A Cerdmica proto-histrice do vale do Céivado:tenativa de sstematiract. 3s
A Cer&mica Proto-Histérica do Vale do Cavado: Tentativa
de Sistematizacao *
Manuela Martins
Rerumo
Procura-te neste trabalho sstematizar a cerdmica do? milénioa.C. encontcada ats escevagbes realizadas em tts
povoadosproto-histércosdovaledo Chvado: 8, Jultoe Barbudo Vila Verde) ¢ Lago Amare). Tendo por bast wma
rove discusito de eronologia bride nas esavagdes,apresentase a certmicedividida em (rts grandes fares, que
ortespondem & evoluqo cultral do 1? milénio aC. oa regio. A cerdmica Ser entdoanalisad em fungto dos
fabricer, formas decorag3es. Para cade fase fornece-re um quadro motfolégico da cerkmica encontrada cin cxda um
dos povoados estdades.
Resume
Leuteuressaiede fate bilan dela céramique dv 1° milleniuma.C. a partir desfouilles de troisoppida densa vate
dda Cavador 8, Julio et Barbudo (Vila Verde)et ago (Amares). Apres la discussion dela chronologic le céramique
‘dont on init analyse technologiau,tipologique et décortive, est clasté en oi phases, en rapport avec Evolution
‘culturell de i région
Abeteact
“The author presents systemathic approach ofthe pottery ofthe 1** millenium aC, found in the excavation of three
hi-forts in Cavado vlleyS Julio and Barbudo (Vila Verde) and Lago Amares). Aftera chronological discus
the pottery is elaated ito taree main phases corresponding tothe cultural evolution in the region. For ech phate the
technology, the typology and the decoration ofthe pottery will be discussed,
* Desentos: Maria Felsina Viles Boas; Flipe Antunes (MRDDS) Fernando Barboss (MRDDS)
Cadermos de Arqueologa, Stic Mt, 4, 1987, pp. 35-77M. Mating, A Cerdmica protoshistériea do vale do Cévado: entaiva de sistematizasdo, 7
1. Introdugaio
A cerdimica ocupa um lugar de destaque no Ambito da cultura material dos castros do
Noroeste peninsular! Em primeiro lugar, porque 0s achados ceramicos constituem sempre os
vestigios numericamente mais importantes nas escavagGes destes habitats; depois, porque cles
so frequentemente os tinicos a fornecer elementos de datagdo para as sequencias estratigr4-
ficas € para as estruturas; finalmente, porque @ cerdmica, para além do seu valor crono-
-tipol6gico, fornece elementos de natureza antropolégica e ecologica, que importa valorizar,
Estes aspectos justificam, em parte, um crescendo de interesse pelo estudo da cerdmica
proto-histérica do NO, que se desenha a partir da década de 70, quer em Portugal?, quer na
Galiza?, No entanto, varios problemas se tém posto aos investigadores, pelo que oaleance dos
trabalhos produzidos naquele dominio tem sido limitado.
‘A longa duragio dos povoados justfica o estado de fragmentago da cerdmica queé, por
‘conseguinte, dificil de estudar einterpretar. Por outro lado, encontramos tragos evidentes de
‘um grande conservadorismo a nivel tEcnico ¢ morfolégico, que se mantem por vezes ao longo
de séculos, nada favorével A datacdo de pecas isoladas. Mas, étambém verdade que oreduzido
niimero de escavacdes com boas estratigrafias e a sua escassa divulgagdo tem dificultado 0
estudo deste valioso material arqueolégico.
‘Assim, se a monotonia técnica ¢ formal justifica a excessiva valorizagio de raras pegas
importadas, ou de outras mais nas, também é certo que a raridade de estudos monograticos
1 Neste dominio destacamos os trabalhos de sntese que foram publicados nos utimos anos, que tocam &
problemtics da «Cultura Castejan,nomeadamente o de A. Coelho da Silva (1986) 0d¢C. A, Brochadode Almeida
(1987). Mas & também de stlientar os traalos de tipo monografico sobre estagdes que vem merecendo ateacto
particular, quer em Portugal, quer na Galiza (ALMEIDA er aif 1981; SOEIMO 1984; HIDALGO CUNARRO 1982; 1983;
19854; 1985b; Paws SaxrO8 1986)
1 Em Portugal cefita-esobretudo os trabalhos de C. A. Fertera de Almeida (1972, 5-34; 1974, 171-197) pioneiro
na tentative de sstomatizr a tipologi ¢ of entilos da certmicn dos casos portuguese.
31Na Geliza encontramos um maior nimero de trabathos relativos & cerdmica, quer no Ambito de sinteses
(Romero Quinoon 1975; REY Casrineitas 1978), quer como conteibuiglo ao estudo e divulgacto de materinis de
‘antiga escavacdes (HIDALGO CUNARKOe Costas Gosenna 1979, 151-228; 1982, 273-289; REY CASTINEIRAS 1983,
443-448; 1984), entre outros.
Cadernos de Arqueotogia, Série U4, 1987, pp. 35-778 M, Martins, Cerdinfoa provoshsiérica do vate do Cévado:temativadesetemarizardo.
impede o estabelecimento de paralelos correctos, ou frutiferos. Essa situacio dificulta obvia-
mente qualquer visdo de sintese, quer no que respeita ao estudo da propria cerdmica, quer no
Ambito dos contributos deste material para estabelecimento de cronologias.
‘A nossa experincia de trabalho em povoados do vale do Cévadot colocou-nos perante
problemas de andlise ¢ interpretac#o da cerémica que certamente sero comuns a outros
investigadores, que trabalham neste tipo de estagGes, Julgémos, assim oportuno realizar um
breve balango sobre a cerémica proto-histérica que tivémos oportunidade de estudar entre
1980 ¢ 1986. Todavia, estamos conscientes de que os resultados obtidos sio vilidos antes de
mais para os sitios escavados, ainda que possam representar um quadro caracteristico da
producto da regido do vale do Civado, ¢ contribuir para uma melhor compreensio da olaria
proto-histérica do NO portugues.
2. Questdes metodol6gicas
Quando comparada com outros achados a cerdmica oferece miltiplas vantagens, que
resultam da sua durabilidade (¢ praticamente indestrutivel), da sua frequencia (aparece sempre
em grande quantidade) € da complexidade envolvida no seu fabrico (traduz uma série de
procedimentos, desde a escolha da argila e dos elementos no plasticos, & preparacoda pasta,
A modelago da forma, acabamentosea toda uma série de transformagées de natureza quimica
que ocorrem durante a cozedura).
‘As duas primeiras caracteristicas justiticam a longa tradigio de estudos da ceramica, em.
que ela é sobretudo valorizada como elemento de distingdio das culturas arqueolégicas (valor