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Gislene Silva Marcos Paulo da Silva Mario Luiz Fernandes (organizadores}. ion CRITERIOS DE Problemas conceituais e aplicacoes N Lat PD Re Lo Ne, SES SE a box >) ab Pty oS L we © Béitora Insular 2015, Cconsetho Editoria ‘Divo Ristoff Eduardo Meditsc, Fernando Sera, Jali Meirinh, Diataiina Aparecida Laguna Sicea, Salvador Cabral Arrechea (ARG) Eéltor Nelson Rolim de Moura Revisie Carlos Neto Capa e projeto gree Valmor Fritsche Programa de Pés-Graduacéo em Jornalismo Ge Universidade Federal de Santa Catarina Cconsetho Cientifico “Afjredo View (UEPE), Antonio Hahlfeldt (PUC-RS), Carlos Francscato (UFS) Gislene Sitva (UFSC), Jorge Pedro Sousa (Universidade Fernando Pessoa ~ Portugal), Sylvia Moretesohn (UFE), Victor Gentil (UFES), Zéia Adghirn (UnB) Coordenacdo Editorial Rogério Christoflet, Francisco José Castithos Karam Critésios de noticiabilidade ~ problemas conceitusis eaplicagbes / ene Silva, Marcos Paulo da Silva e Maxio Luiz Pemandes (orgs) Florianépolis: Insular, 2014, 240p.ciL ISBN 978-85-7474-735-4 1. Jornalismo,2, Notclabilidade 5. Valores-noticia. 4. Silva, Gislene, 5. Silva, Marcos Paulo da. 6, Fernandes, Mari Luiz. Titulo. cppo70 EDITORA INSULAR ‘Rodovia Joo Paulo, 226- Florianépolis-SC-CEP 88050-500 (48) 3252-9591 / (48) 33342729, editoreginsularcombr wewwinsularcombr _CAPITULO 5 LIMITES TEORICOS E METODOLOGICOS NOS ESTUDOS SOBRE A NOTICIABILIDADE” Carlos Eduardo Franciscato iversos estudos dedicados ao jornalismo tém investigado os critérios que os jornalistas utilizam para identificar se um evento é noticiavel. De um modo geral, esses estudos tém fo- calizado: os aspectos ligados ao evento enquanto um ‘objeto’ da investigacao jornalistica; os procedimentos de reconhecimento e selec&o destes eventos como noticidveis; e os modos de padronizacéo dos relatos em tipologias de noticias. O resultado mais comum tem sido a identificacio de certas qualidades ou aspectos recorrentes e, a partir dai, a formulaco de classificagdes com reduzido poder explicativo so- brea noticiabilidade. Buscaremos neste trabalho apontar as limitagdes desses estudos em consequéncia de seus fundamentos tedricos, obje- tivos e metodologia, bem como sugerir formas de reenquadrar estas, abordagens dentro de uma perspectiva mais complexa e, dessa forma, produzir um avanco teérico no tratamento da noticiabilidade. Talvez uma das perguntas mais comuns encontradas em livros que abordam o jornalismo como objeto central de reflexdo seja “O que é noticia?”. A tentativa de definir este objeto tem produzido re- sultados diferentes, mas com uma predominante impressio de que oesforco redundou parcial e incompleto: seja pela caréncia de subs- {37 Este trabalho fi apresentado no X Encontro Nacional dos Programas de Pés-Graduacio ‘em Comunicagso - COMPOS em 2002, Rio de Janeiro, Até o marnento no inka sido publicado, (rene sievA, Hancos PAULO D8 SILVA roam Luiz FERNANDES [ORGANIZADDRES! tancia e amplitude nas definig6es apresentadas, seja porque parece faltar uma anélise articulada a um quadro mais amplo de compreen= so do jornalismo e do seu papel na sociedade, auséncia esta que faz o objeto noticia tornar-se um elemento isolado, descontextuali- nado, Mesmo bons estudos sobre noticia carecem de uma sensacdo de completude, talvez pela incapacidade de apresentarem conceitos {que possam ser generalizados a outros campos além daqueles em que se encontram. ‘Uma das tentativas de resposta a esta questo tem sido formular citérios que revelariam anoticiabilidade de um evento. Noticiabilidade é um termo que enfrenta semelhantes problemas conceituais que Ro- ticia, Wolf propée uma definico inicial, ao considerar noticiabilidade (newsworthiness) como ura “conjunto dos requisites que se exigem dos acontecimentos(..) para adquirirem aexisténcia piblica como noticia” (WOLF, 1994, p. 170). Os estudos que se propdem a entender a noticia- bilidade de um evento a partir de formulacio de critérios operam ge nericamente com pelo menos duas premissas: ¢ possivel encontrar no evento noticioso caracteristicas estaveis e recorrentes que revelariam sua especificidade; esses crtérios sfo, de alguma forma, manuseéveis por jornalistas no seu cotidiano profissional, servindo concretamente como técnica ou recurso de trabalho. (0s critérios de noticiabilidade ou valores noticiosos® tém recebido diferentes formulacdes na literatura sobre jornalismo. Termos como news value ou news judgement originaram-se de um ‘jargo’ comum nas redagBes jornalisticas, sendo captados e utilizados por profissionais © estudiosos como Rosten (1937), Hughes (1940) e Park (1955) na produ- Go de literatura em jomalismo na primeira metade do século XX. De Eee 3a Ascapressbes ‘rtrios de notcabildade’, valores notiiosos, valor noticia 3 he eiirente ratios’ news judgement] au Tatoresnaicloso news factors) fm atv ig ela tteratura quase como sinénimos.Aintengdo principal é descreve ie wen uslgadosrecrrentes das noticias, a forma como edo expresso nes roche slau cbc esd colanamenteconfrmaces na cbsoragio dos modes como pena aig sleconam ae nails. Guando oporturo,comentaremas algunas dereneas sore vupressbes poderam traze, embora, de modo era. mas ustlas como Sindnimos neste text um modo geral, aspectos ligado Istica; os proce como noticidve' tipologias de nc forma, meios de A definicao ba sendo mostr uma complexa noticiabilidade, 0, dos fatores i mais amplas, cc Consideradas as autores, como G ‘Mesmo com bilidade conser tor de classifica isolados de um: relacio a proces em parte, estab operacionalizad te dos estudos q finalidade princi sificagao dos ev pios integrados de se tornarem t Apartir dest este trabalho: ur bre os critérios d dos conforme as tenderemos sug: estudos sobre a formuladas poss le parece ompreen- gs que no- eiabilidade PRoBLENAS CONCENSE ZPLCSEEES um modo geral, os estudos sobre a noticiabilidade tém focalizado: os aspects ligados ao evento enquanto um objeto da investigacao jorna- listica; os procedimentos de reconhecimento e selego destes eventos como noticiveis; ¢ os modos de padronizacéo dos relatos na forma de tipologias de noticias. Todos esses trabalhos fornecem, de uma certa forma, meios de tipificacdo da noticia. A definigéo de noticiabilidade em Wolf, apresentada acima, aca- ba sendo mostrada insuficiente pelo préprio autor, pois ele recorre a uma complexa combinagio de fatores para investigar os critérios de noticiabilidade, sejam eles caracteristicos do evento, do texto noticio- 80, dos fatores internos da organiza¢&o noticiosa e de TelagGes sociais mais amplas, como fatores econémicos, mercadolégicos ou culturais. Consideradas as diferencas, este percurso também é seguido por outros. autores, como Gans (1979) e Van Dijk (1996). Mesmo com uma formulagdo mais completa, os critérios de noticia- bilidade conservam sua caracteristica basica de ser um recurso redu- tor de classificacao da realidade por meio da acentuaco de aspectos isolados de um fato. A noticia é um recorte no espaco e no tempo em relacao a processos sociais mais amplos, e os limites deste recorte sao, em parte, estabelecidos por perspectivas diferenciadas de jornalismo operacionalizadas na forma de critérios de noticiabilidade. Grande par- te dos estudos que se dedicaram a categorizar valores noticiosos teve finalidade principal de sistematizar critérios de ‘Teconhecimento e clas- sificacdo dos eventos. Carecem da construcao de um corpo de princi- ios integrados e articulados que dariam aos estudos a possibilidade de se tomarem teorias, A partir desta abordagem preliminar, propomos dois objetivos para este trabalho: um primeiro objetivo é discutir a literatura produzida so- bres critérios de noticiabilidade, buscando uma organizacio dos estu- dos conforme as abordagens do objeto e suas limitagdes. A seguir, pre- tenderemos sugerir alguns aspectos que poderiam ser acrescidos aos estudos sobre a noticiabilidade, a fim de que as abordagens até agora formuladas possam ser reenquadradas dentro de uma perspectiva teé- "Emami Luiz FeRNANDESIoReawsooREs) tica mais complexa e, dessa forma, produzir um avanco teérico no tra- (el Situada em tamento do objeto noticia. jomatistica esta e Ojornalismo tem sido um objeto tratado diversamente tanto por certas possibilidad estudos tedricos quanto empiricos. Estas abordagens de diferentes biente que configu; tradigdes de pesquisa nao possuem, entre si, uma maior articulagéo tuigo (esempenh de pressupostos sobre o tipo de fendmeno que investigam, as rela- Ges mais significativas e os aspectos mais relevantes a considerar, © que tem levado os estudos a desenvolverem um tratamento con. ceitual divergente. Categorias basilares do jornalismo, como neutra- lidade, objetividade, imparcialidade e atualidade diferenciam-se no modo como sao consideradas, variando desde uma desconstrugéo conceitual, passando por uma desconsiderac&o como objeto tedri- co relevante ou se tornando até um principio ideal para uma defesa acritica do jornalismo. De forma simplificada, podemos considerar que o jomalismo possui_ algumas caracteristicas que perpassam a maiotia das formas sécio- \_shistéricas de sua constituigéo: na construc de se Cipios organizativos PressGes, imposicée: (4) Estar imerso nifica também um v © histéricos que atra constituem os princi construcdo e transmi cado como regulador ‘Sansformagées tecno Streciona certas possit $30 a géneros especific £05, de modo mais gerai Sesultantes de modelo: Sscnomia, da politica e (2) A atividade jornalistica opera com hase em determinados prin- cipios que singulatizam e dio especificidate & sua pratica e ao seu pro- duto, dentre os quais citaremos dois: + terum compromisso ético com uma ideia de verdade do real que pode ser apreendida nos seus aspectos principais e transformada em relato noticioso; * _ produzir contetidos que oferecam a uma coletividade modos especificos de vivenciar situacdes num tempo presente, {21 0 produto jomal Embora o jornalismo re 2 Processos de selecao, Sonsiderar isso um traba (bl Como instituigao social, o jornalismo cumpre um papel social es- Pecifico, nao executado por outras instituicées. A instituicdo jomnalis- tica conquistou historicamente uma legitimidade social para produziz Para um publico amplo, disperso e diferenciado, uma reconstrucao diss cursiva do mundo com base em um sentido de fidelidade entre o relat jornalistico e as ocorréncias cotidianas; (cl Situada em contextos espago-temporais concretos, a instituicéo jomalistica est entranhada no embiente em que atua, 0 qual limita certas possibilidades de produco do contetido jornalistico. E um ame biente que configure relacées e préticas sociais tanto externas A insti- tuigo (desempenho de papéis socieis instituidos e relagies de poder nna construcdo de sentidos e agdes sociais) quanto internas a ela (prin- cipios organizativos da instituicéo, teis como regras, metas, confiitos, pressdes, imposicdes, disputas); (a) Ester imerso em um contexto espaco-temporal concreto sig- nifica também um vineulo do jornalismo a processos sociais amplos e histéricos que atravessam formas especificas de instituigdes e que constituem os principios orgenizativos de uma sociedade, tais como a construcdo ¢ transmissio da cultura, as relacdes econdmicas (0 mer- cado como regulador da circulagdo), as formas de acdo politica e as ‘transformagées tecnolégicas. Isto significe dizer que o ambiente social direciona certas possibilidades de formatos discursivos, tanto em rela- so a géneros especificamente jomalisticos quanto a géneros mididti- Cos, demodo mais geral, Em outras pelavras, formatos jornalisticos 530 resultantes de modelos histéricos de desenvolvimento da cultura, da economia, da politica e da tecnologia; {21 0 produto jomelistico (0 seu texto) no é sintético, mas plural. Embora o jornalismo resuma situacdes, citagdes e opinides utilizan do pracessos de selegao, hierarquizacdo e interpretacéo, ndo podemos considerar isso um trabalho de sintese sequer aproximado ao executa- do pelas ciéncias, 0 jomelismo nao se propée a isso. Em vez disso, ele Sum recorte, uma colagem ou combinacéo de observacdo, descrigio e interpretacao tanto do jornalista quanto da equipe de produgo e das fontes de informagio; (8) 0 produto jornalistico é um permanente diélogo entre os dife- rentes interlocutores envolvidos na sua produgéo ou na sua recepcéo, Gee vorcinciioane (cl Situada em contextos esp jomalistica esta entranhada tuicdo, tais como regras, metas, conflitos, presses, imposicées, disputas); as relagdes econdmicas (0 mer- ¢ado como regulador da circulaco), as formas de aco politica e as transformacdes teenolégicas. Isto significa dizer que o ambiente social i tos discursivos, tanto em rela- resultantes de modelos histéricos de desenvolvimento da cultura, da economia, da politica e da tecnologia; {6) 0 produto jomalistico (0 seu texto) nao é sintético, mas plural. Embora o jomalismo resuma situagées, citagdes e opinides utilizan- {11 0 produto jornalistico é um permanente didlogo entre os dife- Zentes interlocutores envolvidos na sua producéo ou ne sua recepcio, {LELENE SILVA, HARCOs PAULO OA SILVA nal Llz Pennants IoRGAMZA00RES! mesmo que ocorram situacdes de desigualdade na interlocugao, Estar em didlogo nao significa apenas momento da fala, mas também da troca de expectativas e intencSes entre interlocutores: a atividade jor- nalistica produz expectativas e intencdes para um piiblico e, ao mesmo ‘tempo, deixa-se infiuenciar por ele para se adequar a seus interesses; (g) 0 produto jornalfstico oscila entre um trabalho mais marcada- mente individual (quase autoral) e um trabalho coletivo, o que afeta diretamente os modos de sua producdo, os valores aplicados a ele e as formas que ele assume socialmente: + Noprimeiro caso, o produto jomalistico esta entranhado pela subjetividade do autor. Carrega os valores do autor, sua postura perante o mundo/a vide, a sociedade em que vive e aatividade jornalistica que realiza. Sua subjetividade se revela também nas formas como o autor investe emnogées, afetividade e paixdo na sua producao, em relacio aos atores e situacdes com que interage e ao puiblico como interlocutor principal, embora tenha contornos pouco definidos; + No segundo caso, o trabalho em equipe significa a partilhade normas e valores, acarreta a divisio da produgéo e das decisées entre varios profissionais e gera uma diferenca de hierarquias e no processo de deciséo, oscilando entre uma descentralizagao. até uma concentracao das decisées; {th} 0 produto jornalistico funciona como um “documento puiblico” (PARK, 19552, p. 81). Seu contetido rompe a esfera dos lacos de intimi= dade da vida privada e se torna passivel de circular socialmente.c base num uso ptiblica desse contetido pela sociedade. ‘Se o esboco de alguns aspectos gerais do jornalismo enquanto pra tica social parece possivel, o mesmo esforgo para caracterizar a notici= exige maior cautela, Por certo, a noticia, enquanto resultado de um pro cesso de produgio, vem acumulando alguns aspectos estéveis em sus evolugdo, que podem ser relativamente generalizados. Mas, ao mesmo ‘tempo, a noticia é tos dispares: sua de varios process de pelos aspectos: terialidade’, que I quase tinicos, Este aspecto pe mais dificil pela ac rarem que “o valo que o objeto em si vinculada a um e configurado por el noticia-evento var usam para reconh to-em relacdo aos 1 jornalismo aplicar como explicar seu noticiabilidade tén de jornalistica, ma ‘objeto noticia e c Utilizaremos do sico-metodolégicas 0s situam o objeto secialmente) no pr pesquisa osestu ‘sna inicial diferen =uma perspectiva “erralistas usam pz ‘ao, os valores not Todas as citagbes cu) ee deste temo, apenas “it sem um rigor ter Sateresses; o que afeta Bsaeleeas ado pela sua postura atividade bem tempo, a noticia é resultante de uma combinacéo complexa de elemen- tos dispares: sua forma e contetido final representam a convergéncia de varios processos sociais citados acima, acentuados em complexida- de pelos aspectos ‘cultural, expressivo e emotivo impressos em sua ‘ma- terlalidade’, que Ihe fazem assumir contomos particulares e, as vezes, quase tinicos. Este aspecto peculiar da noticia transforma-a num objeto de andlise mais dificil pela academia, o que tem feito autores desde Park conside- yarem que “o valor noticioso € relativo"™ (1985a, p. 82). Primeiro, por- ue o objeto em si oscila em seus préprios contornos:a noticia sé existe vinculada 2 um evento que Ihe parece extemo, mas que configura ¢ 6 configurado por ela; segundo, porque os modos de operar esta relagdo oticia-evento variam tanto ema relaco aos critérios que os jornalistas ‘usam para reconhecimento e nomeacao dos eventos noticiosos quan- to em relacdo aos modelos tedrico-metodolégicos que as pesquisas em Jomalismo aplicam para aprender, nomear e definir a noticia, bem como explicar seus processos de formulacéo. Varios estudos sobre a noticiabilidade tém proposto categorias estaveis presentes na ativida- de jornalistica, mas o seu potencial explicativo tem sido limitado, 0 objeto noticia e o problema da noticiabilidade Utilizaremos dois caminhos para discutir algumas fragilidades teé- rico-metodolégicas dos estudos sobre a noticiabilidade: como os estu- dos situam o objeto noticia (eas qualidades que o fazem ser constituido socialmente) no processo de produgio jomnelistica; e que metodologia de pesquisa os estudos adotam. As préprias terminologias jéindicariam uma inicial diferenca: “critérios de noticiabilidade” parece nos remeter uma perspectiva mais operativa, buscando mostrar quais critérios os jomalistas usam para reconhecer e definir o que é noticiével, Por outro lado, os valores noticiosos poderiam dar mais énfase ao objeto noticia ee asta Sar a Gtagbes cus referéncias ibogrticasestSaem inglés foram raduzdas pelo 240 iets tno, apenas com o objetivo de acter a sa letra, emboras vaturse ane 50 fita Sem um rigor terminelégiconecessérae, portano, podendo canter interes ne Lui PEANANDES (CRO alidades que uma em si; seu sentido principal estaria fundado nas 9 ‘otermo valor pudesse ad- roticia possui considerando os sentidos ae quirir ao jornalista e ao publico. "A questéo, no entanto, se complica quando observamos os estudos americana de pesau- esenvolvidos principalmente ne tradigdo norte Tas situamo objeto noticiae suas qualida- des dentro da atividade, Neste caso, parece-nos Qe © ‘maior parte dos testudos considerou queos critérios de noticiabilidade paseiam: (1) sobre o event 1 fiuxo do real) ou sobre as vaticjas (como recorte construido doreal); (2) $0B76 0 ato de selecionar padronizadas e internalizades pelo jornalista, as quais possibilitam weal trabalhe de forma rapida eeficiente, Um segundo as- pecto, interligac Uiblizadas em diferentes fases da pesquisa ‘emjornalismo equeresulta- sa, Primeiro,na forma como el fundamn-se ou? ito externo (com como um procedimento rotinizado baseado em Ut conjunto de regras. que o profissior via este, era considerar quais metodologias tom. sido dos foram alcancados. 110 evento como fonte de noticiabilidade — um dos quadros de re- ferancia mais conhecidos ¢ inicialmente utilizados para a anélise da mrticiabilidade de um fato €o que se convencionot! chamar de teori lho sua tese era de que as caracteristicas principais de noti- ciabilidade de um evento encontravart-se 7 proprio evento, anterior teindependente da atividade jomalistica, cabendo apenas ao jornalista a de um espelho, refletir a imager (© evento) a tarefa de, & semelhan para um pablo, Foi nesta compreenséo a0 surgiram algumas tipolo~ ‘omo as hard news (noticias urgentes © importantes) gias de noticias, soft news (noticias leves € agradaveis, sem o imperative do tempo),e™ que a caracterstica do evento conduzia & classificagao e 0 aproveita- Frento do relato jornalistico produzido. ih perspectiva funcionalista norte-americanty de certa forma, ali- smentou esta idea, embora Lippman fizesse & em 1922, uma critica & possbilidade de a noticia deserever ou conte ‘averdade ou a realidade. Para o autor, alimitada natureza da noticia edo ‘modo de produc jor do esp nalistica fazia co nao os descrever 358-65). A teoria) década de 1960, r de atuacao de je cia: de modo sim conjunto diversis eventos como Sé que, neste c aos fatores que Autores c metodologia hipétese de te processo de ‘es, Tal model 70, pois, confi comparagao da falsificago: do evento). Si nesse nivel, es que uma pudesse ad- ou sobre as selecionar de regras essibilitam -gundo as que resulta- crrrénos o¢ EERE nalistica fazia com que sua fungo fosse apenas sinelizar os eventos, no os descrever ou representar completamente (LIPPMAN, 1922, p. 358-65). A teoria do espelho comegou a enfraquecer principalmente na década de 1960, quando estudos criticas descreveram as formas ativas de atuagao de jornelistas e fontes de informaco na produgao da noti- cia: de modo simplificado, a tese principal dos criticos era de que um conjunto diversificado de fatores, no ambito da produgio jornalistica, interferia na definigao, selecdo e exclusio de eventos potencialmente noticiaveis (GANS, 1979, p. 79). Se a perspectiva do espelho, em si, ndo mais produz resultados teé- ricos relevantes, as investigagdes sobre o potencial significative dos ‘eventos como fontes da noticiabilidade continuaram a se desenvolver. 'S6 que, neste caso, o evento é estudado enquanto um recorte, cujos li- mites so estabelecidos por convencées jornalisticas que possibilitam isolé-lo de conexées com um fiuxo continuo caracteristico do movi- mento do mundo. A cléssica regra jornalistica de que cada noticia de- veria apresentar, téo imediatamente quanto possivel, respostas para as questées “Quem? O qué? Quando? Onde? Por qué?”, - e “Como?”, segundo alguns autores (MANOFF e SCHUDSON, 1986, p. 3) - impée um procedimento de recorte e isolamento do fato noticioso em relago 0s fatores que o gerarame lhe dao sentido. ‘Autores como Rosengren (apud STAAB, 1990) propuseram uma metodologia de pesquisa quantitativa sobre os news factors, que pu- dessem revela-los conforme se encontrassem nos eventos mesmos, sem a mediacao da cobertura jornalistica. Sua metodologia partiu da hipétese de que os eventos seriam varidveis independentes, eo restan- te proceso de produc jornalistica comporia as varidveis dependen- tes, Tal modelo foi alvo de critica em periédicos europeus da década de 70, pois, conforme Schulz (apud STAB, 1990), néo era possivel uma comparago entra a realidade e a realidade da midia usando a logica da falsificagdo (de que a interpretagiio da midia falsificaria a verdade do evento). Staab (1990, p. 433-4) considera possivel uma comparacéo nesse nivel, mas admite que indicadores da realidade (particularmente de base estatistica) independentes da cobertura da midia descrever apenas amplas estruturas dos eventos, ndo dando conta para a formu- lacdo mais precisa dos valores noticiosos. Em outras palavras, esta se- ria uma metodologia cuja capacidade de teste empirico da concepcao de fatores noticiosos tem uma validade restrita. ‘As bases do problema residem na prépria concepgao teérica sobre 0 evento. Estas abordagens procediam de uma perspectiva realista que interpretava os valores noticiosos como aspectos objetivos dos even- tos (STAB, 1990, p. 433), cuja critica foi desenvolvida por perspec tivas construcionistas com diferentes bases teéricas e metodologias. (2) 0 ato de selecionar como condutor da notictabilidade ~ um gran- de niimero de estudos, principalmente de tradig&o norte-americana, formulou categorias para identificar a noticiabilidade utilizando como principal objeto os procedimentos executados pelo jornalista ao sele~ cionar os eventos possiveis de se tornarem noticia. Hé diferenciagies_ nas énfases e aspectos do ato de selecionar noticias. Um grupo de e= tudos priorizou a anélise dos aspectos organizacionais da atividade: = organizac&o impoe regras, etapas, metas a serem executadas pelos j nalistas, adequadas ao fituxo organizacional. Por exemplo, o autor norte-americano Warren Breed, em sua tese doutoramento The Newspaperman, News and Society, em 1952, parti da perspectiva funcionalista de estudo das organizacées jornalisti para formular uma tipologia das noticias. Inicialmente, 0 autor bu: investigar principalmente os fatores de controle inerentes ao proce de produco da noticia, Se por um lado ele deu énfase a fatores in nos a organizacao (como os cargos hierdrquicos de decisao), por 0% Iado sua investigac&o constatou que “nao somente fatores indivi mas fatores culturais, sociais e profissionais compéem o proceso. tomada de decisées” (BREED, 1980, p. vi). Isto levou Breed a cot um quadro bastante diversificado de caracteristicas sobre a nat da noticia. O problema, neste caso, é que a pripria diversidade o & construcdo de miltiplos tipos de classificagéo, os quais 0 autor sobrepondo un sarticulado, un lismo da época, A organiza vestigagao pare newsmaking qu Sicamente as in constrangiment eausado sobre a ®zitmo produtiv 55, particular economia de: 2 das informa Os critérios d sso de produca tho jomalistic: Um pequeno ¢ Scubilidade foi $e organizacion descrevem carrénios o: Be sobrepondo uns aos outros. O resultado é, a0 mesmo tempo, rico e de- sarticulado, um aspecto relativamente comum nas pesquisas de jorna- lismo da época. A organizagao jornalistica foi um dos campos privilegiados de in- vestigacao para os pesquisadores da linha de estudos denominada de newsmaking que, a partir dos anos 70, tém identificado mais sistera- ticamente as influéncias que as rotinas do trabalho jornalistico e os constrangimentos da estrutura organizacional de uma empresa tm causado sobre a produgo da noticia. Eles tém buscado perceber como 0 ritmo produtivo imposto pelas modernas administragdes normatiza- das, particularmente o planejamento das acées mediante um critério de economia de tempo e de recursos, interfere na coleta, selecdo e edi- ‘do das informagGes pelos jornalistas, Os critérios de noticiabilidade, mesmo submetidos a légica do pro- cesso de producdo, tornam-se um desses fatores condicionantes do tra- balho jornalistico. Um pequeno deslocamento de énfase nas. investigagGes sobre a no- ticiabilidade foi feito por autores que, em vez de priorizarem uma ané- lise organizacional, centralizaram seus estudos sobre o trabalho coti- diano do jornalista, particularmente sobre como ele executa o ato de selecionar, seja no ambito interno ou externo a organizagao, Um traba- Iho classico é 0 de David White (1950) sobre o gatekeeper que filtrava, seletivamente, os eventos com maior notic ‘iabilidade dentre aqueles de ue tinha cotidianamente acesso. Outro é de Leo Rosten, que estudou a atuacao de 127 jornalistas correspondentes de jornais norte-america- ros em Washington e concluiu que toda a producéo jornalistica, sejao trabalho de coleta de informacées nas ruas ou a edico do material nas. redacOes, repousava sobre a ideia da “selecdo” (1937, p. 255). O autor descreveu um conjunto de caracteristicas que possibilitavam a certos eventos politicos tomassem-se noticidveis, por exemplo: “alto grau de importancia social ou histérica” do evento; a énfase em “acdes de per- sonalidades e esteredtipos”; e a primazia de situagées de “confiitos”, particularmente com pessoas conhecidas. am cuz PeRNANGES ORGANIZADORES! ima imitagdo entre jornalistes nas er jornalistes af sncepeo variava conforme as (Suitability judgen as preferéncias e motivacées eee s linhas editoriais dos jor es cis6rios dos jorna classificago dos tiva das noticias, Rosten percebia que, se havia w formas de identificar as noticias, a sua cot diferencas de perspectivas dos editores, dos diretores das empresas jornalisticas, a nais eo publico das cidades onde circulavam, diferencas que 0 jornalis- ta aprendia no dia-e-dia da profisséo: “Por tentativa-e-erro o repérter aprende quais valores seu jornal estabelece em diferentes momentos (ROSTEN, 1937, p. 256). noticioso anterior “Um autor indispensével nesta perspectiva de estudo do ato de se~ Neste caso, 0 0 ecionar é Herbert Gans. Seu principal livro sobre jornalismo; Deciding Ema perspectiva ( What's News, faz. uma descrigao minuciosa de quais os procedimentos wancia entre categ e critérios o jornalista usa para selecionar pautas, fazer apuragoes, Te porele. Se, por um latar esses contetidos em formato noticioso e edité-lo. O autor consi= gadro descritivo ¢ dera que o jornalista rotiniza suas tarefas (GANS, 1979, p. 78), usande Rpresentadas de fi critérios padronizados de decisao (considerations, conforme 0 autor) Btribuicso clara do hhavendo uma forte influéncia exercida por fontes de informagao. Ins ‘Serias analiticas ir teressa-nos discutir uma das preocupagies de Gans: descobrir come Ssenomia (¢ as tec o jomalista executa seus julgamentos sobre o que (e como) pode ses Mg, @asteriormente uti apurado na reportagem e editado em formatos préprios de cada veicis en) Io, usando, para isso, os critérios padronizados para decidir de fo ibesquise 6 que mais répida e simplificada. Embora padronizados, esses critérios flexiveis (para adaptarem-se a uma diversidade de noticias) e rela nais (podendo ser comparados e combinados). Em Gans, a noticia & produto final desse processo de julgamentos sucessivos baseados critérios padronizados de tomada de decisOes ~ ou seja, os critérios noticiabilidade estariam fundados nas regras, padrées, convencoes condicionantes da producao jomnalistica que guiam as decisGes (6. ‘em empresa 1979, p. 82-3). merit Gans considera que a selecdo das noticias ¢ composta essen cia necessé mente de dois processos: por um lado, os jornalistas realizar *) Ss assur mentos de disponibilidade” (availability judgements) durante o px Biam guias p so de captacao de informagdes que constituirao as noticias, ha ices; ‘uma ascendéncia de atuacéo das fontes nesse proceso. Por outro enismo: ~alistas nas nforme as notivagdes 5s dos jor- 2 ojomnalis- o repérter ~omentos” 1 de se- Deciding sdimentos aces, re- tor consi- 3), usando =o autor), “ago. In- brit como pode ser sda velcu- de forma sitios séo erelacio- iciaé um, zados er ‘térios de rvengbes e s (GANS, sssencial- on julga- >proces+ havendo stro lado, os jomnalistas desenvolvem também “julgamentos de adequabilidade” (suitability judgements) dos contetidos &s expectativas e preferéncias dos leitores. Os critérios padronizados de decisio facilitam e aceleram esses julgamentos. Gans os formulou baseando-se nos processos de- cisbrios dos jomalistas. Ou seje, sfo recursos operativos de selegdo classificacao dos eventos, que nao contemplam uma andlise substan- tiva das noticias, nem eventuais caracteristicas intrinsecas ao evento noticioso anteriores a intervencéo jornalistica, Neste caso, o objeto noticia que surge nos estudos de Gans no tem uma perspectiva definida, pois o autor ndo estabelece graus de rele- vancia entre categorias que qualificam a noticiabilidade apresentadas Por ele, Se, por um lado, estas categorias sao ricas porque compoem um quadro descritivo diversificado da atividade jomalistica, por outro estéo apresentadas de forma assistematica, sem uma hierarquia nem uma atribuicdo clara do valor explicativo que possuern, Dessa forma, cate- Sorias analiticas inicialmente criticadas por ele, como a tecnologia e a economia (e as teorias que se baseiam nelas) (GANS, 1979, p. 79) sao osteriormente utilizadas pelo autor para compor seu quadro descritivo, O aue parece significativo na tradigéo norte-americana e europeia de pesquisa é que 0s valores noticiosos so colocados em uma posicao anterior e causal ao momento em que a produgdo jornalistica ocorre, conforme Staab (1990, p. 427), No: primeiro caso, seriam elementos que epresentariam um modo de reconhecimento da noticiabilidade dos eventos por parte dos jornelistas, cujatarefa seria de identificas, captu- rar o fato por meio de técnicas préprias e orelatar num texto noticioso, No segundo caso, a prépria atividade jomealistica, orgenizada coletiva- mente em empresas, como que moldaria um conjunto padrio de qua- lidades que permitiria a atividade desenvolver-se com a velocidade e 2 eficiéncia necessérias. Apés constituidos na instituigao jornalistica, 2s8es valores assumiriam uma posigao de anterioridade e causalidade, pois seriam guias para a producao, As abordagens construcionistes da noticia ampliam a descrigao desses mecanisimos que conduzem & formulacdo dos critérios de noti= SSENE SIVA, WaRCDS PAULO DA SILVA {Ebina Lut FEANANDES (OROANIZADORES! ciabilidade, £ mantida uma forte énfase nos processos institucionais I+ gatos & orgenizacio e ao relacionamento do jornalista com suas fontes de informacao, ambos condicionando a definico do que é noticiével. Entretanto, hé uma ampliago da rede de condicionantes: os processos sécio-histérico-culturais tornam-se pecas-chaves neste argumento. A noticia seré conformada como resultante das posigdes sociais predo- minantes dos individuos e grupos sociais envolvidos com a produce jornalistica, e principalmente em consequéncia das concepgées e valo- tes culturais que eles partilham (como a ideologia) por pertencerem ‘uma comunidade (TUCHMAN, 1978). Em outras palavras, as noticias sdo socialmente construidas, ¢ 05 critérios de noticiabilidade sio resultantes deste partilhamento e con- senso de valores em uma comunidade. Por um lado, tanto a ideia de que a selecdo de noticias estaria baseada em qualidades intrinsecas aos eventos quanto a potencial capacidade do jomnalista de intervir na condugo do seu trabalho perdem forca para determinantes s6cio-cul- turais—Stuart Hall cita as fontes de informacao como “definidores pri= mérios” dos eventos noticiosos, ¢ os jornalistas, embora sejam dotados de uma autonomia relativa, atuariam secundariamente ao reproduzir © enquadramento inicial das fontes (1978, p.58). Por outro lado, a noticia: ‘assume uma posi¢do privilegiada na sociedade, pois seria uma conden sagio destas determinacdes em um produto sécio-cultural fundamen tal na construgéo de processos, relagées e contetidos sociais. Parece -nos que, na perspectiva construcionista, os valores noticiosos pera forga na producéo jomalistica, néo sendo adequado atribuir-Thes posigdio de causalidade. Alguns estudos que tém reforcado o papel elementos sécio-culturais na producao noticiosa situam os valores ticiosos como consequéncias (endo causas) destas determinacées, Em outro aspecto, notamos a extensa predominancia de me logias qualitativas de pesquisa sobre a noticiabilidade, embora, = década de 1960, estudos quantitativos ocorressem especialmente linha norte-americana de pesquisas em comunicacéo (TUCHB 1991). O crescimento da pesquisa qualitativa introduziu a obs= participante das com enti bibliografica ha o crescim perspectiva ¢ cultural de tr social, aestr 1980; TRAQL da noticia co logia e analis DRIGO ALSI Dimensées Podemos | nomia tanto ¢ cristalizadas estabelecer a tegorias. Exp comum de tip sémenos noti Zzemeno ot Um primei fos estudos : Ses da exper Bbdos de viv movimentd ue os crit aceitos c bservacdo carrénos ce Aenea Participante como uma técnica mais usual nesses estudos, combina- das com entrevistas em profundidade, andlise de conteido, pesquisas bibliograficas ou em documentos histéricos. A partir da década de 1970 hé o crescimento de metodologia e interpretagio de dados em uma Perspectiva etnometodolégica, com um mergulho no mundo social ¢ Cultural de trabalho do jomalista para captar vinculos entre a prética Social, a estrutura institucional e a produgéo cultural (SCHLESINGER, 1980; TRAQUINA, 2000). Outra metodologia interessante é a andlise da noticia como texto, conforme vern sendo desenvolvida pela semio. logia ¢ andlise de discurso a partir dos anos 80 (VAN DIJK, 1996; RO. DRIGO ALSINA, 1988). Dimensdes da noticiabilidade Podemos partir, entdo, da critica construcionista a ideia de auto- omia tanto dos eventos quanto dos valores noticiosos em categorias cristalizadas e propor uma discussio sobre essas qualidades buscando estabelecer algumas relacdes que reorientam e rearticulam essas ca. tegorias, Experimentaremos tentar um avanco em relacdo a tendéncia comurm de tipificar e classificar as qualidades mais recorrentes dos fe- ‘némenos noticiéveis ese possivel, atingir urna maior unidade na abor. dagem e no objeto analisado. Um primeiro avango seria compreender as categorias propostas nos estudos sobre a noticiabilidade como componentes de dimen. Sées da experténcia humana e, como tal, sio construcées socials de modos de vivenciar esta experigncia no cotidiano e na vida piblica, © movimento teérico para esta mudanca de status nao é simples, J que os critérios de noticiabilidade tém sido predominantemente descritos como recursos operativos de reconhecimento e nomeacao dos fendmenos por parte dos jornalistas para possibilitar a constra, S80 de seus relatos noticiosos e, num segundo momento, por parte da sociedade, que identifica estes relatos a partir de uma érbita de sxpectativas prévias que possui a respeito de quais contetidos se- tiam aceitos como noticiosos, Faremos, portanto, um exercicio teérico procurando colocar algur mas das principals qualidades da noticiabilidade em dimensées espe" cifeas, para nos auxiliar a visualizer sua complexidade social, Imaghe naremos que algumas categorias oscilam entre dois polos, como em ‘uma dimensdo dual. Em um dos polos estaria uma qualidade extrema do fendmeno, cristalizada na forma de uma categoria ou critério deno- tlelabilidade usado para caracterizer publicamente a noticia; m outro, testaria a sua negacdo, a auséncia desta qualidade e a consequente ne- gacéo da noticiabilidade. Acreditamos que este procedimento facilita a sicualizacio da complexidade da noticia como fendmeno sociale das jnumeras relagdes que qualificam e ddo sentido a ela. Vejamos como isso se processa com alguns exerplos: ‘Atualidade e distanciamento do tempo presente a temporalidade jornalistica tem aparecido com freqiiéncia em estudos sobre a noticia~ ilidade como um critério que indica um fenémeno como noticidvel por stias qualidades temporais. Algumas categorias, como brevidade. imediaticidade, periodicidade, novidade, instantaneidade ¢ 0 proprio temo attalidade, sao encontrados em obras de Groth (Belau, 1966), Park (1955), Rosheo (1975) +6 (1988), Gomis (1991) e Van Dif analisar a nogao de temporaliaa: que ofereceu uma caracterizacao do potencial evento, embora pouco sistematica. (0 sentido de temporalidade como um vinculo primordial oferecs pelo jornalismo é uma das categorias fundamentais na concep¢ao noticia para Park. 0 tempo da noticia é 0 tempo presente. As notic ‘ndo esto primariamente relacionadas nem com 0 passado, nem co futuro, mas apenas no presente (PARK, 1956a, p. 78). Eoque signit para Park, “tempo presente”? Poderos interpretar que 0 Presents tempo da aco, ndo sé a ago embutida no acontecimento not ras da acio que possa ser gerada a partir do elato jomalistico. contificagio da noticia estaria também na sua potencialidade d= de noticiabilidade de ), Tuchman (1978), Schudson (1986), Moras ik (1996). A titulo ilustrativo, podemes: ade jomalistica em Robert Park, aut lembrada e repeti ‘noticia é sempr gue nao as faca a Se, para o aut dante da noticia, temente constitu insights para delir do de temporalide the faltou maior s pectos que, por sit percebidos nos es Resumidamen fica refere-se a ‘=mporalidade de sedimentar a exp Sefnidos, seja co eendo a agenda ¢ =e temporalida Seizada industri S=mporalidade cor peovesso de recep. Interessa-nos Bee do produto aco das cate num polo ex de tempo real fade seriam circulagio si gue, quanto r eno estaria Eeretanto, adi determinaga ralidade colocar algu- jensdes espe- social. Imagi- polos, como em idade extrema critério deno- ticia; em outro, no sociale das Vejamos como 2 temporalidade sobre a noticia- como noticiavel como brevidade, siade e 0 préprio (Belau, 1966), n (1986), Mora- na concepcao de ente. As noticias sado, nem como PROBLENAS CONGEITUNS E APL CHET lembrada e repetida porleitores:citando Charles Dana, Parkafirma que “noticia é sempre (..) algo que faré as pessoas comentarem, mesmo que nao as faca agir” (PARK, 1955, p. 80). Se, para o autor, o sentido de tempo presente ¢ um elemento fun- dante da noticia, ao mesmo tempo essa formulacio no esta suficien- temente constitufda em termos teéricos. Park ofereceu interessantes insights para delimitar a especificidade do jomalismo, trazendo o senti- do de temporalidade como o centro de uma construcdo conceitual, mas Ihe faltou maior sistematicidade e acabamento teérico nos estudos, as- Pectos que, por sinal, sao recorrentes na sua obra, mas particularmente ercebidos nos estudos sobre jornalismo (KURTZ, 1984), Resumidamente, podemos lembrar que a temporalidade jornalis- tica refere-se a uma rede de elementos: (a) um contetido que revela a temporalidade de uma ocorréncia; (b) um contetido que contribui para sedimentar @ experiéncia da vida piblica em um tempo e um espaco definidos, seja construindo sentidos de imediaticidade ou estabele- cendo a agenda dos temas considerados relevantes & sociedade; (c) uma temporalidade marcada pelo ritmo e velocidade da produgéo or- ganizada industrialmente e pela periodicidade da circulagao; (d) uma temporalidade construida por relagdes discursivas e pelos ‘eitores’ no processo de recepcéo, Interessa-nos aqui acentuar que o processo que marca a tempora~ lidade do produto jornalistico néo fica adequadamente definido com a utilizagdo das categorias anteriormente citadas. Isto porque elas se si- tam num polo extreme, o polo er que se cristalizou um ideal jomnalis- tico de tempo real na producéo noticiosa: a imediaticidade ou instan- taneidade seriam a auséncia de intervalo temporal entre o fenémeno ¢ sua circulagao social na forma de noticia. Uma consequéncia légica seria que, quanto mais distante deste polo do imediato, mais distante 0 fendmeno estaria de ser noticiavel. Entretanto, a dimensao temporal no jornalismo nao opera com base numa determinagéo exclusiva do tempo cronolégico. Diversas relagdes Ge temporalidade atuam simultaneamente dentro desta dualidade, em ssdes espe- ‘como em. e extrema quente ne- lembrada e repetida por leitores: citando Charles Dana, Park afirma que “noticia é sempre (..) algo que faré as pessoas comentarem, mesmo que ndo as faca agir” (PARK, 1958a, p. 80). Se, para o autor, o sentido de tempo presente é um elemento fun- dante da noticia, ao mesmo tempo essa formulacio néo esta suficien- temente constituida em termos tedricos. Park ofereceu interessantes insights para delimitar a especificidade do jonalismo, trazendo o senti- do de temporalidade como 0 centro de uma construcéo conceitual, mas Ihe faltou maior sistematicidade e acabamento teérico nos estudos, as- Pectos que, por sinal, s4o recorrentes na sua obra, mas particularmente percebidos nos estudos sobre jornalismo (KURTZ, 1984). Resumidamente, podemos lembrar que a temporalidade jornalis- tica refere-se a uma rede de elementos: (a) um contetido que revela a temporalidade de uma ocorréncia; (b) um contetido que contribui para sedimentar a experiéncia da vida publica em um tempo e um espaco definidos, seja construindo sentidos de imediaticidade ou estabele- cendo a agenda dos temas considerados relevantes A sociedade; (c) uma temporalidade marcada pelo ritmo e velocidade da produgéo or- ganizada industrialmente e pela periodicidade da circulagéo; (4) uma temporalidade construida por relacGes discursivas e pelos ‘leitores’ no processo de recepcéo, Interessa-nos aqui acentuer que o processo que marca a tempora- lidade do produto jornalistico nao fica adequadamente definido com a utilizacao das categorias anteriormente citadas. Isto porque elas se si- ‘tuam num polo extremo, o polo em que se cristalizou um ideal jornalis- tico de tempo real na produgo noticiosa: a imediaticidade ou instan- taneidade seriam a auséncia de intervalo temporal entre o fenémeno e sua circulagao social na forma de noticia. Uma consequéncia légica seria que, quanto mais distante deste polo do imediato, mais distante o fendmeno estaria de ser noticiavel. Entretanto, a dimensao temporal no jornalismo nao opera com base numa determinagdo exclusiva do tempo cronolégico. Diversas relagdes de temporalidade atuam simultaneamente dentro desta dualidade, em conexdo com outras dimensées do objeto. Eventos ocorridos em dife- rentes tempos sociais, alguns hé décadas, podem compor as paginas de ‘um mesmo jomal, desde que sua revelacao tenha relevancia social. 0 sentido de tempo presente produzido pelo jornalismo oscila por umm mero indefinivel de relacdes entre fenémenos sociais, alguns nao faci mente perceptiveis pelas técnicas jornalisticas, Assim, compreender a noticia em sua complexidade ¢ perceber que os valores que orientam a identificagio da noticiabilidade de um evento referem-se a dimens6es da experiéncia social no cotidiano e na vida publica. Continuidade e ruptura— esta dimenséo se refere principalmente 20 movimento das coisas como expresso de permanéncia ou mudanga no fluxo dos eventos, As noticias oscilam em um movimento pendu- lar entre o pélo da continuidade e outro da ruptura (ou da mudanga, ‘jum sentido menos extremo). Exemplo interessante desta énfase na ruptura com o novo que marca a noticiabilidade podemos encontrar na forma como Lippmann se refere 4 natureza da noticia: “A noticia nao conta como a semente esta germinando no solo, mas’ pode contar quan- do o primeio broto surge & superficie” (LIPPMANN, 1922, p. 341). Os critérios de noticiabilidade apenas superficialmente conseguem acompanhar esse movimento, utilizando categorias (como o inespera~ doe o imprevisivel) que somente orientam para a selecao de situaces pontuais e congeladas deste movimento. Este aspecto é abordado por Park, ao exemplificar algumas qualidades que um evento deve ter para se tornar noticia: “ser inusual para excitar, surpreender ou chocar seus leitores” (PARK, 1955a, p. 80). Ser inusual ou inesperado remetem a0 fato de que a vide cotidiana gira em torno de uma rotina previsivel, ‘mas uma quebra dessa rotina por meio de um fator imprevisivel om incidental gerard noticiabilidade. Na mesma direcao, Bogart (1989, 230) identifica o inesperado como uma qualidade da noticia, tanto, recurso narrativo como um aspecto da vida cotidiana, ‘Mesmo estas qualidades descrevem pouco sobre a natureza da ticia. As publicagées e os programas jornalisticos estdo repletos de jos ern dife- paginas de sia social. O mudanga, énfase na scontrarna eonseguem pinespere- situacdes shocar seus IAB APLICAGOES tuagSes construfdas com base numa quase negacéo da ruptura, isto numa perspectiva de continuidade de eventos ou, a0 menos, num sutil entrelacamento entre ruptura e continuidade. Galtung e Ruge (1965), ao estudarem como os jornais da Noruega cobriam conflitos em pai- ses do Terceiro Mundo, descreveram uma tendéncia & permanéncia de um fato em uma cobertura jornalistica mesmo apés sua amplitude ter sido drasticamente reduzida (1965, p. 64-91). Isto significa dizer que considerar como qualidade da noticia apenas o extremo da ruptura é explicar pouco sobre a noticia. 0 polo da continuidade também é fonte denoticiabilidade, se ndo na sua forma pura, ao menos combinada com amudan¢a e a transformagéo. Normalidade e anormalidade - esta dimensao segue um modo de operac&io que guarda semelhancas & polaridade continuidade-ruptura. A anormalidade seria uma forma de ruptura, mas particularmente referida a um ambiente de continuidade de hébitos e concepgdes em que predo- minantemente operam marcos culturais, que forneceriam as regras de reconhecimento e nomeago dos padrées de normalidade de compor- tamentos, objetos, situacées e, em contraste, do que é anormal, Isolada~ ‘mente, estes marcos culturais nao definem a noticiabilidade, mas orga- nizam um campo interpretative e expressivo com base nos quais as noti- cias adquirem sentidos tanto para o jornalista quanto para o seu piblico. Esta dualidade é profundamente transpassada por ordens culturais. Em um extremo esto aspectos comumente tipificados em critérios de noticiabilidade sugerindo uma situacao de anormalidade: o extraordi- nario, o excessivo, o inédito, o absurdo ou a inversao em relagao ao flu- x0 dos fatos considerados normais (RODRIGUES, 1993, p. 28). Em outro extremo estaria a sua negacao, o campo das coisas ordinarias ou com: um padrao de presumida normalidade. Os estudos que seguem esta linha vdo tratar o jornalismo predomi- nantemente como um ato ritual dramatico que retrata e confirma um certo modo de vere vivenciar omundo, oferecendo um sentido de comu- hao, partilhe, posse de “fé comum’, conforme infiuéncia de Durkheim (1965), Hé uma énfase nos aspectos expressivos que compdem o modo de relatar os eventos, O fato de noticias serem consideradas como um ato de contar ‘estérias’ abre um campo interpretativo que estimula a correspondéncia de um relato noticioso com determinadas formas nar- rativas mais facilmente assimiléveis pelo piiblico e codificdveis como texto noticioso (BIRD e DARDENE, 1993, p. 268-9; SCHUDSON, 1995). Esta perspectiva auxilia a fundamentar a identificacéo de valores no- ticiosos como personificacao, dramatizacao e simplificacdo narrativa. Tais contribuigdes, no entanto, acabam reduzindo o fenémeno jor- nalismo a uma construcao cultural cujas qualidades séo semelhantes a outros produtos culturais, como as obras ficcionais, conforme anal a 0 proprio Carey: “Sob a visdo ritual (da comunicago), noticia néio é informacdo, mas drama, Ela ndo descreve o mundo mas retrata uma arena de draméticas forcas e acdo” (CAREY, 1989, p. 21). Os valores noticiosos formulados nesta perspectiva esto presos a limitagao do modelo, apesar de ele oferecer modos mais ricos de leitura do objeto noticia dentro da polaridade normalidade-anormalidade do evento. Importdincia e interesse— uma outra dimensdo dual bastante recor- rente éa polaridade entre a qualidade de importancia de uma noticia e a qualidade de ser uma noticia interessante, Esta tensio significativa esté presente em um grande miimero de estudos sobre noticiabilidade, representando um uso frequente no cotidiano da pratica jomnalistica No primeiro caso, importancia é principalmente referida aos complexos processos de organizacao e gestdo social, os quais um individuo deve conhecer para conduzir sua vida, tanto a privada quanto a publica; ou entdo tem sido referida aos grandes acidentes e tragédias que envol- veriam a atengéo de uma grande coletividade, Podemos ver essa abo= dagem na forma como Gans atribui ao termo um sentido de contetide necessario e obrigatério ao individuo (1979, p. 146-153), 0 que, para @ jornalista, pode estar fundado em cédigos normativos de atuacao. No segundo caso, 0 uso da expresso “noticia interessante” pela le teratura e pelo meio profissional tem servido para nomear um camps de even sendo-l caracter doouer aspecto com mu realizan sam por produzin Esta uma tent zariama uma das maselas ficos, rela Tempo e« compdem ser adequ texto séci no tempo O prob 0 deum 59200 co Sematicide Besmo su Seencia in sem um Eeslelém Benoticia tivas, especi ao trac de Hu; Sem o modo 35 como um. sestimuls a formas nar- aveis como SON, 1995). valores no- narrative, meno jor- noticia nao rata uma Os valores nitegao do do objeto avento. ante recor- anoticiae ificativa abilidade, nalistica. complexos iduo deve ‘iblica; ow ue envol- ssa abor- contetido te, para o agao. 2” pela li- am campo Tas EaPcicages de eventos ligados a um prazer de fruiggo da vida publica e privada, sendo-Ihe atribuido um sentido leve, quase lidico, Gans lista algumas caracteristicas das noticias interessantes: referem-se a pessoas agin- do ou envolvidas em situacées inusuais; inversdo de papéis, seja com aspecto humoristico (estérias do tipo “o homer morde o cachorro”) ou com mudancas profundas de comportamento (criminosos perigosos. realizando acées communi rigs); e relatos de pessoas comuns que pas- sam por experiéncias dificeis (uma doenga grave ou um ato heroico), Produzindo piedade, simpatia ou admiracéo no publico, entre outros. Esta dualidade esté também presente nas andlises de Park, mas em uma tentativa de tracar algumas relacdes fundamentais que caracteri- zariam a natureza da noticia, Park situa a nogao de importancia como uma das categorias distintivas e determinantes da natureza da noticia, mas ela s6 adquiriria sentido situada nura tempo e num espaco especi- ficos, relacionada a um mundo ea um piblico concretos (1955b, p. 110). ‘Tempo e espaco sao, para Park, dimensdes da experiéncia humana que compdem a “esséncia da noticia” (1955b, p, 109). As noticias sé podem ser adequadamente compreendidas se forem Jocalizadas em seu con- texto s6cio-histérico. Os eventos, diz Park, séo invariavelmente fixos 1o tempo eno espaco, sdo tinicos (1955a, p. 77). O problema em Park é que o autor néo avancou mais na constru- sfo de uma compreensdo da noticia a partir das categorias de tempo e espaco como dimensdes da experiéncia humana. Faltou-lhe maior sis- tematicidade na anélise, E isto prejudicou sua elaboracgo conceitual. Mesmo sua distingao entre ‘importancia e interesse é frégil. O autor di- ferencia importéncia de fice&o porque a primeira operaria como “even- tos em um mundo real”, e a segunda, com “incidentes em um mundo ideal além do tempo e espaco” (PARK, '1955b, p. 110). Ou seja, interesse na noticia se origina de referenciais ficcionais, a partir de construgdes narrativas ou anedéticas, Parlcesté, na verdade, tentando localizar um tipo especifico de noticia, as “estérias de interesse humano” dentro da divisao tradicional entre news story e fiction story, baseando-se no es- tudo de Hughes (1940), TISLENE stra vARCOS PAULO DK SILA Sitamio LUI FERNANDES (ORGANIZADORES Entretanto, Park descuida a0 supervalorizar 0 fator “Interesss hu mano” como componente da natureza da noticia eprojetar su influén- cia nas transformagSes futuras do jornalismo; ‘Ena estoria de interes- ge huumano que a distingdo entre estéria noticiosa ficcional tende desaparecer” (PARK, 1955, p. 118).Parece-nos que 8 auséncla, A época, de sélidos quadros de referéncie para estudar 0 jomalismo nao permi- ‘iu ao autor uma adequada percepcao de fatores sécio-histéricos que fundam esse fendmeno e das formas como esses fatores alcangam es- pecificidade na atividade jorelistice. Provimidade e disténciao lugar em que um jomal circula oienfa 8 definigio eadocdo de valores noticiosos.O espagoconstitul um amnbien- te de selacies, particularmente relagbes sociais e culturais que com troem as referéncias de Jocalizacao do individuo numa situagéo concre- te Como valor noticioso,@ proxiridade néo é meramente espacial mas se desdobra em uma teia de relacbes e agoes praticas © significativas para um piiblico. Galtung ¢ Ruze (1965) falam de proximidade cultural immo reeurso que orienta a selecao de conteidos e a exciuslo de ob Tidade, sua proximidade espacial orienta a produgo de um relato no vioso pobre o temipo que seré vivenciado por cada individuo nas ie seguintes. Portanto, a gra anedética citada por Ginneken ilustrend uo pritice do critério proximidade pelos jornalistas a0 selecio ortestydgicas~ "Dez il mortes em outro continente sdo igual mortes em outro pais, que séo iguais a cemmortes em ‘um local te que s2o iguais a dez mortes no centro da Capital, que sé igusis® ar o fator “interesse hu- jae projetar sua infiuén- “£ na estéria de interes- sn jomal circula orienta a eco constitui um ambien- ais e culturais que cons- 0 numa situacdo concre- eramente espacial, mas préticas e significativas de proximidade cultural dos e a exclusdo de ou- ntenos contam onde um entam onde nés estamos circulagao do jomal sao es, eventos planejados a0 Ec. Portanto, mesmo que 0 b capaz de gerar noticiabi- odugo de um relato noti- cada individuo nas horas por Ginneken ilustrando alistas ao selecionarem pontinente sao iguais a mil sortes em um local distan- Capital, que so iguais & carrer o: [eee eos.ewas CONCE Tuas Ea0Li¢068 morte de uma celebridade” (GINNEKEN, 1998, p. 23-4) - revela apenas um extremo caricatural de uma prética jornalistica que se orienta pelo polo da proximidade, mas contém uma dimensdo espacial complexa com intimeras possibilidades de relagdes que qualificam e dao substan- cia ela, até se esgotar no polo do distanciamento. A propria regra citada por Ginneken contém, implicitamente, esta ercepcéo da complexidade do fenémeno noticioso: ao colocar a morte de uma celebridade em uma situago de igualdade com outras centenas ou milhares de mortes, o exemplo considera que a proximidade espacial € muito dependente desta rede de relagdes simbélicas, sociais ¢ estru turais envolvendo individuos e instituigoes que caracterizam a noticia. O papel do jornalista na atribuicdo da noticiabilidade As dimensdes apresentadas acima, constitufdas na forma de duali- dades interpretativas de eventos potencialmente noticidveis, revelam ‘um modo mais rico e complexo de entender e situar a prépria noticia enquanto fendmeno social. Aceitamos sem maiores problemas o papel operativo que os critérios de noticiabilidade desempenham no dia-a- -dia da atividade jomalistica, mas consideramos que compete & teo- ria executar uma reflexdo que tome este recurso pratico mais denso e Compreensivo e que, eventualmente, possa ser titil no aprimoramento da atividade. Entretanto, amaior parte dos estudos tem tido uma capa- cidade analitica limitada, restringindo-se a sugerir algumas qualida- des mais perceptiveis e passiveis de certa classificacéo, Estes estudos facilitam uma caracterizagao da noticia, mas so incapazes de real- mente defini-la como um objeto sécio-histérico-cultural, vinculada a mods sociais de experimentar, delimitar, reconhecer, definir e nomear as coisas do mundo. Entendemos ter oferecido uma melhor sistematizacio teérica des- Ses critérios ao percebé-los em niveis ou dimensdes que ampliam e articulam as possibilidades de definig&o da noticia, Mas acreditamos ue ainda permanece pouco claro o papel que o préprio jomalista de- sempenha nesse proceso. A abordagem desenvolvida pelas pesquisas que analisam o ato de: selecionar nao acrescenta muit adequada a critica de Staab (1990, p. 427) de que estes estudos acabam trabalhando com um modelo explicativo em que os valores noticiosos exercem uma atuago causal sobre os jornalistas, os quais operariam esses critérios quase que de forma jmediata, ndo-reflexiva, em uma: for- ma de “instinto” (PARK, 1955b, p. 110). Como forma de propor um modelo que suplementasse 0 causal, Staab descreve um modelo funcional de perspectiva individual. A base deste modelo seria o ato intencional do jornalista ao buscar certos fins que so definidos de forma relativamente individuel, executando uma decisdo de cardter instrumental a partir de certas peculiaridades do ‘evento (1990, p. 428-36). Mesmo_ assim, o autor néo consegue demons- trar que esta mudanga de perspectiva possa alterar substancialmente a questo em termos tedricos e metodolégicos. Parece-nos uma contribuicio sensata sugerir que a noticia poss ser entendida como um momento de atuagio do jornalista na produ- do de uma singular combinacéo de qualidades de um fendmeno em tum tempo e espago concretos. Embora nao estejamos trabalhando com esquema tedrico singularidade-particularidade-universalidade apli- cado por Genro Filho (1987) ao jornalismo, consideramos que 0 autor faz, com propriedade, um deslocamento do termo em relagao ao se uso como valor noticioso semelhante a ineditismo. Em Genro Filho, & nogiio de singularidade esté vinculada @ uma caracteristica essencist da noticia: o jornalismo produziria um recorte factual de um instam ‘te singular no movimento das coisas do mundo, cujas dimensSes da particularidade € universalidade estariam imbricadas nele, embora jornalistas, imersos no senso comum dominante na sociedade, nao: ‘cebessem os condicionantes (como a ideologia) que orientam para| forma especifica de recorte. ‘Adotamos o termo singularidade para referir-nos a unicidade do tante que existe no ato da convergéncia de decisis resultante de: intencionalidade do produtor (individual, coletivo ou institucion: optar por basear-se ern determinados valores, utilizar determined expectativas independent mi. Ao sugei mais predory mais rico de sibilidades d a estabelecer varias possi cristalizacao Esta discu suaatividade sultante dew sicos: instituc © piblico.|A i caletivo € org sua intervenc Srescente no 20 funcionot proprietirios | Sede valores s=cvir a0 publ 100), foi w Sadicional coi = parcialme "peSssionalisr sionalisr Os vinculos se ainda © empre situacao sidades ¢ busca cap ssacabam noticiosos -clalmente icla possa = na produ- smeno em andocom dade apli- ue 0 autor 40 ao seu =m instan- ~ansées da embora os <2ndoper- ~parauma =adedoins- edeuma -cional) 20 —inados re- cnrrénis o€ [isang ‘prosLewas conCeTUaS €aPLicactes cursos materiais e tecnoldgicos e responder a determinadas pressées e expectativas. A singularidade representaria esse momento do recorte, independente de qualidades contingentes que a noticia viesse a assu- mir. Ao sugerirmos cinco dimensdes em que as qualidades das noticias mais predominantemente se situam, queremos indicar que um mocio mais rico de tratar os critérios de noticiabilidade seria considerar pos- sibilidades de novos estudos dos processos que levam um jornalista aestabelecer uma relacdo e um ponto de um equilibrio singular entre varias possibilidades, aspectos e condicionantes que comparecem na cristalizagéo de cada noticia, Esta discussao sobre a cepacidade de intervengio do jornalista na sua atividade deve considerar também que a produc jomalistica ére- sultante de uma dinarmica entre pelo menos trés processos sécio-histo- et 4o, profissionalizacdo e criac&o de vinculos com © publico. A institucionalizaco transformou 0 sujeito individual em coletivo e organizacional, tanto no regramento das tarefas quanto na sua intervengdo social, o que faz da organizac&o um fator de influéncia ‘crescente no jornalismo (SCHUDSON, 2000, ‘p. 175). A profissionaliza- do funcionou tanto como um modo de protecéo da categoria frente a roprietérios das empresas e demais atores sociais quanto de afirma- ‘Gao de valores préprios da atividade jornalistica, entre estes o dever de servir ao puiblico (HALLIN, 1996, p. 245), o que, para Curran (1996, p. 99-100), foi uma tentative de reconciliar as falhas do mercado com a ‘tradicional concep¢éo do papel democrdtico da rnidia, resultando ape- nas parcialmente eficaz, devido as ambiguidades no préprio cédigo do profissionalismo, Autores como Hallin consideram que a “cultura do profissionalismo esta claramente em declinio” (HALLIN, 1996, p. 244), Os vinculos que o jomalista estabelece com o piblico sao mais com- plexos e ainda nao suficientemente diagnosticados, apesar de esforgos como o empreendido por Bogart (1989). Num primeiro momento, ha uma situacao de didlogo em que um piiblico manifesta expectativas, necessidades e interesses em relacao ao contetido jornalistico. O jorna- lista busca capté-los, reelaboré-los na forma de um produto noticiosoe © causal, al. A base certos fins mando uma sidades do Pgeeted voriciasiinzne cdo € um ponto de um equilibrio singular entre varias possibilidades, aspectos e condicionantes que comparecem na cristalizacio de cada noticia, Fsta discussio sobre a capacidade de intervencdo do jomalista na patter pidade deve considerar também quela produgdo jornaistica & Te: ‘tre pelo menos trés processos sdcio-histé- sua interven¢ao social, 0 q organizacéo um fator de influéncia Grescente no jomalismo (SCHUDSON, 2000, p. 175). A rofissionaliza- S#o funcionou tanto como um mado de protecio da categoria frente a Proprietarios das empresas e demais atores sociais quanto de afirma- Sao de valores préprios da atividade jornalistica, entre estes o dever de servit ao pi tradicional concepeao do papel democrético da midia, resultando ape- as parcialmente eficaz, devido as ambiguidades no réprio cédigo do Profissionalismo, Autores como Hallin consideram que a “cultura do Profissionalismo esté claramente em declinio” (HALLIN, 1996, p. 244), Os vinculos que ojornalista estabelece com opiiblico sao ‘mais com- Plexos ainda néo suficientemente diagnosticados, apesar de esforcos . Num primeiro momento, hd mesmo interfer neles ao propor contesidos que se baselam em valores dos proprios jomalistas sobre a profissio e a sociedde. Em seguida, a troticia, ao ser veiculada, toma-se documento piblico, culo conteiidoé (re)apropriado e utilizado pela sociedade. Portanto, a formulacao de ur modelo explicativo que acentue oP pel de atuacéo do jomalista, particularmente ne forma como ele opera bs critérios de noticiabilidade, precisa dar conta destes trés processos por meio dos quais 0 jornalismo se constituiu nas sociedades contem- pordneas. E, particularmente, considerar que @ dimensdo da subjetivi- Trade do jornaista remete ao estudo de aspectos complexos do indivi- duo, como aemotividade ea criatividade, Consideragaes finais 'A pergunta inicial sobre o que é noticia talver néo deva ser res- pondida com um conceito apenas. Isto porque § variabilidade do ob- jeto existe eos esforgos conceituais empreendidos mostraram-se, até ‘agora, tedrica e metodologicamente insuficientes, Consideramos que as discussBes desenvolvidas acima oferecern uma forma mais densa e srticulada de compreender a noticiabilidade, ao mesmo tempo em Qt srimite uma variabilidade prépria ao objeto Se, por um lado, fazsmo®® sritica dos critérios de noticiabilidade pelas insuficiéncias ave produ- em ao tipificarem as noticias em determinadas: qualidades mais reco Tentes, por outro lado, ndo estamos defendendo o simples rompimento estes modelos de abordagem e o ingresso em uma etapa de auséncia de referenciais de reconhecimento dos eventos, Nossa critica aos modelos apresentados né defender que a noticia seja considera que se torne arbitréra, cuja tipficagdo seria um ato mento do objeto. Nao podemos ante usual e funcional no cotidiano profissional. Questionam®s, ‘atanto a incapacidade de grande parte dos estudos deiralém des regras préticas precérias edendo usaradensidade conceitual pres te em tradigdes das ciéncias humanas para produzir uma teoria mesmo que operatives. o tem a pretensio de .da uma categoria tao complex: de empobrece negar que tipificar é um recurso bas estabelega uma abor saberes da pratica, Parece-nos que 0 Staab delineia melho chegarmos a uma rr aponta quatro proble dos dos critérios den concepgio de valores (3) 0s valores notici validade limitada; (4 lidade tam apresente versalidade. O préprio autor n esses problemas. Me duas referéncias. Um to: se ele é passivel d em categorias e leis, % 0 tomam inadequ te6rico-metodol6 com razoavel precisé Como um fend: ‘=a noticia e, ao m Scorremos cotidi ‘Bs coisas do mundo ge8e=5505 sociais cot Saede de construciic Be 20 somente os | emalismo, como cativas presen J na sociedade| sos, Assim, pod va convergén em valores seguida, a contetido & ntue 0 pax le opera rocessos 25 contem- 2 ser res- de do ob- amese, até amos que sis densae oem que fazemos a ue produ- is recor- =pimento + auséncia perativos. ensio de complexa “pobreci- srso bas- amos, no emdessas estabeleca uma abordagem mediadora entre 8 grandes tradicies eos saberes da prética. Parece-nos que 0 roteiro de questies apresentadas por Joachim Staab delineta melhor os problemas a serem tratadoe e superados para chegarmos a uma mais precisa compreenséo sobre a noticia, Staal ds aae wintt© problemas teéricos e metodolégicos referentes ans este, dos dos crtérios de noticiabilidade (1990, 438-9): (1) Qual éo status da concepedo de valores noticlosos; (2) Como definis: ‘um evento noticioso; () Os valores noticiosos até agora propostos pela literatura tém uma Walidadelimitada; (4) Os modelos de estudo dos crtérioe de noticiabi: lidade tém apresentado resultados que nao alcangam umn grau de uni- verselidade, © préprio autor no consegue apresentar ‘uma resposta eficiente a daa problemas. Mesmo porque sio questées interligadas, possuindo duas referéncias, Uma éem relagEo 8s prépries caracteristicas do obje- tor se ele é passivel de ter suas qualidades ou processes generelizados we a eteries ¢ les, ou se sua dinémica e diversidade inevitavelme coma razoavel precisio 0 seu objeto, Como um fendmeno social, éimportente questionermos a nature 22 de noticia ¢, ao mesmo tempo, como ela opera socialments ma neces- sidade de construcdo de diélogos entre modelos explicntives que estu- dam nao somente os valores noticiosos, mas também ou 08 aspectos do foralismo, como os mecanismos ce selec, as relagées textuais e Significativas presentes no contetido jorneli P Clonal na sociedade e a articulagéo de sua prética com principios nor magvos. Assim, poderemos caminhar em ditegdo a uma maior © mais Produtiva convergéncia na abordagem do objeto, PINE ses, wancOs PAULO DA SNA ree lls FENKANOES ORDANTEADOREST > REFERENCIAS BELAU, Angel Favs. La ciencia periedistica de Otto Groth, Pamplona: Navarra, 1968. BIRD, S. Elizabeth; and DARDENNE, Robert W. Myth | Chronicle and Story: ‘Exploring the: ‘Narrative Qualities ‘of News. In: CAREY, James Ww. (ed.). Media, Erp and narratives: celevision and te Dress ‘Newbury Park (CA): Sage Publications, 1988. BOGART, Leo Press and Public~ whe reads what ‘when, where, and why i aoe newspapers. 2~ ed, Hillsdale (NJ): ‘Lawrence Erlbaum Associates, 1988. jure, London: Routledge, 1989. CAREY, James. Communication a5 Media and Democracy Revisited: In: CURRAN. ‘New York: Eward CURRAN, James. UN SUREVITCH, M (20s). Mass media and society. 3.ed- ‘Arnold, 1996, P. 81-119. DURKHEIM, Emile, The elementary forms ofthe Press 1965. religious life. New York: Free snd RUGE, Mari H. 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