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PESSOA NATURAL PESSOAS 1, APERSONALIDADE JURIDICA ‘A.questo da personalidade juridica é um dos temas mais importantes para a Teorfa Geral do Direito Civil, pois a sua regular caracterizacdo é uma premissa de todo ¢ qual- quer debate no campo do rivado. Emibora o instituto seja bastante abrangente, aplicando- cas, no hd como negar que, sendo o ser humane 0 de que oestudo da personalidade juridica tome como pari 14. Coneeito Personalidade j gagBes, 00, em outras palavras, é0 atributo para ser. Adguitida a personalidade, o ente passa e atuar, na qualidade de sujito de direto (pes- soa natural ou juridics), praticando atos e negéci ‘que: “Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem ci Essa disposigio, como ja se infere, permite. ilagio de que a personalidade todetodae pessoa, seja natural ou juridica, uma vez quea prépria norma civil A pessoa natural, para o direito, éo ser humano, enquanto sujelto/destinatirio de direitos ¢ obrigagées. Vale destncar que 0 he consagravaa expresséo “ser human” B 42 MANUAL DEDIREITO CIVIL able Stele Gagiane © Rodotto Pamplona Filho imento, segundo a diccao legal, ocorre a partir do nascimento com vida (art. 2° do CC/2002), te em que principia 0 funcionamento do aparelho cardiorrespiratério, 1 pelo exame de docimasia hidrostitica de Galeno?, 0 recém-nascido ica, tornando-se sujeito de direito, mesmo que venhe a fale adquire personali cer minutos depo! fem que trade Seguindo essa diretriz.doutrindria e legal, que tem importantes reflexos praticos € sociais, se o recém-nascide — cujo pai jé tena morrido — falece minutos apés 0 parto, terd adguirido, por exemplo, todos os direitos sucessérios do seu genitor, transferindo- (os para a sua mde. Nesse caso, a av6 paterna da referida crianga nada poders reclamar. Sucede que, conforme veremos no tépico seguinte, nao & pacifica a aceitacéo da corrente natalista, 0 que torna o assunto ora estudado de grande interesse académico, sendo apaixonante, forma, independentemente da linha de pensemento adotada, cumpre- -nos advertir que, diferentemente da superada orientagao romanista, na generalidade Esse exame & baseado na diferenga de peso especifico entre o pulmgo que resplrou e o que nto rmerguthados na égua, O primeir, por 1 0s alvdols diatados eimpregnados de 219 Fasso que o segundo, compecto evazio, com as paredes alveolar colabadas por Pessoa naturel 49 .cbes conteraporineas nio se exige mais a forma humana ea viabilidade para se conceder ao recémn-nascido a qualidade de pessoa. 13. Onascituro Cuida-se 0 nascituro do ente concebido, embora ainda ado nascido. © Cédigo Civi ta do nascituro quando, posto no 0 considere expl pessoa, coloca a salvo 08 seus direitos desde 2 concepedo (art. 2° do CC/2002). (Ora, adotada a tradicional teoria a, segundo a qual a equisigio da persona- lidade opera-se a partir do nascimento com vida, conclui-se que, nio sendo pessoa, 0 nasclturo possuiria mera expectativa de direito. no é pacifica na doutrina alidade condicionel sufragam entendimento no sen Lido de que o nascituro possui direitos seb condicso suspensiva. Nesse sentido, prelecio- ng ARNOLDO WALD: “A protecto do nascituro explica-se, pois ha nele uma persona- Jidade condicional que surge, ne sua plenitude, com o nascimento com vida ese extingue no caso de nio chegar o feto a viver A teoria concey por sua vez, influenciada pelo Diteito francés, contow com diversos adeptos. Segundo essa vertente de pensamento, o nascituro ad persona. lidade juridica desde a concepeao, sendo, assim, considerado pessoa. Item autores, outrossim, cujo pensamento, mais comedido, aproxima-se, em ‘nosso pensar, da teoria da personatidade co al, pols sustentam que a personalida- de do nascituro conferiria aptidio apenas para titularidade de direitos personalissimos (Gem conteide patrimonial), a exemplo do direito a vida ou a uma gestacdo saudével ‘uma vez que os diteitos patrimoniais estariam sujeitos 20 nascimento com vida (condt- iio ocorrer, nenbum direito patrimonial tera tanto, como dite acima, a teoria concepcior reconhecer 0 nascituro como pessoa ~ terminados efeitos patrimonis ‘em sua forme mais pura, 20 de- IGAO FERREA. ACAC XISTENTE. INFLUENCIA Na QUA’ NASCITURO. DIREITO AOS DANOS 84 MANUAL OE DIREITO CIVIL Pabie Stolze Galiano © Redote Pamplona Filho ‘Tradicionalmente, a doutrin, no Brasil, segue a teoria natalista, embora, em noss tin. visio concepcionista, panlatinamente, gane forga na jurisprudéncia do nosso Ps Mas a questo, como visto, nfo é simples. ‘Anda que o nasciture nio seja considerado pessoa, a depender da teoria adotada, inguém diseute que tenha direito & vida, ¢ no a mera expectativa ‘Nesse diapasio, em defesa da corrente concepcionista ¢ apesar da polémica doutri- dria existente, vale conferir o seguinte julgado do Tribunal de Justiga do Rio Grande do Sul: “BMENTA; Seguro-obrigatorio, Acideate, Abortamento, Diteito & percepcio de in- denizacio. O nascitura gozs de personalidade jaridica desde a concepsio. O nasci mento com vida die respeito apenas capacidade de exercicio de alguns direitos pa- teimonials, Apelagao a que se dé provimento (5 fl) (Apelagio Ciel n, 70002027910, sexta cimara civel, Tribunal de Justica do Rio Grande do Sul, Relator: Carlos Alberto igado em 28/03/2001)". Alvaro de Oliveira, pendentemente de se reconhecer o atributo da personalicade juridica, 0 fato & que seria um absurdo reaguardar direitos desde o surgimento da vida intrauterina se rio se autorizasse a protegio desse nascituro — direito 4 vida — para que justamente padesse usufruir tais direitos. Qualquer atentado & integridade do que esté por nascer pode, assim, ser considerado um ato obstativo do gozo de direitos? |A situagdo se torna ainda mais complexa se levarmos em consideragio a polémmica sobre a eventual descriminalizasio do aborto — atualmente tipificado nos arts. 1242 127 do vigente Codigo Penal brasileiro — ou mesmo o jé autorizado aborto necessirio ‘ou no caso de gravider resultante de estupro (art. 128), em que o direito a vida € relativi- +zado em fungio da tutela de outros valores juridicos. INSTANCIA. POS tagio da Tara, 0 DADE, RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. I~ Nos temas ds orien: 8 indenizagio por dano moral nao desaparece com o decurso de tempo so prescicional) ma ito aos danos moras seas duas teorae(natlists x concepclonista)é antigo easté lange deacabat. CLOVIS igo Cis! dor Brtadoe Unido do Brad (1975, p. 178), ap ssaltendo os seus excelentes argumentos, conclu ter vesma obsa, nfo fesiste ao pelo concepcionist ao destacar situacdes em que o naseturo "se apresenta como pessoa” + doutsna tabalhstaéprédiga em exemplos de ats obstativos que podem ser abjeto de sancho jx dicts, como, pr exemplo, a despedida obstatva da aquisicio de estsbilidade decenel (art 299, $3 ‘Conslidesdo des Lee Go Trabalho). Sobre a matéra, confre-20 verbete"Despedide Obstatie” i Jose Augusto Rodrighes Pinto eRodelfo Pamplona Filho, Repertério de Concetos Trabalhistas p. 186-8 fanart Pessoa natural ie A despeito de toda essa profunda controvérsia doutrinéria, o fato é que, nos termos da legislacao em vigor, inclusive do Cédigo Civil, o nascituro, embora ado seja expressa- mente considerado pessoa, tem a pratecio legal dos seus direltos desde a concep;io. Nesse sentido, pode-se apresentar 0 seguinte quadro: a} onaacituroé ttl de natal ete); ) pede receber doaao, sem prajuizo do recolhimento do imposto de transmissiu iter vuas: ado por legado e herange; a de abort, «| como decarréncia da protecao confer pelos direitos da personalicade, onasciturorerlial- ieag do exame de DNA-para ofeito de aferigao de paternidada!, No Ambito do Dizeito do Trabalho, vale destacar que a estabilidade da gestante se conta do inicio da gravider, mesmo que seja do desconhecimento de empregado ¢ em: progador. Nesse sentido, 0 que vale ¢ a data da concepgao em si, ¢ ndo a data da confir maglo cientifica ou da comunicacdo do estado gravidico ao empregador. © nascituro tem, ainda, direito a alimentos, por nfo ser rezoével que @ genitors suporte todos os encargos da gestagio sem a colaboragio econémica do pai da crianga ue esta por vir a0 mundo. Trata-se dos chamados “Alimentos Gravidicos’, que compreen- dem todos os gastos necessérios & protegao do feto" Por fim, sallente-ce que a tutela propugnada pela codificagzo civil, tanto a vigen- te quanto a revogada, em relado 0 nascituro, estende-se, observadas as suas peculla- ridades, a0 natimorto, tendo em vista que a vida jé foi reconhecida desce 0 ventre materno, Nesse sentido & 0 Enunciado n, 1 da Jornada de Direito Civil, promovida pelo Cen- tro de Estudos Judiclarios do Conselho da Justica Federal, no periodo de 11 a 13 de ® Oars Podo Bstatuto da Crianga edo Adolescente dispde que:“acrienga co adolescente tém dice: toa protecio 4 vids eA ease, mediante 4 efewagao de politicas publicas que permitam. naselmenta 0 desenvalvimente sadio e harmonioso, em condicdesdignas de exstenci" eral no caso "Glia Trevis" 21-2-2002, érgtojulgader: Reclamagio, Re. Min Néei da ‘Tribunal Pleno, Bf 27-6-2003,p. 1), © Lin, 1,804, deS denovembro de 2008: "Art 2" Os alimentos de que teat esta Lal compreenderio ‘08 valores sufllentes para cobre es despesus adicionais do periodo de gravider e que sejem dela de correntes, da concepgo a0 parto, inclusive as referents a Ho especial asssténcia médica c psicoldgica,exames complementares internapBes, pacto, medicamtentose demas presceigbes preven tivase terapeutiees indlspensiveis, a juizo do medio, além de autras que ote conshere pertinent Pardgrafo unico. Os alimentos de que tata ost artigo referem-se& parte das despesas que devera set ‘cuteade pelo futaro pa, considerando-re s contibuicio que também deverd ser dada pela mulher _révida, ne proporcde dos recursos de ambos" 46 MANUALOE piReITO CIV, Pabto te Gaaiana = Rodos Pamplona Fino ro RUY ROSADO DE dezembro de 2002, sob a coordenacéo cientifica do Mi AGUIAR, do Superior Tribunal de Justig \da sobre o tema, vale lembrar da figura do nondumn conceptus, a saber, a prole istente por ocasiéo da morte do testador, quando ha disposicao eventual da pessoa testamentiia a se Teata-se de um “sujeito de direito”, sem ser pessoa (como o nascituro), previsto nos arts. 1.799 e 1.800 do CC/2002". Os bens que Ihe sio destinados ficam sob a ed- ministragio de alguém design: o proprio testador ou, em no havendo indica- 80, de pessoa nomeada pelo juiz, devendo a nomeacio recair no testame! houver. Somente em sua falta é que o magistrado poders nomear outra pessoa, a seu. cexitéri, 2. CAPAGIDADE Adquirida a personal obrigacies. Possui, portanto, capacidade de direito ou de gozo. idica, toda pessoa passa a ser capaz de direitos e ‘Todo ser hunano tem, assim, capacidade de direito, pelo fato de que a personalida- de juridica é atributo inerente A sua condicéo. MARCOS BERNARDES DE MELLO prefere dica para caracterizar a “aptido que o ordenament c estes formado ar a expresso capacidade j [Nem toda pessoa, porém, possui aptidéo para exercer pessoalmente os seus diei- tos, praticando atos juridicos, em razio de limitagoes organicas ou peicolégicas. Se pucecem atuar pessoalmente, possuem, também, capacidade de fato ou de exercicio, ©” Bnuneiede a ‘concerne aos © cerma0 Ih ‘isposieto Mateos Bernas to Privado,p. 17. Revista de ¥ Pessoe naturel "7 Reunidos 06 dois atributos, fala-se em capacidade civil plena. Capacidade, Capacitase forme / 2xcacieee te okero/ geze esse sentido, cumpre invocar o preciso pensamento de ORLANDO GOMES: “A capacidade de direito confunde-se, hoje, com a personalidade, porque toda pessoa € ca- . Ninguém pode ser totalmente privado dessa espécie de capacidade”. E a capecidade de direito. Nao se pode ‘Uma nio se concebe, portanto, sem a ‘sem capaci- fade do exer- dade de fato: adquirix o direito e ndo poder exercé-lo por si. A imposs cicio 6, tecnicamente, incapacidade™ Nao hi que confundir, por out Nem toda pessoa capaz pode es idico, A legitimacéo tradur uma capacidade especifica. Em virtude de um interesse que se quer preservar, ou em considerago & especial situagao de determinada pessoa que se quer proteger, criaram-se impedimentos circuns- tanciais, que néo se confundem com as hipdteses legais genéricas de incapacidade. tutor, por exemplo, embora maior e capaz, ndo poderd adquirir bens méveis ou iméveis do tutelado (art. 1.748, I, do CC/2002). Dois irmios, da mesma forma, malores e capazes, no poderdo se casar entre si (ar. 1.521, 1V, do CC/2002). Erm tais hipsteses, o tutor eos izmias encontram-se impedidos de praticar o ato por falta de legitimidade ou de cape- Sobre o assunto, manifesta-se, com propriedade, SILVIO VENOSA, nos seguintes situacdo Juridica quem a let det ‘exemplo, toda pessoa tem capacidade para comprar ou vender. Contudo, ort ‘Cédigo Civil estatu: ‘os ascendentes no podem vender aos descendents, sem que os Orlando Gomes, ob. cit, p. 172 48 MANUALOE oIREFTO CIVIL Fable Stole Galiana + Rodote Pamplona Flha outros descendentes expressamente consintam Desse modo, opal, que tema capacida de genérica al, todos os atos da vida civil se pretender vender um bem. um filho, tendo outros filhos, no poders fa demais filhos. Nao estari ele, sem. caneeito bem aproximado da ciéneia do process le de um titular de um diteito com relacio a determinada relagio juri 6 um plus que oe agrega& capecidade em determinadas situagSes! Portanto, sintetizando a nossa linha de fo, temas: Capacidade de direito = capacidade genérica © Capacidade de fato (ou de exetcicio) = capacidade em sentido estrito (medida do exercicio da personalidad) = Capacidade especifice = le cunstanciais para a pritica de determinados idade (auséncia de impediments juridicos cir ) Eo que se dé quando ¢ausente a capacidade de fato? stare da incapacidade civil, seja absoluta ou relativa, o que seré aborda- do nos préximos tépicos e que passou por verdadeira revelugdo com a Lei n. 13.146, de 6 de julho de 2015 — Estatuto da Pessoa com Deficiéncia"® — a partir da sua entrada em ‘vigor, em janeiro de 2016. Eo que veremos no présrimo subtépico. 24. Incapacidade ebsoluta {Em linha de principio, cumpre mencionar, mais uma vez, que a previsio legal da cidade traduz 4 falta de aptido para praticar pessoalmente atos da vida Encontra-se nessa situaySo a pessoa a quem faltecapacidade de fato ou de exercicio, on .da de manifesta rel ejuridicamentea sua vontade. Peseoe natural 2 reaponde pelos prejufzos que causar, seas pessoas por ele responsaveis no tiverem obri- igacio de fazé-lo ou nio dispuserem de meios suficientes’ (0 Cédigo Civil de 1916, em setart. 5%, reputava absolutamente incapazes de exercor pessoalmente 08 atos da vida civil: a) os menores de dezesseis anos; b) os loucos de todo o género; ©) 08 surdos-mudas, que nao puderem exprimir a sua vontade; 4) os ausentes, declaradas tais por ato do juiz. Seguindo uma diretzi2 mais moderna, © Cédigo Civil de 2002 indicou as segui pessoas como absolutamente Incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida. 2) os menores de dezesseis anos ) 0s que, por enfermidade ou deficiéncia mental, nao tiverem o necessario discer- rnlmento para a prética desses atos; iia, nio pudecem exprimir sua vontade }_ 0s que, mesmo por causa tras Observe-se que 0 Cédigo Civil em vigor afastou a expressio “loucos de todo o ge- zero”, duramente criticada por NINA RODRIGUES na época da elaboragio do Cédigo le 916. ‘Da mesma forma, aperfeigoando o sistema, deu nova compreensio ao tema da au- , que passou sulo proprio como modalidade de presungio de , bem como excluiu os surdos-mudos impossibilitados de manifestar vontade do rol de absolutamente incapazes, Esta foi a disciplina desde a entrada em vigor do atual Cédigo Ch ‘Todavia, como advento da Lei n. 13.146, de 6 dejulho de 2015 — goria de incapaz ‘Trata-se de uma mudanca paradigmitica, sendo ideolégica, Em outras palavras, a pessoa com deficiéncia — aquela que tem impedimento de longo prazo, de naturezs fisica, mental SO MANUAL OE DIREsTO CIVIL able Stoke ecliano © adelte Pamplona Filho ve ser mais tecnicamente considerada 84 do mesmo diploma deixam claro ques da pessoa: neapaz, na medida em que siéncia no afeta a plena capa- “Art. 6° A deficitncia alo afets a plena capacidade civil da pessoa, inclusive para: 1 —casarseeco ~ exercer d eA convivencia familiar e comunitaris; VI— exercer 0 direito & guarda, 8 tutela, & curatela e & adosio, come adotante ou nidades com as demais pessoas”. indo, em Fgualdade de opor 84. A pessoa com deficiéncia tem assegurado o direito 20 «cidade legal em igualdade de condigbes com as demais peso: ciclo de sua eapa- Es te capaa! 10 dispositive é de clareza meridiana: a pessoa com deficiéncia é legal- Considerando-se o sistema juridico tradicional, vigente por décadas, no Brasil, que sempre tratou a incapacidade como um consectirio quase inafastavel da deficiéncia, pode ‘parecer complicado, em uma leitura superficial, a compreensio da alteragio' ‘Uma reflexdo mais detida é, porém, eaclarecedora. Em verdade, o que o Estatuto pretendeu foi, homenageando o principio de da pessoa humana, fazer com que 2 pessoa com deficiencia deixasee de ser “rotulada” ‘como incapaz, para ser considerada — em urna perspectiva constitucional isonémica — dotada de plena capacidade legal, ainda que haje a necessidade de adocao de ins assistenciais espeeificos, como a tomada de decisto apoiada® e, extraordinariamente, ccuratela, para a pritica de atos ns vida civil 5 Note-e ques empreg de expresso “in . ‘Acesco em: 10-ago 2011, p-7) * CC /2002: “Art, 1.113, 0 ato de transformesio independe de dssolugio ou iquidaco da sociede e,¢ obedeceré 0s preceltos reguladores da constituedo ¢ inscricdo prdprios do tipa.em que val onverterae. Art, LLM, A transformagto depende do corseatimento de todas os s6cis, salvo se pre vista te ato consttutvo, cato em que 0 diesdente poderdretirarse da sociedade, alicando-se, 0 llincio do estetuto ox-do contrato sod, o dsparto no art. 1.081. Art, LIS, A ansformapio no rmodifeard nem prejudicara, em qualquer cao, os dieeitos dos credores > Nese sen dade empresiria, 20 cont pessoa Juridica de di 405 MANUAL OE DIREITO CIVIL Pablo Stolze liana © Rodote Pampla cessio de di seja detent tos patrimoniais de autor ou de imager jome, marca ou voz de que lade profissional”. ‘Trata-se de um interessante mecanismo pelo qual prestadores de servigas, inclusive 60s profission: ca, pode- ro se valer dest ‘ando, assim, a constituigao de sacie- ivo deve ser compatibilizado com o pardgrato Uinico do art. 966, que estabelece que “nao s smpresézio quem exerce profis- sio intelectual, de natureza ci ainda com © concurso de auxiliares ou colsboradores, salvo se 0 exerefcio da profissao constituir elemento de em- presa” (grifos nosso). Por fim, deve-se salientar que a disciplina juridica das socledades vel, subsidiariamente, no que couber, as ETREU 4, DESCONSIDERAGAD DA PERSONALIDADE JURIDICA A dostrine da desconsderasio 44 personalidad da pesto ju af egal entity) ganho forya na década de 1950, com a publicagéo do trabalho de ROLE SERICK, professor da Faculdade de Diceito de Heidelberg. Com fulro ema sua toria, pretendeurte ficar a superasao da personalidade lo-se 0 reconhecimento da responsa- precedente jurispruvdencial que permitiu o desenvolvimento da teorla ocorreu na Inglaterra, em 1897. ‘Trata-se do famoso caso Salomon vs. Salomon & Co. Aaron Salomon, objetivando constituir uma sociedade, zeunta seis membros da sua 1m apenas uma agdo representativa, a0 passo que, salda- e-em reconhecer a separagio dos patrimbnios de Salomon e de sua prpria companhia. Em determinado momento, talvez antevendo a quebra da empresa, Salomon cui- dou de emitir titulos privilegiados (obrigagdes garantidas) no valor de dez mil libras erlinas, que ele mesmo cuidou de adquirir. rel a sociedade, 0 préprio Salomon, que passou a ser ere todos os demais credores quirograférios (Gem Apesar de Salomon haver utlizado a companbla como escudo para lesar os demais sredores, @ Camara dos Lordes, reformando as decisées de instincias inferiores, acatou. 4 sua defesa, no sentido de gue, tendo sido validamente constituida, e ndo se identifican- do 2 responsabilidade civil da socledade com a do proprio Salomon, este nao poderia, pessoalmente, responder pelas dividas sociais. pessoa juries Mas a semente da teorie estava langads. a doutrina da desconsideragio pretende o superamento episédico da personalidade juridica da sociedsde, em cato de freude, abuso, ou 3 A 0, abjetivando 2 satisfara0 do terceiro lesado 10 pats jue passam a ter responsabilidade pessoal peo ilicto causado. Claro esta que a desconsideracio da personalidade juridica da sociedade que servit como escudo para a pritica de atos fraudutentos, abusivos, ou em desvio de Fangio 80 pode significa, ressalvadas hipéteses excepetonais, sua aniquilacio. A empresa € um polo de producio e de empregos, (© afastamento do mante protetivo da personalidade juridica deve ser tempordrio ¢ tic, perdurendo, apenas no ato coer até que os crdore fe satisfogano Ft dos préprios Ressarcidos 08 prejuizos, sem prejui dos eavolvides, a empresa, desde que apresente condigde retanto, reconhecemos que, em si ficariam o desaparecimes légico impde diferenciar as expressbes despersonali- lade juridica, ¢ desconside ade. ‘Ambas, porém, néo se confundem com a responsabilidade sdeios, tanto por ato proprio quanto nas hipéteses de corresponsabilidade sol juridica, ponde fim a ela, ao contr hhé um reconhecimento de uma do fato e as suas consequéncias juridicas. ‘Além disso, vale destacar que. teorla da desconsideragio da personalidade juridica também pode ser aplicada de forma “inversa", o que significa dizer iz eo petriménio da ica que a compée esvazia fraudulentamente 0 seu ago fética ensejadora, declarando-se a ocorréncta, ‘quando a pessoa pattiménio pessoal ‘Trata-se de uma visio desenvolvide notadamente nas relagies de familia, de forma , mites vezes, a lamentével pritica de algum dos cOnjuges ‘original, em que se vi 408 MANUAL OE DIRErTO CIVIL wdo-se ao divércio, retira do patrimonto do casal bens que deves \comporando-os na pessoa juridica da qual é sécio, din jo do outro consorte. Nesta hipétese, pode-se vislumbrar a possibilidade de o magistrado desconsider 44 autonomila patrimonial da pessoa juridica, buscando bens que estio em seu pedpt yme, para responder por dividas que nio sio suas e sim de seus sécios, o que, inicial- mente, fi sendo aceito pela forca cristiva da jurispeudéncia, passando a matéria a ser expressamente no Cédigo de Processo Civil de 2015, conforme se verifica do § 2° 38. icamente, 0 Cédigo Civil de 1916 culo XIX, €poca em que os tribunais da Europe se deparavam com os primeiros casos de cdo da teoria, nao dispensou tratamento legal &teoria da desconsideragie. yrudencia, acompanhada eventualmente por leis setoris Coube a juri o desen- volvimento de Defesa do Con- jue incorporou em seu sistema normative norma expressa a respeito da teoria da desconsiderasio: dor se deixou influenciar por uma concepsio objetivis analisar a previsio ainda mais genérica do $ 5° do mesmo dispos que preceitua: “$5 lca sempre que sua persona: lidede for, de elguma for 10 de prejutzos causados aes consumidores’, Contira-se, a esse respeito, o pensamento de ZELMO DENARI, um dos autores do Anteprojeto do Cédigo de Defesa do Cons 62 primeira vez que o direito legislado ac lor: “o texto introduz uma novidade, pois he a teoria da desconsideragio sem levar em automa da pessoa je 2 da de seus membros” Pablo Stolze Gagliane = Rodote Pamplona Filho pessoa jurision 169 ragdo da frauide ou 0 abuso de direito, De fato, 0 dispositive pode ser i purae simplesmente) Splicado pelo juz seo fornecedor (em razio de mé administea er cercar suas atividades como pessoa juridica™™ (0 tema tem sido conhecido, pela doutrina e ju icotomia de teorias da Desconsideragao da Personalidade Juridica: a primeira, deno- tninada Teoria Maior, exige a comprovasio de desvio de finalidade da pessoa juridica ou |; a segunda, por sta vez chamada de Teoria Menor, apenas de- do devedor, ¢ aplicada especialmente no Direito Ambiental ¢ do eclalizadas, como a Consumidor: (0 Cédigo Civil atual, por s consagrou, em norma expressa, nos seguintes termos: ‘vee, colocando-se ao lado das legislagbes moderne, teoria da desconsideracio da personalidade juridica, ado pelo desvio de nto da parte, . caracter pode ofa decid, a requ ou do Ministério Pablico quanda the couber intervir no processo, que 08 efeitos de certas e determinadas relagGes de obrigasies sejam estendidos aos bens particulares dos adiinistsadores ou sécios da pessoa Juridica”. jeragfo seri possivel, a requerimento da parte ou 10, quando Ihe couber intervir, seo abuso consistir em: dade: ) confuséo patrimonial. ) desvio de No primeizo caso, desvirtuou-se © abjetivo social, para se perseguirem fins nio previstos contratualmente ou proibidos por lei. No segundo, a atuacio do sécio ou ad- trador confundiu-se com o funcionamento da prépria sociedade, utilizada como ficar « separagio patrimonial entre ambos. leiro escudo, no se podendo ide [Nas duas situagées, faz-se imprescin social — justificador da suspenséo temporéria da personalidade juridica Consagrou-se, pois, uma linha objetivista, que prescinde da existéncta de elemento specifico de fraudar @ lel ou de cometer um 1a, « denominada “Teoria Maior da Des- consideracio”, qual exige a prova do abuso%, diferentemente da “feoria Menor’, aplica- do Traballs 1 a ocorréncia de prejuizo — individual ov 1NoST), AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL, PROCESSUAL Cl CIVIL, DESCONSIDERACAO DA PERSONALIDADE JURIDICA. REDISCUSSAO. IMPOSSI- PROVIDO. 1. Olegisacor patrio, no 110 MANUALDE DIREITO CIV Pablo Stolze Gagh 1 Roéetto Pamplons Fi ‘Um dado dos mais relevantes, porém, que parece estar pasando despercebido & 0 fato de que nova norma genérica nio desconsideragio aos sécios, mas também, a estende 20s administradores da pessoa juridica, : "Ese dlapotivo pode e consul em um vallosissimo instrument pera fet dade presagd aredicionl pois post, inclusive «responsablizacto dos eft vos benhore” da empres, no ciso cada Yer maa coma — da interposeo de “us de fo” (gament cones com “Tran os eis de anes socitis, quando os titulres reais da petsajurdicaposam como meres admlnisuado: fet pa ellos formas, no intite de faudaro Intrese dos eredores ‘Ademais, poe-se fim «qualquer discusto acerca da possblidade de aleancar 0 patrimnio de administradores nfo sos, cua conduta deve sera maisiddnea posse, tendo em vista tal possibildadeexpresa de sua esponseblzagdo™ A grande virtude, sem sombra de qualquer diivida, da desconsideragao da perso- ralidade juridica prevsta no art. 50 —#todoe reconhecer ser eta ume das grondes Inovagées do CC/2002-— €o estabelecimmento de uma ogra gral de conduta par todas eas travadas na socledade, 0 que eva que os operadores do -2015, fe 6-9-2015) ICA. — TEORIA MENOR — & amp {Gates — Reco oooor7sse13s0s0%21 BA 000077596 213:5050821 Re ta Tacma, Df. 26-8-201, ‘io Paulo: Mzodo, 2004, v. 2, p. 315) : 1 pessoa juriica tenham de fazer — como fariam — malabarismos dogméticos para aplicar a norma — limitada a certos microssistemas juridicos —- em seus correspondentes campos comercial etc). ‘ale destacat por fir, que a desconsderaso da personalidade ariea ¢ peta: mente aplicavel também para as empresas individuals de respousabilidade l . osido este, inclusive, um dos fundamentos do veto ao $ 4° do art 5, EXTINGAO DA PESSOA JURIDICA ‘Assim como a pessoa natural, a pessoa juridica completa o seu ciclo existencial, extinguindo-se. 'A dissolucdo podera ser: rencional — & aquela deliberada entre os préprios integrantes da pessoa ju a, respeltado 0 estatuto ou 0 contrato so >) administrativa— resulta da cassacio da autorizagao de funcionamento, exigida ‘para determinadas sociedades se constituirem e funcionarem. Nesse sentido, 112 MANUAL DE pIREITO CIVIL fo prevsts em if os poder, por sen-§ judicial — nesse caso, observada uma das hipsteses de di ou no estatuto, 0 juiz, por iniciativa de qualquer dos s nar a sua extingio © Codigo Civil de 2002, em set soa juridica ou cassada a au de Inclusive com a satisfacdo das obrigagées tributirias, promover-se-4 o cancelamento da inscri¢zo da pessoa juri que seré averbado no mesmo registro onde originalmente fol inscrita, Ji tendo sido analisado o destino do patriménio remanescente em caso de extn ispde que nos casos de dissolucio da pes- rncionamento, “ela subsistiré para fi sidagdo das sociedades aplicam-se, privado” de 2015 que os "pro iment pe cumini, ato de Hence cegte ceie yr, re ell yom Bose’ “ab pe DOMICILIO aw 41. CONCEITOE DISTINGOES NECESSARIAS ¥ civil da pessoa natural é o lugar onde estabelece residéncia com &nimo definitivo, convertendo-o, em regea, em centeo principal de seus negécios de sua atividade profissional. Note-se a amplitude da definigio Compoem-na duas situagées, que geralmente se confundem, mas possuem caracte- res distintos. ‘A primeica 6 « nogdo de domiclio igada a vida privada da pessoa, as suas relagdes in- texnas,sugetindo o local onde reside permanentemente, sozinho ou com jidade externa da pessoa, & sua vide social éprofisto- entro de seus negéciosjuridicos ou de suas ocupases Domi seus familiares Asegunda, que interessa 2 sefere-se ao lugar onde fi taals. Tanto em un (© Cédigo Civil de 2002 abarcou express lagdo, como se verifica da andlise dos seus arts. 70 ¢ 72: »étese quanto em outra, estamos diante de nogio de domicilio. Steses, admitindo a sua te as dua: “Art. 70.0 idencia ym anime di lo ds pessoa natural €o lugar onde ela estabelece a sua 72. E também domictlio da pessoa natural, quanto as relagBes concernentes & profissio, o lugar onde esta éexercida Parigrafo dinico. Se « pessoa exercitar proflssdo em lugares diversos, cada um deles cconstituird domicilio para as relagSes que Ihe corresponderem” Para uma efetiva compreensio da matéria, faz-se mister fixar edistinguir as nogdes de morada, zesidéncia @ domi ‘Morada 6 0 lugar onde a pestoa natural se estabelece provisoriamente! Confunde- se com a nogio de estedia, apresentada por ROBERTO D& RUGGIERO como "a mals, 1a pessoa e um lugar tomada em consideragio pela lei", ia é porém minima subalterna, néo produzindo em tne relagio de fato entre advertindo que “a sua import 44 MANUAL OE DIRENTO CIVIL abe Sota Gog ‘= RodelfoPomplona Fike ‘tegra qualquer efeito, enzo quando se ignora a existéncia de uma sede mais est4vel para a pessoa” Assim, 0 estudante laureado que & premiado com uma balsa de estudos na. ‘Alemanha, ¢ la permanece por seis meses, tem, af, a sua morada ou estadie’, Fala-se também, para caracterizar esta relagdo transit6ria de fato, em habitaczo. a Diferentemente da morada, a residéncia pressupde maior estabilidade. B 0 lugar | onde a pessoa natural se estabelece habitualmente, RUGGIERO, com propriedade, fala em sede estivel da pessoa. Assim, 0 st uma cidade, local onde costumeirame! ‘Mais complexa é a nogio de dom! sequéncia, a de morada, que mora ¢ permanece habitualmente em porque abrange a de residéncia, e, por con- © domictlio, segundo vimos acima, é 0 lugar onde a pessoa estabelece residéncia ‘tivo, convertendo-0, em regra, em centro principal de seus negécios icos ou de sua atividade profissional. Nao basta, pois, para a sua configuragSo, © simples ato de residir, porém, mais ainda, o propésito de permanecer (animus ‘manendi), convertendo aquele local em centro de suas atividades. Necessidade e fixidex sfo as suas caracteristicas, Compae-se 0 domicilio, pois, de dois elementos: objetivo ~o ato de fixagéo em determinado locals b) subjetive ~ o Bnimo definitive de permanéncia. Assim, s2 0 sujeito fixa-se em determinade local, com 0 propésito de ali permane- cer, transformando-o em centro de seus negécios, constituin, ali, 0 seu domi Por outro lado, nada impede que uma pessoa resida em mais de um loc: Ditualidade), tomando apenas um como centro principal de seus negécios, ou seja, como. seu domictio. Situagio diferente é 9 caso de a pessoa ter uma pluralidade de residéncias, vivendo -nadamente em cada uma delas, sem que se possa considerar uma somente como seu |. Neste caso, considerar-se-é seu domicilio, na forma do art. 71 do Cé- yualquer delas, Finalmente, é importante frisar, em conclusio, que a fixagio do domi ‘tureza juridica de ato juridico nao negocial (ato juridico em sentido estrit). Portuguesa, 2.€6,.p.713) poietio 2. TRATAMENTO LEGAL E MUDANGA DE DOMICILIO (0 Cédigo Civil de 1916 considerou domicilio. la estabelece sua residéncle com ariimo definitivo” (art. 3). Entretanto, se 4 pessoa natural “tiver diversas residénclas onde alternadamente 1a varios centros de ocupacées habituais, considerar-se~4 domi fat. 32) estes on daquclas 0 da pluralidade domic Iugae com sua familia, ¢ em outro exerce a sua atividade profissional ow realiza seus principals negécios juridicos, seré considerado seu domicilio qualquer desses locais. (0 proprio Cédigo de Processo Civil de 2015 admite o principio da pluralidade do- ‘a0 dispor, em seu att. 46, § 1%, que, “tendo mais de um domi cdo no foro de qualquer deles". co lugar onde ela estabelece a sua residéncia com énimo definitive”, Ocorre que “se, porém, a pessoa natural tiver di- versas residéncias, onde, alternadamente, viva, considerar-se-i domicilio seu qualquer delas” (art. 7. Inovou, outrossim, o legislador, a0 substituir a expressdo “centro de ocupagbes ha disciplinas, no art. 72, que: "é também domictlio sates & profissAo, o lugar onde esta é exer~ [Em nosso entendimento, a consagragao do critério referente a relagio profissional é mais adequada e precisa, A preferéncia pelo local onde se travam relagdes profissionais servird nao apenas para definir o domicilio do comerciante, mas também, com mais clareza, 0 domicilio do empregedo — importante para aplicacdo das regras dos arts. 469 © 651, § 18, da CLT — e dos profissionais auténomos em geral jo opera-se com a transferéncia da residéncia aliada & in: rar, A prova da intencio resulta do que declarar a pessoa is idades do lugar que deixa, ¢ para onde vai, ou, se tais declaracbes nio fizer, da propria mudanga, com as circunstancias que a determinaram, Tals regras encon- tram assento no art, 74 do CC/2002. Trata-se de norma juridica imperfelta, uma vez ‘quea falta de declaragto nao acarreta sangio alguna ao omiltente, Aliés, atento a isso, olegislador cnidou de admitir a prova da mudanga do domicilio por meio da anélise objetiva das circunstancias fiticas de alteragio da residéncia (ex: comunicagio de transfertncia ao empregado, posse ¢ exercicio de cargo pitblico, comprovagio de des- pesas de mudanea etc), solo Pamplone Fitho : onicite 7 ” 118 MANUAL OEOIREITO CIVIL Pablo Stolze eal Registee-se quea di danoart. 43 do Cédigo’ ,adotada no Cédigo de Processo Civil de 1973, fol ma 4) as demais pessoas uridicas de dirlto publico — cém por domicito o lugar onde rocesso Civil de 2015?, a fancionarem as respectivas diretorias e administracdes, ou onde elegerem do- : = ricilio especial nos seus estatutos ou atos cor 3. DOMICILIO APARENTE OU OCASIONAL ‘Anecessidede de fixagio do domicilio decorre de imperativo de seguranca juridiea. | Assim, paraas pessoas que nio tenham residéncta certa ou vivam constantemente em viagens, elaborou-se a teoria do domicilio aperente ow ocasional, segundo a qual aguele que cria as aparéncias de um domicilio em um lugar pode ser considerado pelo tereeiro como tendo ai seu domiciio, Aplicagio legal desta teoria encontra-se no art, 73 do CC/2002; “terse-i por domi- cilfo da pessoa natural, que nto tenha residéncia habitual, o lugar onde for encontrada’ Neste local pois, por eriar uma aparéncia de domiclio, poderd ser demandada judicial. @ mente (€0c2s0,v.., dos andarilhos,cigenos, profissionais de circo etc), i ‘© Codigo de Processo Civil brasileiro aplica também tal regra, estabelecendo 0$ 2° do sew art, 45 do CPC/2015 que “Sendo incerto ou desconhecido o domictlio do réu, ele poderd ser demandado onde for encontrado ot no foro de domicilio do autor” observar que o critério legal para a fixagio do domicilio das pessoas to piblico nem sempre se identifica com a regra adotada para determi- rer a competéneia de foro ou territorial Assim, o Cédigo de Processo Civil de 2015 prevé, em seus arts. SI ¢ 52: “art 51. Eompetenteo foro de domicilo do réa para as causas em que sea autora a Unigo. Parigrafo tnico. Se 2 Unido for a demandada, « a¢io podera ser proposta no foro de omiclio do autor, no de ocorréncia do ato ou fao que originou a demanda, no de situago da coisa ou no Distrito Federal ‘Art. $2. B competente o foro de domicilio do réu para as causas em que seja autor Bstado ou o Distrito Federal Pardgrafo nico, Se Estado ou 0 Distrito Federal for 0 demandado, a acto poderd ser no de ocorzencia do ato ot fato que originow 1 demanda, no de situacéo da coisa ou na capital do respective ente federado” 4. BOMICILIO DA PESSOA JuRiDICA ina a direteiz do ineisa f do art. (Observe-se que a nova legislapio processual flex! 99 do Cédigo de Processo Civil de 1973, que direcionava a competéncia para o foro da capital do Estado ou do Territério para as ages em que a Unido ou o Territério for autor, éou interveniente, A Intengo do dispositive vigente é evidentemente facilitar a atuaglo judicial do Seno houver essa fixago, a lei atua supletivamente, ao considerar cero seu domicillo “o lugar onde funcionarem as respectivas diretorias e administragées”, ou, entdo, se possi is em diversos gare, ticados"” (art. 75, IV e§ 1s, do CC/2002). Aliés, o Supzemo Tribunal Federal jd assentou en- privado pode ser demandada no ddomiclio da agéncia ou do estabelecimento em que se praticou o ato” (Sérnula 363). Sea administragio ou diretoria da pessoa Juridica de direito privado tiver sede no cestrangeiro, seré considerado seu domicilio, no tocante as obtigagées contraidas por qualquer de suas agéncias, “o lugar do estabelecimento, sito no Brasil, a que ela corres- ponder” (art. 75, § 2%, do CC/2002). As pessoas juridicas de direito piblico, por sua ver, tem domictlio previsto em le da segulnte forma (art, 75 do CC/2002): 2 os Mt pian 118 MANUAL DEOIREITO CIVIL (Odomictlio voluntirio é 0 mais comum. Decorre do ato! {que fixa residéncia em um determinado local legal ou necessirio decorre de mancdamnento da le, em atengio acon- digo especial de determinadas pessoas, Assim, tém domi Seguindo a dre do Cécigo Civil de 2002 (art. 76), temos 0 seguinte quad: Domietio do neapaz E odo seu representante ou sssstente ki as jer eraanonat etme lugar onde serve-e, sendo de Marina au de Aeronéuica,asede do comand a que se encontraimediatamente subortinado Domica da maritime (lugar onde © navio estiver matriewlado Domicile do prose (lugar om que cumpre a sentonga (O agente diplomiético, por sua vez, que, “citedo no estrangeiro, alegar extraterritoria- lidade sem designar onde tem, no pais, o seu domicilio, poderé ser demandado no Distrito Federal ou no tiltime ponto do terrtério brasileiro onde o teve” (art.77 do CC/2002). O domicilio de sleigio ou espe contrata, Nesee sentido, o Cédigo Civil de 2002 dispoe: , por fim, decorre do ajuste entre as partes de um “Art. 78, Nos contratos escritos, poderdo os contratantes especificar domicilio onde se exercitem e cumpram os direitos e obrigagdes deles resultantes”. ‘Tal disposicio harmoniza-se com 0 estabelecido nos arts. 62 € 63 do Cédigo de Proceso Civil de 2015: ‘Art, 62. A competéncia determinada em razio da matéria, da pessoa ou da funcaoé lerrogivel por convencio das partes. Ast. 63, As partes podem modificar « competéncta em razio do valor ¢ de terri clegendo foro onde seré proposta ago oriunda de direitos e obrigagSes”. Vale destacar, porém, que este dispositive somente pode ser invocado em relagdes juridicas em que prevalesa o principio da igualdade dos contratantes e de sua correspon dente autonomia de vontade. © Orlando Gomes, 2 trater da matévia, prefere elasifear 0 domici necessitio em legal de ori- brigema pessoa no tem domictlo proprio, mas sim, o do represeatante legal” (0b. ct, p10) 9 Isto porque, na seara do Dizeto do Consumidor — endo seria exegero afirmar que ‘a maioria esmagadora dos contratos celebrados no pais sio neyécios de consumo —, Gonsideramosilegal a cléusula conteatual que estabelece o foro de eleicao em benef do fornecedor do produto au serviga, em prejutzo do consumkor, por viola @ disposto spoart 1, [¥, do CDC (considera-se ula de pleno direito a cldusula de obrigagao ii Shasive, que coloque 0 consumidor em desvantagem exagerada, ow seja incompativel comaboa-fée2 equidade). ‘Mesmo que seja dada prévia cincia da cliusula a0 consuinidor, o sistema protetivo inaugurado pelo Cédigo, moldado por superior interesse pablico, probe que o fornece Gorse benefice de tal prerrogativa. ‘Nio se pode negar a desigualdade econémice entre as partes contratantes, somente rnitigada pelos mecaniemos legais de feeios econtrapesos decorrentes do dirigismo con- tratual do Cédigo de Defesa do Consumidor. Compensa-se a desigualdade econdmica le llustracdo, imagine a aguisigio de um tendo stabelecido que o foro de Porto Alegze seria o competente para as demandes tes entre as partes do negocio. ¢ aplicével para as rlagdes de trabalho subordinado, em que o porventara ext ‘mesmo racioci vistuar, impedir ou fraudar a aplicagio dos preceitos contidas na presente Consolida- ‘¢io”) tem sido invocado para falminar qualquer tentativa de utilizagao do institute do foto de eleicdo no Direito do Trabalho, BENS que regula direitos e obrigagSes relativos & propriedade indus ‘Como o préprio nome jd infere, bens corpéreos sio aqueles que tém existéncia ma- corpéreas, que sio aqueles incia apenas Juridica, por for- ga da atuagao do Direito, encontram-se, por exemplo, os direitos sobre 0 produto do Intelecto, com valor econdmico. Embora as relasbes juridicas possam 1. CONCEITO Em geral, bem significa toda utilidade em favor do ser humana, concelte que nio interessa diretamente a0 Dizeite. to tanto bens corpérees quanto ea, coma, vg, 0 fato de que de compra e venda, enquanto os de cesséo, bem como nio podem, em ser objeto de tradigdo (uma vez 0 de uma relacdo juridies, Nio existe consenso dou! Preferimos identificar a coisa sob o aspecto de sua materialidade, reservando 0 vo- ccdbulo aos objetos corpéreos. Os bens, por sua vez, compreender +808 ou materials (coisas) ¢ 0s ideais {gue no sio coisas: os di Note-se que o Cédigo Civil de 2002, apesar de ndo diferenciar os conceitos, consa- {gra 2 expressio bem jaridico compreendendo as coisas e os bens imateriais, 1 adquiridos por usucap ca entrega da coisa), Im 0s objetos corpé- Este eritério de classificagéo cuida do bem em sua concepeéo naturalistica, Bens iméveis sie aqueles que ndo podem ser transportados de um lugar para outro sem alteragio de sua substincia (um lote urbano, v. g). Bens mévels, por sua vez, lo 05 sem quebra au fratura (um computador, vg). Os bens susce- enquadravels na nocto de méveis, sio chamados de semo- 2, CLASSIFICAgAG . Podemos apresentar, de forma abrangente, a seguint i ficacdo dos bens: 24. Dos bens considerades em si mesmos ‘Nessa classificag4o, analisam-se 0s bens em sua individualidade, | importancia pritica, pois a alienagdo de bens iméveis reveste-se de formalidades nio exigidas para os méveis. Diferentemente da sistemitica legal francesa, 86 se pode operar a aquisicio da propriedade imobiliéria, no Direito bra se seguir a solenidade do registro. spenas, a tradicto da coisa 21.1, Bens corpéreas e incorpéreos Embora a classi cada, 0 fato € que tern 10 formal em ep{grafe no esteja prevista na legislaglo codifi- ‘Mas as cautelas com as quais @ aqui. * em relagio a usucapito, js {e propricdade indust pode ser exerci ot possesséris (D/U, 5-8-1991, p. 9997) iméveis com a aut (© Cédigo Civil de 2002, por ‘sua vez, manteve a mesma restrigéo, ressalvando que tal limitagdo néo se aplica aos cOn- juges casados sob regime de separacio absoluta (art. 1.647). todos de um lugar para o outro sem altaracdo de sua Potiem ser deslocados, semauebra ou fraturs, Ex: computador... ‘Semaventes: bens quscativeis de movimento préprio enquadrévels na nocto de, méveis, Ex: cavalo, t (Os bens imdveis sio classificados pela d ina da seguinte forma: a.) Iméveis por sua propria natureza ‘de 2002 considera iméveis “o solo ¢ tudo quanto se Ihe incorporar rt. 79 do CCI2002). 2.2) Iméveis por acessio fisica, industrial ou artificial £ tudo quanto o homem incorporar permanentemente ao solo, como a semente langada a terra, os edificios e construgdes, de modo que se néo o possa retirar sem des- truicio ou dano (art. 79 do CC/2002) Acessao significa incorporacio, unio fisica com aumento de volume da coisa prin- cipal. Nesse caso, os bens méveis incorporados intencionalmente 20 solo adquirem as co forro de gesso utilizado ne construcio da casa. dda obra) ¢, bem assim, as edificagdes que, separadas do solo, mas conservando a sua unidade, forem removides para outro local ( do CC/2002). electual? 4.3) Iméveis por acessio Sio os bens que o proprietirio intencionalmente destina ¢ mantém no imével para exploragdo industrial, aformoseamento ou comodidade. Exemplos tipicas sto os apare- Ihos de ar condicionado, escadas de emergéncia e os maquinarios agricolas. Tals bens podem ser, 2 qualquer tempo, mobilizados. +a polémica sobre a permanéncia, no Direlto Positvo, da utlidade desta categoria, Durante a Bens 1% Sto as chamadas pertencas, bens acessérios de que voltaremos a tratar em topico proprio, ainda neste Capitulo, ad) Imévels por determinacao legal Nessa categoria néo prevalece o aspecto natural tegislador, Prineipalmente por imperativo de seguranca juriica, a lei civil optou por conside- sco do bem, sendo a vontade do rartais bens de natureza imobilidta. Segulndo a linha normativa do Cédigo Civil de 1916, seriam: 05 direitos reais sobve iméveis eas acdes que os asseguram, as apélices da divida pablica gravadas com cléusu- [a de inalienabilidade eo diteito 8 sucessio aberta (art. 44). © Cédigo Civil de 2002, corretamente, excluiu desse rol, por seu evidente aspecto anacronico, as apélices de divide publice cleusuladas. E bom que se diga que, com a nova Lei Codificads, tal classificagdo, apesar de néo haver sido desprezada, ganhou contornos mais simples. A disciplina adotada pelo legis- lador é menos digresciva, limitando-se a considerar iméveis apenas “o soloe tudo quanto se lhe incorporar natural ou artficialmente” (art. 79). Em sequéncia, consoante se ano- tou linhas acima, consideraram-se iméveis por forga de lei “os direitos reais sobre im6- veise as agdes que os asseguram?”, bem como “o direito a sucessio aberta” (art Embora a protecio dada aos bens imobiliérios seja tradicionalmente mais rigida, modernamente 0s bens méveis tém gozado de maior importincia econdmica e dimen. sio social, sendo também de grande importincia 0 seu estudo, ‘Tals bens podem ser assim classificados: bi) Moveis por sua propria natureza Sio aqueles bens que, sem deterioragio de sua substincia, podem ser transportados de um local para outro, mediante o emprego de forca alhela. Eo caso dos objetes pessoais em geral (livros, carteiras, bolsas etc). b.2) Méveis por antecipacéo Sio 06 bens que, embora incorporados a0 solo, so destinados a serem destacados ¢

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