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4 Dos crimes contra a liberdade individual 9.1 Constrangimento ilegal 9.1.1 Generalidades Tutela 0 Cédigo, em seu Capitulo VI da Parte Especial, a liberdade individual, nao como uma concepeao abstrata, mas em seu conceito juridico que, no dizer de Bluntschli, citado por Fragoso, é “a faculdade de exercer a prépria vontade, nos limites do direito”.! assim a faculdade que tem o homem de exercer as prdprias atividades sem violar 0 diteito dos demais, consagrada em varios dispositivos da Constituigéo Federal (art. 5° incsos I, 1, V, VI, VIN, IX, X, XI etc.). Os crimes contra a liberdade individual estio divi- didos, no Cédigo, em crimes contra a liberdade pessoal (arts. 146 a 149), contra a invio- idbilidade do domicilio (art. 150), contra a inviolabilidade de correspondéncia (arts. 151 152) e contra a inviolabilidade dos segredos (arts. 153 e 154). Da Seccao I, dos crimes contra a liberdade pessoal, fazem parte o constrangimento ilegal (art. 146), a ameaca (art. 147), 0 seqiiestro e cdrcere privado (art. 148) e a redugo a condi¢éo andloga a de «scravo (art. 149). = a outros crimes em que a liberdade pessoal é também eS rele), Be a como wm ei abronid pele con tentado violento ao pudor) etc, ‘aalo em estado aqueles ae anny belo crime fim, $6 consttuirdo delitos prevstos no capitulo em es rem elementos constitutivos de outros; so eles crimes subsidies: atingida, mas 0 fato é ape- 12 Conceto essoal, ou sefa 2 stranger O primes, Weriste dos delitos da Seccao I, em que se tt ica da pessoa, é o constrangimento ile; tela a liberdade P definido no art. 146: “Co 1 Lig — 32. “de dieito penal: parte especial. So Paulo: José Bushatsky, 1976. v. 1, p- 232: { | 4 Scanned with CamScanner 156 Manual de Direito Penal * Mirabete ty alguém, mediante violéncia ou grave ameaga, ou depois de the haver redun guer outro meio, a capacidade de resisténcia, a ndo fazer 0 que ali Pe Zi or gue ela ndio manda: Pena ~ detengZo, de trés meses a um ano, ou muita ite, ova fr, 9.1.3 Objetividade juridica ‘Tutela-se a liberdade individual de querer, ou seja, a autodeterminaca da agio, incluindo-se, assim, a liberdade fisica e ps{quica da vitima, lod ldrio do art. 5°, I, da Constituigao Federal: fazer alguma coisa sendo em virtude de I Ca voniadee “Ninguém seré obrigado a fae ou dae ‘ 9.1.4 Sujeito ativo © constrangimento ilegal é crime comum, podendo ser praticado por qualquer soa, Entretanto, se o agente for funcionério piblico, praticando crime no exerecio desu fungées, ocorrerd outro tipo penal (arts. 322 e 350 do CP e art. 3° da Lei n®. 4.898/65). 9.1.5 Sujeito passivo & sujeito passivo do delito a pessoa fisica que possui capacidade de querer. Exc dos esto, como sujeitos passivos, os doentes mentais, 0 ébrio total, as criancas de tara idade e as pessoas inconscientes. Serao estes, porém, objeto do crime quando 0 constan gimento se exercer contra seus representantes, forcando-os a permitir que se fag algo com relacdo aos incapazes. A violéncia pode ser exercida contra pessoa diversa daqulat quem se procura constranger.* 9.1.6 Tipo objetivo jgnifca coagis ae residénct, 4 rudéncia 0s cas at ar documents ‘A conduta tem seu nticleo no verbo constranger que, no caso, pelir, forcar, obrigar. Cometerd 0 delito quem obrigar outrem a mu escrever uma carta, a nao atravessar a rua etc. Registram-se na juris coagdo para ingerir bebida alcodlica (JTACrSP 61/182), para entreg: 444/372), para confessar um crime (RT 503/416) etc. lei ‘ . ae i a se Pode-se obrigar a vitima a fazer ou a ndo fazer alguma cols. NEO 580% A pressamente a conduta de se forcar alguém a tolerar que se fara algo ce tolertn™ que se corte o cabelo, por exemplo), entendendo, porém, Hungria au € senio uma modalidade de abstengao ou omissio”> 2 FRAGOSO. Ligdes. Ob. cit. v. 1, p. 234. as 7 149-150 3 Comentérios ao cédigo penal, 5. ed. Rio de Janeit 0. v6 Pr Forense, 198 Scanned with CamScanner | — # sagt pose consi se de violencia, com a prética de les6es ou ato que atinja a ono 7s anata oofendido,amordaghlo ete), eas em que s wat : sr edit, 08 contra terceira pessoa ou mesmo contra coisa, casos de as violéncl tirar as muletas 20 aleijado, por exemplo). Exemplo de viol€ncia a coisa ocorreu was autmével da wt (RT $26/391) conatrangimento também meio de grave ameaga (item 3.1.3) ou de qualquer outro meio, abran- ose epee de nares, inebriantes, estimulantes, drogas da verdade e hip- gen ibilidade do cometimento do crime por uma conduta omissiva, limentagao do doente pela enfermeira que quer obrigé-lo a Dos Crimes Contra a Liberdade Individual 157 mo porexeplo, 2 DAO determinado ‘comportamento. idade de coagio é absoluta quando 0 agente nao tem nenhum direito @ zo da vitima (obrigar alguém a tirar o chapéu, impedir que a esposa saia do vestido) ou relativa, “quando néo é proibida a pretensao do compor- passivo da vitima, porém nao tem o sujeito ativo direito de empregar Fameaca para consegui-lo” (o pagamento de uma divida de jogo, a Pas ima a praticar algo que poderia ser 6 agente constranja a vit legais (recebimento de uma promisséria vencida, despejo etc.), rio das proprias razbes (art. 345). se for ela amparada pelo direito, como no caso de 10 caso o exercicio regular de dir um ato imotal, mas no de conduta permitida em go ou omiss com determina tamento ativo OU violéncia ou grave da meretriz etc.).* Caso ahxido através dos meios taveréo crime de exercicio arbitra Nao haveré coagao ilicita, porém, | seinpedir ainda que com violencia, a pratica de crime; ha ne direito,E ilicito, porém, o constrangimento destinado a impe crininoso (0 exercicio da prostituigdo, por exemplo). Trata-se 1ki,ea coacdo para impedi-la é ilfcita.” Indispensdvel é a existéncia do nexo ameaga ou de qualquer meio e o estado de lito se nio teve a vitima anulada ou dimin se iu aquela compelida a ndo fazer 0 que a lei pe (AcrsP 43/242), causal entre o emprego da violéncia, da grave submissio do ofendido. Assim, inexiste o de- le resistencia ou se nao mite ou a fazer o que ela néo manda 91.7 Tipo subjetivo Exigese a vontade livre e consciente de constranger alguém, a¥® constitui 0 dolo mente. Necessario € 0 do det to quando o agente tem consciéncia de que age ilegitima =. JESUS, Dam Bay5q," AmAsio E. de. Direito penal: parte especial. 4. ed. Sao Paulo: 5 Hua Draiopeen'y ACOSO. Comentdrias. Ob. ci qnsscontra a ed. Sao Paulo: Saraiva, 1977. v. 2, P. 164; Sp 75g Bee 2. ed, So Paulo: Revita dos Tribu Pins de BRUNO, Anfbal. Grimes contra a pessoa. 3.e Mentado. Rig ea Penal. Ob. cit. v. 2, p. 261. Contra: FARIA, Bento le Janeiro: Record, 1959. v. 4, p. 252. ve 6, p. 151-152; NORO! . Ma © OG: SILVEIRA, Buclides C. da Direito penal ‘ais, 1973. P- 276s FRAGOSO. Ligdes. OD. Mi, Sao Pailo: Rio Gréfico, 1975; JESUS, de, Cédigo penal brasileiro — Scanned with CamScanner 158 Manual de Direito Penal Mirabere i inj é0 de obter a a ‘ jetivo do injusto, que € 0 ‘ 0 da vitima ¢ ¢. ee o fim da conduta praticada pela vitima ou os motivos 4 Sting jevantes, porém, : houver o propésito de forcar ou constranger a se ndo nt cons tine ae ue crime serd apenas o que resultar da violencia ou da ameaya i Unig rais, vias de fato, ameaca)”.” es ilegitimi da ac&o pode exclui de fato sobre a ilegitimidade da ago po: Poa s454ya3i). Pela le vigente trata-se de erro sobre ailcitude do fato (are, ay,“ oa 9.1.8 Consumagéio e tentativa Consumase 0 crime quando a vitima, submetid, toma 0 comportamento a ue obrigads, fazendo o que ndo desejava ou néo fazendo o que queria. # possivel a treet va, que ocorre quando o ofendido néo cede & vontade do agente apesar da voli, ameaca (RT 651/267). | | | 9.1.9 Formas qualificadas Em dois casos qualificam-se o delito e as penas de detengdo e multa, altermativas no crime simples, so ambas cumuladas e duplicadas. A primeira hipétese ocorre quan, “para a prética do crime, se retinem mais de trés pessoas” (art. 146, § 1°, 1 parte) Brige se, no caso, que cada um participe do ato executivo do crime e, eventualmente, poderé haver concurso material com o delito de quadriha ou bando (art. 288). A segunda hipétese de crime qualificado ¢ aquela em que “ha emprego de arm’ (art. 146, § 18, 2* parte). E necessdrio que a arma (propria ou imprépria) seja utilizada peo agente, para lesionar ou ameacar, no se configurando o agravamento pelo simples pote dela, Entendemos inexistir a qualificadora quando se trata de arma simulada (item 3.15). 9.1.10 Distingéo O delito do art. 146 do CP é tipicamente subsidiario. A sangao penal nele presat ¥ preauelo fepressivo suplementar, predisposto para o caso em que determinado fet Preendido no conceito do constrangimento ilegal, nao seja especialmente 7 ait elemento integrante de outro crime, como 0 roubo, a extorsio, 0 estupro, erecta csno G2 PrOprias razBes (RT'393/321, 546/344, 523/415, 492/354, 489/35® 0 © 331; JTACrSP 62/37, 42/141, 41/190 e 329). Por essa razio ¢ 0 constrangim © MANENE Vax 8 : cae INL Vincenzo. Trattato di diritto penale italiano, Turim: Torinese, 1951. ge 107, 1; CNORONHA, Direito penal. Ob. cit. v. 2, p. 165. Contra, exigindo apenss : ‘uclides C. da. Crimes contra pessoa. Ob. cit. p. 274. ; 7 ‘Ligées. Ob. cit | it. v1, p. 237-238, Scanned with CamScanner Ce ..«z ao. ono nos crimes de roubo UTACrSP 4gyo.y i ae ‘ rare : grerctcio arbitrétio das préprias razéeg Otacrsp 4g desobediéncia grime eletoral“exercer, no dia da eleigag 2 RT 492/354) « ou manifestacio tendente a influir na vontaie “quale forma dei de 30-9-93). ‘eltor” (are, 57 189 ceira pessoa, pata provocar acdo crimi; religiosa (art. 1°, I, a, bec, da Lei ne 9.455, < cemimento a outorgar procuracdo é crime mais grave, Soxsic Pessoa j 10,741, de 19-10-2003. » definido no art, 9.1.11 Concurso Caso 0 constrangimento imposto a vitima nao Se destine a garantir a deten io d: ns furiva ¢ nem a impunidade do delito, sera reconhecido como autéron ears integrar a violéncia caracterizadora do roubo GTACrsP 44/243, 41/248). Haverd, no caso, concurso material. Quando a coagio se dirige a varias pessoas, hé concunn ferns (TACrSP 61/182). Quando o constrangimento for exercido para que a vitima pratique um crime (at ‘oria mediata), haverd, segundo Fragoso, concurso material entre o crime que vier a ser Praticado pelo coagido e o previsto no art. 146 do CPS Parece-nos, porém, que a melhor soluggo é a de se ver no caso concurso formal (conduta é, ao mesmo tempo, a pratica do constrangimento ilegal e a autoria mediata do crime executado pelo coacto), excluindo- sea aplicagao da agravante prevista no art. 62, inciso Il, diante da impossibilidade do bis in idem. Melhor seria a modificagdo da lei penal brasileira para se prever, como na lei italiana, o delito auténomo de coacdo para cometer crime. . No caso da prética de violéncia, poder ocorrer concurso material ore ee ne atingem a vida ou a integridade corporal da vitima, somando-se as penas Woléncia nos termos do art. 146, § 2°. a que 9.1.12 Bxcluséo do crime : cidade. Nao ha crime timento do paciente 1a” (inciso D. se viola a liber jvel a incluso Prevé 0 § 3° do art. 146 dois casos de exclustio da anual ado se rata de “intervengao médica ou cirtrgica, sem 0 cones tm’ St representante legal, se justificada por iminente PUTS Te fMento médico arbitrario é um caso de estado de necessidare Ms ‘it individual para salvar-se a vida do paciente. £ pe rfeitamen ie 8 Liées Ob, city, 1, p. 237. aaa Scanned with CamScanner

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