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POR UMA MITOLOGIA POETICA DOS CONTOS DE FADAS NO BRASIL Maria Tereza Amadeo Berbosa © comportamento humano ravola @ recorréncia @ certos: ‘atos destituidos de explicacto cientitica precisa, mas que se con- figuram como formas de recuperagao de uma essencialidade ra- dieal. Assim 6 a busca do homem por seus arquétipas fundado- Fs, quo Se estabelece através da repetigao ve gestos Inaugurals, Incieadores da sobravivéncia de um procedimonto mitico. Not ‘sa medida, o ser humana eria modelos para a sua conduta quo, fepatidos ¢ reatualizados, devem garantir a ‘00m 08 @0: ‘mentos clrcundantes, pols, galvanizando sua erergia, 0 homem, Inegra-se com o cosmos, ‘A criaga0 de mitos eetabolece-se a pantr do “um principio jpoético Inconsciente", segundo E. M. Micletinski, tundanco a ImetBlora, propria da arta. A literature tem por heranga 6 sincretis- ‘mo do mito, na medica em que deve se justticar por si mesma, {do forma eseronte, artculada. A literatura Infanti, como expressao humana, surge, histor ‘camente, associada & pedagogla, o que, reiteradamente, compro- mete s2u valor estética. Por outro lado, 0s primeiros textos dedi. ‘eados & Infancia marcam toda a evolucao do giners. Os contos {2 fadae, aquém ca andiise simpista que 0: considera normatl- ‘vos, também sao passivels ce uma lotura mitica, & que possuem tuma origem Intimamente ligaca go mito. ‘No Brasil, especialmente nas décadas de 70 @ 60, a recor- ‘neia a olomentos da mitologia postica dos contos de foincidente. Relativamanto & qualidade desses textos 6 qu ‘encaminha o presente estudo. Letras Hola. Porte Alogi, v.26, 3, entembre de 1993 1 CONTOS DE FADAS: LEITURA MiticA 1.1 Milo como matériaiiteréria ‘A comreens8o co concoto de mito 6 para o uo, um gande doeto lec dade son espe, ar tno, dove abetor ae de Sua conconsee tienen fara rica, enon a.despreoneo da ealdace,procurance warsornan ek, 9 const centiico que Mofo! nutaa pola trace 48 tmpos. De quaiauor tora, homer modes ohne do pelo "cso de encontrar um slgntictdee an va trans-histérica para os acontociment Toon, neshetetea Para os acontocimenios hiténicos” (Ehade, Shes, Pods signicar desde 0 “rita de Edipo wo "mio" dere stare ons eee, fest ctaoiaa mo “a realidade passou a existi aa = Sovran as a ite eatin ca tS . E @ narrativa desenvolvida num tem ape $2 naps So mg ee oe Pir «ote terminates da condo humus Enmoora distant do tmp poi one haem roe wt 19208, un conlgao Milde homes eee ionsta ester vinculado a um eepaco eagrado, Através da don vents ccoridos nos tompos micos tram wee, valx de “rnin saps’ una ree ne oe, Petsonagens nto sto sores mance comnts aac See Pela Nessarnocca,arentatzages cusses soon oe %, Pormite @ reversto temporal, ahistrice, © tern, 4 po sagrado reaiiza.s0, ontto, como uma sucessio de stemida- Ges, J6 que possibita roviver as agdes dos deuses, pols, dessa forma, através des ropetigbes — dos ritos —, © homem aproxima ‘se deles #, por extensfc, do original. Através do caréter exem plar dos mitos, a perfeigao ¢ buscada. [Esta forma de conceber a realidade nao conta com a rel 0: 0 homem mitco participa do cortexto como elemento compo: hente do cosmos, que, desse modo, se impoe como herménice. 'A apreensto do mundo nBo compartimentalizada favorece ‘um conhecimento de ordem dversa da que o homem moderna ‘costuma produzir. Conhecer a origem das coisas @ dos sores vi- vos correeponde & poseuir uma forma de podar sobre tals ol rmentos. E 6 pola reatualizagto dessas origens, através dos ros, ‘que aessencialidade das criagbes breterada; 6a propia demons: {raglo desse conhecimento primordial que evkiencia um "poder ‘magico roigioso" Daquola radicaligade céemica da narrativa miica surge uma “inieligblidade para 8 realidace do mundo @ do homem” (Crip a, 1975:17). Essa inteligibildade traduz-se pela linguagem que ‘be consttul numa forma de existincia relacionada aos demais ‘A palavra, som estar isolads, mas im: la eonfore sentido, & através da palavra ‘que o homem procura desvendar 0 mistéro do Ser, a fim de des- ‘cobrir @ relagao intrinseca da constituig&o dos entes. A linguagem Ccontigura-se como possibidade expiordvel pelo homer, @ partir ‘de um arquétipo Inaugural, que tundamenca @jusiica as possibi- INdadee do “vi-a-ser’. Cada clomonto oxpressivo da linguagom relacions-se a um todo significative, Longa de sera reunigo er \rérla de formas expressivas, a linguagem constitu-se como par- te de um universo ardenado ou cosmos carregado de significados. ‘A partir do contato com a primordlaidade sagrada projetam- ‘s0 as cuturas, © © homom, repotindo, po'a palavra-mito, o moce- lo primoraial estabolecido, traga eua histéra, retomando, ms mo que inconscientemente, a construeso do’ mundo. Const ‘80, entSo, 0 principlo de realidade, comum a todos os povos, tuma vez que arquivado nos arquétlpos do inconsclente e revela- {do de acordo com 0 estilo do cada povo. (s diferentes desempenhos hist6ricos da originalidade do homem revelam-se nas mais variadas formas culturals. Por mais. diferentes que possam parser, se analisadas numa perspectiva 18 horizontal, ou ela, como se waizam num dado num dad tempo hist Ge, demoneitam ser projects da eesenciaidede humane Gen LYetae cosempenhos, a eraturatom par claramente sereen do, come proposta de roveazao dotsa easancialvaae, ‘A Weratura, poranta,¢ passvel do uma aberdagem rl ‘Aetopiando-se co ito co marl pot al 60, erarra Contig‘ como forma eukural uw propos a tore wee flamers inatuldres deur cotmopoma Fore ne Mido inersemente como nes rind’ © Mert tacos ‘crprar se com, overdo A spoons © mundo concrtosrectal pin dono naagun ere 000 &wspecca da we lgacd ntaor dale cin ESE al Telide rovla ae na Hrlure doe ae Slorartos isparespaseam a comper ur isso sovone manta ariculada, Assim, o mio, conierace Som ae rata feveladra de ura cosropoia fwiatons sea ieee, {3 pols esta ebom arctase oh tre Oe ee sme ceeaen recor dese sane de see finde tamara forga aun pain a suse a hee Seas Ee ing Le, “6 doa inguagem oat tania nage genom stra for reife como mantetphe aval osoae ar {ura impbe-sena medida que quefize un sesioe ee eae sno, Eee too nae Spotl text econl tom ok ‘ om sgricagso infin; rumen 6 capt Sige Hoa, pe areon tena sonace base fonac ‘Taz0es de ordem pessoal @ : Sendelonacaprrazbes decom pessoal asres Sener 4.2 Literature Infanti: particularldades do género Relativamonte 2 iteratura Infanti, tals aspectos sao clara mente evidenciedos, ganhande contornos mutto ospecitioos da- ‘da & forma como fol e & produzida. O universo Iterério infant ¢ {eomposto por textos que, sem terem sido propriamerte produal- dos para a criange, agradam a esco pico, bem como por aque las que 880 idealizadas, produzidos dhvuigads para o jovem lator. Esse procesimenio, contud, nfo constitu, necessarlamen- 1, garantia de sucesso junto aos destinatéros. ‘A origem da literatura infant remonta ao final do século XVI, quando surge uma nova mentalidade em relagéo & crianca, ‘até entto, a intincia, enquanto periodo do desenvoW meni fu ‘mano, com panicularidacos que dovam ser respeitacas, inexste. ‘Quando a esirutura econdmica e social passe por drésticas tans- formagées, 2 tamllia comeca 2 orgarizar-se clterertemente. Es- ‘sas modticagdes ocorrem com a decaddncia do modelo arisiocré- tieo de organizagao social, que estabolecia as relagdes famitaros 20 reder dos feuos. ‘© modelo burgués de sociedade propée uma nova estrutu- ‘familar. Torna-s9 exclusiulsta e protecionista om relacdo &crlan- ga. Surgom, entao, estucos sobre a Infancia, nas vérias arocs {do conhecimento, endo considerada como estagio do desenvol- vimento humane. Acradita-se sor possivel, conhecendo # anal- ‘sando as particularidades dessa fase, formar homens melhor pre- /parados para a vivacia social. ‘A iteratura infant: passa a desempenhar papel fundamental neste contexto: dave, também, contribuir na formagso dos futu- {03 cidadaos. Assim, aparecem, a principio, Jean La Fontain Charles Perrault, Mme. D'Auinoy @ Fénelon, sendo © ukimo, em ‘meados de 1635, quem “inaugura a fase consciente da iteretu- ‘Infant (Arroyo, 1988.27). ‘Nese medida, ee procuzidos textos ospecialmente destina- {08 & cranga @ outros que, embora, a prior tenham sido propos- tes go adult, so adotaclos pelo piblico mirim, por atenderem 208 sous nloress9s ou porque passaram por um proceso de ‘adaptacdo, Assim, a iteratura infantil surge vinculada a uma ola- ‘rm proposta pedagégice, 0 que deixe marcas aolongo de sve evo- luge, comprometando seu valor anstco, 7 A tnt dou esti taco male eetomtico scerca tooo ters rte conarare omonta nie soe arenes, fated estat mas se lustin por watese de aan rosugte tural com uma hia sie atvsnsis eee {e, 860m meade do eéculo WX pase a er abate wens Natentatia de etabotoer a evluso de Hora ia desc sada orl eo saeco vamos oneal De cternie formas de rlageo doa indore no {iedos referencias terocides especialmente por Leone Yo. Nely Novase Coo, chssrvese gue a lserne e, ecco con tn de rego edie bum neceansen ee ‘Gente a0 longo da evolugao do género. oe A colts inpaertnd por Porat, na Frang do stave fonda econsnciancne Segundo Mare Soran ava tan ine, ot ettéos extticos~ aaa teva pronmiade eon eet i quo propde = modoacac de comporamres «beset. \ar a.m anude npr, Tel antion sates oa ae a intncia @ 0 fivro. - sre pare um duo om formes ras, ae I omgo gue nade dpcn ou doers seonbanae, imlmaraosun aloo se nc forage do hate % sugerir relacao com a me- Tn tbs cuss rm tna re hee ne ann ae om ie scene anes isncecegra ‘froas, ospeciaimente a Ja, que so deve ‘velar 8s Pon a a creases seer ae ra rmmi ead crat atte jr 18 G2. Considerando-se que 0 sto de contar historias consisto nu- ‘ma das primelras necessidades culturais —j4 que permite a trans- imissa0 0 exporiéncias colstivas cada época dita a forma pola, ‘qualtais necessidades corponticam-se. Com 9 avango da tecnolo- ia, novas técnicas de impressio, de lustracéo, de utlizagao da linguagom vao sendo apropriadas ao tonto Inerrio, bam como ‘owas idéias vo sendo transmitidas, Tambm a Meratura infantil ‘conetitul uma estrutura teria permedvel go progreseo da chil. zagfo # &s novas necessidades da socledade. ‘A questao torne-se comploxa, so analisado 0 contexto mals ‘amplo de producao/recepeto do texto Ierério infantil Na meci- dda que, na maior das vezes, néo se atribul 8 crianga tarela de ‘seooIner o vro que desoje le, mas a familia @ & escola, outros, {atores, que nto apenas o gosto infant, entram em cena. ‘Assim, configura-se a especifoidade do texto teréro Intan- 1, polo carter estatutdro da assimetria que ervolve toda a pro- dugéo lterérla destinada & Infancia, Familia, escola, sociedad propoam férmulas quo edo mais ou menos corroboradas pelo 0 ‘rtor, depandando, também, da sua visio acerca da Iteraturain- tant, ‘Ao esoritor cabe encontrar um equibro entre a sua leitura ‘adulta de mundo e a perspactiva infant. De qualquer forma, 88- ‘Gundo Soriano, toca'a mensagem dirigida &cranga objetivaacres- ‘Centar algo a sua formato. Trata-se da func formadora do g3- ‘nero Infantil A aberura para que a crianga eonhoga a ei mesma 0 social nto ¢ proposta em termos de normatizacko das rela- {gbes pessoais com o mundo no texto Iterério Infanti de qualida {9 estética. Polo contro, promove um alargamento dos horizon tes do letor, quando 0 mundo representado no texto diz respel- 10 a0 contexto infant. A obra Itordria Infanti dove promovor um fopensar sobre a realidade do Infante; reaidade que pressupse, tentre outras colsas, a submiss30 a0 mundo adutto vo consoqden- 1 dosojo de superag3o da tase inant, como forme de aquisigho ‘de uma identidade Independents o/ou a rejlgho dessa realida {da que pressions, cirige, opto. € através da linquagom simb6i- ‘ca que essa realdade se "reapresenta” a crianga, olerecendo lume possibiidade de retlexdo, jé que & proposta em termos co topa0, de represontacao de mundo. 0 1.9 Tratamento do mito no onto de tadae As organ pra eoluto de arate a an aco ham-s0 808 partmeton exabolsodos price coma {unto a, rodertemert, so tte une egret ence abico infenti tenham surg, os contos de fade, efetivanere {2 imprimem uma marca @ itecatura intantl, ja que, por mete Se oontiourem como paracigma do genera "98 estabelecidos pelo sistema feudal, Criginéia do tam, apés vatias transtormactes, a palavra 2 G0 hemem de vroniar acerca se co Wea doe aoontecinenion quo @ arvohem Paratnto, ase uilza.s9domeranorory ee lente compensario de uma raiiode de Sea aetna fistes do século XX a ram 0% século XX 8 prilegiarem o estuco relative as erigens ‘Os temas, simbolos © motives dos conto vos dos contos maravihosos ro- Mativas: faterrtneia aos mtos de passagom das sociedados ‘pondém aos ros iniciatrios. Segundo Mieltinsk, Yo sapato da Cinderela, « colocagso do anol dontro do bolo a sor astado, © distarce da noiva om pele de asno ou om pele de vaina” = outros podem ser expiicados & luz dos ritos de certos povos, remontan- {0 & seméntica to-mitolbgica multo antiga. O proceso de trans- ormaco do mito em conto maravihoso passa por ceierminadas ‘esos: a eutunlengo a seseeraiapts, o deethemens én gaan a trae ou ouotasimerion macs € “deumoMinera dainvangto conecia parca conse ‘b cnagrdfea a mbtagto don bela iors por mers ‘tuna ce tonpo nites pele wnpe bur naena conta ‘uosinena cu pte So atop, desocerne nn ‘he don ditton claves pur Inada «aan cameos Daten socal, no oul ath lioness owrgmer'e ‘oror tara sigomes Hinogson eee Mts ‘oeraao 3%) Diterentemente da forma como se estabslece o prigrla rela- ta dos mitos, ao qual somente os inciados tn acesso, veicula ‘980 dos contos maravlhosos impbe a preserica de um narrador (que possul o aval da ficionalidade, Espeoticamante no que se refere “aos tinerérios miticos dos hordis totbmicos", se relagbes de ordem familiar paracem ser prioriendas com mais @nfase Aquelas que sugarem problemas 8, conseqdentemente, a busca de soluches. Dessa forma, afde- Iidade a0 conieddo mitico se relaviza om favor da maior liberda- {do de criaglo, embora, como esclarece Miolotnsk, "ostoa bas- {tanto resiraa aos mites do gBnero © & heranga mitolégica. ‘© conto marevinoso prioriza 0 destino pessoal de heréi nas Telagbes tamilares, mais rest'tas, portanto, se comparades As {do her6imitico. Com freqdéncla, ele é marcado por uma ancestra- lidade sobyenatural, embora Ja no soja um semideus demiurgo ‘como 0 ner6i mica, Busca solucionar confitos que garantiao ‘seu bem-estar 0 0 do sua familia: para tanto, deve adqui aa for- {G28 magicas que no Ihe vm gratutemente. Nos dois tipas de narrativa ~ no mito, com @ busoa de valor ‘cbumnico © no conta maravihosa, com a busca de um valor 60- ie! — a estrutura morfotigica 6 sematnante. As provapoes do he- 6] do conto maraviinoso podem sar associadas as provagoes in- clatérias ou matrimonials: a Qt tele ou cane motile eis com cote ‘stant om alte conta de fen eroposenoe += fre un righa eters hi tgics Set ge sue al ite proagten ao Pah. ott, Tendo vendo as) prov) oer proonane una cart. ‘ta inakroro evidence lcanganco © alfa Porn $0, potano, que ~ elatvanente& eauurs ao pores hard sun contguragte aos molhos 0 sone aarcnoes Imarnim sgune elementos nitcostonovadoa por conen futartes co uma feconaigadscrascena A seenura poor Nordade malo co cigto que decor arma, ortoreasas Inirmagto sagraca ~ conform [ts rel on, ara {estas ees co ober harang sca miso Ge", mle una anoioetocarinace pus nves oases No olor arse, atntoe muarfox bo cen rxmmatn tog unr nos nna Ne aseoe {2 as spas 0 fratce metinee ea oe oun cous concretion ¢ ease woe eee lta docowsraraihanobuoarcceneteond Masts i romavoany (ag Essa milla poten dos corto de asa, nercae plas falzes mlsica, ronovade polo ontntoauiopes caer, Scarica e/u apropiaa pala ange, mtweats eta ree Seto, Paar, eabam umes commas sca core ort rit @ cons de fads, eas dwt, otha oy claimonte & crianga a penser mio, nto comparimertatzac, stad © Seamortado, eproxna-se, sau vars eeudenen ess ange, 0, paulaarer, neorpora mundo smreuas dca scutes, Enero tl prooose ae eoive, seus pnbeena oe {8.8 conpreento a Tealéade creurdame tom Be ey Gon as exptncis wives, 0, or sre esses a fac das, no 90 coniguram com a ecloaliase So aan ae, f,anbin se crnesmarte coin smut ne et roa ngbo do una oaksade que exaboe. Ge relagOos destituidas da légica adulta. : ie Ea Conforme Jean Piaget, a nogso de rwalidade da crianga © a {00 homem primi se aproximam: ambos sio parte de um todo sonficatwo, em que as marcas lmitrotes entre interioridade @ teerioridade nfo se evidenciam com clareza, A abstragéo nocio- fal ¢ rolatvizada pela Imperiosa nocessidade de aproximacto entre 0 objeto @ sou simboo. E, assim, a "confuszo” one o pel quico ® 0 fisico favorece a emergtncia das manitestagdes tanta sioeas, imaginatives, Dessa forma, a erianga, assim como o primi- tivo, sts sujlta ds senaagbes diretas que ecnvivem com as emo- 508. A exterloridade a envoive na medida em que fala su floridade, som que, come ja 80 rater, ostabeloga as dlferongas entre o8 dois campos. Na mesma medida, estabelecem-se.as no- bes de tempo # espaco, ‘Assim como o homer primtivo insttul sou cosmos do tor- ‘ma ordenaca, eriando os mos, @ orianga, numa apreensso tam- bbém peculiar desse real institul "o seu mundo”, numa parspect- sgoctnirica. Para ambos, o que pods ser aproveliado no cotl- diano passa a fazer sentido 0, 86 enti, participa de um todo sig- nificaivo. Dal idéla do sincretismo: 0 mundo existente & aque- Je que tom sentico conerato, em quo os olomantos sa rolaclonam ‘na medida em que interagem a pair de uma I6gica contrada no Imedialismo, sem a racionalidade clentfica. © mito revela esse sincretismo primordial © conto de fads infantil, por sua vez, atonde fase egocén- trica da crianga, a que também instaura ua realidade coerente- ‘mente snicuiada numa Kigica sinerética somolnante & do mito, ‘rivilegiando a prosenea de imagens, em detimento da recionall- ‘dade. © maravihoso, pois, emerge com naturlldade neste con- texto Imagético, no conositual, asim como o do mito. ‘Observa-sa que 0 aproveltamento dos contos de fadas com fins educativos determina o caréter utitar'sta dessas narratives. = constaiago aparentemenio oposia & andileo até aqui dosen- ‘Yolvida, qué relaciona tals histérias com o mito. Entretanto, essa Visio nao se ope & consideracto dos contos de fadas como atlvas de descondéncla mica: tata-eo do matorial que “ta- ‘mente infantil com propriedade @, 20 mesmo tempo, veicu- la valores da sociedace emergent. Sabo.se que os mitos organi. ‘zam as relagbes socials do Nomem primtivo @ quo esse carétor Insttuidor esta prosante nos contos de tadas. 2 A sctcactoburgues, a0 ert arava com oe Becagteon aprovta no cater miloo Care vases de fundagho da realidade er spies 00 mundo, das vl spaces, 2e moomo ane dom te oxpectvas ca sedace burguoes nor nae ae, 08 Contos de fadas tomam-se narrativas. Paradigméticas no con: texto rd tai. & misiogi poste dea Sone ae en, Ifans estaeleco-0 através do seteminaaee nyt eniiguragaooepaca certasa no cast foo cinta ns 4 covutura nara ale, Se cre sartnciaIiclamonteastabmecica como quotes dt nacn principe, {88 totalidade ou parciaimenie am contextes lice 18 fccionals diferen- {85 com objetives varlados, mas, principaimente, buscando re, uporar aquela com; icion SRR acta composi tecional que tanto agraca eo pot 2 CONTOS DE FADAS BRASILEIROS: ANALISE DA MITOLOGIA POETICA _goee Iteréras elgnicativas num mercado eatorial promoviso pe la expansio do capitallamo. Nesse contexto, a literatura — invan- til ou no — passendo pelo crivo da escola, 6 amplamente civul- ‘Gada, Das tondbroias itordrias infantis cireulantos no periodo, estaca-se aquela que se susterta nos modelos exemplares dos Contos de fadas, agora sob nova ética, Nos textos da tradicSo de Perrault e de Grimm, os slemen- tos fantésticos, ern constanteInterc&mblo com o real, acabarem. servinde & interpretagdes que os viam como metitores de situ hes sociais © psicoligicas muito marcadss. &, de ceria forma, Contra o maniqueismo dessas interpretagées que A fed que t- ‘nha fo6ias, de Fernanda Lopes de Almeida, A fed desencart 10a, de Eliane Ganem, Historie melo a0 contario, do Ane Marla Machado, e Onde tem bruxa tom fada, de Bartolomeu Campos ‘Queirés se insurgem, (Lajolo & Zilberman, 1984:158-160), Essas 0 outras manifestaeoes tterétias infantis apropriam- 18,80 longo das décadas de 70 e 80, do fantastico universal dos ‘conics de fadas trad cionalmente veloulados para a erianga, util zando formas ciferentes de trstamento quo, analiadas nos s2- ‘Guinies textos, cferecern um quadro tipaligice desea modalids- {do nartativa: 1. A fads que tnhe idéve, de Femanda Lopes ce Al ‘meida (1971); 2 O rei de quase tudo, de Eliarda Franca (1974); 3.A lada desencaniade, de Eliane Ganem (1976); 4 Histérie melo ‘20 contririo.de Ana Maria Machado (1978): 5. Onde tam bruxa tem fad, de Bartolomeu Campos Queirés (1978); 6, "Uma iddla toda azul", do Marina Colasanti (1979): 7. A bele borboleta, de Ziraldo (1980); 8 O que os cihos nfo véem, de Rulh Rocha (1984); 8, Procurando firme, de Ruth Rocha (1984); 10, A varda- 0 6 do todos, de Giselda Laponta Nicol6Es (1985); 11. A fada Semprs-Viva @ a galinhe face, de Sy\via Onhot (1986); 12. A fada enfadede, de Marco Tullo Costa (1987); 13. 0 eapo encantado, {do Luiz Gaicino (1988); 14. Ser bruxa ou fada — ols @ quesido, de Marlena Campos (1989); © 18, A bruxinha sem nome, da Odo- 10 de Barros Mott (1989). ise desses textos pormliv constatar duas tendOncias Gorais: a valorizagto da mitoiogia postica dos contos de fadas (que ocorre em cinco narrativas: 2, 5,7, 14 © 18);;0 a desmitiica- ‘glo do procedimento original, 2:1 A valortzagso do mito eens soa cs en tn encia-s0 uma anélise da idemtidade das personages miles seccma Sv acaean rten i mi occu’ nate ine arene {odes buscam firar-se nessa reaiiade, marcaca por clemon, iehewnionr recreate sade do ato du, ence Se can Brocedieriosnoompavels om auroive nc Tura @ emerpéncia de manifestaches fant reveladoras: da sua ldgica to peculiar. rs — Hod io aloar par essa tnt ct de inp a apsen- As porsonogene desss narahas, onan, tb conte aun Gerkace do ores rion, Ember dss acre Gas por slemorios rerovaoe,hstacn,eeeorne, a n8aeesocialdae mia, Wansham ora sree ee ee trina conto, ram sempre com ee 26 dade inerente aos contos originals. Os elementos histéricos, os

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