todos procuravam senti-lo com as mis, para ter uma idéia de como ele era. Um apalpou a su tromba © declarou que o animal parecia um cano digua; outro apal- ou a sua ore e disse que devia ser um leque enorme pou a sua pena e pensou que fosse uma coluna; ‘outro apalpou o seu dorsoe declarou que o animal devia, por assim dizer, chamou-o de Dal e outro, de Alif* Nenu RaolAleyee. try mcrae Medi Ata Beas 198 Poet tA elon ston di : so ase de on, Gore a 1986 2 Soar, Anema, Le safle ons mesons is lon aC 196 9p. 3 Eat ircememene isp e {rnc Mes Sam Mat Te ‘vane, 6. C, Gast, Lantus mula apes ences — Expres ceded eet 98 p et, alo Di. Maan So Pi, Dery 1p. 55156 "sue ban dinghies de EH Wheel Par 8 da inept Ro, ilo in Manav nga de Asal Tare ae ‘perc Dacha ty 0 Me ec nr apr A, Nelo om 05, ato Sets clancn cs vya-se da raiz suf, que em arabe significa Ia. De fato, na cexperincia primordial do sufismo, 08 primeiros ascetas re- vvestiam-se com 0 hébito de 1a, de modo semelhante aos ; marc ade ae oe Pit Ain Mil 1995 6 12" sors bin reso ce ers pn oman ze RE io Fen yr toes ude Rte Vr: Bi tune So Pe, ECE 5% pp. 2363437. Catan er OE SEIS Relics tr Monn Ale, wae Rete (O). Mr ‘Noemie Fapls, YoesSPTEAN, 194 p52 as ‘Como indicou Rami, a compreensio do sufismo exi- ‘ge uma capacidade particular de apreensio da realidade que ‘escapa ao olhar sensorial comum. Assim como a palma da mio, na paribola descrita, fio consegue captar a totalidade do clefante, da mesma forma o olho da “percepgio sensorial” 6 incapaz de alcangar a complexidade do real. Ele esta preso os limites da “espuma”. HA necessidade de um salto adian- te, no sentido de poder perceber, para além da espuma que se mostra, «indica do mar que ela escamoteia: “O olho do mar é uma coisa, a espuma é uma outra; deixe a espuma ce olhe como olho do mar” (MILI, 1270), ‘O sufismo remonta is origens do isl, e durante todo 0 seu desenvolvimento esteve radicalmente ligado a tradigao isldmica, Em nenhum momento afirmou-se em ruptura com 4 f€ corfnica, mas sempre na linha de sua interiorizago e aprofundamento. Isto ndo significa a auséncia de outras in- flugncias judaico-crists que marcavam o meio onde 0 islamismo veio se firmar, ¢ de outras tradigdes religiosas que 0 isl, em seu processo de expansio, encontrou pelo caminho. Os autores falam sobretudo do influxo cristio, neoplaténico, gnéstico e budista.* Contudo, de fato, a misti- ca sufi guarda uma autenticidade original, um cariter autéc- tone, que se traduz pelo trago corsinico e arabe. O misticis- ‘oma qu os diem dasa le Meo) ‘Noproteesi lanes ead enduro anes, lac og "hr com's dao bla Partai a ag ono peta 9cSge Maer doce i one { dosparefrem anc Inmet po basa lo amo 5 » Wa. poreemla, Neots Ren Allee, Pty i. 237 Suma mem! Le stone res tc em, stem ae, a gE ‘mo islémico procede, como bem sublinhou Massignon, da continua recitagdo, meditagio e pritica do Corio.’ [Nos trés primeiros séculos do isla, que se iniciam a par- tir da hégira (ano 622), a experiéncia mistica sufi seri carac- terizads pela doutrina ascética, como a rentincia do mundo (2uhd), passando para aafirmagao do tema do amor gratuito a Deus (ib), até chegar ao amadurecimento espirituel com a nfase no tema do conhecimento de Deus (ma rfa). Neste primeiro periodo podem ser mencionados alguns nomes im- pportantes, como Hasan al Basti (643-728), Rabi'aal-Adawiyya (f 801), Dhu'n-Nun (f 859), Abu Yazid Bistami(t 874), Abu-l- (Qasim al-Junayd (911) e Abu Mansur Ibn Husayn al-Hallaj (857-922). Nos séculos IV e V da hégira, que correspondem aos séculos X e XI dC, ocorreri uma mudanca importante na histéria do sufismo, depois das tensBes com a ortodoxia Vigente no periodo anterior, que resultaram no martitio de al- Hallaj. No novo momento, haverd um importante processo de ustificagdo da existencia do sufismo no contexto da socieda- de isldmica, representado sobretudo pela presenga de Abu Hamid al-Ghazzali (+ 1111). Trata-se do periodo de organiza- ‘oe consolidagio do sufismo. Entre os séculos XIe XIV A.C., © sufismo conhecerd a iradiagdo de obras furdamentais nos campos da Filosofia, literatura e poesia. E neste contexto que ¢ganhari vida a riqueza da poesia mistica persa, da qual o grande expoente seri Djaldl-od-Din Ramt (1207-1273) Nacho Lau ua ler orgies eg techie del mosque Ison Pt Ce 1998p. 08, Asin soma do Cari oom leg pics dems ope em ep, Ie, Near GC, Coa gc meninane 7 Nos, MF muna a mer nec Mod » Paar bit dfn operon aims cf, Som: meme, Le one ue meas mies do pp. 13,3232. as ‘Apesar de sua profunds ligacdo corinica, os misticos sufis encontraram em sua tajetéria uma via oposigo da or todoxia islimica, que resistin a0 singular sentido alegérco atribuido pelos sufi 20s rtos e ceriménias tradicionais, bem ‘como a sua peculiar intepretagao do Corio. A tensio entre esoterismo ¢exoterismo no € exclusiva da radii sufi, mas comim as diversas tradigBesreligisas. Hi sempre apresen- «de dificuldades, tenses e mesmo confitos abertos entre (0s guardies da religido oficial, que se pretendem portadores ‘nrc eos de cama eo 0 Ao mpl ue al ene arson rts ao cnr degre: MF 16-15 M24 ie Soo a; 103 08 gem. As paredes tomnaram-se puras ¢ limpas como o cé ‘Uma vez terminado o trabalho, os dois grupos sujetaram-se A inspesio do sultio. A sala dos bizantinos ganhou o pré- rio, Estava tio profundamente polida que ela refletiu em suas paredes todas as cores da outra sala, com um infindével variedade de tons e matizes. Rimi serviu-se desta histria para ilustrar a importincia da puificaglo de todos os ari- butos dou que impedem captara essénciabrlhante do pré- prio sujeto, Os bizantinos sio para Riimi como os sufis, ‘que se purficam de todos 0s desejos. A pureza do espelho polido é como o coragdo que secebe inumeriveis imagens (QM, 3485). Segundo Rimi, aqueles que poliram o seu cora- ‘fo escaparam dos perfumes e cores, indo @ contemplar sem cessara Beleza a cada instante (Mi, 3492). E este traba- Iho que, segundo Rami, favoreve o auto-esvaziamento {ico a pobreza espiritual (MI, 3497). Segundo Rimi, aestagio mais importante no cami ‘nho mistico e no trajeto para a Unidade é a pobreza (fagr). [Nao nevessariamente a pobreza de um mendicante ordiné- +0, mas sobretudo 0 estado no qual 0 sujeito vive aexperign- ‘ia radical de estar absolutamente pobre diante do Criador, ‘ou como diz 0 Corio, “pobre de Deus” (35,15): Um dos personagens que aparece no Masnavi de Rimi, e que serve ‘para marcar esta centralidade da pobreza, & Ayés, 0 favorito

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