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MENSAGEM REPUBLICA DOS ESTADOS UNIDOS DO BRASIL MENSAGEM APANSENTADA 40 CONGRESSO NACIONAL NA ABERTURA PRIMELRA SESSA0 DA BRGIMA TERGEIRA LESISLATORA PRESIDENTE DA REPUBLICA Washington Luis P. de Sousa RIO DB JANEIRO 1927 Senhores Membros do Congresso Nacional Antes de cumprir o dever constitucional de vos dar conta de sizuago do paz, indicendo as providencias € reformas, que se fazem necessaries, quero apresentar- vos o meu saudar muito cordeal, fazendo votos sinveros pela proficuidade de vossa obra na presente legislature, e na gual 0 povo brasileiro confia, em vista do vosso sdber, da vossa experiencia comprovada ¢ do vesso ppatriotismo. Ao mesmo tempo desejo congratular-me com a nagdo, por intermedio dos seus legitinnos representarites, pela mancira serena ¢ digne com que, nfo cbstante fonge suspensdo das garantias constitucionaes, deter- minada por largas ¢ profimdas perturbagbes da ordem publica, exercet ella a funecdo primordial, numa demo- cracia representativa, de eleger a Cemara dos Deputados € 0 tempo do Senado, reaffirmande assim confortadora confianga no regimen republicano lederativo. Feliemente, senbores congressistas, no € esta @ unica manifestagio da vitalidade ¢ da forga des nesses instieulgdes, dentro des quaes tem © Brasil sempre rosperads, apezer dos abalos politiess, finariceivos eee snomioes, naturaes er nagiies novas, mas exageradamente ¢ injustamente julgados, és vezes, pelas proprias nazbes roves. E assim que, si compararmos a posi¢io do pais, no anno de 1926, ultime anno republicane devorrido, com a que existia em 1888, ultimo exclusive da monerchia,, ‘veremos que nilo ha razio para descrermos da republica ¢ do Brasit. Cente a ‘uapioeaceniee owes 6 ‘Antes, pelo contrario, s® motivos temos para nos ‘exgulharmos do caminho percorride, embora nfo tenha- mes aleansado @ situagdo mitagrosa, com que sonhama os impacientes desambientados, nfo se querendo conforma ‘com as condigées neturaes do paiz, na sua vestidio territorial, na variedade de seus climas, tudo tendo que fazer ou improviser oom 2 relative exiguidade de sua populace inicial. E dever patsiotion proclemar a verdade, proval-s, ‘como vamos fazer, ¢ repett!-a, frequentemente, sempre, rodas as vezes que a critica interessade maldiga ou r- dicularize o homem, 9 raga, os costumes, 0 clima, a terra © 08 seus productos, as instituigdes, 0 Brasil, emfim, na ansia furiosa ow dissimulada de perturber @ esperance, de abalar a confianga, de solapar a f€ que os brasileiros devern ter em si mesmos © na grandeza de sua patria Presisamos faler alto, firme, pars que a vor de ver- dade seja ouvida além da massa butigosa dos eternos escontenies, cerretistas tendenciosos, impotentes para realizar, minoria palradora, que, por fazer auido, s¢ Julga numerose, ¢ que, sem essa circumstancie, pasarie despercebida, um quesi nada, no compo sadio, mogo vigoroso da need. ‘Quantos eramos 90 desabar da. monarchia? Que fisemos em 38 annos de republica? Vamos responder corn dados, colligides ou esci- mados pela estatistica, forecides pelo Sr. Bulhoes de Carvalho. Emm 1888 eramos 1.788.872, em 348 cidades ¢ 916 municipios; hoje somos 36.870.972, em 80 cidades e 41.407 municipios; em 1888, apenas, tinhames assignado © contracte pare @ construccéo do porto de Santos; ©, ‘em 1926, possuimes vito ports apparelhades:Manéos, Paré, Recife, Behia, Rio de Janeiro, Santos, Rio Grande © Porta Alegre, com cerca dle 15.000 metros de cfes. Naquelle vempo os 360 kms. das estradas de rodagem da Unifio-industrfa, Greciosa, Sante Craze Vergueiro jaziam abandonados, pelo apparecimento des esteadas ferreas, e nellas no havia uma braca carrogavel; hoje, podemos percorrer 53.248 kms, de rdovies de primeira ¢ de segunda ordem, Nao obstante 66 se cuidar, entie, de estradias de ferro, a kilometragem destas s6 alcangara 9.322, emquanto que agora ultrapassa de 31.308, Eon linhos telegraphicas existiam 18,022 kms., mura extensio de fios de 18.489 kms., com 173 estagdes, pas» sando 567.935 telegrammas; actualmente se contam 82.213 kens. de linhas, numa extensio de fies de 164.834 kms., com 4,592 estagies, passanco [5.162.739 de tele- grammes, transmittindo 259.062.77 de palavras. A nossa produccio agricoia foi, em 1888, de. 500.000:0008, ettingindo 4 €.100.000:000$ em 1925; da mesma férma, naquella época, a procuecdo industria! contou 626 estabelecimentos, com um capitel de. 377.560:0008 ¢ uma produc¢do de 567.093 0008, 20 passo que, em 1929, ultimo anno em que houve epureco official, o numero de estabelecimentos era de 13.336, com um capital de 1.815.156:000$, com produceo de 2.989.176 0085, 0 que autoriza 2 estimativa official de 7.200.009 008 erm £926. Entiio s6 havia a Usina Electrica de Marmellos, em Juiz de Fora, hoje existem 426. No nosso commercio extend exportamos, naquelle momento, 597.562 toneladas de mercadorias, num valor de 21,714,000 de libras escerlinas, correspondendo 2 206.405 0008, ac passo que, na actualidade, o nosso total de exportagao abrangeu @ 1.857.642 toneladas, com. 9 valor de 93,974,000 de libras exterlinas, equivalendo ‘B.ISL71S-0008000. Nzo € menor a differenga relativa 4 nossa importago. Nao obstante ter sido impossivel apurar a tonelagem, em 1888, ¢ se encontrarem, para 1926, 4.753.006 tonelacas, sabe-se, que, naquelle anno, fot page pela importaséo a quantia de 19,724,000 de libras esterlinas, corresponclendo & 187,488:0008 ¢ que, no nosso periods, © valor da Importaeio montou a 79.272.000 de libras esterlinas, valendo 2.665.000:0008006. Em JSA8, havia 8.157 escolas, com uma matricula de 256.800 alumnos, ¢, em 1926, se encontram 25.000 esoolas com a matricula de 1.455.000 aluranes. Altm das escolas especializadas do Exessito ¢ da Marinha, havia, apenas, em 1888, es Acccemias de Di- reito de S. Paulo ¢ do Recife, as Facudades de Medicina do Rio e da Behia, s Escois Polytechniea do Rio ¢ a de Minas em Outo Preto. Hoje permanecem 05 mesmos institutes, porém, com maior capacidade ¢ melhor effi ciencia, ¢ mats as Escolas de Mireito de Mendes, do Paré, do Meranhio, de Cearé, da Bahia, de Nietheroy, do ‘Disrricto Federal, de Minas Geraes, do Parané, de Porto Alegre; ¢ mais as Escoles de Medicina de Porto Ategre, do Porant, de Bello Horizonte, de S. Paulo; mais a5 Escolas de Engenharia de Pernambuco, da Bahia, dues em S. Paulo, Mackenzie ¢ Escola Polytechnice, de Bello Horizonte, do Parané, dé Porto Alegre, de Juiz de Féra; mais 13 Escolas de Pharmacia ¢ Odontologia. Tinamos seis, temos hoje 38. Hiavia, em 1688, 533 jomnaes, existem agore 2.376 Em 1868, tinhamos a febre amatella, em 1926, no existe mais entre nés e358 endemia, combatida energica ce deciivamente desde 1903, anne em que 08 coeficiences da mortalidade geral no Rio se elewaram @ 27 ¢ @ 29 por mil habitantes, tendo se ebeixedo agora a oscillar entre 15.96 e 1750. A prepria tuberculose vem diminuinde gradativa- mente a tua obra de destruicdo, tendo concorrido,em 1920, ‘comm 3,93 obites por mil habikantes, em 192 com 3,99, em 1922 com 3.53, em 1923 com 3,14, ern 1924 com 3,09, em 1925 corn 2,90 ¢ rn 1926 com 2,53, 0 que se pode ver Fifleareineia nas numeros absolutes que foram ne ultima triennio: 4.483 em 1924, 4382, em 1925 ¢ 4.18) em 1926, conforme informastes do Departamento de Saude Publica. ‘Niko sfio completos exses dados, ¢, ndo o podem ser, para eviter fadiga. Si ndo revelam elles um progresso estonteante, que nos faga parar embevecides, so de molde, entretanzo, ‘a mostrar que no n0s devemnos entibiar nem desanimar. Com esse confronto nfo quetemos negar © pro- gresso do Brasil durante 0 regimen monarchico; mas accentuar gue 2 republica nifo s6 no embaragou, comme auxilfou @ acceleroa materlal, moral e inceliectualmente © desenvolvimento da nagio. Principalmente si notarmos que © anno de 1888 punha temo a uma época de relativa tranguillidade coonomica do imperio, epée longa ¢ duradoura pez, emguanto que © periodo actual desenvolveu-se dentro de perturtagies profundes, para estabelecimento ¢ com solilagio da republica, ¢ se fecha corm cinco annos de revoltas, que abaleram profundamente a cultura moral, © cradita e a riqueza da nagéo, Sendo de acerescentar ainda, que o periodo repr bilcana succeden ao monarchico quando se acabava Ge fazer a aboligdo do elemento servil. Extraordinario passo de grandeze moral incompa- ravel, dado, porém, como quem reeeia ser obrigado a voltar ates, a aboliglo da escravidao foi feita sem que se tivesse preparade a sus substitulgto pelo trabalho live. Com ella houve a suppressdo de um enorme capital, plenamente desapparecido, e, principalmente, a desor ganizaso completa do trabalho agricela, base unica, ‘entdo, da vide economies do pais. No ha que lamentar, ao contrario, s6ha de que nos corgulharmes, para constatar que seriam desfavoraveis 4 republics es condigies do seu periodo inieial, princi- palmente para eonfronto com @ anterior efron most 10 Entretanto, no belango, o saldo the & sobejamente vantajose, niio obstante © nosso pernicioso systema monetario, a nossa anarchia financeira ¢ a consequente fraqueta economica. ‘Agora, terminado o pesadello torturante ¢ tenebroso as revoleas dos ultimos annas, podemase devemos des- assombradamente resolver os problemas, que essoberbarm © Brasil, io € 0 menor delles, © monetario, de que depende 2 nosse finanga, a nossa prosperidade economics ¢ 0 nosso bem estar. Atseads com decisio, se acha elle encaminhado em pleno proseguimento pare 2 sua solugdo com- plete, Havia muito, mais de um seculo, oda a sue exis- tencia de naciio politicamente independente, que o Brasil, tendo o papelmoede como meio de circulagio, vinha soffrendo as consequencies desastrosas de sua instabil ade, expressa nas oscllagies cambices. Diverses, conhecides ¢ inesperadas eausas, cém feito a desvalorizacio desse dinhtiro, ou, como wulgarmente st diz, tn feito @ baixa do cambio, com alternatives frequentese viclentes pare a valorizesao, conseguida esta, 4s vores, por ingentes, mas mal orientados esforgas pa- tuloticos, Ora, em alta, a valer 15 pence, £ 168, tendo j6 valido 27, £ 9%; ora em baixa, a veler 20, 8, 6 pence, respectivamente, a 248,308, 408, podendo chegar até 4, £ 0S, o milreis, com salvos bruscos, para deante © ‘para tris, em diverscs tempos, 20 mesmo tempo, per- cortia freneticamente toda uma escala de valores, sor~ preendente, estonteante, macabre. Essa ascala de valores, selceada em extremos efas- tacos, reflectiarse desastresamente sabre todos os actos da vida brasileira, ey © lavrador planteva, cothia, o industrial flava ou tecia na sua fabrica com o milreis a 4 penee, a libra esterlina valendo 608; quando, porém, ia elle 29 mereedo, esse mesmo dinheiro j& velia 8, ¢ 0 seu producto s6 seria vendido, portanto, a 30 ou metade do seucusto.em réis. capitalist emprestava odinheiro, quando trotado a IO pence, e, na cccasiiic do vencimento, era o mesmo Ginheico restituide, j4 valendo apenas 5 pence ou cine coenta por cento menos da sua importancia antes en- tregue, © funceisnario € 0 operario organizavam 0 trem de sua case, dentro des forgas de seus vencimentos ou salarios, como milreis cotade a 9 pence; ¢, em pouco tempo, esse mesmo milreis descla a 6 pence, resuleando insufficente para a subsistercia, porque evidentemente 6 rio seldam 9. Por autro lado, tendo 0 Estado ¢ o pa- ‘rllo convencionacio o vencimento ovo salaris a 6, valor da época do vontracto, nido poderiam pagar a 12, duplo das convengées, sendo entBe forgades @ reduzir venct mentos € salarlos com todas 2s suas consequencias esastrosas. Hssos factos, reproduzindo-se continuamente, numa multipticidade comesinhs, cristalizaram o axloma de que a baixa do cambio arruina o capital, come 2 alta esmaga a producgio, ¢ com ambas fica desorganizado 0 trabalho, em desequilibrio constente com 0 ambiente ‘economico, seja esse trabalho funccional, operatio, ine dustrial ou agricola, ra, com as perdas do capital, com 0 esmagamento alternado da produsgdio, com a desorgenizago do trax toatho, donde tiraré o Estado os recursos indispensaveis para manter a machina administcativa, no stu pessoal ¢ no sett material? Como poder’ viver a nagio? Tal estado de cousas no poderia continvar. Urgia uma solugo ¢ para 0 caso no havia duss. Beare w No havia sindo evitar a boixa e supprimir a alta. Ore, eviter a baixea e supprimir a alts é estabilizar. Estabilizar & justamente supprimir 2s oscillagdes do valor dz moede, dessa moeda que é ¢ medida das transacgées, 2 unidade pela qual se aferem 9s compras € vendas das cousas necessarias 4 vide civitizada, base sobre a qual essentem todas as condistes da existencia material, ¢ de qual decorrem todas a5 possibilidades € garartias da vida moral e intellectual. ‘Sem fixar 0 valor dp seu dinheiro jamais poder$ 0 Brasil resteurar a stia vide economico-financeita; © sem 4 restauragio da sua vide economicofinanceira jamais paxeré o Brasil exereer os seus direitos ¢ cumprir os seus deveres. Estebilizar € entretanto, tomar um valor certo, marcar uma taxa correspondente, nas relagbes ex temas, a determinado cambio, que traduze o movie inento eccnomico-commercial do paiz, que seja 0 indie real dos preges, exprimindo asim a relasio de custo da vida. Pensam alguns, porém, que, na nossa situaglo, se deveria fnictalmente levantar « taxa do cambio, einds ‘que lentamente, para depols estabilizala; julgarm outros que, 20 contrario, se deveria primitiro baixela mats, pata methorer as condigfes ds. produegio, esquesendo todos que altear ou baixar € stmpre farer oscillar. Justamente porque immobilizar € no altear € nio baixar, taxa alta ou taxe baixa nenhume infuencia deve ter na solusie do problema. Mlogico seria tentar levantar 2 taxa para depois fixala. Mas, além de ilogico, seria contraproducente, quate quer que fossem 0s processes, artifciaes ou naturees, postos em pratica Artificialmente, sioente a poder de grandes empress . iB timos extemos, dado o volume das nossas transccgGes, ‘se conseguiria trarer oure ao palz para pagar as diffe- rengas de carnbio entre a taxa real ¢ a taxa preferida, ¢, nesta, se manter o nivel, Admittide que, para tio aventaroso fim, fosse en- contrado emprestimne, ¢ que se desprezassem os damros ‘causades pela inevitavel ruptura do equilibrio economicn, clero & que utilizado, esgotado 0 ouro trazido, porque tudo tem um termo, novas quedas de cambio se dartam, as cotagdes inferiores 4 anterior, em virtude mesmo do impulso da propria queda, de velocidade adquirida, da aggravagio da situagdo economica do paiz, assim evidentemente sactificade,e da da sua situagzo finen- ceirs, onerada ainda a mais com o servigo, em ouro, des commissées, das differencas de typo, dos juros e arnorti- sages dos emprestimes inuteis, Esperar que a alta se faca naturelmente & um sonho que, na republica, dura ha mais de 37 annos, quasi uma geracdo, sem realiza¢do possivel. A marcha ascendente gradativa indispensavel, para stalhar os absalos, nfo evitaria a intermina instabilidade damnosa, ¢ niio tem evitado, como uma longa experiencia tem demonstrado, apezar do saber, da experiencia ineelligente © do patriotismo vivaz dos homens que, durante esse tempo, tm governado 0 paiz. Natucalmente produzida, sem preoceupaao de term tido, pelo fomento & amparo da producti, pelo alar- gamento dos mercedes de consumo, pela attracgo de over capitaes a setem aqui empregedos, a alta do cambio repetiria as dolorosas situagées anteriores, que to graves ¢ profundes males nos tem causado. Em Santes, agradecendo a manifestagde de apoio ¢ wolidariedade, que me fer 0 seu alto commercio, tive cecasifo de a tat me referir. Salientei, entio, a situagio paredoxal do Brasif quando, vendendo remuneradoramente as suas colheites 4 . 05 seus productos, faz entrar © ouro para o palz. O tra batho se alarga ¢ se duplica, a confianca renasce, comnega a abundancia, @ situagio geral melhora, 0 dinkeiro 9 valoriza, © cambio sote, ¢, entdo, facto secularmente observado, apparece ¢ ce accentua o desequilibrio entre 0 custo da producslo e oprego da vende, aearretando, togo, rapidas desvalorizagies, com as subsequentes perdas da riqueza particular, devorando as reservas, espathando: as fallencies, o desenimo © 9 pobreza. Nao se deve fazer deliberadamente a alta do carnbio quando se sabe gut, apis melhoria transitoria rapida, portante apparente, se vee arruinar ainda mais @ riqueze material do paiz, desfallecer de novo os espirites, agitar «em seguida descompassadamente 2 opinifo. Forger a alta para resguarder edelener © capital & objective que nl sera jamais attingido, a nfo ser que o capital, durante esse periede de melhoria transitoria, se retire immediata- mente do paiz, ¢ ento, nfo é ou deixa de ser brasileiro, E necessario, pois, que a prosperidade, que se deve rear, np faga subir o cambio, para que no se repita 2 situagdo descripta, €, 20 invés, permitta guardar € io ha outro meio sino ‘eccumular os reservas feitas a estabilizagto, impedinds 4 alta. Da mesma féma no sc deve propositalmente baixar © cambio, desvalorizar © dinheiro, embora com ‘sso venha a se beneficiar a producyio. Seria ephemero, passageir ¢ criminoso tal bene~ ficio. Coisa alguma dura com as perdas do capital, com © descredito. SS 8 obra do Jouco ox do deshonesto por deria tal empreender. Nao péde a prosperidade, que deve vir, subsistir ‘com © prejuizo do capital, inevitavel com a baixa do cambio, No ha outro meio sindo a estabilizeso, im- pedindo @ baixa, Quanto mais demorada f6r ella, maiares, mais prow fundos, mais gravosos stro os prejuiros para a nossa 15 economia, ©, come consequencia fatal, cada vex mais baixa serf a sua taxa provavel. He 20 annos, foi possivel a fixagio em valet, no qual o milrels correspondia 2 15 pence. Assim o de- monstron a Caixa de Conversio, no obstante a sua organizaglo visceralmente vicioss. Héje, sé em taxa bem infecior € ella economicamente realizavel ‘Amanhii, taiver, sem decisio e segaranga, nao sea mais possivel, mesmo @ taxas villissimas. Encontrar 0 confficiente economice do paiz foi sempre ‘© nosso programme, claramente definide em todas as opportunidades. Nao 5e podem dedurir tendencias baixistas ou al- tistas de quem quer estabilizar, e em taxa que repre- sente a relagio de custo da vida, Tendo vivide demerado tempo sob o regimen de determinada relagio de velor, & sombra do qual se formou e se manteve gfande parte da sua produesio, 20 qual se afeigoou © seu capital ¢ se remunenou 0 seu tra- balho, nao péde um pove alterar arbitrariamente tal relaglo, sem funestissimas consequencies. Evidentemente, a taxa a fixer nfo péde ser capri- chose, nem filha de preferencias doutrinarias ou de inte resies altistas ou bainistes, caso ce pretenda que seja ella duradoura e sirva de base segura & prosperidade nacional, £ a nossa situacdo econamice-financeira que a deve fornecer, afim de que a sua aclopeio cause @ menor somma de soffrimentes ¢ de prejuizos, visto como secrifcios sempre ha de haver, ¢ supportados por todes. Mas, como nessa ordem de trabathos e estucdos, no podemos pre- tender ainda a preciso mathematica, vemos que nos contentar com a estatistica, que formule os seus dados, em médias de determinado periodo de temgo. © periods de tempo deve set romado © mais pro- ximo de nés, 0 mais actual, si assim fosse pormittige dizer, e compreendiie mum quinguennio, porque é, dentro 16 de cinco annos, que sé férma uma lavoura de café, se implanta uma industria manulactureire, s¢ forem os contractos commerciaes de slaguel, se prescreve uma letra de cambio, em que tudo se accommoda, em summa, @ determinado meio econornico. Amédia do valor do milreis, durante 0 ultimo fustro, 1922-1926, encontrada pelas estatisticas da Camara Syn- dicai de Corretores do Rio de Janciro, foi a dé 6 *u poten acima de 6 pence papel. Levado em conta que, nas dugs pontas do quinquennio, houve emprestimos extemos, incontestaveis factores de alta artificial, ©, ainda, 2 que,na ultima, jf havia baixe constante do. cambio, com tendencle para baixar, temos que conchair que a médiz mais approximads da verdade deveria set sets ou ebaixo de seis A. cotagio cambial, que vigorou a 2de dezemibro de 1926, data em que fof apresentado 0 projecto de reforme moneteria, na Camara, foi a de 6%. pence, A coincidencia, entre a taxa média do quinquennio € 4 do dia da aptesentagao do projecto, indicava ine equivocamente quel deveria ser a da establlizayde, como indice da situagdo economica, evitande essim especula- ges cambiaes, que tanto perturbam as transscgtes re- gulares do commercio Jegitime. A taxa, assim, apresentou-se logicamente, por pro- cessos logicos. Para ella ngo concorreu 0 Govemno de forma alguma, Néo a escolhes, nfo 2 forgou, nfo a de- signoui, nem siquer deixou transparecer qual seria ella a realizasio do sew programma economico-financeico. Nenhutna responsabilidade lhe cabe, ou desdouro the adver, pois, oa exiguidade do actual coefficient esonomice do Brasil, Cu melhor, cabe-the identics do medica que, acertedamente, diagnostica constata molestia sérla em doente despreoccupede ou illudide, Para base certa do milreis, foi sdoptado 0 peso de 0+,200de cure, a0 titulo de novecentes millesimes, on a 08,180 de ouro-fino, que corresponde, em cambio com co dinheiro inglez, a 5 pence ¢ uma fraccZo approximada a -HL, podendo se dizer que a taxa éde § pence -2E, isto & entre 5 "a @ 5 Mf, praticamente 6 pence, pois que a difference de sete em sessenta € quatro ou tres em trinta e dois avos de penny é insignificante, tendo feado, entretanto, a base adoptada, facilmente divisive! ‘ou multiplicavel, em mumeros sem fracedes. Ald, identicas a essa so as texas adoptadas por paizes, que acabam tamber de fixar o seu cambio. © Chile, que agora fevou a cabo reforma seme Ihante, sob 4 competente direcdo do norte-americano Mr. Kemmerer, espectaliste hoje, de reputagto mundial, Chile acceitou para base de sux moeda o peso de 1.180357 de ouroino, o que dé ao peso chileno exa- ezamente 0 vaior de 6 pence. © condor, ahi, vateré dez pesos chilenas. A oulta ¢ experimentada Belgica, na Europa estu- diosa, na ultime ¢ efficiente estebilizacio, dew 4 sun uni- dade monetatia, o franco belga, 0 peso de 209211 de curo-fino, que corresporde a 6 pence 857, um pouco acima da nossa base. Releva ainda notar que, além dos factores locats, a moeda est sufeite a infuencies exvernas, desde que as necessidades do commercio a levern a cambio estrangeiro. ‘Sio sensivelmente sermeihantes as tres ultimas esta zaghes, quate 20 peso ¢ valor da unidade monetaria E preciso nao esquecer ainda que, na Belgica, antes de guerra © mesmo durante a guerra,o franco belga conservou 2 sua paridade ouro, na equivalencia do franco francez, nos seus tempos aureos. No Brasil, o milreis, j6 he muitas dezenas de annos, desconhecla completamente tal paridade ouro. No he de que nos eavergonharmos em procurar resolver honestamente @ nossa situaglo, ¢ em tic bos companhia, Wain sa8 18 Bem andou, pois, 0 Brasil fazendo 2 lei n. 5.108,de 18.de desembro de 1926, que firmou pontos cardeaes na sua vida economivo-financeixa. A onalyse, desprevenida ¢ leal dessa Jel, firma as seguintes conclusses: | — Foi adoptado 0 ouro como pastio da moeda bra- sileira, pare substituir © papel-moeda de curso forgado. If -— Esse padréo tem o seu peso em grammas, em quantidade divisivel, integrando tambem o nosso di- heiro no systema metrice decimal. Hi—Teré elle 960 millesimes de ourcefino com 100 mnillesimos de lige edequeda, conforme © voto do Congresso Universel de Roma, em 1925, cencorrendo assim © Brasil, na parte que the eabe, para unifortne rage da moeda, 10 mundo, escopo que, mais tarde ou mais cedo, seré attingido, IV—Creou uma Caixa de Estabilitasie para im- pecir a alta amuinadora do cambio. V— Autorizou as operagiies cambiaes pata impedir a baixa, no menos arruinadora, Vi—Detenminow a conversibilidade da actual ¢ total circulagio ficuciaria, quer governamental, quer ban- caria, nas bases estipulades, creande para este firs os recursos necessarios. VIl—Auterizou © reforma do Banco do Brasil para trensfonnalo em regulador eoonomico do paiz, ‘came banco emissor de dinheir conversivel, com lastro ouro, integrando-se-he entBo a Caixa de Estabilizagio @ a8 operagbes cambiaes especiaes, e dando-sedthe as demais attribuigies necessarios a um insticuso de cre» dito desea ordem, que nenhum peiz, economicamente organizado, jemais dispensou, VEIE—Creouo cruzzira, subdividide em centesinnos, para a circulegdo merallica, moeda oure a ser cunhada opportunamente, com peso © consequente valor, entio, determinados, sujeitos, porém, & base de duzentas mil- 19 ligrammes de ouro, a titulo de novecentos miltesimos, por milrels, dinheiro ingles a 5 pence ee © que quer dizer que tantas duzentas milligrammas se juntarem, para fazer a moeda criteiro, tantes milreis valeré esse cruzciro, correspondendo a tentas vezes S pence Mf. Assim, si pare a cunhagem forem to- medes dez vezes duzentas milligrammas, © enuzeiro pesaré duas grammas, correspondera a dex mil r€is e no seu cambio valeré 58 pence ax O estudo calmo e imparciat da Jet n. 5.108, de 18. de decembro de 1926, mostra mais, € claramente, que, na reforma em execugio, ha tres phases distinetes, consequentes, que no se confundem néo se precipitam: 1s, A estabilizagdo, propriamente dits, que prepara 2 conversibilidede, 2, A conversibilidade que faz a circulago metalfica, 3, A cunhagem do cruzeito que indica a circulaglo cure, No systema adoptado, nfo se péde cunher 0 cru zeiro antes da conversibilidade, nem estabelecer a con versibilidade antes de establlizacdo do valor. Salvo incompreensio ou mé{8, nio se pide exigit que 0 cruzeiro curo cireule na phase ainda de estabi- lizagto, sem que tenha sido estabelecida 2 conversibi dade do papel, No plano da reforma monetaria, essas phases sto prudentemente decomentes umes das outras, ¢, avisade- mente, no estdo sujeitas a prazos fataes, inalteravel- mente prefixades. Os acontecimentos economicas, 0 resultados financeiros ¢ as consequencias politicas da conlem publica determinario o seu seguimento e duragio. Foi por essas rezbes, que lei nfomarcou, ella mesma, as datas da conversibitidade € da cunbagem, antes ex- ‘pressamente as entregoa ao Poder Executivo. No art, 3°, estabeleceu que a data precise da conversibilidade seré anmuncieds por deoreto com seis mezes de antecedencia

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