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MACHADO DE ASSIS OBRA COMPLETA Organizada por AFRANIO CoUTINHO VOLUME II CONTO E TEATRO Machado de Assis, Contador de Histérias MArio Matos O Teatrélogo MARrIo DE ALENCAR RIO DE JANEIRO, EDITORA NOVA AGUILAR S.A., 2004 Primeira edicao, 1959 Primeira reimpressao da 1* edigao, 1962 Segunda reimpressao da 1* edigao, 1971 Terceira reimpressao da 1? edi¢ao, 1979 Quarta reimpressao da 1* edigao, 1985 Quinta reimpressao da 1* edi¢ao, 1986 Sexta reimpressao da I* edicao, 1990 Sétima reimpressao da 1* edicao, 1992 Citava reimpresséo da 1* edigao, 1994 Nona reimpressio da 1* edigao, 1997 Décima reimpressio da I* edigao, 2004 © 2004 by Editora Nova Aguilar S.A. Direitos de edicao da obra em lingua portuguesa adquiridos pela EDITORA NOVA AGUILAR S.A. Rua Dona Mariana, 205 - casa 1 - Botafogo - CEP 22280-020 Rio de Janeiro, RJ Tel / Fax: (21) 2537-7189 / 2537-8275 Vendas:(21) 2538-1406 E-mail:aguilar@iis.com.br ISBN do volume I - 85-210-0075-8 ISBN do volume II - 85-210-0076-6 ISBN do volume III - 85-210-0077-4 ISBN da colegao - 85-210-0078-2 paemniee MACHADO DE ASSIS, CONTADOR DE HISTORIAS * Mario Matos TRE NOS, até a época do Romantismo, é escasso o género, sendo cos os escritores que se dedicaram a especialidade. Poucos e maus. rece que se inicia o habito de contar pela forma de folhetins com “de Alencar, Joaquim Manuel de Macedo, Luis Guimaraes Filho Iguns mais. Nao eram propriamente historias as paginas que se reveram entao, mas cronicas, movimentadas por entrecho ténue. ominava © tom descritivo e romantico. Os verdadeiros contistas receram com o advento da escola naturalista. Em determinada , indicada por Alfredo Pujol, em suas conferéncias a respeito de achado de Assis, a vida literaria fazia-se por intermédio da impren- . Um dos centros do movimento era a Gazeta de Noticias, ao tem- em que era dirigida por Ferreira de Aratijo, autor também de uns contos apreciaveis, perdidos nas folhas volantes. Colaboravam quele diario Ramalho Ortigao, Ega de Queirés e Guilherme de zevedo. A influéncia romfntica d'A Ilustre Casa de Ramires foi tensa e eXtensa na literatura brasileira. Foi mesmo a influéncia mais cisiva, tratando-se de escritor estrangeiro. Os nomes em voga, por uela época, como jornalistas, cronistas e especialmente como con- urs, eram os de Ferreira de Aratjo, José do Patrocinio, Ferreira de eneses, Valentim Magalhaes, Franga Junior, Urbano Duarte, Alui- oe Artur Azevedo, Raul Pompéia, Lticio de Mendonga, Artur de liveira, Escragnolle Déria, Tomas Alves Filho, Coelho Neto, José erissimo e, mais tarde, Julia Lopes de Almeida, Inglés de Sousa, a Redondo, Valdomiro Silveira, Afonso Arinos, Virgilio Var- Medeiros e Albuquerque, Domicio da Gama, Pedro Rabelo e ullos outros. Posteriormente, ainda surgiram, para sé citar os de vor nomeada, Lima Barreto, Alcides Maia, Lima Campos, Mon- eiro Lobato, Humberto de Campos e, atualmente, Godofredo Rangel, stao Cruls. Marques Rebelo, Ribeiro Couto e Rodrigo Melo Fran- 9 de Andrade. Sao estas. citagdes exemplificativas, fique entendido, © nem sera possivel nomear quantos contistas hajam surgido no rasil Referimo-nos aos que se salientaram pela feig&o da especiali- que, de alguma maneira, se ligaram ou conjugaram com a Je artistica de Machado de Assis. © conto ndo representou, aqui, nenhuma significagao romantica, fura como umn das re: cd s processos do Romantismo. Pela sua sado em Muchado de Assis, 0 Homem e a Obra — Os Personagens © samo Autor. Sio Paulo, Companhia Editora Nacional (“Brasiliana”). 1939. MACHADO DE ASSIS, CONTADOR DE HISTORIAS * MArio Matos ENTRE NOs, até a época do Romantismo, é escasso o género, sendo poucos 0s escritores que se dedicaram a especialidade. Poucos € maus. Parece que se inicia o habito de contar pela forma de folhetins com José de Alencar, Joaquim Manuel de Macedo, Luis Guimaraes Filho e alguns mais. Nao eram propriamente histérias as paginas que se escreveram ent&éo, mas crénicas, movimentadas por entrecho ténue. Predominava o tom descritivo e romantico. Os verdadeiros contistas apareceram com o advento da escola naturalista. Em determinada fase, indicada por Alfredo Pujol, em suas conferéncias a respeito de Machado de Assis, a vida literaria fazia-se por intermédio-da impren- sa. Um dos centros do movimento era a Gazeta de Noticias, ao tem- po em que era dirigida por Ferreira de Aratijo, autor também de alguns contos apreciaveis, perdidos nas folhas volantes. Colaboravam naquele dia4rio Ramalho Ortigaéo, Ega de Queirés e Guilherme de Azevedo. A influéncia romantica d'A Ilustre Casa de Ramires foi intensa e extensa na literatura brasileira. Foi mesmo a influéncia mais decisiva, tratando-se de escritor estrangeiro. Os nomes em voga, por aquela época, como jornalistas, cronistas e especialmente como con- teurs, eram os de Ferreira de Aratijo, José do Patrocinio, Ferreira de Meneses, Valentim Magalhaes, Franga Junior, Urbano Duarte, Alui- sio e Artur Azevedo, Raul Pompéia, Lticio de Mendonca, Artur de Oliveira, Escragnolle Déria, Tomas Alves Filho, Coelho Neto, José Verissimo e, mais tarde, Julia Lopes de Almeida, Inglés de Sousa, Garcia Redondo, Valdomiro Silveira, Afonso Arinos, Virgilio Var- zea, Medeiros e Albuquerque, Domicio da Gama, Pedro Rabelo e muitos outros. Posteriormente, ainda surgiram, para s6 citar os de maior nomeada, Lima Barreto, Alcides Maia, Lima Campos, Mon- ‘ciro Lobato, Humberto de Campos e, atualmente, Godofredo Rangel, Gastéo Cruls, Marques Rebelo, Ribeiro Couto e Rodrigo Melo Fran- +0 de Andrade. Sao estas, citacdes exemplificativas, fique entendido, sae hem sera possivel nomear quantos contistas hajam surgido no qt Referimo-nos aos que se salientaram pela fei¢&o da especiali- ‘dee que, de alguma maneira, se ligaram ou conjugaram com a ‘tidade artistica de Machado de Assis. fig © © conto nao representou, aqui, nenhuma significagdéo romantica, 8ura como uma das res cdes aos processos do Romantismo. Pela sua _ splelisado em Machado de Assis, 0 Homem e a Obra — Os Personagens @m © Autor. Sao Paulo, Companhia Editora Nacional (‘“Brasiliana”). 1939. 1 OBRA COMPLETA / VOL. It ara a pessoa do ee jos tem faltado ima- lise de sentimentos ¢ Persona- rigdo minuciosa, € nisto a nese re semaos adds, 130 a ‘sobrevivem a0 gosto da Lopes de Almeida com Caolha”, € mais um ou 4 os “Porcos”, a “¢ . to dnsia Eterna, onde hi 08 ore com 0 "Coragao de Cai- Gois coatos admirave’s, 0 Caso do Abade” © purse “Todo Mand”, Garcia Redonge er com algumas paginas “Choupana das Roses’ Tue com “As Calgas do Raposo” e alguns forts, Medi © riser Dos ultimos, dos mais proximos de nés, sas ae me powro Lobato, grande contador com 0 seu livro plan- ‘ comitantemente, Mau turoso dos. Urupés, lembrande Per ter = "0 Engragado Arrepen- pasant ¢ Filho de A que fica, Asim também Godofredo ‘Range fio prosador 00 géncro, e Rodrigo M. F. de Andrade com Rangel, fino furo de conte, Veldros, em que se é um conto verda~ See admirével — "0 Enterro de “seu” Emesto™. De Afonso ‘Kits pode dizet-se que sio étimes quase todos os que enfeixou no Palo’ Seno, em que sobressaem "Pedro Barqueiro” e “Assombra- mento". ‘Eraminados esses contstas pela maneira e natureza do assunto em que narram, nio é demais didlos em duas categorias: contistas da Silage contstas da terra. Tratam os primeiros de figuras e ambiente ttbanos. Versim os segundos Uipos e paissgeas do interior. De que lado se situa Machado de Assis entre cles? O autor de Papéis Avulior forma eotre os contadores da cidade, atmosfera em que nasceu e formu o espiito. Diferenciase também de quase todos, digamos mesmo apartase de todos pela orientagao, pelo sentido do ‘noto. Ao contririo dos ours, procura, unicamente, analisar os sen- timentossuts dos personagens, decompor as almas. Os outros fazem os personagens atuar. Machado félos pensar, Por outro lado, sem embargo de ser dgil estilista, € 0 menos literd- tio de nossos conteurs. Conduzido pelo dom, pela vocagao de conta. dor de histérins, sabe encarar a vida diretamente ¢ dat i narrat's a {eisio de oralidade, de modo a transmitir ao leitor a sensagao de que cath, no lendo, mas ouvindo coatar. E importante isto, Ema wordt) luma histéria néo se deve ler, deve-se escutar. Ai ests iene cialidade. Machad + Al estd a graga da espe chado, no conto, nio descreve, mostra, fala. Quandet so 5 por ue vemos continua cOnveTEAM Uns com of outros € ot de significative naturalidade’ Nao tom eee. Dislo- mao eames, Narra pelos dois modos, pico e dranarra geo Singur ase tain hs dun ica, maneira dramitica de 2 ae ureza, ¢ objetivista, ginagio criadora e propens Fades, 0 conto naturalists 2 Yermos as sts (ope produiram obras ae ‘apontar Julia CONTOS / M. A. CONTADOR DE HISTOR! 45 contos. A teoria € do bavaro Ernesto Hess, cit na Colmeia, capitulo sobre “As Pessoas do Conte” nu: ‘Hess dedicou-se ao estudo da técnica literinu: ¢ cvp conto, como se apresentam as figuras, Enaten co dos: épico e dramatico. Na maneira épica, coments Jes apresentaao € feita narrativamente pela indicagao & sas, tal como nas epopéias. O proceso usual dos epic Virgilio: “Arma virumque cano...” Assit Camies palharei...” Todos seguem o exemplo inicial de Hom Canta, 6 musa, a célera de Aquiles...”" ‘A apresentacao dramiatica entende mais unidamente com a ‘Aparecem os personagens por si mesmos. £ o mondlogo Machado gosta de narrar por esse feitio, e era mestre no género. F Varias Histérias, como alids em muitas outras partes, inicia 2 parts a0 dramaticamente. Além desses, vemos outros recursos no modo como 0 autor a: os contos. Nao sdo propriamente recursos mecanicos, sio atitt: de espirito que nao deixam de:ser, no entanto, meios tecnicos, meio» psicoldgicos de prender a atengao. Um dos mais constantes ¢ 2 surpresa: surpreende o leitor ao iniciar 0 conto; surpreende pels originalidade em conduzir a narrativa; surpreende pelas idéias: su: preende pelos episédios esdrixulos e, ordinariamente, surp: enfim, pelo desfecho. Vai assim o leitor de surpresa em sur} Exemplifiquemos. Nos Contos Fluminenses, “Miss Dollar”, principia surpreendent: mente, logo na interpretacio do titulo da historia. Em “Linha Reta e Linha Curva", o elemento original esté na bizarria da figura de Tito. Em Histérias da Meia-Noite, “O Relégio de Ouro” finaliza de modo inesperado. B igual o caso de “A Parasita Azul”. Em Papeis Avulsos, vemos “O Alienista” que acaba esquisitamente, como tam- bém “A Chinela Turca”, que é uma série continua de situages absur- das na aparéncia. Nas mesmas condigdes o conto “Verba Testamen- téria". Nas Histérias Sem Data, notam-se iguais truques nos contes ‘Ultimo Capitulo”, “Singular Ocorréncia”, “Capitulo dos Chapéus”, “Anedota Pecunidria’ Segunda Vida", “Noite de Almirante” ¢ outros. No volume das Paginas Recolhidas, podemos ainda citar “Missa do Galo”, “Um Erradio”, “O Caso da Vara", Em Outras Reliquias, logo o primeito conto — “Identidade” — surpreende pelo entrecho € pelas situagdes como “Sé” € “O Escrivao Coimbra”. Vale ainda indicar “A Cartomante”, “Anedota do Cubriolet” ¢ “Uns Bragos”. a Sao também alguns contos de Machado, pela caréncia de trama, verdadeiras crénicas, porque nele sempre subsiste cronista, que nuD- ca deixou de ser. Esta sempre analisando, comentando, tirando ooo clusdes. Exemplos inconfundiveis sio “Lagrimas de Xerxes", “As Rosas”, “Uma Visita de Alcibiades” e “Sermio do Diabo", para nio Romear muitos. Encarados, porém, em conjunto, descobrimes, neles duas dominantes: representam uma doutrina bem interessante de D> cologia feminina e sio o espelho da tragicomédia da vida arte, cabo DE ASSIS / BRA COMPLETA / VOL. 1 Mactta ‘ _ the anima os livros de historias G ohm a a esprit cial ou facet NAS mrmorismo mais doloroso nas 0 a8 wa Noite. rs asd Mews Ye em 0 sett0r com um produces poster oalzante, se € possvel dizer assim Bonto morslizante, CECE scidentais de sua pena Vo 40, “Mas isto € excegé 330 ‘avalgum tempo para assentar a ‘Machado de Assis mmo como conte mente, sem naturalidade, forgando mes- Condus 3s cenas canbe Conunudade Joga nos acontecimentos ro as situagoes. HA TE mas historias parecem esboco de, come. O arti ¢ evideme. MET Reta e Kina Curva”, Aid nso dis, como por EXCmPIC Ps reiménia nos didlogos. Para sentir bem eee imo werfeigio, basta a leitura seguida ros — Contos Flui- 5 tr, Fumo jo, b a eval te ae sucedetam. Os dois primel dos livros que se sueryalume de 1869, e HistOria da Meia-Noite, ens Pa mira em 1873, Sio fracos. Tratavse de contos muito gue Mem Papeis avusos, dados emt lvro em 1877-1882, se nota Tongos Js Treigeamento, Todos os contos sao excclentes. Vém, em notin! Ffatinay Sem Data, em 1884, Vérias Histdrias, em 1896, Puginas Recolhidas, em 1899, Reliquias de Casa Vella, em 1906, Pasir Peeaieas postumas de Outras Reliquias. Os contos que no Fain neses volumes foram enfeixados na publicagao recente- ite feta de sua obra integral. Alfredo Pujol faz uma divisio dos Thats de Machado de Assis, segundo a natureza dos assuntos. Di eos em duas categorias: contos de observagao da vida exterior ¢ de tne paslpes anasn,dilogos © spsloges, em que pre ominam 0 filisofo ¢ 0 moralista. ‘A ego da obra de Machado de Assis, feita pela extinta Livraria Garnier, esti ingada de erros. Principalmente a edi¢ao dos contos. Erros crass, de concordincia, de ortogratia, de pontuacio, de pala ras, erros de toda natureza, E um fato que denuncia desleixo com- pleto, comprometedor dos crédito intelectuais daqusla livraria. A lei- {ura & prejudicada quase que de pigina a pigina. E nio se pode g: rontir nenhuma citagio apanhada em tais obras, porque a responsa- biidade olga do eeritor, diane’ de tantos descuidos, io ¢ gpurdeE pena porque na ar deconaré que o estilo de Machado especias earactersticos. O estudo de seu estilo, através dos contos, exer ata 10s, exemplifiea-Ihe uma da’ ol ae cs ae ites somata ume que forma, € necesirio volar a esta consideragao do estilista. Ive Gandon supe que seja possivel haver 30 ra SO cista e mau estista, E amplia 0 caso 20.conto, Naw se tom nao. rere conto. Nao sei se tem Tazo. E preciso dstingui, Mav, inteiram Pret iu, Ma. ntiramente mau esis € impos , 1. sador deixa de il ii re oes le possuir estilo, rt Spa ei eee ipos € na desericdo do ambiente. Ives 4 Le Dimon du Site p. XL CONTOS / M. 4. CONTADOR DE nuISTORLAS 7 Gandon apéia a sua na opinido de André Gide, gu. ; Gae‘procurar¢ banal € tornarse o mars mumase pete Wee lye mas restrig®es postas no exame do assuntO. O autor de O Dense Ato do Estilo volla 20 critério do meio-termo, « teimina per tigre y Trnefpio de que uma obra talver nao vive pelo sa estlo, mer ase Eibsiste sem cle. Convém objetar que o mesmo estilo sem estilo, ave PO estilo de André Gide, € originalidade de estilo. E um pouce ee fifo. 0 que é um mal, uma falta de espontaneidade. Represents us preconceito Passada a fase do comego, com 0 gosto e prazer que teve sempr end anmnpor contos, todos os mais que vejo escrevenda sao modelares, om Gfivendo, em lingua portuguesa, principalmente do ponto de vista peMgraga, da’ sulileza e do engenho, quem o posss suplantar. ‘En miimero considerdvel de contos, dos melhores Ue sua obra, as figuras centrais sig mulheres, cujos pequenos dramzs ou angtstias, fistisa com minudencia percuciente, Logo na primeira obra que pu Bhzoo. tal propensao psicologica se observa em quase todas as histo- picowomo'sejam em “Miss Dollat”, "A Mulher de Preto", "O Se- Fredo de Augusta’, “Confissées de_Uma Viuva Moga" ¢ “Linka HSta'e Linha Curva”. A alma feminina representa uma de suas preo= Qupagbes costumeiras, Em Histérias da Meia-Noite, que se seguiram iro livro, o mesmo tema, com varlagGes diferentes, € abot- ao prem “A Parasita Azul", “Ponto de Vista” e “O Religio de Ouro” dee\e‘o melhor conto do livro. 14 na terceira obra, Pope's Avulsos, 6 Mimo, como leitmotiv, surge em “D. Benedita” unicamente. His- ‘Glas Sem Date volta a versar a alma feminina em contes finos e gracioses, como sio "Uma Senhora”, "Capitulo dos Chapeus”, "Noite geeAlmirante", “A Senhora do Galvio", “Primas de Saptcsia” € “Kaanuserito de Um Sacristio”. Em “Uma Senhora”, Machado poe de manifesto os tormentos de envelhecer para a alma de uma mulher Vaidosa, D. Camila. E uma pagina cheia de realidade. “Noite de Al nirante” é um dos seus contos mais bem feitos, em que estuda a volu- Blldade do amor no coragio de uma cabocls, “Capitulo dos Chae paus" sio trechos que fixam as pequenas discordias familiares entre Fraride e esposa, demonstrando Sua velh habilidads nestes estudos. ‘Em Varias H'storias, seu quinto livro de contos, temos © mesmo pensamento. em “A Cartomante", "Uns Bragos”, “A Desejada das Gentes", "D. Paula” e "Mariana". Nos contos que vieram depots Paginas’ Recolhidas, vemos “Missa do Galo” ¢ “Eterno”. Em Outras Reliquias, aparece 0 tema em “Viagem & Roda de Mim Mesmo ‘O que se verilica a respeito de mulheres é o mesmo relativamente ao estudo ue tipos, que exprimem, pelos hibitos e género de vida. fertes ‘costumes da epoca, Machado de Assis explica a fistonomis Social pelos personagens. & assim que 0 habito ridiculo do mamero onstithi 0: tema de muitas historias, no feitio de “Emesto de Tat’ em Historias da MeiaNoite, Os tormentos que o eacete espatha esti9 bem descritos em ""A Chinela Ture” ¢ no "O Emprestimoy em que hi um parnetaceacete. O caloteiro representa o assunto de “O Laps” Em "Galeria Pestuma”, encontram-se varios tpos, expressivas dos 6 actapo DE ASSIS | OBRA COMPLETA / VOL. It relagio de Ouro”, retrata os percaleos de cooquisador, Rete vedagem. Em “Um Erradio™ cax : ‘ 2 boemio, mogo imenso facieriza wm Uupo esti, Po Fada oa vida, Em Outras Retguias, i Jogo do Bicho”. No “O Escri- topamos com umn jogador de bicbo «rt cr um jorador de Wcmprar bilbeles de ioteria, A abuséo, vio Caminba"s 3 mani fe vromo alids em toda parte, de nos cetros ejiegao por Parte de Machado em sunto df Ptorescamente descrito em “A Car- cisions poi Jeroen Cliche” & a carscterizapao den COCpS tomanie ose, dees polcasintalves ¢ cefnas; clermanents topo: Ho, Bos malandros.c tocadas elernamente pelos Plone suburba- badass Jer E ass mostra o autor, alraves dos cools, alma nos dis civdetda da urbe, tanto em seus aspectos Joviais. coro ps iatipaisagem triste E isto que Ibe da & obra uma inconfundivel feigao sua pusiae Je tal modo, que ao le-lo sentimos o Rio de seu tempo aie, com a8 suas {eigdes Vivas. Si0 os tipos, 0s costumes, cmourament ass, dados como em um cosmorama. Do autor pode- mos dizer o que escreveu, ele mesmo, ‘sobre José de Alencar em Paginas Recolhidas: ha um modo de ver ¢ sentir que ‘dé a nota inti- ima da nacionalidade, independente ‘da face externa das cousas. "As vezes, até, revive tempos bem antigos, 05 tempos de crianga, em que corsa a escola publica. A inventiva ndo consegue apagar ¢ Bes fle das rocordacees, que se sentem exatas pelos pormenores, guardados na lembranga comovida. Ha om Machado, predilego pelo mar. Sio recordagées de sua me- ninice, passada na Gamboa ¢ na Saiide. £ um mar triste, sao 4guas aoe a ° He de icadisiemrnailee ‘De vez em quando, ‘nos escritos, uma ligeira marina, desenhada dig ts prcsaas oa ae eta g matt as esses os moti 4 See em hdsio mental merssane, ¢explicou uma ocaso, de passagem, em fate simples. E 9 desejO Secaatii rows, sca verdad pends, da verdad vaza- da em aforsmo — explia el — que existe atente no espirito dos ltrs. A Ii tirada da experitncia de cada dia € um dos centros de trons a eae, Or, pind invaraemene, 0 proto semen to rotanee, quet a efics, uct eumo x posta. Al wemoe sua io romance, quet na ciftia, quer mesmo na pocsis. A{ vemos sua maze. de dows E encontramoyechos sim, quase que em Prine: Comes Plosinees livo a livro. Comecemos pelo tstabe de familia deve ee fecnoge seen igina, afirma que Sieh mmcacle « b Winds af Emi Cesena Sete pessoas, que tém salas eleg. ermo”. Observa que “algumas one serem estas ediniules palcs aoe coma deixar f Tantra dt analy Pelas vistas”. “O ridiculo € uma {etem toda 2 naveguio sem outra especie Ue eartepannno ae Em Monde da Melee, Cee ee ‘Noite, Wese esta afirmativa, Porventura 0 CONTOS / M. A. CONTADOR DE tuIsToRIAs gérmen do seu conto “Teoria do io” = peso da, tellexio, nem a sevedade ad sqph RS™ide no & fata mistério do corpo, como the shane 15 yi, Scenic Guando aparece tauzle coats shane Roeheueatld Em Papéis Avulsos, excelente tecolts ae hewn soma de aforismos. Assim, assepuras “Nag iota hd numer Gumento que nos explique melhor a inteneao te woe tem do. capri autor do ato", “Esqueces ¢ on See gE UM ato do que 0 Frere Avila € ua loch cms aes cegeate aeons Max Gove caS0, precisa pagar 0 caso eset, Ome ye a SSTENET um Sentencia, em Historias Sem Data, que vs lene ae, onde restar uma folha de papel para tosredele et, oe morte forma de estilo por estas palavras avisadass “O mnciioe So weirs Bipeia, elm que VA andaniie, civackar cane Gao sudo depende das circunstanciss, regra aque ean nce ae 9 estilo como para a vida; palavra puxa palavra, uma nea Sees ¢ assim se faz um livro, um governo ou uma revolusio, slpuas Saat fuesmo.que assim é que a natureza compos as suas pen oe EA respeiio al fugecniaie aavmbicee: toda oe Gat em Paginas Recolhidas, este comentario: “Notes da manh, Woe Prhoiter produzem sempre o elelio de modas velhass donde Socios joe o melhor cocanto das gusciar ei na hore em que aearcen’ Proutra vez discorre de arte por modo gracioso: “nos cimsx sepero a lcs so Invcoae denpincd coeeenarin uniabon pele pctonce toa sng cals eg saps. ik je ae eye nao ope the ensinaram. A arte € a drvore despida; ea que Ihe rebeatam folkas the ensinaram. ida; eis que lhe tebentam folhas “Nao ha Wescanso eterno, nem ai a" autor crn Outras Reiguiar “Usdin It vem se do aueslopo 9 fossuisar ot Geto 0 os idlias” “Later dtalher, pode beabat dendo um dia.” “A autoridade dos mortos nao aflige ¢ € det ian fim Varios Hindrias diz que cha ideas que si0 da fami d ‘moscas teimosas: por mais que a gente as sacuda, elas tormam cpm fan As couaas Valem pelts ides que nos sugerem.” Em Religuas de Casa Velha, colhem-se, entre outros, estes pensamentos: “Preguica amamenta muita virtude. Sempre é alguma cous: minguar forga a agao do mal". “Um relampago deixa a escuridio mais escura. vida tem encruzilhadas, como outros caminhos da terra.” Finalmente, em Novas Refiquias, no conto intitulado “Filosofia de Um Par de Botas”, nota-se’o mesmo modo. de contar ¢ comentar. “Digera © estimago, enquanto 0 cérebro ia remoendo, tio certo é que tudo peste mundo se resolve na mastgagdo.”E mas ets GTS ta, que depois o autor desenvolveu em conto: “poses crer que fize- mos felizes aqueles a quem calgamos; a0 menos na, nossa moose Tu que pensaa? Mais de um no olba para suas ideas com a mess satislagdo com que olla para suas bolas. Mana, a bots é a metade d3 citcunspecgao: em todo 0 caso € a base da sociedade retclar “bus soon, guint’ prmmecs hatah oe oe Noticias, como outros do livro, € 0 tinico em que hi um sentido roe Noticias: Smpossas altomativas cletorais, Glee ee token dee fo mesmo, através da forma alegérica = ‘Afirma ai 0 prosador que esta pagina é Gnica, como sitira a fatos jiticos. Nao gostava de satirizar por meio da arte. e disso se abst. Fa. Ainda bem mogo, declamou, em cena aberta, num teatro do Rio, certo poema que compos. Parece que havia apéstrofes veementes. ‘Airibuiram-Ihe segundas intengdes pessoais. Machado apressou-se em gar explicagdes, em defender-se. Em suas produgoes, nao se véem pa inas ¢ clé. Mas em Papéis Avulsos, ha ums excegio: & 0 conto — fO'Anel de Policrates”. Traga ele, neste escrito, o perfil de Artur de Oliveira, amigo que prezava e admirava pela imaginagao criadora, la verve borbulhante e pela alegria origina.. Isto mesmo indica em Jpéndice, transcrevendo uma crénica e um poema que escreveu S0- bre o malogrado artista, levado pela tuberculose “Além desse trecho, no conhecemos outro em que se possa entre- mostrar sdtira ou alusio a pessoas vivas, fossem da grei Iteraria, f03- sem do mundo politico. Era avesso a0 género por indole ¢ educagio. Machado de Assis nao se imiscuiu, nem pelx ago, nem pela pena, sendo de modo acidental, na luta ordindria entre os homens de seu tempo. Viveu no seu canto e foi solitario na sociedade de que fazia fe. De certa maneira, isso Ihe teria sido por uma parte benéfico e, por outro, prejudicial, quanto A notoriedade, pela*razio que anota Voltaire: “un écrivain qui pendant sa vie ne se point protége par son prince: qui ne sera dans aucun parti; qui se ne fera valoir par aucune cabale, n’aura probablemente de réputation quaprés sa mort”. Foi 0 que aconteceu a Machado de Assis por muitos motivos endo sei se também pelo que aponta o ironista de Candide. © que é indubitivel é que a luta, a polémica, a sitira, a violéncia, enfim, pela forma translata da palavra e da fiecio, Ihe repugnava a0 temperamento recolhido e retratil. Assim que, nos contes, # forga, a brutalidade s6 aparece, sem dramaticidade desenvolvida, na “A Car- tomante” € no “O Enfermeiro”. Nem em sevs didlogos, que sio. nu- merosos, ha temperamento, Sio didlogos familiares, persuasivos, cordatos. Tanto pelo assunto como pelo modo de conduzi-lo, 0 autor de Quincas Borba era no geral plausivel, sem embargo da originalidade € dos paradoxos, Ha, porém, uma historia coatada por ele, intitulads “Singular Ocorréncia", que ‘aparece absurda pelo tenia. Tenho mo~ tivo para aché-la natural, por conhecer fato idéntico, -acontecido com um politico mineiro, cujo nome nao me é dado revelar. A mu- Ther que af desenha o escritor nao € inverossimil; como as outras traz também dentro de si, para empregar a comparagio viva de Au- Busto Meyer, uma Eva primitiva. Machado de Assis, como contista, nio da vida; & natural sem afetagao, Tem a pal. ™mo quando nao parece. Em Papeis Avulsas, foge da representacdo directa javra muito simples, mes empregou 0 termo 24 MACHADO DE ASSIS / OBRA COMPLET 4 V 4/ vo. y, reproche, que pareceu francesia a um leitor inteligente. Def, © autor em nota ao fim do volume, em que teve ocasia endeu-se éri P ne ; 180 de mostra © cnitério, o senso da palavra propria, que o singulariza, Ab, stray vernaculidade de reproche e reprochar com a ligao de Ferna Ona a Lucena, Nunes de Ledo e D. Francisco Manuel de Melo Dian. oa espanhois também a usam. : que os Quanto 4 questéo de eufonia, reproche nao lhe parece mal so; Exemplifica por que o empregou: “o vocdbulo que lhe esta eate préximo no sentido, exprobragdo, acho que é insuportavel. Das minha insisténcia em preferir 0 outro, devendo notar-se que nao : you buscar para dar ao estilo um yerniz de estranheza, mas quando ° idéia 0 traz consigo”. No mesmo ponto da corre¢ao de linguage; if foi Machado, no inicio, acusado de nao saber ortografia.? E parece que havia razao para isso: — ortografava arbitrariamente, pi principio. Por muita gente abonada em assunto de vernaculismo, € o escritor com justiga havido como purista. Salva-o sempre o bom gosto. Entre a tendéncia a escrever como os classicos e o pendor para a linguagem corrente e familiar, adota o meio-termo, guiado pela naturalidade e inteligéncia do vocabulo especifico. A nota mais viva de seu estilo vem a ser a oralidade. Propriamente, nao ha diferenga entre a linguagem escrita e a fa- jada. As duas maneiras de exprimir 0 pensamento e a emocgao huma- na sao uma s6. Destarte, deve escrever-se como se fala. Mas, como se fala descuidadamente, justo é que isto se corrija ao escreyer, sem ‘a escrita deixe nunca de refletir 0 tom de conversa, que € a natu- ralidade. Assim escreve Machado de Assis, e ai esta a graga de sua palavra. Os contos s4o as suas paginas mais naturais e um documento ine- quivoco de seu estilo original, apesar de aprecidvel niimero ter sido escrito 4 pressa. E neles nota-se um fato que, 20 meu ver, nao s¢ verifica na obra diversa de Machado de Assis: — 0s contos nao sao autobiograficos. Neles nao sentimos os recalques do autor de modo aparente ou direto. Fora o “Conto de Escola”, nao ha, nos demais, passagens ou trechos pelos quais se possa recompor o homem, ao contrario do que acontece no romance, na crénica, na poesia e mes” mo na Critica. A histéria é a sua obra menos pessoal, do ponto de vista autobio- grafico. E a menos amarga, por isso. 2 Lécia Miguel Pereira. Machado de Assis, p. 334. ~

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