You are on page 1of 6
QOULART Roi Wania. OTvaball DA PROSA LIRICA FINISSECULAR ‘AO ROMANCE LIRICO MODERNO * Nao podendo embora esquecer o papel que, em termos programéticos, cabe ao Romantismo na dilaicao de frontelras entre modos e géneros literdrios, reco. nhece-se ter sido a literatura finissecular que na pratica melhor realizou os principios que, nesse dominio, aquela escola proclamara. Incursdes liricas como as de Almeida Garrett em Viagens na Minha Terra ou de Alexandre Herculano em Eurico o Presbitero afiguram-se-nos ainda incipientes se comparadas com a prosa lirica de fim de século e mais ainda, compreensivelmente, se cotejadas com 0 romance lirico contemporaneol, £ curioso cbse, Publicado em Diaeritica, 6 (1991). bem que apoiando-me maioritariamente, no que res- ta @ literatura finissecular, mum género inextricavelmente ido a0 modo narrative, como € 0 conto, exclui delibers imente do titulo deste estudo designacdes como conto Ii. rico ou narrativa lirica, por tais designacées deixarem de fora alguns dos textos abordados, de que sto exemple Wy ePelos Campos» ou «As Vindimas», insertos em O Pais das yet Uvas, de Fiatho de Almelda. Sera esta ums dag’ cole ce wer licada em 1895) que, com outras ‘uaa, Os men ns we Trindade Coelho, e Serio Inquleto de. da ¥ {publicada em 1910, mas prolongando ainda a ¢: eulo anterior), servirio de base as. reflexoes aqui serdo levadas a cabo, Elas permitirdo wn confronto, wh que & modulacdo do modo narrative pelo litico respel com| @ romance lirlco do séeulo XX, de gute sera agul eeito Verge | No Ferreira como paradigma. Nao € de esquecer, no entsne, ) 18 cosa. Homsiived 9% pit we eau o ibingpes force Hoa var que, responsabilizando pelas intrusées liricas entida- des integradas no mundo. diegético (as _personagens Carlos e Eurico), ambos 0s autores inventaram uma estra- tégia que nao pée em causa os fundamentos da intriga romanesca.: Fol, com efeito, a partir da ficcdo posterior 20 Romantismo e ao Realismo / Naturalismo que se tor- nou pertinente falar em crise da intriga, ou simplesmen{ te_da narrativa, ronianesca. Ainda recentemente, José yy’ Catlos Seabra Pereira, reiterando afirmacdes anteriores + Guanto & superiorizacéo quantitativa e qualitativa da poe- t cg sia na literatura finissecular — justificada pela sua malor # adequacéo, «aos pressupostos ¢ objectivos das tendén- Ss ama enquanto formas naturais da literatura, reflec- das nas Tentativas de reelaboracdo dos seus geneTos y ) mdo as Injuncoes do paradigma lificon®. ‘ontudo, tao pouco confortavel nos é, tantas ye- zes, a demarca¢ao de frontelras entre modos literérios quando estes se actualizam num mesmo género que nao raro deparamos, quando alguém mete ombros a se- te tarefa, com expressdes modalizadas, formas de insinuar 0 que se ndo consegue Tr pe- remptoriamente. No caso das interferéncias liricas no modo narrativo, ¢frequentelermos ou ouvirmos falar de atom, de «qualidade lirica» da narrativa, de poesia «lato sensu», de «atmosfera lirica», etc., 0 que deixa entrever a conscléncia das dificuldades que esta problematica le- vanta a quem pretenda abordala de frente. E ver, por © caso notavel que é Hiimus, de Raul Brando, que o precede € com o qual Vergilio revela notérias afinidades. 2 José Carlos Sea}... Pereira, «A Condi¢ao do Simbolis- mo em Portugal e 0 litigio das modernidades», Nova Renas- cenca, vol. IX, Verdo de 1989 / Verio de 1990, p, 146. 0 Trabalho da Prosa 19 ‘essa «qualidade li ¢ intemporal: «Mas a qualidade seus contos adivinha-se na ins mas de sempre, como o Instinto, a Natureza, a Dor, Piedade, a Morte» (op. cit, p. 153). Veja-se também em. que termos Joao Gaspar Simdes se pronuncia sobre Ri de cariz universal ica", lato sensu, dos dessa espécie_de lirismo do sofrimento balizado entre o jel, entre O sonho ¢ 0 grotesco. E assim é 3 Jacinto do prado Coelho,

You might also like