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# i Tomaz Tadeu da Silva Pablo Gentili (Orgs.) Antonio Flavio Moreira Gaudéncio Frigotto José Gimeno Sacristén Escola S. A. Quem ganha e quem perde no mercado educacional do neoliberalismo ane CNTE Brasilia 1996 prometimento do Pablo ¢ do Tomaz (orgenizadores}, do Fiigotto, do Antonio Flavio, do Gimeno Sactistén, escrito- resjleitores de seu tempo, o real, e de um tempo futuro, 0 possivel. Escola S. A, & um provocative convite & reflexéo sobre os (desjeaminhos da educagio brasileira, Seus ensaios ‘ajudama desvendar a realidade aparentemente irreversivel, resultante da forga e da voracidade do projeto neoliberal na Grea da educagao. Estudos como estes nos inquietam ¢ nos armam pata pensar em formas de superacio do mereantilis- mo ¢ do descompromisso, emblematicamente sintetizados no titulo do livro. Sociedade dos Poetas Vivos talver seja a Escola do Pés-Neoliberalismo, Urge construi-la eomo espaco pitblica de direitos cada vex mais consolidados, alargados, desafiadores. A histéria nao acabou! Carlos Augusto Abiealil Presidente da CNTE Jugara Dutra Vieira Seotetdria de Assuntos Educacionais 8 ‘Tomee Tadeu 6a Silva ¢ Poble Gentili Orgs.) 1 Neoliberalismo e educacio: manual do usuario Pablo Gentili ‘este trabalho pretendo abordar criticamente algumas dimensies da configuragio do discurso neoliberal no campo educacional. Comegarei destacando a importancia leGrica e politica de se compreender o neoliberalismo como um complexo processo de construgio hegeménica. Isto é ‘como uma estratégia de poder que se implementa em dois sentidos articulades: por um lado, através de um conjunto raroavelmente regular de reformas eoncretas no plano eco- némico, politico, juridieo, educacional, ete. ¢, por outro, através de uma série de estratégias culturais orientadas a impor novos diagnésticos acerca da crise e construir novas: significados sociais a partir dos quais legitimar as reformas neoliberais como sendo as Gnicas que podem (¢ devem) ser aplicadas no atual contexte histérico de nossas sociedades. Tentarei mostrar de que forma esta dimension cultural, ea- racteristica de toda l6gica hegem#nica, foi sempre reconhe- cida como um importante espago de construgao politica por aqueles intelectuais conservadores que, em meados deste século, comegaram a tracar as bases tedricas e conceituais doncoliberalismo enquanto altemativa de poder. Em segun- Escola S.A. 9 do lugar, tentazei apresentar algumas consideragdes gerais, sobre como se consir6i a retérica neoliberal no campo ‘educacional. Pretendo identificar as dimensées que unifi- ‘cam os discursos neoliberais para além das particularidades tocais que caracterizam os diferentes contextos regionais onde tal retérica é aplicada. Meu objetivo seri questionar a forma neoliberal de pensar projetara politica educacional. Finalizo destacando algumas das mais evidentes consc~ qliéneias da pedagogia da exclusdo:promovida pelos regi- mes neoliberais em nossas sociedades.” |. O neoliberalismo como construgao hegeménica Explicaro éxito do neoliberalismo (@ também, éelaro, tragar estratégias para sua nécessdria derrota) é uma tarefa cuja complexidade dériva da propria natureza hegembnica dese projet. Com efeito, o neoliberalismo expressa a dupla dinamica que cardcteriza todo processo de construgao de hegemonia. Por um lado, trata-se de uma altemativa de poder extremamente vigorosa, constitufda por uma série de estralégias politicas, econémicas e jupidicas orientadas para enoontrar una safda dominante pare'a crise eapitalista que se inicia ao final dos anos 60 e que se manifesta claramente 4 nos anos 70. Por outro lado, ela express ¢ sintetiza um ambicioso projeto de reforma ideolégica de nossas socie- dades: a construcdo ¢ a difusdo de um novo senso comum que fomece coeréncia, sentido € uma pretensa legitimidade ais propostas de reforma impulsionadas pelo bloco deminan- te. Se 0 neoliberalismo se transformou num verdadeiro Projeto hegeménico, isto se deve ao fato de ter conseguido impor uma intensa dinfmica de mudanga material e, a0 10 ‘Tomaz Tadeu da Silva e Pablo Gentiti (Orgs.) ‘mesmo tempo, uma no menos intensa dindmiea de recons- trugdo discursive ideolégica da ssciedade, processo deriva~ do da énorme forga persuasiva que tiveram ¢ estfo tendo os discursos, os diagnésticos e as estratégias argumentativas, aretérica, elaborada e difundida por seus principais expo- centes intelectuais (num sentido gramsciano, por seus inte- lectuais orgénicos). O neoliberalismo deve ser compreendido na dialética existente entre tais esferas, as quais se articulam adquirindo métua coeréncia.” (Com freqdéncia costumamos enfatizara capacidade (ou a incapacidade) que o neoliberalismo possui para impor com @xito seus programas de ajuste, esquevendo a conexio existente entre tais programas ¢ a construgiio desse novo senso comum a partir do qual as maiorias comegam a accitar (6 inclusive,-a defender como préprias) as receitas elabo- radas pelas tecnocracias neoliberais. O éxito cultural — mediante a imposiggo de um novo discusso que explica a crise € oferece um marco geral de respostas e estratégias para sair dela — se expressa na capacidade que os neoli- berais veram de impor suas verdades como aquelas que devem ser defendidas por qualquer pessoa medianamente. sensata ¢ responsivel. Os governos neoliberais nfo sé trans- formam materialmente a realidace econdmica, politica, ju- ridica e social, também conseguem que esta transformagéio seja aceita como a tinica saida possivel (ainda que, as vezes, dolorosa) para a crise. Desde muito cedo, as intelectuais neoliberais reeonhe- ceram que 2 construgio desse neve sense comum (ou, em certo sentido, desse novo imaginario social) era um dos desafios prioritSrios para garanti: o @xito na construgio de uma ordem social regulada pelos principios do livre-mer- Escola S.A. u cadlo esema interferéncia sempre perniciosa da intervengio estatal, N&o se tratava sé de elaborar receitas academica- mente coerentes ¢ rigorosas, mas, acima de tudo, de conse- guir que tais férmulas fossem aceitas, reconhecidas ¢ cexigidas pelasociedade como asolugso natural para antigos problemas estruturais, Asobrasde Friedrich A. Hayek ¢ Milton Fiedman, dois dos mais respeitados representantes da intelligentsia neoli- beral, expressam com elogiéncia, e por diferentes motivos, esta preocupagio. Seus textos de intervengéo politica nos permitem observar a sagacidade desses intelectuais em recouhecer a importincia politica de acompanhar toda re~ forma econdmiea com uma necesséria mudanga nas menta- lidades, na cultura dos povos. Em seu preficio de 1976 a The Road to Serflom {0 ‘caminko da serviddo}, Hayek lamentava que as idéias de- fendidas naquele texto furndacional, editado originariamen- te em 1944, continuassem, trinta anos depois, mantendo plena vigéncia, embora a prédica “interveacionista e cole- sta” da social-democracia gozasse de boa satide e rela- tiva populacidade entre as maiorias. Passadas mais de és décadas, a sociedad ainda ndo tinha aceito plenamente 0 que para Hayek era uma evidéncia ineludivel: toda forma de intervengio estatal constitui um eério isco para a liberdade individual eo caminho mais seguro para a impo- sigdo de regimes totalitéries como o da Alemanha nazista e © da Unido Soviética comunista. Tinta anos depois, 0 desafio de @ caminho da seridéo continuaya aberto: 56 quando a sociedade reconhece o verdadeiro desafio da liberdade € possivel evitar as armadilhas do coletivismo. Hayek nao deixava margem a dividas sobre as conseqiién- 12 ‘Tomaz Tadeu da Silva ¢ Pablo Gontili (Orgs) petit si cias que derivavam de uma cultura mais disposta a teco- nhecer a necessidade da intervengio estatal que os méritos do livre-mereado, Se o homem comum nio afirma na sua vida cotidiana 0 valor da competigio, se a sociedade nao aecita as enormes possibilidades modemizadoras que 0 mercado oferece quando pode atuar sem a prejudicial inter- feréncia do Estado, as conseqiiéncias —defendia 0 intelec- tual austelaco— so nefastas para a prépria democracia: os piores serio os primeiros, o totalitarismo aumentaré € a planificagio centralizada tomard conta da vida das pessoas, impedindo-Thes de expressar seus desejos individuais, sua vocagao de melhora continua, sua liberéade de escolhex Hitler: Stalin ¢ Mussolini no expressavam um ocasional desvio totalitério na histéria dos povos europeus, eran 0 espelho onde deveriam mirar-se aqueles Ifderes politicos que ainda confiavam na suposta eficécia da planificagao estatal centralizada.. : Poucos anos depois, Milton Fiedman enfrentava um panoraina menos desolador. Sen livro Freeto Choose (Liber- dade de Escolher), publicado no inicio dos anos vitenta, tinha vendido rapidamente, nos Estados Unidos, mais de 400.000 exemplares em sua edigio de luxe ¢ varias cente- nas de milhares em sua edigéo popular 0 principal expo- cente da Escola de Chicago ee perguntava sobre as taxes do incrivel éxito deste volume, sobretudo se comparado & “timida” recepgao que havia tide Capitaiism and Freedom [Capitalismo e Liberdade], sou antecedente mais direto, embora publicado vinte anos antes. Por que Liberdade de Escother tinha yendido em apenas pouces semanas o que Capitalismo ¢ Liberdade vendeu durante vinte longos anos? Como explicar semelhante fato, se os doislivros abordavam, Escola S. A. 18 a mesma problemética ¢ defendiam as mesmas idéias? 0 espetacular impacto de Free to Choose, segundo o proprio Friedman, no podia ser exclusivamente atribuido a difusfio alcancada pela série televisiva de mesmo nome que acom- panhou o langamento do livro e que 0 teve como protago~ nista. Antes éisso, existia uma mudanga mais profunda: a opinigo piblica havia mudado, as pessoas estavam mais receptivas & prédica insistente dos defensores do livre-mer- cado; as pesscas, agora, estavam alertas para se defenderem da voracidade de um Estado disposto a monopolizar tudo, inclusive o bem mais apreciado pelo ser humano — a liberdade individual. Em seu prefcio de 1982 & nova edigao de Capitalism and Freedom, Milton Friedman reco- nhecia satisfeito: “as idéias expostas em nossos dois livros ainda se acham muito distantes da comente intelectual predominante, mas séo agora, pelo menos, respeitadas pela comunidade intelectnal.e parece que se tornaram quase comuns entre o grande piblico” (1985: 6). Margaret Tha- tcher j6 era Primeita Ministra da Inglaterra e Ronald Rea- gan, Presidente dos Estados Unidos. Helmut Khol acabsca de ganhar as sleiges na Alemanha... 0 neoliberalismo se transformava am uma verdadeira altemativa de poder no interior das principais poténcias do mundo capitalista.* Obviamente, a penetragao sovial desses discursos nio foi produto do acaso nem apenas uma questio decorzente dos méritos intelectuais daqueles obstinados. professores universitirios. Serd no contexto da intensa e progressiva crise estrutural do regime de acumulagao fordista que a retérica neoliberal ganhar& espago politico ¢ também, é claro, densidade ideoldgica, Tal contexto ofereceré a opor- tunidade necessdria para que se produza esta confluéncia 1“ ‘Tomaz Tadeu da Silva e Pablo Genuli (Orgs.) 3 histérica entre um pensamento vigoroso no plano filoséfico ¢ econdmice (embora, até entdo, de escasso impacto tanto académico quanto social) ea necessidade politica de bloco dotanante de fazer frente so desmoronamento da férmula keynesiana cristalizada nos Estados de Bem-estar. A inter- seegao de ambas as dindimieas permite compreender aforca, hegemanica do neoliheralismo. Estes processos tiveram tarmbém seu impacto espectfi- co na América Latina. Com efeito, alguns paises da regi constitufram um. verdadeiro laboratério de experimentagao neoliberal de resultados aparentemente milagrosos. A Amé- rica Latina, de fato, foi o cendrio trigico do primeiro expe- rimento politico do néoliberalismo em nivel mundial: a ditadura do General Pinochet inietada no Chile em 1973. Entretanto, a contribuigdo latino-americana ao neoli- beralismo mundial nio se esgotou na experiéneia chilena, Durante os'anos 80, eno contexto das incipientes democra- cias pés-ditatoriais, o neoliberalismo chegard ao poder, na maioria das nagées da xegiéo, pela via do voto popular. Algumas experiéneias, inclusive, transcederam as frontei- ras como modelos “exitosos” capazes de iluminar (de forma quase universal) o caminho de uma verdadeira ¢ profunda reforma econdmiea, a partir da qual garantir a estabilidade monetéria ¢ politica, a partir da qua! garantir uma suposta, governabilidade democratica.* Durante a segunda metade do séeulo XX, o neolibera- lismo deixou, assim, de ser apenas uma simples perspectiva te6rica produrida em confrarias intelectuais, a orientar as decisées governamentais em grande parte do mundo capi- talista, 0 que inclui desde as nagies do Primeiro ¢ do Escola S.A. 15 Terceiro Mundo até algumas das mais convulsionadas sociedades da Europa Oriental. Cinco décadas de histérin teériea e quase vinte anos de experiéncia no exercicio do poder petmitem-nos identificar algumas regularidades que, para além das especificidades locais, contribuem para a definigao da natureza edo cardter dos programas de ajuste neoliberal num sentido global. Na seco seguinte, nosso interesse se concextrard nas regula- tidades apresentadas pela retérica neoliberal no campo educacional-Resumiremos @ seguir algumes dimens6es discursivas que configuram esta retGrica, a partir da qual so claboradas uma série de diagn6aticos e, conseqitente- mente, uma série de propastas paliticas que devem, sob perspectiva neoliberal, orieatar uma profinda reforma do sistema escolar nas saciedades contemporineas, Pretendo, desta forma, contribuir para a necesséria tarefa de caracte- rirat a forma neoliberal de pensar'e projetar as politicas educacionais. A possibilidade de eonheces ¢ reconhecer a ogica discusiva do neoliberalismo obviamente nio é sufi- ciente para freiar a forga persuasiva de sua retétiea, No entanto, pode ajudar-nos a desenvolver mais ¢ melhores estratégias de luta contra as intensas dindmicas de excluséo social promovidas por tais politicas. Pretendo aqui contri- buir minimamente para esse objetivo. IA retérica neoliberal em educagao: elementos para o seu reconhecimento Podemos nos aproximar de uma comproensio critica da forma neoliberal de pensar e tragar a politica educacional procurando responder, brevemente, a quatto questées: 1 -como entendem os neoliberais a erise educacional? 16 Tomaz Tadeu da Silva e Pablo Gentili (Orgs.) 2 - quem so, de acordo com essa perspectiva, seus culpades? 8 que estratégias definem para sair cela? 4-quem deve ser consultado para encontrar uma safda para.a crise? 1 Acrise Em primeiro lugar é necessfvio destacar que na perspectiva neoliberal os sistemas educacionais enfrentam, hoje, uma profunda crive de eficiéneta, efisdeia e produtividade, mais do que uma crise de quantidade, universalizagao e extenséo, Para eles, © proceso de expansdo da escola, durante a segunda metade do século, ocorreu de forrna acelerada sem ‘que tal erescimento tenha garantido urna distibuigée efici- ccnte dos servigas oferecidos. A evise das instituigdes esco- lares & produto, segundo este enfoque, da expansdo desordenada e “andrquica” que 0 sistema educacional vem sofrendo nos (iltimos anos. Trata-se, fundamentalmente, de uma crise de qualidade decorrente da impredutividade que caracteriza as préticas pedagogicas e a gestio administrati- va da grande maioria dos estabelecimentos escolares. Neste sentido, a existéncia de mecanismos de exclusao ¢ disctiminagao educacional resulta, de fonma clara e dire~ ta, da propria ineficécia da escola ¢ da profunda incornpe- teéncia daqueles que ela traballuin, Os sistemas educacionais contemporéneos nao enfrentam, sob a pers pectiva neoliberal, uma erise de demooratizagdo, mas uma crise gerencial. Esta crise promove, em determinados con- textos, certas mecanismas de “iniqiidade” escolar, tais ‘como a evasio, « repeténcia, o analfabetisme funcional ete, Escola $. A. 7 0 objetivo politico de democratizar s escola esté assim subordinado ao reeonhecimento de que tal tarefa depende, inexoravelmente, da realizagio de uma profunda reforma administrativa do sistema escolar orientada pela necessi- dade de introduzir mecanismos que regulem a eficiéncia, a produtividade, a eficécia, em suma: a qualidade dos servi- 08 educacionais, Deste diagndstico inicial decerre-um axgumento central na retérica construfda pelas tecnocracias neoliberais: atualmente, inclusive nos paises mais pobres, no faltam escolas, faltam escolas melhores; no faltam professores, faltam professores mais qualificados; nao faltam recursos para financiar as politicas educacionais, ao contrazio, falta ina melhor distribuigto dos recursos existentes. Sendo assim, transformara escola supde um enurme desafio geren- cial: promover ina mucanga substantiva nas priticas pe- dagégicas, tomando-as mais eficientes; reestraturar"o sistema para flexibilizar a oferta educacional; promover ‘uma mudanca cultural, no menos profunda, nas estratégias de gestdo (agora guiadas pelos novos conceitos de qualidade total); reformular 0 perfil dos professores, requalificando- os; implementar uma ampla refotma curricular, ete. Segundo os neoliberais, esta crise se explica,em grande medida, pelo cardter estruturalmente inefiviente do Estado para gerenciar as politicas ptblicas. 0 clientelismo, a ob- sesaéio planificadora ¢ os improdutives labiriutus du Luco- cratismo estatal explicam, sob a perspectiva neoliberal, a incapacidade que tiveram os governos para garantir a de- mocratizago da educacde e, a0 mesmo tempo, a eficiéncia produtiva da escola. A educagao funciona mal porque foi mareadamente penetrada pela politica, porque foi profun- 18 Tomaz Tadeu da Silva e Pablo Gentil (Orgs) tone nao emmninmnuininaicta etc eg damente estatizada. A auséneta de um verdadeiro mercado educacional permite compreender a rise: de qualidade que invade as instituigdes escolares. Constcuir tal mercado, conforme veremos mais adiante, constitu! um dos grandes cesafios que as politieas neoliberais assumizo no campo educacional. Sé esse mercado, cujo dinamismo e flexibili- dade expressam 0 avesso de unt sistema escolar rigido & incapaz, pode promover os mecanismos fundamentais que gerantem a eficécia ¢ a eficiéncia dos servigos oferecidos: ‘a competigdo interna @ o desenvolvimento de um sistema de prémios c castigos com base no mérito « no esforgo indivi- ‘dual dos atores envolvidos na atividade educacional. Nia existe mercado sem concorréncia, sendo ela. o pré-requisito fundamental para garantie aquilo que os neoliberais cha- mam de egiidade.” A planificagio centralizada e, certamente, o clientelis- mo que caracteriza as préticas estatais impedem e travam a liberdade individual de eleger, Gnica garantia para 0 esta- belecimento de um sistema de prmins © castigos baseado ‘em critérios verdadeizamente meritocrdzicos. Para os neoli~ berais, o Estado de Bem-estar ¢ as diversas formas de popelisme que conheceram nossos paises tém intensificado os efeitos improdutivos que se cerivam da materialieagao histérica destas praticas coletivistas. Ao criticar enfaticamente a interferéneia da politica na esfera social, econdmica ¢ cultural, 0 realiberalismo vai questionar a prépria nocio de direito © a concepgio de igualdade que serve (a0 menos teoriearnente) como funda- mento filoséfico da existéncia de uma esfera de direitos sociais nas sociedades demecriticas. Tal questionamento supée, na perspectiva neoliberal, aceitar que uma socieda- Escola 8. A, 18 de pode ser “demoerstica” sem a existéncia de cottos mecanismos € critérios que promovern uma progressiva igualdade e que se coneretizam na existéncia de um con- junto inalienavel de direitos sociais e de uma série de instituigdes pitblicas nas quais tais direitos se materializam, Para os neoliberais a democracia nio tem nada a ver com isso. Ela 6, simplesmente, um sistema politico que deve pemitir aos individuos desenvolver sua inesgotével capa- cidade de livre eseolha na tnica esfera que garante potencializa a referida capacidade individual: 0 mercado. A crise sociat se deriva, fandamentalmente, de que 0 sistemas institucionais dependentes daesfera do Estado (da politica) nao atuam eles mesmos como mercados. [sto ocar- re, segundo a perspectiva neoliberal, no campo da sade. da previdéncia, das politicas dle empregoe também, é claro, da educagio. De certa forma, a crise & produto da difusio (excessiva, aos olhos de certos neoliberais atentos) da aogio de cida- dania. Paca eles, 0 conceito de eidadania em que se baseia a concepgdo universal ¢ universalizante dos direitos huma- nos (politicos, sociais, econdmicos, culturais etc.) tem ge- rado umn conjunto de falsas promessas que orientaram.agoes coletivas ¢ individuais caracterizadas pela improdutividade ¢ pela Falta de reconhecimento social no valor individual da competicao. Com efeito, como jd tentei demonstrat exn outros traba- thos, a grande operagio estratégica do neoliberalisma con~ siste em transferir a educagéio da esfera da politica para a esfera do mercado, questionando assim seu cariter de di- reito © reduzindo-a a sua condigio de propriedade. E neste quadro que se reconeeitualiza a nogio de cidadania, através 20 ‘Tomaz Tedeu da Silva @ Pablo Gentill (Orgs) een tenentnensinitninbiersesivtinnantnemn inca sh onsen erin de uma revalorizagio da aco do individuo enquanto pro- prietério, enquanto individuo que Inta por conquistar (com- ‘prat) propriedades-mercadorias de diversa indole, sendo a ‘educagéo uma delas. Q modelo de homem neoliberal € 0 cidadio privatizado, o entrepreneur, 0 consumidor® 2.05 culpados Sendo assim, é relativamente ficil avangar na resposta & ‘nossa segunda pezgunta: quem so os culpados pela crise educacional? Existem, desta pesspectiva, alguns responsé- veis dicetos ¢ outros indiretos, Enire os primeiros se encon- tram, obviamente, o modelo de Estado assistencialista € uma das configutagées institueionais que o tem caracteri- zado: 08 sindicaios. A existércia de fortes sindicatos nacionais & oxganizados en fungao de grandes setores de atividade, os quais proclamama delesa de um interesse zeral Daseado na necessidade de construire expandir aesfera dos direitos sociais, constitui, na perspective neoliberal, uma barreira intransponivel para a possibilidade de desenvol- ‘vor 08 j4 mencionados mecanisos de competigéo indivi- dual que gaantem o progresso social, Nesse sentido, entre 5 principais responsdveis pela crise educacional se encon- train os pi6prios sindicatos de professores @ todas aquelas organizagées que defendem o direito ignalitério a uma escola piiblica de qualidade. Entretanto, semelhante argimento apresenta um pro- blema evidente, Com efeito, se ¢ Estado 0s sindicstos s0 6s principais cesponsdveis pela crise, deveria supor-se que a simples redugao do primeiro 2 sua minima expresso ea desaparigao definitiva dos segundos constituem uma garan- Escola 8. A. an tia mais do que suficiente para superar a crise atual das intituigdes educacionais. Da perspectiva neoliberal isso ao menos em parte, efetivamente assim. Porém, mesmo quando os neoliberais chegam ao poder e desenvolver (muitas vezes com éxito) sua implacével desarticulagio dos mecanismos de intervengio do Estado, e sua nio menos implacével fragmentagdo das organizagdes sociais, nem sempre a crise educacional se soluciona, Na perspectiva neoliberal, isto acontece porque a crise educacional nfo se redue apenas a exist@ncia de um certo modeiode Estado, nem ao cardter supostamente corporativo das entidades sindicais. O problema é mais complexo: os individuos sao também culpados pela crise. A sociedade é culpada na medida cm que as pessoas aceitaram come natural ¢ inevitavel 0 status quo estabelecide por aqucle sistema improdutivo de imervengo estatal. Os pobres sao culpados pela pobreza; os desempregados peio desempre- £05 08 cormuptos pela cormupe ao; os favelacios pela violéncia urbana; as sem-terta pela vialéneia no campo; 08 pais pelo rendimento escolar de seus filhos; os professares pela pés- sima qualidade dos servigos educacionais. O neoliberalisena privatize tudo, inclusive também o éxito ¢ 0 fracassa social. Ambos passam aser considerados varidveis dependentes de um conjunto de opedes individuais através das quais as pessoas jogam dia a dia seu destino, como mum jogo de baccarat. Se a maioria dos individuos € responsével por um destino ndo muito gratificante é porgue nao souberam reco- nhecer as vantagens que oferecem o mérito e 0 esforgo individuais através dos quais se triunfa na vida. E preciso competir, e uma sociedade moderna € aquela na qual s6 os inelhores triunfam, Dite de maneira simples: a escola fun- 2 ‘Tomaz Tadeu da Silva e Pablo Gentill (Orgs) edna iihiinehmnain mics iemrictrtiaienenrimnin anaemia atinieinteanintints arate ciona mal porque as pessoas nao reconhecem o valor do conhecimento; 0s professores trabalham pouco € nio se atualizam, séo preguigosos; os alunes fingem que estudara quando, na vealidade, perdem tempo, ete. Trata-se, segundo os neoliberais, de um problema cul- tural provocado pela ideologia dos direitos sociais ¢ a falsa promessa de que uma suposta condigao de cidadania nos coloca a todos em igualdade de condig6es para exigir o que 86 deveria ser outorgaclo aqueles que, gracas ao mérite ¢ a0 esforgo individual, se consagram como consurtidores empre- endedores. A légica competitiva promovida por um sistema de prémios ¢ castigos com base em tais critéries meritocréticos cria as condigies culturais que facilitam uma profunda mucanga institucional voltada para a configuragao de um verdadeito mercado educacional. Superar a crise implica, entio, 0 desafio de tragar as estratégias mais eficientes a partir das quais é posstvel construir tal mercado, Passemos a seguir pars a terceira questao. 9. As estratégias As politicas educacionais implementadas pelas administra- ¢6es neoliberais permitem reeonhecer uma série de regula- ridades que, para além das especificidades locais, caracterizam © unificam as estratégias de reforma escolar levadas a cabo por esses governos. Poderiamos dizer que existe um consenso estratégico ertre politicos, tecnocratas € conservadores sobre como e com que receitas enfrentar a crise educacional. Obviamente, tal consenso decorre da formulacao de um diagadstico comum (a partir do qual € pessfvel explicar ¢ descrever os motives que intelectu: Escola 8. A 23 originaram acrise} e, a0 mesmo tempo, de uma identificagao também comum sobre os supostos respons4veis por essa crise. A experiéncia intemacional parece indicar a existén- cia de um Consenso de Washington,” também no plano das politicas de reforma educacional. Na construgao desse con senso desempenharam um papel central as agéncias inter nacionais, em especial, 0 Banco Mundial® e, mais recentemente, uma série de intelectuais transnaeionalize- dos {os experts) que, assumindo um papel pretensamente ‘evangelizador, percozrem 0 mundo vendendo seus papers pré-fabricados a quem mais Ihes ofetecer.” Retornaremos a cesses mais adiante. Essas regularidadles so expressam em uma série de objetives que articulam e dao coer8neia as reformas educa- cionais implementadas pelos governos neoliberais: a) por um lado, a necessidade de estabelecer mecanis- mos de controle ¢ avaliagto da qualidade dos sexvigos educacionais (na ampla esfera dos sistemas e, de maneira cespecifica, no interior das préprias instituigdes escolares); b) por outro, a necessidade de articular e subordinar & produgio edueacional as necessidades estabelecidas pelo mecvado de trabalho, O primeira objetivo promove o, ce certa forma, garante a materializagéo dos citades princfpios meritocréticas competisivoe, O segundo dé centide e estabelece 0 ruma (0. horizonte) das politicas educacionais, ao mesmo tempo que permite estabelecer critérios para avatiar a pertinéncia das propostas de reforma escolar. Eo mercado de trabalho quem emite os sinais que permitem orientar as decisbes em matéria de politica educacional. f a avaliagéo das institui- 28 ‘Tomaz Tadeu da Silva e Pable Gentili (Orgs) gbes escolares e o estabelecimento de rigorosos critérios de qualidade o que permite dinamizar sistema através de uma Tigica de prémios ¢ castigos que estimulam a produtividade ¢ a eficiéneia no sentido anterformente destacado.”” Nao vamos desenvolver aqui as caracterfsticas ¢ 0 contetido que assumem essas estratégias de reforma. No entanto, 6 importante especificar brevemente duas questées relevantes vinculadas a tais objetivos. 0 neoliberalismo formula um conceito especifico de qualidade, decorrente das préticas empresariais ¢ transferido, sem mediagées, para o campo educacional. As instituicdes escolares devem ser pensadas e avaliadas (isto é, devem ser julgadas seus resultados), come se fossem empresas produtivas. Produuz- se nelas um tipo especifico de mercadoria (0 conhecimento, 0 aluno escolarizado, 0 eurriculo} , consegiientemente, suas préticas dever estar submetidas aos mesmos critérios de avaliagéo que se aplicam em toda empresa dindmica, eficionte ¢ flexivel. Se os sistemas de Teta! Quality Control (1QC) tém demonstrado um éxito comprovado va mundo dos negécios, deverio produzir os mesmos efeitos produti- vos no campo educacional. Por outro lado, é importante destacar que quando os neoliberais cnfatizam que @ educagio deve estar subordi- nada as necessidades do mereado de trabalho, estio se roferindo a uma questo muito especifica: a urgéneia de que o cistoma educacional se ajuste as demandas da munda dos empregos. Isto nio significa que a fungio social da educa- cao scja garantir esse empregos ¢, menos ainda, criat fontes Ge trabalho. Pelo conteirio, 0 sistema educacional deve promovero que os neoliberais chamam de empregabilidade, Isto é, a capacidade flexivel de adaptagao individual as Escola S.A, 25 demandas do mercado de trabalho. A fungéo “social” da edueagio esgota-se neste ponto. Ela eneontra 0 seu preciso limite no exato momento em que o individuo se langa a0 mercado para Iutar por um emprego. A educagéo deve apenas oferecer essa ferramenta necesséria pare competir nesse mercado. O restante depende das pessoas. Como no jogo de baccarat do qual nos fala Friedman, nada esté aqui detetminado de anteméo, embora saibamos que alguns triunfario ¢ outros estario condenados ao fracasso Uma dinamica aparentemente paradoxal caracterioa as estratégias de reforma educacional promovidas pelos gover- nos neoliberais: as légicas articuladas de descentrabizag. ceniralizante © de centralizagéio-descenivalizada. De fato, por utn Jado, as estratégias nealiberais contra a crise edu- cacional se configuram camo uma clara resposta descentra- lizadora diante dos supostos perigos do planejamento estatal € dos efeitos improdutives das burocracias govemamentais e sindicais. Transferem-se as instituigées escolares da ju- risdigde federal para a estadual e desta para a esfera municipal: municipaliza-se o sistema de ensino. Propée-se repassar o fundo piblico para niveis cada vez mais micro (inclusive # prépria escola), evitendo-se, assim, a interfe- réncia “pemiciosa” do centralismo governamental; desar- ticulam-se os mecanismos unificados de negociag’o com as, oxganizagbes dos trabalhadores da educagao (dinamica que tende a questionar @ propria necessidsde das entidades sindicais}; flexibilizam-se as formas de contratagio e as retribuigdes salavisis dos docentes, ete. Mas, por outto lado ¢ ao mesmo tempo, os governos neoliberais centralizam cerlas fungées, as quais nao sio 26 ‘Tornaz Tadeu da Silva © Pablo Gantil (Orgs) rentoecreneer tenets niin rnesicatlaintonabore on averbtniiusinniemt wit transferidas aos municipios, aos governos estaduais nem, ‘muito menos, aos prprios professores ou i comunidede: a) anecessidade de desenvolver sistemas nacionais de avaliagao dos sistemas educacionais {basicamente provas de rendimento aplicadas & populagao estudantil); 4) a necessidade de desenhar e desenvolver reformas curriculares a partir das quais estabeleceros pardmetros ¢ contetidos bésiens de um Currfeulo Nacional; | 0) associada & questo anterior, a necessidade de de- senvolver estratégias de formaciio de professores centrali- zadas nacionalmente que permitam a atualizagaa dos docentes segundo o plano curricular estabelecide na citada reforma. O Estado neoliberal é mfnimo quando deve financiar a ‘escola pitblica e mdzimo quando define de forma centrali- zada o conhecimento oficial que deve circular pelos estabe~ Jecimentos educacionais, quando estabelece mecanismos verticabizados e antidamocréticos de aval iaydo do sistema e quando retira autonomia pedagégica As instituigées e aos atores coletivos da escola, entre eles, prireipalmente, aos professores. Centralizagain @ descentraliza;ao sao as duas faces de uma mesma moeda: a dinimica autoritéria que caractetiza as reformas educacionais implementadas pelos governos neoliberais. Para compreender um pouco melhor a natureza da mudanga institucional promovide pelo nedliberalismo nos Ambitos escolares, farci um pequeno paréatese. Estabele- cerei, titulo ilustrative, uma analogia entre as fungdes atribuidas as institigdes educacionais e a iigica que regula © funcionamento dos fast foods nas modernas sociedades de Bseola S.A. 27 mercado, Esta comparagio poder nos permitir avanger na earacterizagio de um proceso que denominsremos aqui medonaldizagio da escola ¢ que, na minha perspectiva, sintetiza de forma eloqiiente o sentido assumido pele refor- ma neoliberal levada a cabo nos mbites educacionais. 3.1. A medonaldizagao da escola Os provessos de medonaldizagdo tém sido destacados por alguns autores para referir-se & transferéneia dos princfpios, que regulam a logica de funcionamento dos fast foods espagos institucionais cada ver mais amplos na vida social titui_uma metdfora apropriada para caract mas dominantes de reestuiusacig eduefcinnal propasas eles administiagdes neal "Na ofensiva antidemoctética ¢ excludente promovida pelo ambicioso programa de reformas estruturais impulsi- ‘onade pelo neoliberalismo, as instituigdes educacionais tendem a ser pensad certos padres prod Jit temos enfatizado que os neoliberais definem um conjunto de estratégias dirigidas a transferira educagao da esfera dos direitos sociais a esfera do mercado. A auséncia de umn verdadeiro mercaclo eduucacionel isto é, a auséncia de mecanismos de regulagio mercantil que configurem as bases de ura mercado escolar) explica s crise de produtivi- dade da escola. Para os neoliberais, o reconhecimento desse fato permite orientar uma safda estratégica mediante a qual € possivel conquistar, sem ‘“falsas promessas”, uma educa- 28 ‘Tomaz Tadeu da Silva ¢ Pablo Gentili (Orgs) laveatinenatincensitnt tiqreenhentnettetnntinctiremintintneneeiinahhiren tienen nap mnt gifo de qualidade e vinculada as necessidades do mundo moderno: as institwigdes escolares de: empresas produtoras de servigos educacionais, A interfe- réncia estatal ndo pode questionar o direito de livre escolha que os consumidores de educagio devem realizar no merca- do escolar Apenas um conglomerado de instituigbes com cessas caracterfsticas pode obter niveis de efici@ncia hasea- dos na competigio ¢ no roéxito individual. Os McDonalé’s constituem um bom exemplo de orga- nizag&o produtiva com tais atributos e, nese sentido, repre~ sentam um bom modelo organizacional para a “moderizacdo” escolar Vejamos algumas das possiveis coincidéncias entre ambas as esferas, Em primeiro Ingar, 0s fast foods ¢ as escolas tém um panto bésico em comum. Ambos existem para dar conta de duas necessidades fandamentais nas sociedades modernas: comer e ser socializado escolamente. Emnbora a primeira seja uma necessidade to antiga quanto a propria Humani- dade ¢ a segunda nem tanto, ndo existiria, aparentemente, nenhuma originalidade nas fungies que atualmente sio cumpridas tanto pelos MeDonald’s quanto pelas escolas. Entretanto, aqui, como na produgio de toda mercadoria, 0 importante nfo é apenas a coisa produzida (o hambirguer ou o conhecimento oficial), mas a forma histérica que adquire a produgio desses processos, quer se trate da indisteia ea comida répidn, quer se trate da indGstria escolar. Isto é, 0 que unifica os McDonalds e a utopia edueacional dos homens de negéeios é que, em ambos, mercadoria oferecida deve ser produrida de forma rapida e de acordo com certas ¢ rigorosas normas de controle da eficiéncia e da produtividade. 0 modelo McDonald's tem Bseola S.A, 29 demonstrado, gracas 8 universalizagao do hambiirgues, uma enorme capacidade para ter sucesso no mereado da alimen- tagdo “répida” (se é que o termo “alimentago” pode ser aplicado nesse caso). A escola, pelo contrério, no que se refere a suas funges educacionais, nio tem sido tao bem- sucedida, se avaliada sob a ética empresazial defendida pelos neoliberais. Os principios que regulam a prética cotidiana dos McDonald's, em todas as cidades do planeta, que pretendem percorvera trilhada eveeléncia: “qualidade, servigo, limpeza prego”. A rigo na perspectiva dos homens de negécios, esses principios devem regular toda prética produtiva moderna. O préprio fundador dessa ca- Geia de restaurantes, Ray Kroc, tem dite, sem falsa modés- tia: “se me tivessem dado um tijolo enda ver que repetiessas palavras, creia que teria podido construir uma ponte sobre © Oceano Atlantico” (Peter &. Waterman, 1984: 170). A escola, pensada e projetada como uma instituigio prestado- ra de servicgos, deve adotar esses principios de demonstrada eficdcia para obter certa lideranga em qualquer mercado. Esse aspecto de cardter geral se vincula a outra goinei- déncia (ou melhor, a outra ligdo) que os McDonald's ofere- cem As instituighes educacionais. De forma bastante simples, podemas dizer que os fast foods surgiram paca responder a uma demanda da sociedade moderna pés-in- dustrial: as pessoas correm muito; estao, em grande paste do dia, fora de casa; ¢ tém pouco tempo para comer. Entre 08 fast foods realmente existentes, 0 MeDonald’s adquiciu lideranga mundial, aproveitando-se daquila que na termi- notogia empresarial se denomina “vantagens comparati- vas”, Uma grande eapacidude administrative permitiu que 30 Tomaz Tadeu da Silva @ Pablo Gentili (Orgs) essa empresa conquistasse um importante nicho no merca- do da comida répida. Algumas das corventes dominantes entre as perspectivas académicas dos homens de negécios evfatizam que a capacidade competitive de uma empresa (¢ inclusive de uma nagao) se define por seu dinamismo ¢ flexibilidade para descobrir e ocupar determinados seg- mmentos (ou nichos) que se abem & competiggo empresari- al.? Assim, os mercados expressam sempre tendéncias e ccessidades heterogéneas. Reconhecer tal diversidade faz parte da habilidade empresarial daqueles que conduzem as grandes corporagées (a0 menos, daqueles que conduzem as grandes corparacdes que conseguem sobreviver & intensa competigao inter-empresarial}. O que € que tudo isso tem a ver com a edueagao? A resposta é simples: s¢ 0 sistema escolar tem que se configarar como mercado educacional, as escolas devem definir estratégias competitivas para atuar em tais mereades, conqnistando nichos que xespondam de forma especifiea a diversidade existente nas demandas de ‘consumo por educagao. Medonaldizar a escola supée pen- sila coma uma instituigio flexivel que deve reagit aos cstimulas (os sinais) emitidos par um mercado educacional altamente competitivo. Entretanto, alguém, provavelmente intrigado, poderia perguntar qual é a razdo que explica que o mercado educa cional deva sernecessariamente competitivo. Os neoliberais respondem a essa questfio também de forma simples: assim. ‘como as pessoas precisam comer hambuirgueres porque 0 trabalho (e, claro, a mfdia) o exige, também precisam educar-se porque 0 conhecimento se transformou na chave de acesso a nova Sociedade do Saber.'* Na perspectiva dos homens de negScios, nesse novo modelo de sociedade, a Escola S.A. a1 escola deve ter por fungio a transmissio de certas compe- {éncias ¢ habilidades necessérias para que as pessoas atuem competitivamente num mercado de trabalho altamente sele- tivo ¢ cada vez mais restrito. A educagao escolar deve garantir as fungdes de classificagio ¢ hierarquizagio dos postulantes aos futuros empregos (ou aos empregos do futuro). Para os neoliberais, nissa reside “fungao social da escola”. Semelhante “desafio” 86 pode ter éxito nur mer- cado educacional que seja, ele préprio, uma insténcia de selegiio meritocrética, em suma, um espago altamente com- pet ‘A necessidade de permitir « competigdo inter-institu- ional (escola versus escola) explica a énfase neoliberal no desenvolvimento de mecanismos de desregulamentagéo, Aexibilizagio da oferta ¢ livre escolha dos consumidores na esfera educacional.’” Entretanto, essa questo nao eszota a reforma competitiva que os neoliberais pretendem impor na cesfera escolar: Nessa perspectiva, a competigao deve carac- terizar a propria légica interna das instituigdes edueacio- nais. A possibilidade de consteugao de wm mercado escolar competitive depende, entre outros fatores, da difusdo de rigorosos critérios de competicao intema que regulem as praticas e as relagées cotidianas da escola. Algo similar ocorre nos McDonald's. De fato, os sistemas de controle e promogao de pessoal no McDonald’s 30 conheeidos (c em muitas ocasides tora, dos como modelos) pelo uso eficax de um sistema de incentivos que promove uma dura e implacdvel competicao interna entre os trabalhadores, bem como a difusio de um sistema de prémios ¢ castigos dirigides a motivar o “perten- cimento” © a adeséo incondicional & empresa.'* Esses 32 “Tomaz Tadeu. da Silva @ Pablo Gentil (Orgs) mecanismos estio sendo cada vez mais difundidos nos Ambitos escolares (até mesmo quando as normas jurfdicas vigentes nao o permitem). Quem mais produx mais ganha. E 86 € possivel saber quem mais produz quando se avaliam rigorosamente os atores envolvidos ao proreszo pedagtigico (ccjam professores, alunos, funcionérios ete). Os prémios & produtividade so, tal como no McDonalt’s, tanto mera~ mente simbélicos (quadro de honra, empregado:do més), quanto materiais (aumento salarial, prémios em espécie, promogao de categoria). A educagao deve ser pensada como um gtande campconato. Nela, os triunfadores saber que 0 primeiro desafio assumirem-se como ganhadotes. “Ti pertences 3 equipe do’ campedes!”, costinma repetir oxgu- Thoso Ray Kroe em suas habituais arengzs saa tropa de despachantes de harchirgueres ¢ hatatas fritas baratas, Espirito de lute, de auto-superagio, de confianga no valor do éxito, certeza de saber que quem esté.a0 nosso lado sé atrapalha nosso caminho ao sucesso. Nace mais apreciado na escola do que o titulo de Mestre do Ano. Nada mais cobicado no McDonald's do que o prémio Al! American Hamburguer-Maker. * Apedagogia da Qualidade Total se inscreve nessa forma particular de compreender os processes edtucacionais, nfo sendo mais do que uma tentativa de transferit para a esfera escolar as métodas e as estratégias dle eontole de qualidade préprioe do campo produtivo. 0 processo de medonaldizagéo da escola também tem sen efeito no campo do curricalo ¢ na fornagio de profes- sores. Quem se aventurar a esiudar com mais detalhes os fast foods (tarofa que constituiria uma grande contribuigdo para compreender melhor nossas eseolas) poderd encontrar Escola S.A, 38 uma surpreendente similitude entre os mecanismos de pla- nejamento dos cardapios nesse tipo de negocio e as estra- tégias neo-tecnicistas de reforma curricular O catdter assumido pelo planejamento dos curricules naeionais, no contexto da reforma educacional promovida pelos regimes neoliberais poderia maito bem ser entendido como um processo de medonaldizagao do conhecimento escolar.” ‘Ao mesmo tempo, no contexte desses processes de modernizagao conservadora, as politicas de formagio de docentes vao se configurande como pacotes fechados de treinamento (definidos sempre por equipes de técnicos, experts ¢ até consultores de empresas!) planejados de forma centratizada, sem participagio dos grupos de professotes envolvidos no processo de formagio, apresentando uma alta transferibilidade (ou seja, com grande potencial para serem aplicados em diferentes contextos geograficos € com diferentes populagées)."" E essa, precisamente, uma das caracteristicas que tém facilitado a expansdo internacional de uma empresa como 0 McDonald’s.”” Esse tipo de empre- sa tem tido um papel fundamental no desenvolvimento daquilo que poderfamos chamar aqui “pedagogia fost food”: sistemas de treinamento répide com grande poder disciplinador e altamente centralizados em seu planeja- mento € aplicagdo. A Hamburguer University de MeDo- nald’s em Chicago e sua competidora, a Harvard dos preparadores de batatas fritas, a Burger King University. na perspectiva dos homens de negécies, constituem invejéveis modelos de instituigdes educacionais de novo tipo. Assira, inclusive, aparecem nos manuais que estimulam 9 éxito empresarial, enfatizando 0 novo valor ¢ a centralidade do conhecimento na suciedade do futuro. Formar um professor 34 ‘Tomaz Tadeu da Silva ¢ Pablo Gentili (Orgs) no costuma ser considerada uma tarefa mais complexa do que a de treinar um preparador de hambcixgueres. Por iltime, a medonaldizagio do campo educacional se cexpressa através das cada ver mais freqiientes formas de erceirizagdo (pedagégica ¢ nS0-pedagSgics) que tendem a earacterizar o trabalho escolar nos programas de reforma propostos (e impostos) pelo neoliberalismo. Vejamos. Uma loja do MeDonale'’s {suponhamos, en Moscou) € sempre urn espaco de integragao de diversos trabalhos parciais realiza- dos em outras unidades produtivas. De cesta forma, o Big Mac é a sintese “dialética” de urna série de contribuigées tereeirizadas: por um lado, existe quem produz a came, quem fabriea o pdo, quem fornese o ketchup e, por outro, quem cultiva os pepinos. 0 McDonald’s da Praca Vermelha, simplesmente articula (com a mesma eficiéncia ¢ limpeza que 0 MeDonald’s da Quinta Avenida, em Nova York) esses insumos, 08 quais, todos juntos, léo origem a esse grande invento da cultura americana que so duas pequenas bolas achatadas de carne mofda cujo suporte so dois pedagos de pao, O Big Mac s6 pode ser compreendido, a partiy da perspectiva de um expert na indiistria de hambiirgueres, coma 4 resultado de uma eriativa planifieagiio centealizada € uma néo menos eriativa descentralizagio das fimgses exigidas para a elaboragio de um produto eujos insumos 540 fomecicos por um ntimero varidvel de produtores. A apli- eagao de uma éérie de rigido: controles de qualidade (também centralizados) garante uma alta produtividade, além da redugSo dos custos de produg&o e, em conseqlén- cia, um aumenta da rentabilidade obtida por esses restau- antes, Essa racionalidade se aplica também ao campo educacional. A légica do lucro ¢ da eficiéncia penetra as Escola 5. A 35 priticas pedagégicas e se define come omodus operandi das politicas de reforma escolar promovidas pelas admivistra- goes neoliberais. E nesse contexto que a terceirizagio do lcabalho educacional constitu’ uma forma de medonaldizar ‘a prépria escola. Algném de espfrito certamente apocaliptico poderia Giver, comm razio, que a medonaldizagao da escola no se aplica a um dos atributas que tem earacterizado 0 notério crescimento dos fast foods nesta segunda metade do século XX; sua progressiva universalizagao. Anatisando as condi- goes atuais do desenvolvimento capitalist, poderfamos suspeitar, cor efeito, que os McDonald's tém melhor futuro do que a escola piblica. Provavelmente, as vantagens com- parativas dos fast foods permitio que, em muitos de noscos patses, os hambirgueres e as batatss fritas se democratizem mais rapidamente do que o conhecimento. Entretanto, este 6 um problema de earster especulativo que excede nossas possibilidades de reflexao, ao menos por enquanto. © processo de medonaldizagio da escola deve ser considerado de forma “celacional””. Nao se trata de um fato isolado e arbitxério, Pelocontrério, eles6 pode ser explicado no contexte do profundo proceso de reestruturagae politica, econdmica, juridica e também, é claro, edueacional que est ccorrendo no capitalismo de fim de séoulo. A crise do fordismo ¢ a configuragio de um novo regime de acumula- cau pér-furdista permite entender 0 cardter e anatureza das, reformas impulsionadas pelos regimes neoliberais na esfera escolar, Na economia-munde capitalista se articular novos mapas institucionais cuja geografia do beneficio produz € reproduz novas e velhas formas de exclusio e desintegragao social. 36 ‘Tomaz, Tadeu da Silva o Pablo Gentili (Orgs) intent ewineae tree saver ii A escola niio € alheia a esses processos; sua propria estrutura ¢ funcionalidade é colocada em questionamento por tais dinamicas. O proceso de medonalcizacao expressa essa mudanga institucional dirigida 2 conformar as bases de ‘uma cscola teyotizada, uma esecla de alto desempenho, adininietrada pelos novos iideres gerencisis, os quais, planejam forraas de aprendizagem das novas habilida- des exigidas por um local de trabalho ceestruturado, formas que eejam “coneretas”, “préticas”, ligadas & vida real e organizadas através de equipes de trabatho (Wexler, 1995: 162). Dequalquerforma, é importante destacsrque essa nova racionalidade do aparato escolar se constrdi sobre aqueles principios que regulavamn a escola taylorista. Tyata-se de um processo de reestruturagdo educacional onde se articulam novas e velhas dindmicas organizacionais, onde se definem novas ¢ velhas ligicas produtivistas através das quais a reforma escolar se reduz a uma série de criérios empresa~ riais de carter alienante ¢ excludente.”* 4. Os sabichées ‘Tendo chegado a este ponto, procuraremos responder & nossa tiltima pergunta: quem, na perspectiva neoliberal, deve ser consultado para poder superar a atzal crise educa- cional? Poderiamos formular nossa pergunta de forma ne- gativa: quem ndo deve ser consultado? A resposta é, em principio, simples: os proprios culpados pela erise (especi- aluente, é claro, 08 sindicatos e aqueles “perdedores” que sofrem as conseqiiéncias do inforttinio ¢ a desgraca econd- Bscola S.A, 37 mica por terem desconfiado do esforgo e da perseveranca meritocrdtica que permitem triunfar na vida, ou seja: as grandes maiotias). Defender e promover aquele velho ¢ “improdutivo” modelo de Estado de Bem-Estar parece também nao ser um bom caminho para superar a crise. Quem, entiio, deve ser consultado? Quem pode nos ajudar a saic da crise? Obviamente, os exitosos: os homens de negécios. 0 raciovinio neoliberal é, neste aspecto, trans- parente: se os empres4rios souberam triunfar na vida (isto &, se souberarn desenvolver-se com éxito no mercado} € 0 que esté fattando em nossas escolas é justamente “eoncor= quem melhor do que eles para dar-nos as “dicas” necessarias para triunfar? O sistema educacional deve con- verter-se ele mesmo em um mercado... devem entéo ser consultados aqueles que methor entendem do mercado para ajudas-nos a sair da improdutividade e da ineficiéneia que caractétizam as préticas escotares e que regula a logica cotidiana das instituigdes educacionais em todos os niveis, E nesse contexto que deve ser compreendida a atitude mendicante ¢ cinica dos governantes que solicitam aos empresdcios “humanistas” a adegéo de uma escola. Se cada empresario adotasse uma escola, o sistema educacio- nal melhoraria de forma quase autométios gragas aos recuir- 80s financeiros que os “padrinhos” distribuiriam (doariam), bem como aos principios morais que, vinculados a ums certa filotofia da qualidade total, da cultura do trabalho © dio esforgo individual, eles difunditiam na comunidade escolar, No entanto, a questdo nio se esgota aqui. Em cero sentido, para os neoliberais, a crise envolve um conjunto de problemas téenicos (ou seja: pedagdgicos) descochecidos 38 ‘Tomaz Tadau da Silva 0 Pablo Gentili (Orgs) pelos empresdrios, mas que também devem ser resolvidos de forma eficiente. Assim, sair de crise pressupée consultar os especialistas ¢ téenicos comgetentes que dispdem do saber instrumental necessério para levar a cabo as citadas jpropostas de refoema: peritos emecuniculo, em formagéo de professares distincia, especialistas em tomadas de deci- des com escassos recursos, szbichdes reformadores do Estado, intelectuais competentes em redueto do gasto pie “blico, doutores em eficiéncia e produtividade, ete. Alguém candidamente poderia pergunter-se de onde tirar tanta gem, A resposta a semelhante questo pode ser encontrada nos cortedares dos Ministérios de Educagio de qualquer governo neoliberal: 880 0s organisms internacionais (espe- cialmente o Banco Mundial) os que fornecem todo tipo de cespecialisias nestas matérias, Para wabalharnestes organis- mos, que ndo so precisamente de benelicéneia e ajuda miitua, basta fazer projetos que se retro-alimentem a si mesmos e, de preferéncia, ter sido de esquerda na puberda- de profissional. IL Conetuséo 0 aumento da pobreza e da exclusio conduzem a conforma- géo de sociedades estruturalmente divididas nas quais, necessariamenie, 0 acesso as instituigdes educacionais de qualidade © a permanéncia nas mesmas tende a transfor- mar-s¢ em um privilégio de qual gozam apenas as minorias, A discriminago educacional artieula-se desta forma com 0s profundes mecanismos de discriminagéo de classe, de ‘aga ¢ genero historicamente existentes em nosses socicda- des. Tais processos caracterizam a dinamica social assumi- da pelo capitalismo coniemporaneo, apesar dos mesmos se Escola S. A. 3e concretizarem com algumas diferencas regionais evidentes no contexio mais amplo do sistema mundial. De fato, 0 capitalismo avancado também tem sofrido a intensificagao deste tipo de tendéncias no sei de sociedades aparente- mente imunes ao aumento da pobreza, da miséria e da exclusio.”? Dois processos decorrentes das politicas neoliberais produzem também um impacto direto na esfera das politicas educacionais: a dificuldade (ou, em alguns casos, a impos- sibilidade) de manter e expandir mecanismos demoeréticos de governahilidade,” e 0 aumento acelerado da violéacia social, politica ¢ econémica contra os selores populares urbanos e rurais.”* Por outro lado, e ao mesmo tempo, a erescente difusiio de intensas relagdes de corrupgio — sendo a corrupeio politica apenas uma das expresses mais eloglientes deste proceso — tende a criar as bases msteriais ¢ culturais de um tecido social marcado pelo individaalismo pela ausén- cia de mecanismos de solidariedade coletiva. O darwinismo social intensifica 0 processo de fragmentagio e de diviséo estrutural produzido no interior das sociedades neoliberais. ‘A conupgao como problema que ulrapassa o ambito da moral particular das elites politicas ¢ econmicas, isto €, como Légica cultural, constitui um fator caracteristico deste processo de clesagregacao e desintegragao social.” Tal lé- gicu cultural penetra capilurmente em todas as instituigdes, principalmente nas educacionais, as quais tendem a con- verter-se em promotoras e difusoras desta nova forma de individualisme exacerbado.”* Em suma, os governos neoliberais deixaram (e esto deixando) nossos paises muito mais pobres, mais excluden- 40 Tomaz Tadeu da Silva e Pablo Gentili (Orgs) tes, mais desiguais. Incrementaram (eest&o incrementando) a discriminagio social, racial e sexual, reproduzindo os privilégios das minorias. Exacetbaram (e esto exacerban- do) 0 individualismo ea compesigdo selvegem, quebrando assim os lagos de solidariedace coletiva e intensificando um processo antidemocritico de selegio “natural” onde os “melhores” triunfam e os “piores” perdem. E, em nossas sociedades dualizadas, os “melhores” acabam sendo sem- pre as elites que monopolizam o poder politico, eeonémico c-cultural, ¢ 95 “‘pioxes”, as grandes maiorias submetidas « um aumento bratal das condigoes de pobreza e a uma violéncia repressiva que nega nio apenas os direitos sociais, mas, principalmente, o'mais clementar direito a vida. A resposta neoliberal 6 simplista c enganadora: prome- te mais mercado quando, na reslidade, & na prépria confi guragdodo mercado que se encontram as rafzes da exclusio fide desigualdade, Es desigualdade se reproduzem e se ampliagn. O neoliberalis- ‘mo nada nos diz acerca de como atnar contra as causas estniturais da pobreza; 20 contrdrio, atua intensificando-as, esse mercada que a exclusio © a 0 desafio de uma luta efetiva contra as politicas neoli- herais & enorme e complexo. A esquerda néo deve ser arrastada (ou arrasada) pelo pragmatismno conformista e acomodado segundo o gual o ajusie neoliberal é, hoje, a ‘éniea opgo possivel para a crise. Para os que atuamos no campo educacional, a questio simples ¢ iniludfvel: log aps o dilivia neoliberal as nessas escolas serio muito piores do que j4 so agora. Néo se trate apenas de um problema de qualidade pedagégiva (embors também a soja), serio piores porque sero mais exeludentes. Escola S.A. a Os neoliberais esto tendo um grande éxito em impor seus argumentos como verdades que se derivam da natureza dos fatos. Desarticular a aparentemente inquestiondvel ra- cionalidade natural do discurso neoliberal constitui apenas ‘um dos desatios que temos pela frente, No entanto, trata-se de um desafio do qual depende possibilidade de se construir urna nova hegemonia que dé sustentagao material e cultural a uma sociedade plenamente democratica e igua- litsria, Pessimismo da inteligéncia, otimisimo da vontade. Nun- ‘caa sentenca gramsciana teve tanta vigéncia. Noseo pessi- mismo da inteligéncia deve permitit-nos considerar criticamente a magnitude da ofensiva neoliberal contra a cducagao das maiorias. Nosso otimismo da vontade deve manter-nos ativos na luta contra um sistema de exclusdo social que quebra as bases de sustentago democritica do direito a educagéo como pré-requisito bisieo pata a con- quista da cidadania, uma cidadania plena que 86 pode ser concretizada mama sociedade radicalmente igualitdria Notas amplia algumas quetties deveuvalvidas nos seguintestrba- hos: Gentil, P Como reconhecer us gover neoliberal. Uo breve guie para educadaces.[n: Laz Heron daSilva & Joss Clovis de Azevedo (orgs) Reestraturagio Curricular. Teoria « Pritica na Cotidiano ds Bsenla, Voxes, Petiépolis, 1995, Gent, PA MeDonaldizagfo da escola. In: Marisa Vorraber Coste (org). Escola Béxien nu Virada do Séenlo, Cultura, politice curleulo. Cotes, Sio Poul, 1996, 2. Un interessante debate sobre as ovigena do nealiberalisma {e sobre 2s raxbes que mativaram seg everne xite) pos aerenconirad wo contra stabelecido entve as posigées do Percy Andaason & Géran Tharhoon et Sauer & Gentil (1995), Ver tmbéim: Born (1994), 42, ‘Tomaz Tadeu da Silva e Pablo Geatili (Grgs.) 13, 1H oonsolidados estes tegitnes, Friedman veelamanin uma certs lentidio hnaimplementagéo das politicas de liberalizsso da estio Reagan. Atirania do status quo ~ sustenaria com a veemréncin que caracleriza seus textos — fmpée-se implacavelmente se 08 defensores do livremercada baixam « guards. Além disso, tatase de Ievar até as dltimas conseqilénciag um programa que, agora sir, asociedade exis : “Ronald Reagan ~esereveria Friedman em um pequeco livo chamado justamente Tranny ofthe Sus (Quo alo ganhow as eleigées por haveradaplado seus pentas de vista dquila qucos cleitoras desejavarn ouvir, mes sim porquea piblice pessou saceitar as iddins que Reagan jé levava duas désedas expresssado. Durante quase todo esse tempo, para qualquer politico significaris wm suieidio bosear sua candidatura & presidéncia em tas idéas”. (Friedman, 1984: 16) 440 programs de suste ¢reesuutursge levad acabons Bolivia, durante o govero de Victor Pas Fstenasoco,emmendonde BO, constituium exemple claro desssteudévcia al exporineia servi de antecedent 30 dorefermas estrus aplicade logo na Palnia e Gass, pats decidos a entrar no pssatio do livee-mescado implementancl de fcma radical e Aecidida 0 teeiuitio neabiberal, Pun um estudo bee @ impacto das poliicas neoliberais na América Latina, veja-se: Bonin (199 (2996): Tavares & Fair: (1993); Caleegno & Caicagno (1995); Sader & ‘Gena (1995), Sierra (1994); Laucell (1995) 5, “Eglidede” 6 uma palavea que vom gathando um epago cada ven mais, importante nos dizcusas das polities e tacnoratas netiberais, bar como 03 documentos e1eeomandscGes dos organismosintrracionas, ene eles © Bares Mundial ¢ ¢ FUL Vile destacar que "eaiidade™ costuma se ontspos, 08 terminolagia neoliberal,» “igualéade”. Milton Friedman cofatien deforma carn ent dlferenga em ive fuiarental, biberdade te Escolher (1980). 0 conceito de eguidede scticulaese assim com um conceit de jusige qué econhece « necemiade de repeitas,¢ inclusive promorer as ereugas natwais exsieates ene as pessoes (Hondericl, 1993, Justo €o sistem social onde tai dferengas si respeitades conta toda preteneio asbitesn (pl Eqlidade o iguldade contrapsemese, endo «primera uma novia que promove ts difeeagss produtivas ease os individu, enquamte que segunda tend a epredusirumrtériohomegeneiandor do carsterarilicisl, ss srviga de apazentesintecesses colevos que nogsinas diferenges men. sianadas e, consoquentemonte «propria individualidade das pessoas. Os cexemplos do Fvodrman slo elogients: Marlone Diets e Mubammed Ali “Tales fou a0 menos “todos”, segundo redman} adnicamos as pecnas da 2) por gacantir uma suposta igueldeds Escola S.A. 43 bela ours ca babilidade manual do museuloso pugilita. Serajustoimpedix queclesfizessem uso daquilo que a generasa notureza hes ofereceu? Justo, para Friedman, signifiea que cada um passa adminstrar o que lhe prdpei, fx forma quo julgar mais conveniente © produtiva (nesta caso: Martens Dietrich 2s suas pamas, mais de que o seu somis, e Muhanad Aloo 2605 punkos, mais de que a sua cabeca). A vida, ¢ por conseavinte » escola, Hlevem ser pensadss como um jogo de Baccarat. “As pessoas que resolver Jogar podom iniciae a noite com pilhasiguais de ichas, mes, & medida gus ogo continus, as pillas tomam-se desigusic, Ao Bm da noite, elgumas serio venoedoras 6, outras, grandes perdedoras. Erm nome do ideal de eqitdade, deveriam as vencedoras compensar as perdedoras? Isso iracia toda a graga da jogo. Nem mesmo as perdedoreseosrariansdiaeo, Poderiam spreciar a Zao nia noite, mes voltariam a jogar ee soubessem que, 0 que quer qs acontesesee, acabarism exatamente onde haviain comegada?" (Friedman, 1990: 142-43). 6, Bate tem sido um des tomas cents que lente’ desenselver no ee trabalho Adzus & escola ablica, Vejonse também 0 pincipio educative da Nava Dircte, de Daniel Susrez, ambos em: Geatili (1995), 7, Para uma carecterizagio erica do Consenso de Washington, ves: Flor (1996). 8. Um interessante estudo sobre o impacto das polticas e recomendacées de Braco Mundial na educagio brasileira pode ser observado em Fonseca (1995). Peta uma ebordagem mais geval, veja-se: Torres (1995). 9. Un ease tpice desse clase de “novos” intelecuais tausnacionalzados 40 Prof, Cesar Coll, a9idue eoleburador de clavns goveruos neolibersis| Intino-americaros (entre cles ot ds Angentins © do Broil) e ideslogo da roforma espanhcls implementada nos anos 20 e 90, Essa reformn ¢ habit almonte apreseniada pelas burocracios minicteriis de nossos paises come smoddlo e exemple de vestruturneio extoss no campo educacionsl, embora, paprépria Espanha, estejacende submietids a umaprofunde criticaes um rigorasobalango, cvjo resltadus nfo parecom ear dignos de iavea. Veja-re fesse respeit: Patoforma Astutiana de Eduoaeién Critica (J995); Revista Archipielaga (1993). 10. Tomaz Tadou da Silva aprofunda esta quosifo om e0u ensaic O proevo educacional da “Nova” Dieta ea rxirien da qualidade tral (ver capitulo 7 dosta obra). Vojam-se também os textos organiados por Gentil & daSilva (2994) « Figono (1995), a ‘Tomaz Tadeu da Silva e Pablo Gentili (Orgs.) 11. 0 tahallho mais destacado, nease perspectiva,& olive de George Ritzer (1993), Roger Dale fez uma revisdo oriioa do enfique de Ritzer, com special atengaa sabre 0 impacto as conseq!2nciaa que esses processes: tm, no campo educscianal. A esse respeiio, vejase Dale (1994), De quilques forma, devenos destacar aqui que spenas nos imitamos utilizar ( termo “twedonaldizagio”, eem aos determos nas pelamieas que 0 mesmo tom gerado, Veja-ze também Munch (1982), 12, Voja-se: Apple (1980), Frgotto (1984), Gentil (199). 23, Basa perspectiva te sido desenvolvida na abva fundamental de Porter ase). 14. Veja-se Drucker (1993). 15, Essa competigho, diga-se de passage, & sempre desigual ¢ lende a perpetuar ums distibuicdo diferencial do per que reprodur o privlegio Saquela minoria que town seessa ia instituignes educacionsis de qualidade. 16. Um interessante trabalho 90 ual se anslisaeritjesrmente o mundo dos {fast foods €w ivestigagio de Grefe ot ali (1988). 17. Voja-sar Ramos (2992) e (1994), bem como 4 extiea que temos formulade esses enforues em Gentil & Silva (1994 18, Vejase: Apple (1993); Moceia (1995); Suéree (1995) e Silva (1994). Cristiana Ottoni ne processo de seforme 19. A pacticipagto da Funds cedueacional no Estado de Minas Cerais $ um claro exemple d= como as ‘equipes de asseasoramenioe consultoriaempresarial eomeram a paricipar ativamante dos programas de formagto de prafessares # du difssio dos prinespios da Qualidade Toral em educagéo, 20, Michael E. Portertem slirmado que “e sivemutizatde e anormatizacto ‘in as chavs gue abrem os poctas das eoonomias da escala © de outros vantagens da grane empreaa do servigos, oom maltivlas unidades opera- tivas. Tomlbém toma possivel presiar o mesma serigo em outta pals MeDonald’s pode repradusic seu concelte, om modiieagtes minimas, no cesuaugcives = poepases pessoal local parm qc realizes passes, que cc oem definiclos” (Portex, 1991, p. 346). DL. Vejasse Varela {1.982} 22. Uma série de contribuigdes fundamencais para eprofindar estas ques ties pode ser encontrada nos textos oxganizadas per Suer (1995), Vejase tanubim 0 dossié sovre "Nowa Pobreea” em: Debar (1997). Lite J.D. ‘Wacipart (199; 1995) realizou uma importante conteDuieds para cestoda Bscola S.A. 45 dle mecanimos de exclusso urbana e rei nas secedades avangodbe. Sotve os mecasitmoserescenes de disecrinagi cial e educational nos Estados Unis, vej-se: Apple (1993) 28, Neja-s: Boron (1994). 0 seoiberaism eome dindinioa promotnea de rnecaniomcs de ingovernabiidads tem sido abordato, com espesiel rele soci. cio eailet, por Fir (195) e lisa (2995). Com aprecisso Ge le ¢earactesistica, Francisco de Olivera sustenta em aeu excelante trabulho:“» mimgo maior da gaverabiidade no gpreino Fernando Hen~ que Cacleioé onealibersismoda equipeecoeémiea Por goverbilidade esti-se entendendoa copacidede de govetnarsntooiada coms prigeiais vendusius quo se dio na socedstle, Aicda assim, 2 wo esis qutvoro, pois certements 9 aglibezlismo encontrasintoria ecm o pen- samento @ @ agdo de yas sets do empresariadn. Fortant, f-26 canwenicnte wan eedefnigio da governabiliade: esta 6 entendida come @ copeidade de govemar apiada em rendéncias mt coneretas da socee dude ~ para rebate, desde logo, 0 estigma do voluncarsme ~ diriglds mo sestido de um procesta de liqiidagzo das desigualdadessocis” (1995 2a) 24.0 intense crescimento dos mecansinos de veressio plicial e miiae ter ida una caratritiea evidente das pobitiasnesliberss a Améviea Latina. Pisa 0 c280 argentian, vee « petquita de Rafael Cen (1988). Um andlise pormenorizada do caso brsiste pode se: encomaada no documento Dveit Humana no Broil, publicado pele Nicieo de Exvdos dds Violénca da Universidade de Sio Paulo (1995). 25, Vojase: Salama & Valior (1994). 26, Tentamos desenvolver algumas ids neste sete em: Geil (1995) Vejjnse tatnbém: Puiggrés (2995), Reteréncias Bibliogrdticas ANDERSON, P Bslango do nesliberstisno. In: Sader, E&P Gentil. Pace ‘liberation. As polices svias «ea Exade damocrésizo. Rio de Jansra Pave Tera, 1955, APPLE, M. Elucogéo ¢ Poder. Poo Alegre: Aries Médicas, 1989. APPLE, M. Oficial Knowledge. Nova York: Rouiedge, 199, APPLE, M.*Repensando Idenlgie © Curcule” In A. E Moreira & 7.7: da Silva (Ongs.). Curricula, Calera + Scidace Sto Paulo: Corts, 1994. BORON, A. Extado, Copitasme ¢ Demozrarin na Amrice Latina. Rio de aneicg Pare Tee, 199, 48 ‘Tomaz Tadeu da Silva e Pablo Gentil (Orgs } CALCACNO, AB. & CALCAGNO, AF Bt universe neliberal,Recusnta de sot lugares conaes. Buenos Airs: Alizeza, 1995. 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