You are on page 1of 9
we Sumtuie “eae “ IoD ugh a) ‘am ee we Atmeststi¢h0 OA QUESTAO: A LFERATURA BO TRAUMA 48 ia aaa 1 RenuixO1s SOME A MEMORIA, A HISTOR so asquscna0 (Matcio Seligman Silas) —— 59 rotate Cn) 2. "Arcs Auscunmrz” Janne Marie Garin) oy Prins ( 3 Levinas pN. Annanane i NcADEAENTO | path Da ShosH.O sstATUFO Eco Do TERCHRO ta >a consrrruicho Do SMHGLICO BM sIANKESE ‘imine tpotaman (Eabio Lands). it atta 4 Ottnc1o bo soskevivmee: DikLoco & RUFTUNAS atonal ENE MONA HISTORIA BO Hovocavsto (Roney Cyeynowie) 2 5. Inactas po Honkon, Panxoxs srs (arin Can) po 19 uncon {6 Baoensei, 1939: mown AzcomA uncaring (Genta Waldman) i Ure tonicrart reat eee i 7 AsTenunes" or Atremann (Naney Rozen) 189 B (© TESTEMUNHO: ENTRE A FICGAO £ © "REAL" Merci Seligmas-Siloa* ‘Aironia 6 uma potente méiquina de desleturs: 0 Ieitor nunca sabe como se comportardiante dela; se deve tentarsepaar o verdadero dofalso,o stro dabrincadira, ese 0 que ele toma por sério nio 6, no final das contas, jastamente uma armadilha mentada pelo autor da ironia. AAleitura do texto irdnico é, portanto, versiginos, porque ‘todo momento 0 chio sobre o qual se urtha comeca a tuir, Pulando de um ponto a outro, o leitor acaba muitas ‘ezes por simplesmente se abandonat 20 ritmo da ions: clesaltano precpicio do nio-sentido. Ao terminaraleituta, + abuoapsniade onoten I Eason Brie ests, [eon ncn pe ror de ato acs da Unieaaoe {Eso do Rio eno 25 de nore d cle parcce estar com as mios vazias; na verdade ele leva apenas a certeza de que o Gnico sentido da iron é justa- ‘icate a ineristéncia de algo como 0 “sentido” demos dizer, portant, que a ironia implode = Ietorama medida em que obscurecee desartcala as fungdes referencisis © comuricativs do discurso. Fla na verdade are o campo da auto-referbuia da linguager: © io & de modo algum casual que 4 ionia moderna tena sido pensada,genialmentepratiadae teorizada pelo mesmo ci- ‘alo de pensadores que estabeleceu 0 conecito moderno de literatura no final do sécolo XVITL, a saber, pelos poctas ¢ filgsolos Friedrich Schlegel e Novalis. A literatura, como & bem sabido, também trabalha no campo minado da from teira — impossvel de ser tagadal — entra rferdncia ea suto-referdneia. Como a irona, ela também pode ser vista ‘como um espaco de aito-eflexio ds linguagem, como urn edison do trabalho de Penélope de costura e descostura ‘ds nossa subjeividade com o mundo, ou ainda, como uma oficina de aprimoramento da linguagem enquanto uma aiquina nko tanto de *representas” o “ea, mas sim de dar uma formaa ele final if € prticamente um consenso entre 05 teérieoslertios que a teratura no ma mera imitagio do mundo, Por outo lado, propria literatura realizada no séeulo XX percorreu ceros caminhos que parecem apontar 1 diregio oposta& da auto-referéncia do discurso, Pode~ se dizer, retomando a metfors esboguda acima, que o lei tor —aisim como 6 autor —foi como que de encontro 20 ho do precipicio di fla irdnics no qual ele faruava. O modelo paradigmtico dessa literatura antiéniea — que poderiamos chamar, com o cuidado da aplicagio das aspas, Ae literatura do “eal” — €representado pela literati de testemonho,Bjustamente a sua peculiar eapacidade de en- ‘cruzar literatura e “mundo fenoménico” que seri tema sizada neste rexo. Tendo em vista 0 pouco tempo de que sisponhoaqui, rere que me contentar em apresentaalgins ppontos-chave da discussio que eventualnente poderio fu. ‘wtamente auiliar nessa tarefa de teorizar esta literatura do “real” que 6 antes ce mais nada, a0 mesmo tempo an- ‘imimética — pensando-se no sentido tradicional do con- cidade do conteido do texto e mesmo do seu autor que ‘mostra uma tendéncia inerente literature « quetionat 0 status da sua veracidade. A ionia — no seu sentido dedi simulagio — pode voltr-se contra o autor/a autoridade do texto. Umeasofamoso, nesse sentido, éolivro de Pere LLoujs, publicado em 1895, Les chansons de Bilis Bilis supostamente era urna poctisa contemporines de Safo: mas ‘nfo retaram poemas dela talvezcla no tenhasequer exis- tido, A obra de Lous consttuinaverdade uma pega muito ‘bem montada de ironia ede parédia da erudigo académica cede pastiche da poesia helnica. Se houve erios argutos ‘que souberam valoriza o jogo de Lougs, tambémas eis negativas nfo faltaram. A mais interessante dlas no nosso contexto 6 do importante helenistsalemio Ulrich Wilt: mowitz-Moellendort. O que €digno de nota na resenha de Wilamowita-Maellendorf € que ele procede como wm expert capa de perceber os “eros” de Loujs: ele arma {gue os camelos nfo eram empregados como metiforas na Amigidade Clissic, que 05 coelhos nfo seriam anima scrifciais € que © autor teri empregado comparagbes suipieas para o contexto. Lous posteriormente espondeu ‘css ataque envolvendo Wilsmowite-Moellendor na farsa: ‘emu reedigio de 1898 das Chansons de Bills, ele adi- ‘© comprometimento com o “real” faz. com que 0 autor ena um redimensionamento de coneeito de licers- tur, A relagio desse autor com o passado ao qual ee tent ar una forma tem o carter de um compromisso etco. A Ironia encontrar-se-a deslocada ou, no minim, teria de ser redefinda nesse contexto, A historia em quadrinhos, ‘enquanto uma fia da tadigto da carietura edo groveseo, ‘encontra-se redimensionada no émbito da Shoah (pode- riamos tratar também das tentativas irbnicas de trabalhar com oHolocausto, como naliteratura de David Grossmann, ‘ede Yoram Kani uno cinema de Benigni e em Train de ‘ie do romeno Radu Mikzleanu (1998). £ cero que essa ironia encontra wma grande resistencia, mas também tem tum efeito terapéutco, de distanciamento eaproximagio do “evento”. Ness sentido, também aironia é redimensionada ‘no contexto da Shosh: como nas comes lermoyantes do fina do séeulo XVI, que misturavam os géneros datragédia. te dacomeela, Estes generos mistos nio por acas so tpicos ‘de momentos de nflexio na historia das artes) "Na literatura de testemanho mio se trata mais de inmitagdo da reiidade, mas sim de uma espécie de “mani- Testagio” do “real”. E evidente que nio existe uma trans- ‘posigio imediea do “real” para a literatura: mas a passa- ‘gem para literitio, o trabalho do estilo e com a dlicada 32 ‘rama de som e sentido das palwras que constiuia literature marcada pelo “real” que resiste 4 simbolizagio, Dai a cx tegora deo rasoma ser central para compreender a moda lidade de o "real" de que se trata aqui. Se compreendemos 0 eal” como trauma — como uma “perfuragao" na nossa ‘mente e como uma ferida que nio se fecha — enti fica mais icilde compreender o porque do redimensionamento a lteratura diane do evento da literatura de testemnko. [Nao se trata apenas de “psicanalsar” a lterturs, pois 0 testemunho, como vimos, €nio apenas superstes, ow seit, a vor de un sobrevivente, mas também testis, enfren- tamento, por asim dizer, “juridico” com o rel (sm as- pas!) erevindiagio da verdade, Verdade esta que pode t= hém tansformar algumas vezes 2 ficgio em documento ‘avont ls leave, como no caso de Zvi Kolit: seu *Yossel Rakover” acabou de fato, como Kolitz esereveranaaberti- ado seu texto, “entre um monte de pedeascarbonizadas ¢ e restos humanos”, quando © prédio do centro cultural judaico de Buenos Ares, na calle Pasteur 6330 explodido em 19%4 om um atenrado terorsta, soterando quase uit cxntena de pessoas 0s sltimos exemplares do Viddihe “eitang no qual o exto fora publicado.” Referencias bibliogrficas Acanna, Giorgio. Quel che reta di Anachite, L'arhiio eit ‘eximane Torin: Balai Bornghie’ dor, 1998 Arann, Bon, “Las peda de memories Buenos Ait y lo Tmonvetos ks vcs", americans, Adie Latina w Epeie Portage vl 11 20, ‘Bogan, Wale “Die Aula des Okeroa ia R. Tiemann ¢ 1. Schweppenbsoser (org), Gewmmele Seber ol Franklin's My 1972, Benn, Wali O conceit deere deren Romanian al Tad Seligman, Sto Pol. Hanae DUS, 199) algo Bites Pale esse Panto, “aprons aria y eligi en eis ‘rorolieae linomersn nH Ace (oy) Ea alba eras iar Monti: Universe de a Repl Pata de Humans y Ciencia de Eds, De tame de Puieasone 984 Dusan, | Demon Maaoer Banc. Pts Gale, 1998. avn Manfred, Wins Gang in ie Dictung a M. ron. "2G, Soldads org), Witgensten Liteatwnd Phiosoph. “Tainge, 190. _ II ul der Phiophie, eaaee Rech 1992 inssin,Jage, “Phlsophi und Wisershaft ale Literatu in Nachmetaphyisches Donker, Philorphicbe Auf Franke» M1988 EN Der pilapioke Disks der Mode, Frau. 2M, 1S Hosourz Sra K.*Auto/Bigrphy and fon ater Aeschwita ‘pring the boundaries of second eneation sethets in Scher ong), Braking al. Writing and memory after nie, Urb, Cage Univers of lina Pres, 99% ‘ours Za evel Rahooers Wondig su Got Manique, Zane Pen, 13. Lacartn, Dominick, “Pwat the night before Chrismas at ‘Sgn’ na ory and memory fer Act, has Landes: Cel U, Pes 1998. Lass, Ame Thor ple que Dis inZ Koi (og), Your Rabon arene 3 Dien. Calane-Lény, 9% Seas, Mico, Lr boo do indo, Wier Bejamix Toman icp Sip Pal ait, FAP 19 _P He como es”, Paina. Revi de Pi ‘nae, 6117.81: Bat eat 998-1998 (Agere nM, Stigoan- Sine A. Newsom (og) Cara ere- ‘sean. So Ps: Bsc, 2000) ein outa da cndogio — Traduso de Filosofia: 0 nips de inrasibldade’, Cader de Tragio 3 Use 1958 "Os fragments de una fas”, Cal (Goss: “Lieto de estemunho) 23 jam, 1999 a Sx Sis, Mi Arar dts Cl 23, ‘oo (roma sel) “Do kv hor ine ao aba en docorpohnh Lamtosedt Lets Camas ce tcp Lt dct rip Ava 99 Sami ge Le pond may Patt Cali. inde -viagem. Rio de Jancio: Bloch edizores, x cl) om ‘im bldonng Tn Rodogn Ride i TNs Prom 1 ee [ote ei Pa Gali 1994, “Sroanaty,Art. Maas A rior’ de, Nova Tore: Pantheon, 75199, ‘Tovoxor, Teen. © fom desea. Tel. C. Cabo. Rio de ‘Tesi: Recor, 1998 ‘Wincor, Bini. Brahh, Aa er Kinde. 1939-1948 Trankfre 2 Me Sabrkamp, 1985 (Frapnentn, Messy de ‘ees inf 1939-1948 Ta 8, Tea Sto Par Compa hi is Les, 198), 85

You might also like