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O ESTUDO PREVIO DE IMPACTO AMBIENTAL Se ndo houver frutos, valeu a beleza das flores; se ndo houver flores, valeu a sombra das folhas; se nGo houver folhas, valeu a intengdo da semente. Henfil BscE Vela dices 8 de estudos deste Capitulo pe styoutu.borxBaA Verve A Politica Nacional do Meio Ambiente (Lei n° 6.938/1981) previu, como um dos seus instrumentos, a Avaliagao de Impactos Ambientais (AIA), que contempla um conjunto de estudos para a avaliacao dos possiveis impactos que serao causados ao meio ambiente por um empreendimento ou atividade, Dentre os estudos ambientais, o mais referenciado mecanismo de avaliagéo ambiental no sistema juridico brasileiro € 0 Estudo Prévio de Impacto Ambiental (EIA), com reconhecimento expresso na Constituigéo Federal de 1988, que, no inciso IV do § 1° do art. 225, incumbiu ao Poder Ptblico de “exigir, na forma da lei, para instalagio de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradacio do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dara publicidade”. Nota-se a relevancia que a Constituigo Federal conferiu ao estudo, como norteador da avaliacao de impactos ambientais de empreendimentos, atividades e obras potencialmente causadores de significativa degradagao ambiental. A regulamentacéio do Estudo Prévio de Impacto Ambiental encontra-sena Resolucio n° 01/1986, do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), que disciplina o procedimento como norma de cardter geral. Essa espécie normativa foi plenamente recepcionada pela Constituigio Federal, por sua compatibilidade com o ordenamento vigente. A Resolugdo n° 09/1987, do Conama, que regulamenta as audiéncias piblicas, é aplicdvel ao Estudo Prévio de Impacto Ambiental. O Estudo Prévio de Impacto Ambiental constitui procedimento administrativo de anélise antecipatéria dos possiveis impactos ambientais de uma obra, atividade ou empreendimento potencialmente causadores de significativa degradacio do meio ambiente, elaborado por equipe técnica multidisciplinar, em que se relacionam as medidas de mitigacio e compensat6rias 4 possivel intervengao ao meio ambiente. Relaciona os pontos positivos e negativos de um empreendimento ou atividade, que subsidiam a decisao do érgio ambiental responsavel pelo licenciamento do projeto proposto. Nao se confundem o Estudo Prévio de Impacto Ambiental (BIA) e o Relatério de Impacto Ambiental (Rima). Com efeito, 0 EIA é 0 documento técnico amplo e complexo, com a revisao da literatura, estudos de campo, coleta de dados e materiais etc. Nem sempre o EIA é compreensivel em sua integralidade pelo cidadao, haja vista a multiplicidade de saberes que conjuga. O Rima, por sua vez, 6 um relatério que, em tiltima andlise, 6 um “espelho” do EIA, apresentando as suas conclusées & comunidade de forma objetiva, acessivel e didatica, de forma a propiciar ao cidadao a compreensdo das vantagens e desvantagens do projeto, com as consequéncias ambientais de sua implementacao. Segundo a Resolugdo Conama n° 01/1986, “o Rima deve ser apresentado de forma objetiva ¢ adequada a sua compreensao. As informagées devem ser traduzidas em linguagem acessivel, ilustradas por mapas, cartas, quadros, graficos e demais técnicas de comunicagao visual, de modo que se possam entender as vantagens e desvantagens do projeto, bem como todas as consequéncias ambientais de sua implementagao (art. 9°, pardgrafo tinico)”. Em sintese, o EIA 6 um documento técnico, completo, ao passo que o Rima é um documento gerencial, que deve ser compreensivel para a populacao. Em alguns textos legais a sigla do Estudo Prévio de Impacto Ambiental é EPIA e em outros, EIA. EIA é a terminologia utilizada pela Resolugdo Conama n° 01/1986 ou ainda pela Lei n° 9.985/2000, enquanto EPIA é derivada da acepgao constitucional. Autilizagao de uma ou outra sigla em nada altera a esséncia do estudo, que é sempre prévio. A fungao primordial do EIA é a prevengao e o monitoramento dos impactos ambientais. Trata-se de um instrumento de materializag’o do principio da prevencéio e, em alguns casos, do principio da precauc&o, pois a incerteza cientifica, caracteristica deste ultimo principio, nao é aplicdvel a todas as atividades e empreendimentos. a4 fique atento! A natureza juridica do EIA, instrumento de indole constitucional, é de ato do Poder Executivo decorrente do poder de policia. Sua exigibilidade compete aos érgios da Administragao Publica, Dessa forma, néo se admitem interferéncias do Poder Legislativo que mitiguem essa competéncia deliberatéria da Administracao Publica, em respeito ao art. 2° da Constituigdio de 1988, Nesse sentido, o aresto do STF: Lei n° 1.315/2004, do Estado de Rondénia, que exige autorizagio prévia da Assembleia Legislativa para o licenciamento de atividades utilizadoras de recursos ambientais consideradas efetivas e potencialmente poluidoras, bem como capazes, sob qualquer forma, de causar degradagao ambiental. Condicionar a aprovagao de licenciamento ambiental & prévia autorizagao da Assembleia Legislativa implica indevida interferéncia do Poder Legislative na atuaco do Poder Executivo, nio autorizada pelo art. 2° da Constituigao (ADI 1.505). © Poder Legislativo pode estabelecer procedimentos e normatizages por meio da edicao de leis, mas. isso sem adentrar no campo de deliberagdo ou decisaio, uma vez que a concessio de autorizagées ou licencas é uma atividade inerente da Administracao Publica, exteriorizac&o do poder de policia. pressuposto para a confecgdo do EIA/Rima é a significativa degradacao do meio ambiente. Assim, somente empreendimentos, atividades e obras efetiva ou potencialmente causadores de significativa degradagao ambiental se submetem ao estudo, que € realizado previamente. Do contrario, o estudo é inexigivel. O EIA deverd ser confeccionado pelo empreendedor antes da concessio da licenga prévia, inclusive como condigéo desta. Como se verd em tdpico ulterior, 0 Grgao ambiental competente para o licenciamento elabora um termo de referéncia com as diretrizes que devem ser observadas pelo empreendedor na realizagéo do estudo. Com a aprovacéio do EIA, o empreendedor obtém a licenca prévia e, em seguida, efetua os procedimentos para as demais licengas ambientais (como se vera no proximo capitulo). Caso uma atividade ou empreendimento se enquadre como de significativa degradacio do meio ambiente e esteja em funcionamento sem o EIA, esse nao sera o estudo pertinente, vez que a sua confec¢ao é prévia. Conforme Oliveira & Silva, “se, por algum motivo, uma atividade sujeita ao EIA acabar se desenvolvendo sem a apresentacao do referido estudo, evidentemente nao sera o caso de realizagao de um EIA, mas, sim, de outras espécies de estudos de avaliagio destinados a acompanhar ou v1 controlar os possiveis impactos ambientais”, A definigao de impacto ambiental é apresentada no art. 1° da Resolugao n° 01/1986, ao conceitud-lo como “qualquer alteracéio das propriedades fisicas, quimicas e biolégicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam: I—a satide, a seguranga ¢ 0 benrestar da populagao; I —as atividades sociais e econémicas; II — a biota; IV — as condiges estéticas e sanitarias do meio ambiente; V — a qualidade dos recursos ambientais”. Nota-se que o impacto ambiental pertinente é somente o causado por atividades humanas que direta e indiretamente afetem o rol consignado. Para auxiliar na compreensio das atividades, condicées e valores atingidos pelos impactos ambientais de origem antrépica, enumeram-se exemplos para cada qual. Impacto ambiental que afeta a satide humana é, por exemplo, uma fabrica com o langamento de gases em niveis prejudiciais 4 qualidade do ar e, por consequéncia, ocasionem doengas respiratérias nos moradores do entorno. Por sua vez, impacto ambiental que afeta a seguranca sao os desabamentos ou erosdes causados por um empreendimento ou uma atividade, mas igualmente questées de seguranca publica, uma vez que ha relacao direta entre os indices de desmatamento e criminalidade. Afeta o bem- estar da populacdo, por sua vez, uma atividade que produza odores que causem desconfortos na comunidade vizinha. Outro exemplo é a poluic&o sonora. As atividades econémicas e sociais podem ser afetadas com a implementagéo de um novo empreendimento, como uma mineradora que provoque a descaracterizagdo da vocacao turistica de uma cidade. Nesse exemplo, ressentem os proprietarios e trabalhadores da seara turistica (hotéis, pousadas, restaurantes e correlatas), bem como as relagdes sociais estabelecidas na comunidade. Compreende-se por biota 0 conjunto de seres vivos de uma determinada area. Em outras palavras, a fauna e a flora de um local ou regiao. Atividades econémicas sao passiveis de afetar a biota, colocando emrisco ou mesmo provocando a extingao de uma espécie. Prejudica as condicSes estéticas e sanitarias uma atividade que lance efluentes que comprometam a qualidade de um rio ou de uma praia, tornando-os impréprios para o banho. Ou ainda a poluicéo visual que descaracteriza a beleza de um momento natural ou histérico. Por fim, afetar os recursos ambientais implica atingir a atmosfera, as Aguas interiores, superficiais e subterraneas, os estudrios, o mar territorial, o solo, o subsolo, os elementos da biosfera. O art. 2° da Resolugdo Conama n? 01/1986 estabelece um rol exemplificativo de atividades que se presumem causadoras de significativa degradacao, a saber: a) estradas de rodagem com duas ou mais faixas de rolamento; b) ferrovias; ©) portos e terminais de minério, petrdleo e produtos quimicos; d) aeroportos, conforme definidos pelo inciso I, art. 48, do Decreto-lei n° 32, de 18.09.1966; e) oleodutos, gasodutos, minerodutos, troncos coletores e emissdrios de esgotos sanitarios; f) linhas de transmissao de energia elétrica, acima de 230 kV; g) obras hidréulicas para exploragao de recursos hidricos, tais como: barragem para fins hidrelétricos, acima de 10 MW, de saneamento ou de irrigaco, abertura de canais para navegacao, drenagem e irrigacdo, retificagio de cursos d’Agua, abertura de barras e embocaduras, tansposigao de bacias, diques; h) extragdo de combustivel f6ssil (petréleo, xisto, carvao); i) extragdo de minério, inclusive os da classe II, definidos no Cédigo de Mineracao; j) aterros sanitérios, processamento e destino final de residuos t6xicos ou perigosos; K)_usinas de geracdo de eletricidade, qualquer que seja a fonte de energia priméria, acima de 10 MW; 1) complexo e unidades industriais e agroindustriais (petroquimicos, siderirgicos, cloroquimicos, destilarias de Alcool, hulha, extragdo e cultivo de recursos hidrébios); m) distritos industriais e zonas estritamente industriais (ZED; 1) @xploragdo econdmica de madeira ou de lenha, em Areas acima de 100 hectares ou menores, quando atingir areas significativas em termos percentuais ou de importancia do ponto de vista ambiental; ©) projetos urbanisticos, acima de 100 ha ou em areas consideradas de relevante interesse ambiental a critério da SEMA e dos orgaos estaduais ou municipais; P) qualquer atividade que utilizar carvao vegetal, derivados ou produtos similares, em quantidade superior a dez toneladas por dia; q) projetos agropecuarios que contemplem areas acima de 1.000 ha, ou menores, neste caso quando se tratar de dreas significativas em termos percentuais ou de importancia do ponto de vista ambiental, inclusive nas areas de protecao ambiental 1) empreendimentos potencialmente lesivos ao patriménio espeleolégico nacional. Esse é um rol meramente exemplificativo, até mesmo porque na redagao do art. 2° da Resolucao n° 01/1986 é utilizada a expressao “tais como” para enumerar as atividades. A Resolugaéo Conama é do ano de 1986 e comas dindmicas do incremento tecnolégico e cientifico, a cada dia surgem novas atividades, produtos e empreendimentos empresariais e econémicos que causam significativa degradacao ambiental e que evidentemente ndo se encontram relacionados no rol citado, Exemplos sao os incineradores de lixo residencial ¢ industrial e os assentamentos para reforma agraria que, apesar de ndo constarem no rol da Resolucio n° 01/1986, sao potencialmente causadores de significativa degradacaio do meio ambiente Q dica Compete ao 6rgio ambiental definir os procedimentos e estudos técnicos necessarios para a realizacio do EIA. Essas exigéncias, assim como os prazos de conclusio, so definidas no termo de referéncia, que é 0 documento emitido pelo érgio ambiental com as orientacées para a elaboragio do estudo. Os requisitos minimos encontram-se na Resolugdo Conama n’ 01/1986, mas o érgio ambiental pode estabelecer diretrizes adicionais pelas peculiaridades do projeto ou pelas caracteristicas ambientais da area. contetido do EIA deve contemplar, no minimo, os seguintes aspectos: (a) Diretrizes Gerais, que so requisitos de contetido (art. 5° da Resolugio n? 01/1986); (b) Estudos e Atividades Técnicas (art. 6”). Esses aspectos so essenciais e obrigatérios para a realizagao do EIA. Em aspectos fundamentais, quatro séo as diretrizes gerais minimas estabelecidas no art. 5° da Resolugaéo Conama n° 01/1986, a saber: (a) contemplar todas as alternativas tecnolégicas e de localizagao do projeto, confrontando-as com a hipotese de nao execucao do projeto; (b) _identificar e avaliar os impactos ambientais gerados nas fases de implantacao e operacao da atividade; (c) definir os limites da area geogréfica a ser direta ou indiretamente afetada pelos impactos, denominada drea de influéncia do projeto, considerando, em todos os casos, a bacia hidrografica na qual se localiza; (d) considerar os planos e programas governamentais, propostos e em implantacao na area de dade. influéncia do projeto, e sua compatibi A diretriz inicial obriga a andlise, pela equipe multidisciplinar, das alterna disponiv cabe ao estudo prever as alternativas, tais como energia termoelétrica, eélica etc. as tecnolégicas para o empreendimento. Se a pretensdio do empreendimento é a geracdo de energia elétrica, No que se refere & localizagao do projeto, que invariavelmente jé foi definida pelo empreendedor, impde-se a avaliacao de outros locais possiveis para receber a obra ou atividade. Nesse ponto, indaga~ se, por exemplo, a proximidade do projeto com uma drea de preservacao permanente ou uma unidade de conservagao. £ possivel compatibilizar o empreendimento com esses espacos ambientalmente protegidos? Por derradeiro, articula-se a hipdtese de nio execugdo do projeto, também chamada de “opgdo zero” ou “hipétese zero”. Essa possibilidade poder ser adotada quando o projeto implicar impactos ambientais desproporcionais aos beneficios econdmicos e sociais. A diretriz seguinte versa sobre a identificacao e avaliaco dos impactos ambientais. Basicamente a efetivaco de um projeto nos érgios ambientais compreende a observancia de trés fases: (a) de localizagdo, em que se verifica a compatibilidade do local do projeto com as exigéncias ambientais e, quando cabfvel, urbanisticas; (b) de implantagdo, em que se inicia a interveng3o na natureza e/ou a materializagdo do projeto; e (c) de operagdo, em que o empreendimento efetivamente inicia suas atividades ou produgao. Pois bem, urge que o estudo relacione quais serdo os impactos ambientais nas fases de implantagio e de operagao. Identificar os impactos na fase de implantagao nao implica maiores dificuldades 4 equipe multidisciplinar, uma vez que sio conhecidos e avaliados de imediato, com a construgao da obra. A dificuldade consiste na fase de operacao, cujos efeitos se projetam no decorrer do tempo. Quais os efeitos de um empreendimento ou atividade daqui a 3 (trés), 5 (cinco), 10 (dez) anos? Trata-se de andlise realizada nessa etapa e normalmente por formulas matemticas. A definigéo da area de influéncia do projeto nfo é tarefa facil, em especial ao se considerar a influéncia indireta, dado que hoje em dia o desmatamento ou a poluigdo em nivel local contribuem para a potencializacio dos efeitos sinérgicos em escala nacional e até mesmo mundial. Como exemplo, as questdes climaticas, em que os efeitos sinérgicos das atividades antrépicas no Brasil ou no Tibete contribuem igualmente para a majoragao dos efeitos do aquecimento global. A Resolugao Conama n° 01/1986, contudo, impés um referencial importante para a definicao da drea de influéncia do projeto, que 6a bacia hidrografica. Assim, define-se a drea de influéncia do projeto pela bacia hidrografica, com 0s possiveis impactos ambientais que incidem sobre os seus limites. A tiltima diretriz é a compatibilidade do projeto com os planos e programas governamentais, como © zoneamento ecolégico-econémico, o plano diretor, entre outros instrumentos. Consideram-se nao sé os programas em andamento, mas também as diretrizes que o Poder Publico consignou nos diplomas normativos de planejamento urbano ou mesmo orcamentério, tais como o plano plurianual, a lei de diretrizes orgamentarias etc. Na elaboragdo do EIA desenvolvem-se ainda atividades técnicas, da mesma maneira consideradas minimas, passiveis de novas exigéncias na edigao do termo de referéncia. A Resolugao n° 01/1986 menciona em seu art. 6° os estudos técnicos minimos: a) Diagnéstico ambiental da area de influéncia do projeto completa descrigao e andlise dos recursos ambientais e suas interagées, tal como existem, de modo a caracterizar a situagdo ambiental da rea, antes da implantaco do projeto, considerando: 0 meio fisico, 0 meio biolégico, os ecossistemas e 0 meio socioeconémico. b) Anélise dos impactos ambientais do projeto e de suas alternativas, por meio de identificacao, previsio da magnitude e interpretagdo da importancia dos provaveis impactos relevantes, discriminando: os impactos positivos e negativos (benéficos e adversos), diretos e indiretos, imediatos e a médio e longo prazos, temporarios e permanentes; seu grau de reversibilidade; suas propriedades cumulativas e sinérgicas; a distribuico dos énus e beneficios sociais. ©) Definicéo das medidas mitigadoras dos impactos negativos, entre elas os equipamentos de controle e sistemas de tratamento de despejos, avaliando a eficiéncia de cada uma delas. d) Elaboragdo do programa de acompanhamento e monitoramento (os impactos negativos e positivos), indicando os fatores e pardimetros a serem considerados. O diagnéstico ambiental da area de influéncia do projeto é 0 levantamento do meio fisico, bioldgico e socioecondmico. Por meio fisico interpretam-se 0 subsolo, as Aguas, o ar e o clima, destacando os recursos minerais, a topografia, os tipos e aptidées do solo, os corpos d’dgua, o regime hidrolégico, as correntes marinhas, as correntes atmosféricas. No campo bioldgico e dos ecossistemas naturais consideram-se a fauna ¢ a flora, destacando as espécies indicadoras da qualidade ambiental, de valor cientifico e econdmico, raras e ameacadas de extingdo, e as dreas de preservacdo permanente. Por fim, no meio socioeconémico enquadram-se 0 uso € ocupacao do solo, os usos da 4gua € os aspectos socivecondmicos, com destaque aos sitios e monumentos arqueol6gicos, histéricos e culturais da comunidade, as relagdes de dependéncia entre a sociedade local, os recursos ambientais e a potencial utilizacdo futura desses recursos. Na anilise dos impactos ambientais levam-se em conta ndo sé os impactos negativos, como os positivos do empreendimento. Dessa maneira, indaga-se: Quais serdo os efeitos a curt, médio e longo prazo? Quais os efeitos imediatos e mediatos? E os beneficios sociais, como a geragdo de emprego e renda? Por outro lado, quais sero os Gnus sociais? Essas indagagdes so respondidas nesse requisito. Com a definigdo dos impactos ambientais negativos, necessaria a adogao das medidas mitigadoras, 0 que significa reduzir, minimizar os impactos desfavordveis. Essas medidas so, por exemplo, a instalacao de filtros de limpeza de gases industriais, de estagdes de tratamentos de efluentes industriais etc. Ao término, cabe ao empreendedor elaborar um programa de acompanhamento e monitoramento dos impactos ambientais, positivos e negativos, com os pardmetros para essa anilise permanente, Exemplo desse monitoramento é o que ocorre em usinas nucleares, como em Angra dos Reis/RJ. © Relatério de Impacto Ambiental (Rima) reflete as conclusées do Estudo Prévio de Impacto Ambiental (EIA) e deve ser apresentado de forma objetiva e adequada para a compreensio dos cidadaos. Constitui-se num espelho do EIA e, dada a sua importancia, é uma manifestaco do principio da informagdo ambiental. O seu contetido é delineado no art. 9° da Resolucao n° 01/1986, a saber: a) 0 objetivos ¢ justificativas do projeto, sua relagao e compatibilidade com as politicas setoriais, planos e programas governamentais; b) a descrig&o do projeto e suas alternativas tecnolégicas e locacionais, especificando para cada um deles, nas fases de construciio e operacio, a area de influéncia, as matérias-primas, e mio de obra, as fontes de energia, os processos e técnicas operacionais, os provaveis efluentes, emissdes, residuos e perdas de energia, os empregos diretos e indiretos a serem gerados; ©) assintese dos resultados dos estudos de diagnéstico ambiental da area de influéncia do projeto; d) a descrigdo dos provaveis impactos ambientais da implantagdo e operacio da atividade, considerando o projeto, suas alternativas, os horizontes de tempo de incidéncia dos impactos e indicando os métodos, técnicas e critérios adotados para sua identificagéo, quantificagéo e interpretag: e) a caracterizacio da qualidade ambiental futura da drea de influéncia, comparando as diferentes situagdes da adogdo do projeto e suas alternativas, bem como com a hipétese de sua nao realizagio; f) a descrig&io do efeito esperado das medidas mitigadoras previstas em relagdo aos impactos negativos, mencionando aqueles que nao puderam ser evitados, e o grau de alteragio esperado; 8) 0 programa de acompanhamento e monitoramento dos impactos; h) recomendagao quanto a alternativa mais favordvel (conclusdes e comentarios de ordem geral). O EIA/Rima é elaborado por uma equipe multidisciplinar composta por profissionais legalmente habilitados (engenheiro, bidlogo, gedlogo, socidlogo, advogado etc), aptos a identificar e analisar os possiveis impactos ambientais positivos e negativos nao sé no meio ambiente natural, como a influéncia nas comunidades presentes na drea de influéncia do projeto, em especial nos seus aspectos social, econémico e cultural. Para participar de estudos ambientais, dentre os quais a elaboragio do EIA, os profissionais que integram a equipe multidisciplinar devem possuir inscrigdo no Cadastro Técnico Federal de Atividades de Defesa e Protegdo Ambiental e serem legalmente habilitados (Crea, OAB etc.), conforme o art. 11 da Resolugdo Conama n° 237/1997. O empreendedor e a equipe multidisciplinar assumem total responsabilidade pelo EIA/Rima. Consoante o pardgrafo unico do art. 11 da Resolugao Conama n° 237/1997, o empreendedor e os profissionais que subscrevem os estudos ambientais séo responsdveis pelas informagGes apresentadas, sujeitando-se as sang6es administrativas, civis e penais. A veracidade das informacées e andlises que integram o EIA elaborado pela equipe técnica multidisciplinar tem implicacées diretas nos Ambitos penal e administrativo. A Lei n° 9.605/1998, em seu art. 69-A, traz a tipificagao penal, aduzindo que “elaborar ou apresentar, no licenciamento, concessao florestal ou qualquer outro procedimento administrativo, estudo, laudo ou relatério ambiental total ou parcialmente falso ou enganoso, inclusive por omissdo”, implica uma pena de reclusao, de 03 (trés) a 06 (seis) anos, e multa. Se o crime for culposo, a pena é de detencao, de 1 (um) a 03 (trés) anos. E, por fim, a pena é aumentada de 1/3 (um terco) a 2/3 (dois tercos), se ha dano significativo ao meio ambiente, em decorréncia do uso da informagao falsa, incompleta ou enganosa. Essa tiltima passagem é particularmente importante para o EIA, ao abordar o dano significativo ao meio ambiente. O art. 82 do Decreto n? 6.514/2008 dispde sobre a responsabilidade administrativa da equipe multidisciplinar, com a aplicagao de multa de RS 1.500,00 a R$ 1.000.000,00 a quem “elaborar ou apresentar informagao, estudo, laudo ou relatério ambiental total ou parcialmente falso, enganoso ou omisso, seja nos sistemas oficiais de controle, seja no licenciamento, na concessao florestal ou em qualquer outro procedimento administrativo ambiental”. Por ai se vé que, nao obstante o vinculo com o empreendedor, a responsabilidade da equipe multidisciplinar é relevante nas esferas penal e administrativa. Os custos do ELA/Rima, em sua integralidade, séo de responsabilidade do empreendedor, incluindo as despesas com a equipe multidisciplinar. Cabe ao empreendedor disponibilizar ainda, no minimo, 05 (cinco) cépias do Rima (art. 8°). Apés a elaboragao do EIA e do Rima, o empreendedor encaminharé as 05 (cinco) cépias exigidas, que ficario & disposigao na sedes e bibliotecas do érgéo ambiental, para que se inicie a fase de comentarios (art. 11 da Resolucdio n? 01/1986 do Conama). Essa fase ocorre com a publicagao de edital na imprensa oficial e em jornal de grande circulagéo, de acordo com a area de influéncia do projeto. Nessa etapa, franqueia-se 0 acesso ao Rima para que érgaos ptblicos comentem, por escrito, as conclusdes do estudo. Nao hi qualquer previstio na Resolucao n° 01/1986 sobre o prazo de comentarios, que ficard, portanto, a critério do 6rgio ambiental, mas que nio poderd ser exiguo, sob pena de comprometer essa fase do procedimento. O EIA/Rima deve ser pitblico, observado, no entanto, o sigilo industrial, quando solicitada e demonstrada pelo empreendedor a necessidade de adogio dessa medida (art. 11 da Resolugdo Conama n° 01/1986 e art. 2°, § 2", da Lei n° 10.650/2003). A audiéncia publica, disciplinada pela Resolucéo Conama n° 09/1987, é momento dos mais significativos do procedimento administrativo. Por seu intermédio a populacao da area de influéncia do projeto é convocada para a discusséio do empreendimento, numa via de mio dupla, em que recebe as informagées do projeto e apresenta suas intervenges e questionamentos. Segundo o art. 2° da Resolugdo Conama n° 09/1987, sao legitimados para requerer a realizagao de audiéncia publica: a) 0 drgio ambiental competente; b) 0 Ministério Publico; c) entidade da sociedade civil; d) 50 (cinquenta) ou mais cidadaos. O érgio responsavel pelo licenciamento fixaré em edital e anunciaré na imprensa local a abertura do prazo minimo de 45 (quarenta e cinco) dias para os legitimados solicitarem, se desejarem, a realizacao de audiéncia publica (art. 2°, § 1°, da Resolugdo Conama n? 09/1987). Com a solicitagao, 0 érgio ambiental comunica a data e o local da audiéncia ptblica, mediante correspondéncia registrada ao requerente (art. 2°, § 3°, da Resolugdo Conama n? 09/1987). A audiéncia publica, uma vez requerida pelos legitimados, torna-se requisite formal essencial para a validade da licenga. No caso de solicitag’o da audiéncia publica e o érgio ambiental nao realizé-la, macula-se a licenga concedida, que nao teré validade (art. 2°, § 2°, da Resolucdo Conama n° 09/1987), sendo passivel, destarte, questionamento judicial. Nao se pode esquecer a importéncia da publicidade, até porque a Constituicao Federal a determinou expressamente para o EIA/Rima. No caso da audiéncia piblica, ela ocorre com a publicagao na imprensa local e em jornal de grande circulac&io. E necessério considerar que a opgao pela imprensa local deve ser interpretada pelo alcance do meio de comunicagao, isto é, pela possibilidade da populagao afetada tomar ci€ncia da realizagao da audiéncia publica. Dessa forma, se a drea de influéncia do projeto atingir mais de um municipio, é exigido que a publicidade do local e da data da audiéncia publica cheguem ao conhecimento dos interessados, 0 que poderé demandar a publicago em mais de um érgao de imprensa ou naquele com efetiva abrangéncia na area de influéncia do projeto. O local designado para a realizaco da audiéncia publica deve ser de facil acesso a populacao (art. 2°, § 4°, da Resolugdo Conama n° 09/1987). E possivel a ocorréncia de mais de uma audiéncia, a depender da area de influéncia do projeto e de sua complexidade (art. 2°, § 5°, da Resolugao Conama n? 09/1987). Nada obsta esse entendimento, que converge com os objetivos da audiéncia piiblica, que é franquear o pleno exercicio da participagéo comunitaria. Exemplo os debates e discussées sobre a transposi¢aio do Rio Sao Francisco — que nasce em Minas Gerais e percorre os Estados do Nordeste — coma promogao de varias audiéncias ptiblicas. Coma abertura da audiéncia publica, a conducao e a presidéncia dos trabalhos competem ao servidor responsdvel do érgio ambiental, que faré a exposicao do Rima e, por outro lado, possibilitard as criticas © sugestdes dos participantes (art. 3° da Resolugio Conama n° 09/1987). Ao término, lavrar-se-A ata sucinta, anexando todos os documentos assinados e relacionados na audiéncia publica (art. 4° da Resolugaio Conama n° 09/1987). Esses documentos sao fundamentais para o érgio ambiental que, embora néo se encontre vinculado 4 audiéncia publica, deve consideré-los na manifestagéo favordvel ou desfavoravel ao EIA. Coma conclusao dos aspectos técnicos e procedimentais, o EIA/Rima sera objeto de andlise do érgio ambiental para a sua aprovacao ou nao. Com a aprovacio do EIA/Rima, o empreendedor obtém a licenga prévia e dara continuidade ao licenciamento ambiental para a consecugao das licengas de instalacao e de operacao. Questo fundamental é perquirir se as conclusdes do ELA/Rima vinculam ou nao o érgio ambiental. Consigna-se, em primeiro plano, que os érgios ambientais detém discricionariedade técnica na andlise dos estudos ambientais, 0 que implica discordancias ou alternativas as conclusées da equipe multidisciplinar. Essa discricionariedade técnica, contudo, no pode conduzir 0 érgio ambiental a decidir em dissonancia com os principios e objetivos da Politica Nacional Meio Ambiente e, em especial, as disposigdes constitucionais. Dessa forma, o érgio ambiental nao se vincula as conclusdes do EIA/Rima. Ainda que o estudo seja desfavordvel, é possivel aprova-lo e, por consequéncia, conceder a licenga prévia. E evidente que, para tal, 6 compulséria ampla e exaustiva motivacio, passivel de controle judicial suscitado por qualquer ente ou cidadao. ‘A Resoluc&io Conama n° 01/1986 regulamenta o EIA/Rima e relaciona, em carter exemplificativo, as atividades e empreendimentos que se presumem causadores de significativa degradagio do meio ambiente (art. 2°). Outros diplomas legais ofertam novas hipéteses potencialmente causadoras de significativa degradacao do meio ambiente e, como tal, sujeitas a confeccaio do ELA/Rima. A Lei n? 12.651/2012, que instituiu 0 novo Cédigo Florestal, dispde sobre a obrigatoriedade do EIA/Rima em atividades na zona costeira, em especial apicuns e salgados. Nesse sentido: Art. 11-A. (...) § 3° Sao sujeitos 4 apresentagdio de Estudo Prévio de Impacto Ambiental — Epia e Relatério de Impacto Ambiental — Rima os novos empreendimentos: I- com drea superior a 50 (cinquenta) hectares, vedada a fragmentagao do projeto para ocultar ou camuflar seu porte; Il - com area de até 50 (cinquenta) hectares, se potencialmente causadores de significativa degradacaio do meio ambiente; ou III - localizados em regio com adensamento de empreendimentos de carcinicultura ou salinas cujo impacto afete areas comuns. A Lei n® 11.284/2006, que disciplina a gestao de florestas piiblicas para a produgao sustentavel, dispée sobre o licenciamento ambiental na concessao florestal e determina que nos casos potencialmente causadores de significativa degradagao do meio ambiente, assim considerados, entre outros aspectos, em fungao da escala e da intensidade do manejo florestal e da peculiaridade dos recursos ambientais, sera exigido estudo prévio de impacto ambiental (EIA) para a concessao da licenga prévia (art. 18, § 1°). A Lei n° 11.428/2006, que disciplina a utilizagdo e protegio da vegetagdo nativa do Bioma Mata Atlantica, dispde que, na hipdtese de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradaciio do meio ambiente, o érgio competente exigird a elaboragao de Estudo Prévio de Impacto Ambiental, ao qual se dard publicidade, assegurada a participacao publica (art. 15, caput). Tratando-se de corte e supressio de vegetacaio nativa, quando vinculados 4 execucao de obras, atividades ou projetos nos casos de utilidade publica, sera necessaria a realizacao de Estudo Prévio de Impacto Ambiental/Relatério de Impacto Ambiental — EIA/Rima (art. 20, pardgrafo tinico, c/c o art. 22). * Estudo Pré de Impacto Ambiental (EIA): constitui procedimento administrativo de andlise prévia dos possiveis impactos ambientais de uma obra, atividade ou empreendimento efetiva ou potencialmente causador de significativa degradacdo do meio ambiente, elaborado por equipe técnica multidisciplinar. + O pressuposto para a realizagao do EIA é a significativa degradacao ao meio ambiente, que é aquela expressiva, substancial. Por essa razdo, nao sao todos os empreendimentos e atividades que se submetem ao EJA/Rima, mas somente aqueles potencialmente causadores de significativa degradagao ambiental. + Considera-se impacto ambiental “qualquer alteracao das propriedades fisicas, quimicas ¢ bioldgicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam: I—a satide, a seguranca e o benrestar da populaciio; I — as atividades sociais e econdmicas; III — a biota; IV — as condigGes estéticas e sanitarias do meio ambiente; V-a qualidade dos recursos ambientais”. + O EIA/Rima € elaborado por uma equipe multidisciplinar composta por profissionais legalmente habilitados (engemheiro, bidlogo, gedlogo, socidlogo, advogado), que sao responsdveis civil, penal e administrativamente pelo seu contetido e pelas informagdes prestadas no estudo. + Todas as despesas de elaboraciio do EIA/Rima so de responsabilidad do empreendedor, que deve entregar ao érgio ambiental cinco cépias do Rima, no minimo. + A audiéncia piiblica tem por finalidade expor aos interessados 0 contevido do produto em anilise do seu referido Rima, dirimindo dividas e recolhendo dos presentes as criticas e sugestdes a respeito. Deve ser realizada em local de facil acesso aos interessados. E possivel a ocorréncia de mais de uma audiéncia, a depender da drea de influéncia do projeto ¢ de sua complexidade. + Podem requerer a realizagdo de audiéncia publica: (a) 0 érgio ambiental competente; (b) 0 Ministério Publico; (c) a entidade da sociedade civil; (4) 50 ou mais cidadaos. + Aaudiéncia publica é requisite formal essencial: requerida pelos legitimados ¢ nao realizada pelo érgio ambiental, a licenca concedida nao tera validade. + Aaudiéncia publica serd presidida pelo érgio ambiental licenciador, que ao final lavrard ata sucinta, e anexard todos os documentos escritos e assinados enderegados ao presidente dos trabalhos. 9 LICENCIAMENTO AMBIENTAL O que eu faco & uma gota no meio de um oceano. Mas, sem ela, 0 oceano serd menor. Madre Teresa de Calcuta Vela dicas de estudos Fs deste Capitulo [ii https #youtu bolavttVxEM 1 BASELEGAL DO LICENCIAMENTO AMBIENTAI © licenciamento ambiental de atividades e empreendimentos que sio ou podem ser efetiva ou potencialmente causadores de poluigao ou degrada¢do ambiental ¢ um dos principais instrumentos da Politica Nacional do Meio Ambiente, responsével pela compatibilizaco do desenvolvimento das atividades econdmicas com a proteao ao meio ambiente, Por meio do licenciamento ambiental é possivel a efetivacao do principio ambiental da prevengao nas atividades econdmicas poluidoras e, em iiltima andlise, a protegao ao meio ambiente. As disposicdes sobre o licenciamento ambiental estio previstas nos seguintes mecanismos legais: Lei Complementar n° 140/201; art. 10 da Lei n° 6.938/1981; Decreto n’ 99,274/1990; Resolugiio Conama n° 237/1997; e Resolucdo Conama n° 01/1986, sem prejuizo da possibilidade de os Estados editarem normas complementares no licenciamento de sua competéncia. Uma observacaio importante 6 que a LC n? 140/2011 — que regulamentou o paragrafo tinico e os incisos Ill, Vie VII do art. 23 da Constituigéo de 1988 — disciplinou regras especificas para o licenciamento ambiental, em especial para o exercicio da competéncia licenciatoria dos entes federativos. Na verdade, algumas das normas desta LC, com algumas variagées, ja estavam dispostas na Resolugéo Conama n° 237/1997. Alias, nossa compreensao é que, mesmo com a edicao da LC n° 140/2011, permanecem em vigor alguns pontos da Resolugao Conama n? 237/1997, 0 que, por evidente, impée sua interpretagao a luz da referida Lei Complementar. As alteragées mais significativas da LC n° 140/201 esto nas disposigées concernentes as competéncias da Unido, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municfpios, assim como as competéncias licenciatérias em Areas de Protecéo Ambiental (APAs); na supressio de vegetacao de florestas e formages sucessoras; e na responsabilidade administrativa dos entes federativos pela lavratura de auto de infragao e instauragao do processo administrativo ambiental. Devemos ressaltar que 0 cerne deste capitulo é 0 licenciamento ambiental ordindrio, uma vez que 0 ordenamento contempla outras modalidades, especiais, que foram editadas pelo Conama, e que nio indicam prejuizo a outras normas estaduais e municipais tais como as elaboradas para a aquicultura (Resolugao n’ 413/2009); assentamentos de reforma agraria (Resolucao n° 387/206), entre outras. a AMENTO DO LICENCIAMENTO AMBIENTAI O principio da prevengdo é o principal fundamento do licenciamento ambiental. Em largas pinceladas, prevengdo vem do verbo prevenir, que significa agir antecipadamente’. Deveras, a adogdo de medidas de cunho preventivo é a esséncia do direito ambiental. Nao hi como pensar as questdes ambientais dissociadas da prevengiio e da mitigagdo dos impactos ambientais, sejam eles de qualquer ordem ou magnitude, visto que as agdes reparatorias so, por si s6, insuficientes, uma vez. que os danos ambientais sio, em regra, irreversiveis. Nas palavras de Alvaro Valery Mirra, “(...) esse principio decorre da constatacéio de que as agressdes ao meio ambiente so, em regra, de dificil ou impossivel reparagdo. Ou seja: uma vez. consumada uma degradagao ao meio ambiente, a sua reparagio é sempre incerta e, quando possivel, excessivamente custosa””. Nesse sentido, a titulo exemplificativo, a supresso de uma floresta centendria ou a saturagao de um rio sao atos que resultam em reparacao improvavel. O licenciamento ambiental, nas palavras de Erica Bechara, “(...) trata-se de tipico instrumento de prevengdo aos danos ambientais, visto que nesse procedimento que o érgio ambiental licenciador verifica a natureza, dimensao e impactos (positivos e negativos) de um empreendimento potencialmente poluidor, antes mesmo que ele seja instalado e, a partir de tais constatagdes, condiciona 0 exercicio da atividade ao atendimento de inmeros requisitos (chamados de condicionantes), atos a eliminarem ou 3, reduzirem tanto quanto possivel os impactos ambientais negativos”*, NATUREZA JURIDICA O licenciamento ambiental - um dos instrumentos da Politica Nacional do Meio Ambiente — consiste em procedimento administrativo decorrente do poder de policia ambiental, com a finalidade de avaliar os possiveis impacts e riscos de uma atividade ou empreendimento potencialmente causador de degradagio ambiental ou poluigéo. 9.4 COMPETENCIA PARA O EXERCICIO DO LICENCIAMENT AMBIENTAL ‘Além de ter seu principal fundamento no principio da prevencdo, o licenciamento ambiental insere-se no campo das competéncias constitucionais, em especial a competéncia administrativa comum do art. 23 da Constituicdo de 1988, Isto significa que todos os entes federativos podem efetuar o licenciamento ambiental, desde que observados os requisitos legais (como se verd no t6pico 9.13). Com efeito, o art. 23 da Constituigao Federal prevé a competéncia administrativa comum entre a Unido, os Estados, o Distrito Federal e os municipios para proteger 0 meio ambiente e combater a poluigdo em qualquer de suas formas (inciso V1), preservar a fauna, a flora e as florestas (inciso VID, entre outros aspectos. Até a edigdo da Lei Complementar n° 140/201 eram recorrentes na doutrina as mengées a respeito das dificuldades de atuacao dos entes federativos na competéncia administrativa comum. Se por um lado a regra constitucional do art. 23 representa uma garantia para a sociedade, Edis Milaré nos alerta que “(...) por outro lado, pode ser fonte de inimeros conflitos decorrentes da sobreposi¢ao de atuacées, exigéncias, licengas etc.”’, E exemplifica que certos empreendimentos ou atividades de real projegao no cendrio econdmico e politico sio motivos de disputas, ao passo que de menor porte nenhum érgfio se habilita®. Para Paulo de Bessa Antunes, o licenciamento ambiental sempre foi motivo de graves conflitos entre diferentes érgéos administrativos. Em suas palavras, “(...) as dificuldades do tema sio de tal ordem que, nao raramente, empresas solicitam o licenciamento ambiental em mais de um érgio, outras vezes, 6rgios de licenciamento ambiental se insurgem contra outros érgios reivindicando a competéncia para este ou aquele licenciamento”®. E conclui que toda essa situagao 6 nociva para a protecao ambiental. Esse cenario é dissonante a atuagao conjunta e integrada que caracteriza a competéncia administrativa comum. Ao eleger a atribuigdo comum aos entes federativos, a Constituicio de 1988 instituiu um federalismo cooperativo, de solidariedade miitua e complementar, sem vinculacées ou centralizacées a critérios de entes politicos em detrimento da proteciio ambiental. Nas palavras de Leonardo Greco, “(...) no federalismo de integragdo ou de cooperagao, a distribuicdio de competéncias entre a Unido ¢ os Estados nao é mais um instrumento de disputas entre o autoritarismo centralizador e as autonomias locais, mas um compromisso de solidariedade e de uniao de esforcos para realizar de modo mais adequado possivel o benrestar da coletividade””. Em matéria ambiental, esse federalismo cooperativo vai se materializar, dentre outros aspectos e instrumentos, por meio do exercicio do poder de policia dos entes responsaveis pela qualidade ambiental no Pais, de forma a garantir a cooperacao e a solidariedade na protecio do meio ambiente. CARACTERISTICAS DO LICENCIAMENTO AMBIENTAL NATUREZA Instrumento da Politica Nacional do Meio Ambiente, consistente em JURIDICA Procedimento Administrativo decorrente do Poder de Policia FUNDAMENTO Principio da Prevengao COMPETENCIA Todos os Entes Federativos (art. 23/CF) 5 CONCEITO DE LICENCIAMENTO AMBIENTAL Conforme a LC n° 140/201, licenciamento ambiental é “(...) 0 procedimento administrativo destinado a licenciar atividades ou empreendimentos utilizadores de recursos ambientais, efetiva ou potencialmente poluidores ou capazes, sob qualquer forma, de causar degradacéio ambiental” (art. 2°, I). O art. 10 da Lei n® 6,938/1981 possui a seguinte redagao: “A construcdo, instalacdo, ampliaco e funcionamento de estabelecimentos e atividades utilizadores de recursos ambientais, efetiva ou potencialmente poluidores ou capazes, sob qualquer forma, de causar degradagao ambiental dependerao de prévio licenciamento ambiental”. No mesmo sentido, a Resolugaéo Conama n° 237/1997 define o licenciamento ambiental como o “(...) procedimento administrativo pelo qual o érgéo ambiental competente licencia a localizagao, instalagao, ampliagéo e a operagao de empreendimentos e atividades utilizadoras de recursos ambientais, consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras ou daquelas que, sob qualquer forma, possam causar degradagao ambiental” (art. 1°, 1). Desta maneira, 0 empreendedor que pretenda localizar, construir, instalar, ampliar ou modificar atividades ou empreendimentos utilizadores de recursos ambientais e considerados efetiva ou potencialmente poluidores, assim como os capazes, sob qualquer forma, de causar degradacao ambiental, dependem de prévio licenciamento do érgao ambiental competente. 9.6 OBRIGATORIEDADE DO LICENCIAMENTO AMBIEI O licenciamento ambiental é um procedimento administrativo obrigatério para as atividades potencialmente poluidoras ou que possam causar degradacao ambiental. Entretanto, ndo € para toda e qualquer atividade econdmica. O rol de atividades e empreendimentos que devem se sujeitar ao licenciamento ambiental ordindrio encontra-se no anexo I da Resolugaéo Conama n° 237/1997. A listagem em questao nao é definitiva, uma ‘vez que a dinamica econdmica sempre impde novos contornos e potencialidades em matéria de impactos ambientais. Caso a atividade, obra ou empreendimento for potencialmente causador de significativa degradagao ao meio ambiente, é inescusdvel o cumprimento da principal exig@ncia preliminar: a confec¢io do Estudo Prévio de Impacto Ambiental, conhecido pela sigla EIA/Rima. E um estudo a ser feito sob total responsabilidade do empreendedor, que deverd contratar equipe técnica multidisciplinar para a sua obrigatéria elaboracao, nos termos da Resolugdo Conama n° 01/1986. Trata-se de estudo exigivel somente — e to somente — para as atividades e empreendimentos efetiva ou potencialmente causadores de significativa degradagao do meio ambiente, que se impde por disposi¢3o constitucional (art. 225, § 1°, IV, da CE). Enquanto procedimento administrativo, o licenciamento ambiental passa por etapas, representadas pela obtencao de cada uma das licencas ambientais, a saber: (a) licenca prévia, com a aprovacao do projeto e de sua localizacdo; (b) licenga de instalacio, com a materializagao do projeto; e (c) licenga de operagao, com o efetivo funcionamento da atividade. Verifica-se, portanto, que para o empreendedor o objetivo final do licenciamento ambiental 6 a obtengao da licenga de operagao. Por intermédio dela, consoante o prazo de validade, terd o funcionamento e desempenho de sua atividade econémica. Para o érgio ambiental a finalidade é outra: prevenir e mitigar os impactos ambientais como salvaguarda do direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. E por essa dupla leitura que o licenciamento se configura como procedimento essencialmente preventivo de compatibilizago das atividades econémicas coma protecao ao meio ambiente. 7 LICENGA AMBIENTAI Define-se licenga ambiental, conforme a Resolugéo Conama n° 237/1997, como o “(...) ato administrativo pelo qual o 6rgao ambiental competente estabelece as condigées, restrigdes e medidas de controle ambiental que deverdo ser obedecidas pelo empreendedor, pessoa fisica ou juridica, para localizar, instalar, ampliar e operar empreendimentos ou atividades utilizadoras dos recursos ambientais consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras ou daquelas que, sob qualquer forma, possam causar degradagao ambiental” (art. 1°, 11). 9.8 TIPOS DE LICENCAS AMBIENTA! Como procedimento, o licenciamento ambiental é a sucesso de atos que visam a obtengio sequencial de trés licengas: (a) licenga prévia; (b) licenga de instalaco; (c) licenga de operacao. 9.8.1 Licenga prévia A licenga prévia € a primeira das licengas ambientais. Ela 6 concedida na fase preliminar de planejamento, e tem o condao de aprovar a localizacao e a concep¢ao do projeto. Durante essa fase a localizacéo do projeto é aprovada, apés a verificagao da compatibilidade do empreendimento ou atividade com o zoneamento, o plano diretor e os planos e programas governamentais. Esse é um aspecto particularmente importante, dado que o empreendedor deve inserir no procedimento de licenciamento a certidao da Prefeitura Municipal sobre a regularidade com a legislagao aplicavel ao uso e ocupaciio do solo (art. 10, § 1°, da Resolugao n? 237/197). Além disso, esta fase atesta a viabilidade ambiental do projeto, estabelecendo ainda os requisitos basicos e os condicionantes que 0 empreendedor devera observar nas licengas posteriores (art. 8°, I, da Resolugaio Conama n° 237/1997). A licenca prévia nao autoriza o empreendedor a edificar ou intervir no meio ambiente; isso s6 ser possivel coma obtencao e nos termos da proxima licenca, a de instalagao. O prazo de validade da licenga prévia € 0 estabelecido no projeto, nao podendo ser superior a 5 (cinco) anos (art. 18, I, da Resolugao Conama n° 237/1997). Para as atividades causadoras de significativa degradacio ambiental so exigidas a realizagio e a aprovaciio do Estudo Prévio de Impacto Ambiental (EIA/Rima) para a concessio da licenga prévia. Emsintese, so caracteristicas da Licenga Prévia: a) aprova a localizacao e a concepcao do projeto; b) atesta a sua viabilidade ambiental e estabelece os requisitos e condicionantes que o empreendedor deve observar para as préximas fases do licenciamento; ©) prazo maximo nao é superior a 5 (cinco) anos. 9.8.2 Licenga de instalagao Apés a obtengao da licenca prévia, a préxima etapa do empreendedor é requerer a licenga de instalagéo. Essa licenga autoriza a instalagdo do empreendimento ou atividade de acordo com as especificacdes constantes dos planos, programas e projetos aprovados, incluindo as medidas de controle ambiental e demais condicionantes, das quais constituem motivo determinante (art. 8°, II, da Resolucio Conama n° 237/1997). E nessa fase que se permitem construir, edificar, cortar arvores (desde que detenha autorizagao para tal), usar agua (com a outorga de uso dos recursos hidricos) e todas as obras pertinentes para o empreendimento. O prazo da licenga de instalacao 6 o definido no cronograma do projeto, nio podendo ser superior a 6 (seis) anos (art. 18, I, da Resolugao Conama n° 237/197). Caracteristicas da licenga de instalagao: a) autoriza a instalagao do empreendimento; b) define as medidas de controle ambiental e os condicionantes para a préxima fase; ©) prazo maximo néo superior a 6 (seis) anos. 9.8.3 Licenga de operagao Alicenga de operagao permite o funcionamento da atividade ou empreendimento apés a verificagéo do efetivo cumprimento das medidas e condicionantes que constam das licengas anteriores (art. 8°, III, da Resolugéo Conama n° 237/1997). Além disso, ela determinaré as medidas de controle ambiental e condicionantes de observancia apés 0 efetivo funcionamento do empreendimento. O prazo de uma licenga de operacao é de no minimo 04 (quatro) anos e de no maximo 10 (dez) anos (art. 18, III, da Resolugdo Conama n° 237/1997). Caracteristicas da licenca de operacao: a) verifica o cumprimento dos condicionantes das licengas anteriores; b) autoriza a operaco da atividade ou empreendimento; c) estabelece os condicionantes ambientais para o funcionamento; 4) prazo minimo: 4 (quatro) anos; prazo méximo: 10 (dez) anos. EFEITOS CONDICIONANTES condicionantes para DIF NCGAS ENTRE OS TIPOS DE LICENCA < LICENGA DE z, LICENGA PREVIA INST, ‘AO LICENGA DE OPERAGAO Aprova a localizagéo e aconcepcao do projeto. Autoriza a operacao da atividade ou empreendimento. Autoriza a instalagao do empreendimento. Estabelece os - Define as medidas de Verifica o cumprimento das requisitos e controle ambiental e condicionantes das licengas os condicionantes —_ anteriores e os estabelece as proximas fases do ae x para a proxima fase. para a fase de operagao. licenciamento. PRAZOS Nao superior a 05 Nao superior a 06 Minimo: 04 (quatro) anos. (Res. n° 237/1997) (cinco) anos. (seis) anos. Maximo: 10 (dez) anos. 3 cuidado Os prazos das licengas ambientais relacionadas seguem a dinamica da Resolugéo Conama n° 237/1997. Contudo, o licenciamento ambiental estadual e o municipal apresentam prazos distintos, de acordo com a natureza da atividade econémica. Caso 0 edital suscite 0 licenciamento estadual, por exemplo, recomenda-se acompanhar a legislagdo correlata. Outro aspecto importante é que, conforme a legislacao do ente federativo, é possivel a simplificagao das licengas ambientais. 9.9 RENOVACAO DA LICENGA Cabe ao empreendedor solicitar a renovaciio de licengas ambientais, que devem ser requeridas com antecedéncia minima de 120 dias da expiracao de seu prazo de validade, que foi fixado na respectiva licenga, ficando este automaticamente prorrogado até a manifestacao definitiva do érgio ambiental competente (art. 14, § 4°, da LC n? 140/2011). antecedéncia minima de 120 dias da expiragao de seu prazo de validade, Arenovacao das liceng¢as ambientais deve ser requerida com Q as 2 que foi fixado na respectiva licenca. 10 PROCEDIMENTOS PARA REQUERER AS LICENCAS AMBIENTAIS Como procedimento, o licenciamento ambiental impée um iter de observancia obrigatéria pelo requerente, O roteiro esta disposto no art. 10 da Resolugiio n° 237/197, a saber: a) Definicéo pelo érgio ambiental competente, com a participag’o do empreendedor, dos documentos, projetos e estudos ambientais necessarios ao inicio do processo de licenciamento correspondente a licenca a ser requerida; b) Requerimento da licenca ambiental pelo empreendedor, acompanhado dos documentos, projetos e estudos ambientais pertinentes, dando-se a devida publicidade; Andlise pelo érgio ambiental competente, integrante do Sisnama, dos documentos, projetos e estudos ambientais apresentados e a realizacao de vistorias técnicas, quando necessérias; ° d) Solicitago de esclarecimentos e complementacées pelo érgio ambiental competente, integrante do Sisnama, uma Unica vez, em decorréncia da andlise dos documentos, projetos e estudos ambientais apresentados; quando couber, pode haver a reiteragdo da mesma solicitagdo caso os esclarecimentos e complementagées nao tenham sido satisfatérios; Audiéncia ptiblica, quando couber, de acordo com a regulamentagao pertinente; f) Solicitagdo de esclarecimentos e complementagdes pelo 6rgao ambiental competente, decorrentes de audiéncias ptblicas; quando couber, pode haver a reiteracdo da solicitagio quando os esclarecimentos e complementagées nao tenham sido satisfatérios; g) Emissao de parecer técnico conclusivo e, quando couber, parecer juridico; h) Deferimento ou indeferimento do pedido de licenga, dando-se a devida publicidade. 11 PRAZOS DE ANALISE PELOS ORGAOS AMBIENTAIS ALC m? 140/201 pontua que “(...) 0s érgios licenciadores devem observar os prazos estabelecidos para tramitagaio dos processos de licenciamento” (art. 14, caput). © A Resolugéio Conama n? 237/197 disciplina esses aspectos. Com efeito, o prazo de andlise da licenga pelo érgio ambiental responsdvel, com o deferimento ou indeferimento, é de no maximo 6 (seis) meses, a contar do seu protocolo. Na hipétese de realizacdo de EIA/Rima ou de audiéncia publica, 0 prazo é de 1 (um) ano (art. 14, caput, da Resolucao n° 237/1997). Caso se verifique o decurso dos prazos de licenciamento sem a emissao da licenca ambiental, tal fato ndo implica a emissao técita nem autoriza a pratica de ato que dela dependa ou decorra, mas instaura a compet@ncia supletiva (art. 14, § 3°, da LC n° 140/2011) — como se vera no t6pico 9.14. 12 PRAZO PARA ESCLARECIMENTOS E COMPLEMENTAGOES Caso o 6rgdo ambiental solicite esclarecimentos e complementagdes ao empreendedor, o prazo de anilise sera suspenso (art. 14, § 1°, da Resolugdo Conama n? 237/1997). Alias, esse é um aspecto que a LC n® 140/2011 aduz: “As exigéncias de complementacao oriundas da andlise do empreendimento ou atividade devem ser comunicadas pela autoridade licenciadora de uma tnica vez ao empreendedor, ressalvadas aquelas decorrentes de fatos novos” (art. 14, § 1°). E continua: “(...) as exigéncias de complementagao de informagées, documentos ou estudos feitas pela autoridade licenciadora suspendem o prazo de aprovacio, que continua a fluir apés o seu atendimento integral pelo empreendedor” (art. 14, § 2°, LC n° 140/2011). Os esclarecimentos ¢ complementagdes deverao ser atendidos no prazo maximo de 04 (quatro) meses, a contar da notificagdo (art. 15, caput, da Resolugio Conama n° 237/1997). Esse prazo pode ser prorrogado, desde que justificado e coma concordancia entre o empreendedor e 0 érgéo ambiental (art. 15, pardgrafo tinico, da Resolugao Conama n° 237/1997). Agora, a nfo observancia pelo empreendedor do prazo para esclarecimentos ¢ complementacies importard no arquivamento do procedimento, Contudo, nada obsta que 0 empreendedor reapresente o projeto (art, 17 da Resolucao n° 237/1997), devendo arcar novamente com os custos e observar os procedimentos elencados no art. 10 da Resolucao n° 237/1997 (como se relacionou no item 9.10). 9.13 REQUISITOS PARA O ENTE FEDERATIVO EFETUAR O LICENCIAMENTO AMBIENTAL Como se viu, todos os entes federativos podem promover o licenciamento ambiental, decorréncia da competéncia administrativa comum do art. 23 da Constituigéo de 1988. Todavia, faz-se necessdria a observancia de dois requisitos: existéncia de 6rgéo ambiental capacitade e de conselho de meio ambiente. A constituicao e estruturacio de um érgio ambiental capacitado representa, por evidente, requisito basilar para que um ente federativo efetue o licenciamento. A LC n° 140/2011 confere um indicativo para a definigdo de érgo ambiental capacitado no pardgrafo tnico do art. 5°, dispositive que aborda a delegacio de acdes administrativas entre entes federativos. Dessa forma, considera-se 6rgio ambiental capacitado — para as agdes de delegacao de acdes administrativas — aquele que possui técnicos préprios ou em consércio, devidamente habilitados e em ntimero compativel com a demanda das agées administrativas a serem delegadas. Deflui-se que érgio ambiental capacitado 6 aquele que possui corpo técnico habilitado e em ntimero suficiente para atender as demandas do licenciamento ambiental em sua area de atuacao. A primeira vista, essa concepgao parece evidente, ao exigir um corpo técnico habilitado que atenda a demanda correspondente, em especial ao se visualizar a estrutura de 6rgaos ambientais como o Ibama (érgao ambiental federal) ou dos érgaos ambientais no Ambito estadual. Todavia, ao se transpor essa exigéncia ao nivel local, é forcoso reconhecer que nao so numerosos os municipios que se enquadram nessa configuragéo, ndo raro com érgados ambientais sem estrutura adequada e essencialmente providos por agentes em cargos comissionados, o que dificulta que o ente federativo demonstre ser fiador de uma politica ambiental de médio e longo prazo. Quanto ao segundo requisito, o estabelecimento de conselhos de meio ambiente, trata-se de mecanismo de efetivagao do principio da participagao comunitria. Deveras, como o licenciamento ambiental de atividades e empreendimentos poluidores e degradadores interessa e afeta diretamente a comunidade da rea a ser submetida ao procedimento, nada mais razoavel que ela participe das decisées es formuladas em gabinetes fechados, haja ambientais. © que se propugna & que, em vez de de participacaio popular na discussdo, formulagdo, execucao, acompanhamento e fiscalizacao das politicas ptblicas ambientais. E isso no pode ser diferente no licenciamento ambiental, 0 que transforma os conselhos de meio ambiente em um locus fundamental. Ao contrério da Resolucdo Conama n° 237/197, que dispunha sobre a obrigatoriedade de implementacaio dos conselhos de meio ambiente com cardter deliberativo e participaco social, a LC n° 140/2011 foi genérica, consignando somente a obrigatoriedade de conselhos de meio ambiente. Nesse ponto, nota-se um retrocesso, porque a LC permite a formagdo de conselhos de meio ambiente meramente consultivos, opinativos, sem qualquer possibilidade de questionar eventuais politicas dos governantes de plantio. Ora, o cerne da previsao dos conselhos de meio ambiente é justamente a participagao da sociedade civil, 0 que demanda reconhecer que eles somente cumprem a sua fung&o legal — e finalistica — enquanto constituidos como érgios deliberativos, que transcendem funcdes meramente opinativas. Alias, como exemplo de conselho de meio ambiente que adequadamente desempenha o papel que se espera desses colegiados é 0 Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), que é instancia deliberativa composta por representantes do governo federal, governos estaduais, governos municipais, das entidades da sociedade civil e do setor empresarial, que reflete uma devida abrangéncia na representatividade. Além dos debates que propée em nivel nacional, ndo 6 demais destacar a funcio deliberativa do Conama, coma expediciio continua de resoluges, que deliberam sobre normas e padrdes compativeis com um meio ambiente ecologicamente equilibrado e essencial a sadia qualidade de vida. E importante frisar que os empreendimentos e atividades sfio licenciades ou autorizados, ambientalmente, por um tinico ente federativo, em conformidade com as atribuigées estabelecidas na LC n® 140/2011. Conforme Eduardo Bim’, a regra do licenciamento por um Unico ente federativo prestigia o principio da seguranga juridica, o da eficiéncia e o da economicidade. Entretanto, os demais entes federativos interessados podem manifestar-se ao 6rgio responsavel pela licenga ou autorizagéio, de maneira n&o vinculante, respeitados os prazos e procedimentos do licenciamento ambiental (art. 13, § 1°, da LC n? 140/2011). Caso © licenciamento do empreendimento ou atividade implique supressio de vegetacao, sua autorizagio caberd ao ente federativo licenciador (art. 13, § 2°, da LC n° 140/2011). Os empreendimentos e atividades s&o licenciados ou autorizados, ambientalmente, por UM UNICO ENTE FEDERATIVO. Os demais entes Q dica _ federativos interessados podem manifestar-se ao 6rgao responsavel pela 2 licenga ou autorizagéo, DE MANEIRA NAO VINCULANTE, respeitados os prazos e procedimentos do licenciamento ambiental. 14 ATUAGAO SUPLETIVA E SUBSIDIARIA Entende-se por atuacao supletiva, conforme a LC n° 140/201, a “(...) aco do ente da Federacao que se substitui ao ente federativo originariamente detentor das atribuicdes, nas hipéteses definidas nesta Lei Complementar”. O art. 15 da LC n? 140/2011 elenca as hipéteses de atuaco em carater supletivo nas agdes administrativas de licenciamento e de autorizagao ambiental, a saber: 1) inexistindo érgio ambiental capacitado ou conselho de meio ambiente no Estado ou no Distrito Federal, a Unidio deve desempenhar as aces administrativas estaduais ou distritais até a sua criagdo; Il) inexistindo érgio ambiental capacitado ou conselho de meio ambiente no Municipio, o Estado deve desempenhar as acdes administrativas municipais até a sua criagao; e II}) inexistindo érgio ambiental capacitado ou conselho de meio ambiente no Estado e no Munic{pio, a Unido deve desempenhar as agdes administrativas até a sua criagdo em um daqueles entes federativos. A nao observancia de somente um dos requisitos — existéncia de érgao ambiental capacitado ou o estabelecimento de conselho de meio ambiente — é suficiente para que se deflagre a aco administrativa supletiva. Outra hipétese que implica a atuagao supletiva de outro érgio ambiental é a inobservancia dos prazos para a emissao da licenca ambiental pelo érgio licenciador competente, in verbis: “(...) 0 decurso dos prazos de licenciamento, sem a emissao da licenga ambiental, nao implica emissao tacita nem autoriza a pratica de ato que dela dependa ou decorra, mas instaura a competéncia supletiva referida no art. 15” (art. 14, § 3°, da LC n° 140/2011). Atuagao subsididria, por sua vez, segundo a LC n° 140/2011, é a “(...) aco do ente da Federacao que visa a auxiliar no desempenho das atribuicées decorrentes das competéncias comuns, quando solicitado pelo ente federativo originariamente detentor das atribuicdes definidas nesta Lei Complementar”. A atuacao subsidiaria proporciona, em termos diretos, 0 auxilio de um ente federativo a outro, nas hipéteses de alguma deficiéncia ou fragilidade de natureza econdmica, administrativa, técnica ou cientifica, Dessa forma, a acao administrativa subsididria dos entes federativos dar-se-A por meio de apoio técnico, cientifico, administrativo ou financeiro, sem prejuizo de outras formas de cooperacao (art. 16 da LC n° 140/2011). A acdo subsidiéria deve ser solicitada pelo ente originariamente detentor da atribuicao do licenciamento ou autorizacao, nos termos da LC n° 140/201. Como exemplo, o érgio ambiental estadual com dificuldades técnicas no licenciamento ambiental de uma determinada atividade poder solicitar auxilio ao érgio ambiental federal para superé-las. Eis uma possibilidade de atuacao subsididria. Agao do ente da Federagdo que substitui o ente federativo originariamente detentor das atribuigdes, desde que nado possua érgao ambiental capacitado ou conselho de meio Agcao do ente da Federagdo que visa a auxiliar no desempenho das atribuicgées decorrentes das competéncias comuns, quando solicitado pelo ente federativo originariamente detentor das fueled atribuig6es. Unido substituiu 0 Estado; cape 4 - Estado substitui o Municipio; O auxilio é por meio de apoio técnico, cientifico, Se nem Municipio e Estado cumprirem os administrativo ou financeiro. requisitos, a Unido efetua o licenciamento, 9.15 DISTRIBUIGAO DE COMPETENCIAS NO LICENCIAMENTO AMBIENTAL A distribuigéo das competéncias no licenciamento ambiental nado é novidade. Era delineado pela Resolugao Conama n° 237/1997. A Lei Complementar n° 140/2011, por sua vez, traz um extenso rol de competéncias dos entes federativos em matéria ambiental. 9.15.1 Licenciamento da Unido No Ambito federal, o licenciamento ambiental compete ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovaveis (Ibama). Segundo o inciso XIV do art. 7° da LC n° 140/2011, compete 4 Unido promover o licenciamento ambiental de empreendimentos ¢ atividades: a) localizados ou desenvolvidos conjuntamente no Brasil e em pais limitrofe; b) localizados ou desenvolvidos no mar territorial, na plataforma continental ou na zona econémica exclusiva; ©) localizados ou desenvolvidos em terras indigenas; a) localizados ou desenvolvidos em unidades de conservacao instituidas pela Unido, exceto em Areas de Protecdo Ambiental (APAs); e) localizados ou desenvolvidos em 2 (dois) ou mais Estados; f) de cardter militar, excetuando-se do licenciamento ambiental, nos termos de ato do Poder Executivo, aqueles previstos no preparo e emprego das Forcas Armadas, conforme disposto na Lei Complementar n° 97, de 9 de junho de 1999; 8) destinados a pesquisar, lavrar, produzir, beneficiar, transportar, armazenar e dispor material radioativo, em qualquer estégio, ou que utilizem energia nuclear em qualquer de suas formas e aplicagées, mediante parecer da Comissao Nacional de Energia Nuclear (CNE h) que atendam tipologia estabelecida por ato do Poder Executivo, a partir de proposicao da Comissao Tripartite Nacional, assegurada a participacaio de um membro do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), e considerados os critérios de porte, potencial poluidor e natureza da atividade ou empreendimento. ); ou Por Ultimo, “o licenciamento dos empreendimentos cuja localizacéo compreenda concomitantemente reas das faixas terrestre e maritima da zona costeira seré de atribuigdo da Unido exclusivamente nos casos previstos em tipologia estabelecida por ato do Poder Executivo, a partir de proposigio da Comissdo Tripartite Nacional, assegurada a participacaio de um membro do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) e considerados os critérios de porte, potencial poluidor ¢ natureza da atividade ou empreendimento” (art. 7°, parégrafo tinico, da LC n? 140/2011). 9.15.2 enciamento dos Estados-membros Compete aos Estados-membros promover o licenciamento ambiental de atividades ou empreendimentos utilizadores de recursos ambientais, efetiva ou potencialmente poluidores ou capazes, sob qualquer forma, de causar degradacéio ambiental, ressalvadas as competéncias da Unido e dos municipios (art. 8°, XIV, da LC n° 140/2011). Ademais, compete promover o licenciamento ambiental de atividades ou empreendimentos localizados ou desenvolvidos em unidades de conservagiio instituidas pelo Estado, exceto em Areas de Protecdio Ambiental (APAs). Em uma primeira leitura, poder-se-ia dizer que, no caso do licenciamento ambiental, as competéncias dos Estados sao residuais. Em outras palavras, se nao for de competéncia da Unido ou dos municipios, serd de competéncia do Estado-membro. Como exemplo, cabe ao Estado-membro o licenciamento de empreendimentos e atividades localizados ou desenvolvidos em mais de um municipio nessa unidade federativa. Isso porque, se o licenciamento ultrapassar os limites do Estado-membro, essa competéncia sera da Unido; se for circunscrito aos limites territoriais de um municipio, com impacto local, a ele cabera esse mister. Contudo, em uma leitura mais detida, os Estados-membros, a bem da verdade, desempenham uma pléiade de atividades que estiio longe de se caracterizarem como residuais. Paulo de Bessa Antunes? afirma que 0 cardter suplementar é da Unido e o principio geral é de que o licenciamento € estadual. Em sintese, aos Estados compete um papel decisivo e amplo na efetivagao desse instrumento da Politica Nacional de Meio Ambiente. 9.15.3 Licenciamento municipal Observadas as atribuigdes dos demais entes federativos previstas na LC n° 140/201, compete aos municipios promoverem o licenciamento ambiental das atividades ou empreendimentos: a) que causem ou possam causar impacto ambiental de ambito local, conforme tipologia definida pelos respectivos Conselhos Estaduais de Meio Ambiente, considerados os critérios de porte, potencial poluidor e natureza da atividade; ou b) localizados em unidades de conservacao instituidas pelo Municipio, exceto em Areas de Protegao Ambiental (APAs). 9.15.4 Licenciamento do Distrito Federal No que tange ao licenciamento ambiental do Distrito Federal, como de resto o conjunto de suas agdes administrativas, sio aplicaveis as disposigdes concernentes aos Estados ¢ aos municipios. ‘Trata-se, como se vé, de conjugacao de atribuigdes, ao contrério do que dispde o art. 5° da Resolugao n° 237/1997 do Conama, que vinculava o Distrito Federal somente as regras dos Estados. 9.15.5 Licenciamento em Areas de Protegdo Ambiental (APAs) ALC n® 140/2011 disciplinou regras préprias para o licenciamento ambiental em Areas de Protecao Ambiental (APAs). Ao contrario das demais espécies de unidades de conservacio, nas APAs o critério do ente politico instituidor nao determina o licenciamento ambiental. Nesse sentido, o art. 12 da LC n° 140/201 determina que, “(...) para fins de licenciamento ambiental de atividades ou empreendimentos utilizadores de recursos ambientais, efetiva ou potencialmente poluidores ou capazes, sob qualquer forma, de causar degradagdo ambiental, e para autorizagao de supressdo e manejo de vegetagao, o critério do ente federativo instituidor da unidade de conservagao nao sera aplicado as Areas de Protecdo Ambiental (APAs)”. A definigo do ente federativo responsavel pelo licenciamento e autorizagio no caso das APAs seguird os critérios previstos nas alineas “a”, “b”, “e”, “f” e “h” do inciso XIV do art. 7°, no inciso XIV do art. 8° e na alinea “a” do inciso XIV do art. 9° da LC n’ 140/2011. Em outras palavras, atividades e empreendimentos em APAs serdo licenciados pela Unido nos seguintes casos: a) localizados ou desenvolvidos conjuntamente no Brasil e em pais limitrofe; b) localizados ou desenvolvidos no mar territorial, na plataforma continental ou em zona econdmica exclusiva; c d localizados ou desenvolvidos em dois ou mais Estados; de cardater militar, excetuando-se do licenciamento ambiental, nos termos de ato do Poder Executivo, aqueles previstos no preparo e emprego das Forgas Armadas, conforme disposto na Lei Complementar n° 97, de 09.06.1999; e) que atendam tipologia estabelecida por ato do Poder Executivo, a partir de proposigao da Comissdo Tripartite Nacional, assegurada a participagdo de um membro do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), e considerados os critérios de porte, potencial poluidor e natureza da atividade ou empreendimento. Serdo licenciadas pelos municipios as APAs que se enquadrarem no conceito de impacto ambiental de Ambito local, conforme a redagio da alinea “a” do inciso XIV do art. 9° da LC n° 140/2011, que dispoe jios devem promover o licenciamento ambiental de atividades e empreendimentos “que causem ou possam causar impacto ambiental de ambito local, conforme tipologia definida pelos que os muni respectivos Conselhos Estaduais de Meio Ambiente, considerados os critérios de porte, potencial poluidor e natureza da atividade”. Quantos aos Estados, compete a promogao do licenciamento ambiental de atividades ou empreendimentos utilizadores de recursos ambientais, efetiva ou potencialmente poluidores ou capazes, sob qualquer forma, de causar degradacao ambiental, ressalvadas as disposigdes concernentes A Unigo e aos municipios. Ou seja, o Estado promoverd o licenciamento ambiental de atividades que nao estejam sujeitas as hipéteses elencadas pela LC n° 140/2011 & Unido e aos municipios — inclusive no que se refere as APAs. 9.15.6 Supress4o de vegetacdo no licenciamento ambiental A supressao de vegetacao decorrente de licenciamentos ambientais é autorizada pelo ente federativo licenciador (art. 13, § 2°, LC 140/2011). 9.15.7 Taxas de licenciamento ambiental Os valores alusivos as taxas de licenciamento ambiental e outros servicos afins devem guardar relacdo de proporcionalidade com o custo e a complexidade do servico prestado pelo ente federativo (art. 13, § 3°, LC n° 140/2011). 16 REVISIBILIDADE DAS LICENCAS AMBIENTAIS Alicenca ambiental esté sujeita a retirada temporéria ou definitiva. A retirada temporaria ocorre coma suspensao do empreendimento ou da atividade, em que o grau de irregularidade é sanavel e, por consequéncia, a correspondente retomada é possivel. Ocorre a retirada definitiva quando o grau de irregularidade no pode ser sanado, o que se dé a partir de trés fundamentos: (a) anulacao; (b) cassacao; e (c) revogagao. Essas hipdteses estdo delineadas no art. 19 da Resolucdo n? 237/1997, in verbis: “O érgio ambiental competente, mediante decisao motivada, poderd modificar os condicionantes e as medidas de controle e adequagdo, suspender ou cancelar uma licenga expedida, quando ocorrer: I - violagdo ou inadequacdo de quaisquer condicionantes ou normas legais; II — omissdo ou falsa descrigio de informagdes relevantes que subsidiaram a expedigao da licenca; IIT - supervenincia de graves riscos ambientais e de satide”. Da anilise desse dispositivo podemos concluir que a retirada definitiva da licena ambiental impée, obrigatoriamente, que a decisio seja motivada, uma vez que seus efeitos geram severas consequéncias ao exercicio da atividade econdmica do empreendedor. A decisio motivada, em nossa compreensio, deve ser precedida de processo administrativo, como forma de protegdo dos direitos dos administrados e ao melhor cumprimento dos fins piblicos. Com esses apontamentos, analisar-se-4 cada um dos incisos do artigo que se referenciou. 9.16.1 Anulagado Umato administrativo é objeto de anulac&o quando eivado de ilegalidade. Trata-se de um poder-dever da Administragao, conforme a Stimula n? 473 do STF. A licenca ambiental é passivel de anulacéio quando a omissio ou falsa descrigdo estavam presentes no momento da concessao da licenga. A anulacdo da licenga ambiental ocorre, por exemplo, coma falsa descricéio ou omissdo das condigées da biota (fauna e flora) no estudo ambiental que subsidiou o deferimento da licenga. O empreendedor, ao nao relacionar eventuais espécies da flora e da fauna ameacadas, elidiu a andlise adequada pelo érgio ambiental, com intuito de facilitar a concessao da licenga. Contudo, se no curso da licenga constata-se esse fato, impoe- se a sua anulagio. 9.16.2 Revogacao Ocorre a revogagao da licenga ambiental na hipdtese de haver relevante interesse ptiblico, devidamente evidenciado. Ainda que o empreendimento observe todos os condicionantes e medidas ambientais estabelecidos pelo érgio competente, é possivel a revogacio de sua licenca pela superveniéncia de graves riscos ambientais e de satide. Como exemplo, uma fabrica que se submeteu ao licenciamento ambiental e cumpre todos os condicionantes pode, por meio da ocorréncia de um evento natural, inserir-se em uma area de risco, com a possibilidade de desmoronamento ou ainda provocar a contaminagao de um curso de 4gua com a sua permanéncia. Em situagdes como essa, de cardter superveniente, com riscos a satide e ao meio ambiente, seré necessdria a revogacdo da licenca ambiental. 9.16.3 Cassagao A cassacio, 4 guisa de concluséo, ocorre quando o empreendedor descumpre os condicionantes estabelecidos pelo érgio ambiental no ato da concessao da licenca ambiental. Podemos exemplificar com o caso de um empreendedor que passa a emitir gases na atmosfera acima dos limites previstos na licenga de operacao ou ainda efetue o lancamento de efluentes liquidos e gasosos que destoam dos limites estabelecidos na licenca. 9.17 FISCALIZAGAO DOS EMPREENDIMENTOS E ATIVIDADES LICENCIADAS OU AUTORIZADAS O art. 17 da LC n° 140/2011 trouxe novidades para o exercicio do poder de polfcia ambiental em obras e atividades licenciadas ou autorizadas. A principal delas é que o érgio competente para o licenciamento ou autorizagao serd o responsavel pela fiscalizac&o, coma lavratura do auto de infracdo e a instaura¢ao do processo administrativo ambiental. E o que dispée o art. 17, caput, da LC n° 140/2011, in verbis: “compete ao érgio responsavel pelo licenciamento ou autorizagao, conforme o caso, de um empreendimento ou atividade, lavrar auto de infragéo ambiental e instaurar processo administrativo para a apuragao de infragdes a legislacéo ambiental cometidas pelo empreendimento ou atividade licenciada ou autorizada”. Como se vé, a LC n? 140/201 estabeleceu, como regra, que a fiscalizagao —e a eventual lavratura de auto de infragio ambiental e instauracio do processo administrative — 6 de competéncia do érgio ambiental licenciador. Em outras palavras, quem licencia, fiscaliza! Nao obstante a regra geral de fiscalizacdo vinculada ao ente licenciador, o legislador dispds que, “nos casos de iminéncia ou ocorréncia de degradacdo da qualidade ambiental, o ente federativo que tiver conhecimento do fato deveré determinar medidas para evité-la, fazer cessé-la ou mitigé-la, comunicando imediatamente ao érgio competente para as providéncias cabiveis” (art. 17, § 2°, LC n? 140/2011). Em situagées de iminéncia ou ocorréncia de degradacao ambiental, nada obsta a agao fiscalizatéria do 6rgio ambiental do ente federativo que primeiro tiver conhecimento do fato. A assuncao de medidas imediatas para se impedirem eventuais degradagdes e danos ao meio ambiente ndo pode prescindir da cooperagao de todos os érgios responsaveis pela qualidade ambiental no Pais, pois o federalismo cooperative do art. 23 da Constituicdo Federal é 0 norteador da fiscalizago ambiental. A propésito, o STF, em julgado recente, pontuou (grifos nossos): 1, Tratando-se de proteco ao meio ambiente, nao ha que falar em competéncia exclusiva de um ente da federago para promover medidas protetivas. Impée-se amplo aparato de fiscalizacio a ser exercido pelos quatro entes federados, independentemente do local onde a ameaga ou o dano estejam ocorrendo. 2. O Poder de Policia Ambiental pode — e deve — ser exercido por todos os entes da Federacao, pois se trata de competéncia comum, prevista constitucionalmente. Portanto, a competéncia material para o trato das quest6es ambientais é comum a todos os entes. Diante de uma infragae ambiental, os agentes de fiscalizacao ambiental federal, estadual ou municipal terao o dever de agir imediatamente, obstando a perpetuacio da infrago (AgRg no REsp 1417023/PR, DJe 25/08/2015). Isto é, nao ha que confundir competéncia licenciatéria com competéncia fiscalizatéria. Contudo, em se tratando de — frisa-se — licenciamento e autorizagao ambiental, a LC n° 140/2011 estabelece uma racionalidade na conducgéo dos procedimentos decorrentes do exerc! jo da competéncia comum de fiscalizagao, sem, com isso, obsta-la. Dentro dessa légica, o 6rgao ambiental que possuir conhecimento da degradagao ao meio ambiente deverd tomar as medidas para evité-la, fazer cess4-la ou mitigé-la por meio, por exemplo, do embargo da obra ou atividade, evitando-se, assim, maiores impactos ambientais e eventuais desdobramentos. Com a adogao de providéncias acautelatorias ou de mitigacéo e apés a imediata comunicagéo ao érgio competente, encerra-se a participagdo do érgio ambiental que primeiro tomou conhecimento da degradacao, iminente ou em curso. Nesses termos, 6 necessdrio indagar qual 6 0 érgio competente que deverd doravante adotar as providéncias cabiveis. Sem diivida, o drgio competente é aquele que detém a competéncia para o licenciamento ou autorizagéio em matéria ambiental. Reitera-se: para os fins da LC n° 140/2011, érgio ambiental competente é aquele que concedeu a licenga ambiental ou a autorizagéo para o empreendimento, sem prejuizo da atuagao fiscalizatéria de 6rgaos ambientais de outros entes federativos. A razio para que 0 érgio competente se vincule ao licenciador é de ordem prética: durante o procedimento de licenciamento e obtengao das licencas ambientais respectivas — licenga prévia, licenca de instalacao e licenga de operagao — o érgio licenciador estabelece condicionantes entre as licencas ambientais, que sao de cumprimento obrigatério, independentemente da etapa em que foram determinadas. E, no minimo, despiciendo que outro érgao ambiental, no exercicio da fiscalizacao, estabeleca outras exigéncias e condicionantes que nao aquelas fixadas pelo érgio licenciador. Isso levaria a um clima de disputa entre os érgios ambientais, além de inseguranca ao empreendedor. Corrobora-se essa argumentagio com o que dispée o art. 13 da LC n® 140/2011, a saber: “os empreendimentos e atividades sao licenciados ou autorizados, ambientalmente, por um tinico ente federativo”. Apesar de a Resolugdo Conama n° 237/1997 dispor no mesmo sentido, a LC n° 140/2011 eiterou esse aspecto, até mesmo para evitar sobreposicao e querelas entre rgios ambientais, que poderiam ter o condéo de resultar em discussées administrativas e judiciais morosas, com sérios prejuizos tanto ao desenvolvimento de atividades econdmicas quanto a protegdo ao meio ambiente. Agora, o licenciamento ambiental em um tinico nivel nao impede que os outros entes federativos se manifestem em sua tramitagaéo, como se vé na redagao do § 1° do art. 13 da LC n° 140/2011: “os demais entes federativos interessados podem manifestar-se ao 6rgao responsavel pela licenga ou autorizacgao, de maneira nado vinculante, respeitados os prazos e procedimentos do licenciamento ambiental”. Essa manifestacdio, como se vé, néo é vinculante nem poderia sé-lo, sob pena de incorrer em questionamentos infindaveis na esfera administrativa. Até mesmo porque os érgéios ambientais devem observar os prazos estabelecidos para tramitag’o dos processos de licenciamento, prazos esses que esto vinculados aos estudos e andlises ambientais, e nao a divergéncias de atribuigdes entre entes federativos. Na mesma linha de raciocinio, o § 3° do art. 17 da LC n° 140/2011 dispde que a regra geral — quem licencia fiscaliza — “(...) no impede o exercicio pelos entes federativos da atribuigio comum de fiscalizacao da conformidade de empreendimentos e atividades efetiva ou potencialmente poluidores ou utilizadores de recursos naturais com a legislagao ambiental em vigor, prevalecendo o auto de infragao ambiental lavrado por érgio que detenha a atribuigo de licenciamento”. A redacao desse dispositivo se coaduna com o coroldrio da competéncia administrativa comum do art. 23 da Constituigao Federal. Deveras, nio hd como admitir que lei complementar imponha restrigdo em sentido contrério ao dispositivo constitucional. A parte final do § 3° do art. 17 da LC n° 140/2011, por sua vez, se contrapée ao estabelecido no art. 76 da Lei n° 9.605/1998, que apresenta a seguinte redacdo: “o pagamento de multa imposta pelos Estados, Municipios, Distrito Federal ou Territérios substitui a multa federal na mesma hipétese de incidéncia”. De um lado, a LC n® 140/201 determina que, no caso de dupla atuacaio de érgios ambientais em agio fiscalizatéria em obras ou atividades licenciadas ou autorizadas, prevalece o auto de infracéo ambiental lavrado por 6rgao que detenha a atribuigaéo do licenciamento ou autorizagao ambiental. Em outro sentido, o art. 76 da Lei n° 9.605/1998 consigna que o pagamento de multa imposta pelos Estados, Municipios, Distrito Federal ou Territérios substitui a multa federal na mesma hipdtese de incidéncia. Isso significa afirmar que o pagamento de multa por infragdo ambiental lavrado pelos demais entes federativos substitui a multa aplicada pelo drgao federal — o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renovaveis (Ibama) —, desde que seja oriunda do mesmo fato, infrator e prescricéio legal. Na sistematica ora relacionada, o objeto é exclusivamente a substitui¢éo no pagamento da san¢ao administrativa, a multa, de um orgio por outro. No que se refere ao licenciamento e autorizagéo ambiental, diante das disposigdes da LC n° 140/2011, parece-nos que o art. 76 da Lei n° 9.605/1998 no é mais aplicavel. Isto é, néo ha que se falar na sistemética de substituigéo de multas entre entes federativos distintos no licenciamento e autorizagio ambiental. E necessario perquirir, contudo, a respeito dos demais efeitos da LC n° 140/2011 sobre o art. 76 da Lei n° 9.605/1998. Duas sao as hipéteses: i) nao aplicabilidade do art. 76 da Lei n? 9.605/1998 somente ao licenciamento e autorizagio ambiental; ii) 0 art. 76 da Lei n° 9.605/1998 tornou-se inaplicavel, vez que incompativel coma LC n? 140/201. A primeira hipétese — da nao aplicabilidade do art. 76 da Lei n? 9.605/1998 somente ao licenciamento ¢ autorizacao ambiental — assenta-se no fato de que ha outras atividades passiveis de acao dos érgios ambientais nao adstritas ao licenciamento ou autorizacao e, por consequéncia, nao ha que se falar em inaplicabilidade ou revogagio tacita do artigo. Nesses casos a atuacio € de qualquer dos entes federativos, em observancia A competéncia comum, sem prejuizo a sistematica da substituicao de multas. Ademais, a Lei n° 9.605/1998 é norma especial e, como tal, é possivel adotar o critério da especificidade no eventual conflito entre as normas. Pontua-se ainda que nao ha qualquer manifestagao judicial sobre a revogacao do artigo em andlise. Outro argumento que pode ser suscitado é que se faz oportuno ter cautela ao perquirir sobre eventual antinomia entre a lei anterior (Lei n° 9.605/1998), e a lei posterior (LC n° 140/2011); isso porque o art. 17 da LC n° 140/201 é objeto da Agdo Direta de Inconstitucionalidade (ADI) n° 4.757 e ha que se aguardar a deciséo do Supremo Tribunal Federal. Em caso de uma eventual declaragdo de inconstitucionalidade, essa é uma discusséo que perderd a relevancia. Quanto 4 segunda hipotese, a linha argumentativa é 0 reconhecimento de que o art. 76 da Lei n° 9.605/1998 é incompativel com a abrangéncia e o contetido das disposicées da LC n® 140/2011. Em primeiro lugar, porque a norma da Lei n° 9.605/1998 dispée somente sobre a substituigao no pagamento da multa federal pela mesma hipstese de incidéncia entre os demais érgiios, ao passo que o art. 17 da LC n° 140/2011 disciplina a fiscalizagdo de obras e atividades licenciadas ou autorizadas, dispondo sobre a lavratura do auto de infrago eo processo administrativo ambiental que, por consequéncia, conduzem aplicagio da sangio correspondente & ago ou omissio que configurem infragdo administrativa ambiental. Nota-se o carater abrangente da LC n° 140/2011, que nao se limita a destinagao da multa, que 6 somente uma entre as dez sangdes em espécie (art. 72, da Lei n° 9.605/1998). A LC n? 140/2011 estabelece uma sistematica nas medidas e na conducio do procedimento administrativo decorrente da atividade fiscalizatéria em eventual atuacao de mais de um érgao ambiental; portanto, nao é somente uma preocupagao de indole financeira com a destinacao da multa. Isto 6, a efetividade da protego ambiental nao se circunscreve a uma definigéo pelo pagamento de multa, como se vé no art. 76 da Lei n° 9,605/1998. Além disso, um dos objetivos da LC n° 140/2011 é a harmonizagao das politicas e agdes administrativas para evitar a sobreposigao entre os entes federativos, de forma a evitar conflitos de atribuigdes e garantir um desempenho administrativo eficiente. A eficiéncia aqui nao significa atuago duplice ou triplice entre érgios ambientais de diferentes esferas, mas a cooperacao e razoabilidade na condugao do processo administrativo. Nao é demais recordar que a LC n° 140/2011 configura-se como norma posterior, de carater regulamentar, com contetido divergente 4 norma em anilise e, nesse caso, o critério da especificidade — como se relacionou na primeira hipdtese -, parece nao ser aplicavel, uma vez que o art. 76 da Lei n° 9.605/1998 conduz a uma casuistica discordante de um procedimento administrativo eficiente. Em sintese, a adogao dos critérios da LC n° 140/2011 nao obsta a atividade fiscalizatéria, mas estabelece uma racionalidade na condugao do processo administrativo ambiental na hipétese de dupla atuagao, de tal modo que seja conduzido pelo 6rgao ambiental competente do ente federativo com as atribuigdes disciplinadas em seus art. 7° a 10, evitando discussdes, sobreposi¢ées e conflitos de atribuicdes. A par dessas discussées, e como se relacionou alhures, o ajuizamento da Acao Direta de Inconstitucionalidade (ADI) n° 4.757, pela Associacio Nacional dos Servidores da Carreira de Especialista em Meio Ambiente (Asibama), demandaré do Supremo Tribunal Federal (STF) a andlise sobre a constitucionalidade do art. 17 da LC n° 140/2011. Em sua argumentagao inicial, a Asibama consignou que o “(...) meio ambiente ficou menos protegido com o estabelecimento de competéncias ambientais privativas para Estados, DF e Municipios, uma vez que a maioria deles nao est preparada para tais agdes, e a Unido estaria impedida de agir, pois teria perdido essas atribuigées com a promulgacio da lei”. Sustenta, ademais, “(...) que a atuacdo do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovaveis) permitia 4 Unido atuar em qualquer hipétese quando a legislacio ambiental nio era cumprida e que, agora, a limitacio das competéncias ambientais dos entes federativos dificulta a atuagéo da Uniao em um cenario em que os demais 6rgios ambientais carecem de infraestrutura adequada”"", Em sintese, so esses os argumentos da ADI n° 4.757, ainda sem julgamento pelo STE. Com a devida vénia, a definiggo de atribuicées para cada ente federativo na competéncia administrativa comum é prevista na prépria Constituic em seu art. 23, pardgrafo tnico. A LC n° 140/2011 nada mais fez do que observar esse mister, ao determinar o campo de abrangéncia de cada ente federativo, justamente para evitar a sobreposicao entre eles na acdo administrativa. Além disso, o argumento de que a maioria dos entes federativos nao esta preparada para as agdes delimitadas na LC n° 140/2011 e que a Unido estaria impedida de agir nao procede. Em primeiro lugar, essa argumenta¢ao converge para uma atuacdo centralizadora da Unido, em contraposicao a necessaria cooperacéo em matéria ambiental, no federalismo cooperativo do art. 23 da CF. Quanto ao despreparo dos entes federativos, é perfeitamente possivel suprir a auséncia ou a falta de infraestrutura dos seus 6rgios ambientais com a determinago do licenciamento supletivo, que implica a substituigdo do ente federativo originariamente detentor das atribuicdes justamente por ndo preencher os requisitos do licenciamento, em especial 0 érgio ambiental capacitado. Se o ente federativo nao preenche os requisitos ou nao esta preparado, a LC n° 140/2011 determina a aco supletiva. Se a ndo observancia é do Estado- membro ou do Distrito Federal, a aco supletiva é justamente da Unido (art. 15, 1, LC n? 140/2011). E importante consignar ainda que a definigdo da atuagao do ente licenciador na fiscalizagéo de obras e atividades licenciadas néo impede a eventual acao fiscalizatoria de outros entes federativos — ao teor do proprio dispositivo em questionamento, a saber: o art. 17, § 2°, da LC n° 140/2011. Por fim, nio é demais pontuar que a definigdo das competéncias de cada ente federativo nao é novidade no sistema juridico brasileiro, porque a Resoluco Conama n° 237/1997 jé as relacionava em seus arts. 4°, 5° e 6°. O que fez a LC n° 140/2011 foi alcd-los ao nivel de lei complementar, e no mais como uma simples resolugao de um érgio do Poder Executivo, nao obstante a relevancia e a importincia histérica que o Conama representa no direito ambiental patrio. 9.18 CRIMES E INFRAGOES ADMINISTRATIVAS NO LICENCIAMENTO AMBIENTAL Segundo a Lei n? 9.605/1998, considera-se crime ambiental “(...) construir, reformar, ampliar, instalar ou fazer funcionar, em qualquer parte do territério nacional, estabelecimentos, obras ou servigos potencialmente poluidores, sem licenca ou autorizacio dos érgios ambientais competentes, ou contrariando as normas legais e regulamentares pertinentes”. Sera aplicada a pena de detencao, de uma seis meses, ou multa, ou ambas as penas cumulativamente (art. 60). Ja na esfera administrativa, constitui infragao administrativa ambiental, segundo o Decreto n° 6.514/2008, “(...) construir, reformar, ampliar, instalar ou fazer funcionar estabelecimentos, atividades, obras ou servicos utilizadores de recursos ambientais, considerados efetiva ou potencialmente poluidores, sem licenca ou autorizagao dos érgios ambientais competentes, em desacordo coma licenca obtida ou contrariando as normas legais e regulamentos pertinentes”. A multa sera de RS 500,00 a RS 10.000.000,00 (art. 66). No mesmo sentido, incorreré nas mesmas multas quem: (a) constréi, reforma, amplia, instala ou faz funcionar estabelecimento, obra ou servigo sujeito a licenciamento ambiental localizado em unidade de conservacéio ou em sua zona de amortecimento, ou em dreas de protecio de mananciais legalmente estabelecidas, sem anuéncia do respectivo érgio gestor; e (b) deixa de atender a condicionantes estabelecidas na licenga ambiental. No tocante & equipe multidisciplinar responsavel pela realizagao do licenciamento ambiental, aplicam-se as mesmas disposiges sobre a responsabilidade administrativa e penal consignadas no capitulo 8. CRS N55 O licenciamento ambiental de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras é um dos principais instrumentos da Politica Nacional do Meio Ambiente, de indole preventiva, visando compatibilizar o desenvolvimento econémico com a protegao ao meio ambiente. Licenciamento ambiental pode ser definido como “o procedimento administrativo destinado a licenciar atividades ou empreendimentos utilizadores de recursos ambientais, efetiva ou potencialmente poluidores ou capazes, sob qualquer forma, de causar degradagao ambiental”. O licenciamento ambiental visa a obtengéio sequencial de trés licengas: (a) licenga prévia; (b) licenga de instalagao; (c) licenga de operagio. Licenga prévia: aprova a localizagdo e a concepgao do empreendimento e atesta a sua viabilidade ambiental. Estabelece os condicionantes ambientais a serem observados pelo empreendedor para a licenga seguinte. Prazo maximo de validade nao superior a 5 (cinco) anos. Licenga de instalacao: aprova a instalagao do projeto e autoriza construir, edificar, cortar arvores (desde que se tenha autorizacao para tal) e todas as obras necessarias para o empreendimento. Estabelece os condicionantes ambientais para a licenca seguinte. O prazo da licenga de instalagao é 0 definido no cronograma do projeto, no podendo ser superior a 6 (seis) anos. Licenga de operacao: autoriza a operagao da atividade ou empreendimento, apés a verificacaio do efetivo cumprimento das medidas e condicionantes que constam das licengas anteriores. Além disso, ela determinaré as medidas de controle ambiental e condicionantes de observancia necessdrios apés o efetivo funcionamento do empreendimento. O prazo de uma licenga de operagao é de, no minimo, 04 (quatro) anos ¢, no maximo, 10 (dez) anos. © prazo de anilise da licenga pelo érgio ambiental responsavel, com o deferimento ou indeferimento, é de no maximo 6 (seis) meses, a contar do seu protocolo. Na hipétese de realizagao de EIA/Rima ou de audiéncia publica, o prazo é de um ano. A renovagio de licengas ambientais deve ser requerida com antecedéncia minima de 120 dias da expiragio de seu prazo de validade, fixado na respectiva licenca, ficando esta automaticamente prorrogada até a manifestacaio definitiva do érgio ambiental competente. Os empreendimentos e atividades sao licenciados ou autorizados, ambientalmente, por um Unico ente federativo, em conformidade com as atribuigdes estabelecidas na Lei Complementar n° 140/2011. Os demais entes federativos interessados podem manifestar-se ao orgio responsavel pela licenca ou autorizagéio, de maneira nio vinculante, respeitados os prazos e procedimentos do licenciamento ambiental. A supressao de vegetagdo decorrente de licenciamentos ambientais é autorizada pelo ente federativo licenciador. Atuacao supletiva: ag&o do ente federativo que se substitui ao ente federativo originariamente detentor das atribuicdes, nas hipéteses definidas da Lei Complementar n? 140/2001. Os entes federativos devem atuar em carater supletivo nas agdes administrativas de licenciamento e na autorizagao ambiental, nas seguintes hipdteses: (I) inexistindo 6rgao ambiental capacitado ou conselho de meio ambiente no Estado ou no Distrito Federal, a Unido deve desempenhar as agdes administrativas estaduais ou distritais até a sua criagdo; (I) inexistindo érgio ambiental capacitado ou conselho de meio ambiente no Municipio, o Estado deve desempenhar as des administrativas municipais até a sua criagao; e, (IID) inexistindo orgao ambiental capacitado ou conselho de meio ambiente no Estado e no Municipio, a Unido deve desempenhar as acdes administrativas até a sua criagdo em um daqueles entes federativos. Atuacao subsidiaria: a agdo administrativa subsididria dos entes federativos dar-se-4 por meio de apoio técnico, cientifico, administrativo ou financeiro, sem prejuizo de outras formas de cooperacao. A agao subsidiaria deve ser solicitada pelo ente originariamente detentor da atribuicdo nos termos desta Lei Complementar. COMPETENCIAS PARA O LICENCIAMENTO AMBIENTALCONFORME ALC n° 140/2011 a) localizados ou desenvolvidos conjuntamente no Brasil e em pais limitrofe; b) localizados ou desenvolvidos no mar territorial, na plataforma continental ou na zona econémica exclusiva; c) localizados ou desenvolvidos em terras indigenas; d) localizados ou desenvolvidos em unidades de conservagao instituidas pela Unido, exceto em Areas de Protecao Ambiental (APAs); e) localizados ou desenvolvidos em dois ou mais Estados; f) de carater militar, excetuando-se do licenciamento ambiental, nos termos de ato do Poder Executivo, aqueles previstos no preparo e emprego das Forgas Armadas, conforme disposto na Lei Complementar n° 97, de 09.06.1999; g) destinados a pesquisar, lavrar, produzir, beneficiar, transportar, armazenar e dispor material radioativo, em qualquer estagio, ou que utilizem energia nuclear em qualquer de suas formas e aplicagées, mediante parecer da Comissdo Nacional de Energia Nuclear (CNEN); ou h) que atendam tipologia estabelecida por ato do Poder Executivo, a partir de proposigao da Comissao Tripartite Nacional, assegurada a participagao de um membro do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), e considerados os critérios de porte, potencial poluidor e natureza da atividade ou empreendimento. O licenciamento dos empreendimentos cuja localizagaéo compreenda concomitantemente areas das faixas terrestre e maritima da zona costeira sera de atribuigéo da Unido exclusivamente nos casos previstos em tipologia estabelecida por ato do Poder Executivo, a partir de proposigao da ComissAo Tripartite Nacional, assegurada a participagao de um membro do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) e considerados os critérios Licenciamento de atividades e empreendimentos de competéncia da Unido de porte, potencial poluidor e natureza da atividade ou empreendimento. a) promover o licenciamento ambiental de atividades ou empreendimentos Licenciamento de utilizadores de recursos ambientais, efetiva ou potencialmente poluidores ou atividades e capazes, sob qualquer forma, de causar degradacaéo ambiental, ressalvado empreendimentos 0 disposto para a Unido e os municipios; de competéncia b) promover o licenciamento ambiental de atividades ou empreendimentos dos Estados localizados ou desenvolvidos em unidades de conservagao instituidas pelo Estado, exceto em Areas de Protecao Ambiental (APAs). @) que causem ou possam causar impacto ambiental de ambito local, conforme tipologia definida pelos respectivos Conselhos Estaduais de Meio Ambiente, considerados os critérios de porte, potencial poluidor e natureza da atividade; ou b) localizados em unidades de conservacao instituidas pelo Municipio, exceto em Areas de Prote¢do Ambiental (APAs). Licenciamento de atividades e empreendimentos de competéncia dos Municipios Licenciamento de atividades e No que tange ao licenciamento ambiental do Distrito Federal, como de resto empreendimentos o conjunto de agées administrativas, sao aplicaveis as disposigées do Distrito concernentes aos Estados e aos municipios. Federal Licenciamento ambiental de atividades e empreendimentos Unido em areas de prote¢ao ambiental (APAs) QUE Estados a) localizados ou desenvolvidos conjuntamente no Brasil e em pais limitrofe; b) localizados ou desenvolvidos no mar territorial, na plataforma continental ou na zona econémica exclusiva; c) localizados ou desenvolvidos em dois ou mais Estados; d) de carater militar, excetuando-se do licenciamento ambiental, nos termos de ato do Poder Executivo, aqueles previstos no preparo e emprego das Forgas Armadas, conforme disposto na Lei Complementar n° 97, de 09.06.1999; e) que atendam tipologia estabelecida por ato do Poder Executivo, a partir de proposigao da Comissdo Tripartite Nacional, assegurada a participagao de um membro do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), e considerados os critérios de porte, potencial poluidor e natureza da atividade ou empreendimento. Quantos aos Estados, compete a promocao do licenciamento ambiental de atividades ou empreendimentos utilizadores de recursos ambientais, efetiva ou potencialmente poluidores ou capazes, sob qualquer forma, de causar degradagao ambiental, ressalvadas as disposigdes concernentes & Unido e aos municipios. Ou seja, 0 Estado promoverd o licenciamento ambiental de atividades que nao estejam sujeitas as hipéteses elencadas pela LC n° 140/2011 & Unido e aos municipios — inclusive no que se refere as APAs. Ser&o licenciadas pelos municipios as APAs que se enquadrarem no conceito de impacto ambiental de ambito local, conforme a redacao da alinea “a” do inciso XIV do art. 9° da LC ne 140/2011, que dispde que os municipios devem promover o Municipios licenciamento ambiental de atividades e empreendimentos “(...) que causem ou possam causar impacto ambiental de Ambito local, conforme tipologia definida pelos respectivos Conselhos Estaduais de Meio Ambiente, considerados os critérios de porte, potencial poluidor e natureza da atividade” IES PARA FIXACAO

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