You are on page 1of 39
os REPUBLICA DE ANGOLA ‘ } 4 TRIBUNAL SUPREMO ACORDAO RECURSO N.° 708/18 os JUIZES DA CAMARA DO TRABALHO DO TRIBUNAL SUPREMO ACORDAM, EM CONFERENCIA, EM NOME DO POVO: 1—Relatorio Na 3 Secgao da Sala do Trabalho do Tribunal Provincial de Luanda, Zora Elikelwa Da Silva Cruz De Santa Anta, com os demais sinais de identificagao mos autos, interpés aogao de Recurso em Matéria Disciplinar contra, Empresa SKY Chefes Taag Angola Catering, devidamente identificada nos autos, pedindo: a) “Que seja declarada a nulidade do Procedimento Disciplinar e a medida Disciplinar de Despedimento da Requerente porquanto ilegais e nulos nos termos do art? 208.°n.° 1 da LGT; b) Que seja condenada a Requerida a pagar todos 0s salarios, créditos complementos salariais que a Requerente deixou de auferir desde a data do seu despedimento até decisao final nos termos do art.° 208° no 3da LsT; ¢) Que seja condenada a Requerida a proceder a0 pagamento da indemnizagéo da Requerente nos termos do art 296.°n.° 7 daLGT; 4) Que seja condenada a Requerida ao pagamento das férias 0 subsidio de fétias do ano de 2016 nos termos do art? 158° da LGT combinado com art? 158.2n2 1 al). a) da LGT; ae REPUBLICA DE ANGOLA TRIBUNAL SUPREMO e) Que seja condenada a Requerida ao pagamento do subsidio proporcional de natal do ano de 2012 nos termos do art.° 165.°n.° 1 al.) b)en® 3.da uGT; f) Que seja condenada a Requerida ao pagamento da indemnizagao por ndo reintegragao caso nao pretenda reenquadrar a Requerente no seu posto de Trabalho nos termos do art? 237.° n° 1 da LGT; g) Que seja condenada a Requerida ao pagamento da indemnizacao por dos doze meses que a Requerente tem direito por violagao do direito especial de proteccao na matemnidade garantido até um ano apés 0 parto, nos termos das disposig6es do n.° 4 al. b) e do n.° 4 do artigo 246.° da LGT; h) Que seja condenada a Requerida ao pagamento de uma indemnizacao pelo tempo de desemprego da Requerente com limite de seis meses nos termos do artigo 209.° n.° 3 da LGT; i) Que seja condenada a Requerente para pagamento da indemnizagao por rescisdo unilateral do contrato de trabalho sem aviso prévio; }) Que seja condenada a Requerida @ pagar as custas do proceso, procuradoria condigna legal e demais encargos legais e honorério devido a Advogados no montante equivalente a USD 10.000,00." Para fundamentar a sua pretensao, alega o seguinte: 4. “Que a Requerente foi trabalhadora da Requerida, sob contrato por tempo indeterminado (Doc. 1) durante dois anos, com inicio no més de Maio de 2014 onde exercia a fun¢ao de Directora de Recursos Humanos, auferia uma remunerag&o mensal base no valor de 824.901,00 (Oitocentos e Vinte e Quatro Mil Novecentos e um Kwanzas) e com as seguintes regalias: a) Bénus anual, conforme objectives individuais, correspondente a um salario anual; b) Abono familiar correspondente a dois filhos menores; c) Carro de servico com permissdo para uso pessoal; REPUBLICA DE ANGOLA TRIBUNAL SUPREMO d) Devolugao de valores gastos em combustivels; e) Iseng&o de hordrio, incluida no salario; f) Seguro de satde completo, abrangendo também esposo e dois filhos menores; . Que durante o desempenho das suas fungdes a Requerente sempre mostrou ser bastante competente, diligente e zelosa, tendo para tal sido merecedora de um bonus. (Doc. 2); . Que no final do més de Abril do ano de 2015, estando a Requerente gravida e tendo sido diagnosticada uma gravidez de rico com uma ameaca de abordo, comesou ent&o a beneficiar de uma sequéncia de repousos, acabando por ser-Ihe decretado um repouso absolute no inicio do més de Junho, tendo dado a luz prematuramente no dia 18 de Junho de 2015 (Doo. 3); Que retornou ao trabalho no més de Setembro de 2015, retoma essa que acabou ficando suspensa, pois foi sujeita a mais um repouso médico em virtude de Ihe ter sido diagnosticado uma hemorragia interna, provocada por miomas e por isso operada de urgéncia (Doc.4) Que durante todos estes periodos de repouso, a Requerente sempre esteve disponivel e se mostrou todo interesse em ajudar no despacho de actividades, apesar da sua auséncia, caso existisse algum problema com a sua equipa, uma vez que era a lider do Departamento de Recursos Humanes, enviando para tal e-mails a direogéo, sendo que prontamente © Director Geral da Requerida, Senhor Lothar Weber, respondia que a Requerente nao se devia preocupar, para ficar descansada, cuidar de si, que na empresa estaria a correr tudo bem; Que assim, no dia 05 de Outubro de 2015, a Requerente regressa ao trabalho, apresenta-se na sala do Director Geral para abordagem resumida sobre os assuntos do seu departamento e alega estar entusiamada por ter voltado ao trabalho, estar pronta para novos desafios e mostrasse disponivel para se deslocar a Africa do Sul para uma REPUBLICA DE ANGOLA TRIBUNAL SUPREMO formagao que os demais colegas teriam beneficios durante a sua licenga de maternidade; 7. Que porém, volvidos poucos dias, a Requerente comega a notar que a sua auséncia ao contrario do que se mostrou, teria sim acarretado algumas mudangas e feito uma grande diferenga; 8. Que no dia 11 de Outubro a Requerente recebe um email do Director Geral, em que é informada que o seu Director Adjunto, no Departamento de RH, 0 senhor Yuri Dumba iria participar, com o Director Geral, de uma palestra referente a nova Lei Geral do Trabalho, em reconhecimento do seu desempenho; 9. Que a Requerente prontamente concorda com o referido reconhecimento e com a participagéo do seu Adjunto na referida formagao e manifesta também a sua vontade de participar, mesmo a titulo individual, uma vez que seria de extrema importancia tal formagéo para o cargo departamento que dirige (Doc.6); 10.Que no obtendo resposta sobre tal, a Requerente, dias depois, é informada sobre o pagamento da formagéo apenas do seu Director Adjunto do RH e do Director Geral, sem que esta fosse incluida no pagamento para a referida formagao, por sua propria iniciativa e porque entendia ser de muita importancia ser formada sobre a nova LGT, solicita entdo que se accione o mecanismo de aditamento do seu salario para que ela prépria possa pagar a sua formagao; 11. Que recebe a informagao do Director Financeiro de que estava apenas aguardar e dependente da autorizagao do Director Geral para que seja disponibilizado © adiantamento salarial a fim de poder participar da referida formacao; 12.Que porém, o Director Geral responde via email que existem procedimentos na empresa, regras que excepcionalmente em concordancia com a sede se poderia ceder e que iria explicar uma vez mais com todo 0 gosto; REPUBLICA DE ANGOLA TRIBUNAL SUPREMO 43. Que n&o entendendo o contetido da resposta dada pelo Director Geral 4 sua solicitagéo de adiamento salarial, a Requerente desioca-se entao @ sua sala e foilhe informado pelo seu superior hierarquico que os adiantamentos de salarios nao podem ser autorizados nem a titulo de excepeao para formagao mesmo para uma Directora de Recursos Humanos, devido ao procedimento estabelecido com a sede em que os adiantamentos salariais s6 poderao ser aprovados em caso de doenga ou morte de familiar directo; 44, Que contudo, ante aquela explicag&o, a Requerente resignou-se, embora no conformada... e qual néo foi o seu espanto, dias depois da negociagao pelo Diretor Geral da autorizagao de adiantamento salarial, a Requerente tomou conhecimento de que havia sido autorizado, também a titulo de excepgéo e fora des casos de doenga e morte de familiar directo, um adiantamento de salério para a compra de um bilhete de passagem para ferias de um funcionario, vide copia de Doc 7; 45. Que com tal situagao presenciada e vivida, a Requerente comegou a notar algumas frieza no comportamento do Director Geral em relagao a si, com esse tratamento discriminatério, bem como também comegou a verificar que, inclusive, estavam a ser-Ihe retiradas e esvaziadas algumas tarefas e fungdes que competiam a si, delegando-as 0 Director Geral, 0 Sr. Lothar Weber, diretamente aos seus subalternos, sem querer ser informada ou entdo Ihe dado a conhecer, 0 que deixou-a sentida, indignada e de certa medida humilhada; 16. Que e porque a Requerente tinha um superior hierarquico, que responde pela regio de Africa, que reside na Alemanha, ligada ao sector do RH, marca uma teleconferéncia com esta entidade, onde aproveita fazer a exposigo sobre sua indisposicdo, injustica e inconformismo face ao tratamento que Ihe estava a ser reservado pelo Director Geral, manifestando-Ihe e mostrando-Ihe o mau ambiente de trabalho que se REPUBLICA DE ANGOLA TRIBUNAL SUPREMO criara com aquela situagao — facto que realgou também durante a sua { entrevista de contratagao; 17.Que importante é frisar que aquando do seu regresso, finda licenga de matemnidade, a Requerente assistiu a uma Assembleia Geral da Comissao Sindical cujo 0 terceiro ponto da acta se referia a atitude comportamental do Senhor Lothar Weber, Director Geral, reportada como sendo uma atitude negativa, entre outras queixas de outros colegas, sobre a referida atitude, factos que chegaram ao seu conhecimento enquanto Directora de R.H. (Doc.8); 18.Que assim sendo, e com o justo receio de que a situacéo de descontentamento dos funcionarios pudesse agravar e criar situagdes menos boas, uma vez mais recorreu a sua superiora hierdrquica do RH, a nivel internacional, via teleconferéncia para um aconselhamento de como deveria entdo proceder; 19. Que posteriormente, a Requerente toma conhecimento que foi marcada uma reuniao com todos os directores das mais diversas areas da empresa para abordagem da visita de um auditor interino e a ora Requerente, ‘enquanto Directora de RH néo teria sido convocada para tal reuniéo que ocorreu a 26 de Outubro de 2015; 20.Que sentindo-se cada vez mais ignorada e preterida, o que ‘emocionalmente abalou-a muito, face o desprezo que passou a sentir por parte do seu Director Geral, e inconformada com tal desdenho, uma vez mais dirigiu-se a este para saber entdo o porque da sua nao convocacéo para participar da reuniao, ao que este Ihe respondera que a sua presenga nao seria relevante; 21.Que afectada cada vez mais com tudo que estava a viver dentro da empresa, a Requerente passou a ter problemas de satide, com a sua tensdo arterial constantemente alta, a sua fase de amamentacao ficou REPUBLICA DE ANGOLA TRIBUNAL SUPREMO afectada, uma vez que tinha um filho de apenas 4 meses e todo o stress a emocional passou a afectar a producao do seu leite, os cuidados com o bébe e com sua filha de apenas 3 anos, como é obvio, comecaram a ser também afectados, - pois so duas criangas que requerem bastante atengao e como tal uma me carece de estar bem nao sé fisica como também emocionaimente; 22. Que tentando manter sempre a sua postura profissional, a sua conduta sempre pautada pelo respeito ao seu bom ambiente de trabalho, a Requerente continuou 0 desempenho das suas fungdes com o profissionalismo ético de que sempre se guiou, mantendo o nivel de respeito e cordialidade necessarios para uma relagao laboral salutar; 23. Que volvidos algum tempo e sempre a enfrentar as mesmas situagdes de desrespeito, de esvaziamento de suas competéncias e suas fungdes que estavam a ser delegadas e distribuidas aos funcionarios subalternos do Departamento de RH, sem deles tomar conhecimento, entre outras situag6es constrangedoras para uma profissional, como o facto de das trés reuni6es semanais a realizar, nas 28, 4° e 6°, 0 DG incluia sempre o Sr. Yuri, com a alegacao de que a Requerente esteve meio ano fora da empresa, isto em referencia a licenga de maternidade e repousos médicos; 24.Que aos 18 de Marco de 2016, a Requerente, recebeu um email do Director de Produgao, a solicitar uma reuniao, em que é informada sobre alguns comportamentos negativos e inaceitaveis do senhor Yuri Dumba, Director Adjunto de RH, comportamento esse praticado contra a senhora Juelma Almeida, Assistente Admnistrativa de produgao, situagao que deveria ser apreciada em colectivo pela Direcgao da Empresa; 25.Que entretanto, como ja existia uma sequencia de queixas sobre o comportamento do referido Director Adjunto de RH, a Requerente enviou no mesmo dia (18/03/2016) um email ao Director Geral, asolicitar um encontro a dois (DG e DRH), com urgéncia, para que se pudesse 7 26. 27 28. 29. 30. REPUBLICA DE ANGOLA TRIBUNAL SUPREMO solucionar sobre tais queixas, pois era uma situagao que ja carecia de intervengao imediata; Que surpreendentemente, o Director Geral respondeu-Ihe que nao estava em condigbes de se reunir com a Requerente, a DRH, por ter acabado de chegar de uma reuniao da TAG e que ndo estava em condigoes para tal encontro; Que recebido o email do Director Geral sobre a sua indisponibilidade para o encontro que abordaria a situagao ocorrida entre o Sr. Yuri Dumba e a Sra. Juelma, a Requerente € surpreendida com um telefonema da colega Juelma e informar-lhe que tinha sido chamada pelo Director Geral & perguntando-Ihe sobre o que tinha acontecido e sobretudo sobre as queixas em relac&o ao trabalhador Sr. Yuri Dumba; ‘Que uma vez mais a Requerente estranhou tal postura adoptada pelo Director Geral pois havia respondido-Ihe que nao seria possivel abordar com esta responsdvel do RH as queixas constantes relacionadas com 0 Sr. Yuri, mas 0 seu superior conseguiu chamar e abordar a colega Jueima e confronta-la sobre 0 ocorrido e as queixas existentes, situagao que a deixou muito indignada, pois denotava claramente uma total falta de consideragéo e sobretudo respeito ante a sua dignidade enquanto responsavel do RH; Que inconformada com tal situagao, a Requerente enviou entéo um email ao seu Director Geral a manifestar-lhe tal indignagao pelo desprezo, desconsideragdo e falta de respeito que estava a merecer da parte do seu superior; Que assim, a Requerente de forma franca e transparente expés a sua indignagao e indicou os pontos que, para si seriam negativos na conduta do seu Director geral enquanto lider e profissional, direcionando-ine criticas construtivas numa tentativa dbvia de se ultrapassar 0 mau ambiente de trabalho que estava sendo criado e adoptar-se uma postura de acordo a ética profissional, j4 que tal sentimento de indignagao era reclamado por varios colaboradores; REPUBLICA DE ANGOLA TRIBUNAL SUPREMO 31.Que face ao email acima mencionado, enviado pela Requerente, =< enquanto Directora do RH, o Director Geral entendeu enviar um email \ para a Directora Geral sediada no exterior do Pais, onde mostra um certo desagrado pela frontalidade da Requerente e as criticas a ele direcionadas; 32.Que nesta senda, a Requerente, apercebendo-se que seu email havia sido mal traduzido e interpretado, mostra-se de imediato disponivel para clarificar tudo referente as criticas apontadas ao Director Geral; 33.Que foi entao realizada a reuniao, anteriormente agendada, com a participagaéo de todos os directores, nomeadamente, o Director de Produgo, o Director Geral, a Directora de RH, Requerente e as partes mencionadas no articulado 24.°, tendo dado inicio da reuniao, a Directora de RH solicita que as partes (Yuri Dumba e Juelma de Almeida) exponham os factos; 34.Que feita a explanagdo dos factos pelas partes, o Director Geral da por concluida a reuniéo, mas a Requerente pede a palavra para, no obstante as queixas ja apresentadas, fazer algumas consideragées referentes a outros comportamentos do Senhor Yuri a si reportados por outros colegas; 35.Que surpreendentemente e de forma arrogante, o Director Geral responde que a Requerente ndo iria fazer ali comentario algum, tendo de imediato se levantado e dando costas saiu da sala de reunides com o senhor Yuri, deixando os demais estupefactos e a olharem-se uns para cara dos outros; 36.Que claro est que tal comportamento foi uma verdadeira para a ora Requerente e entdo Directora de Recursos Humanos, que mais uma vez foi desrespeitada na sua pessoa e na sua posi¢&o de Directora a frente do seu Adjunto e de outros Directores e também diante da colega Juelma, por sinal, uma colaboradora subaiterna, REPUBLICA DE ANGOLA TRIBUNAL SUPREMO 37.Que como tudo e qualquer ser humano que chegue a um ponto de saturagéo e exaustéo, novamente a Requerente recorre aos seus superiores hierdrquicos fora do pais para expor a sua indignagao e insatisfagao pela sequencia de humilhagdes que estava a ser submetida por uma conduta totalmente reprovavel do seu Director Geral, e que, independentemente da sua posicao, deve também cumprir a normas @ deveres estabelecidos por lei bem como ao respeito pelo cédigo de ética e conduta; 38.Que é desta situagdo toda envolta que surge a decisao da Requerida, ordenada pelo Director Geral para instauragao de um processo disciplinar contra a Requerente com fundamentos no facto de esta ter enviado um e.mail a Directora Geral intemacional a informar sobre uma certa conduta negativa praticada pelo director geral em Angola, a criticar a referida conduta e a pedir uma certa orientagéo de como deveria proceder em casos como 0 que a mesma estava a enfrentar; 39.Que foram esses factos que estiveram subjacentes e que levaram a instaurago abusiva e ilegal de procedimento disciplinar que culminou com 0 seu despedimento igualmente ilegal e nulo e que suscita presente recurso; 40.Que a Requerente recebeu uma convocatéria, onde o seu email foi interpretado da forma mais convenient para fundamento do proceso disciplinar mas ainda assim sem qualquer relevancia para aplicagao da medida disciplinar de despedimento imediato; 41.Que a Requerente recebeu uma convocatéria em que era acusada, primeiramente por dirigir um email ao seu Director Geral a solicitar uma reuni&o, onde se considera que tal email continha um certo grau de altivez intoleravel na relag&o com o superior hierdrquico pois impés a presenca do mesmo usando a expressao “ainda hoje” 42.Que porém, sobre 0 email da requerente foi sendo feito extractos, de partes de expressées isoladas e desconexadas, fazendo-o com a 10 REPUBLICA DE ANGOLA TRIBUNAL SUPREMO Finalidade de pretender forjar factos que se reportam infraccao, pois, vendo bem, na convocatoria, 2 Requerida esqueceu-se de frisar que depois do termo “ainda hoje” foi usada, pela Requerente, @ cordial € respeitosa expressao “por favor"; 43.Que posteriormente, foram apresentadas algumas “express6es soltas’ usadas pela Requerente em comunicagées seguintes, j anteriormente aqui mencionadas nos articulados acima explanados, depois de todo um conjunto de situagbes que a Requerente viveu, alvo de comportamento humilhante e ultrajante, levado a cabo pelo Director Geral; 44.Que 0 processo disciplinar instaurado contra a Requerente enferma de muitos e graves vicios e irregularidades, designadamente: a) Violagao do direito de protecgao na maternidade; b) A prescrigéo do Procedimento Disciplinar; c) Alnexistencia de justa causa para despedimento; 45, Que a Requerente se encontrava em regime de protecgao especial na maternidade por ter dado a luz em junho de 2015, gozando assim de protecgao legal em conformidade ao disposto na al. b) do n.° 1 do artigo 2072 e da da al. d) don? 1e don. 4 do artigo 246.° da Lei n° 7/15, de 15 de Junho: 46.Que no Ambito da referida protecgéo a trabalhadora nao pode ser despedida enquanto se encontrar no periodo coberto pelo regime de maternidade, vide 0 n.° 1 da al. b) do artigo 207. e al. d) don? ten 4 do artigo 246.° da LGT; 47.Que verificados os elementos que foram carreados no relatério, fica claramente provado que a Requerida nao teve bases para fundamentar a aplicagao da medida disciplinar de despedimento imediato a uma trabalhadora abrangida pelo regime de protecgao a maternidade, j4 que com os factos constantes na convocatéria nao sao suficientes para justa causa, 0 que levou-a a recorrer a alegadas situagdes que teriam acontecido antes dos factos que motivaram a instauragao do processo 11 REPUBLICA DE ANGOLA TRIBUNAL SUPREMO disciplinar e que nem sequer foram mencionadas na convocatoria ¢ muito menos dadas por provadas; 48.Que a Requerente foi notificada da abertura e instrugao do processo disciplinar no dia 24 de margo de 2016 e 0 referido processo somente terminou no dia 08 de maio de 2016, com a comunicagao da medida disciplinar aplicada, portanto perfazendo um total de 44 dias corridos: 49. Que por outro lado, desde a data da entrevista, dia 07/04/2016, até a data da comunicagéo da medida disciplinar dia 08/05/2016, se passaram, portanto, 31 dias corridos; 50.Que em ambas situagées, quer no primeiro caso, terem passados 44 dias da notificagao do comego do processo disciplinar, quer no segundo caso, da data da entrevista a data da comunicacdo, estao contabilizados 31 dias (vide Doc. 9 € 10), o que com o decurso do prazo previsto por lei, conforme a disposig&o da al. a) do n.° 1 do artigo 61.° e do n.° 1 do artigo 50.°, ambos da LGT, gera prescrigao do procedimento disciplinar; 51.Que pelo que se conclui pela prescrigéo do procedimento disciplinar contra a Requerente, requerendo aqui que seja apreciada e decidido pelo tribunal; 52.Que a primeira situagdo que sobressai no proceso disciplinar ora impugnado, é a inexisténcia de qualquer antecedente disciplinar, sem antecedéncia disciplinar e sem qualquer medida censuravel ao longo do periodo que esteve vinculado a Requerida; 53.Que segunda situagéo que igualmente sobressai tem a ver com o facto de, conforme terminou 0 processo e sobretudo a medida disciplinar aplicada, percebe-se que néo houve qualquer graduagéo nem ponderagao da medida disciplinar conforme determinam as disposicbes do n.° 1 do artigo 51.° e do artigo 52.° 54. Que por outro lado, apreciando o auto de inquirigéo de testemunha (vide doc. 11) arrolada pela Requerente e sobretudo sendo a pessoa de quem partiu 0 email de reclamagao do comportamento do Director Adjunto dos 12 _ \ REPUBLICA DE ANGOLA _ = TRIBUNAL SUPREMO Recursos Humanos (Yuri Dumba), 0 Sr. Rui Fernandes, que saiu em defesa da colaboradora Juelma Almeida, percebe-se que houve uma postura provocante, humilhante e de verdadeira falta de consideracao & falta de respeito do Director Geral, conforme se lé dos pontos 3, 4 e 5 do referido auto; 55.Que afinal 0 facto de ser 0 cargo maximo na estrutura organizativa hierdrquica da empresa, n&o Ihe da o direito de faltar ao respeito, de humilhar e de desconsiderar um trabalhador subalterno; 56.Que alias, j4 a Requerente quer nos emails quer no acto de entrevista sublinhou que hé algum tempo, desde que retornou do periodo de licenga de maternidade, que foi sendo tratada com desdém, humilhagdo a frente de subordinados, esvaziadas as suas competéncia e fungdes, que estavam sendo distribuidas aos seus subaltemos, confirmando portanto a testemunha arrolada pela Requerente; 57.Que nao havendo ponderagéo nem graduagdo da medida disciplinar aplicada, resulta claro que os fundamentos para justa causa nao esto reunidos, resultando em medida disciplinar improcedente; 58.Que e por outro lado, desde jé se impugnam as declaragdes das testemunhas arroladas pela empresa, pois nao foram nem confrontadas nem acareadas com a Requerente no auto de entrevista, nao sendo por isso legal e idénea tais declaragées portanto colhidas das pessoas (Adelino Antonio — assistente de Recursos Humanos, Sérgio Quiala — assistente de recursos humanos, Jueima Almeida — trabalhadora, e Yuri Dumba, Director Adjunto dos Recursos Humanos) que estdo envoltas num temor reverencial comprometedor, a excep¢ao do Sr. Lothar P. Weber, este ultimo por ser parte interessada no processo, a pessoa que fez a participagao, traduziu no fidedignamente o email da Requerente e enviou para outros responsaveis (intemnos e internacionais); B © tLe REPUBLICA DE ANGOLA TRIBUNAL SUPREMO. 59. Que a instrugo do proceso disse no seu relatdrio final que a Requerente arrolou testemunhas, mas nunca apresentou as referidas testemunhas para serem ouvidas...., lendo engano esse; 60. Que afinal, ignorou a instrugao do processo disciplinar que a Requerente, ficou suspensa das suas actividades conforme notificagao da convocatoria e nao tinha como diligenciar no sentido de as pessoas que indicou e que presenciaram o triste © humilhante episodio contra a Requerente; 61.Que por outro lado, e mais importante, no seu relatério final a instrugao fez um descaso absoluto dos depoimentos da testemunha Rui Fernandes, que em muito abonavam a favor da Requerente e até certificavam as declaragées da Requerente em como, depois que retornou da licenga de matemidade, passou a ser tratada com indiferenga, desprezo e humilhada... e que no fundo eram no sentido de que a acgao do Director Geral, podendo ser tida como provocante, teria causado a reaceao da Requerente; 62. Que por outro lado, quanto ao Sr. Yuri Dumba, que depois também como testemunha e que nao foi ouvida na presenga da Requerente e nem das pessoas que a acompanhavam, portanto, nao sujeito A acareagao, ficam os seus depoimentos tidos por suspeitos,... além do facto de que, por ser protegide do Director Geral, mao era isento nem as suas declaracdes poderiam ser consideradas como idéneas; 63.Que aqui postos, resulta precisamente que n&o houve nem existiu fundamentos para a justa causa que justificasse 0 despedimento da Requerente; 64.Que assim, em guisa de conclusdo, pode se dizer que o processo disciplinar instaurado contra a Requerente nao foi nem legal, nem justo e acima de tudo no continha elementos que fundamentavam a justa causa para 0 despedimento imediato, como veio a ocorrer, devendo por isso mesmo ser considerado de nulo e ilegal; 14 65. 66. 67. REPUBLICA DE ANGOLA TRIBUNAL SUPREMO Que a Lei 7/15, de 15 de Junho, Lei Geral Do Trabalho, no seu artigo 41 © determina os deveres do empregador, que no cas° presente parecem ter sido gravemente preteridos e abusivamente negligenciados pela Requerida; Que; 4) 0 artigo supre citado na sua alinea a) respalda que o empregador deve “tratar e respeitar 0 trabalhador como seu colaborador e contribuir para aa elevagao do seu nivel material © cultural e para a sua promogao humana e social’ ~ 0 que nao se verificou no presente caso; 2) A alinea d) determina que deve © empregador " promover boas relagées de trabalho dentro da empresa e contribulr para & criagao e manutengao de condig6es de harmonia e motivagao no trabalho”, 3) Na sua alinea f) a lel € clara ao determinar que deve o empregador “promover facilitar a participagao dos trabalhadores em programas acgdes de formagéo profissional’, situagao que foi também espezinhada e ignorada pela Requerida; 4) De tudo quanto ja foi exposto acima, claramente se pode concluir que ‘existiu uma autentica violagao aos deveres mencionados por parte da entidade empregadora, mais concretamente, na pessoa do seu Director Geral; Que a Lein.® 7/15, de 15 de Junho, também consagra direitos inerentes & Requerente que foram consecutivamente violados tais como os determinados no seu artigo 43° alinea a), isto &, “ser tratada com consideragéo e com respeito pela sua integridade € dignidade; b) “ter condig6es para o aumento da produtividade do trabalho", 4) "ser abrangida na execugao dos planos de formagao profissional para melhoria do desempenho e acesso a promogéo € para evolucao de carreira profissional’, bem como 0 seu direito de exercer individualmente o direito 15, REPUBLICA DE ANGOLA TRIBUNAL SUPREMO de reclamagao e recurso no que respeita as condigoes de trabalho © & violagdo dos seus direitos; 68. Que contudo, a maior agravante de toda esta encenacao levada a cabo pela Requerida para promover o despedimento da Requerente foi o facto daquela ter ignorando que esta se encontrava (abrangida pelo regime de protecgao na maternidade e por isso a gozar da proteccao especial contra o despedimento prevista na Lei 7/1 no seu artigo 207.° al) b),) 69.Que a referida protego da maternidade, vem no artigo 246.° da LGT realgar que a mulher trabalhadora nao poder ser despedida salvo infragao considerada grave, até 1 ano apés 0 parto; 70. Que porém a Requerente deu a luz no dia 18 de Junho de 2015 ¢ recebeu a comunicagao da sua medida disciplinar no dia 08 de Maio de 2016, ainda abrangida pela proteccao da matemidade, nao existindo sequer para tal, uma infracgao tida como greve. 71.Que a Requerente também nao tinha nenhum antecedente disciplinar pelo que sempre foi uma excelente profissional, comegando a ser destratada pelo seu superior hierdrquico no regresso da sua licenga, este superior jA alvo de imensas queixas sobre o seu comportamento negativo por desrespeitar a dignidade dos trabalhadores, destratando-os; 72.Que assim, a Requerente foi somente mais uma vitima, com a diferente de ter tido a coragem de reclamar de tais comportamentos e ter mostrado a sua indignagdo e revolta por toda a conduta negativa levada a cabo pelo director Geral contra si; 73. Que e mais, porque até a sorte da Requerente ja estava decidida, Requerida estava apenas interessada em cumprir as formalidades superficiais para se desfazer daquela, mesmo ciente de que era uma pessoa ou trabalhadora com protecgao especial pelo facto de se encontrar em estado de gestacao; 16 REPUBLICA DE ANGOLA re TRIBUNAL SUPREMO 74.Que a Lei Geral do Trabalho vai mais longe ao estabelecer no seu artigo 207.° a protecgao especial contra o despedimento individual durante a gravidez e até 12 meses apés 0 parto; 75. Que existe na LGT uma epigrafe que estabelece os direitos especiais para © caso de mulheres em estado de gestagao, como a Requerente, que no caso presente jamais poderao ser ignorados nem atropelados por puro alvedrio da entidade empregadora (Requerida); 76. Que a nulidade do procedimento disciplinar é dbvia quanto evidente, que dispensa qualquer exercicio para a sua demonstragao; 77.Que havendo nulidade do referido procedimento disciplinar por consequéncia inelutavel € igualmente nula a medida disciplinar decorrente desse procedimento..., 0 que desde ja se peticiona; 78.Que as consequéncias legais de um procedimento disciplinar por consequéncia inelutavel é igualmente nula a medida disciplinares nulos & anular-se tudo 0 que foi processado, proceder-se a reintegragao imediata e pagar todos os salarios, complementos salarias e créditos que o trabalhador (in casu, a Requerente) deixou de receber desde o despedimento até a reintegragdo..., 0 que igualmente se peticiona; 79.Que por outro lado, porque de direito, uma vez verificado o despedimento nulo, deve ser pago a Requerente uma indemnizagao nos termos do artigo 236.° e ss da LGT; 80. Que por tudo o exposto, a reintegragao juridica da situagao que afectou a Requerente, revela uma violagao das normas de caracter imperativo, ius cogens, e que nao podem ser afastadas pelo empregador; 81.Que e mais, existe uma disposigao da LGT, cuja realizado pratica constitui uma norma de dignidade constitucional material, que configure um principio de estabilidade da relagao juridico-laboral, como dispée 0 n.° 1 do artigo 198.°n.° 1 da LGT e que encontra acolhimento no art.°76.° n° 1 da Constituigao da Republica de Angola, abreviadamente CRA, quando consagra 0 direito ao trabalho; 7 REPUBLICA DE ANGOLA TRIBUNAL SUPREMO 82.Que violada a disposigéo sobre a estabilidade no trabalho, existe a obrigagdo de se reparar, desde logo o facto de que tratando-se de uma trabalhadora no regime de protecgao na materidade, fica protegida desde a gravidez e até um ano depois do parto nao podendo ser despedida, conforme estatuem as disposigdes da al. b) n.° 1 do artigo 207. e também don. 1 da al. d), € 0.n.° 4 do artigo 246.° da LGT; 83.Que tal circunstancias confere-Ihe © direito de reclamar os créditos referentes a um ano de protecgdo de maternidade e que nao deve ser despedida, situagao a que por ora a Requerente peticiona; 84. Que tais incongruéncias denotam uma vez mais a ma-fé, 0 abuso e a ilegalidade da Requerida, por nao ter respeitado as disposig6es dos artigos 207.° n.° 1 al. b) e ss da LGT, que se referem a proteogdo especial contra 0 despedimento individual durante a gravidez e um depois do parto.” Conclui pedindo a procedéncia da acgao. Realizada a tentativa de conciliagao a mesma nao largou acordo Notificada a Requerida para contestar (fis.116), esta veio fazé-lo (fis. 117 a 126), da seguinte forma: f “Que A. A. indicou na douta P.I. o valor da acgao de Akz 61.824.901,00 sem indicar qualquer silogismo, célculo aritmético ou fundamentagao legal que perfazesse esse valor, sendo que 0 seu pedido pecuniario é passivel desse cdlculo aritmético; Que a indicacao do valor absolutamente exagerado tem apenas como objective obrigar a R. a pagar preparos superiores ao que estaria obrigada, pois se A. nao estivesse isenta de custa processuais certamente nao peticionaria um valor que sabe nao ser correcto nem devido pela R; 18 REPUBLICA DE ANGOLA TRIBUNAL SUPREMO 3. Que 0 valor indicagao pela A. idéntico ao por si indicado aquando da Tentativa de Conciliagao, sendo que nesta havia peticionado o valor de 36.000.000,00 a titulo de “danos morais’ e a quantia de Akz 26.000.000,00 sob a denominagao de “repercussao na vida laboral” que nesta P.I, nao fez.” Termina pedindo a improcedéncia da acco. Proferida a decisdo (fis.150 a 158), 0 Tribunal “a quo” julgou procedente a acco e condenou a Requerida a reintegrar o Requerente e pagar-lhe o salario e o subsidio de férias e de natal que deixou de receber. Inconformada com tal deciséo, a Requerida interpés recurso (fls.162), que foi admitido como sendo de apelagao, com subida imediata nos préprios autos com efeito meramente devolutivo (fis. 164). Remetidos os autos ao Tribunal “ad quem’ este admitiu 0 recurso como sendo o proprio (fis.192v.°) A Requerida apresentou as suas alegagées (fls.196 a 205), com as seguintes, conclusées: 1. "Que a Recorrente procedeu de cépia do Processo Disciplinar nos autos de Tentativa de Conciliagao apenso aos presentes autos, indicando prova testemunhal para prova deste facto. Por cautela de patrocinio, nos termos do disposto no art.° 667.° do CPC procede a jungao de cépia do Processo Disciplinar, porque extraviado, devendo os presentes autos baixar a0 Tribunal ad quo e seguirem-se os demais actos processuais até final, ou que se abra periodo probatério para que a Recorrente prove que efectue a jung&o do Processo Disciplinar aos autos, seguindo-se posteriormente © processo até final; 2. Que a sentenga proferida, ao considerar provada a existéncia do Processo Disciplinar contradiz-se a si propria, ao fundamentar a nulidade 19 REPUBLICA DE ANGOLA TRIBUNAL SUPREMO da decisdo disciplinar na inexisténcia do Processo Disciplinar, violando o disposto no art? 668.°n. 1, al. c) do CPC, o que se alega com todos os legais efeitos; Que o Tribunal ad quo ndo se pronunciou previamente quanto a questao prévia alegada pela Recorrente, nem sobre a excep¢ao do valor da causa, nem sequer relativamente a diligéncia de prova requerida pela Recorrente, violando o disposto no art.° 668.° n.° 1, al. c) do CPC, o que se alega com todos os legais efeitos; Que os factos considerados provados na sentenga recorrida sao falsos, desrespeitam a impugnagao directa e so contraditérios com a propria decisdo, 0 que a torna nula por violagao do disposto nos artigos 487.°, 490.9, 511.9 n° 1, e 668° n.° ¢) todos do CPC . Que a falta de apresentagao de contestagao ou revelia relativa nao acarreta a imediata condenago do réu no pedido, se este for uma pessoa colectiva, pelo que numa interpretagao literal, teleolégica e sistematica, no pode ser a auséncia do Proceso Disciplinar que torna imediatamente possivel condenar-se no pedido um Réu, que é pessoa colectiva, em processo laboral, por violagao do disposto no art.° 485.° e 784.°, n.° 3 do CPC, 0 que se alega com todos os legais efeitos; Que no processo declarativo comum, sob a forma suméria, as partes podem apresentar documentos probatérios até ao encerramento da discussao em 1° instancia e ao ter decido de forma contraria, a sentenga tecorrida violou o disposto no art.° 523.° n.° 2, do CPC, 0 que se alega com todos os legais efeitos; Que ainda que a Recorrente nao tivesse apresentado o Processo Disciplinar, o Tribunal ad quo estava obrigado legalmente a promover a audiéncia preparatéria e a elaborar o Despacho Saneador, se necessério, no sé porque a Recorrente poderia juntar documentos até ao encerramento da discusséo mas também porque foram alegadas excepgées, questdes prévias e Requeridas diligencias probatorias, pelo 20 REPUBLICA DE ANGOLA TRIBUNAL SUPREMO. que 0 Tribunal ad quo violou o art° 787.° do CPC, 0 que se alega com todos os legais efeitos; 8. Que ainda que apos uma hipotética realizagao de audiéncia preparatoria, a Recorrente nao tivesse voluntariamente procedido a jungao aos autos do Proceso Disciplinar, 0 Tribunal ad quo nao poderia decidir com base nesse facto, mas sim considere n&o provados e, como tal incluir no questiondrio, todos os factos alegados pela Recorrente. Ao decidir de forma contraria, violou-se 0 disposto no art.° 523.° e seguintes do CPC; 9. Que a no apresentagao do Processo Disciplinar nos autos judiciais no € configurado como causa de nulidade da decisdo disciplinar, nos termos do disposto no art.° 208.° da NLGT e ao decidir de forma diversa, a sentenga recorrida incorreu em violagao de Lei expressa; 10.Que 0 disposto no art° 208.° n.° 3, 1* parte da NLGT, que obriga as entidades empregadoras a proceder 4 reintegragao automatica e obrigat6ria dos trabalhadores é inconstitucional por violagao do Principio da Liberdade de Trabalho (art.° 76° da CRA) do principio da Livre Iniciativa Economica (art? 38.° da CRA) e ao Principio da Liberdade Contratual (art.° 405.° do CC), 0 que se alega com todos os legais efeitos.” Termina pedindo a revogacao da decisao proferida pela primeira instancia. A Apelada apresentou as suas contra-alegagdes de fis. 533 a 544. Remetidos os autos a Digma Representante do Ministério Publico, esta pronunciou-se no sentido da improcedéncia do recurso interposto (fis. 546) Correram os vistos legais (fis. 547 a 547v.°). Tudo visto, cumpre-nos apreciar e decidir. 21 REPUBLICA DE ANGOLA TRIBUNAL SUPREMO Il- Objecto do recurso Sendo 0 Ambito e 0 objecto do recurso delimitados (para além das meras razées de direito e das questées de conhecimento oficioso), pelas conclusées formuladas pelos recorrentes ~ art.°s 660.°, n.° 2, 664.°, 684°, n.° 3 e 690.°, n° 1, todos do CPC, aplicaveis ex vi pelo art® 292.° da LGT, emergem como questées a apreciar e decidir, no Ambito do presente recurso, as seguintes 1. Saber se a sentenga recorrida 6 ou nao nula por estarem os seus fundamentos em oposic¢do com a decisao, nos termos da al. c) don. 1 do art. 668.° do CPC; 2. Saber se a sentenca ora recorrida é ou nao nula por omissao de prontincia, nos termos da al. d) do n.° 1 do art.° 668.° do CPC; 3. Saber se a falta de apresentacao da contestagao e nao jungo do processo disciplinar justificam ou nao a condenacao no pedido; 4. Saber se as partes podiam ou nao juntar aos autos documentos probatorios até ao encerramento da discussdo em 1 5. Saber se o Tribunal era ou nao obrigado a realizar audiéncia preparatoria e a elaborar 0 despacho saneador; 6. Saber se a nao apresentacao do proceso disciplinar nos autos da ou nao lugar a nulidade do despedimento, nos termos do n.° 1 do art? 208.° da LGT; 7. Saber se 0 n.° 3 do art. 208.° da LGT, que obriga o empregador a reintegrar o trabalhador 6 ou nao inconstitucional, pois viola o principio da Liberdade de Trabalho (art.° 76.° da CRA), o principio da Livre Iniciativa Econémica (art.° 38.° da CRA) e o principio da Liberdade Contratual (art. 405.° do CC). 22 REPUBLICA DE ANGOLA TRIBUNAL SUPREMO Ill - Da fundamentagao Do despacho saneador — sentenca ora recorrido resultam provados os seguintes factos: 1 “Que a 05 de Abril de 2014 as partes celebraram um contrato de trabalho por tempo indeterminado. (provado por documento de fis 85); Que a Recorrente exercia 0 cargo de directora dos recursos humanos, com um salario mensal de base no valor KWANZAS 824.901,00 (provado por documento de fis. 11); Que a recorrente foi despedida a 8 de Maio de 2016, na sequéncia de um proceso disciplinar que Ihe foi instaurado pela entidade empregadora na pessoa do seu director geral em Angola. (provado por acordo das partes); Que 0 despedimento teve por fundamento o facto de a recorrente ter enviado emails a direcgao geral internacional da empresa a informar sobre a conduta negativa praticada pelo mesmo director, onde o criticava © pedia certa orientacao de como deveria proceder no caso. (provado por acordo das partes); Que a recorrente por altura do despedimento se encontrava em estado de gestago. (provado por acordo das partes).” Apreciando Assim, passaremos a apreciagao das questdes objecto do presente recurso. 1. Saber se a sentenga recorrida 6 ou nao nula por estarem os seus fundamentos em oposi¢ao com a decisao, nos termos da al. c) do n.° 1 do art.° 668.° do CPC. 23 REPUBLICA DE ANGOLA TRIBUNAL SUPREMO Alega a Apelante que “A sentenga proferida, ao considerar provada a existéncia do Processo Disciplinar, contradiz-se a si propria, a0 fundamentar a nulidade da deciséo disciplinar na inexisténcia do Proceso Disciplinar, violando 0 disposto no art. 668.2, n.° 4, al. c) do CPC, o que se alega com todos os efeitos legais. Alega, por outro lado, que “ recomida so falsos, desrespeitam a impugnag&o directa e s40 contraditérios com a propria deciséo, 0 que a torna nula por violagéo do disposto nos art.°s 487.°, 511.9 n.° 1, @ 668.° n.° 1, alinea c) todos do CPC, o que se alega com todos os efeitos legais.” os factos considerados provados na sentenca Com os fundamentos acima avancados, pretende a Apelante levar-nos a concluir que estamos perante uma situagao de contradicao/oposigao entre a decisdo € a sua fundamentagao A ideia geral, segundo 0 Professor Joao de castro Mendes (in Direito Processual Civil, Volume Il, 2012, aafdl, pags. 543), € a de que uma sentenga que nao contém tudo o que devia, ou contém mais do que devia (vicios de limite) é nula, nos termos do art.° 668.° do CPC, aplicavel ao processo laboral por forga do n.° 1 do art? 59.° do Decreto Executive Conjunto n.° 3/82, de 11 de Janeiro. Deve salientar-se que as nulidades da sentenca (estas do art? 668.° do CPC) sao distintas da nulidade do proceso (estas do art° 193.° e ss do CPC) Desta sorte, haverd contradigao/oposi¢o entre a decisdo e a fundamentagao em que ela repousa sempre que a decisao é num sentido diferente de tudo aquilo em que se alicergou a fundamentacdo. Entretanto, a contradigao aqui relevante deve ser a contradie&o real entre os fundamentos e a decisdo e nao as hipéteses de contradigéo aparente, resultantes de simples erro material, seja na fundamentagao seja na decisao Assim, segundo Helena Cabrita (in A Fundamentagao de Facto e de Direito da Deciséo Civel, Coimbra Editora, 1.* Edig&o, 2015, pags. 258), deve haver uma contradigao ldgica entre os fundamentos e a decisdo, ou seja, a fundamentacdo 24 REPUBLICA DE ANGOLA \\ he fe f TRIBUNAL SUPREMO vod conduz logicamente a resultado distinto do que consta da decisao judicial, Isto 6, a fundamentagao seguiu uma linha de raciocinio, apontando num sentido, e depois a deciséo segue outro oposto, chegando a uma conclusdo completamente diferente da apontada pela fundamentago. No mesmo sentido, o Professor José Lebre de Freitas, A. Montalvao Machado e Rui Pinto (in Codigo de Processo Civil, Anotado, Volume 2.°, 2. Edigdo, Coimbra Editora, 2008, pags. 704), segundo os quais “Entre a oposigao e a decisdo néo ode haver contradigéo logica; se, na fundamentagao da sentenca, o julgador seguir uma linha de raciocinio, apontando para determinada conclusao, e, em vez de a tirar, decidir noutro sentido, oposto ou divergente, a oposigéo seré causa de nulidade da sentenca.” importa, aqui, referir que esta oposicao nao pode ser confundida com o erro na subsungao dos factos & norma juridica ou, muito menos, com o erro na interpretacao desta, pois, no caso de o Juiz entender que dos factos apurados resulta determinada consequéncia juridica e este seu entendimento é vertido na fundamentacao, ou dela decorre, estaremos perante o erro de julgamento. De resto, nao se devera falar de oposigao geradora de nulidade, nos termos da al ¢) do n° 1 do art.° 688.° do CPC. Para Antunes Varela, J. Miguel Bezerra e Sampaio e Nora (in Manual de Proceso Civil, 2.* Edigéo, Revista e Actualizada, Coimbra Editora, Limitada, 1985), nos casos abrangidos pela al. c) do n.° 1 do art.° 668.° do CPC, hé um Vicio real de raciocinio do julgador (e nao um /apsus calami do autor da sentenga): a fundamentagao aponta num sentido; a deciséo segue caminho ‘oposto ou, pelo menos, direcgao diferente. A oposi¢ao entre os fundamentos © a decisdo tem 0 seu correspondente na contradigao entre o pedido ¢ a causa de pedir, geradora da ineptidao da peticao inicial. 25, z is REPUBLICA DE ANGOLA TRIBUNAL SUPREMO Da sentenga resulta claramente que ha contradigéo entre os fundamentos e a decisao, pois esta alicergou-se na falta ou na nao jungao do proceso disciplinar aos autos. Isto €, a decisao judicial ora impugnada, que é a nulidade do despedimento, teve como fundamento a falta de processo disciplinar ‘supostamente instaurado a apelada Entretanto, julgamos que a Mma Juiz a quo proferiu deciséo obscura, pois, se por um lado a leitura da sentenga leva-nos a concluir que nao foi junto aos autos © processo disciplinar instaurado contra a Apelada, por outro, induz-nos a concluir que estamos numa situagéo de falta de um elemento do Pprocesso disciplinar. infelizmente, nao nos diz qual. Alias, basta uma leitura atenta da pag. 157 dos autos (pag. 8 do Despacho saneador sentenga). Diz no pardgrafo 4: “Logo, sem o elemento do processo disciplinar junto aos autos por incumprimento da entidade empregadora recorrida, julgamos que a sangdo disciplinar nele decidida merece censura, ¢ nesta medida cabe anulé-la, prevalecendo os vicios do processo disciplinar invocados pela trabalhadora recorrente, que consequentemente conduzem a nulidade do despedimento.” Porém no paragrafo anterior, diz que “Nesta conformidade, para que o Tribunal no Ambito do seu poder de jurisdigéo possa vir com tigor confirmar, anular, revogar ou alterar a medida disciplinar recorrida em conformidade com a prova produzida e a lei aplicdvel, the deve ser facultado os autos do procedimento disciplinar impugnado com vista a emitir 0 seu juizo de censura.” Ora, da andlise dos dois paragrafos acima, concluiu-se que estamos também perante uma decisao ambigua e obscura que torna a decisao ininteligivel, pelo que a mesma deve ser esclarecida, nos termos da al. a) do art.° 669.° do CPC, aplicavel por forga do n.° 1 do art.° 59.° do Decreto Executivo Conjunto n.° 3/82. de 11 de Janeiro, 26 REPUBLICA DE ANGOLA TRIBUNAL SUPREMO A ambiguidade ou obscuridade da sentenga verificar-se-a quando o pensamento do juiz que se retira da andlise da decisdo se afigura incompreensivel ou imperceptivel ou quando o sentido da deciséo nao seja univoco, por ser susceptivel de diversas interpretacdes ou comportar varios significados ou sentidos. Facilmente se contata que os fundamentos da decisdo nao sdo claros nem inequivocos, pois da analise da fundamentagdo néo se consegue retirar o concreto enquadramento ou qualificagao juridicos que o tribunal fez relativamente aos factos dados como provados e no qual se baseou para decidir. E que nao se sabe se a decisdo teve por fundamento a falta de processo disciplinar (ou seja, a sua nao jungao aos autos) ou a falta de elemento do proceso disciplinar. Mais grave: o que é elemento do processo disciplinar? O esclarecimento de alguma ambiguidade ou obscuridade da sentenga resolve- se com um pedido de aclaragao da mesma no tribunal que a proferiu, nos termos da al. a) do art.° 669.° do CPC, aplicavel por forga do n.° 1 do art°59.° do Decreto Conjunto n.° 3/82, de 11 de Janeiro. A sentenga recorrida contém dois paragrafos contraditdrios entre si, o que leva @ que n&o se consiga perceber em qual deles se alicercou a decisdo ora recorrida, conforme ja referido nos paragrafos 3 e 4 de pag. 26. Assim, somos de entendimento que estamos perante uma situagéio que conduz @ nulidade da sentenga, nos termos da al. c) do n.° 1 do art.° 668.° do CPC, pelo que procede esta pretensao da Apelante. Com 0 conhecimento desta questéo objecto do presente recurso, torna-se despiciendo apreciar a 2.*, nos termos do n.° 2 do art.° 660.° do CPC, aplicavel 27 ioe Por forga do n.° 4 do art. 59.° do Decreto Executivo Conjunto n.° 3/82, de 11 de Janeiro, REPUBLICA DE ANGOLA \\ TRIBUNAL SUPREMO V Nos termos do art.715.° do CPC, aplicavel por forca do art. 202.° da LGT, cabe a.este Tribunal conhecer do objecto da apelagao. 3.Saber se a falta de apresentacdo da contestacéo e ndo juncao do processo disciplinar justificam ou no a condenacio no pedido. A impugnagao de uma medida disciplinar efectua-se mediante Acgao de recurso em matéria disciplina, nos termos do art.° 14.° da Lei n° 22-B/92, de 9 de Setembro. Trata-se, esta acco, de um processo especial com tramitagao propria. Na aceao de Recurso em Matéria Disciplinar deve ter-se em conta: 0 proceso de impugnaco propriamente dito (a Acgao de Recurso em Matéria Disciplinar) © 0 processo disciplinar que deve ser junto aos autos. E é a partir do processo isciplinar que se analisa a validade ou néo da medida disciplinar aplicada e impugnada De tal sorte que, recebido o requerimento inicial, e depois de aferidos os pressupostos processuais, deverd o Juiz mandar notificar a Recorrida (a parte contra a qual se recorre) para contestar e, no prazo da contestagao, juntar 0 proceso disciplinar, nos termos do art® 17.° da Lei n° 22-B/92, de 9 de Setembro. Notificada a Recorrida, como anteriormente referido, pode ocorrer uma das seguintes situacdes: 1. Contesta e junta o processo disciplinar: 2. Contesta e nao junta o processo disciplinar; 3. Nao contesta e junta o proceso disciplinar; 28 2 Mee REPUBLICA DE ANGOLA i haf { TRIBUNAL SUPREMO 4, Nao contesta e nao junta o proceso disciplinar. Facilmente se podera compreender que sé a nao jungao do processo disciplinar tem consequéncias irremediaveis nesta acco, pois, a revelia, nestas acces, no caso de no apresentacao apenas da contestagdo, geralmente é inoperante, ao abrigo do n.° 3 do art° 29.°da Lei n.° 9/81, de 2 de Novembro. Segundo a norma ora citada, “A falta de contestagao determina, em principio, a imediata condenagao no pedido formulado, sem necessidade de audiéncia.” Ou seja, diferentemente do processo civil comum em que a falta de contestagéo determina, no caso de o Réu ter sido regularmente citado na sua propria pessoa ou tendo juntado procuragao 2 mandatario judicial no prazo da contestagao, considerarem-se confessados os factos articulados pelo autor, ao abrigo do n° 1 do art° 484.° do CPC. No processo laboral nem sempre assim acontece. © termo “em principio” constante da norma do n.° 3 do art.° 28.° da Lei n° 9/81, de 2 de Novembro, quer significar que sd se consideram confessados os factos € decidir-se a favor do Recorrente, se os elementos constantes dos autos forem bastantes para o conhecimento do mérito da causa. Isto decorre do principio da prevaléncia da justica material sobre a justiga formal Na verdade, juntado 0 processo disciplinar ou pegas essenciais do processo disciplinar (tais como a convocatéria para a entrevista, o auto de entrevista e a comunicagao da medida disciplinar ao trabalhador arguido), independentemente de quem os tenha Id colocado, o Tribunal deve decidir do mérito da causa. Deve aqui sublinhar-se que, caso a Recorrida nao conteste e nao junte o processo disciplinar aos autos, e as pegas atras referidas forem juntas ao processo pelo Recorrente, por forga do principio da prevaléncia da justica material sobre a justica formal, o Tribunal deve decidir a favor de quem tiver raz4o. O principio da prevaléncia da justiga material sobre a justica formal revela-se no reforgo dos poderes de intervened do juiz, que deve determinar oficiosamente 29 REPUBLICA DE ANGOLA TRIBUNAL SUPREMO @ producao de provas que considere indispensaveis @ deciséo, por um lado, € na admissao de todo 0 tipo de provas. A falta de apresentacao da contestagao no justifica, por si s6, em principio, a condenago no pedido, tal como disp6e 0 n.° 3 do art.° 29.° da Lei n.° 9/81, de 2 de Novembro. Entretanto, ja a nao apresentagao/jun¢ao do processo disciplinar, quando ordenado nos termos do art.° 17.° da Lei n.° 22-B/92, de 9 de Setembro, justifica © processo disciplinar € de extrema importancia na accéo de Recurso em Matéria Disciplinar, pois é a partir dele que se vai aferir da validade ou nao da medida disciplinar aplicada. Ou seja, é a partir do processo disciplinar que se vai aferir da observancia ou nao do formalismo exigido, e da existéncia ou nao da justa causa invocada para fundamentar a medida disciplinar aplicada De tal sorte que, na acgao de Recurso em Matéria Disciplinar as partes nao podem requerer diligéncias ja efectuadas no processo disciplinar. Porém o Juiz pode ordend-las, desde que as ache necessarias para o apuramento da verdade © a realizagao da justiga, nos termos do n.° 2 do art.” 18.° da Lei n.° 22-B/92, de 9 de Setembro. Podera também 0 Juiz rejeitar as diligéncias de provas requeridas pelas partes no caso de as considerar desnecessarias, inliteis ou dilatorias. Na acoao de Recurso em Matéria Disciplinar o Juiz est limitado, em princ! pelo processo disciplinar junto aos autos. A fis. 113 dos autos, constatamos que a Mma Juiz a quo, no seu despacho, ordena a notificagao da Recorrida para contestar e juntar o respectivo proceso disciplinar. Entretanto, facilmente percebemos da certido de notificagao a fis 116, que a Recorrida foi notificada apenas para contestar, isto é a Secretaria Judicial apenas cumpriu parte do despacho da Mma Juiz, nao tendo sido respeitado, na integra, 0 disposto no art.° 17.° da Lei n.° 22-B/92, de 9 de 30 REPUBLICA DE ANGOLA TRIBUNAL SUPREMO Setembro. Pelo que a nao jungao do processo disciplinar nao deve ser imputada a Recorrida. Porém, compulsados os autos encontramos pegas importantes do proceso disciplinar que foram la postas por alguém (nao foram la parar por obra e graga do espirito santo). De fis. 16 a 30 dos autos, temos: a Comunicagao de Aplicagao da Medida Disciplinar; Deciséo em Processo Disciplinar; Auto de Inquirigao de Testemunhas; Relatorio Final do Proceso Disciplinar; Acta da Entrevista Convocatéria de Entrevista Disciplinar. De fis. 108 a 112 dos autos, temos os seguintes documentos: Convocatéria de Entrevista Disciplinar, Acta de Entrevista, Auto de Inquirigo de Testemunhas e Comunicagao de Aplicagao da Medida Disciplinar. Estas so, em nosso entender, as pecas processuais do processo disciplinar, fulcrais para que o Tribunal possa pronunciar-se pela validade ou néo da medida disciplinar aplicada Do acima exposto, concluimos que a auséncia de contestago bem como a nao jungao do proceso disciplinar da lugar a condenacao da Recorrida no pedido nos termos do n° 3 do art.° 29° da Lei n.° 9/81, de 2 de Novembro. Na senda do acabado de expender, torna-se pertinente conhecermos da validade ou nao do despedimento Assim, € 0 que este Tribunal vai fazer, nos termos do art® 715.° do CPC, aplicavel por forga do art.° 292.° da LGT. a, Saber da validade ou nao do despedimento. Quanto ao formalismo. ‘A medida disciplinar de despedimento, prevista na al. d) do n.° 1 do art.° 47.° da LGT é a mais gravosa do leque de medidas disciplinares, e s6 deve ser aplicada quando outra (medida), ponderadas todas as circunstancias, nao tenha lugar. 31 © REPUBLICA DE ANGOLA TRIBUNAL SUPREMO Ou seja, a medida disciplinar de despedimento imediato deve funcionar como o “castigo” maximo que deve ser aplicado ao trabalhador infractor pelo cometimento da infraceao disciplinar. Na verdade, a medida disciplinar de despedimento imediato funciona como uma sangao, como se disse acima, ocorrendo na cUpula das medidas disciplinares previstas na lei, como consequéncia do poder patronal de as aplicar (Anténio Menezes Cordeiro, in Direito do Trabalho I! — Direito individual, Almedina, 2019, pags. 984) Desta sorte, para que a medida disciplinar de despedimento imediato aplicada seja valida, necessario se toma que haja um processo disciplinar valido e justa causa disciplinar O formalismo do processo disciplinar esta previsto nos art.°s 46.° a 61.° da LGT, que tem inicio com a decisdo de instauragéo do processo disciplinar que é da competéncia do titular do poder disciplinar, nos termos do art.° 48.° da LGT. O titular do poder disciplinar na empresa é a mesma entidade que detém o poder directivo ~ 0 empregador. Entretanto, o poder disciplinar nao assume natureza pessoal e indelegavel, pelo que © empregador pode mandatar um quadro superior para o exercer, mas devendo ter um grau hieraérquico superior ao do arguido (Pedro de Sousa Macedo, in Poder Disciplinar Patronal, Livraria Almedina. Coimbra — 1990, pags. 26). Este é 0 sentido do n° 2 do art.° 46.° da LGT. Este formalismo deve ser rigorosamente observado, dai dizer-se que o despedimento ¢ nulo: (i) Na falta de processo disciplinar e (ii) Violag&o do formalismo (rito) processual. Ou seja, o legislador, no que se refere ao procedimento, distingue a inexisténcia de procedimento dos casos em que este, embora existindo, apresenta vicios 32 REPUBLICA DE ANGOLA TRIBUNAL SUPREMO susceptiveis de colocar em causa 0 produto despedimento (Nuno Abranches Pinto, in Instituto Laboral Disciplinar, Coimbra Editora, 2009, pags. 180). Assim sendo, se 0 empregador nao empreendeu qualquer forma de procedimento, o despedimento 6 ilicito e, se o mesmo empregador no cumpriu rigorosamente todas as formalidades a que se encontrava obrigado, o despedimento também é ilicito, sendo que as duas situagées levar-nos-iam a nulidade do despedimento, nos termos do n.° 4 do art.° 208.° da LGT. Apesar do art.° 61.°, n.° 1, al. a) da LGT estabelecer que 0 procedimento disciplinar se inicia com 0 envio da convocatéria, somos de entendimento que, na verdade, 0 mesmo inicia-se com a abertura de tal processo que 6 a consequéncia do despacho do titular do poder disciplinar, para o efeito. Entretanto, importa aferir-se das fases do processo disciplinar para que se possa ‘saber se 0 formalismo foi ou nao violado pelo Apelante. proceso disciplinar, como qualquer outro proceso, tem que se desenvolver por uma sequéncia de actos formalmente caracterizados. Assim, a exigéncia de trés papéis em sequéncia légica — convocatéria (que, no nosso ordenamento juslaboral funciona como nota de culpa — acusago), seguida de defesa e da decisao. A medida disciplinar néo pode ser aplicada sem a audiéncia prévia do trabalhador arguido, salvo se se tratar das medidas disciplinares de admoestagao simples e admoestagao registada, ao abrigo do n.° 1 do art. 48.° da LGT. Dos autos, constatamos que a Apelada foi convocada no dia 24 de Margo de 2016 (doc. de fls. 106 a 108) para entrevista em processo disciplinar, tendo a mesma (convocatéria) respeitado os requisitos do n.° 2 do art.° 48.° da LGT. A entrevista foi adiada de 5 para 7 de Abril (fis. 30); e teve lugar no dia 7 de Abril de 2016 (fis. 25 a 27); aos 18 dias do mesmo més e ano foram inquiridas as 33 Q@ “th ey se REPUBLICA DE ANGOLA \| [> { TRIBUNAL SUPREMO testemunhas (fis. 110 e 11); a medida disciplinar de despedimento foi aplicada no dia 4 de Maio de 2016 (fis. 17 e 18); e foi comunicada a Apelada no dia 6 de Maio de 2016 (fis. 16). Desta sorte, somos de entendimento que o procedimento disciplinar previsto nos art.° 48.° a 61° da LGT foi legalmente observado. Quanto a substancia do despedimento (justa causa). A relagdo obrigacional complexa a que da origem o contrato de trabalho pressupée a existéncia, ao lado do dever principal do trabalhador de prestar uma actividade, um conjunto de deveres secundarios e acessdrios. O recorte dos deveres do trabalhador faz-se, quer a partir dos elencados no art.° 44.° da LGT, mas também dos fundamentos do despedimento com justa causa, nos termos do art.° 206.° da LGT, porquanto a partir destes € possivel delinear 0 contetido do contrato de trabalho em materia de obrigagdes do trabalhador. Constitui justa causa 0 comportamento ilicito, culposo e grave do trabalhador que ponha em causa as condigSes de continuidade do vinculo juridico-laboral. Ou seja, 0 comportamento do trabalhador que, pela sua gravidade, desobrigue © empregador a continuar com aquela relagao de trabalho, Em termos simples, dizer-se-4 que 0 despedimento com justa causa se traduz na sang&o disciplinar maxima susceptivel de ser aplicada ao trabalhador. Constitui justa causa de despedimento o comportamento culposo do trabalhador que, pela sua gravidade e consequéncias, torne imediata e praticamente impossivel a subsisténcia da relagao de trabalho (Joao Leal Amado, in Contrato de Trabalho, 2.* Edigao, Coimbra Editora, 2010, pags. 383). Ajusta causa corresponde a uma clausula geral ou a um coneeito indeterminado cujo preenchimento depende das circunstancias de cada caso concreto, sendo num primeiro momento avaliado pelo empregador e podendo ser, posteriormente, objecto de apreciagdo judicial, a efectuar na acao de REPUBLICA DE ANGOLA TRIBUNAL SUPREMO impugnagao judicial de despedimento (acgao de Recurso em Matéria Disciplinar), Com efeito, segundo o Professor Bernado Xavier, citado por Pedro Furtado Martins (in Cessagao do Contrato de Trabalho, 3.* Edicdo, Revista e Actualizada, Principia, 2012, pags. 169), “o nucleo essencial do conceito de justa causa, 0 critério basico para averiguar da sua existéncia, reside na impossibilidade pratica de subsisténcia da relagao de trabalho" Na base da justa causa ha-de estar um comportamento culposo do trabalhador, sendo, porém, verdade, que esse comportamento, por si 86, nao constitul a situagdo de justa causa. Ou seja, a mera verificago dos varios comportamentos constantes do art° 208.° da LGT ¢ insuficiente para decidir da existéncia de uma situagéio de justa causa para despedir. Decisivo € averiguar se esse comportamento foi de tal forma grave que tenha por consequéncia tomar impossivel a prossecucao da relagao de trabalho, exigindo-se, para tal, a ponderagao das mais variadas circunstancias em que o comportamento ocorreu. Segundo a professora Joana Vasconcelos (A Coneretizagao do Conceito de Justa Causa, in Estudos do Instituto de Direito do Trabalho, Volume III, Almedina, pags. 209), a ocorréncia de um comportamento censuravel , s6 por si, insuficiente para permitir concluir pela verificagao de uma situagéio de justa causa — isso s6 sucedera se se concluir ainda que esse comportamento revestiu tal gravidade e consequéncias que tornou invidvel a prossecucao da relagao de trabalho. Na mesma senda, José Licio Munhoz e Tarcio José Vidotti (A Rescisdo Por Justa Causa do Contrato de Emprego no Direito do Trabalho Brasileiro, in Estudos do Instituto de Direito do Trabalho, Volume Il, Justa Causa de Despedimento, Almeida, 2001, pags. 263) indicam os principios que regem a justa causa, destacando o da proporcionalidade ~ a ideia é a de que a pena que ser infligida ao que cometeu a falta seja proporcional, equivalente a gravidade 35 REPUBLICA DE ANGOLA TRIBUNAL SUPREMO do acto; exaustao — se para 0 facto ja for aplicada uma pena, estaria exaurida a possibilidade de aplicagdo de uma pena mais grave, tessaltando, desta feita, 0 principio non bis in idem; relatividade - exige que sejam levados em consideragdo 0 elemento da intengao do agente, do resultado e do ambiente ou local em que ocorreu a situagéo; gravidade — 0 acto deve ser grave o suficiente que impega a continuidade normal do contrato; extens3o — estabelece a possibilidade ~ ndo a regra ~ de a justa causa ser aplicada apos a pratica de diversas faltas leves, como se tratasse — em paralelo com a tipficagao penal — de concurso material, concurso formal ou crime continuado; ¢ o da actualidade ~ exigindo que que entendimento de justa causa seja tido tao logo tenha ocorrido 0 facto ou tao logo apurada ou conhecida a sua autoria Dai o nosso entendimento que a medida de despedimento disciplinar sO se justifica quando outra medida disciplinar nao se mostrar suficiente para punir trabalhador faltoso. Isto é, deve haver uma inviabilidade pratica para a continuagao da relagdo juridico-laboral entre as partes. Dos autos, constata-se que o comportamento da Apelada nao foi to grave que inviablizasse a relagdo laboral, de tal sorte que recomendaria a aplicagao de uma medida disciplinar conservatoria. Houve excesso na punigao da Apelada Faltou razoabilidade Da convocatéria (fs. 106 a 108) da acta de entrevista (fis. 25 a 27) e do relatorio final do processo disciplinar (fis. 21 @ 24), todas dos autos, constata-se que Apelada, no exercicio das suas fungées, teve uma conduta reprovavel, "a0 aconselhével @ desprovida de algum bom sendo. Esta conduta, em nosso entendimento, viola 0 dever de urbanidade previsto na al. d) do art.° 44.° da LGT. Entretanto, 6 nosso convencimento que, apesar de reprovavel € censuravel 0 comportamento da Apelada, o mesmo nao justifica a aplicagéo da medida de despedimento disciplinar prevista na al. d) do n.° 1 do art ° 47.2 da LGT. Isto &, 36 REPUBLICA DE ANGOLA TRIBUNAL SUPREMO aceitar-se-ia a aplicagao de alguma medida disciplinar conservatéria, denotando, desta feita, a excessividade da mesma. Desta feita, julgamos injustificada, imotivada a medida de despedimento disciplinar aplicada, por falta de justa causa, julgando-se, por conseguinte, o despedimento improcedente, nos termos do art.° 209.° da LGT. Pelo que deveré a Apelante ser condenada a pagar a Apelada o valor de Akz. 4.949.406,00 (quatro milhdes, novecentos e quarenta e nove mil, quatrocentos e seis kwanzas) referentes a seis salarios base, a razdo de Akz. 824.901,00 (citocentos @ vinte € quatro mil, novecentos e um kwanzas) de salario base mensal, nos termos do n.° 3 do art. 209.° da LGT. Devera, ainda, a Apelante ser condenada no pagamento de Akz. 1.237.352,00 (um milhdo, duzentos ¢ trinta e sete mil, trezentos e cinquenta e dois kwanzas) de indemnizagéo por antiguidade, nos termos dos n.°s 1 € 2 do art.° 239.° da LGT, perfazendo, assim, um total de Akz. 6.186.758,00 (seis milhdes, cento e oitenta e seis mil, setecentos e cinquenta e oito kwanzas). Com o conhecimento desta questdo, fica prejudicado o conhecimento das restantes questdes, ao abrigo do n.° 2 do art. 660.° do CPC, aplicavel nos termos do n.° 1 do art.° 59.° do Decreto Executivo Conjunto n.° 3/82, de 11 de Janeiro.- MesTes Teun, az Yeudemn Fr a avn Anite: Assam! Riyrha ye tice votrAenkk 9 feturro a, ee peeee | 37 REPUBLICA DE ANGOLA TRIBUNAL SUPREMO J. Declarar pte a MeAks aR » A Arodentt a pagar A Prpela - Be 0 Valor Ake -6. 486.458, > (Seis mln, (unr 2 O1 aete ~ O ) oe Gt Ce Guoede + nk Keven | , Yodo Ree. 4.449. 406, 00( Guxire nes Hes ha = Corr 2 reale 2 rome Wel, ino low ts 2 les \Uu) Cove wh, 2 Salenriey intercelares e AkA-d- a Sine (Gan mleS, durante 2 (inte belie rel, etek 2k ce a dey (want) | Ae jude wm WBaet panrdnas On Cus les a Naw we rolureadan 9 7 rs be Daa bies Gen oan ia WAKk 0 Vy de (axe db fi6 @. keg ek prqut— judd, 09.12. D0a0. Nak (sep alee, Mde ee @ REPUBLICA DE ANGOLA. TRIBUNAL SUPREMO. CAMARA DO TRABALHO COPIA DA DECISAO PROFERIDA A FLS. 385 € 386 NOS AUTOS DE RECURSO APELACAO EM QUE E APELANTE, EMPRESA SKY CHEFS TAAG ANGOLA CATERING = APELADO, ZORA ELIKEWA DASILVA CRUZ DE SANTA ANA PROC N2 708/18 DECISAO Nestes termos e fundamentos, os Juizes desta Camara acordam em julgar procedente o recurso e, em consequéncia 1. Declarar nula a decis8o recorrida; 2. Condenar a Apelante a pagar 8 Apelada o valor de Akz. 6.186.758,00 (setecentos e cinquenta e oito Kwanzas), sendo AKZ. 4.949.406,00 (quatro milhdes, novecentos ¢ quarenta e nove mil, quatrocentos e seis kwanzas) Correspondentes a salarios intercalares e Akz. 1. 237. 352,00 (Um milhao, duzentos e trinta e sete mil, trezentos e cinquenta e dois kwanzas),de indemnizac3o por antiguidade. Custas pela Apelante e procuradoria consigna a favor do cofre Geral de Justiga que se fixa em % da Taxa de Justica Registe e Notifique. Luanda, 03 de Dezembro de 2020 — Norberto Capeca, Teresa Buta e Teresa Marcal - Esté conforme - SECRETARIA JUDICIAL DA CAMARA DO TRABALHO DO TRIBUNAL SUPREMO, EM LUANDA, AOS 09 DE ABRIL DE 2021 Pa Judicial, ] ss

You might also like