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146 BOLETIM GEOLOGIA E METALURGIA xVit ACOS RESISTENTES AO DESGASTE 1 — Introdugte — O desgaste ocorre em pegas de méquinas quando em movimento, como em eixos, pistées, vdlvulas, engre- nagens, etc. ou em pegas de britadores, escavadoras, mistura- dores, maquindrio agricola, de construgdo, enfim, numa infinidade de aplicagées da engenharia e da indtistric. O efeito mais importantes désse fendmeno é a modificagao das dimensées das pegas em servigo, desde a sua redugdo em tamanho a tal ponto que elas perdem sua eficiéncia ou que rompem mediante a aplicagéio de uma pequena sobrecarga, até a alteragéio da ajustagem entre pecas méveis e fixas de modo a criar tensdes inesperadas na parte mével, contribuindo para provocar a sua ruptura por fadiga ou por outro esforgo dindmico. Os tipos de desgaste sdo clasificados geralmente de acérdo com a natureza das superficies om contato Qs tipos mais importantes séo — desgaste de metal contra metal; — desgaste de metal contra nao-metal ou desgaste abrasivo, No primeiro caso a lubrificagdo 6 muito importante, pois ela pode ufetar grandemente a velocidude de desyuste; entretunto, resisténcia ao desgaste do material pouco depende da lubri- ficagao, mesmo porque lubrificagdo perfeita é dificilmente alcan- gada e, além disso, substancias estranhas e abrasivas contidas no lubrificante podem causar ndo sé abrasdo severa como tam- bém corrosao. Em geral, no desgaste de metal contra metal, o principal fator a ser considerado é o estado das superficies em contdto, porque admite-se que o desgaste seja causado pela interferéncia mecémica de pequenas projecdes ou asperezas da superficie metdlica. Assim, quando as duas superficies estGo em contdto e se deslocam uma em relagGo 4 outra, pode-se admitir que as projegdes de uma coincidam com as depresses da outra, o que ir& causar uma resisténcia ao movimento. Se a férga causadora déste é suficiente para manté-lo, as projegdes das superficies sao deformadas ou quebradas. No desgaste abrasivo, admite-se que particulas nGo metd- licas de cardter abrasivo penetram primeiro no metal, causando a seguir a remogéo brusca de particulas metdlicas As consideragdes acima feitas levam & concluséio que, para qualquer dos tipos de desgaste, a resisténcia ao desgaste do metal 6 fungdo dos fatores seguintes — dureza. para resistir 4 penetracdo inicial: saa AGOS-CARBONO E AGOS-LIGA uaa — tenacidade, para evitar o deslocamento ou remogdo das particulas metdlicas; — superficie sem rugosidades, de modo a evitar as pro- jegdes. A dureza é o fator mais importante, pois dela depende o inicio do desgaste. Outro fator também ponderdvel e que deve ser levado na devida conta é a estrutura metalogrdfica do material. De fato, a presenga de particulas de um constituinte de baixa dureza e portanto, vulnerdvel ao desgaste, numa matriz dura, prejudica a resisténcia ao desgaste do conjunto, ao passo que se a estru- tura fér formada por um constituinte possuindo particulas duras — carbonetos geralmente — numa matriz mais mole, ela cpre- sentara sueprior resisténcia ao desgaste, principalmente quando essas pariiculas duras ndo sdo excessivamente frageis e quande sco de pequenas dimensdes e uniformemente distribuidas na matriz, Os requisitos de alta dureza, elevada tenacidade e estru- tura adequada podem ser conseguidos nos agos através dos seguintes artificios : — composigéo quimica conveniente, pela introdugdo em altos teores de determinados elementos de liga; — tratamentos térmicos ou termoquimicos de agos de com- posig6es adequadas; — encruamento. De qualquer modo o que se visa inicialmente é elevor a dureza superficial do ago e o melhor meio de se alcangar ésse objetivo nos agos é pelo encruamento de determinados tipos de agos austeniticos, onde a austenita é pouco estdvel, e que, pelo encruamento, podem ser tornados martensiticos. 2 — Agos-manganés austeniticos — fsses agos sGo também chamados «Hadfield» devido ao seu inventor. Caracterizam-se por possuirem elevados teores de carbono e de manganés. Os tipos comerciais apresentam ésses elementos entre os seguintes limites carbono — 1,0 a 14 %, geralmente 1,2 % manganés — 10 a 14%, geralmente 12 a 13% © diagréma ‘de equilibrio para 13 % de Mn esté represen- tado na Figura $4, ‘Do seu exame conclue-se que : — 0 eutetoide apresenta baixo teor de carbono; — a austenita 6 tdo estdvel que ela fica sem se transformar com velocidades de esfriamento moderada. 148, BOLETIM GEOLOGIA E METALURGIA 1100 1000 400 & 8 Temperatira, C 8 Q 8 S00 | | | 0 02 Q4 Q6 08 40 %2 tf 146 %8 Porcentagem de cartono FIG. 54 — Diagrama de equilibrio para ago C-Mn com 13 % de Mn. Se os carbonetos presentes tiverem sido solubilizados pode- se evitar, por esfriamento em agua, sua precipitagdo em seccdes moderadas. A estabilizago da austenita deve-se, pois, ao manganés, cujo efeito 6 mais no sentido de atrazar a transformagdo do que eliminé-la. Nos limites usados nesses tipos de agos, o manganés melhora também o seu limite de resisténcia & tragGo e a sua dutilidade, sem, entretanto, afetar o limite de escoamento. Abaixo de 10 % de Mn as propriedades relativas 4 resisténcia & tragGo caem rapidamente, de modo que é desejavel, geralmente, um minimo de 10% de Mn. © carbono aumenta o limite de escoamento (limite :1) assim como as outras propriedades de resisténcia 4 tragdo. O. teor étimo € considerado em torno de 1,15 %. O efeito dos outros elementos normalmente encontrados é © seguinte : — silicio, adicionado geralmente para fins de desoxidagdo, raramente ultrapassa 1%; as vezes é adicionado até teores de % para melhorar ligeiramente © limite de escoamento e a re- sisténcia & deformagdo plastica sob a agéio de choques repetidos; AG SARBONO E AGOS-LIGA 149, — enxofre, nao é levado em conta devido ao alto teor de Mn désses ago’ — fésforo, geralmente considerado sem qualquer influéncia nociva abaixo de 0,10 %. a) Tratamento Térmico dos acos Hadfield — A estrutura dos agos-manganés no estado fundido ou laminado, contém car- bonetos e outros produtos de transformagao que conferem grande fragilidade ao ago: sua resisténcia & tragdo é de cérca de 42 a 49 kg/mm? com alongamento e estricgdo as vezes inferiores a 1%. As propriedades mecémicas normais désses agos sao obtidas com um tratamento de austenitizagGo, a uma tempera- tura suficientemente alta para assegurar completa solugdo do carbono, seguida de esfriamento em Ggua. A temperatura de austenitizagao 6 de 1.000°C ou mais elevada. Apés 0 esfriamento em dgua o ago toma-se diitil, apresen- tando um .alongamento que varia de 30 a 60%, uma dureza Brinell de 180 a 220, limite de escoamento de 31 a 42 kg/mm* e limite de resisténcia & tragéio de 57 a 100 kg/mm’. Os valores abaixo so para agos-manganés dos tipos co- merciais, com 1] a 12% de Mn e C acima de 1,0 %, em trés condigées diferentes: fundido, laminado e forjado. Os valores referem-se a ésses ugos apés o tratamento térmico usual. TABELA XXX Algumas Propriedades Mecémicas de Acos-Manganés Limite de resis- téncia & tracéo kg/mm? Condigéio do aco | Limite de escoa- antes do trata- mento mento térmico keg/mm* Alongamento ‘h 57.5, 945 — 98,0 99,5 O encruamento do ago-manganés austenitico eleva a dureza Brinell de 180-220 no estado temperado em dgua a 500-600. Tal- vez, nenhum outro ago supere o ago Hadfield em capacidade de endurecer pelo encruamento. Admite-se que o endurecimento resultante seja causado pela formagdo de martensita. b) Adigé&o de outros elementos de liga ao ago Hadfield — © cromo tem sido adicionado ao ago Hadfield usado em pecas utilizadas em britamento, moagem, e Wansporte de material leve e de pequenas dimensées onde o desgaste é principalmente de natureza abrasiva (com auséncia, portanto, de choque que possa 150 BOLETIM GEOLOGIA E METALURGIA desenvolver rapidamente a dureza superficial desejdvel nesses tipos de agos) com o fim de aumentar ligeiramente a dureza do ago antes do encruamento e de modo a permitir que, com menor encruamento, se obtenha suficiente dureza superficial A quantidade de cromo adicionada varia de 1,0 a 1,5 %. Com 1,50 % de Cr a dureza Brinell de um ago Hadfield comum passa de 200 a 220 e com 2,0 % de Cr a aproximadamente 280. ‘Tem sido empregado também cromo até > %, mas a dutili- dade e a trabalhabilidade do ago diminuem. Para contornar ésse nconveniente tem sido usado o cobre em teores até 1,50 % Outro elemento de liga ds vezes adicionado no ago-manganés € niquel, que é vantajoso nos tipos de ago-manganés com baixo carbono, visto ser o niquel um elemento formador de austenita. A composigGo genérica de agos-manganés com niquel é 0,6 a 09% de C, 25 a 3.0% Ni e cérca de 12% de Mn. £sses agos tém sido usados para barras de solda, laminadas ou trefilodas, © ocasionalmente em pecas fundidas. Nao ha necessidade de se temperar ésse tipo de ago em dgua para obtengdo da neces- dria dutilidade, bastando para isso esfriamento ao ar. 3 — Agos carbono-cromo — ®stes tipos de agos para resis- téncia ao desgaste so empregados em mancais de esferas ou de rolamentos, compreendendy os tipus SAL 52100 ou 52100 A, com 1% de C e 1,25 a 1,75% de Cr. Tais agos podem ser usados em esferas com didmetro superior a 1", e, com conve- niente témpera em leo, sua dureza pode atingir 65 a 67 Rockwell C. Para esferas menores podem ser empregados os tipos SAE 50100 e 51100, com menos cromo, 0,40-0,60 % e 0,90-1,15 % res- pectivamente (esferas até 2 ou 1" respectivamente). Com cromo acima de 10 %, precisamente na faixa de com- posigao de 12 a 14 % de Cr e 1,50 a 2,50 % de C ha formagao de grandes quantidades do carboneto (Cr, Fe);C; e os acos re- sultantes apresentam grande resisténcia ao desgaste sendo em- pregados em matrizes, laminas de tesoura e aplicagdes seme- lhantes. N&o sGo ésses materiais normalmente considerados agos para ferramentas, pois em suas aplicagées tipicas éles realmente nado removem metal, mas resistem ao desgaste por atrito.

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