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[edie 2, 4 « 44] DOIS TRATADOS SOBRE O GOVERNO John Locke Traducio JULIO ASCHER Martins Fontes Séo Paulo 1998 Dots tratades sobre 0 governo. descendéncia de Addo foi ha tanto tempo completamente perdido que em todas as ragas da humanidade e familias do mundo ndo resta, a nenhuma mais que a outra, a menor pre- tensio a set a casa mais antiga e a ter 0 direito de heranga. tumult, da sedigaoe da sebcino interminaveis* (males con- tra os = ua 0s seguidores dessa hipétese bradam t2o alto), € conhecer as pessoas que 0 possuem que nio aqueles que sit Robert Filmer nos ensinou. 2. Para tal propésito, julgo nao ser descabido estabele- cer 0 que considero como poder politico ~ de modo a distin- guir o poder de um magistrado sobre um stidito do de um paisobre 0s filhos, de um amo sobre seu servidor, do mari- cee bro do sobre a esposa e de um senborsobre seus escravos. Por es- tarem ocasionalmente todos esses diferentes poderes enfel- xados num mesmo homem, se este for considerado sob es- politica, um pai de familia e o capitdo de uma galera 3. Considero, portanto, que o poder politico € o direito de editar leis com pena de more e, consequentemente, todas as penas menores, com vistas a regular e a preservar a pro- priedade, e de empregar a forca do Estado na execugdo de luis leis € na defesa da sociedade politica contra os danos ex- ternos, observando to-somente © bem piblico.: caPiruLo Do estado de natureza* 4, Para entender o poder politico comretamente, e deri- viclo de sua origem, devemos considerar 0 estado em que 53° 1 Comparse com a defingto de respuiica jou Ett de Tlie {que o texto original de Locke contivesse um Gnico purigrafoanies deste pont, 381 Dots trataios sobre o govermo todos os homens naturalmente estdo*, o qual é um estado de perfeita liberdade para regular suas agbes dispor de suas posses e pessoas do modo como julgarem acertado, dentro dos limites da lei da natureza, sem pedir licenga ou depen- outras, sem subordinagao ou sujeigdo, a menos que o Se- hor e amo de todas elas, mediante qualquer dectaragao ma- tarot. nifesta de Sua vontade, colocasse uma acima de outra € the conferisse, por evidente e clara indicag2o, um direito indu- bitével a0 dominio e a soberania 5. 0 judicovo Hooker considers essa tualdade dos awa ‘dGvida que a toma o funcamento da obigagdo a0 10 entre os homens, na qual faz assentar os deve- ‘os homens quanto qualquer um possa desefar para sua pro- ‘pria alma, como poderia eu procurar ter qualquer parte de ‘meu desejo assim satisfeita, a menos que eu mesmo tivesse 0 ‘cuidado de satisfazer 0 mesmo deseo, que esta sem diivida em ‘outros homens, sendo todos de uma tinica e mesma nature- pectos, afligi-los tanto quanto a mim; de modo que, se pra- ico 0 mal, devo esperar sofrer, por ndo baver razao alguma Para que outros demonstrem por mim maior medida de amor Dots tratados sobre 0 governo do que recebem de mim; logo, 0 meu desejo de ser amado ‘por meus {quais em natureza, tanto quanto posstvel seja, im- ‘poe-me um dever natural de demonstrar por eles plenamen- te a mesma afeicao; dessa relacdo de tgualdade entre nés mesmos eles, que sdo como nds, nenbum bomem ignora as diversas regras e principios que a razdo natural estabeleceu para a direcao da Vida, (Pol. ecl, Liv. 1. 6. Mas, embora seja esse um estado de liberdade, nao, é um estado de licenciosidade; embora o homem nesse esta- do tenha uma liberdade incontrolével para dispor de sua pes- soa ou posses, no tem liberdade para destruir-se ou a qual- ‘quer criatura em sua posse, a menos que um uso mais nobre que a mera conservacdo desta 0 exija. O estado de natu- reza tem para governd-lo uma lei da natureza, que a to- dos obriga; e a raz, em que essa lei consiste, ensina a todos aqueles que a consultem que, sendo todos iguais ¢ indepen- dentes, ninguém deveria prejudicar a outrem em sua vida, tefato' de um mesmo Criador onipotente e infinitamente si- bio, todos eles servidores de um Senhor soberano e Gnico, + como propriedade de Devs 1 § 85; compar cor I, § 56, e o Brito ngs ‘de 1660, IL ro I signios, s4o propriedade de Seu artifice, feitos para durar en- ‘quanto a Ele aprouver, e no a outrem. E tendo todos as mesmas faculdades, compartilhando todos uma mesma co- munidade de natureza, nao se pode presumir subordinagi0, alguma entre nés que nos possa autorizar a destruir-nos uns 208 outros, como se fOssemos feitos para 0 uso uns dos ou- zo, quando sua propria preservag20 nao estiver em jogo, cada um deve, tanto quanto puder, preservar o resto da bu- manidade, ¢ nao pode, a ndo ser que seja para fazer justica um infrator, tar ou prejudicar a vida ou 0 que favorece a preservacio da vida, liberdade, sadde, integridade ou bens de outrem. 7. E para que todos os homens sejam impedidos de in- vadir direitos alheios ¢ de prejudicar uns aos outros, e para ue seja observada a lei da natureza, que quet a paz € a con- servacdo de toda a bumanidade, a responsabilidade pela execuedo da lei da natureza , nesse estado, depositada nas maos de cada homem, pelo que cada um tem o direito de poder para executar essa lei e, com isso, preservar os ino- ~FRetos para o uso uns dos outros” Brogan, 1958, propde um para ‘apitlo XIN do Leviaa, embora nao hau nenhuma serelhana textual. Dols tratadas sobre 0 govern centes e conter os transgressores. E se qualquer um no es- tado de natureza pode punir a outrem, por qualquer mal que tenha cometido, todos 0 podem fazer, pois, nesse esta- do de perfeita igualdade, no qual naturalmente nao existe superioridade ou jurisdigao de um sobre outro, aquilo que ‘qualquer um pode fazer em prossecucao dessa lei todos de- ‘vem necessariamente ter 0 direito de fazer. 8. E desse modo um homem obtém poder sobre outro no estado de natureza; nao se trata, porém, de um poder absoluto ou arbitrario, para se usar com um criminoso, quan- do a ele se tem em maos, segundo as paixdes acaloradas ‘ou a ilimitada extravagincia da propria vontade, mas apenas para retribuir, conforme dita a razao calma ea consciéncia, de modo proporcional' a transgressao, ou seja, tanto quan- to possa servir para a reparagao e a restrigao; pois estes si0 (05 tinicos motivos pelos quais um homem pode legalmen- te fazer mal a outro, que € 0 que chamamos de castigo. AO transgredir a lei da natureza, o infrator declara estar viven- do segundo outra regra que nao a da razdo e da eqdidade ‘comum, que € a medida fixada por Deus as ages dos ho- ‘mens para mitua seguranca destes; €, assim, toma-se ele pperigoso para 2 humanidade, afrouxando ou rompendo os lagos que servem para guardi-la da injaria’ e da violencia. Drepou-ec mal mas o mesmo set. Ndo deve confundie exe sido mais Iteral de ffir com 0 uso corrente desse termo em nossa lingua, na acento de tsulto. Note-se, no cap. IV, § 23, penchima fase, que € possivel ‘causardano Charm) ou mal a um escravo, sem com iso Ihe fazer infra, i ‘que ele perdeu todo dirt. (N. do RT) = Lie ‘Tratando-se assim de uma agressio contra toda a espécie € ‘contra sua paz e seguranga proporcionadas pela lei da na- tureza, todo homem pode, por essa razio € com base no direito que tem de preservar a humanidade em geral, res- tringir ou, quando necessério, destruir 0 que seja nocivo a ela; pode assim fazer recair sobre qualquer um que tenha transgredido essa lei um mal tal que o faga arrepender-se de 0 ter praticado e, dessa forma, impedi-lo ~ e por seu exemplo a outros ~ de praticar 0 mesmo mal. E neste ca- 0, com base no mesmo fundamento, todo homem tem 0 direito de punir o transgressor e de ser 0 executor da lei da natureza. 9. Nao duvido que para alguns homens esta parecer uma doutrina muito estranha’. Antes que a condenem, po- rém, gostaria que me respondessem por qual direito pode qualquer principe ou Estado condenar morte, ou punir a um estrangeiro, por qualquer crime que este cometa em seus dominios. £ certo que suas leis, em virtude de sangao que tecebam pela vontade promulgada do vo, ndo atingem o estrangeiro. Nao the dizem respeito dissessem, ele ndo estaria obrigado a observi-las. A autori- dade legislativa, pela qual elas tém forga junto aos séditos desse Estado, ndo tem poder sobre ele. Aqueles que detém o oder supremo de elaborar leis na Inglaterra, Franca ou Ho- landa estdo para um indio’ como o resto do mundo: homens “Doutrina muito estan” parece ser este 0 modo de Locke anunciar doutina do castigo er, cu pretend se, novdade; compara com I, 180, ¢ inteduglo, p. 140, Nao hk divida de que cla contrast sutlmen a doutrina exposta por Hobbes no captalo 28 do Lead, & qual costs ‘comparada. A Segunda carta sobre a olerancia, de Locke (1690), ests ‘neirumente dedicada ao castigo como meio de reparagdo e restri¢ao. 2. Em outs palavrs,o indo, provavelmente 0 amerindio, encontra-se fem estado de rarureza em face de todo poder estbelecdo, o que implica a ‘nexsténcia de uma te iternacional (Ver Cox, 1960, 138. 387 Dols ratades sobre 0 governo desprovidos de autoridade. Se, portanto, pela lei da nature- za, nem todo homem tem © poder de punir as transgres- s6es contra ela tal como julgar ponderadamente que 0 caso requer, ndo vejo como os magistrados de qualquer comuni- dade poderiam punir a um estrangetro de outro pais, vis- to que, com relacao a ele, nao podem ter mais poder que aquele que qualquer homem pode ter naturalmente sobre + outro, 10. Além do crime que consiste em violar a lei e des- viar-se da correta regra da razio, em virtude do que um ho- mem torna-se degenerado e declara seu rompimento com prineipios da natureza humana e ser uma criatura noci- va", hé comumente a injtiria feita por uma pessoa ou outra, ‘causando com tal transgressdo prejuizo a uma terceira; nes- te caso, aquele que sofreu qualquer prejuizo tem, além do direito de puni¢a0 comum a todos os demais homens, usm di- reito particular de buscar uma reparagdo junto aquele que a causou. E qualquer outra pessoa que considere isso justo pode unir-se aquele que foi prejudicado e assistilo a reco- brar do transgressor tudo quanto possa compensé-lo pelo dano sofrido’. 11. Desses dots direttos distintos — um de punir 0 crime para restringir ¢ evitar 0 mesmo deli, direito este que ca- be a todos; 0 outro, de obter reparagdo, que cabe somente a parte prejudicada -, segue-se que o magistrado, que por ser magistrado tem o direito comum de punir depositado em ‘suas maos, pode amitide, onde quer que o bem piiblico nao F101. Comparar com Il, § 172, nota referencias 2. Sobre © § 10, Erlington comenta (1788) que, a0 longo de todo 0 seu teatado, 0 “zelo de Locke pela liberdade leva com grande freqincl 2 ree riese 208 deveres dos homens co omo direitos os quais eles podem exercet OU ‘dos quais podem abdicar a seu bel-prazer. 388 cexija a execugio da lei, relevara punigdo dos delitos crimi- safido. Tal reparacio, aquele que softeu o dano tem o di- reito de exigir em seu proprio nome, e apenas ele o pode rrelevan a pessoa prejudicada tem o poder de apropriar-se dos bens ou servigos do transgressor, por direito de auto- conservacao, assim como todo homem tem o poder de pu- nir 0 crime para evitar que este seja cometido novamente, em virtude do direito que tem de conservar a toda a buma- nidade e de fazer tudo 0 que for razoavel para atingir tal fim. E assim ocore que, no estado de natureza, todo ho- mem tem o poder de matar um assassino, tanto para impe- dir que outros cometam 0 mesmo mal, que nenhuma repa- ragio pode compensar, pelo exemplo do castigo que lhe cabe da parte de todos, como para guardar os homens dos intentos de um criminoso que, tendo renunciado a razdo, regra ¢ a medida comuns concedidas por Deus aos ho- mens, pela violencia injusta e a carnificina por ele cometi- das contra outrem, declarou guerra a toda a humanidade e, Portanto, pode ser destruido como um ledo ou um tigre, um ais selvagens com os quais os homens nao po- dem ter sociedade ou segurancat, Eis a méxima em que se baseia a grande lei da natureza: aquele que derramar 0 san- ‘gue do bomem, pelo homem tera seu sangue derramado’. Caim estava to plenamente convicto de que todos assim tinham o direito de destruir um criminoso que, ap6s 0 as- sassinio de seu irmao, exclamou: “Aquele que me encontrar S11 7” Comparar com I, § 159. O poder do perdio era o quarto sinal de soberania (Bodin, Methodus, © € possivel que aqui Locke estes sepuindo a argumentagio tradicional Dots tatadas sobre o governo ‘me matard”*, ‘Jo claramente estava isso inscrito no coragio dos homens. 12. Pela mesma razao, um homem no de natu- sor, dar-the causas de arrependimento € aterrorizar a outros para que nao procedam da mesma forma. Cada delito pas- sivel de ser cometido no estado de natureza é também passi- vel de ser punio da mesma forma ¢ no mesmo grit que pane Jo coerce, posbllade eur de arse 103 654; ver Von Leyden, 1954 $12 1. Sobre atnade de Locke com respeto 3 ei da natureza,e 2 afma- ‘Ho de que estava fora de seus propéstos entrar aqui em seu pormenor, er Introdugao,p. 12 2. Compara, § 124 paralelo tex. 390 oro I. meio de palavras, visto que assim é verdadeiramente uma igrande parte das leis municipais dos paises, as quais s6 s40 ‘verdadeiras se baseadas na lei da natureza’, mediante a qual sdo reguladas e interpretadas‘. 13, A esta estranha doutrina, isto é, a de que no estado grandes quando aos homens é facultado serem juizes em “5 Pakage indica da hoidade de Locke 20 que mui a8 44 Compsrar com Il § 135, ¢ 05 surpreendentes paalels apontados por Yo Leyden em nay om the La Net A pp 189,19, de a ows sgrtas horas a sg’ Live 1, cap. Sob 0 pio, I, $239 e now. 391 Dots tratados sobre 0 governo. suas proprias causas, pois é facil imaginar que aquele que foi injusto a ponto de causar injGria a um irmao dificilmen- te sera justo o bastante para condenar a si mesmo por tal. Mas desejo lembrar aqueles que levantem tal objegdo que (08 monarcas absolutas sao apenas homens, €, se 0 gover- no ha de ser o reméclio aos males que necessariamente se seguem de serem os homens juizes em suas proprias cau- ._ 848, razio pela qual o estado de natureza ndo pode ser su- portado, gostaria de saber que tipo de governo € esse e em que € ele methor que o estado de natureza, no qual um ho- mem, no comando de uma multido, tem a liberdade de ser juiz em causa propria e pode fazer a todos os seus stiditos © que bem Ihe aprouver, sem que qualquer um tenha a mi- nima liberdade de questionar ou controlar aqueles que exe- cutam o seu prazer, Em que todos devem submeter-se a ele Ro que quer que fara, sejam 0s seus atos ditados pela razio, pelo erro ou pela paixdo? Muito melhor € 0 estado de natu- feza, no qual os homens nao sio obrigados a se submete- Fem a vontade injusta de outrem € no qual aquele que jul- gar erroneamente em causa propria ou na de qualquer outro teri de responder por isso a0 resto da humanidade’ 14, Pergunta-se muitas vezes, como objecao importan- te, onde estio, ou em algum tempo estiveram, os homens em tal estado de natureza. Ao que bastara responder, por enquanto', que, dado que todos os principes e chefes de governos independentes no mundo inteiro encontram-se ‘num estado de natureza, claro est que o mundo nunca es- teve nem jamais estard sem um certo ntimero de homens nes- se estado. Referi-me a todos os governantes de sociedades politicas independentes, estejam ou nao elas em ligacao com 514 1. Comparar com I, § 101, em que € dada uma resposta completa, tal Vez conto uma ampliaglo posterior ~ ver not ai 392 ttre ‘outras’, pois no € qualquer pacto que poe fim ao estado de natureza entre os homens, mas apenas 0 acordo miituo € conjunto de constituir uma comunidade e formar um corpo politico; os homens podem celebrar entre si outros pactos € promessas €, mesmo assim, continuar no estado de natu- reza, As promessas e acordos de troca etc. entre dois homens numa iha deserta mencionados por Garctlaso de la Veya em sua Hist6ria do Pens, ou entre um suico € um indio nas florestas da América, comprometem a ambos, embora em referéncia um 20 outro eles estejam num perfeito estado de natureza’, Pois a verdade ¢ observancia da palavra dada ca- [govemos encontram-se em estado de natureza entre si: comparar| autor especfico em mente, © mais provavel, parece, € que se tatase de Pu- Tendo. Ver Intradcdo, p. 106 3. Na primeies versio da 1! edie, esta passagem aparece diferente, € & ‘sta varagio mais importante ene as duas verses. Os acordos de roca que alse mercionam sto “entre os dois homens em Solddnia, ou entre um supa © um indi’, € nao bd meno tha deserts de Garcia. £ evidente que locke nao se limiou a inclu, ma segunds versio, uma fase omitida na. pie rmeira, pois ndo ocorre mengio 2 Soldinia (a bala de Saldanha, ra Africa do Sul) em Garcilaso, que wata da América. Aparentemente, Locke decdiu supe- ‘mic por completo sua referéncia imperfeia a Soldinia,¢ subsinuila por uma passagem do Liveo I, capitulo 8, dos Commentarias Reales de Garciaso (34-43 fem sua trace francesa de 1633 ver nota em I, § 57, €comparar com I, § 153 € nota) Lemos a seguinte anotagio em seu dio, a 8 de Fevereiro de 1687: "Pedro Serrano, que viveu sozinbo numa dha desera durante és anos, 0 fim {das quais outro naufrago at apo: e, endo apenas dois, n4o podtiahaver concardanecta entre eles, Garcilso de la Vega, Histoire des Incas 11. 8° Tal Locke ctava-os amide como exemplo de um povo desprovido de veda ¢ quale 393 Dots traxados sobre o govern. bem aos homens como homens, € no como membros da sociedadet 15, Aqueles que afirmam que nunca houve homens em. imo bes ioe. Livro I CAPITULO IH Do estado de guerra’ 16. 0 estado* de gut um estado de inizade © des- rauero 0 sogindo emaorc "ean com rico ene poo © 4link 17 do $17 bem posivel que fo ese da mpresso de Spt Dots tratados sobre governo. devida por todos aqueles que, no se encontrando em esta- do de guerra, ingressam nos territ6rios pertencentes a qual- quer governo, em todas as partes as quais se estende a for- 0 vi usufruirem dos privilégios e da protecio deste, embora es- tejam obrigados, mesmo em consciéncia, a submeter-se a sua administracao, tanto quanto qualquer outro habitante, ndo de qualquer um, membro de um corpo politico, CAPETULO Ix Dos fins da sociedade politica e do governo* 123, Se 0 homem no estado de natureza € livre como se disse, se € senhor absoluto de sua propria pessoa e suas pré- 1313 at te peru ph riot com o ue 0 pede [5131 Porant, ado leva rer que se tte, 2 exemplo do capitulo XV (ver et ‘emt, § 16), de uma intespolao de 1689, 498 ero prias posses', igual a0 mais eminente dos homens ¢ a nin- uém submetido, por que haveria ele de se desfazer dessa li- Berdade? Por que havera de renunciar a ese impéio € termo genérico de propriedade’ 124. O fim maior ¢ principal para os homens unirem- a tatado de natureza carece de uma série de fatores. “""FGompurar com I, $6, Straus, 1953, 27 pri subsist a necessidade de manter ot homens em posse daqulo que o 495 Dots tratadas sobre o governo— Em primetro lugar, carece de uma let estabelecida,fixa e conhecida, recebida e aceita mediante 0 consentimento co- mum enquanto padrio da probidade e da improbidade, e como uma lei a ser obrigatoriamente aplicada em seus casos particulares. 125. Em segundo lugar, carece o estado de natureza de tum julz conbecido e imparcial, com autoridade para solu- cionar todas as diferencas de acordo com a lei estabeleci- da’, Pois sendo cada um, nesse estado, juiz € executor da lei da natureza a0 mesmo tempo?, e por serem os homens parciat: 2m favor de si préprios, a paixio? e a vinganca ten- ‘dem 2 '@vi-los muito longe, e com ardor demasiado, em seus proprios pleitos, da mesma forma que a negligéncia e a in- ‘forgo honesto fd adquiry, € também de preserves a liberdade € a forea ero I diferenga os tornam demasiado descuidados quando se tra- ta de terceiros. 126. Em terceiro lugar, o estado de natureza frequente- mente carece de um poder para apoiar € sustentar a senten- ‘ca quando justa e dar a ela a devida execugdo. Aqueles que ‘cometeram alguma ficilmente deixario, quando trutiva a0s que tentam aplicé-la 127. £ assim que os homens ~ nio obstante todos os privilégios do estado de natureza ~, dada a ma condigao em ‘que nele vivem, rapidamente sio levados a se unirem em so- ciedade. Donde se segue que raramente encontramos algum grupo de homens vivendo nese estado. As inconveniéncias nunciar a seu poder individual’ de castigar para que este passe a ser exercido por um Gnico individuo, designado pa- 1a tal fim entre eles ~ e segundo as regras que a comunida- nos e das sociedades mesmos. 128, Pois no estado de natureza, para omitir sua liber- dade no que toca aos prazeres inocentes, tem © homem dois poderes ‘Individual - € este, € nfo ‘exclusive’, © sentido atrbuldo por 1, 103, 20 term “singl” do original 497 Doss tratados sobre 0 governo. © primeiro consiste em fazer tudo = considere (0 outro poder de que dispde © homem no estado de natureza € 0 poder de castigar as crimes cometicos contra a lei. A ambos esses poderes ele renuncia quando se agrega «a uma sociedade politica privada, ou, se assim pudermos cha- mé-la, particular, € incorpora-se numa comunidade distinta do resto da humanidade. 129. Ao primeiro poder, ou seja, o de fazer tudo quan- to considere adequado para a preservacdo de st e do resto da humanidade, ce remuncta para qu ca regula por et de que gozava segundo a lei da natureza’. 130. im segundo lugar, renuncia por completo 20 po- der de castigar e empenha sua forga natural (que anterior- mente poderia empregar na execugao da lei da natureza, me- 498 wma forme. Dots tratados sobre o govern munidade contra incurs6es ou invasdes. E tudo isso nao deve estar dirigido a outro fim a nao ser a paz, a seguranga € 0 bem piiblico do povo' CAPITULO x Das formas de uma sociedade politica’ 132, Tendo a maioria naturalmente em suas mios, con- ‘i, tanec uma monangute ello Asem, conforme todos S351 1. Farece prove que tas afimagti em expec exigci de ree capo i ern ‘nos §§77 ¢ 100), escrko como parte da extia original ey compar oa, $106 500 Lire H. cesses modos, a comunidade pode adotar formas compostas € mistas de governo, segundo julgar conveniente®, E se o poder Jegislativo foi inicialmente conferido pela maioria a uma ou vools pessots actoeate Gavamee a vida Beta on por a gr todo lindo de tempo, ape o que o poder supremo deve quem € 0 depositirio do poder de elaborar leis. 133. Sempre que me refiro a sociedade politica deve-se ia ‘corre com nossos termos comunidade [community ou cl- dade|city, uma vez que podem existir comunidades subor- dinadas em um governo e, entre n6s, 0 termo cidade car- rega uma nogao muito diversa da de uma sociedade politi De Pouica ow BSIADO tom i, CIVITASYOtoboen, Zeit cp,XV) ‘talvez uma influénca, aver uma colncidénca; ver Nl § 212 ¢ now. sor aes Dots tratados sobre 0 governo. ca. A fim de evitar ambigilidades, portanto, pego permissao Io por ua tertap melhor caPiruto x1 Da extensao do poder legislativo 134. Sendo o principal objetivo da entrada dos homens em sociedade eles desfrutarem de suas propriedades em paz ¢ seguranca, ¢ estando o principal instrumento para tal nas leis estabelecidas naquela sociedade, a lei positiva primeira e fundamental de todas as sociedades politicas € 0 estabe- Ime 1" — 18 edo, modificado em 1694 para ‘pelo propo R No exer cemen gun scar que qulgper pane do es oh acréscimo de 1689 502 tire lectmento do poder legislative — ja que a let natural primei- ‘premo da sociedade politica, como também é sagrado ¢ inal- jAdache spon tagste ate wien visasin geden estan 620 pode legtimo de ator par o comand wines pal ‘mento de todos aqueles sobre os quais se impéem as els, nto seré melhor 2 Comparar com o trecho muito semelhante da Apistoa de Tolerantia, (Geom) cas pine pane dese echo exsamente com mesma faiade que Locke. 503 Dots trades sobre o governo. os mais solenes termina aalmente neste Pde supremo © ul bitrrio absoluto sobre si si mesmo, ou sobre que m quer que 258 ma Kao catiek poies neni x espero Portanto, 28 leis homanas, sea de que naturezaforem, so validadas pelo consentimento (ibid), 508 = Lire t seja, para destruir sua propria vida ou tomar a vida ou a pro- pricdade de outrem’. Um homem, tal como jd se provou, nao pode submeter-se ao poder arbitrario de outrem; ¢ por nao dis- yenhum poder arbitrario so- Sigum dleino de destri, ir, escravizar ou empobrecer delibe- radamente os stiditos(*}*. As obrigagdes da lei de natureza 9 so dl fanameno e c in oceg hn 9 “TComparar com I § 6 os dois partgrafos tem grande semelhanca em de conteido © expresso, Compara com Tecra cara sobre a oerdnca(1 62 (Works, 801, Dois tratados sobre o governo ‘nao cessam na sociedade mas, em muitos casos, apenas se tornam mais rigorosas e, por meio de leis humanas, a ela se acrescem penalidades conhecidas a fim de forcar sua ob- servancia'. Assim, a lei de natureza persiste como uma eter- com a vontade de Deus, da qual sto a manifesagao; endo a lei fundamental da natureza a conservacao da bumani- dade, nenhuma sango humana pode ser valida contra ela. 136, Em segundo lugar, a autoridade legislativa, ou su- prema, nao pode arrogar-se o poder de governar por meio de decretos arbitrarios extemporineos(*), mas esta obrigada ‘de do homem interamente obstinads, rebelde e avesss a qualquer obediéncia 1676, 87; 0s dos so transcris com vaiaoes insigniicannes, 506 ca 0 suficiente para Scores Pars citar cass inconvend mnigncias que perturbam as propriedades dos homens no estado de natureza, eles se fetnem em sociedates, de modo que possam dispor da for- ‘Obrigar os homens a qualquer cosa inconveniente parece irracional (tid 1, Se. 1. “"FComparar com I, § 125; Locke recapitula neste ponto o que ali es- 3, Compara com I, § 124 Doss tratados sobre o governo. contratio, sua paz, tranqililidade € propriedade estario en- {regues a mesma incerteza em que se encontravam no esta- do de natureza 137. Tanto 0 poder absoluto € arbitrario como o gover- no sem leis estabelecidas e fixas nao podem ser compati- veis com os fins da sociedade e do governo. Os homens nao se disporiam a abdicar da liberdade do estado de natu- reza € a se submeter (8 sociedade e 20 governo), nao fosse ara preservarem suas vidas, liberdades e bens ~ e, através sore erootmuvaarec em tennoe iguts de fos pes nar tenté-lo, fosse ele violado por um nico homem ou por muitos conjuntamente, Ao paso que, supondo que se te- nham oferecido ao poder absoluto e arbitrdrio ¢ 4 vontade de um legislador, teriam desarmado a si mesmos e armado a este, para se tornarem sua presa quando bem lhe aprouves- se. Muito pior € a condigdo de quem esté expasto ao poder atbitririo de um s6 homem a comandar cem mil outros, do que a de quem que est exposto ao poder arbitrdrio de cem ditames extemporineos € resolugdes indeterminadas. Do 508, Leroi contririo, os homens se encontrardo em condi¢ao muito pior do que no estado de natureza, por terem armado um ou al- ‘guns homens com 0 poder conjunto de uma multidao, para forcé-los a obedecer a seu bel-prazer aos ilimitados e exor- bitantes decretos de seus pensamentos repentinos ou suas vontades desenfreadas e até entdo desconhecidas, sem terem cestabelecido quaisquer medidas capazes de orientar ¢ justi ficar-Ihes as ages. Pois, destinado que et apode a também ser exercido por leis estabelecidas e promulgadas; de sorte que tanto 0 povo possa conhecer 0 seu dever e vi- ver a salvo e em seguranga dentro dos limites dla lei, como também os governantes se mantenham em seus devidos li- mites sem. que se vejam tentados, pelo poder que tém nas maos, a empregi-lo para fins, e por meios, ignorados pelos homens e que nao seriam aceitos voluntariamente por estes’ 138. Em terceiro lugar, 0 poder supremo ndo pode to- mar de homem algum nenhuma parte de sua propriedade ‘sem 0 seu proprio consentimento’. Pois, sendo a preservagao da propriedade o fim do governo e a razio por que 0s ho- {G080 supor que todos percam, ao entrarem em sociedade, aquilo que constitufa 0 objetivo pelo qual nela ingressaram $138 1. Beng, 175, aml ao © dover: ead crt, pags seus imposos. 509 Dots trades sobre o poverno. — um absurdo por demais flagrante para ser admitido por qualquer um’. Portanto, dado que as homens em sociedade possuem propriedade, tém eles sobre os bens que, com base na lei da comunidade, hes pertencem, um direito tal que a ninguém cabe o direito de tolher seus haveres, ou partes des- tes, sem 0 seu proprio consentimento; sem isso, nao teriam ‘propriedade nenhuma. Pois nao tenho nenhuma proprieda- de sobre aquilo que outro pode tomar-me quando 0 dese- ou em parte, em assembléias varidveis, cujos membros, quando da dissolugio da assembleia, esto sujeitos as leis comuns do pais em igualdade com o resto'. Todavia, nos ‘governos em que o legislativo é uma mesma assembleia per- ‘manente, em fungo perpétua, ou esta nas maos de um tni- co homem, tal como nas monarquias absolutas, existe ainda incsvo no tcnte 2 propa © 0 coment, ma ve ae Locke detxa em aberio a pousbidade deve super que 0 concrimen Sp calc vo € nto indivi 3.Confrontar com Hobbes: °O men, 0 fewe o dee sma pales, a pro ‘Prledade,(..) pertence, em todos 0s tipos de sociedade politics, a0 poder supremo", Leviaid, 1904, 176 corparar com 240, 4, A referencia ¢, obviamente, 20 govemmo da Inglaterra; omparar com 51a, 510 diene eee eee, © risco de julgarem-se eles dotados de um interesse distinto do resto da comunidade’ e, em conseqiiéncia, de se dispo- rem a aumentar suas proprias riquezas poder, tomando do ele e seus concidadaos, se aquele que exerce o mando sobre cesses siiditos tiver 0 poder de tomar de qualquer individuo particular a parte de sua propriedade que lhe aprouver, e dela se sirva e disponha segundo Ihe convenha. 139. Todavia, porquanto ao governo, seja em que maos estiver, 0 poder foi confiado — conforme demonstrei ante- riormente -, sob essa condigao e para esse fim, que os ho- que mesmo um poder absoluto, ali onde necessirio, ndo é arbitrario por ser absoluto, mas é igualmente limitado pela ge absoluta obediéncia a0 comando de cada oficial supe- rior, ea desobediéncia ou contestagio até aos mais perigo- sos ou irracionais destes comandos implica a morte justa do infrator; vemos, todavia, que nem o sargento, que poderia or- dois tratados sobre 0 govern. denar a um soldado marchar até a boca de um canhdo ou postar-se em uma brecha, onde quase certamente perecerd, pode ordenar ao soldado que the dé um vintém de seu di- entanto, podem ordenar o que quer que seja e punir com enforcamento a menor desobediéncia. Pois tal obediéncia ce- ‘ga € necesséria ao fim para o qual o comandante detém seu poder, qual seja, a preservacao do resto, o que nada tem a ver com o dispor dos bens de seus subalternos, 140. £ verdade que os governos nao podem sustentar- se sem grandes encargos, € € adequado que todo aquele se alguém arrogar-se um poder de impor e coletar tibutos junto 20 povo por sua propria autoridade, e sem esse con- sentimento do povo, estara violando, com esse ato, a lef fin- damental da propriedade ¢ subvertendo 0 fim do governo. ois que propriedade tenho eu sobre aquilo que outrem pode tomar por direito quando julgar conveniente? F140" Nese pou, 2 dourina de Locke sobre a propre es ee ‘ers de sear gc prem o eteees on edo ce tricone ngs Cano de bie, ington, 17, comes que "soe te pare dev indo deve te det tnbwapio cndonade so consent tro 141, Em quarto lugar, ndo pode o legislativo transferir o poder de elaborar leis para outras mos, pois, nao sendo tele sendo um poder delegado pelo povo, aqueles que 0 de- tém no podem transmiti-lo a outros. Somente ao povo € fa- cultado designar 2 forma da sociedade politica, que se dé atra- vés da constituigao do legislativo, e indicar em que maos se- 14 depositado. E quando o povo disser: submeter-nos-emos as regras € seremos governados pelas leis estabelecidas por tais homens e sob tais formas, ninguém mais podera dizer para formular as legislativo deriva do povo, por uma concess4o ou institui- <0 positiva € voluntaria, ndo pode ser ele diverso do poder transmitido por tal concessio positiva, que € apenas o de ela- borar lets e nao de fazer legisladores, de sorte que nao pode ter o legislative nenhum poder de transferir sua autoridade de elaborar leis e coloci-la em mios de terceiros' 142, Tais so os limites que 0 encargo a ele confiado pela sociedade e pela lei de Deus ¢ da natureza ¢mpuseram particulares, mas segundo uma mesma regra para ricos € po- bres, para o favorito na corte € o camponés no arado. Em segundo lugar, tais eis nao devem destinar-se a ou- tro fim que nio, em ltima anélise, o bem do povo. Em terceiro lugar, nao se devem impor tributos sobre a riedade do povo sem 0 seu consentimentto, dado dire- 513 tamente por ele ou através de seus deputados.E isso ape- nas se refere aos governos em que o legislative esta sempre ‘em fungao ou, pelo menos, em que 0 povo nao reservou a Em quarto lugar, 0 legislativo no deve nem pode trans- Jferir o poder de elaborar leis a quem quer que fa on depo- sité-lo em quaisquer outras maos, sendo naquelas em que povo o depositou. ‘CAPETULO 2a Do poder legislativo, executivo e federativo da socledade politica* 43. © poder legiativo € aquele que tem 0 direto de oro tu-las, com o que podem isentar-se da obediéncia as leis que muitas vezes, que sejam separados os poderes, legato ¢ executivo, 145. Existe em todo Estado um outro poder, que pode uma socie ciedade politica sejam ainda pessoas distintas umas , Sejam governadas pelas leis da so- ciedade, com referéncia ao resto da humanidade eles for- © disposigdes consirucionals cia Ingatera sto as da “Sociedade pol- bom cdc gue Locket em me compe cm 18 11, toeas $146 1 compara com H, $153.

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