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Maria Teresa Brocardo HISTORIA DA LINGUA PORTUGUESA Relatério da Disciplina UNIVERSIDADE NOVA DE LISBOA Faculdade de Ciéncias Sociais e Humanas 2006 Relatério da disciptina a apresentar em provas para obtencio do grau de agregada no Grupo de Linguistica, Disciplina de Historia da Lingua Portuguesa indice Nota prévia.... 2 2 A—Enquadramento da disciplina de Historia da Lingua Portuguesa 3 1, Enquadramento geral 5 2, Enquadramento nos curriculos das Licenciaturas da Faculdade de Cigncias Sociais ¢ Humanas....oesesn 2.1. Licenciaturas em Linguas e Literaturas Modernas. 2.2. Licenciatura em Linguist 2.3. Licenciatura em Cigneias da Linguagem Referéncias bibliograficas e documentos consultados B ~ Objectivos, programa e contetidos.... 27 3. Objectives 4, Programa ¢ conteiido: 4.1, Apresentagao geral do programa de Historia da Lingua Portuguesa, 31 4.2, Ligagdo com 0 programa de Linguistica Historica 3 4.3. Contetidos... soon 36 C-Bibliografia 5. Critérios gerai 2 3 a 7 6. Bibliografia 6.1. Obras de referéneia e outros titulos de ambito geral sobre © portugués e a hist6ria da lingua portuguesa .. 6.2. Formacio do portugués : 6.3. Portugués da época medieval : oo 6.4. Historia do portugués a partir da época classica 85 6.5. O portugués actual numa perspectiva histOrica ......cccsseseeenne 88 73 D~ Actividades educativas da unidade curricular e avaliagio.. 7. Descrigio das actividades educativas. 8, Métodos de ensino e avaliagao. 1 Anexo Textos dos séculos XII a XIV — complemento da bibliografia sobre © portugués da época medieval (6.3.). ANT Nota prévi E no Ambito da histéria da lingua portuguesa que tenho desenvolvido a maior parte do meu trabalho de docéncia e investigagao, o que constitui a principal justificagao da opgio de apresentar, como parte do processo de candidatura a provas de agregagio, um relatério sobre a referida disciplina, Quando, em Julho de 2000, me apresentei ao concurso aberto na Universidade Nova de Lisboa para professor associado do grupo de disciplinas de Linguistica, o relatério que entio elaborei incidiu j4 sobre a disciplina de Historia da Lingua Portuguesa. © referido relatério incluia, na verdade, dados sobre © “programa, conteados e métodos" das duas dil iplinas semestrais, Historia da Lingua Portuguesa Ie Historia da Lingua Portuguesa II, que entdo e até ao presente integravam 0 curriculo da Licenciatura em Linguistica e de algumas variantes das Licenciaturas de Linguas ¢ Literaturas Modernas. Trata-se, naturalmente, de relatérios muito diferentes tendo em conta varios aspectos, desde o que se espera ser o desenvolvimento e actualizagao indispensiveis na leceionagio de um disciplina de nivel universitirio, até ao diferente enquadramento da historia da lingua portuguesa nos cursos da Faculdade de Ciéneias Sociais e Humanas, fruto de diferentes opgdes curriculares e/ou imposto por sucessivas reestruturagdes, que procurarei descrever noutro lugar deste documento (cf. 2). Haveré, no entanto, inevitavelmente, repetigdes a assinalar entre os dois documentos, sobretudo no que respeita a alguns “contetidos” ¢ referéncias bibliogrificas, e esta nota pretende justamente assinalar esse facto. A~Enquadramento da disciplina de Historia da Lingua Portuguesa 1, Enquadramento geral 2. Enquadramento nos curriculos das Licenciaturas da Faculdade de Ciéneias Sociais ¢ Humanas 2.1. Licenciaturas em Linguas ¢ Literaturas Modernas 2.2. Licenciatura em Linguistica 2.3. Licenciatura em Ciéneias da Linguagem Referéncias bibliograficas e documentos consultados A~Enquadramento da disciplina 1. Enquadramento geral A—Enquadramento da disciplina de Historia da Lingua Portuguesa 1, Enquadramento geral A designagao adoptada para a disciplina — Histéria da Lingua Portuguesa — corresponde essenci mente A continuidade de uma tradigio jé longa do ensino de matérias que tém como especificidade caracterizadora 0 facto de adoptarem uma abordagem diacrénica do estudo do portugués. As orientagdes possiveis no ensino des 1s matérias sfio, & partida, muito diversas e dificilmente poderiam ser todas incluidas, na sua diversidade, na leccionagdo de uma iinica unidade curricular, Assim, procurarei comegar por apresentar sumariamente as varias vertentes que integram potencialmente a disciplina, tendo em conta a abrangéneia da area disciplinar em que ela se integra, de modo a poder precisar a orientagao escolhida, que decorre quer de opedes tedricas e¢ metodoldgicas, quer de condicionamentos inerentes ao seu enquadramento nos curriculos em que a disciplina é oferecida aos estudantes. Uma disciplina que tem como objecto de estudo a diacronia de uma dada lingua, independentemente da designagdo que ostenta (Historia da Lingua, Gramatica Historica, Linguistica Historica ou Diacrénica)', inclui em principio varias vertentes ¢ varias ligagdes pluri ¢ interdisciplinares. Tradicionalmente, a historia da lingua portuguesa desenvolveu-se, como de um modo geral a linguistica romanica historica, em diferentes abordagens, que podem ser elencadas na consulta das principais obras dos seus estudiosos (¢ no dou aqui sendo uma relagdo de itens muito genéricos): a gramatica histérica (ou simplesmente “diacronia", como por vezes é designada), a filologia, a dialectologia. A histéria da lingua vai-se assim definindo como a ligagdo destas vertentes, com 0 objectivo iiltimo de, através do desenvolvimento de todas elas, ir aprofundando © conhecimento do percurso histérico da lingua, enquadrado na histéria dos seus falantes, na classica interligagao de historia interna e histéria extema. Se se admitir dicotomia, terei de comegar por sumir que a orientagio que tenho adoptado na docéneia de Historia da Lingua Portuguesa privilegia decididamente a vertente a que convencionou chamar-se histéria "interna", com o que pretendo dizer que a unidade curricular proposta se define essencialmente como uma disciplina linguistica e, enquanto tal, comega por estar enquadrada na area disciplinar mais abrangente de linguis ica portuguesa. Tenho defendido o ensino da histéria da lingua que nao significa, evidentemente, que a escolha da designagdio seja arbitriria, podendo antes ser indicativa do tipo de orientagao adoptado. A~Enquadramento da disciplina 1. Enquadramento geral como complemento essencial do conhecimento do funcionamento da lingua nos seus varios niveis (fonoligico, morfoldgico, sintictico, seméntico), que € objecto de diferentes disciplinas em que normalmente se desenvolvem abordagens estrita ou predominantemente sinerénicas. Esse conhecimento é indispensivel, pelo menos a um nivel geral, como base para a comparagio explicita ou implicitamente envolvida na andlise de formas e estruturas de fases passadas da lingua, que naturalmente se processa com referéncia 4 lingua contemporinea (idealmente tendo em conta a sua variacao). Note-se, porém, que a aludida dicotomia histéria interna / externa deveria em rigor ser superada pela propria definigo de “historia da lingua", que, pelo menos segundo alguns autores, obrigatoriamente implica uma relagio das duas vertentes. Ao definir 0 seu objecto, Castro (1991: 15) precisa que «os factos linguisticos devem ser permanentemente correlacionados com factos historicos, que os condicionaram.» Neste sentido, portanto, nenhuma das vertentes em si corresponderia a uma definigao adequada do objecto da disciplina E bem sabido, porém, que o estabelecimento da relagio entre os factos linguisticos — em diacronia, as mudangas — ¢ nfo linguisticos — os factores condicionantes de natureza extralinguistica — constitui justamente uma das tarefas mais complexas do historiador da lingua, Esta complexidade decorre, no essencial, daquilo que genericamente & designavel por limitagdes do registo histérico, que restringem a nossa possibilidade de recuperar dados sobre as circunstncias especificas em que tais "factos" terdo ocorrido € se terio mutuamente condicionado. Note-se também que a mera definigdio de "factos" nao linguisticos potencialmente relevantes neste contexto é ambigua, visto que poder incluir nfo sé dados de natureza propriamente factual, identificaveis e cronologicamente localizaveis de forma razoavelmente rigorosa — uma guerra, uma epidemi uma alteragio de regime politico -, mas também "factos” cuja identificagdo e localizagao cronolégicas implicam ja uma interpretagdo por parte do estudioso (historiador da lingua ou historiador tour court), como, por exemplo, consequéncias de varia ordem (sociais, culturais) de factos histori cos propriamente ditos. Por outro lado, € como tem também ja sido notado, & excepgdio de mudangas induzidas por contacto, o condicionamento da mudanga Linguistica por factores nao linguisticos sé & geralmente evidente em termos da sua expansio, nfio do seu A~Enquadramento da disciplina 1. Enquadramento geral accionamento ("actuation”, no sentido de origem da mudanga ou «the initial spread of an ineipient change», MeMahon 1994: 252). No desenvolvimento da disciplina de mbito mais geral ¢ objectives mais explicitamente teorizantes ~ a linguistica histérica (ou diacrénica)? — tém-se dividido os estudiosos na importincia a atribuir aos factores extemos no condicionamento da 0 de mudanga linguistica, Correndo 0 ris implificar excessivamente a questio, as abordagens variacionistas, em particular de orientago sociolinguistica, tém enfatizado a importincia da difuséo da mudanga, encarando-a mesmo como integrada na sua propria definigo, nas palavras de Labov (1994: 45, n. 2): «(...) the language has not in effect changed unless the change is accepted as part of the language by other speakers». de accionamento e transmi Assim, nao seria relevante a distin« Noutras abordagens, pelo contririo, assume-se uma separagio clara entre origem ¢ difusdio da mudanga, mesmo admitindo, nalguns casos, que essa separago pode ser demasiado simplificadora (cf, Dressler 2003: 462), mas de qualquer modo defendendo que 0 estudo da mudanga deve sobretudo ou em primeiro lugar centrar-se na mudanga em si mesma, visto que os factores que a condicionam (factores linguisticos) sio essencialmente diferentes dos factores que determinam a sua expansio (factores nio linguisticos), reflectindo ainda o registo histérico ("historical record") de uma dada fase de uma lingua as limitagdes dos registos documentais, objecto de estudo de disciplinas consideradas distintas, como a filologia ou a histéria (Hale 2003: 344-345). Em qualquer caso, parece evidente o beneficio que resultard para o desenvolvimento do estudo da historia de uma lingua a constante procura de da dis: tegragaio isso te6rica mais tipicamente desenvolvida em linguistica histérica. Ao descrever ¢ procurar explicar as mudangas ocorridas numa lingua particular, 0 estudioso depara-se, inevitavelmente, com muitas das questes que a teoria tem procurado resolver, competindo ao historiador da lingua formuli-las em concreto, eventualmente aferindo a adequaco de diferentes abordagens tedricas desenvolvidas no Ambito mais geral da linguistica historica. Alguns autores consideram que as designagdes niio slo equivalentes, nomeadamente no que se refere a0, papel atribuido aos factores nfo linguisticos ou externos, como Marchello-Nizia (1995: 28): "La linguistique historique prend en charge aussi bien histoire externe que l'histoire interme, ce que ne fait ppas la linguistique diachronique”. Ao contrario, tomo os termos em si como neutros nesse sentido, centendendo que as diferengas relativamente ao aspecto mencionado se relacionam antes com opgdes te6ricas decorrentes dos diferentes modelos adoptados e no com a definicao prévia da(s) disciplina(s). A~Enquadramento da disciplina 1. Enquadramento geral Mas ha uma actividade prévia que se impde no estudo histérico de uma lingua, que & a da recuperagao dos proprios dados, no directamente acessiveis mas mediados por diferentes tipos de fontes. A necessidade de comegar por criticar e analisar fontes, em particular fontes textuais, determina que uma boa parte do estudo da histéria da lingua é ocupada com diferentes tipos de actividades de critica e andlise dos textos fonte, envolvendo aspectos metodolégicos mas também objecto possivel de teorizacao. O estudo dos textos, ou "filologia” (de acordo com a acepgio mais geral do termo’) implica muitas vezes o recurso ainda a outras disciplinas, por vezes designadas auxiliares" (cf. Castro 2004: 92-94), que, com diferentes objectivos, concorrem, numa abordagem filolégica e em fungao de um estudo hist6rico da lingua, para a recuperagdo. de dados linguisticos fidveis, cronolégica e espacialmente localizados e autoralmente identificados. Se algumas destas diseiplinas so de certo modo independentes ou prévias 4 anilise Linguistica (como a codicologia), na generalidade tém com esta uma relagdo que & mais propriamente de colaborag’io — a decifragao de um diploma, a colagio de testemunhos de um texto ou, evidentemente, um estudo scriptolégico pressupdem uma abordagem das formas eseritas que passa também pelo estudo linguistico. Ha, pois, uma forte inter-relagdo entre a exploragdo linguistica das fontes textuais, que tem como objectivo tiltimo recuperar os dados linguisticos relativ abordagens dessas mesmas fontes enquadradas noutros dominios diseiplinares, Assim se constréem, pois, no trabalho desenvolvido em histéria da lingua portuguesa, uma série de ligagdes entre diferentes disciplinas, linguisticas © nao linguisticas, cujo contributo é indispensavel numa abordagem completa e coerente da vertente di énica de um dado sistema linguistico. Em sintese, a historia da lingua portuguesa enquadra-se na area mais abrangente da linguistica portuguesa, dentro da qual se caracteriza distintivamente por adoptar uma abordagem especificamente diacrénica do estudo do portugués, que parcialmente coincide com uma abordagem diacrénica do estudo da familia linguistica romanica, assim se ligando também, portanto, a linguistica romanica. Como a historia de qualquer lingua, liga-se linguistica historica, disciplina de ambito geral que procura construir * A designagio "Filologia" torna-se, por vezes, ambigua, dadas as diferentes acepgdes com que & ‘empregue, em diferentes tradigées de estudo e/ou em diferentes autores. Nuns casos é usada como Singnimo do "Critica Textal",noutosrefere um tipo de trabalho sobre o text que incl jo su esta linguistic, E nesta aitima acspeio, mais abrangent, que uso 0 term, Sobre a questo, vias, por ‘exemplo, Castro (1995) ¢ também os varios artigos incluidos em Fisiak (1990), em especial os de Man eras, Rissanene Post. A~Enquadramento da disciplina 1. Enquadramento geral teorias, de que decorrem diferentes métodos, sobre o fendmeno geral da mudanga, inerente as linguas humanas ¢ em todas elas incidindo, Em Ambitos mais especificos, liga-se preferencialmente com diferentes disciplinas que se debrugam sobre a variagdo linguistica, no espago e na sociedade, como a dialectologia e a sociolinguistica, dada a Jj assumida inter-relagio variagio / mudanga. Finalmente, as condigdes de acessibilis lade dos dados linguisticos relatives ao pasado impdem uma ligagdo, ‘metodologicamente essencial, com disciplinas que lidam com as fontes. Resta referir a necessidade de contextualizar historicamente o pereurso da lingua, de modo a poder equacionar-se a relagio de factos linguisticos e nao nguisticos, nomeadamente procurando identificar os diferentes tipos de condicionamento que os segundos poderio ter determinado sobre os primeiros, Trata-se de um tipo de diseussio que a disciplina mais geral também assume, como ja antes foi brevemente referido, mas em que o historiador da lingua tera certamente uma importantissima intervengao, visto que se concentra na observago de um sistema linguistico em particular ¢ no tragado da sua evolugio em conereto, enquadrada espacial ¢ temporalmente A breve exposigao feita neste ponto teve sobretudo o objectivo de sublinhar a diversidade e riqueza potenciais do ambito da disciplina. Porém, como ja observei, essas caracteristicas, que so em meu entender definitorias da historia da lingua portuguesa, dificilmente serdo compativeis com a concentragdo numa unidade curricular, isto é com © facto de, na pritica, os estudantes disporem no seu curriculo de uma ‘nica disciplina semestral que Ihes poder proporcionar formagdo especifica sobre a diacronia da lingua matema (cf. 2). Na pritica, portanto, havera inevitveis truncamentos, ndo s6 de contetidos (€ esses serdo até, eventualmente, os menos relevantes) mas também e sobretudo de uma abordagem sob diferentes perspectivas, que pudesse de algum modo dar conta da diversidade potencial do trabalho desenvolvido em histéria da lingua portuguesa Assumindo esta inevitabilidade, nao ereio, porém, que a alternativa seja uma opgo por mprimir a leccionago da disciplina uma orientacao excessivamente dirigida, por exemplo, para um tinico tipo de abordagem, Se tal opgdo teria a vantagem de permitir um trabalho mais aprofundado sobre uma dada tematica e dentro de um dado enquadramento tedrico-metodolégico, creio que se perderia a oportunidade de apontar a diversidade que caracteriza a disciplina, nas diferentes ligagdes que foram referidas, ¢ A~Enquadramento da disciplina 1. Enquadramento geral que so dela caracteristicas essenciais. Haverd, portanto, na orientagdo proposta para a disciplina de Histéria da Lingua Portuguesa, ¢ que mais desenvolvidamente justificarei adiante, essencialmente a opgio por alguma abrangéncia, em termos de contetidos enquadramentos, opgdo que procura também de algum modo corresponder ao tipo de formagao mais geral que se pretende para uma formagio ao nivel de 1° ciclo (mais ccurto), que pos ser desenvolvida e aprofundada num 2° cielo. Sendo, pois, essencial nesta discussio 0 enquadramento curricular da disciplina oferecida aos estudantes, ocupar-me-ei desse aspecto no ponto seguinte, antes de avangar para a definigao dos objectivos gerais e especificos que enformam o programa proposto. 10 ‘A~ Bnquadramento da disciplina 2, Bnquadramento nos curriculos das Licenciaturas 2, Enquadramento nos curriculos das Licenciaturas da Faculdade de Ciéncias Sociais e Humanas Comegarei por mencionar resumidamente as sucessivas alteragdes verificadas no funcionamento da disciplina de Historia da Lingua Portuguesa decorrentes dos seus diferentes enquadramentos, resultantes de reestruturagdes curriculares ¢ criagdo de cursos desde o inicio da minha actividade docente na Faculdade de Ciéncias Sociais ¢ Humanas (1986/1987), terminando com uma referéncia ao seu enquadramento nos curriculos actuai 24, enciaturas em Linguas e Literaturas Modernas A disciplina de Histéria da Lingua Portuguesa comegou por funcionar como disciplina anual obrigatéria do plano curricular da. Licenciatura em Linguas © Literaturas Modernas (LLM), vat ite de Estudos Portugueses (EP), e como um dos ica IV, dos planos curriculares das Licenciaturas em LLM das variantes bidisciplinares com a programas alternatives que constituiam a disciplina designada Lingut: componente de Portugués (com Francés (PF), Inglés (PI) e Aleméo (PA)), cujos alunos podiam optar entre Historia da Lingua Portuguesa ¢ outra disciplina da érea da linguistica, entre as quais, Anilise do Discurso, Lexicologia e Semantica e Enunciagao. Tal como de um modo geral as restantes disciplinas dos cursos da FCSH (com a principal excepgao das disciplinas de lingua estrangeira), a Histéria da Lingua Portuguesa funcionava em aulas te6rico-praticas, com uma carga hordria semanal de 4 horas distribuida por duas sessées. Em ambos os casos mencionados era uma disciplina do 4” ano, ocorrendo, portanto, na fase terminal da formagao curricular dos estudantes ‘A tinica excepgao a este tipo de enquadramento curricular ocorreu pontualmente num dos ramos da Licenciatura em LLM, variante de Estudos Ingl s ¢ Alemées, em que a Historia da Lingua Portuguesa funcionou como disciplina obrigatéria do 3° ano, situagdo logo corrigida, uma vez que os estudantes nao dispunham da formagao basica em linguistica portuguesa indispensével & compreenso das matérias leccionadas. As principais alteragdes que a disciplina veio a sofrer na integragao nos planos curriculares das licenciaturas de LLM incidiram no seu caricter de obrigatoriedade ou optatividade, decorrentes de virias reestruturagdes das mesmas. O mesmo tipo de ul ‘A~ Bnquadvamento da disciplina 2, Enquadramento noe curriculos das Licenciaturas alteragdes afectou, de resto, outras disciplinas de linguistica portuguesa, como Fonologia e Morfologia do Portugués e Sintaxe e Semantica do Portugués e também de Linguistica de outras linguas, tendo de um modo geral permanecido com o estatuto de disciplina obrigatéria apenas Introdugdo aos Estudos Linguisticos. Enquanto no elenco curricular da Licenciatura em EP (e posteriormente da mais recentemente criada ) adi como obrigatéria, nas Licenciaturas em LLM com variante portuguesa o estatuto da Licenciatura em Lingui iplina de Historia da Lingua Portuguesa permaneceu disciplina quanto a este aspecto foi oscilando em sentidos dificilmente justificaveis, a meu ver, em termos de uma adequada formagdo dos estudantes. Defendo, naturalmente, que essa formagdo devera neluir, para todos os cursos de LLM (designago que a aqui uso genericamente, e que tem sido de um modo geral a adoptada para este cursos, embora mais recentemente tenham sido adoptadas novas designagdes) uma componente na area da linguistica que contemple uma abordagem diacrdnica, além, evidentemente, de abordagens tedricas © descritivas estrita ou predominantemente sincrénicas, gerais e especificas da(s) lingua(s) de estudo, Até 2002/2003, ano lective em que entrou em funcionamento 0 modelo dos cursos da FCSH que viria a ser reformulado recentemente no Ambito do sistema de Bolonha, verificaram-se trés reestruturagdes que afectaram os cursos de LLM e, consequentemente, 0 funcionamento da disciplina de Histéria da Lingua Portuguesa nestas licenciaturas. ‘Nos anos lectivos de 1991/1992 ¢ 1992/1993 funcionou uma estrutura com um tronco comum (1° e 2° anos) e trés ramos variantes, cientifico, de tradugio e educacional, © tltimo dos quais incluindo um S° ano com o estigio pedagégico “integrado", 0 que obrigava, portanto, os alunos a concluirem a formacao profissionalizante durante a propria licenciatura, No curso de PF, a disciplina de Historia da Lingua Portuguesa figurava apenas no 4° ano do ramo cientifico, em alternativa com Gramitica Comparativa das Linguas Roménic: disciplina que, porém, nunea funeionou na FCSH. De qualquer modo, visto que o mimero de alunos deste ramo sempre foi muito reduzido em relagdo aos outros dois, especialmente educacional, a Historia da Lingua Portuguesa quase desaparecia na formagio dos alunos de “romanicas". Em todos os ramos figuravam, como obrigatorias, as_restantes disciplinas de linguistica portuguesa (Sintaxe e Semantica do Portugués e Fonologia ¢ Morfologia do Portugués). Nos planos dos cursos de PI e PA figuravam disciplinas de 12 ‘A~ Bnquadvamento da disciplina 2, Enquadramento noe curriculos das Licenciaturas linguistica, sem qualquer especificagdo de contetidos, podendo, portanto, corresponder a qualquer uma das existentes na Faculdade, nos 2° ¢ 3° anos de todos os ramos, mas apenas no 4° ano dos ramos cientifico e de tradugo. Estas disciplinas figuravam em todos os casos como disciplinas alternativas a disciplinas de outras reas, em particular da Area dos estudos culturais, ituagdo particularmente negativa para a formagio dos alunos, visto que permitia que um licenciado pudesse ndo ter qualquer formagaio em linguistica além da proporcionada pela disciplina introdutoria (Introdugdo aos Estudos Linguisticos), A reestruturagio seguinte, que comegou a funcionar em 1993/1994, teve como principal objective colocar a formagao profissionalizante ao nivel de pés-licenciatura, mas veio também incidir em alguns aspectos relativos ao funcionamento das disciplinas de linguistica. Estas passaram a ser especificadas quanto sua denominagio em todos os cursos, funcionando como obrigatérias Fonologia e Morfologia do Portugués ¢ Sintaxe € Semantica do Portugués, nos 2° e 3° anos, respectivamente, do curso de PF*, enquanto Histé da Lingua Portuguesa continuava, no 4° ano, em alternativa com Gramdtica Comparativa das Linguas Romanicas, disciplina que, como ja referi, nunca chegou a abrir na FCSH. Nos cursos de PI ¢ PA, as trés disciplinas de linguistica portuguesa, incluindo Histéria da Lingua Portuguesa, passaram a integrar os planos curriculares, na mesma ordenagdo por anos, mas sempre em alternativa com outras disciplinas. Assim, os alunos do 4° ano destes dois cursos deveriam optar entre Histéria da Lingua Portuguesa Linguistica de uma das linguas estrangeiras respectivas. Esta ituagdio, nao correspondendo, evidentemente, a uma opgio ideal em termos da formagdo dos alunos, que seria a de uma obrigatoriedade de ambas as disciplinas, correspondeu a uma melhoria sensivel relativamente ao curriculo anterior — os alunos distribuiam-se de modo mais ou menos equitativo entre as duas alternativas e varios deles frequentavam ambas, funcionando nesses casos uma delas, formalmente, como disciplina de opedo No ano lective de 1996/1997 entraram em funcionamento novos. planos curriculares, na sequéncia de uma nova reestruturagao das Licenciaturas da FCSH (DR n? 192 de 20-8-1996), através da qual foi feita a conversao das disciplinas no sistema de * Esta Licenciatura teve entio a designagao, que foi efémera, de Linguas ¢ Literaturas Rominicas, em consondincia com alteragaes no plano curricular que aqui no refiro por serem marginais relativamente a0 aspecto que me ocupa. 13 ‘A~ Bnquadvamento da disciplina 2, Enquadramento noe curriculos das Licenciaturas unidades de crédito, em fungdo seu tipo e carga horiria, tendo também passado a semestrais as diseiplinas anuais, A semestralizagao foi total nas Licenciaturas em LLM. téria da Lingua Portuguesa, correspondendo a dois semestres (Histéria da Lingua Portuguesa Ie Nos planos de estudos estabelecidos por esta reestruturagio, a Hi 11), figurava geralmente como disciplina opcional para os cursos de PF, PI e PA, o mesmo acontecendo com as restantes disciplinas de linguistica portuguesa e linguistica da lingua estrangeira (a tinica excepgdo era Sintaxe e Seméntica do Portugués, disciplina obrigatéria apenas no 1° semestre do 3° ano do curso de PA). No entanto, visto que foram definidos diferentes tipos de opgdes nestes cursos, a situagdo real de frequéncia das disciplinas de linguistica acabou por revelar-se muito diferente para 0 curso de PF, por serem nesse curriculo definidas como opgdes "tipo A", correspondendo a uma "Via de ensino" ¢ consideradas obrigatérias para os alunos que pretendiam inscrever-se, em pés-licenciatura, no Ramo de Formagdo Educacional, 0 que no acontecia para as outras variantes. No ano lective de 2002/2003, entrou em funcionamento © modelo curricular introduzido pela reforma geral que incidiu sobre todos os cursos da FCSH. Ao contririo do ocorrido nas reestruturagdes antes mencionadas, que quase s6 se limitaram a fazer diferentes arranjos nos elencos curriculares, com a reforma de 2002 propds-se renovar de forma estrutural profunda todo o funcionamento dos cursos da FCSH, apontando ja essa reforma, na definigo das suas linhas gerais, para objectivos enunciados na Declaragio de Bolonha. Na pratica, esta reforma do modelo curricular incidiu essencialmente na redugao do nimero de disciplinas por semestre ¢ na redugo da carga horiria leetiva méxima por disciplina, com o objectivo de valorizar a componente do trabalho pessoal do estudante dedicado as diferentes matérias leccionadas, Defendendo um sistema mais aberto para as licenciaturas, a reforma pretendeu, em principio, permitir também uma maior intervengiio dos estudantes na escolha do seu percurso de formagdo, introduzindo uma maior margem de opeionalidade & prevendo a possibilidade de um sistema maior / minor. Note-se, porém, que esta modalidade de percurso, em que uma formagdo dominante (maior) é complementada por uma formagio noutra dea estruturada (minor), s6 prevista como possibilidade, no tendo caricter obrigatorio e tendo-se de facto verificado que, na maioria dos casos, os estudantes da FCSH continuaram a optar por completar a sua formagao dentro da érea dominante, através da frequéncia de uma "rea 14 ‘A~ Bnquadvamento da disciplina 2, Enquadramento noe curriculos das Licenciaturas opcional" (drea de especializa dentro da drea da licenciatura), ou frequentando um conjunto de opgdes nao estruturado (dentro e/ou fora da area dominante), possibilidades igualmente previstas neste modelo dos cursos. A tinica excepetio a este tipo de alternativa foi a Licenciatura em Linguistica, a que me referirei especificamente mais adiante, Centrando-me no aspecto de que mais centralmente me ocupo aqui, a reforma de 2002/2003 nao inverteu a tendéncia observada de redugo do espago dedicado a formacio Linguistica dos estudantes das Licenciaturas de LLM’, formagao que, em meu entender, deveria ser considerada essencial dentro da Area principal de formagio (maior), mesmo considerando a possibilidade de alguns estudantes optarem por uma. formagdo complementar através da frequéncia de um minor nessa drea. A disciplina de Historia da Lingua Portuguesa s6 figura nos cursos de LLM como disciplina obrigatéria na variante de EP, desaparecendo por completo em todas as outras. As restantes disciplinas de Linguistica ficaram limitadas a trés semestrais nas variantes de Pl e PA, quatro na variante de PF e cinco na variante de EP. Nesta iltima, porém, o curriculo do Maior em Cultura Portuguesa apenas inclui duas disciplinas de linguistica, uma disciplina introdutéria e Historia da Lingua Portuguesa, 0 que coloca os alunos perante a obrigatoriedade de frequentarem esta disciplina sem disporem da formagao linguistica bisica que Ihes permita desenvolver satisfatoriamente um trabalho que cumpra os objectivos definidos. Creio ter mostrado na deseriga0 feita a preocupag’o com que tenho acompanhado a tendéncia para uma limitagio do espago reservado 4 formacio linguistica dos estudantes de LLM, quer no que respeita 4 generalidade das disciplinas, quer especificamente incidindo sobre a histéria da lingua portuguesa, Parece dificil conceber uma definigao do perfil de licenciado nesta rea que nao inclua uma formagio linguistica que contemple, além, naturalmente, de conhecimentos devidamente enquadrados do o ponto de vista tedrico sobre o fumcionamento da lingua materna nos varios niveis, uma abordagem diacronica do seu estudo, Este tipo de formagio é, em meu entender, essencial ¢ estruturante numa formagio dentro da area dominante de estudos ou maior, ¢ dificilmente se compreende como se poder prescindir dela, quer em si mesma, quer tendo em conta a sua relagdo com a formagao em estudos literirios © culturais. A integragdo de disciplinas de linguis ica no curriculo geral de um primeiro © A partir de 2002/2003 entraram em funcionamento novas variantes mono e bidiseiplinares destas Licenciaturas. 15 ‘A~ Bnquadvamento da disciplina 2, Enquadramento noe curriculos das Licenciaturas ciclo de LLM deveria ser considerada prévia a qualquer eventual defini profissionais © por isso é independente da discussio sobre se compete ao Ensino Universitario proporcionar, neste nivel, uma formagao profissionalizante.” 2.2, Licenciatura em Linguistica A Licenciatura em Linguistica foi criada pelo Desp. R/SAc/49/92 (DR n° 299 de 29-12-1992) e foi, até ao presente, objecto de duas reestruturagdes, em 1996/1997 e em 2002/2003. Sé a segunda destas reformas veio a afeetar de modo decisivo, se bem que indirectamente, 0 funcionamento da disciplina de Historia da Lingua Portuguesa, como adiante explicarei. © curriculo que entrou em funcionamento no ano lective de 1993/1994, além da formagio dominante em linguistica geral ¢ teérica, linguistica portuguesa e da lingua estrangeira, previa a frequéncia obrigatéria de duas linguas estrangeiras (ou classieas) com, respectivamente, trés ¢ quatro disciplinas anuais, ¢ ainda duas a trés disciplinas anuais de literatura portuguesa, A reestruturagio de 1996/1997 que, como j4 referi, introduziu um sistema semestral para todas as disciplinas, alterou sensivelmente as caracteristicas do curso, essencialmente por prever um espago relativamente maior de disciplinas de opgao, cujo dominio potencial era o de todas as disciplinas da FCSH (com as tnicas restrigdes inerentes a precedéncias ou hordrios), tendo as disciplinas de literatura deixado de figurar como obrigatérias, mas permitindo aos estudantes, por opedo, a sua frequénci necessiria para 0 acesso a uma formagdo profissionalizante na drea do ensino. Uma vez que o 4° ano do curso sé veio a funcionar em 1996/1997, as disciplinas que efectivamente abriram nesta Licenciatura foram jé as disciplinas semestrais de Historia da Lingua Portuguesa Ie Histéria da Lingua Portuguesa I, estando no curriculo inicial previs ‘a uma disciplina anual © Nao visando uma formagdo profissionalizante em sentido estrito (mas apenas a “empregabilidade”), uma formagio a0 nivel de 1° ciclo deve constituir, em qualquer caso, uma formagdo de base que permitiré aceder a um 2° ciclo com um tipo de desenvolvimento que pode apontar ja para uma habilitagdo adequada a0 desempenho de uma dada profissio. Como é sabido, uma das areas profissionais com maior niimero de candidatos potenciais com formagdo em LLM é 0 ensino do portugués (e de outras linguas), e neste contexto parece imprescindivel que a sua formacao inicial inclua a histéria da lingua, Especificamente sobre a importincia da histéria da lingua na formagio dos professores ¢ no ensino do portugues, vejam-se, por exemplo, os textos de especialistas da disciplina, como Castro (1989), Ferreira (1988-1989) @ Maia (1996-1997), 16 ‘A~ Bnquadvamento da disciplina 2, Enquadramento noe curriculos das Licenciaturas No curriculo entdo vigente eram aquelas duas as Gnicas disciplinas com uma abordagem especificamente diacrénica da lingua, 0 que impunha, em termos de contetidos, a incluso de (pelo menos) um ponto introdutorio de carcter mais geral sobre os aspectos essenciais do estudo da mudanga linguistica, Na pritica, portanto, uma parte da leccionacio de Histéria da Lingua Portuguesa I era ocupada com matérias de linguistica historica (geral), no entendimento de que estas matérias sempre seriam indispensiveis como base tedtica e metodolégica minima para uma adequada compreensio das problematicas a tratar na historia do portugués. Nao era esta, evidentemente, a situago ideal para a pretendida integragio dos aspectos gerais e dos aspectos especificos relativos ao estudo da mudanga, ou seja, para um entendimento das mudangas ocorridas na histéria do portugués como manifestagdes (também) de um fenémeno inerente ds linguas humanas e, nesse sentido, universal. Por outro lado, se a incluso, num ponto introdutério do programa, desse tipo de temtica permitia de algum modo fornecer aos estudantes 0s instrumentos minimos para uma abordagem devidamente enquadrada da histéria de uma lingua particular, 0 desenvolvimento possivel para esse tipo de matérias nio era absolutamente satisfatério. No ano lectivo de 2002/2003 entrou em funcionamento a nova estrutura dos cursos da FCSH, a cujas linhas gerais fiz j referéncia num ponto anterior. No que respeita a Licenciatura em Linguistica, esta reforma alterou muito sensivelmente as caracteristicas do curso, oferecendo, em meu entender, um curriculo que potencialmente proporciona aos estudantes uma formagao mais sélida ¢ coerente, ap sar da redugio do mimero de disciplinas decorrente do novo modelo curricular. Neste modelo, actualmente ainda em funcionamento, a formagio na trea dominante ou maior é constituida por um conjunto de disciplinas correspondents a 180 créditos (ECTS), organizadas num percurso relativamente flexivel, definido através de uma conjugagao das escolhas dos estudantes com 0 aconselhamento que Ihes é proporcionado para uma adequada articulagio entre as disciplinas a frequentar num dado semestre ea sus sequéncia em termos de semestre / ano (ef. quadro 1). 17 ‘A~ Bnquadvamento da disciplina 2, Enquadramento noe curriculos das Licenciaturas Quadro 1 — Maior em Linguistica ‘Semestre | Disciplinas Tipo / carga ‘Créditos horéria semanal | (ECTS) co Gramitica Deseritiva do Portugués PIs 6 Fonética Geral 7/3 6 Morfologia 1 1/3 6 Introdugéo a Linguistica P/3 6 Lingua t P/6 3 Fo Gramatica Textual do Portugués 7s 6 Sintaxe T P/3 6 Fonologia I P/3 6 Légica 1/3 6 Lingua 11 P/6 3 3 Fonologia IT IS 6 Sintaxe I P/3 6 Semantica I wP/3 6 Lexicologia e Lexicografia 1 P/3 6 Lingua tit P/6 3 a Morfologia HT Is 6 Anélise do Discurso 1 P/3 6 Seméntica 11 1/3 6 Lexicologia e Lexicografia 11 3/3 6 Lingua tv P16 3 3° inguistica da Lingua Estrangeira (Alems, PIs 6 Francesa, Italiana, Inglesa) Psicolinguistica P/3 6 Sociolinguistica 1/3 6 oe Linguistica Histérica Is € Linguistica Computacional P/3 6 Pragmética P/3 6 7 Historia da Lingua Portuguesa T 17s @ Linguistica do Texto ou Andlise do Discurso mt | 1/3 6 Disciplina de Especializagao w/3 6 = Historia da Lingua Portuguesa TT 1/3 6 Interfaces em Linguistica 1/3 6 Seminario de Especializagao 1/3 6 TOTAL 180 Por opgdo do Departamento de Linguistica e em consonincia com os objectivos definidos para a reforma dos cursos, entendeu-se observar o principio da complementagao da formagao dominante através de uma formagao numa area diferente de conhecimento. Assim, os estudantes deveriam complementar a sua formagio no maior em Linguistica com um minor ou, em qualquer caso, com disciplinas de outras reas, equivalendo esta formagio complementar a 60 créditos (ECTS). Assinale-se que 18, ‘A~ Bnquadvamento da disciplina 2, Enquadramento noe curriculos das Licenciaturas a Licenciatura em Linguistica foi a Gnica das licenciaturas do modelo iniciado em 2002/2003 em que este principio foi observado de forma rigorosa, nao havendo disciplinas opcionais dentro da mesma area que pudessem constituir complemento do curriculo maior, devendo esse complemento, portanto, ser escolhido pelos estudantes dentro do quadro das ofertas de outros cursos da FCSH. S6 no caso de os estudantes jionalizante na area do ensino teriam acesso uma formagiio optarem por uma via profi complementar em Formagio Edueacional e Didaetica do Portugués, que Ihes daria depois acesso a uma candidatura ao Estigio Pedagégico. No que respeita 4 Historia da Lingua Portuguesa, tendo-se conservado neste modelo curricular duas disciplinas semestrais, passou a integrar 0 curriculo do maior ainda uma disciplina de Linguistica Historica, 0 que veio contribuir para a possibilidade de disponibilizar aos estudantes uma formagio mais rica e silida no dominio dos estudos linguisticos diacrénicos, assim contribuindo para a desejada articulagiio da historia da lingua com uma perspectiva geral do estudo da mudanga linguistica Aliviando a disciplina de Historia da Lingua Portuguesa I de um ponto de introdugio com contetidos de Linguistica historica (geral), 0 programa pdde reservar um maior desenvolvimento para os temas da formagio da lingua no context roménico € no contexto hispinico, permitindo ainda uma incursio, no final do semestre, pela problematica da emergéneia de scripiae portuguesas. Quanto ao programa de Histéria da Lingua Portuguesa Il, ele pode também apresentar um maior aprofundamento em certas teméticas © reservar maior espago ao desenvolvimento de metodologias, nomeadamente a critica e andlise de textos-fonte tendo em vista a sua exploragao linguist Resta acrescentar que as disciplinas de Linguistica Histérica e Historia da Lingua Portuguesa I integravam também o curriculo de formagio complementar oferecido a estudantes de outras dreas, que assim podiam concluir as suas Licenciaturas com a frequéncia de um Minor em Linguistica. Sendo 0 minor 0 que se considera corresponder a uma formagio de base minima numa érea obrigatoriamente distinta da rea da licenciatura, vai defini -se por um elenco curricular que é um subconjunto das unidades curriculares que constituem 0 maior, A inclusio destas disciplinas, opcionalmente no caso de Histéria da Lingua Portuguesa I, nesse conjunto estruturado de unidades curriculares, concebido com os objectivos ja referidos, corresponde ao reconhecimento da importincia de uma formago em linguistica que contemple uma 19 ‘A~ Bnquadvamento da disciplina 2, Enquadramento noe curriculos das Licenciaturas abordagem diacrénica, mesmo tratando-se de um curriculo complementar e, como tal, de um elenco minimo de disciplinas, Neste modelo, o Minor em Linguistica é oferecido em duas variantes, Linguistica Geral e Linguistica para as Cigncias Sociais e Humanas (cf. quadros 2 e 3), de modo a poder articular-se com diferentes perfis e corresponder a diferentes interesses dos estudantes de outros cursos da FCSH. Quadro 2 Minor em Linguistica Geral Disciplinas Tipo / carga Créditos horéria semanal_| (ECTS) ‘Gramitica Deseritiva do Portugues P73 6 Morfologia 1 7P/3 6 Introdugdo & Linguistica P/3 6 Gramatica Textual do Portugués 1P/3 6 Sintaxe 1 1P/3 6 Fonologia 1 1P/3 6 Seméntica I 1P/3 6 Linguistica da Lingua Estrangeira ou Histéria da Lingua Portuguesa I 1P/3 6 Linguistica Histérica P/3 6 Opsio 1P/3 6 TOTAL 60 Quadro 3 — Minor em Lingufstica para as Ciéneias Sociais e Humanas Disciplinas Tipo 7 carga Créditos hordria semanal_| (ECTS) ‘Gramatica Descritiva de Portugues 173 6 Gramiética Textual do Portugués 1P/3 6 Introdugdo a Linguistica 1P/3 6 Pragmitica 1P/3 6 Andlise do Discurso t 1P/3 6 Linguistica Histérica 1P/3 6 Sociolinguistica ou Psicolinguistica 1P/3 6 Linguistica do Texto 1P/3 6 Opcio P/3 6 Octo 1P/3 6 TOTAL 6 20 ‘A~ Bnquadvamento da disciplina 2, Enquadramento noe curriculos das Licenciaturas incias da Linguagem No actual contexto de profunda reforma de todo o ensino superior, tendo em vista a implementagdo das alteragdes determinadas pelo Processo de Bolonha, antevé-se, mais uma vez, uma mudanga profunda, desta vez no s6 na estrutura mas em toda a ldgica da concepgao dos cursos conferentes do grau de licenciado. Esta reforma surge entre nés, e esta referéncia aponta especificamente para area das ciéncias sociais e humanas, num contexto de crise essencialmente decorrente de uma diminuigio da procura desses cursos, que, embora desigualmente, afecta o seu funcionamento ¢ coloca constrangimentos drasticos ao seu desenvolvimento. ‘Nao seria aqui 0 lugar proprio para a exposi 10 € discussio de todos os aspectos relacionados com a questo (nem eu seria provavelmente competente para tal) e por isso me referirei apenas Jqueles que mais de perto incidem sobre um possivel futuro da disciplina de Historia da Lingua Portuguesa, essencialmente no que respeita a0 seu enquadramento numa nova licenciatura em Ciéneias da Linguagem. O relatério que apresento tem, pois, como objecto uma disciplina cuja logica pretende ser ji a decorrente dos principios definidos por esta reforma ¢ considerando a sua integragio num curriculo de 1° ciclo mais curto, com a duragio de trés anos lectivos ou seis semestres. A redugo, em dois semestres, do tempo previsto para a conclusio de uma licenciatura determinou, inevitavelmente, uma reorganizacdo da oferta curricular, nao s6 limitando em nimero as suas unidades, mas também introduzindo outro tipo de disciplinas, de acordo com os objectivos definidos para uma Licenciatura em Ciéncias da Linguagem e nao j4 em Linguistica, embora esta seja nitidamente a rea dominante do curso da FCSH. Nesta Licenci ura, com a duragdo de seis semestres e correspondendo a um total de 180 créditos (ef. quadro 4), prevé-se a integragao de uma ‘nica disciplina mestral de Hist6ria da Lingua Portuguesa, além da disciplina de Linguistica Histérica, © € neste contexto que desenvolverei o meu relatério, salientando a necessidade, agora ainda acrescida, de uma estreita articulagdo das duas unidades curriculares. De acordo com o enquadramento da disciplina a que me referi no ponto 1, a Historia da Lingua Portuguesa & coneebida como parte integrante da formagio em linguistica geral e portuguesa, pressupondo formagao de base prévia dos estudantes em disciplinas de caricter introdutério ¢ em disciplinas de caracter tedrico-descritivo 2 ‘A~ Bnquadvamento da disciplina 2, Enquadramento noe curriculos das Licenciaturas incidindo sobre os diferentes niveis de anilise da lingua (fonético-fonolégico, morfoldgico, sintéctico © semantico), cuja frequéncia deverd idealmente preceder a frequéncia de Historia da Lingua Portuguesa. Um sistema de aconselhamento sistematico dos estudantes deverd, em qualquer caso, apoiar a escolha dos seus percursos individuais, de acordo com a oferta de dis iplinas disponivel em cada semestre, 0 que julgo ser alternativa preferivel a de um sistema rigido de pré-requisitos ou precedéncias, A andlise do historico individual de cada aluno, tendo em conta nao sé as disciplinas realizadas com aproveitamento mas também outros dados (interesses, expectativas, classificagdes, ete.) seri provavelmente o meio mais apropriado para um correcto encaminhamento para a inscrigao nas disciplinas. Quadro 4 — Livenciatura em Ciéneias da Linguagem (*) Semestre | Discplinas Tipo / carga | Créditos hordvia (ects) a Bases de Anise Ungulata oa 3 Introciugio is Clénces da Linguagem Tey4 6 Préticas Textuals ya 6 Nétodos e Técnicas: Amostragem e Inqudsito Tea 6 LUngua Estrangetra Tey 4 a Tagica Ta 3 Representacdo da Lingua Oral e Escrita weya 6 Fondtice yA 6 Introcugio 8 ungustica Informatica ya 6 LUngua Estrangetra Te/4 4 cD Fonolagia 174 é Morfologia ya 6 Sintaxe Tea 6 Seméntica 1P/4 6 Lingua Estrangeira ya 4 # TexicoTogia © Leicograta TFTA s Pragmtica es4 6 Pelcoingulstica ya 6 Linguistica Histérica rea 6 peso (**) Tey4 6 = ‘nie do DSHS 7a 3 Aquisifo da Linguagem e/a 6 Linguistica da Lingua Estrengeira 1/4 6 Socilinguistica wy4 6 Histéria da Lingua Portuguesa rey4 6 e 7 aisaipinas de opeao 7) TP Taxa ae Sernindrio ou Esténio s 2 TOTAL 180 22 "A~ Enquadramento da disciplina 2, Bnquadramento nos curriculos das Licenciaturas (*) Correspondente & seguinte organizagéo: Maior em Ciéncias da Linguagem (150 créditos) e 30 créditos a obter através da realizagio de um minor (formagio complementar estruturada de utra area) ou de opcdes, estando previstas as seguintes: ‘Aquisi¢go de Lingua Estrangeira Formacdo de palavras, Linguistica do Texto Linguistica para a Traducso Ordem de palavras e interpretagio Patologias da Linguagem Processamento das Linguas Naturais ‘Seméntica e Cognicso Terminologia (**) Ou disciptina(s) de um minor. Uma breve nota final sobre as licenciaturas que vieram substituir as de Linguas e Literaturas Modemas. Estes cursos apresentam planos de estudos que reduzem substancialmente o espaco reservado formagio linguistica dos estudantes. Assim, a nova Licenciatura em Estudos Portugueses e Luséfonos oferece apenas como disciplinas obrigatorias de linguistica Linguistica Geral e Gramética Portuguesa. A Historia da Lingua Portuguesa esti prevista como opgdo, sendo uma das cinco disciplinas a realizar pelos estudantes de entre um elenco de catorze, 0 que significa, portanto, que um licenciado nesta area poderd ndo ter qualquer componente da sua formagdo sobre a diacronia do portugués. As Licenciaturas em Linguas, Literaturas ¢ Culturas apresentam diferentes variantes mono ¢ bidisciplinares, incluindo neste tltimo caso variantes que combinam o portugués com uma lingua estrangeira, Nestas a Histéria da Lingua Portuguesa integra 0 elenco de disciplinas obrigatorias, elenco que inclui inas de apenas além desta duas outras disci guistica, Introdugio as Ciéneias da Linguagem e Linguistica Portuguesa. Nao sendo, como parece evidente, 0 curriculo ideal para assegurar uma formago sélida dos estudantes sobre 0 funcionamento das diferentes vertentes da lingua materna, toma apesar disso, por contraste, ainda mais visivel a lacuna assinalada no curriculo de Estudos Portugueses e Luséfonos. Em qualquer dos casos, a disciplina prevista nos cursos mencionados terd, dado © seu diferente enquadramento, de funcionar em moldes diferentes dos propostos para uma Licenciatura em Ciéncias da Linguagem, obedecendo a diferentes objectivos, de que decorrerio diferentes programas, em termos de contetidos e de actividades educativas, 23 ‘A~ Bnquadvamento da disciplina 2, Enquadramento noe curriculos das Licenciaturas Referéncias bibliograficas e documentos consultados Referéncias bibliograficas Castro, Ivo (1989) "Histéria da Lingua/Ensino da Lingua". In Actas do Congresso sobre «a Investigagao ¢ Ensino do Portugués (Lisboa 1987). Lisboa, ICALP, pp. 95- 104 Castro, Ivo (1995) "O retorno a filologia”. In Pereira, Cilene da Cunha ¢ Paulo R. D. Pereira (eds.) Misceldnea de Estudos Linguisticos, Filologicos e Literdrios in Memoriam Celso Cunha. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, pp. 511-520 Castro, Ivo (2004) Introdugdo a Histéria do Portugués. Geografia da Lingua. Portugués Amtigo. Lisboa, Colibri Castro, Ivo (com a col. de Rita Marquilhas e Léon Acosta) (1991) Curso de Historia da Lingua Portuguesa. Lisboa, Universidade Aberta Dressler, Wolfgang U. (2003) "Naturalness and Morphological Change". In Joseph, B. D. eR. D. Janda (eds.) The Handbook of Historical Linguistics. Cambridge USA / Oxford UK, Blackwell, pp. 461-471 Ferreira, José de Azevedo (1988-1989) "O papel da Historia da Lingua na aula de Portugués", Diacritica 3-4, pp. 79-97 Fisiak, Jacek (ed.) (1990) Historical Linguistics and Philology. Berlin / NY, Mouton de Gruyter Hale, Mark (2003) "Neogrammarian Sound Change". In Joseph, B. D. e R. D. Janda (eds.) The Handbook of Historical Linguistics. Cambridge USA / Oxford UK, Blackwell, pp. 343-368 Labov, William (1994) Principles of Language Change. Vol. 1. Internal Factors. Cambridge USA / Oxford UK, Blackwell Maia, Clarinda de Azevedo (1996-1997) "Algumas reflexdes sobre a disciplina 'Histéria da Lingua Portuguesa’ (sua importincia na formagdo dos professores de Portugués)". Revista Portuguesa de Filologia 21, pp. 421-445 Marchello-Nizia, Christiane (1995) "L’évolution des langues naturelles: pour une théorie du changement linguistique". In L’évolution du Francais. Paris, Armand Colin, pp. 9-33 24 "A~ Enquadramento da disciplina 2, Bnquadramento nos curriculos das Licenciaturas Documentos consultados (sobre os cursos da FCSH) Anuério da Universidade Nova de Lishoa 1991-1992, Lisboa, UNL, Outubro de 1991 Guia do Departamento de Estudos Linguisticos. Lisboa, UNL, FCSH, Abril de 1993 Anudrio da Faculdade de Ciéncias Sociais e Humanas 93-94. Lisboa, UNL, FCSH, Novembro de 1993 Guia Curricular da Faculdade de Ciéncias Sociais e Humanas 1995-1996. Lisboa, UNL, FCSH [1995] Anudrio da Faculdade de Ciéncias Sociais e Humanas 96-97. Lisboa, UNL, FCSH [1996] Anuério da Faculdade de Ciéncias Sociais e Humanas 1998/1999. Lisboa, UNL, FCSH. [1998] Guia do Departamento de Linguistica Ano Lective 2001-2002. Lisboa, UNL, FCSH [2001] Guia Curricular das Licenciaturas Ano Lectivo 2002-03 Undregraduate Courses ECTS Guide. Volume 1, UNL, FCSH, Junho de 2002 http://www. fesh.unl_ptle/licenciaturas.asp [2006] 25 "A~ Enquadramento da disciplina 2, Bnquadramento nos curriculos das Licenciaturas 26 B— Objectivos, programa e conteados 3. Objectivos 4, Programa e contetidos 4.1, Apresentagao geral do programa de Historia da Lingua Portuguesa 42. Liga 43. Contetidos jo com o programa de Linguistica Histéri B~ Objectivos, programa e contetidos 3. Objectivos 28 B Objectives, programa e contetides 3, Objectivos B — Objectivos, programa e contetdos 3. Objectivos Os objectivos a seguir apresentados pretendem, naturalmente, ser consequentes com os aspectos referidos nos pontos anteriores, essencialmente no que respeita & orientagdo seguida na leccionagio da disciplina, de acordo com 0 exposto sobre 0 seu enquadramento em termos de Area disciplinar, ¢ sobre contexto curricular em que & disponibilizada aos alunos. Seguindo um dos principios essenciais da reforma em curso, a definigio de objectives deve ser feita na éptica do estudante, devendo ser explivitados objectivos da aprendizagem, cujo cumprimento deverd decorrer da aquisigio de saberes. ¢ competéncias, de Ambito mais geral ou mais especifico, Notar-se-i que a definigdio de saberes e competéncias "gerais" € aqui entendida como respeitando a propria unidade curricular, e nfo a formagiio do estudante na sua globalidade, cujos objectivos, eventualmente incluindo a definigao de saberes e competéncias a adquirir, sio enumerados no ambito da formulagao dos objectives do curso Objectivos da unidade curricular: = Identificar as principais mudangas que marearam o percurso hist6rico da lingua portuguesa, desde a sua formagao no espago romanico até ao pres ente; ~ _relacionar essas mudangas linguisticas com factores condicionantes de varia ordem, linguisticos e nao linguisticos; = relacionar os tragos de unidade e diversidade que actualmente caracterizam a Jingua com as mudangas ocorridas no seu pereurso hist6rico. beres ¢ competéncias gerais: - Caracterizar o portugués numa perspectiva diacrénica, identificando tragos diferenciadores da lingua (1) no contexto romfnico ¢ (2) no contexto hispani ~ _ identificar tragos distintivos de variedades e dialectos do portugués actual; ~ _ relacionar esses tracos com mudangas ocorridas na historia da lingua; - desenvolver priticas de anilise de textos-fonte de diferentes tipos. 29 B Objectives, programa e contetides 3, Objectivos beres e competéncias especificos: Desenvolver priticas de pesquisa bibliogritica e de consulta de obras de referéncia (gramaticas, dicionarios); conhecer os conceitos essenciais da disciplina e utilizar adequadamente a respectiva terminologia; fundamentar apreciagdes criticas de diferentes tipos de fontes em fungao da sua fiabilidade para a recuperagao de dados relativos ao passado da lingua; desenvolver priticas de anailise de fontes textuais primarias (época medieval) tendo em vista a sua exploragiio linguistica; analisar criticamente fontes textuais secundarias (época clissica); analisar criticamente estudos de diferentes aspectos da historia interna e externa do portugués; elaborar textos sobre tépicos do programa, 30 Objectives, programa e contetides 4. Programa e cantetidos 4, Programa ¢ conteddos 4.1. Apresentagio geral do programa de Historia da Lingua Portuguesa © programa proposto para a disciplina procura reflectir a abrangéncia definida como orientago geral da leccionago, no sentido de proporcionar uma visio tanto e dos quanto possivel global da historia do portugu iferentes tipos de estudo de que ela tem sido objecto. Essa pretendida abrangéncia, porém, é assumida como objectivo ideal, nfo equivalendo obviamente a uma pretensdo de abordar sequer uma aproximagio a todos os temas possiveis e relevantes no Ambito da disciplina. Procura, portanto, 0 programa reflectir, na medida do que é considerado adequado no espago de uma unidade curricular, uma seleegdo de alguns dos t6picos mais representativos. A sua articulagio deveri proporcionar uma visto integrada dos pontos programaticos, procurando através dessa articulagdo de algum modo "construir" uma historia da lingua, inevitavelmente resultante de uma abordagem interpretativa. Nao deixardo, porém, de se assumir as inevitaveis lacunas num programa com estas caracteristicas, antes apontando essas faltas, sejam elas em absoluto ou em termos de desenvolvimento ¢ aprofundamento, como caminhos a explorar noutro contexto de formacao. A apresentagio do programa que se segue nao reflecte necessariamente uma ordenacdo sequencial dos temas, que sero objecto de formas distintas de tratamento, nem sempre desenvolvidas em contexto de aula, como se descreverd no ponto 7. Esta apresentagdo corresponde antes a uma enumeragao de temas cuja articulagdo, como ja foi referido, se conservara como meta a atingir: 31 [B~ Objectives, programa e conteidos 4, Programa e contetidos Programa de Historia da Lingua Portuguesa A= Historia da Lingua Portuguesa — objecto, objectivos, dados, métodos 1. Histéria de uma lingua ¢ Linguistica Histérica. Relagio com outras disciplinas linguisticas ¢ com outras abordagens: na tradi¢io de estudos diacténicos sobre © portugués; em trabalhos recentes sobre diacronia; em abordagens sinerdnicas ou no especificamente diacrénicas. 3. Relacio com a Linguistica Rominica (historica). textual € 4. Fontes textuais (tipologia, transmissio, disponibilizacio): tipologia tipologia de fonte; edi¢io; construcio € codificagio de corpora. 5, Obras de referéncia (manuais, gramiticas, dicionirios): metodologias de consulta; anilise critica. 6, Bibliografia "secundaria": metodologias de pesquisa de diferentes tipos bibliogrificos. 7. Periodizagio: relevancia, critérios, perspectivas. B— A formagio do portugués 8, 0 portugués no contesto da Romiinia actual. 9. Panorimica geral do processo de diferenciagio do portugués no contexto rominico. 10, © proceso de diferenciacio do portmgués no contexto hispano-romanico: area primitiva do portugués © factos que marcaram historicamente a sua expansio; mudangas determinantes no processo de formagio / diferenciagio da lingua no contexto peninsular; factores condicionantes; caracterizacio. dinerénica do portugués (conservagio e inovacio) face aos restantes romances hispanicos. C—O portugués da época medieval 11, "Pré-histéria" € "hist6ria" do portugués : diferenciagio da lingua © emergéncia das scriptae, a documentagio antiga da rea portuguesa (latina, latino-portuguesa e portuguesa). 12, Questdes metodolégicas do estudo do portugués da época medieval caracterizagio tipolégica dos textos remanescentes; ctitérios de avaliagio de representatividade das fontes textuais, 13, Exploragio linguistica da documentagio remanescente (textos dos séculos XIII a XV) — identificagio contrastiva de tragos de diferentes sincronias, 32 Objectives, programa e contetides 4. Programa e cantetidos D — Histiria do portugués a partie da época clissiea 14, Metodologias do estudo da historia do portugués a partir do século XVI exploragdo de fontes textuais secundérias; mudanga e variagao diat6piea 15, Identificago de muclangas linguisticas de diferentes niveis. 16. Perspectiva geral dos efeitos da expansio do portugués. E— O portugués actual numa perspectiva histérica 17. Perspectiva histéirico-dialectoldgica do portugues europeu. 18. O portugués no mundo: unilinguismo e mubtlinguismo; tragos comuns € tragos divergentes de diferentes variedades do portugues. 19, © contraste portugués europeu / portugués do Brasil numa perspectiva histérica, 4.2, Ligagio com 0 programa de Linguistica Historica J4 varias vezes referi neste documento a ligago defendida entre uma abordagem histérica do portugués e uma abordagem mais geral do estudo da mudanga Linguistica. Para que este tipo de orientagdo possa funcionar efectivamente, ou seja, para que possa reflectir-se nas acti idades envolvidas no processo de aprendizagem dos estudantes levando ao cumprimento dos objectivos definidos, deverd haver uma precedéncia (nos termos antes referidos) da frequéncia de Linguistica Historica. Neste sentido também, a definigao das linhas gerais dos programas das duas disciplinas ¢ feita de forma concertada. A concentrago numa tnica unidade curricular da disciplina de Historia da Lingua Portuguesa, além do facto de nao se prever o funcionamento de uma unidade exclusivamente dedicada a Linguistica Romanica, foi também ponderada neste contexto, considerando-se que seria adequado ineluir ja no programa de Linguistica Historica um ponto que introduzisse 0 estudo do processo de formacdo das linguas romAnicas, a ligar depois com © processo de formago do portugués desenvolvido em Historia da Lingua Portuguesa A justificagdo da incluso deste tema na disciplina de Linguistica Histérica, ¢ visto que ela poderi também funcionar autonomamente, sendo eventualmente frequentada por estudantes que nio t8m Histéria da Lingua Portuguesa no seu curriculo, parece facilmente sustentavel. Entende-se, no Ambito da disciplina geral sobre o estudo 33 1 Objectives, programa econteidoe 4 Programa e conteidoe da mudanga, que 0 processo de formagdo das linguas roménicas pode ser apresentado como um "caso de estudo" em linguistica histérica, Quer tradicionalmente, quer em abordagens recentes, enquadradas em diferentes modelos tedricos, a familia romanica tem sido um dos objectos de estudo e referéncia preferenciais, proporcionando a uma abordagem generalizante da linguistica diacrénica um vasto dominio de exemplificagdo e explora (para o comprovar bastard percorrer alguns manuais da disciplina). Deste modo, os pontos 8, 9 € parcialmente o ponto 10 do programa de Historia da Lingua Portuguesa ("O portugués no contexto da Roménia actual", "Panorimica geral do processo de diferenciagiio do portugués no contexto romanico" e " O processo de diferenciagdo do portugués no contexto hispano-romanico") sero essencialmente uma recuperagio de saberes jé adquiridos, nfio sobrecarregando excessivamente a eccionagio e 0 trabalho do estudante relativos a estes temas. Varios outros pontos dos dois programas se ligam também de forma estreita, como é dbvio, pretendendo-se que 0 seu tratamento no ambito da Histéria da Lingua Portuguesa constitua 0 seu desenvolvimento, aprofundamento ¢ aplicago numa diferente perspectiva. Para que mais claramente ¢ em concreto se possa observar a ligagdo entre os programas das duas disciplinas, apresento em seguida as linhas gerais de um programa de Linguis ica Historica coneebido em fungio da articulago com © programa de Historia da Lingua Portuguesa 34 Objectives, programa e contetides 4. Programa e cantetidos Programa de Linguistica Histérica (apresentagio geral) A — Aspectos introdutérios 1. A lingua no tempo: evidéncia e inevitabilidade da mudanga; diacronia 2. Por que se estuda a mudanga linguistica ou "o uso do pasado para explicar 0 presente", 3. Constituigdo da linguistica histérica como disciplina cientifica. B— Métodos e fontes 4, Como se estuda a mudanga linguistica ou "o uso do presente para explicar pasado”. 5. Linguistica historica e hist6ria(s) da(s) lingua(s). 6. Mudangas concluidas no passado e mudangas em curso. 7. Atestagiio ¢ reconstrugio; mudanga e variagao; difustio da mudanga C —Descrigdo ¢ propostas de explicagéo da mudanga linguistica 8. Tipologia das mudangas linguisticas em fungiio dos niveis de andlise (condicionamentos e incidéncias). 9, Factores condicionantes e principios gerais da mudanga Linguistica (confronto de algumas propostas de explicagio). E— Um caso de estudo em linguistica histérica: 0 processo de formagao das linguas, romanicas 10, Latim e proto-romance. 11, Do latim as linguas romanicas — a “diferenciagao decisiva" (Factores, mudangas e cronologia). 12, Mudangas panromanicas vs. mudangas individualizadoras no processo de formagio do portugués. 35 Objectives, programa e contetides 4. Programa e cantetidos 4.3, Contetidos Neste ponto apresentarei uma descrigtio sintética dos contetidos programaticos doo que so objecto da leccionagao, aqui entendida em sentido lato, isto é, incl ensino em contexto de aula ¢ o trabalho do estudante, envolvendo em ambos os casos diferentes tipos de actividades, de acordo com a descrigio feita no ponto 7 deste relatorio, Sempre que se tome necessirio, em beneficio da clareza da exposigio, remeterei para tipos de actividades educativas mencionadas nesse ponto e incluirei referéncias bibliogrificas que remetem para a parte C. 1, Histéria de uma lingua e Linguistica Historica. historica, _facilmente Se percorrermos alguns manuais de linguist encontraremos definigdes claras do objecto ¢ objectivos da disciplina, incluindo mesmo uma explicitagio detalhada do que "compete" e "no compete" ao seu estudo (v., por exemplo, Campbell 1998: 2-6), Nem sempre, porém, resulta clara uma distingo entre nguistica histérica e histéria da lingua recorrendo 4s mesmas fontes, acontecendo até ficarmos com a vaga impressdo de que as histérias das inguas so, afinal, apenas partes, ‘ou mesmo meras auxiliares, da disciplina geral. Isto parece resultar de que, e & questo a colocar em aberto, essencialmente os objectivos da histéria da lingua (sempre entendendo a designagao como histéria de uma dada lingua) nao serem objecto de uma definigao tao clara, que, porém, mereceu ja a atengdo de alguns estudiosos, quer em obras centradas no ensino da diseiplina (por exemplo, Castro 1991: 9-15, Maia 1995: 11-14), quer mais voltadas para a investigagao (por exemplo, Libano 2000: 190). O historiador da lingua procura descrever e explicar as mudangas de um sistema particular, entendendo-as, tanto como manifestagdes de uma caraeteristica inerente a todas as linguas — a mudanga — como na sua relagdo com aspectos precisos da sua existéncia historica, ¢ como tal ligadas a factores especificos do espago, tempo ¢ sociedade em que 0 mesmo se insere, sendo a énfase dada em linguistica histérica a0 papel dos factos nao linguisticos diferente, como jé referido, em diferentes modelos tedricos, A distingio entre as duas disciplinas talvez. possa tragar-se essencialmente em termos de dmbito, mais geral ou particular. A historia da lingua ocupa-se de factos linguisticos particulares e equaciona a sua relagio com condicionantes também 36 Objectives, programa e contetides 4. Programa e cantetidos especificos, linguisticos e no linguisticos. A linguistica histérica visa uma compreensio mais abrangente do fenémeno da mudanga € 0 estabelecimento dos principios gerais que a regerdo, assumindo, assim, uma vocagio mais assumidamente teorizante. Mas pode concentrar-se em fenémenos isolados (um dado tipo de mudanga, por exemplo), ao passo que a histéria de uma lingua tendera, pelo menos em termos de objectivos, a adoptar uma perspectiva integradora de diferentes mudangas e factores, que deverd englobar todo 0 percurso temporal de uma dada lingua, A disciplina de Ambito particular poderd ter como suporte generalizagdes propostas em linguistica histériea, baseando-se esta, por seu lado, nos dados que as histérias das linguas Ihe fornecem para a formulagao e aferigéio de hipéteses tedricas. O tratamento deste tipo de temitica nao 6, em principio, objecto de aulas que Ihe sejam exclusivamente reservadas, devendo pereorrer todo o trabalho desenvolvido ao longo do semestre, quer em tempo lectivo, quer extra-lectivo, devidamente orientado. A pesquisa bibliogrifica a realizar sobre 0 tema incidir, ndo tanto em titulos especificos, mas antes na recolha de referéneias em diferentes obras, nomeadamente manuais das duas disciplinas, 2, Relagio com outras disciplinas lingufsticas e com outras abordagens: na tradigio de estudos diacténicos sobre o portugués; em trabalhos recentes sobre diacronia; em abordagens sinerénicas ou niio especificamente diacrénicas. Relacio com a Linguistica Romiinica (histérica). 4, Fontes textuais (tipologia, transmissio, disponibilizagio): tipologia textual ¢ tipologia de fonte; edigio; construgao e codificagio de corpora. 5. Obras de referéneia (manuzis, gramiticas, dicionatios): metodologias de consulta; anilise critica. 6. Bibliografia "secundéria": metodologias de pesquisa de diferentes tipos bibliograficos. 7, Periodizagio: relevancia, critérios, perspectivas. Todos os restantes pontos da parte A do programa aqui transcritos so aspectos a ligar e/ou a aplicar no desenvolvimentos dos temas das partes B a E, quer em termos de leceionagiio em aula, quer no trabalho individual dos estudantes, e por isso nio fago a sua descrigo independente, que julgo que nfo faria muito sentido fora de um 37 Objectives, programa e contetides 4. Programa e cantetidos enquadramento temético mais especifico e, nalguns casos, dentro da descrigdo de actividades educativas que sero objecto do ponto 7 deste relatorio, B—A formagio do portugués 8, © portugués no contesto da Romania actual. 9. Panorimica geral do processo de diferenciagio do portugués no contexto rominico, Trata-se de temas ja introduzidos, como referi, no Ambito da disciplina de Linguistica Hist6rica, sendo a sua abordagem feita em Histéria da Lingua Portuguesa através de uma recuperago de conhecimentos ja adquiridos. Mas essa recuperagao, dada a importincia fundamental dos contetidos destes pontos para o enquadramento de uma fase inicial da historia do portugués, justificar’ que Ihe sejam reservadas actividades educativas especificas. Estes pontos do programa corresponderio ao desenvolvimento dos pressupostos de uma afirmagdo como «A storia do portugués comeca como um capitulo da historia do latim.» (Castro 2004; 53). Qualquer falante do portugués de cultura média, mesmo sem formagdo especifica na area, identificara facilmente a sua lingua como romdnica e saber também enumerar varias outras, Trata-se de fundamentar este tipo de conhecimento, j4 adquirido na formagdo prévia dos alunos em diferentes enquadramentos, perspectivando-o quer sinerénica, quer diacronicamente. Os estudantes deverdo comegar por reunir dados sobre as principais areas da Rominia actual e complementi-los com informagao relativa a sua retracgdo © expansio histéricas (Roménia submersa, Romania perdida, Romania nova), completando este tipo de abordagem deseritiva com uma reflexio sobre as relagdes da Linguistica romanica (histérica) com as histérias das linguas romanicas individuais, ligando, portanto, este ponto com © ponto 3 do programa ("Relagio com a Linguistica Rominica"). Entendendo-se geralmente Linguistica "roménica” neste contexto de estudos como uma disciplina enformada por uma abordagem diacronica, uma das pistas de discusso que poderd ser interessante seri o diferente posicionamento de alguns linguistas no que respeita 4 relevaneia de uma lingufstica romanica nao diacrénica, desenvolvida em estudos que envolvem a comparacio sinerénica entre diferentes 38 Objectives, programa e contetides 4. Programa e cantetidos linguas romanicas, geralmente com objectivos teorizantes (cf, Posner 1996: 1-8). & uma estratégia possivel para recuperar uma temitica que se pretende transversal na disciplina, que € a da relagdo entre sincronia ¢ diacronia ou, mais especificamente, a relagio entre abordagens com diferentes perspectivas, © que permitira também fazer a ligacdio com o ponto 2 ("Relagao com outras disciplinas ... em abordagens sincrénicas ‘ou nio especificamente diacrénicas"), O principal objectivo da linguistica roménica historica podera ser definido como descrever e explicar 0 proceso de derivagio das linguas romdnicas a partir do seu antepassado comum, o latim. Se o tatim & hoje uma lingua "morta", no sentido em que nao é a lingua materna de nenhum falante, as linguas rominicas sdo as suas versGes “vivas”, pelo que © proceso que levou a sua formago enquanto unidades distintas deveri ser entendido como implicando simultaneamente uma diversificagdo e uma continuidade (cf. Posner 1996: 97). Identificar os diversos tipos de factores que actuaram neste processo tem sido uma das principais tarefas dos romanistas, igualmente ocupados com questées (conceptuais, tedricas, metodoldgicas) largamente debatidas no dominio da disciplina — “que latim" deu origem as linguas romanicas? como defini-lo em termos de variedade social e/ou cronolégica? a que tipo de fontes recorrer? Adopta-se uma visio genérica das questées enuncindas, com referéncias especificas as principais dificuldades colocadas a disciplina, especialmente no que respeita insuficiéncia da documentagZo escrita para o acompanhamento do processo de formagdo das linguas roménicas, relacionada com o aparecimento relativamente tardio das scriplae romances. Seriio aqui retomadas as nogdes de atestacdo e reconstrueao, j4 introduzidas na disciplina de Linguistica Historica, aplicando-as no contexto da problemitica das fontes do latim (com uma primeira abordagem de t6picos do ponto 4), ¢ relacionando-as com as metodologias utilizadas na recuperagao do sistema linguistico que se continuou nas linguas romanicas, visto que em lingut: ica romanica geralmente se defende e pratica a complementagao de dados atestados ¢ dados reconstruidos, cujas andlises se combinam mutuamente controlam na reconstituigdo do referido sistema (cf. Vincent 1988: 26-28, Herman 2000: 17-26). Enquadrar 0 processo de diferenciagio do portugués no contexto romanico implica, em primeiro lugar, referir as mudangas linguisticas softidas pela lingua latina que estio na base dos sistemas romanicos, especialmente no que se refere aos aspectos 39 Objectives, programa e contetides 4. Programa e cantetidos em que estes mais claramente contrastam, no seu conjunto, com os do sistema original latino, ou seja, identificar mudangas geralmente definidas como panromdnicas. E necessirio também identificar diferentes tipos de factores, linguisticos e nao linguisticos, que terdo actuado como condicionantes. Distinguem-se factores inerentes ao proprio sistema latino de factores externos ao latim, cuja actuagio foi determinada pelas diferengas decorrentes das condi 'es especificas de implantagdo da lingua nas diferentes regides e que se relacionam com mudangas individualizadoras. Tratando-se de uma disciplina de Histéria da Lingua Portuguesa (¢ nio de Linguistica Romanica), centra-se o tratamento destas questdes no processo de formagio do portugués, antecipando os resultados das mudangas que vi ym a caracterizar a lingua a sua rel com os factores especificos que Ihes esto associados. Mas haverd também a necessidade de uma contextualizagio na perspectiva mais geral romanica, com base no contraste latim / romance, a volta do qual gira a disciplina mais abrangente, que parte da identificagao de tragos comuns aos sistemas que, tendo continuado o latim, dele divergiram. Procurar-se- |. portanto, conciliar uma focalizagao mais estreita, centrada nos tragos individualizadores do portugués (incluindo tragos exclusivos do portugués e tragos partithados apenas por um reduzido nimero de linguas roménicas), com uma focalizagio mais abrangente, que assenta na definigdo de tragos tipicamente romanicos (divergentes do latim e comuns a totalidade ou maioria das linguas romanicas, ou A globalidade de uma dada area da Romania). Este estudo segue um percurso clissico — descrigaio suméria das caracteristicas (fonologicas, morfologicas, sinticticas) tipicas do sistema latino, seguida da identificagdo das principais mudangas que afectaram este sistema, antecipando o seu resultado particular em portugués. Este percurso integraré idealmente referencias a hipdteses explicativas que tém sido avangadas em diferentes propostas tedricas {eventualmente jé apresentadas no programa de Linguistica Histérica), e procuraré lientar a inter-relagdo de mudangas de varios niveis de anilise, bem como a actuagdo de factores extemos de varia ordem (cronologia e tipo de romanizagio, perifericidade / centralidade das areas romanizadas, contacto com outras linguas, etc.) Procurar-se-4 sobretudo salientar a diversidade, complexidade ¢ inter-relagao dos factores, linguisticos € nao linguisticos, que condicionaram o proceso sintetizavel na formula «atim > linguas romanicas», apresentando as linhas gerais (menos ou mais, controversas) hoje adoptadas pelos romanistas, mas sem excluir a mengao de "teses" 40 Objectives, programa e contetides 4. Programa e cantetidos mais tradicionais que actualmente tendem a ser encaradas com algum cepticismo (como as teorias de substrato). © "como" ¢ 0 "porqué" da diferenciagao do latim nas linguas romanicas so perguntas cujas respostas se procuram na descrigdio das mudangas e na identificagao dos factores condicionantes. Mas ha outra questio, também central neste dominio, do “quando”, Tal como para a identificagdo de factores decisivos, a unanimidade esti muito longe de existir entre os estudiosos. As diferentes respostas so em grande parte devidas, como quase sempre acontece, ao proprio sentido da pergunta. Diferentes entendimentos do que se entende por "diferenciagao" (eo proprio termo nem sempre & aceite sem reservas) tém levado os romanistas a adoptar perspectivas divergentes de acordo com os aspectos em que centram as suas atengdes (perda de inteligibilidade miitua entre falantes de variedades diferentes, conseiéneia da diglossia latim / romance, formas diferentes de oralizagdo de textos latinos, etc.). Para ensaiar aproximagSes a esta questo, sublinhar-se-4 0 facto que 4 partida obscurece © conhecimento que hoje podemos ter do processo de formagio das linguas romanicas, quer como unidades distintas entre si, quer como realidades linguisticas diferenciadas do latim: a insuficiéncia de testemunhos, relacionada, quer com a falta de informagées contemporineas explicitas endo ambiguas, do tipo descritive, quer com as caracteristicas da documentagdo escrita remanescente, que no reflecte de forma directa © processo. 10, O processo de diferencingio do portugués no contexto hispano-rominico: rea primitiva do portugués © factos que marcaram historicamente a sua expat mudangas determinantes no proceso de formagio / diferenciagio da lingua no contexto peninsular; factores condicionantes; earacterizagio’ diaerénica do portugués (conservagao ¢ inovacao) fice aos restantes romances hispanicos. No ponto anterior 0 processo de formagao do portugués foi abordado no ambito mais geral romanico, Neste ponto visa-se um enquadramento mais estreito, que toma como objecto 0 proceso de diferenciagio do portugués no contexto hispano-romanico. Trata-se de identificar as mudangas linguisticas ¢ factores especificos de diferenciagio que levaram ao surgimento, no noroeste da Peninsula Ibérica, de um romance com caracteristicas bem individualizadas, ndo sé no contexto geral das linguas roménicas, mas sobretudo no contexto peninsular, tendo em conta, portanto, os principais 4l Objectives, programa e contetides 4. Programa e cantetidos contrastes que historicamente distinguem a nossa lingua dos romances que Ihe estio mais proximos. O tratamento dos contetidos do ponto anterior antecipou ja, como foi referido, esta focalizagdio centrada no periodo pré-literirio do portugués. Conviré agora aprofundar alguns aspectos com objectivo de tragar as principais linhas para um conhecimento do processo de formagio da lingua, tendo em conta a definigdo dos seus tragos distintivos. Nio foi até aqui usado o termo “galego-portugués", que, porém, & termo recorrente em muitos titulos da bibliografia, quer (especificamente) de linguistica romanica, quer (especificamente) de historia da lingua portuguesa. Pode ser este um ponto de partida para © aprofundamento pretendido do tema neste ponto, ligando 0 seu tratamento com questdes metodolégicas elencadas nos pontos 5 e 6 ("Obras de referéncia "Bibliografia secundaria"), analisando e discutindo 0 uso, muitas vezes aparentemente indiferenciado, dos termos "portugué: © "galego-portugués" por parte dos estudiosos. © objectivo seri relacionar o uso da segunda designago com a delimitagdo de uma 4rea inicial a partir da qual a lingua viria a expandir-se. O facto de a “norma” do portugués europeu actual ser hoje explicita ou implicitamente associada as limitadamente, do caracteris icas de um dialecto centro-meridional (ow até mesmo, mai dialecto de Lisboa) poder servir de contraponto para introduzir uma reflexao sobre a diferenga quanto & localizagdo espacial da origem da lingua e sua subsequente expansiio, Partindo de um enquadramento histérico, comega-se por sublinhar a delimitagio, de acordo com os dados disponiveis, da area primitiva do portugués, para referir depois as condigdes especificas que nessa Area inicial terdo sido determinantes para 0 processo de formago da lingua, O processo de romanizagao € central nesta temética, e a questio pode ser tratada partindo de uma apreciacao critica de alguns estudos que relacionam as caracteristica desse proceso com a diferenciagao dos romances peninsulares, com destaque para os que especificamente referem o processo de diferenciagio do portugués (Meier 1948, Baldinger 1972°, Cap.5, pp. 104-124), Do mesmo modo, pode abordar-se a ocupagio germénica assinalando a sua eventual contribuigdo para uma individualizagdo do romance galego-portugués em formagao. E geralmente aceite que este periodo histérico deixou as suas marcas a2 Objectives, programa e contetides 4. Programa e cantetidos linguisticas mais evidentes no nivel do Iéxico, em particular na toponimia e na antroponimia (Piel [1960] 1989°), embora boa parte dos germanismos do portugués nao se devam a contacto directo (havendo que notar a distingdo entre germanismos rominicos, peninsulares e portugueses). Porém, alguns estudiosos defenderam a nportincia da ocupagao sueva no processo de formagio do portugués, com eventuais consequéncias noutros niveis da lingua, resultado do relativo isolamento do noroeste peninsular durante esse periodo (cf. a sintese de Castro 2004: 66-67). Uma referéncia & questio do(s) substrato(s) ocorrerd depois de considerados estes dois factores de diferenciagdo — romanizagiio © ocupagio germinica, Esta Wersdo da cronologia no tragado do percurso histérico justifica-se pelas muitas diividas que suscita uma “tese" de substrato, isto 6, uma hipétese explicativa para a individualizagao do portugués como consequéncia do contacto do latim com linguas pré-romanas, Estas duividas decorrem essencialmente da insuficiéncia de dados que permitam uma adequada caracterizagao das linguas pré-romanas ¢ das condigdes especifieas (em termos cronolégicos, sociolinguisticos, etc.) em que se ter enquadrado © seu contacto com o latim, Parece, portanto, mais produtivo abordar a questiio a posteriori, depois de apreciadas as hipdteses sobre a influéncia de factores decorrentes de factos cronologicamente posteriores. Os romanistas tendem hoje, de um modo geral, a considerar as “teorias de substrato" com grandes reservas, pelas razdes jé apontadas (como nota Posner 1996: 232, «hence scepticism among many modem Romanists about the validity of the substratum theories advanced»), reagindo a perspectivas mais tradicionais, que «dt has enfatizavam a possivel importincia desse factor na diferenciagdo romani seemed obvious to most past Romanists that differentiation of Latin spoken over the Empire must owe a great deal to the languages of pre-Romance populations. Unfortunately, most of these languages are now extinct, and our knowledge of them is defective. We can hazard guesses about possible phonetic interference but little else.» (ibid.). Mesmo assim, creio que merece referéncia e comentario uma proposta como a de Baldinger (1972”, Cap.’ portugués (resultados dos grupos iniciais latinos PL-, CL- € FL+ € sincope de -N- ¢ -L~ . pp. 161-230) para a explicagao dos tragos inovadores do intervocalicos), sobretudo salientando a inter-relagdo de uma possivel influéncia do substrato com outros factores, decorrentes de factos posteriores. 43 1 Objectives, programa econteidoe 4 Programa e conteidoe A ocupagdo mugulmana da Peninsula Ibérica e o movimento de reconquista que se Ihe seguiu constituiram factos determinantes no destino dos romances que tinham iciado 0 seu processo de diferenciagdo. E necessario retomar a nogdo de “Area inicial do galego-portugués" para procurar determinar de que formas os dois factos histéricos aludidos terio decisivamente influenciado este proceso no que se refere a lingua portuguesa em particular. Sera de salientar ndo s6 a importancia destes factos para a propria historia da lingua, mas os seus efeitos decisivos na possibilidade de recuperagao de dados relativos A situag2o linguistica do sul antes da ocupagao. © tratamento dos tépicos propostos neste ponto do programa conclui-se com uma sintese final, assumidamente interpretativa, que possa enformar a visio global do processo de formagio do portugués. A aproximagdo que se propde a essa sintese assentari nas nogdes de conservacdo e inovagdo, essenciais operativamente numa abordagem diaerénica, mas que convém usar com a reserva de que se trata, no contexto da hist6ria de uma lingua, de nogdes relativas estabelecidas contrastivamente em fungao de linguas proximas. Assim, destacam-se 0s tragos linguistics que comegam a individualizar o portugués durante a sua formagio, em confronto com os restantes romances peninsulares (conservagio de of e rfl nio ditongados, sincope de -N- © -1- intervocalicos), permanecendo, até hoje, como tragos distintives da lingua portuguesa, visto que marcam, quer um contraste com a generalidade das restantes linguas romdnicas, quer a unidade entre as diferentes variedades e dialectos do portugués actual {aspecto a retomar na parte E do programa, "O portugués actual numa perspectiva histérica") Sera itil uma sintese dos dados (possiveis) relativos 4 cronologia das mudangas que tiveram como resultado os referidos tragos, bem como a sua relagdo com factores de ordem extema, feita com o objectivo de obter um quadro geral do processo de formacao da lingua que constitua um ponto de referéncia inicial para 0 trabalho a desenvolver na parte C. 44 Objectives, programa e contetides 4. Programa e cantetidos C—O portugués da época medieval 11, "Pré-historia" € "historia" do portugués": diferenciagio da lingua ¢ emergéncia das seriplae, a documentagao. mais antiga da area portuguesa (latina, Jatino-portuguesa ¢ portuguesa). Este & um ponto do programa em que se pretende a confluéneia e inter-relagaio de diferentes tépicos. Uma aproximagio possivel & através da ligagdo entre um dos aspectos da temitica tratada no ponto anterior, a diferenciagio da lingua no contexto romanico e peninsular, ¢ uma primeira referéncia a questies de periodizagao (cf. ponto 7 do programa). E pritica convencional na historia da lingua fazer coincidir 0 inicio do seu periodo "hi t6rico" (por oposigio a "pré e proto-histéricos" ou "pré-literdrio") com a data das primeiras atestagdes ~ na pritica, a data dos textos mais antigos conhecidos e conservados. O aparecimento geralmente tardio das scriptae romanicas, decorrente da persisténcia da pritica de escrever em latim, determina que, quando este critério & seguido, ha um desfasamento muito sensivel entre o inicio assinalado para a "historia" da lingua e a época do seu "nascimento", na oralidade. Mas 0 periodo anterior ao aparecimento dos primeiros textos romanicos, ¢ durante o qual se tera processado a sua "diferenciagdo decisiva” ndo é um periodo inteiramente nao atestado, mas sim um periodo atestado, a partir de épocas varidveis, mais ou menos indirectamente, em textos latinos ou latino-romances. Este aspecto pode relacionar-se com o critério que tera levado L. Vasconcellos a distinguir na sua periodizagdo do portugués um periodo "proto-histérico", a partir do século IX. Também seri pertinente neste tipo de abordagem a referéncia a uma proposta recente de Ivo Castro, que se assume como alternativa a periodizagio tradicional, na qual se identificam os "ciclos" da historia do portugués (Castro: 2004; 84-88), 0 primeiro dos quais é 0 da "formagao da lingua" entre os séculos IX a XV. Conviré notar que nio se trata de uma "nova" proposta de periodizagio, mas sim de uma alternativa 4 prépria nogdo de periodizagdo nos moldes e de acordo com os critérios (genericamente entendidos) tradicionais na disciplina e nesse sentido talvez possa ser interpretada como uma abordagem complementar daquela, desde logo por nado se guiar, ou por nio se guiar do mesmo modo, pelas datas da escrita. O inicio do primeiro "ciclo" coincide com o marco cronolégico que assinala tradicionalmente 0 inicio do periodo "proto-histérico" (L. Vasconcelos), © di uma resposta de tipo 45 Objectives, programa e contetides 4. Programa e cantetidos diferente & questo da cronologia do inicio da histéria da lingua, visto que remete para um fenémeno linguistico, a sincope das consoantes intervocilicas -N- e L-, que «talvez. tenha sido o acto de nascimento da nossa lingua" (ibid.: 85)». Recorde-se que a sincope de -N- est jd atestada no texto (latino) mais antigo conservado da rea portuguesa, a escritura de fundagio da igreja de Lardosa (882), portanto um testemunho que se insere ainda no :culo que Castro refere como inicial do primeiro "ciclo" Outra diferenga que sobressai nesta proposta é a atribuigao de um sentido diverso ao termo "formagio", que tenho aqui usado, como é comum para o portugues e no contexto roménico, como equivalente de "diferenciagao” (do latim e das outras nguas roménicas), mas que adquire no texto de Castro uma acep¢io muito mais extensa, ou mais abstracta, ¢ que seré oportuno retomar para discussio aquando do estudo do (sub)periodo médio do portugués (ponto 13) Como ligagdo com o ponto seguinte do programa, incidindo em questées ligadas 4 problematica das fontes eseritas do portugués da época medieval, far-se-A referéneia 4s caracteristicas da documentagao latina ¢ latino-portuguesa remanescente do periodo anterior ao do aparecimento dos primeiros textos em portugués, tendo em vista colocar as linhas mais gerais da questio da contribuigo da exploragio deste tipo de textos para a documentago do processo de formagiio da lingua A questo dos textos mais antigos escritos em portugués merece um tratamento particular, justificado pela atengo que tem merecido da parte dos estudiosos (incluindo nao s6 linguistas, mas também paledgrafos ¢ historiadores) e as propostas recentes de rediscussio da questi, Partindo de dados relativos & datagdo dos textos conservados, procurar-se-4 reconstituir a "histéria” (mais recente) da questio, que se inicia com a apresentagao das conclusdes de Lindley Cintra e Avelino de Jesus da Costa que levaram 4 exclusio dos dois documentos do Mosteiro de Vairio a que anteriormente se atribuia a maior antiguidade entre os documentos em portugués conhecidos. Ana Maria Martins vem, mais uma vez, recolocar em discussio 0 estado dos conhecimentos sobre este topico, apresentando um conjunto de textos que, segundo a autora, inelui no s6 documentos que virdo preencher 0 «longo hiato» (Costa [1979] 199; primitivay das do inicio da «produgio regular de documentos em portugués» (Castro + 170) que até entdo separava as datas dos textos representativos da «produgio 46 Objectives, programa e contetides 4. Programa e cantetidos 1991: 183; 182), como documentos com datas ou dativeis ainda do século XII (Martins 1999; 492), Entre estes tiltimos textos destaca Ana Maria Martins um brevissimo documento, a Noticia de Fiadores, datado de 1175, que assim passaria a ser o mais antigo texto conhecido escrito em portugués, vindo pouco depois José Anténio Souto Cabo apresentar um outro texto, o Pacio de Gomes Pais e Ramiro Pais, para o qual reivindica maior antiguidade, embora se trate de um documento datado conjecturalmente (Souto Cabo 2003). A questio tem tido continuidade e eco em diferentes tipos de contribuigdes, podendo discutir-se se havera ja matéria suficiente para alterar 0 marco cronolégico que, de acordo com o critério geral das propostas de periodizagao tradicionais, inaugura a “hist6ria" da lingua. E, porém, indiscutivel o valor que tem este _género de textos para aprofundar 0 conhecimento do processo de passagem a escrita do portugués, independentemente da caracterizago da lingua da escrita que se considere mais adequado atribuir-Ihes — portuguesa ou latino-portuguesa.’ Seri titil 0 comentario de Martins (1999) com diferente objectivo, que ¢ 0 de chamar a atengo para os aspectos que a autora sublinha relativamente a tipologia dos textos apresentados (entre outros, documentos do tipo "noticia", que a autora relaciona com a tipologia de textos ja antes conhecidos, como a Noticia de Torto ¢ 0 chamado Auto de Partithas), bem como relativamente a uma caracterizagio contrastiva das scriptae dos documentos régios e privados (tendo por base a andlise dos documentos privados que apresenta e sintetizando observagdes anteriores de Castro (ibid.). Trata-se, essencialmente, de introduzir tépicos destinados a uma aplicagao posterior, que devera ter lugar no tratamento de questes metodolégicas (ponto 12) € no contacto com os préprios textos (ponto 13) ” © primeino tipo de caracterizagao & defendido, para a Noticia de Fiadores (além de outros textos), por Martins (1999), 0 que susciton a reacgo de Emiliano (2003), que considera mais adequada 2 sua caracterizagdo como texto latino-portugués. Martins (no prelo) retoma a discussio, contrapondo vérios argumentos aos critérios (ou "condlgdes") propostos por Emiliano. Souto Cabo (2003) vai também tratar esta questio dos "eitévios que permitem qualficar um texto como galego-portugués ot latino" 47 Objectives, programa e contetides 4. Programa e cantetidos 12, Questdes metodoldgicas do estudo do portugués da época medieval: caracteri zagio. tipologica dos textos remanescentes; critérios de avaliagio de representatividade das fontes textusis Uma primeira aproximagao a questdes metodoldgicas especificas do estudo do portugués medieval poderd fazer-se num enquadramento mais geral da problemitica das fontes, referindo nogdes e problemas do ponto 4 do programa ("Fontes textuais. ja em parte introduzidas a propésito das fontes do latim, Também sera pertinente a referén ia a questoes de periodizagiio (cf. ponto 7), visto que o tragado de uma fronteira periodolégica no século XVI, que é consensual na histéria do portugués (descontando, naturalmente, precisdes cronolégicas mais estreitas), necessariamente se liga com a data do aparecimento das primeiras fontes secundérias.* O estudo de fases passadas da lingua, visto que os dados nao sio directamente observveis, comega por ser uma reconstituigao dos mesmos a partir da exploragao dos textos conservados, ou seja, uma reconstituigao do proprio objecto de estudo. Nao havendo, para o portugués da época medieval, descrigdes contemporineas da época da histéria da lingua que se pretende estudar, a explorago das fontes primarias assume uma importancia crucial, nela assentando boa parte do conhecimento dos dados a recuperar, E essencial, neste contexto, uma referéncia aos principais problemas levantados A actividade de exploracdo das fontes escritas, assinalando as questdes mais especificas relativas as caracteristicas da documentagao desta época da historia da lingua: a escassez dos textos conservados (mais sensivel nas épocas mais recuadas), que representardo apenas uma parte, de grandeza relativa que desconhecemos, dos textos originalmente produzidos; as relagdes complexas entre as formas escritas que esses textos veiculam e a /ingua que se tem por objectivo reconstituir. Trata-se, portanto, de questdes de representatividade, quer em termos quantitativos, quer em termos qualitativos, que convir ainda relacionar com o aspecto, mais geral, em que se enquadra toda esta problematica, jé referido no ponto anterior, * Uso aqui o termo com a acepgo implicita que ele tem, por, por exemplo, em Castro (2004: 89). Silva (1991: 28) usa 0 termo fontes secunddrias no sentido de "estudos existentes fundados [na] documentago [escrita remanescente]", que € bastante diferente do que aqui se adopta, A autora esté a tratar um periodo (0 portugués arcaico) para o qual nao existem fontes secunddrias, a acepeao de textos (de diversos tipos) que contenham descrigdes (apreciagdes, comentérios, etc.) que de algum modo impliquem uma teflexio de tipo metalinguistico sobre a lingua contemporanea dos seus autores, o que podert explicar o sentido diferente em que usa o termo. 48 Objectives, programa e contetides 4. Programa e cantetidos que & 0 do aparecimento relativamente tardio de textos em linguas romfinicas, sobretudo devido a persisténcia do latim como lingua de escrita e com as questdes que se prendem com a "passagem a escrita", das linguas romanicas em geral e do portugués em particular, E geralmente aceite que a representatividade qualitativa das fontes textuais potencialidades para a recuperagdo de tragos lingu seja, de uma dada sincronia, se relacionam com a tipologia dos textos, embora nao seja consensual entre os estudiosos a apreciagio dessa relagio para tipos textuais espectficos E, em qualquer caso, essencial comegar por referir a divisio tradicional da documentagdo remanescente (textos nao literdrios / literdrios), ¢ as tipologias propostas para a sua classificagio, com indicagdes precisas sobre os textos conservados. Com a recolha e organizago de informagdo sobre estes aspectos, pretende-se dispor de uma base para a discussio sobre a maior ou menor adequagio dos varios tipos de textos para objecto de estudos linguisticos, abordando uma temética como a que Lindley Cintra tratou para os textos nao literirios e que outros estudiosos (Ivo Castro, Clarinda Maia, Rosa V. Mattos e Silva, Ana Maria Martins) desenvolveram relativamente a outros tipos textuais e/ou a outros aspectos linguisticos. Merece destaque nesta problemética a forma de transmis dio dos textos (conservados em original / c6pia) e, de um modo geral, a possibilidade de recuperagiio dos dados relevantes para a reconstituigo das circunstinci: precisas da sua produgdo (data, lugar, intervenientes), cujo conhecimento se reveste da maior importineia para uma adequada utilizagao dos textos como fontes Trata-se, portanto, de introduzir varios tépicos associados & problematica das fontes no Ambito especifico do estudo do portugués medieval, incluindo também referéneias ao papel das disciplinas auxiliares. Ha um tépico essencial a introduzir aqui e a desenvolver, em termos de aplicagao, no decurso da actividade de andlise comentario de fontes do ponto seguinte, que € 0 da problematica da edigdo de textos medievais (retomando, mais uma vez um dos itens do ponto 4 do programa). Tendo em conta que o historiador da lingua precisa de comecar por recuperar os dados, 0 que implica recorrer a fontes, é necessario sublinhar que estas so veiculadas por edigdes e que por isso a actividade editorial nunea & irrelevante para a disciplina (muitos estudiosos da historia da lingua comegam por fazer edigdes).. 49 Objectives, programa e contetides 4. Programa e cantetidos Como se procurara evidenciar na pritica, no ponto seguinte, qualquer estudo linguistico comega por seleccionar fontes, ¢ nessa selecgo & muitas vezes decisiva a anilise prévia dos critérios e normas das edigdes disponiveis, que pretende sobretudo verificar de que modo estes terdo efeito na transfiguragdo dos dados que se pretendem recuperar. Sera de notar ainda que a propria concepgio de "texto", a contrastar obrigatoriamente, no contexto dos estudos medievais, com a nogdo de “testemunho", necessariamente enforma diferentes tipos de actividade editorial, ou decisivamente compromete a sua adequago para estudos linguisticos se este tipo de reflexiio prévia estiver ausente, Todas estas questées serio, naturalmente, objecto de desenvolvimento e aplicagao no decurso das priticas de comentirio e andlise de textos, no ambito do ponto seguinte do programa, Ficard certamente por desenvolver com o devido aprofundamento a questo dos corpora (outro item do ponto 4), que, no entanto, merece referéneia aqui, a ligar com questdes ja tratadas, como a representatividade das fontes em fungio de diferentes pardmetros, que devem ser correlacionados, como 0 tipo de texto / testemunho, a cronologia relativa da sua produgo ¢ forma de transmissio ¢ as caracteristicas das edigdes disponiveis. Trata-se de aspectos fundamentais para a definigao de crit metodologias de constituigao © codifieagao de corpora textuais medievais. Sendo de notar as potencialidades neste dominio das novas tecnologias informiticas ~ construgdo de corpora de grandes dimensdes, desenvolvimento de ferramentas de pesquisa © anotagiio automiaticas — deve salientar-se sempre que se trata, apesar de tudo, de corpora de documentagio remanescente (¢ nem mesmo os corpora contemporineos podem pretender representar a "totalidade da lingua"). A sua utilizagiio com fins linguisticos, que 6 sem diivida de extrema utilidade, deve ser aferida pela exploragio de textos / testemunhos individuais ou corpora parciais, neste caso constituidos de modo a serem homogéne: em relagio a pariimetros adequados aos objectivos de um dado linguistico. 50 Objectives, programa e contetides 4. Programa e cantetidos 13, Exploragio linguistica da documentagio remanescente (textos dos séculos XII a XV) ~ identificagio contrastiva de tragos de diferentes sincronias. © objectivo deste ponto programitico & chegar a uma caracterizagio do portugués da época medieval, identificando contrastivamente tragos de diferentes sineronias, Mas ha um objectivo estreitamente associado a este, que consiste no desenvolvimento de priticas de andlise de fontes textuais primarias tendo em vista a sua exploragio linguistica, de algum modo reproduzindo o tipo de trabalho que os estudiosos do portugués medieval tém realizado, com diferentes objectivos especificos, ‘mas com uma finalidade que é comum ~a reconstituigio do sistema linguistico de uma fase passada da lingua (ou da(s) sua(s) gramatica(s)). Para o desenvolvimento deste tipo de actividade sto essenciais as questdes metodolégicas incluidas no ponto anterior, bem como o recurso a obras de referéncia e outros estudos, cuja consulta e anilise critica so aqui indispensiveis (8, pois, a altura adequada para desenvolver os aspectos dos pontos 5 ¢ 6). A anilise © comentarios comegario por incidir num conjunto de textos nao literarios, régios e privados, do século XIII, veiculados em edigdes realizadas com fins linguisticos. Deverd, no entanto, haver algum tipo de observago de manuscritos ou de reprodugdes fotogrifics s, de modo a evidenciar a acco "transfiguradora" que uma edigo, por mais conservadora, sempre opera sobre 0 seu objecto Sobre os textos com datas ou dataveis ainda do século anterior que tém sido caracterizados nalguns estudos recentes como “escritos em (galego-)portugués", salientar-se-fo sobretudo os aspectos, a discutir, mais relevantes para o estabelecimento de critérios para os contrastes possiveis entre uma scripia latina e as scriptae latino-portuguesas ¢/ou portuguesas. Entre os textos seleccionados para andlise figuram, como é ja tradicional na disciplina, 0 Testamento de Afonso HM de 1214 (segundo os dois manuscritos conhecidos) € a Noticia de Torto, com © objectivo de depreender dessa anilise a diferenciagio de dois tipos de seripta. A vantagem de analisar especificamente estes textos reside também no facto de dispormos para o seu estudo de uma bibliografia considerivel, que permite apoiar solidamente o trabalho dos alunos, de modo a enquadrar depois 0 estudo de outros textos. Ha, naturalmente, diferentes pereursos possiveis para desenvolver_ um comentirio linguistico, que combinara de modo diferente os seus varios passos, desde a Sl Objectives, programa e contetides 4. Programa e cantetidos anilise, forma a forma, com a anotagdo de aspectos etimoldgicos, scriptogrificos, e de um modo geral, o tragado da sua evolugo, que culmina no contraste com 0 portugués actual, procurando explorar todos os aspectos possi 's (grifico, morfo-sintictico, semintico, lexical), até 4 sintese dos principais tragos que permitem caracterizar a scripta do testemunho, que poder conduzir a um comentério ja mais estruturado, Este tipo de comentirio deverd ainda ser enquadrado na recuperagio possivel das circunstincias especificas da produgdo do texto (cf, por exemplo, Castro 2004: 126- 154). Este sera, em certo sentido, um percurso ideal, tendo em conta que parte da anilise para a sintese, da observagiio de formas e tracos particulares para a formulagao de generalizagdes, necessariamente a confrontar com dados recolhidos em obras de referéneia e@ outros titulos relevantes. Pretende-se deste modo ir alargando aprofundando os conhecimentos dos estudantes sobre as caracteristicas da lingua da época, A medida que se vio tratando novos textos. A abordagem de textos posteriores ao século XIII (e conservados em testemunhos da época) faz-se numa continuidade relativamente ao trabalho ja desenvolvido, com base jé nalguma familiaridade com a actividade de comentario linguistico de textos. As caracteristicas da documentagio remanescente desta época permitem ir diferenciando a tipologia dos textos a analisar, trazendo para o seu estudo aspectos da discussio, avangada no ponto anterior, sobre a adequagdo de diferentes tipos de textos / t stemunhos para a recuperagdo de tragos linguisticos de diferentes niveis, Simplificando a questo, ha essencialmente a ideia de que existe uma complementaridade dos diversos tipos de textos na reconstituigdo de dados de diferentes niveis de anilise linguistica (Silva 1989: 40) e de diferentes registos (Maia 1986: 2-17), mas a questo voltou mais recentemente a ser discutida, por exemplo no que respeita & adequagao de textos notariais para objecto de estudos sinticticos (Martins 1994: 9-10). A anilise de textos do século XV assenta na constatagdo da emergéncia de formas ¢ estruturas que denunciam ji 0 resultado de mudangas linguisticas entretanto concluidas ou em expansio, embora nem sempre essa evidéncia seja detectavel de forma directa ¢ linear na observagao das formas escritas. O objectivo sera assinalar nos textos estudados as diferengas que mais claramente podem verificar-se relativamente 0s textos cronologicamente anteriores. Visto que nesta éptica ¢ fundamental a 52 Objectives, programa e contetides 4. Programa e cantetidos cronologia das fontes, comegam por analisar-se textos datados conservados em original, € 86 num segundo momento textos literarios, incluindo textos posticos, As actividades de andlise e comentario desenvolvidas neste ponto tém como objectivo ltimo a enumeragdo e descrigdo das mudangas linguisticas cujo resultado € ja observavel (directa ou indirectamente © com diferentes graus de "transparéneia") nos textos da época. Na anilise de cada texto, tendo em conta a sua datagiio (em termos de produgdo original ¢ forma de transmissio) merece destaque o contraste entre formas inovadoras, que melhor evidenciam resultado das aludidas mudangas, ¢ formas conservadoras, que aparentemente atestam a continuagio do uso, na escrita, de formas nao alteradas, isto ¢, com caracteristicas semelhantes as de formas atestadas na época anterior. © comentario destes aspectos requer, naturalmente, cautelas, para no levar a conclusdes simplistas, sendo necessario (re)considerar varias questes, como a da possivel discrepincia entre a ocorréneia da mudanga linguistica ¢ a sua consignago na escrita, eventualmente associada a tipologia textual e de testemunho, além do aspecto mais geral da forma de difusio da propria mudanga linguistiea na comunidade (um t6pico desenvolvido na disciplina de Linguistica Histérica) Nao sendo possivel desenvolver com devido aprofundamento todas estas questdes, assinalam-se 0s aspectos mais relevantes em fungdo dos objectivos definidos através do apoio em estudos j4 realizados que avangam propostas de descri¢ao / explicagdo das mudangas com efeitos mais sensiveis na evolugao do sistema linguistico. Destacam-se, portanto, as mudangas que tiveram diferentes tipos de consequéneias na morfologia nominal sobretudo verbal, como o desaparecimento dos participios em -udo dos verbos de vogal tematica e no infinitivo, a convergéncia das terminagies nasais etimoldgicas - e - e a sincope de -d- em formas verbais de segunda pessoa do plural (para além de varias outras alteragdes com incidéncia em diferentes niveis de anilise), Uma vez que alguns estudos destas mudangas invocam a nogio de analogia, que 6 recorrente, por exemplo, nas graméticas histéricas, seri o momento ideal para retomar 0 conceito, problematizando a sua adequagdo e poder explicativo para a abordagem dessas mudangas assinalar alternativas em termos de deserigao / explicagao (assim procurando recuperar aspectos de cardcter mais teérico desenvolvidos na disciplina de Linguistica Histérica). 53 Objectives, programa e contetides 4. Programa e cantetidos O tratamento destes t6picos conclui-se com uma sintese que destaca os dados relativos 4 cronologia (possivel) das mudangas estudadas, de modo a enquadrar o estudo do portugués do século XV na problematica da periodizagio, visto que este € um dos momentos da historia do portugués que nesta temitica tem sido alvo de maior discusso, constituindo a delimitacao de um periodo médio (na acepgao de Lindley Cc Cintra, ef. Castro 1999), ou, em alternativa, apenas um sub-periode, um ponto recorrentemente tratado na disciplina, A questo da periodizagiio merece, porém, uma abordagem mais abrangente integradora, que poderi ter uma aproximagio através da recuperagiio de um tema ji troduzido no ponto 10 do programa a propésito da "delimitagdo da area primitiva do portugues", ou seja, abarcando também a questio da diferenciagao diat6pica. Uma generalizagiio do tipo da formulada entre as conclusdes de Maia (1986 891): «Os textos de Portugal e da Galiza (...) revelam, desde o século XIII — mas mais imtensamente a partir do século XV —, a existéneia de tragos distintos que anunciam algumas das diferengas mais expressivas entre 0 galego e o portugués.» pode servir de motivagdo para este género de enquadramento no periodo da histéria da lingua em estudo neste ponto. Sera nece! coligi dados em diferentes obras para uma descri localizagdo cronolégica das mudangas linguisticas com resultados (parcialmente) divergentes, que tém sido apontadas por alguns autores, discutindo as diferentes perspeetivas defendidas sobre a questo, Procuram separar-se os dados po: iveis para o tragado de uma diferenciagao diatépica, ocorrida diacronicamente, que é 0 aspecto mais importante numa perspectiva da histéria da lingua, das diferentes perspectivas, evidentemente terpretativas, sobre a questio. Nao sendo objectivo possivel o tratamento devidamente informado © desenvolvido da chamada “questio galega", poderdo, no entanto, ser objecto de referéncia e comentirio diferentes posigdes, historicamente focalizadas no que respeita a persisténcia / desagregagao de uma unidade galego-portuguesa (ef., por exemplo, Teyssier 1982: 39-40 e Cintra [1971] 1983": 140). ‘No tratamento mais geral da problemitica da periodizagdo pretende-se sobretudo sublinhar os pressupostos da tarefa de periodizar e assinalar a sua complexidade: delimitar periodos ou fases, correspondentes a sincronias em sentido lato, caracterizados por um conjunto de tragos linguisticos distintives em relagdo aos periodos ou fases 54

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