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‘TRADUCAO'DA, a Psicologia Cognitiva 5 ~ EDIGAO NORTE-AMERICANA Robert J. Sternberg Tufts University com a contribuigdo dos quadros “Investigando a Psicologia Cognitiva”, por: Jeff Mio Universidade Estadual da California ~ Pomona (EVA) Revisito Técnica José Mauro Nunes Professor Adjunto do Departamento de Estudos em Educacdo & Distancia (DEAD) da Faculdade de Educagao da Universidade do Estado do Rio de Janeiro ~ UERI Professor Convidado da Fundagdo Getulio Vargas Management ~ IDE-FGV-RI Doutor em Psicologia Clinica pela Pontificia Universidade Catélica do Rio de Janeiro — PUC-Rio ¢_ CENGAGE as Learning” ‘Austrdlia« Brasil «Japo + Coreia » México + Cingapura « Espanha + Reino Unido + Estados Unidos 7% CENGAGE «© Learning” Psicologia Cognitiva - Traducio da 5" Edigdo Norte-Americana Robert J. Sternberg, Gerente Editorial: Patricia La Rosa Editora de Desenvolvimento: Noeima Brocanelli Supervisora de Produgao Editorial: Fabiana Alencar Albuquerque Produtora Editorial: Gisele Gongalves Bueno Quirino de Souza Titulo original: Cognitive Psychology ~ sth edition SBN: 978-0-495-50°632-4 ‘Tradusdo: Anna Marla Dalle Luche e Roberto Galman Revisdo Técnica: José Mauro Nunes ‘Copidesque: Viviane Akemi Uemura Revis8o: Maria Dolores Delfina Sierra Mata, Adriane Pecanha Diagramagdo: Megaart Design ‘Capa: Eduardo Bertol Impresso no Brasil Printed in Brazil 123456 121110 © 2009, 2006 Wadsworth, parte da Cengage Learning © 2010 Cengage Learning Edigdes Ltda. Todos os direitos reservados. Neshuma parte deste livre poderé ser repredurida, sejam quais forem os meios ‘empregados, sem a permisséo por escrito de Editora ‘Aes infratores aplcam-se as sangBes previstas nos arti £05 102,104, 106,107 da Lei n? 9610, de 19 de fevercivo deigg8. Esta Editora empenhourse em contatar 0s responsavels pelos direftos autorais de todas as imagens e de outros ‘materials utilizados neste livro, Se porventura for constatada a omissao involuntéria na identifica de algum deles, dispomo-nos a efetuar, futuramente, 0s, possiveis acertos. Para informagdes sobre nossos produtos, entre em Contato pelo telefone 0800111939, Para permissdo de uso de material desta obra, envie seu pedido para direltosautorals@cengage.com © 2010 Cengage Learning. Todos os direitos reservados. ISBN 13: 978-85-221-0678-3 ISBN 10: 85221-0678-9 Cengage Learning Condominio E-Business Park Rua Werner Siemens, in ~ Prédio 20 ~ Espaso 04 Lapa de Baixo - CEP 5069-900 ~ Sao Paulo - SP Tel. (1) 3665-9900 Fax: 3665-9901 SAC: 0800 97939 Para suas solugdes de curso e aprendizado, visite wwrwicengagecom.br Sumario ee Capitulo 1 Introducio 4 Psicologia Cognitiva 1 Capitulo 2 Neurociéncia Cognitiva 29 Capitulo 3 Percepgao 65 Capitulo 4 Atencao e Consciéncia 107 Capitulo 5 Memoria: Modelos e Métodos de Pesquisa 153 Capitulo 6 Processos Mnésicos 189 Capitulo 7 Representagao e Manipulagao do Conhecimento na Memoria: Imagens e Proposigées 225 vi Psicologia Cognitiva Capitulo 8 Representagao e Organizacio do Conhecimento na Memoria: Conceitos, Categorias, Redes e Esquemas 267 Capitulo 9 Linguagem: Natureza e Aquisigéo 303 capisuio LO A Linguagem no Contexto 339 Capitulo 11 Resolugao de Problemas e Criatividade 383 Capitulo 12 Tomada de Decisdes e Raciocinio 429 cavieete 13 Inteligéncia Humana e Artificial 473 Glossario 519 Referencias 527 indice remissivo 585 Ao professor ee Os Objetivos Originais Deste Livro Na primeira vez em que me propus a escrever este livro, tanto eu como os meus alunos sa- biamos 0 que era necessario haver em um livro didatico (ou pelo menos era assim que eu pensava). Todos querfamos um livro que cumprisse os objetivos que seguem. 1. Combinar legibilidade com integridade. J4 aconteceu de eu escolher livros tao diffceis de digerit que somente os estmagos mais preparados seriam capazes de digerir aque- les contetidos. Jé escolhi outros que, por falta de substdncia, se desmanchavam feito algodao-doce. Eu tinha de escrever um livro que desse aos estudantes algo que pu- desse ser mastigado e digeride com facilidade. 2. Equilibrar uma representagao clara das questées da Psicologia Cognitiva respeitando os detalhes importantes do campo. Talvez nao haja disciplina em que tanto a 4rvore como a floresta sejam tdo importantes como acontece na Psicologia Cognitiva. Os melhores e mais duradouros trabalhos neste campo so movidos por questdes também duradouras e fundamentais. Entretanto, este trabalho igualmente trata de detalhes dos métodos e da andlise de dados necessarios para produzir resultados significativos. 3. Equilibrar a aprendizagem dos contevidos com a reflexo a seu respeito. Um psicélogo cognitivo especializado nao sé conhece a disciplina como sabe usar o conheci- mento. O conhecimento sem reflexdo é indtil, e a reflexto sem o conhecimento & vazia. Tentei equilibrar o respeito pelo conteddo com igual respeito pelo seu uso. Cada capitulo finaliza com diferentes perguntas que enfatizam a compreensio do con- tetido bem como a reflexio analitica, criativa e pratica acerca dele. Os estudantes que utilizarem este livro aprenderdo no apenas as ideias e os fatos bésicos da Psi- cologia Cognitiva, como também pensar a partir deles. 4. Reconhecer as tendéncias tradicionais e as tendéncias emergentes no campo. Este livro possui todos os tépicos tradicionais que constam da grande maioria dos livros did4- ticos, incluindo a natureza da Psicologia Cognitiva e como as pessoas pensam sobre as grandes questées do campo (“Introdugao & Psicologia Cognitiva”), percepgio (“Percepgao”), atengao ¢ consciéneia (“Atengao e consciéncia”), meméria (“Me- méria: modelos e métodos de pesquisa” e “Processos mnésicos”), representagao do conhecimento (“Representacao € manipulagao do conhecimento na meméria: ima- gens e proposigdes” € “Representagio ¢ organizagao do conhecimento na meméria: conceitos, categorias, redes e esquemas”), linguagem (“A linguagem: natureza aquisicdio” e “A linguagem no contexto”), resolugao de problemas e criatividade (“Resolugao de problemas e criatividade”) ¢ tomada de decisio € raciocinio (“Ra- ciocinio e tomada de decistio”). Também incluf dois assuntos que normalmente néo costumam ser incluidos como capitulos em outras obras. A Neurociéncia Cognitiva (“Neurociéncia Cognitiva”) estd vii viii Psicologia Cognitiva : presente porque a linha diviséria entre a Psicologia Cognitiva e a Psicobiologia esta cada vez mais dificil de ser delimitada. Atualmente, uma grande quantidade de traba- Ihos interessantes esta situada na interface entre os dois campos e, assim, se a Psicolo- gia Cognitiva de 20 anos atrds foi capaz de dar conta de seu trabalho sem uma compreensio das bases biolégicas, acredito que, atualmente, esse tipo de psicdlogo cognitivo estaria mal atendido. Inteligéncia artificial e humana (“Inteligéncia humana e artificial”) esta se tor- nando um campo cada vez mais importante para o Psicologia Cognitiva. Ha 20 anos © campo da inteligéncia humana era dominado pelas abordagens psicométricas {baseadas em testes). O campo era dominado por programas que, em termos funcio- nais, estavam bastante distantes dos processos do pensamento humano. Hoje em dia, ambos os campos da inteligéncia sio muito mais influenciados por modelos cogniti- vos oriundos de como as pessoas processam a informacao. Incluf os modelos baseados em seres humanos e computadores no mesmo capitulo porque acredito que, seu ob- jetivo, em ultima andlise, é o mesmo; ou seja, entender a cognigao humana. Embora © livro termine com 0 capitulo sobre inteligéncia, esta também cumpre papel impor- tante no inicio e no meio do livro, porque € a estrutura organizadora na qual a Psi- cologia Cognitiva se apresenta. Essa estrutura nao se dé em termos de um modelo psicométrico tradicional de inteligéncia, € sim em termos de inteligéncia como es- trutura organizadora para toda a cogni¢éo humana. Tentei equilibrar no apenas os tépicos tradicionais com os novos, mas também as citagées antigas com algumas mais novas. Alguns livros parecem sugerit que quase nada de novo ocorreu na tiltima década, enquanto outros parecem sugerir que a Psicologia Cognitiva foi inventada nesse mesmo perfodo. O objetivo deste livro € equilibrar a citagao e a descrigdo de estudos cléssicos com igual atengio As contribuigdes recentes ao campo. Mostrar a unidade basica da Psicologia Cognitiva. Por um lado, os psicélogos cogniti- vos discordam com relagio ao grau em que os mecanismos cognitivos sao mais ge- rais ou especificos. Por outro, acredito que quase todos os psic6logos cognitivos so da opiniio de que ha uma unidade funcional bésica na cogni¢o humana. Essa uni- dade, acredito, se expressa por meio do conceito da inteligéncia humana. O con- ceito de inteligéncia pode ser visto como um guarda-chuva por meio do qual se pode entender a natureza adaptativa da cognigéo humana. Por meio desse conceito simples, a sociedade, bem como a ciéncia psicolégica, reconhecem que, por mais diversificada que possa ser, a cognigio se articula para nos proporcionar uma ma- neira funcionalmente unificada de entendermos e de nos adaptarmos ao ambiente. Sendo‘assim, a unidade da cognigao humana, expressa pelo conceito de inteligén- cia, serve como mensagem integradora deste livro. . Equilibrar vdrias formas de aprendizagem e instrugdo. Os estudantes aprendem melhor diante de contetidos apresentados de diversas formas e a partir de diferentes pontos de vista. Com esse objetivo, procurei obter um equilibrio entre uma apresentagio tradicional de texto, uma série de tipos de perguntas sobre 0 contetido (factuais, analiticas, criativas, préticas), uma demonstragio de ideias fundamentais da Psico- logia Cognitiva e “Leituras sugeridas comentadas” que os estudantes podem consul- tar se quiserem ter mais informagées sobre o tema. Uma descrigao dos capftulos, no inicio de cada um deles, também serve como um organizador avangado do que vird. As perguntas de abertura e as respostas de fechamento ajudam os estudantes a apre- ciar as principais questdes bem como os progressos que }4 foram feitos no sentido de respondé-las. O texto em si enfatiza a forma como as ideias atuais evolufram das Ao profesor ix passadas e como essas ideias tratam de perguntas que os psicélogos cognitives ten- taram responder em suas pesquisas. Agradecimentos Sou grato a todos os revisores que contribufram para o desenvolvimento deste livro: Susan E, Dutch, Westfield State College; Jeremy Gottlieb, Carthage College; Andrew Herbert, Rochester Institute of Technology; Christopher B. Mayhorn, North Carolina State Univer. sity; Padraig G. O’Seaghdha, Lehigh University; Thad Polk, University of Michigan; David Somers, Boston University. Também agradeco a Jessica Chamberland, Ph.D., Tufts University, por sua inestimavel ajuda na produgio desta revisio. Também quero agradecer a Dan Moneypenny, meu editor de desenvolvimento, a Leah Bross, minha editora de produgio. Sobre o Autor Rosert J. STERNBERG Robert J. Sternberg é decano da Escola de Artes e Ciéncias, pro- fessor de Psicologia © professor adjunto de Educagao na Tufts University. E também professor honorério de Psicologia no De- partamento de Psicologia na University of Heidelberg, em Hei- delberg, Alemanha. Antes de aceitar sua posigio na Tufts, foi professor IBM de Psicologia e Educagaio do Departamento de Psicologia, professor de Gerenciamento na Escola de Gerenciamento, e diretor do Centro para Psicologia de Habi- lidades, Competéncias e Especialidades na Yale University. Esse Centro, agora situado na Tufts University, é dedicado ao avango da teoria, pesquisa, pritica e avango nas politi- cas do conceito de inteligéncia como uma peticia em desenvolvimento - como um cons- tructo que é modificavel e capaz, até certo ponto, de desenvolver-se ao longo da vida. O Centro busca obter impactos na ciéncia, na educagio e na sociedade. Em 2003, Sternberg foi presidente da As- sociagso Americana de Psicologia [American Psychological Association — APA] e, em 2006-2007, foi presidente da Associagao de Psicologia do Leste [Eastern Psychological Association]. E presidente eleito da Associ ao para Educagao e Psicologia Cognitiva [Association for Cognitive Education and Psychology]. Fez parte da diretoria e do con- selho gestor da APA (2002-2004). Fez parte da diretoria da Associagao de Psicologia do Leste (2005-2008) ¢ da Asso- ciacdo Americana de Faculdades e Universi- dades [American Association of Colleges and Universities] (2007-2009). Tam- bém € presidente do Comité de Publicagdes da Associagao Ame- ricana de Pesquisa Educacional [American Educational Research Association - AERA]. Stern- berg foi presidente das divisdes de Psicologia Geral, Psicologia Educacional, Psicologia e At- tes, Psicologia Filoséfica e Ted rica da APA. Stemberg atua como presidente interino e diretor de estudos de graduagao no Departamento de Psicologia da Universidade de Yale. Stemberg obteve Ph.D. pela Universidade de Stanford, em 1975, e bacharelado summa cum laude, Phi Beta Kappa, com louvor e dis- ting&o excepcional em Psicologia, pela Uni- versidade de Yale, em 1972. Também possui doutorado honorario pela Universidade Com- plurense de Madri (Espanha); Universidade de Leuven (Bélgica); Universidade do Chipre; Universidade de Paris V (Franca); Universi- dade Constantino © Fildsofo, (Eslovaquia); Universidade de Durham (Inglaterra); Uni- versidade do Estado de Sao Petersburgo (Riis- sia); Universidade de Tilburg (Holanda) ¢ Universidade Ricardo Palma (Peru). E autor de aproximadamente 1.200 arti- ‘g0s publicados, de capftulos de livros e de li- vros; recebeu mais de 20 milhdes de délares entre verbas governamentais, bolsas de estu- dos e contratos para sua pesquisa. O foco central de sua pesquisa é a inteligéncia, a criatividade e a sabedoria, e também estudou amor eo ddio em relacionamentos afeti- vos. Suas pesquisas tém sido desenvolvidas nos cinco continentes. xi xii Psicologia Cognitiva Sternberg também é membro da Acade- mia Americana de Artes para o Avango da Ciéncia [American Academy of Arts for Ad- vancement of Science] da APA (em 15 divi- ses), da Sociedade Americana de Psicologia {American Psychological Society - APS], da Associagao de Psicologia de Connecticut, [Connecticut Psychological Association], da Real Sociedade Norueguesa para Cién- cias e Letras; da Associagao Internacional para Estética Empirica, do laureado capi- tulo da Kappa Delta Pi e da Sociedade de Psicdlogos Experimentais. Recebeu varios prémios dessas e de outras organizagSes, en- tre eles, o “Arthur W. Staats Award”, da Fundagao Americana de Psicologia [Ame- rican Psychological Foundation] ¢ da So- ciedade para a Psicologia Geral {Society for General Psychology}. Foi agraciado com o“PrémioE. L. Thom- dike” pelo Conjunto da Obra em Psicologia da Educago; prémio da Sociedade de Psico- logia da Educagao da APA; os prémios “Ar- nheim” e “Farnsworth”, da Sociedade para a Psicologia da Criatividade, Estética e Artes [Society for the Psychology of Creativity, Aesthetics and the Arts], da APA; 0 prémio “Boyd R. McCandless", da Sociedade para Desenvolvimento da Psicologia da Associa- Go APA; o Prémio por Distingao pela Con- tribuigdo no inicio de Carreira, da APA; 0 Prémio Académico de Distingao Cientifica de Rede de Psicologia Positiva [Positive Psychology Network Distinguished Scientist and Scholar Award]; o “Palmer O. Johnson”, da Research Review, Outstanding Book; o prémio “Sylvia Scribner”, da AERA; 0 prémio “James McKeen Cattel”, da APS; 0 Prémio por Distingao pela Contribuicao Vitalicia a Psi- cologia, da Associagio de Psicologia de Con- necticut; 0 prémio “Anton Jurovsky”, da Sociedade de Psicologia da Eslovaquia; o Prémio Internacional da Associagdo Portu- guesa de Psicologia; Distingao por Contri- buiggo e prémio “E. Paul Torrance”, da Associagiio Nacional para as Criangas Su- perdotadas [National Association for Gifted Children}; prémio “Cattell”, da Sociedade de Psicologia Multidisciplinar e Experimen- tal (Society for Multivariate Experimental Psychology}; 0 “Prémio por Exceléncia”, da Fundagdo Mensa para Educagio e Pesquisa [Mensa Education and Research Foundation); “Distingdo por Honra” SEK, do Instituto SEK, de Madri; 0 prémio “Memorial Sydney Sie~ gel’, da Universidade de Stanford ¢ o prémio “Wohlenberg”, da Universidade de Yale. Stemberg ainda faz parte da Sociedade Fullbright de Especialistas Seniores para Eslo- vaquia [Fulbright Senior Specialist Fellowship to Slovakia}; € membro da IREX (Reissia); membro da Fundagio Guggenheim, da Uni- versidade Senior e Faculdade Junior, em Yale, além de ser membro graduado da Fundagio Nacional de Ciéncia. Também ¢ membro ho- nordrio do Conselho Nacional de Ciéncia de Taiwan e membro do Professorado Visitante do Memorial Sir Edward Youde, da Universi- dade da Cidade de Hong Kong. Na APA Monitor em Psicologia, Stem- berg € um dos 100 maiores psicélogos do sé- culo XX e foi relacionado pelo ISI como um dos autores mais citados (top ¥4%) em Psicolo- gia e Psiquiatria. Também estava na lista dos Homens ¢ Mulheres Notaveis com menos de 40 anos, da revista Esquire, e na lista dos 100 maiores jovens cientistas na Science Digest. Atualmente, faz parte do Quem é Quem [Who's ‘Who in America], nos Estados Unidos; Quem é Quem no Mundo [Who's Who in the World]; Quem é Quem no Ocidente [Who's Who in the East]; Quem € Quem em Medicina e Satide [Who's Who in Medicine and Healthcare); Quem é Quem em Ciéncias e Engenharia (Who's Who in Science and Engineering] Atuou como editor do Boletim Psicolégico {Psychological Bulletin] e da Resenha de Livros da Psicologia Contemporanea da APA [Re- view of Books Contemporary Psychology] & como editor associado da publicagao De- senvolvimento Infantil Inteligéncia [Child Development and Incelligence]. Stemberg € mais conhecido por teorias como: a Teoria da Inte- ligéncia Bem-Sucedida, a Teoria de Investi- mento em Criatividade (desenvolvida em conjunto com Todd Lubart), a Teoria dos Esti- los de Pensamento Autodirigidos pela Mente, a Teoria do Equilibrio da Sabedoria, a Teoria WICS - de Lideranga e a Teoria Dupla do Amor e do Odio. CAPITULO Introducao a Psicologia Cognitiva EXPLORANDO A PSICOLOGIA COGNITIVA 1. O que é Psicologia Cognitiva? cia? 2. De que modo a Psicologia evoluiu como ci 3. De que modo a Psicologia Cognitiva evoluiu a partir da Psicologia? 4. De que modo as outras disciplinas contribuiram para o desenvolvimento da teoria ¢ da pesquisa na Psicologia Cognitiva? 5. De quais métodos a Psicologia Cognitiva se utiliza para estudar a maneira como as pessoas pensam? 6. Quais so as questies atuais os varios campos de estudo dentro da Psicologia Cognitiva? Definindo Psicologia Cognitiva O que vocé vai estudar em um livro sobre Psicologia Cognitiva? bem, aprendem, lembram-se ¢ pensam sobre a informaca 1. Cognigdo: as pessoas pensam. 2. Psicologia Cognitiva: os cientistas pensam sobre como as pessoas pensam. 3. Estudantes de Psicologia Cogmitiva: as pessoas pensam sobre o que os cientistas pen- sam sobre como as pessoas pensam. 4. Professores que lecionam Psicologia Cognitiva: releia os itens anteriores. Para sermos mais espectficos, a Psicologia Cognitiva é 0 estudo de como as pessoas perce- . Um psicélogo cognitivo poder estudar como as pessoas percebem varias formas, porque se lembram de alguns fatos ¢ se es- quecem de outros, ou mesmo porque aprendem uma lingua. Vejamos alguns exemplos: * Por que os objetos parecem estar mais distantes do que realmente esto em dias ne- bulosos? Essa discrepancia pode ser perigosa, inclusive enganando motoristas e cau- sando acidentes. © Por que muitas pessoas conseguem se lembrar de uma experiéncia em especial, por exemplo de um momento muito feliz ou algum constrangimento na infancia, mas es- quecem os nomes de pessoas que conhecem ha muitos anos? 2 Psicologia Cognitiva © Por que muitas pessoas tém mais medo de viajar de avidio do que de carro? Afinal, as chances de acidente e morte so muito maiores no carro do que no avis. # Por que sempre me lembro mais de alguém da minha infancia do que de alguém que conheci na semana passada? © Por que os politicos gastam tanto dinheiro com suas campanhas na televisao? Consideremos apenas a diltima dessas perguntas: Por que 0s politicos gastam tanto di- nheiro com suas campanhas na televisio? Afinal, quantas pessoas conseguem se lembrar dos detalhes das propostas politicas dos candidacos ou de que maneira essas propostas diferem das dos outros candidatos? Uma das razdes pelas quais os politicos gastam tanto € a disponibili- dade heuristica, que vamos estudar, no Capitulo 12, em “Raciocinio ¢ tomada de decisio”. Com a utilizagao da heuristica, podemos fazer julgamentos baseados em quao facilmente recordamos algo percebido como insténcias relevantes de um fendmeno (Tversky, Kahne- man, 1973). Tais julgamentos constituem a questiio: em quem se deve votar em uma elei- cdo. A tendéncia é votar em nomes familiares. Tom Vilsack, governador do estado de lowa, Estados Unidos, na ocasido da campanha pelas primérias em 2008, iniciou, mas rapida- mente desistiu, da competigao para ser indicado como candidato & presidéncia dos Estados Unidos. Sua desisténcia nao ocorreu porque suas ideias diferiam das do partido. Ao conwa- tio, o Partido Democrata gostava muito de sua plataforma. Na verdade, Vilsack desistiu por- que a falta de reconhecimento de seu nome inviabilizou o levantamento de recursos para sua campanha. Ao final, os possiveis doadores sentiram que o nome de Vilsack nao tinha disponibilidade suficiente para que os eleitores votassemn nele. Mitt Romney, outro candi- dato republicano nao tio conhecido, entrou na disputa das primérias com John McCain e Rudy Giuliani. [nvestiu muito dinheiro apenas para fazer com que seu nome pudesse ficar psicologicamente disponivel ao grande piiblico. A verdade € que com a compreensio da Psicologia Cognitiva, as pessoas conseguem entender muito daquilo que acontece no dia- -adia de suas vidas. Este capitulo introduz 0 campo da Psicologia Cognitiva. Descreve um pouco da histé- ria intelectual do estudo do pensamento humano. Dé énfase especial a algumas questes que surgem sempre que pensamos em como as pessoas pensam. A seguir, um breve resumo dos métodos mais importantes, das questdes e das 4reas tematicas da Psicologia Cognitiva. Por que estudamos a histéria deste campo ou de qualquer outro, entdo? De um lado, quando se sabe de onde se vem, pode-se compreender methor 0 percurso da jornada. Por ou- tro, o ser humano aprende com os erros passados. Dessa forma, quando se comete algum erro, este é novo, ou seja, j4 no € mais igual ao anterior. Mudou-se muito a maneira de lidar com as questdes fundamentais da vida, Contudo, algumas permanecem iguais. Em tiltima anélise, pode-se aprender alguma coisa sobre como as pessoas pensam estudando como pensam sobre © pensar. O avango das ideias, muitas vezes, implica uma dialética. Dialética € um proceso de in- cremento em que as ideias evoluem com o passar do tempo por meio de um padrio de trans- formagao. Qual é este padriio? Em uma dialética: ‘* Propée-se uma tese. Uma tese € 0 enunciado de uma opiniao. Por exemplo, muita gente acredita que a natureza humana governa muitos aspectos do comportamento humano, como a inteligéncia ou a personalidade (Sternberg, 1999). Entretanto, de- pois de algum tempo, alguns individuos observam falhas nessa tese. * Cedo ou tarde, ou talvez logo em seguida, surge uma antitese. Uma aniftese é um enunciado que contraria a primeira opiniio. Por exemplo, uma viséo alternativa € itulo 1 * Introdugao A Psicologia Cognitiva = 3 que nossa criago (0 contexto ambiental em que somos criados) determina quase inteiramente muitos aspectos do comportamento humano. * Impreterivelmente, o debate entre a tese ¢ a antitese conduz a uma sintese. Uma sintese integra os aspectos mais confidveis de cada uma das duas (ou mais) vis6es. Por exemplo, no debate sobre a relaco entre inato e adquirido, a interagao entre a nossa natureza inata e o contexto ambiental pode reger a nacureza humana, E importante compreender a dialética porque, as vezes, podemos pensar que, se uma opinio esta certa, outra, aparentemente contrastante, entdo, deverd estar errada. Por exemplo, no meu préprio campo de conhecimento, ocorreu, muitas vezes, uma tendéncia ase acreditar que a inteligéncia tanto pode ser inteira ou quase totalmente determinada pela genética, ou entdo, que € completa ou quase inteiramente determinada pelo am- biente. Um debate similar também surgiu no campo de aquisigao da linguagem. Embora quase sempre, para nés, é melhor acreditar que tais assuntos néio so questdes excludentes por si s6, mas que sio apenas exames de como as forcas diferentes variam e interagem umas com as outras. Na verdade, a mais recente controvérsia é que as opinides sobre “natureza” e “criagao” sdo incompletas. Em nosso desenvolvimento, natureza e criagdo operam de ma- neira conjunta. Se uma sintese fizer avangar o conhecimento sobre um determinado assunto, entao ser- vird como uma tese nova. Em seguida, surgird uma nova antitese, e assim por diante. Georg Hegel (1770-1831) observou essa progressiio dialética de ideias. Hegel foi um fildsofo ale- méo que chegou as proprias ideias por intermédio da dialética, sintetizando algumas das opi- nies de seus antecessores e contemporineos. Antecedentes Filoséficos da Psicologia: Racionalismo versus Empirismo ‘Onde e como comegou o estudo da Psicologia Cognitiva? Normalmente, os historiadores da Psicologia identificam suas primeiras raizes em duas abordagens diferentes para a com- preensdo da mente humana: * A Filosofia busca entender a natureza geral de muitos aspectos do mundo, parte por meio da introspeceao, ou seja, o exame das ideias e experiéncias intemas (intro = para dentro; spectione = olhar, inspecionar). © A Fisiologia busca um estudo cientffico das funges vitais dos organismos vivos, basi- camente por meio de métodos empiricos (baseados na observacio). Racionalismo e 0 Empirismo so duas abordagens para o estudo da mente. O racio- nalista acredita que o caminho para o conhecimento se dé por meio da andlise légica. Em contrapartida, Aristételes (naturalista e bidlogo, além de fildsofo) foi um empitista. O em- pirista acredita que se adquire conhecimento por meio da evidéncia empirica, ou seja, esta evidéncia é obtida por intermédio da experiéncia e da observagao {Figura 1.1). O Empirismo orienta diretamente A investigagao empirica da Psicologia. Ao contrario, Racionalismo é muito importante no desenvolvimento da fundamentagao tedrica. As teo- tias racionalistas, sem qualquer ligagdo com a observagao, nao podem ser, portanto, validas. Entretanto, grandes quantidades de dados empiricos, sem uma estrutura teérica organizadora, também podem nfo fazer sentido. Podemos considerar a visao racionalista do mundo como uma tese, enquanto a visio empirista seria a antitese. A maioria dos psicélogos, atualmente, 4 Psicologia Cognitiva (a) Segundo o racionalista, o tinico caminko para a verdade &a reflexdlo contemplativa; (b) Segundo o empirisa, o tinico caminho para a verdade é a observagdo meticulosa. A Psicologia Cognitiva, assim como outras ciéncias, depende do srabalho tanto dos racionalistas como dos empiristas. buscam a sintese dessas duas teses. Fundamentam suas observagSes empiticas na teoria. Por outro lado, usam essas observacdes para revisar suas proprias teorias. As ideias contrastantes do Racionalismo e do Empirismo tomatam-se notérias a partir do racionalista francés René Descartes (1596-1650) e do empirista inglés John Locke (1632-1704). Descartes considerava o método introspectivo e reflexivo superior aos méto- dos empiricos para se encontrar a verdade. Locke, por sua vez, era muito entusiasmado com © método da observagao empirica (Leahey, 2003). Locke acreditava que os seres humanos nascem sem qualquer conhecimento e, por- tanto, precisam busc4-lo por meio da observagao empirica. O conceito de Locke para isso é © termo tébula rasa (que em latim significa “folha de papel em branco”). Sua ideia é de que a vida e a experiéncia “escrevem” 0 conhecimento no individuo. Sendo assim, para Locke, o estudo da aprendizagem era fundamental para a compreensdo da mente humana. Ele acre- ditava que no existiam de forma alguma ideias inatas. No século XVIII, o filésofo alemao. Immanuel Kant (1724-1804) sintetizou dialeticamente as ideias de Descartes e Locke argu- mentando que tanto o Racionalismo como o Empirismo tém seu lugar ¢ que ambos devem. trabalhar juntos na busca pela verdade. Atualmente, a maioria dos psicélogos aceita a sin- tese de Kane. Antecedentes Psicolégicos da Psicologia Cognitiva As Primeiras Dialéticas na Psicologia da Cognicao Estruturalismo Uma das primeiras dialéticas na histéria da Psicologia ocorreu entre o Estruturalismo e o Funcionalismo (Leahey, 2003; Morawski, 2000). O Estruturalismo foi a primeira grande es- cola de pensamento na Psicologia, que busca entender a estrutura (configuragao dos elemen- tos) da mente e suas percepgdes pela andlise dessas percepgdes em seus componentes constitutivos. Consideremos, por exemplo, a percepgao de uma flor. (Os estruturalistas analisam essa percepgiio em termos de cor, forma geométrica, relagdes de tamanho e assim por diante. Capftulo 1 # Introdusao & Psicologia Cognitiva. 5 Um psicdlogo alemao cujas ideias mais tarde contribuiriam para o desenvolvimento do Estruturalismo foi Wilhelm Wundt (1832-1920). Wundt nem sempre foi considerado o fun- dador da Psicologia Experimental e usava uma grande vatiedade de métodos em suas pesqui- sas. Um deles era a introspec¢do. Introspecedo € um olhar interior para as informagdes que passam pela consciéncia. Um exemplo sio as sensagdes experimentadas quando se olha para uma flor. Com efeito, analisamos nossas prdprias percepgSes. Wunde defendia o escudo das ex- periéncias sensoriais por meio da introspecgao. Wundt teve muitos seguidores, sendo um deles o norte-americano Edward Titche- ner (1867-1927). Titchener (1910) ajudou a trazer o Estruturalismo para os Estados Uni- dos. Outros psicélogos pioneiros criticaram tanto o métode (introspecgao) como o foco (estruturas elementares da sensagao) do Estruturalismo. Funcionalismo: Uma Alternativa para © Estruturalismo Uma alternativa para o Estruturalismo sugeria que os psicologos deveriam concentrar-se mais nos processos do pensamento do que nos contetidas. © Funcionalisrao busca entender o que as pessoas fazem e por que o fazem. Esta pergunta principal estava em desacordo com os estru- turalistas, que queriam saber quais eram os contetidos elementares (estruturas) da mente humana. Os funcionalistas sustentavam que a chave para o entendimento da mente humana e dos comportamentos era 0 estudo das pracessos de como e por que a mente funciona como funciona, em vez de estudar os contetidos ¢ os elementos estruturais da mente. Os funcionalistas estavam unidos pelos tipos de perguntas que faziam, mas nao necessa- riamente pelas respostas que encontravam ou pelos métodos que utilizavam para chegar a es- sas respostas. Como 0s funcionalistas acreditavam no uso de qualquer método que melhor respondesse as perguntas de um determinado pesquisador, parece natural que o Funcionalismo tenha levado ao Pragmatismo. Os pragmatistas acreditam que o conhecimento s6 pode set va- lidado por sua utilidade: 0 que se pode fazer com isto? Esto interessados nfo apenas em sa- ber o que as pessoas fazem, mas também querem descobrir 0 que podemos fazer com o nosso conhecimento sobre o que as pessoas fazem. Por exemplo, eles acteditam na importdincia da Psicologia do Aprendizado e da Meméria. Por qué? Porque pode nos ajudar a melhorar o de- sempenho das criangas na escola. © Pragmatismo também pode nos auxiliar a lembrar 0 nome de pessoas que conhecemos, mas do qual nos esquecemos rapidamente ‘Agora, imagine-se colocando a ideia do Pragmatismo em pratica. Pense so- APLICAGOES bre as maneiras de tornar a informagaio que voct est aprendendo neste livro PRATICAS DA. de modo que sejam mais diteis a voc8. Parte desse trabalho jé foi feito ~ veja | PSICOLOGIA que 0 capftulo comega com questées que tornam as informagées mais | COGNITIVA cocrentes ¢ titeis, e o resumo recorna a essas perguntas. O texto responde de modo satisfat6rio as questées apresentadas no inicio do capitulo? Ela- bore suas perguntas e suas anotagées sob a forma de respostas, Além disso, tente estabelecer uma relagio deste material com o de outros cursos ou atividades das quais participa. Por exemplo, vocé pode set chamado a ex- plicar a um amigo como funciona um programa de computador. Uma boa forma de comecar seria perguntar a essa pessoa se ela tem alguma pergunta a respeito. Assim, as informag&es que vocé oferecer serio mais titeis a0 seu amigo, em vez de obrigé-lo a buscar a informagiio de que necessita em uma 6 Psicologia Cognitiva Um lider na condugao do Funcionalismo em diregio ao Pragmatismo foi William James (1842-1910). Sua principal contribuigao ao campo da Psicologia foi um tinico livro: Prin- cipios da Psicologia (1890/1970). Ainda hoje, os psicélogos cognitivos apontam, com fre- quéncia, os escritos de James nas discussdes de questdes centrais em seu campo de conhecimento, como atengao, consciéncia e percepgao. John Dewey (1859-1952) foi m: um dos primeiros pragmatistas que influenciaram de maneira profunda o pensamento con- temporineo na Psicologia Cognitiva. Dewey ¢ lembrado basicamente por sta abordagem pragmatica acerca do pensamento e da educagao. Associacionismo: Uma Sintese Integradora O Associacionismo, assim como o Funcionalismo, foi menos uma escola sistemética de Psicologia e mais uma forma de pensar influente. © Associacionismo investiga como os even- tos ¢ a3 ideias podem se associar na mente propiciando a aprendizagem. Por exemplo, as associagdes podem resultar da contiguidade (associar informagdes que tendem a ocorrer jun- tas ou quase ao mesmo tempo), da similaridade (associar assuntos com tracos ou propriedades semelhantes) ou do contraste (associar assuntos que parecem apresentar polaridades, como. quenteffrio, clarofescuro, dia/noite). No fim dos anos 1800, 0 associacionista Hermann Ebbinghaus (1850-1909) foi o pri- meiro pesquisador a aplicar os principios associacionistas de maneira sistemética. Ebbin- ghaus estudou e observou especificamente seus préprios processos mentais. Contou os proprios erros ¢ registrou seus tempos de resposta. Por meio de autoobservagées, estudou como as pessoas aprendem e se lembram dos contetidos por meio da repetigdo consciente do material a ser aprendido. Entre outras conclusdes, descobriu que a repeti¢ao possibilita fi- xar as associagdes mentais de maneira mais consistente na meméria. Dessa forma, a repeti- G40 auxilia o aprendizado (ver o Capftulo 6). Outro associacionista influente, Edward Lee Thorndike (1874-1949), sustentava que © papel da “satisfagaio” é a chave para a formagiio de associagies. Thorndike chamou esse prinefpio de Lei do Efeito (1905): um estimulo tendera a produzir uma decerminada resposta ao longo do tempo se 0 organismo for recompensado com essa resposta. Ele acreditava que um organismo aprendia a responder de uma determinada maneira (o efeito) em uma dada situacdo se fosse constantemente recompensado por isso (a satisfagao, que serve como esti- muto para ages futuras). Assim, uma crianga que recebe uma recompensa por resolver cor- retamente problemas de aritmética, iré aprender a fazé-lo sempre assim, porque estabelece uma associagao entre a solugao valida ¢ a recompensa Do Associacionismo ao Behaviorismo Outros pesquisadores contemporfineos de Thorndike conduziram experimentos com ani- mais para investigar as relagGes de estimulo e resposta com métodos diferentes dos utilizados por Thorndike e seus colegas associacionistas. Esses cientistas transpuseram a linha entre 0 Associacionismo e 0 campo emergente do Behaviorismo. O Behaviorismo € uma perspectiva teGrica segundo a qual a Psicologia deveria se concentrar apenas na relag3o entre 0 com- portamento observavel, de um lado, e os eventos ou estimulos ambientais, de outro. A ideia era materializar 0 que quer que tenha sido denominado de “mental” (Lycan, 2003). Alguns desses pesquisadores, como Thorndike e outros associacionistas, estudaram respostas volun- tarias (embora, talvez, carecessem de algum pensamento consciente, como no trabalho de Thorndike). Outros estudaram respostas desencadeadas involuntariamente em resposta a0 que parecem ter sido eventos externos nfo relacionados. Capitulo 1 * Introdugao A Psicologia Cognitiva. 7 Na Russia, o fisiologista ganhador do Prémio Nobel, Ivan Pavlov (1849-1936) pesquisou esse tipo de comportamento de aprendizado involuntério, comegando com a observagao de cachorros salivando ao, simplesmente, verem o técnico do laboratério que os alimentava. Essa resposta ocortia antes mesmo que os cachorros vissem se 0 técnico Ihes trazia comida ou nao, Para Pavlov, essa resposta indicaya uma forma de aprendizado: o aprendizado classico condicionado, sobre o qual os cachorros ndo tinham qualquer controle consciente. Na mente deles, algum tipo de aprendizado involuntério relacionava 0 técnico 4 comida (Pavlov, 1955). O extraordindrio trabalho de Pavlov abriu caminho para o desenvolvimento do Behaviorismo. O condicionamento clissico compreende mais do que uma simples associa- ¢4o com base na contiguidade temporal, por exemplo, a comida e © estimulo condicionado que ocortiam quase ao mesmo tempo (Rescorla, 1967). © condicionamento eficaz requer contingéncia, por exemplo, a apresentagao de comida sendo contingente com a apresenta- Gio do estimulo condicionado (Rescorla ¢ Wagner, 1972; Wagner e Rescorla, 1972). © Behaviorismo pode ser interpretado como uma versio extrema do Associacionismo, que se concentra inteiramente na associagio entre o ambiente € um comportamento obser- vavel. Segundo alguns behavioristas radicais, quaisquer hipéteses a respeito de pensamen- tos e formas de pensar internas so mera especulagio. Os Proponentes do Behaviorismo O “pai” do Behaviorismo radical foi John Watson (1878-1958), Watson nao via qualquer utilidade para os contetidos ou mecanismos mentais internos e acreditava que 0s psicélogos deveriam se concentrar apenas no estudo do comportamento observavel (Doyle, 2000). Ele descartou o pensamento como fala subvocalizado, O Behaviorismo era também diferente dos movimentos anteriores da Psicologia por redirecionar a énfase da pesquisa experimental em animais ao invés de humanos. Historicamente, grande parte do trabalho behaviorista tem sido até hoje realizada com animais de laboratério, como ratos, pot possibilitarem um controle muito maior sabre os relacionamentos entre o ambiente ¢ 0 comportamento em relagao a ele. Contudo, um problema com relagao a utilizagdo de animais é determinar se a pesquisa pode ser genevalizada em seres humanos (ou seja, aplicada de forma mais geral a seres humanos ao invés de apenas aos tipos de animais estudados). B. F Skinner (1904-1990), behaviorista radical, acreditava que quase todas as formas do comportamento humane, e nao apenas o aprendizado, podiam ser explicadas por compor- tamentos emitidos em resposta ao ambiente. Skiriner desenvolveu pesquisas basicamente com animais nao-humanos e rejeitou os mecanismos mentais, acreditando, por outro lado, que 0 condicionamento operante — que envolvia o fortalecimento ou o enfraquecimento do comportamento, dependente da presenga ou auséncia de reforgo (recompensa) ou punigao ~ pudessem explicar todas as formas do comportamento humano. Skinner aplicou sua and- lise experimental do comportamento a muitos fendmenos psicolégicos, tais como a aprendi- zagem, a aquisicdo da linguagem e a resolugdo de problemas. Principalmente por causa da presenga intensa de Skinner, o Behaviorismo dominou o campo de estudos da Psicologia por muitas décadas. Os Behavioristas se Atrevem a Espiar Dentro da Caixa Preta Alguns psicélogos rejeitarain © Behaviorismo radical. Tinham muita curiosidade em saber © que havia nessa caixa mistetiosa. Por exemplo, Edward Tolman (1886-1959) acreditava que, para entender o comportamento, eta necessirio se levar em conta o propésito e o plano para o comportamento. Tolman (1932) acreditava que todo comportamento era dirigido a algum objetivo. Por exemplo: o objetivo de um rato em um labirinto de laboratério seria 0 de encontrar comida dentro desse labirinto. Tolman é tido, por vezes, como um precursor da moderna Psicologia Cognitiva 8 Psicologia Cogniciva Outra critica ao Behaviorismo (Bandura, 1977b) é que, nele, o aprendizado surge nfio apenas em fungdo de recompensas diretas pelo comportamento. Também pode ser social, resultando de observages das recompensas ou punigdes dadas aos outros. A capacidade para aprender por meio da observagaio estd bem documentada e pode ser comprovada em. seres humanos, macacos, cies, pilssaros ¢ até mesmo em peixes (Brown, Laland, 2001; La- land, 2004; Nagell, Olguin, Tomasello, 1993). No ser humano, essa habilidade est4 pre- sente em todas as idades, sendo observada tanto em criangas como em adultos (Mejia-Arauz, Rogoff, Paradise, 2005). Essa teoria dé énfase 4 maneira como se observa, se modela, 0 pré- prio comportamento a partir do comportamento dos outros. Aprendemos pelo exemplo. Esta consideragao de aprendizado social abre caminho para se examinar o que esté aconte- cendo na mente do individuo. Psicologia da Gestalt Dentre os intimeros criticos do Behaviorismo, os psicdlogos da Gestalt certamente esto entre os mais évidos. A Psicologia da Gestalt afirma que se compreende melhor os fendme- nos psicolégicos quando se olha para eles como todos organizados ¢ estruturados. Se- gundo essa visio, nao se pode compreender totalmente o comportamento quando se desmembram os fendmenos em partes menores. Por exemplo, os behavioristas tém a ten- déncia de estudar a resolugao de problemas buscando 0 processamento subvocal ~ eles buscam o comportamento observavel por meio do qual a resolugio do problema pode ser compreendida. Os gestaltistas, ao contrdrio, estudam o insight, buscando entender o evento mental no observével por meio do qual alguém vai do ponto em que nao tem ideia de como resolver um problema até o ponto em que entende completamente em um simples instante de tempo. ‘A maxima “o todo € diferente da soma de suas partes” resume muito bem a perspectiva gestaltista. Para entender a percepgdo de uma flor, por exemplo, terfamos de levar em conta © todo da experiéncia. Nao se poderia entender essa percepg3o em termos de uma descri- Gio de formas, cores, tamanhos e assim por diante. Da mesma forma, como mencionado no parégrafo anterior, nfo poderfamos entender a resolugo de problemas simplesmente exa- minando os elementos isolados do comportamento observaivel (Kahler, 1927, 1940; Wer theimer, 1945/1959). O Surgimento da Psicologia Cognitiva Uma abordagem mais recente € 0 Cognitivismo, ou seja, a crenga de que grande parte do comportamento humano pode ser compreendida a partir de como as pessoas pensam. O Cognitivismo é, em parte, uma sintese das formas anteriores de anslise, como 0 Behavio- rismo e o Gestaltismo. Da mesma forma que o Gestaltismo, a Psicologia Cognitiva utiliza uma andlise quantitativa precisa para estudar como as pessoas aprendem e pensam. I da P: Ironicamente, um dos ex-alunos de Watson, Karl Spencer Lashley (1890-1958), questionou de forma contundente a teoria behaviorista de que o cérebro é um érgvio passivo que simples- mente reage &s contingéncias comportamentais fora do individuo (Gardner, 1985). Ao con- rio, Lashley considera o cérebro como um organizador ativo e dinémico do comportamento. O Papel Ini obiologia Capitulo 1 # Introdugo A Psicologia Cognitiva 9 Lashley buscava entender de que maneira a macro-organizacao do cérebro humano tornava possivel a execugdo de atividades planejadas téo complexas como apresentages musicais, jogos e 0 uso da linguagem. Nenhuma delas, em sua opiniio, poderia ser prontamente explicdvel em termos de condicionamento simples. Na mesma linha, mas em um nivel de andlise diferente, Donald Hebb (1949) propds conceito de conjuntos de células como base para o aprendizado no cérebro. Esses conjuntos sdo estruturas neurais coordenadas que se desenvolvem por meio da estimulagao frequente. Eles se desenvolvem ao passar do tempo com a capacidade de um neurénio (célula nervosa), ao ser estimulado, disparar outro neurdénio conectado. Os behavioristas nfo aproveitaram esta rara oportunidade para concordar com Lashley e Hebb. Na verdade, o behaviorista B. E Skinner (1957) escreveu um livro inteiro descrevendo como a aquisigao € © uso da lingua- gem poderiam ser explicados unicamente em termos de contingéncias ambientais. Esse tra- balho levou a estrutura tedrica de Skinner longe demais, deixando-o livre para ser contestado. E tal contestagao estava a caminho. © linguista Noam Chomsky (1959) fez duras criticas as ideias de Skinner. Em seu artigo, Chomsky ressaltou tanto a base biolégica como 0 potencial criativo da linguagem, apontando para a infinita quantidade de sentengas que podemos pro- duzir com facilidade. Sendo assim, desafiou as teorias behavioristas de que linguagem € aprendida por intermédio do reforgamento: até mesmo criangas bem jovens produzem novas sentengas a todo o momento, as quais nao poderiam ter sido reforcadas no passado. Chomsky afirmou que o entendimento da linguagem nao esta condicionado tanto pelo que ja se ou- viu, mas, ao contririo, pelo Dispositivo Inato de Aquisicao de Linguagem (DAL) que todos os seres humanos possuem. Esse dispositivo possibilita ao bebé utilizar o que escuta para inferir a gramatica de seu ambiente linguistico. Em especial, o DAL limita ativamente 0 niimero de construgées gramaticais possiveis. Assim sendo, é a estrutura da mente, € nio a estrutura das contingéncias ambientais, que orienta a nossa aquisiggo da linguagem. Acrescentando uma Pitada de Tecnologia: Engenharia, Computasao e Psicologia Cognitiva Aplicada No fim da década de 1950, alguns psicélogos estavam intrigados pela incémoda ideia de que as mquinas poderiam ser programadas para demonstrar o processamento inteligente da in- formagao (Rychlak, Struckman, 2000). Turing (1950) sugeriu que, em pouco tempo, seria dificil distinguir a comunicagao das maquinas da dos seres humanos. Ele sugeriu um teste, atualmente chamado de Teste de Turing, pelo qual um programa de computador poderia ser considerado bem-sucedido & medida que o seu resultado fosse indistinguivel, pelo ser humano, do resultado de testes realizados com seres humanos (Cummins, Cummins, 2000). Em outras palavras, suponha que vocé se comunicasse com ur computador e nfo soubesse que este era um computador. O computador, entio, teria pasado no Teste de Turing (Schonbein, Betchel, 2003). Por volta de 1956, um novo termo entrou para o nosso vocabulétio: Inteligéncia Arti- ficial (IA), que € a tentativa do ser humano de construir sistemas que demonstrem inteligén- cia, em especial, o processamento inteligente da informagao (Merriam-Webster’s Collegiate Dictionary, 1993). Exemplos de 1A sfo os programas de jogo de xadrez, que conseguem vencer os seres humanos, na grande maioria das vezes. Muitos dos psicdlogos cognitivos interessaram-se pela Psicologia Cognitiva por meio de problemas aplicados. Por exemplo, segundo Berry (2000), Donald Broadbent (1926-1993) dizia ter desenvolvido o interesse pela Psicologia Cognitiva por causa de um problema re- lacionado & aeronave AT6. Estes avides possufam duas alavancas quase idénticas sob 0 10 Psicologia Cognitiva assento, Uma servia para erguer as rodas e a outra, para levantar os aerofélios. Aparente- mente, quase todos os pilotos confundiam as duas e, consequentemente, acabaram cau- sando enormes prejuizos com acidentes na decolagem de seus avides. Durante a Segunda Guerra Mundial, muitos psicélogos cognitives, inclusive um de meus mentotes, Wendell Garner, reuniu-se com os militares para resolver problemas priticos da aviacio e de ou- tras dreas, especialmente por causa da guerra contra forgas inimigas. A teoria da informa- 40, que buscava entender o comportamento das pessoas sobre como elas elaboram os tipos de elementos de informagéo processada pelos computadores (Shannon, Weaver, 1963), cresceu também em decorréncia dos problemas de engenharia e da informatica. A Psicologia Cognitiva Aplicada também foi de grande utilidade para a publicidade. John Watson, apés deixar 0 cargo de professor na Johns Hopkins University, tornou-se um executive extremamente bem-sucedido em uma agéncia de propaganda, tendo utilizado os seus conhecimentos de Psicologia para alcangar o sucesso. Na realidade, na propaganda, utiliza-se muito, diretamente, os principios da Psicologia Cognitiva para atrair clientes para os produtos, as vezes suspeitos, outros nao (Benjamin, Baker, 2004) No inicio da década de 1960, os avangos na Psicologia, na Linguistica, na Antropologia ena IA, bem como as reagdes ao Behaviorismo por parte de muitos profissionais renomados da drea de Psicologia, convergiram para criar uma atmosfera madura para a revolugiio. Os primeiros cognitivistas (como Miller, Galanter, Pribram, 1960; Newell, Shaw, Si- mon, 1957b) afirmavam que as teorias behavioristas tradicionais sobre 0 comportamento eram inadequadas, principalmente porque nao falam sobre como as pessoas pensam. Um dos primeiros e mais famosos artigos sobre Psicologia Cognitiva foi sobre “o magico nii- mero sete”. George Miller (1956) pontuou que o ntimero sete aparecia em diferentes mo- mentos da Psicologia Cognitiva, como na literatura sobre 2 percepgao e a meméria, e, assim, imaginou se havia algum significado oculto nessas frequentes ocorréncias. Por exem- plo, descobriu que a maioria das pessoas € capaz de se lembrar de cerca de sete itens de informagao. Nesse trabalho, Miller introduziu também o conceito da capacidade de canal, ou seja, o litnite superior no qual um observador consegue combinar a resposta para a informa- ‘cdo que the for oferecida. Por exemplo, caso vocé consiga se lembrar de sete digitos que the sejam apresentados em sequéncia, nese caso sua capacidade de canal para memorizar ntimeros serd o “sete”. O li- vro de Ulric Neisser, Cognitive Psychology (Neisser, 1967), foi bas- tante importante ao divulgar a importincia do Cognitivismo — que estava em desenvolvimento — aos alunos de graduagéo, pés-gradua- Unc Niser€ profes st c e a SrentiodsComei $0. 20 ambiente académico em geral. Neisser definiu a Psicologia Unive. Selo, Cognitiva como o estudo de como as pessoas aprendem, organi- Cognitive Peychology, —zam, armazenam e utilizam o conhecimento. Posteriormente, All a , Allen {foi fundamental para 0 Creamer cke Newell ¢ Herbert Simon (1972) acabaram por propor modelos deta- comvstz 2 Prcooga. Thados do pensarnento humano, bem como da resolugao de proble- Nasser fl tember um des mas, desde os mais simples até os mais complexos. Por volta de 1970, Srrieeicads a Psicologia Cognitiva jé era reconhecida como importante campo como, end demons- de estudos da Psicologia, dispondo de um conjunto especifico de mé- fade ingoninca do todos de pesquisa, scouts enconnte Na década de 1970, Jerry Fodor (1973) popularizou 0 conceito ceologcmente wilds. da modularidade de mente. Argumentava que a mente possui médu- (Fox: Coneia de Dr. gs distintos ou sistemas de escopos diversos para tratar da linguagem Uhic Neisser) Capitulo 1 © Incrodugao a Psicologia Cognitiva. IL ¢, possivelmente, de outros tipos de informagiio. A modularidade implica que os processos que so usados em um dominio de processamento, como o da linguagem (Fodor, 1973), ou da percepgao (Marr, 1982), operam independentemente dos processos em outros dominios. Uma opiniao contréria seria a do processamento de dominio geral, segundo a qual os pro- cessos que se aplicam a um dominio — como a percepgio ou a linguagem — aplicam-se a muitos outros domfnios também. As abordagens modulares sfio titeis no estudo de alguns fendmenos cognitivos, como a linguagem, mas n3o s3o comprovadamente dteis no estudo de outros fendmenos, como a inteligéncia, que parece estar ligada as intimeras e diferen- tes dreas do cérebro em intrincados inter-relacionamentos. Métodos de Pesquisa em Psicologia Cognitiva Objetivos da Pesquisa Para melhor entender os métodos espectficos usados pelos psicélogos cognitivos deve-se, em primeiro lugar, compreender os objetivos da pesquisa em Psicologia Cognitiva, alguns dos, quais destacamos aqui. De modo resumide, esses objetivos compreendem a coleta ¢ a and- lise de dados, o desenvolvimento de teorias, a formulagio e a testagem de hipéteses, ¢ até mesmo a aplicagao em ambientes fora do contexto da pesquisa. Com frequéncia, os pesqui- sadores buscam apenas coletar a maior quantidade possivel de informagées a respeito de um, determinado fendmeno, podendo ter ou nao nogdes preconcebidas em relagiio Aquilo que poderao encontrar durante a coleta dos dados. Tal pesquisa concen- tra-se na descrigio de dererminados fendmenos cognitivos como, por exemplo, a maneira como as pessoas reconhecem fisionomias ou de- senvolvem habilidades. A coleta de dados e a andlise estatistica auxiliam os pesquisado- res na descrigdo dos fenémenos cognitivos. Nenhuma empreitada cientifica iria muito longe sem essas descrigdes. Todavia, a maioria dos psicélogos cognitivos deseja entender mais do que o que da cog- nigdo. A maioria deles também procura entender 0 como e 0 porqué do pensamento. Ou seja, os pesquisadores buscam formas de expli car e de descrever a cognigo. Para ir além das descrigées, os psicé- — Hestert. A. Simon foi logos cognitivos precisam dar um salto, pasando daquilo que se vies de Cnc de observa diretamente para aquilo que pode ser inferido com relagio Gon Gnce Meten as observagdes. University. E famaso por Suponha que se queira estudar um determinado aspecto da cog- stihl pli com fo. Um exemplo seria o modo como as pessoas compreendem a Sia. Newlennosna informagao contida em um livro didatico. Geralmente, inicia-se com melo de computador que uma teoria. Uma teoria é um corpo organizado de principios expla-_ sinudavamo persamento natérios relativos a um fendmeno com base na observagao. Busca-se heen, bancma ln testar uma teoria e, por meio desta, verificar se tem 0 poder de pre~ nels. Foi também ver determinados aspectos do fendmeno em questo. Em outras pa- _imponante defensor dos lavras, nosso processo de pensamento € “se nossa teoria for correta, Poeun "ie tena en entdo sempre que ‘x’ ocorrer, o resultado deverd ser ‘y"”. Esse pro- jracsumone conti cesso resulta na geragSo de hipéteses, proposigées experimentais em Simon falecew em 2001. relagéio as consequéncias empiricas esperadas dessa teoria, como os (Fae: Cmasia de Comegie ‘Men Unies resultados da pesquisa. acho) 12 Psicologia Cognitiva A seguir, testam-se as hipéteses por meio da experimentagao. Mesmo que determi- nadas conclusdes parecam confirmar uma hipstese dada, elas deverdo ser submetidas & andlise para determinar sua significancia estatistica. A significdncia estatistica indica a probabilidade de que um determinado conjunto de resultados venha a ser obtido apenas se houver fatores aleatérios em agdo. Por exemplo, um nivel 05 de significancia estatis- tica significaria que a probabilidade de um determinado conjunto de dados seria de ape- nas 5%, se somente fatores aleatérios estivessem operand. Assim sendo, os resultados nao parecem ser apenas em virtude do acaso. Por meio desse método, pode-se decidir aceitar ou rejeitar hipéteses. Uma vez que as previsées hipotéticas tenham sido testadas experimentalmente e ana- lisadas estatisticamente, as conclusies desses experimentos poderio conduzir a outros tra balhos. Por exemplo, um psicdlogo pode se engajar em mais coletas ¢ andlises de dados, desenvolvimento de teorias, formulagao de hipéteses ¢ testagem de hipdteses. Com base nas hipéteses que tenham sido aceitas e/ou rejeitadas, a teoria devera ser revista. Além disso, muitos psicdlogos cognitivos tém esperanga de usar os conhecimentos obtidos por meio da pesquisa para auxiliar as pessoas a utilizarem a cognigdo em situagdes reais. Algumas pesquisas em Psicologia Cognitiva so aplicadas, desde o seu inicio, na tentativa de ajudar as pessoas a melhorarem as préprias vidas, assim como as condigdes em que vive. Assim sendo, a pesquisa bésica pode conduzir as aplicagées cotidianas. Para cada um desses propésitos, existem diferentes métodos de pesquisa que oferecem vantagens ¢ desvanta- gens diferenciadas. Meétodos de Pesquisa Caracteristicos Os psicdlogos cognitivos usam varios métodos para explorar como os seres humanos pen- sam. Esses métodos sfo: (a) experimentos de laboratério ou outros experimentos controla- dos; (b) pesquisa psicobiolégica; (c) autoavaliagdes; (d) estudos de caso; (e) observagio NO LABORATORIO DE GORDON BOWER ESPECIALISTAS EM DIVIDIR PARA CONQUISTAR Cresci numa pequena ci conhecido por esquecer-se da maioria das dade do estado de Ohio, —outras coisas, como scus compromissos pes- onde passei centenas de Soais, as compras de supermercado e tudo 0 horas jogando beisebol. mais que a sua esposa the pedia. Dean tinha Meu treinador mais ve- um amigo, Claude, enxadrista fandtico que, tho, Dean Harrah, con- como ele, possufa uma meméria espantosa. seguia lembrar — com Claude jogava xadrez muitissimo bem ¢ tam- admirdvel precisio — de _bém conseguia se lembrar de todas as jogadas todos 0s jogos de beisebot de todos os tempos. de toclos as partidas que havia jogado em me- Dean conseguia se lembrar até mesmo de jo- _s¢8. Todavia, Claude niio conseguia se lembrar gadas insignificances de uma partida, como 0 de coisas simples, como a tabela periédica de turno, o neimero de eliminagées, contagem de elementos das aulas de quimica durante 0 arremessos, de lances e até da localizagaio dos interceptadores, enquanto vislumbrava todas as sinalizagdes de “bate-e-corre” (hit-and-run) de uma partida jogada hd trés semanas. Sua capacidade para recordar detalhes dos jogos era simplesmente assombrosa. Entretanto, era colegial. Dean ¢ Claude niio sabiam me expli- car como faziam o que faziam, apenas que ambos “enxergavam” eventos significativas em sua toralidade durante o desenrolar de uma partida. Tais lembrangas prodigiosas convi- vendo na mesma cabesa ao lado de péssimas Capitulo 1 * Introdugao & Psicologia Cognitiva. 13 NO LABORATORIO DE GORDON BOWER (continuacao) recordagdes sempre me fascinaram. Foi este tum dos intimeras quebra-cabecas da vida coti- diana que me motivaram para o estudo da Psi- cologia da meméria humana Meu espanto aumentou ainda mais quan- do pesquisadores me informaram 0 qui, ge- talmente, é limitada a meméria das pessoas. Especificamente, o ser humano é seriamente limitado com relagio a quantidade de coisas que pode absorver ¢ reter na meméria, mesmo que por pouco tempo, e, consequentemente, de como consegue rapidamente absorver uma nova informacao na meméria permanente. ‘Mas, 0 que so essas “coisas” que se absorve? O psicdlogo George Miller (1956) batizou-as de “pedagos” (chunks) de informagao e propos que a meméria imediara das pessoas esté limi- tada pelo nimero de “pedagos” que conseguem absorver € recordar. Sempre me perguntei se as prodigiosas memérias de Dean e Claude estavam associadas com um conhecimento, interno de como fracionar a informagio que tivesse significado especial para eles. A afirmagao de Miller me levou a ques- tionar: O que € um “pedaco” de informagio? Qual o tamanho desses “pedagos”? © que de- termina o seu tamanho e suas propriedades? Os seus “pedagos” so iguais aos meus? Como mensurar os “pedagos"? A nogio intuitiva é de que um “pedago” € um padrio de elementos basicos que o indi- viduo aprendeu anteriormente. Esses padrées podem ser identificados em virios niveis de complexidade ~ de pequenos a grandes. Por exemplo, a frase “feliz ano-novo” (happy new year) &, pata a maioria das pessoas que falam inglés, nada mais do que um pedaco compost. de trés subpedagos familiares (palavras), que, por sua vez, so compostos de 12 subpedacos familiares (letras) e dois espagos - 14 simbolos a0 todo. Suponhamos, todavia, que os 14 sime bolos sejam dispostos em uma pagina como “Feli-zanono-vo" (ha-ppyyne-wyear). Esta sé- rie de letras agora parece nao ter sentido € setia muito dificil de ser aprendida. Contudo, qualquer individuo que fale outra lingua e que nao tenha qualquer conhecimento do alfa- beto inglés, diria que ambas as séries no cm sentido e so dificeis de memorizar. O que um pedago é sé depende do aprendizado an- terior de um individuo, Assim sendo, a dificuldade de se recordar de alguma coisa depende de como ela é perce- bida, como é dividida em pedacos. Porém, que princ{pios o cérebro humano utiliza pata divi- dir elementos em grupos perceptivos? Um importante prinefpio de agrupamento € 0 quanto esses pedagos esttio proximos em termos de tempo e de espago. Assim, os espa- 08 varios (tragos) em IC-BMIC-IAF-BI fazem com que as pessoas vejam a série de pedagos de 2, 4,3 © 2 letras, respectivamente. Esses agrupamentos apreendem a percepgo € so copiados na meméria imediata do individuo. Além disso, se um estudante precisasse es- tudar e tentar reproduzir um ntimero de tais sequéncias repetidamente, ele(a) iria, ao final, recordar a série em pedagos “tudo-ou-nada”, Ou seja, a maioria dos erros de tecordagao iria surgir enquanto se tentasse mover a re- cordagéo entre os pedagos (nas transiges C para B, C para Ie F para B). Um segundo principio do agrupamento é que 05 elementos assemelhados ou com sono- ridade parecida serio agrupados juntos. Por ‘exemplo, letras em tamanho, forma (fonte) € cor semelhante serao agrupadas juntas e lem- bradas enquanto unidades. ‘Assim como a proximidade no espago e a aparéncia influenciam o agrupamento visual, a proximidade no tempo e a qualidade dos sons influenciam o agrupamento de palavras faladas e das notas musicais. Dessa maneira, ouvir a série de letras acima serem ditas com pausas entre os grupos far com que as pessoas adotem o fracionamento ¢ se recordem desses grupos. Agrupamentos semelhantes viriam & tona caso os pedagos fossem semelhantes ao setem falados por vores distintas ou vindos de locais diferentes. Esses agrupamentos auditivos expressam o hbito das pessoas de falar niime- ros de telefones em uma cadéncia — 3-3-4, por exemplo, em 555-123-4567 - ¢ sto trazidas a uma complexidade magnifica nos sofisticados tempos e ritmos da miisica. Entdo, 0 que esse fracionamento tem a ‘ver com a aprendizagem e a meméria? Tudo. Elaborei uma hipstese de que a maneira mais répida para se aprender alguma coisa € estu- dé-la e reproduzi-la repetidamente usando a mesma estrutura de fracionamento de um momento para 0 outro. Desse modo, para (continua) 4 Psicologia Cognitiva ee a cedi Uood yea. LoL Seanad Goo caecace aprender a reproduzir a sequéncia IC-BMCI- AFB-I, o melhor € estudar exatamente esses pedagos na mesma ordem a cada ver. Nossas experigncias com estudantes universitérios mostraram que eles acumulam muito pouco ou nenhum ensinamento de uma série de sequén- cias diferentes, caso mudassemos os agrupa- mentos toda vez que eles fossem estuda-los. Assim sendo, para a nossa série de exemplos anteriores, os estudantes iriam provavelmente perceber um agrupamento diferente das letras, como por exemplo -CBM-CI-AF-BI ou ICB- MC-IAFB-I, enquanto uma nova sequéncia de letras, fazendo com que se lembrassem ime- diatamente dela, quase tao sofrivel quanto no momento em que a sequéncia foi apresentada pela primeira vez. Essa falha seria devida 20 fato de estarem confuses sobre onde colocar os ‘espagos ou pausas no momento em que repro duziam as séries? Claro que nao, porque sabiam que precisavam se lembrar apenas das letras € no dos espagos. Além do mais, o deficit foi mais ‘ou menos igual quando simplesmente conta- mos as letras corretas, independentemente da ordem em que os estudantes as lembravam. Em suma, o estudo repetitivo sé auxilia, prin- cipalmente quando o material é fracionado da mesma maneira de uma ocasiao para a outra. ‘Uma das implicagées do resultado deste fracionamento constante é que as pessoas iro rapidamente reconhecer e reproduzit qualquer sequéncia de simbolos que se ajuste aos pedagos que elas jé sabem ou que thes sejam “familia res”. Por exemplo, se nosso modelo de sequén- cia de letras for agrupado como ICBM-CIA-FBI, ‘os alunos reconhecerao com facilidade as abre- viagGes familiares e prontamente relembrarao de toda a série. (Alguns leitores poderao jé ter reconhecido esses acrSnimos). Esta obser- vagao ilustra um principio simples e muito po- deroso: a meméria humana opera com muito mais eficiéncia quando usa o aj jo ante- rior para reconhecer pedacos semelhantes con- tidos nos materiais a serem aprendidos. Ao reconhecer e explorar pedagos familiares, um individuo experiente reduz enormemente 0 volume do novo aprendizado requerido para dominar 0 novo material. Grande parte da pe- ricia em muitos dominios de habilidades ~ da leitura de palavras & compreensio de f6rmulas quimicas, equagdes mateméaticas, fragmentos musicais, sub-rotinas de programagao de com- putadores e, sim, até mesmo aos fatos ocorri- dos nas partidas de beisebol de Dean ou das posigdes das pegas de xadrez de Claude ~ tudo isso depende da capacidade do eérebro de reco- nhecer e explorar os pedagos previamente aprendidos e rapidamente acessar a nova situa- G80 que se apresenta. Essa técnica se desen- volve lentamente durante centenas de horas de estudo concentrado des padres recorrentes em determinados dominios. O beneficio dessa prética muito especifica explica de que modo a meméria habil em um dominio, tal como o beisebol para Dean ou 0 xadrez para Claude, podem facilmente coexistir ao lado de recorda- {g0es débeis dominios nao relacionados, como compromissos digtios ou aulas de quimica. © valor do fracionamento consistente aplica-se a0 “aprendizado reprodutivo”, quan- do se tenta reproduzir uma série de itens arbi- trarios. Esse aprendizado nos é geralmente solicitado. Por outro lado, para o aprendizado superior de dominios conceitualmente mais ricos, ha as vantagens em se inter-relacionar os agrupamentos em classificagSes por cortes transversais. Por exemplo, embora os agrupa- mentos constantes de fatos sobre categorias como politica, economia € o exército possam auxiliar um aluno a lembrar de fatos sobre a Guerra Civil Americana, uma melhoria no entendimento ¢ na meméria poderia advir pelo inter-relacionamento ¢ pela interassocia- ‘ao de fatos por meio dos dominios, por exer- plo, observar os objetivos politicos utilizados por uma campanha militar, como a famosa “Marcha para o Mat”, que o General Sherman conduziu pelos estados do sul. © beneficio dessas inter-relages conceituais seré um t6- pico abordado mais adiante. Capitulo 1 + Introdugio 8 Psicologia Cognitiva. 15 naturalistica; ¢ (f) simulagdes por computador e IA (ver Quadro 1-1 para descrigées ¢ exem- plos da cada método) Como mostra 0 Quadro L.1, cada método oferece vantagens e desvantagens. Experimentos com o Comportamento Humano Nos projetos experimentais controlados, o pesquisador conduz a pesquisa geralmente em. um ambiente laboratotial. Ele controla o maior numero possivel de aspectos da situacao experimental. Basicamente, existem dois tipos de variéveis em um determinado experi- mento. As varidveis independentes so aspectos de uma investigag%o, manipulados de modo individual ou cuidadosamente regulados pelo experimentador, ao mesmo tempo em que outros aspectos da investigagao so mantidos constantes (ou seja, nao sujeitos a variagao). As varidveis dependentes sdo respostas de resultados, os valores dos quais dependem da forma que uma ou mais varidveis independentes venham a influenciar ou afetar os participantes do experimento. Sempre que se diz a alunos participantes da pesquisa que se sairo muito bem em uma tarefa, mas nao se diz algo aos outros participantes, a variavel independente € ‘© volume de informagao dada aos alunos a respeito de seu esperado desempenho. A variavel dependente é a maneira como quio bem ambos os grupos se saem em suas tarefas, ou seja, suas notas na prova de matematica. Sempre que o pesquisador manipula as varidveis independentes, ele controla os efeitos das varidveis irrelevantes e observa os efeitos das varidveis dependentes (resultados). Tais varidveis irrelevantes mantidas constantes so chamadas de varidveis de controle. Outro tipo de varidvel € a varidvel expiiria, um tipo de varidvel irtelevante que nao tenha sido contro- lada durante um experimento. Por exemplo, imagine que se queira examinar a eficacia de duas técnicas de resolucdo de problemas. Treina-se ¢ testa-se um grupo sob a primeira estra- tégia as 6 horas e, um segundo grupo, sob a segunda estratégia, as 18 horas. Nesse experi- mento, o hordtio do dia seria uma varivel exptiria. Em outras palavras, a hora do dia pode causar diferengas no desempenho que no tém nada a ver com a estratégia de resolugao do problema. Obviamente, quando se conduz uma pesquisa, todo cuidado € necessério para se evitar a influéncia das varidveis expurias. Ao implementar um método experimental, o pesquisador precisa utilizar uma amostra aleatéria e representativa da populacao de interesse. Deve exercer controle rigoroso sobre as condigGes do experimento bem como designar, também de maneira aleatéria, os parti pantes para o tratamento e as condigdes de controle. Se esses requisitos para o método ex- perimental forem preenchidos, o pesquisador poderd inferir causalidade provavel. Esta € a inferéncia dos efeitos da varidvel ou varidveis independentes (tratamento) sobre as varid- veis dependentes (resultado) para uma determinada populagao. Muitas ¢ diferentes varidveis dependentes so utilizadas em pesquisa cognitivo-psicolé- gica. Duas das mais comuns so 0 percentual de correlagao (ou seu elemento inverso, a taxa de erro) e o tempo de reagao. E importante selecionar, com muito cuidado, os dois tipos de vatidveis, porque independente de qual processo se esteja observando, o que se apreende de um experimento depender4 quase que exclusivamente das varidveis escolhidas para iso- lar o comportamento que est4 sendo observado. Os psicdlogos que estudam os processos cognitivos, como o tempo de reagio, geral- mente utilizam-se do método da subtragao, que compreende estimar o tempo que um pro- cesso cognitive leva pela subtragao da quantidade de tempo que 0 processamento da informagao leva com 0 processo a partir do tempo que ele leva sem o proceso (Donders, 1868/1869). Por exemplo, quando se € solicitado a examinar as palavras cachorro, gato, rato, hamster, esquilo e informar se a palavra esquilo aparece no exame para depois examinar as, 16 Psicologia Cognitiva ECan Pa Métodos de pesquisa Os psieslogos cognitives usam experimentos controlados, pesquisa psicobicl6gica, autoavaliagdes, observacao naturalista e simulagdes por computador e 1A para estudar os fenémenos cognitivos. tarefa e do contexto aque esté —_circunstancias sendo aplicada Informagao acerca de Geralmente pouco enfatisadas Sim iferengas individuais ‘Auronvauacés, Como Mixo00 Exrmumenos ConTROLABOS M — Bsauisa PSICORIOLOGICA Prorocoios Vissais, Auroeussincacées, Didwos Descrigio do mérodo ‘Ober amowtns do desempenho Esudar os efrbros humanos Ober vltSrios dos participantes tem tempo local determinacks e rims, usindo estos sobre a prdpriacounigo em posemareme viras medidas andamento-ou a pari de Pricobiolggics ou réenicas de lembrangas, ‘imagem (ver "Nerociéne Cognitiva’) \Validede de inferéncias_ Geralmence Geralimerte no Nios aplica Jeaussisatibuigaoalexsria ie sujeivos WValidade de inferéncias——_Geralmente Varia muito, dependendo da Provavelmente nfo csusas: controle experimental técnica espectica ae varsveis independenres [Amostras:tamanho Podem ser de qualquer tmanho Geralmente pequents Provavelmente pequenas [Armostras:represeneatvidade Podem ser representaivas _Geralmente, no s80 onde ser representnivas representatives Walidade ecologica io ¢ improvavel; epende da tmprovavel sob ceraas TTaiven; ver pontos fortes facos ‘Simm Pontos fortes Facilidade de administragio, de Proporciona evidencias concagem e de anilise estatBtica “contundentes” das fungdes coma relativamente fécil aplicar —cognitivas ao relacioné-las & as amostras representativas de atividade Fsioldgica: oferece uma tums popolagio; probabilidade 0 alternativa do processo que relacivamente alta de fazer rio est disponivel por outros inferéncias causais vali rcios: pode levar a possibitidades para o tratamento de pessoas com deficits cognitivossérios Pontos fracas ‘Nem sempre & possivel generalizar Acessbilidade limitada para a resultados além de um local maioria dos pesquisadores: requer espectfico, tempo econtexto —_acesso tanto para os sujeitos, da tarefa; discrepancias entre apropriades como para 0 comportamente na vida real equipamento que pode ser caro eno laborat6rio demais¢ dificil de obter; amostras pequenas; muitos estudos tém como base estulos de eérebros anormnais ou de eérebros de animais, a eneralizago des conclustes para 2s populagdes hhumanas normais pode serd ‘Accesso a0s insights introspectivos 2 parcir do ponto de vista dos ppantcipantes, nfo podendo ser acessada por outros meios TIncapacidade para reportar processos que ocorrem fora da ‘consciéncia Protocolos verbais € autoclassificagbes: a coleta de dlados pode influenciar os processes Cognitivos que estfo sendo relatados Recordasdes: postveis discrepéincias entre cognicéo real processos e produtos cognitivos recordadas Inboratério na qual apresentavam que as lestes (reas de ferimento) resumidamente duas sequencias no lobo parietal esquerdo do de letras (palavras ou cécchro esto associadas a deficits pseudopalavras) aos sujeitose, em de meméria de curto prazo seguida, pediam-thes que (oreve, ativa), mas no hi tomassem uma decisio sobre qualquer dano a meméria de cada sequéncia de letras, tal Longo prazo. Contudo, pessoas ‘como decidir se as letras com lesdes nas regides temporais formavam uma palavralegitima (medias) do cérebro apresentam cou se uma palavra pertencia a meméria de curt prezo tama categoria pré-designada _relativamente normal, mas tm raves defcis na meméria de Kongo prazo (Shalice, 1979; Wareington, 1982) problemécica Exemplos ‘David Meyer e Roger Elizabeth Warrington e Tim Durante um estudo de imagens Schvaneveldt (1971) Shallice (1972; Shallice, ‘mentais, Stephen Kosslyn ¢ seus desenvolveram uma tarefa de Warrington, 1970) observaram —_colegas (Kosslyn, Seger, Pani, Hillger, 1990) pediram a seus alunos que registrasiem em um dlidvio durance uma semana todas 25 suas imagens mentais em cada modalidade sensorial lo 1 # Introduso A Psicologia Cognitiva 17 Esruvos or Caso (Onseevasors Narumauisnicas ‘Simutagoes por Compurapon 1A Desenvolver estudos intensivos de (Olservar sicuagaes da vida real, como, Simulagbes: rencar fazer 0 indiv{duos, tirando conclusées gerais sobre por exemplo, em salas de aula, ‘computador simular o desempenho comportamento mbientes de trabalho ou em cass cognitive em varias taefas TAs tentatva de fizer o computador demonstrar 0 desempenho cognitivo inceligeate, independence do ‘process ser semelhante 20 proeesso cognitive humane ‘Altamente improvivel Nao se aplica Nao se aplica Altamente improvivel Nio Controle total de variivets de ‘Quase certamente pequeno Provavelmente pequeno ‘Nao se aplica ‘Nii € provavel que seja representative Pode ser representative ‘Nao se aplicn ‘Alla validade ecol6gica para casos Sin No se apliea individuais, baixa generalizagao para outros ‘Sim; informagies rieas em devaihes com E possvel, mas a nase reside Nao se aplica relagdo a individuos nas dstingSes ambientas @ no nas diferengas individuais ‘Acesso a informagbes reas em detalhes _Acesso a informagies contextuais Permit explorar ampla gama de sobre individuos, inclusive contextos_aburdantes que podem nfo estar_possibiidades para modelar processos hhstdricos e atuais, que podem nfo estar disponiveis por outras meios cognitivos: permite testar claramente disponiveis por outros meios; pode levar a para verificarse as hipéteses previram aplicagies especializadas para grupos de com precisi os resultados: pode indivtduas excepcionais (ex. prodigios, levar a grande variedade de pessoas com lesdes cerebrais) aplicagies priticas (ex: robética para ‘odesetnpenho de tarefas perigosas ou ‘em ambientes de cisco) ‘Aplicdvel em outras pessoas; o tamanho Falta de controle experimental: Lirias des impostas por limites de redurido ea nio-tepresentatividade da possivel influgneia no comportamento hardware (ex. circuito do lamostra normalmente limita a raturalista em decorréneia da presenga computador) e de softwere feneralizagdo para a populagdo do observador (ex: programas criados pelos pesquisadores); distingdes entre inteligéncia humana e inteligéncia ‘da méquina ~ mesmo em simulagies ‘com téenicas sfisticadas de modelagem, a5 simulagdes podem modelar imperfeiramente ‘forma como 0 cérebro humane pensa Michael Cole (Gale, Clay, Glick, SimulagGes: por meio de cestudo de caso sobre Charles Darwin, Sharp, 1971) pesquisou membros da__computagdes minuciosas, David Mace ‘explorando a funde o contexte psicolggico ribo Kpelle na Africa, observando de (1982) tentou simular a pereep¢a0 dda criatividade intelectual que mancira as defnigbes de visual humana e propts ura teoria inteligencia dos Kpelle se comparavam de percepgdo visual baseada em seus com as definigdes tradicionais da modelos computacionais inceligencia ocidental, bem como de 1 vétios programas de LA foram «que modo as deinigdes cultrais todos para dernonstnr pects de ieteigancia podem govesnaro (ex jogar xades), mas ees comportamento inteligente progeamas resolver problemas provavelmente ao utilizar processos ‘iferentes daquelesutlzados por peritos humanos 18 Psicologia Cognitiva palavras cachorro, gato, rato, hamster, esquilo, ledo e informar se a palavra ledo aparece, a di- ferenga na reac3o dos tempos pode indicar, grosso modo, a quantidade de tempo que se gasta para processar cada um dos estimulos. . Supde-se que os resultados nas condigdes experimentais mostrem uma diferenga esta- tisticamente significante dos resultados na condigiio de controle. O pesquisador poder en- tao inferir a probabilidade de uma ligagao causal entre as varidveis independentes e as dependentes. Uma vez que o pesqutisador puder estabelecer uma provavel ligagao causal en- tre as varidveis independentes e dependentes oferecidas, os experimentos controlados em laboratério oferecem um excelente método para se testar hipéteses. Por exemplo, supondo que se quisesse verificar se rufdos altos e perturbadores exercem influéncia na capacidade de se desempenhar bem uma determinada tarefa cognitiva (ex.: ler um capitulo de um livro didético ¢ responder aos exercicios de fixagao). Em termos ide- ais, se deveria selecionar uma amostra aleatéria de participantes do total da populacaio de interesse. A seguir, se designaria aleatoriamente a cada participante as condigées de trata- mento ou de controle. Depois, se introduziriam alguns cu(dos altos aos participantes na con- digSo de tratamento. Em seguida, se apresentaria uma tarefa cognitiva aos participantes das duas condigdes: experimental e de controle. Seria possivel, ento, medir seus desempenhos pot meio de alguns meios (ex.: velocidade e precisdo das respostas as perguntas de compre ensio). Finalmente, os resultados seriam analisados estatisticamente. A partir disso, seria possivel examinar se a diferenga entre os dois grupos atingiu significincia estatistica. Su- pondo que os participantes na condigao experimental tenham mostrado desempenho infe- rior Aquele dos participantes na condigao de controle, em termos de significAncia estatfstica, dessa maneira, seria possivel inferir que ruidos altos e distrativos certamente influenciaram a capacidade de um bom desempenho nessa tarefa cognitiva especifica ‘Na pesquisa cognitivo-psicolégica, as variéveis dependentes podem ser muito diversifica- das, mas geralmente compreendem vérias medidas de resultados de preciso (ex.: frequén- cia de erros), de tempos de resposta ou de ambos. Dentre as intimeras possibilidades para as varidveis dependentes estdo as caracteristicas da situacdo, da tarefa ou dos participantes. Por exemplo, as caracteristicas da situago podem compreender a presenga versus a ausén- cia de determinados estimulos ou certas pistas no decorrer de uma tarefa de resolugio de problemas. As caracteristicas da tarefa podem envolver leitura versus escuta de uma sé- rie de palavras e, em seguida, responder as perguntas de compreensdo. As caracteristicas dos participantes podem incluir diferengas etarias, diferengas na situagao de escolaridade ou até baseadas em classificagaio em testes. De um lado, as caracter(sticas da situago ou tarefa podem ser manipuladas por meio de atribuiggo aleatéria dos participantes tanto do grupo de tratamento como do grupo de con- trole e, de outro, as caracteristicas do participante no sao facilmente manipuldveis em ter- mos experimentais. Por exemplo, supondo que o pesquisador queira estudar os efeitos do envelhecimento sobre a velocidade e a preciso na resolugao de problemas. O pesquisador nao podera atribuir de modo aleatério a varios grupos etétios porque a idade das pessoas no pode ser manipulada (embora participantes de varios grupos etdrios possam ser distribuidos aleatoriamente nas varias condigdes experimentais). Nesses casos, o pesquisador sempre pode usar outros tipos de estudos, como aqueles que compreendem corvelagdo (relagao esta- tistica entre dois ou mais atributos, por exemplo as caracteristicas dos participantes ou as da situagdo). As correlagées normalmente se expressam por meio de coeficientes de correlagaio conhecidos como r de Pearson, que € um ntimero que pode ir de -1.00 (correlagao negativa) passando por 0 (sem correlacao) até 1.00 (correlacao positiva). Capfeulo 1 # Introdugio Psicologia Cognitiva 19 A correlagao € a descrigao de uma relacio. O coeficiente de correlacao descreve a forga dessa relagdo. Quanto mais préximo do 1 estiver o coeficiente (tanto positivo quanto ne- gativo), mais forte ser4 a relagao entre as varidveis. O sinal (positivo ou negativo) do coe- ficiente descreve a diregao dessa relagao. Uma relagao positiva indica que, enquanto uma varidvel aumenta (ex.: tamanho do vocabuldrio), outra varidvel também aumenta (ex.: compreensio de leitura). Uma relagdo negativa indica que & medida que uma variével au- menta (ex.: fadiga), a medida da outra diminui (ex.: vigilancia). Quando nao hé cortela- 40, ou seja, quando 0 coeficiente € 0, indica que nao existe padrao ou relagao na alteragao das duas varidveis (ex.: inteligéncia e 0 comprimento do lobo da orelha). Nesse caso, am- bas as varidveis podem mudar, mas no variam juntas dentro de um padrao consistente. Conclusdes sobre relagGes estatisticas sao altamente informativas. Seu valor nao deve ser subestimado. Além disso, uma vez que os estudos correlacionais nao exigem atribuigao aleatéria de participantes nas condi¢des experimental ou de controle, esses métodos podem ser aplicados com flexibilidade. Entretanto, tais estudos geralmente nao permitem inferén- cias inequivocas com relago 4 causalidade. Como consequéncia, muitos psicélogos cogni- tivos, na maioria das vezes, preferem utilizar dados experimentais a dados correlacionais. Pesquisa Psicobiolégica Por meio da pesquisa psicobiolégica, os cientistas estudam a telagdo entre desempenho cog- nitivo, eventos e estruturas cerebrais, O Capitulo 2 descreve varias técnicas especificas utilizadas na pesquisa psicobioldégica, que em geral sao classificadas em trés categorias. A primeira é a das técnicas de estudo do cérebro de um individuo post-mortem, estabelecendo telagdes da fungao cognitiva deste individuo antes da morte para a observacao das caracte- risticas do cérebro. A segunda categoria compreende as técnicas de estudo das imagens que mostram estruturas ou atividades no cérebro de um individuo sabidamente com deficit cog- nitivo. A terceira categoria compreende as técnicas para obtengio de informagio a respeito dos processos cerebrais durante o desempenho normal de uma atividade cognitiva Os estudos post-mortem ofereceram os primeitos insights a respeito de como lesdes espe- cificas podem estar associadas a determinados deficits cognitivos. Esses estudos continuam a oferecer insights de grande utilidade, de como o cérebro influencia a fungdo cognitiva. Re- centes avangos tecnoldgicos também estio possibilitando, cada vez mais, o estudo de indi- viduos com reconhecidos déficits cognitivos in vivo (enquanto 0 individuo ainda est vivo). Oestudo de individuos com funcées cognitivas disfuncionais vinculadas a lesées cerebrais, geralmente, possibilita a compreensao das fungées cognitivas normais. ‘Além disso, 0s psicobiologistas esto estudando alguns aspectos do funcionamento cog- nitivo normal por meio do estudo da atividade cerebral em sujeitos animais. Em geral, a pes- quisa é feita com sujeitos animais para experimentos que compreendem procedimentos neurociniitgicos que nao poderiam ser realizados com seres humanos por serem diffceis, an- tiéticos ou até mesmo impraticdveis. Por exemplo, estudos mapeando a atividade neural no cértex so realizados em gatos e macacos (ex.: a pesquisa psicobioldgica sobre como o cére- bro responde a estimulos visuais; ver Capitulo 3). © funcionamento cognitivo e cerebral dos animais e de humanos com deficits pode ser generalizado e aplicado ao funcionamento cognitive e cerebral de humanos normais? Os psicélogos responderam a essas questSes de varias maneiras. A maioria vai além do escopo deste capitulo (ver Capitulo 2). Apenas como exemplo, para alguns tipos de atividade cog- nitiva, a tecnologia disponivel permite aos pesquisadores estudar a atividade cerebral dind- mica dos participantes humanos normais durante o processamento cognitivo (ver técnicas de imagem do cérebro descritas no Capitulo 2). 20 Psicologia Cognitive Autoavaliagées, Estudos de Caso e Observasao Naturalistica : Geralmente, os experimentos individuais e estudos psicoldgicos concentram-se na especifi- cago dos aspectos discretos da cogni¢ao nos individuos. Para se obter informagées ricas em. detalhes sobre a maneira como determinados individuos pensam — dentro de uma ampla gama de contextos — 0s pesquisadores poderio usar outros métodos, que incluem as autoava- liagdes (relato dos processos cognitivos feito pelo proprio individu), os estudos de caso (estu- dos individuais profundos) e a observagao naturalistica (estudos detalhados do desempenho cognitivo em situagSes cotidianas ¢ contextos fora do laboratério). De um lado, a pesquisa experimental é extremamente util para testar hipéteses. Por outro, a pesquisa com base nas autoavaliagdes, estudos de caso e observagdo naturalistica, sio, geralmente, Gteis na formulag3o das hipsteses. Esses métodos também sdo muito titeis na geragdio de descrigdes sobre eventos raros ou de processos em que nao se disponha de outra forma de mensuracao. Em situagdes muito especificas, esses métodos so a tinica forma de se coletar informa- go. Um exemplo € o caso de Genie, uma menina que ficou trancada em um quarto até os 13 anos, apresentando graves e limitadas experiéncias sociais e sensoriais. Como consequén- cia do aprisionamento, ela apresentava graves deficits fisicos e nenhuma habilidade linguts- tica. Por meio de métodos de estudos de caso, coletou-se informagao a respeito de como ela conseguiu aprender a linguagem mais tarde (Fromkin et al., 1974; Jones, 1995; La Pointe, 2005). Nao seria ético, do ponto de vista experimental, privar uma pessoa de estimulagdes linguisticas em seus primeiros 13 anos de vida. Assitn sendo, os métodos de estudos de caso sG0 a Unica maneira razodvel de se avaliar os resultados de alguém a quem foi negada a ex- posigao ao ambiente social e & linguagem. Da mesma maneira, uma lesio cerebral traumética ndo pode ser manipulada em huma- nos no contexto laboratorial. Assim sendo, sempre que uma lesio cerebral traumatica ocorre, os estudos de caso so a tinica forma de se coletar informagdo. Por exemplo, 0 caso de PI neas Gage, um operério de ferrovia que, em 1848, foi atingido, durante um acidente, no lobo frontal por uma enorme ponta de metal (Damasio et al., 1994). Surpreendentemente, Gage sobreviveu, mas seu comportamento bem como seus processos mentais foram drasticamente alterados. Certamente, nao é possivel inserit-se uma ponta de metal no cérebro dos partici- pantes em um experimento. Portanto, no caso de uma lesio cerebral traumatica, pode-se confiar unicamente nos métodos de estudos de caso para a coleta de informagGes. ‘A confiabilidade dos dados com base nos varios tipos de autoavaliages depende da franqueza dos participantes ao oferecer os relatos. E possivel que um participante nao relate corretamente a informagio sobre seus processos cognitivos por varios motivos. Esses moti- vos podem ser tanto intencionais como nao intencionais. Os relatos incorretos do tipo intencionais podem incluit a tentativa de editar informagdes desagradéveis. Os relatos in- corretos do tipo nao intencionais podem ocorrer pelo nao-entendimento das perguntas ou mesmo da impossibilidade de se lembrar corretamente da informagio. Por exemplo, sempre que © participante € solicitado a dizer quais estratégias para resolugdo de problemas ut zava quando estava no ensino médio, é possivel que ele (ou ela) nao lembre. O participante pode tentar ser completamente honesto em scus relatos. Entretanto, relatos que contém in- formagdio rememorada (ex.: didrios, relatos retrospectivos, questiondrios e surveys) sfio no- tadamente menos confidveis do que os relatos provenientes durante 0 processamento cognitivo que estd sob investigagao. A razao é que os participantes, por vezes, se esquecem do que fizeram. Quando estudam processos cognitivos complexos, tais como a resolucao de problemas ou a tomada de decisdo, os pesquisadores geralmente usam um protocolo verbal. No protocolo verbal os participantes descrevem seus pensamentos e ideias em voz alta du- rante o desempenho de uma determinada tarefa cognitiva (ex.: “Gosto mais do aparta- mento com piscina, mas nao posso pagar por ele e, portanto, eu talvez escolha outro.”). Capitulo 1 # Introdugio a Psicologia Cognitiva. 21 Uma alternativa para o protocolo verbal € que os participantes relatem informagées es- pecfficas com relagdo a um determinado aspecto de seu funcionamento cognitivo. Por exemplo, o estudo de uma criteriosa resolugao de problemas (ver 0 Capitulo 11 - “Resolu- gio de problemas e criatividade”). Os sujeitos foram solicitados a relatar — em intervalos de 15 segundos -, em ordem numérica, o qudo sentiam-se préximos de aleangar uma solugao para um determinado problema. Infelizmente, até mesmo esses métodos de autorrelatos tém suas limitagdes. Por exemplo, o funcionamento cognitive pode ser alterado pelo ato de en- trega do relatério (ex.: processos envolvendo formas sucintas de meméria; ver 0 Capitulo 5). Outro exemplo so processos cognitivos que ocorrem fora da conscientizagao (ex.: pro- cessos que no exigem atengo consciente ou que ocorrem to rapidamente que passam des- percebidos; ver Capitulo 4). Para se ter uma ideia de algumas das dificuldades com os autorrelatos, exercite as tarefas apresentadas no quadro “Investigando a Psicologia Cogni- tiva”. Reflita a respeito de suas proprias experiéncias com autortelatos. Tarefas INVESTIGANDO- 1. Sem olhar para os sapatos, tente relatar — em voz alta ~ as varias A PSICOLOGIA etapas envolvidas no ato de amarré-los. COGNITIVA 2. Lembre-se — em vor alta — do que vocé fez em seu tiltimo aniversé 3. Agora, amarre os sapatos (ou qualquer outra coisa, como um. barbante em volta do pé da mesa}, relatando — em voz alta — todas ‘as etapas que isso demanda. Vocé percebe as diferengas entre a tarefa 1 e a tarefa 3? 4. Relate - em voz alta - como vocé trouxe & consciéncia todas as ‘tapas necessdrias para amarrar o sapato ou as lembrangas do seu tiltimo aniversério. Vocé consegue relatar exatamente de que forma trouxe as informagdes até o nfvel consciente? Consegue relatar que parte do seu cérebro estava mais ativa durante a execugo da cada tarefa? Faga com a metade de um grupo de amigos — um por um — uma das séries de pergun- tas abaixo, ¢ com a outra metade, a outra série, Peca-thes que respondam 0 mais rapido posstvel. Grupo 1: O que o bicho-da-seda tece? Qual o tecido famoso que vem do bicho-da-seda? O que as vacas bebem? Grupo 2: (© que as abelhas fazem? O que cresce no campo e depois se transforma em tecido? © que as vacas bebem? Muitos dos seus amigos, ao chegarem a pergunta 3 do grupo 1, dirdo “leite”, quando todo mundo sabe que as vacas bebem Agua. A maioria das pessoas que responde as questées do grupo 2 diré “Agua”, e nao “leite”. Vocé conduziu: um experimento. O método experi- mental divide as pessoas em grupos iguais, altera um aspecto entre os dois grupos (no seu caso, vocé fez uma série de perguntas antes de fazer a pergunta critica) e, em seguida, mede as diferengas entre os dois grupos. Q que vocé estaré medindo é a quantidade de erros, e, 22 Psicologia Cognitiva € possivel, que os seus amigos do grupo 1 apresentem mais erros do que os do grupo 2, pois estabeleceram 0 conjunto errado de suposigSes para responderem &s perguntas. Os estudos de caso poderao ser utilizados como conclusdes complementares de experi- mentos laboratoriais, por exemplo, o estudo de individuos excepcionalmente dotados e as observacGes naturalisticas, ou seja, a observagao de individuos que trabalham em usinas nu- cleares. Esses dois métodos de pesquisa cognitiva oferecem alta validade ecol6gica, o grau no qual as conclusdes especfficas em um contexto ambiental podem ser consideradas relevan- tes fora daquele contexto. Como se sabe, a ecologia é 0 estudo da interago entre um ou mais organismos e o seu ambiente. Muitos psicdlogos cognitivos buscam entender a interagio. entre o funcionamento do pensamento humano ¢ os ambientes nos quais os seres humanos estdo pensando. As vezes, processos cognitivos que comumente sao observados em outro contexto (ex.: no laboratério) nao so idénticos Aqueles observados em outro (ex.: uma torre de controle de tréfeyo aéreo ou uma sala de aula). Simulagées por Computador e IA Os computadores digitais desempenharam importante papel no surgimento do estudo da Psicologia Cognitiva. Um tipo de influéncia é a indireta — por meio de modelos da cognigao humana que tomam por base a maneira como os computadores processam informacées. ‘Outro tipo € a influéncia direta — por meio de simulagdes por computador IA. ‘Nas simulagdes por computador, os pesquisadores programam computadores para imi- tarem uma determinada fungao ou um determinado processo humano. Entre os exemplos esto o desempenho em tarefas cognitivas especificas (ex.: manipulagiio de objetos no es- pago tridimensional) e o desempenho de determinados processos cognitivos (ex.: reconhe- cimento de padrdes). Alguns pesquisadores, inclusive, ja tentaram criar modelos de computador envolvendo toda a arquitetura cognitiva da mente humana. Esses modelos pro- piciaram acaloradas discusses sobre o funcionameto da mente humana como um todo (ver © Capitulo 8). As vezes, a diferenca entre a simulagio e a IA é dificil de ser delimitada. Por exemplo, certos programas que so projetados, simultaneamente, para simular o desempe- nho humano e maximizar o seu funcionamento. Consideremos, por exemplo, um programa que jogue xadrez. Existem duas maneiras to- talmente diferentes para conceituar a escrita desse programa. Uma delas ¢ chamada de forga bruta, ou seja, constréi-se um algoritmo que considere jogadas muito importantes em pe- quenos periodos, potencialmente vencendo jogadores humanos simplesmente por conta do niimero de jogadas que o programa possui e as probabilidades das futuras consequéncias des- sas jogadas. © programa seria considerado um sucesso & medida que vencesse os melhores jogadores humanos. Esse tipo de [A nao busca representar como os seres humans funcio- nam, mas, se bem feito, ele poderd produzir um programa que joga xadrez em altfssimo nf- vel. Uma abordagem alternativa, a da simulagdo, leva em conta a maneira como 0s grandes mestres solucionam seus problemas de xadrez e, em seguida, busca funcionar 4 maneira da- queles. © programa seria considerado um sucesso se conseguisse escolher, numa sequéncia de jogadas em uma partida, as mesmas jogadas que um grande mestre escolheria. Também é possivel a combinagao de duas abordagens para produzir um programa que, de modo geral, simula o desempenho humano, mas também usa da forga bruta para, se ne- cessirio, vencer 0 jogo. Juntando Tudo Os psicélogos cognitivos geralmente ampliam e aprofundam 0 conhecimento por meio de ‘pesquisas em Ciéncia Cognitiva. A Ciéncia Cognitiva é um campo multidisciplinar que se utiliza de ideias ¢ métodos da Psicologia Cognitiva, da Psicobiologia, da 1A, da Filosofia, da Lingufstica e da Antropologia (Nickerson, 2005; Von Eckardt, 2005). Os cientistas cognitivos usam essas ideias e métodos para enfatizar o estudo de como os seres humanos

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