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Desenvolvimento e intervengdo educativa nas criangas cegas ou deficientes visuais ESPERANZA OCHAITA E Mt ANGELES ESPINOSA CEGUEIRA E DEFICIENCIA VISUAL 0s sistemas sensoriais Acegueira é uma deficiéncia sensorial que se caracteriza pelo fato de que as pessoas que dela padecem tém seu sistema visual de coleta de informagées total ou seriamente prejudica- do, Portanto, quando se fala de cegos, se faz referéncia a uma populacdo muito hererogé- nea, que inclui ndo apenas as pessoas que vi- vem na escuriddo total, mas também aquelas que tém problemas visuais suficientemente graves para serem consideradas legalmente cegas, embora tenham resquicios visuais que Possam ser aproveitados para seu desenvolvi mento ¢ sua aprendizagem. Nao ha um consenso na definicao do que ode ser considerado funcionalmente como Cegueira. Na Espanha, a Organizacio Nacio- nal de Cegos (ONCE) considera legalmente Cegas aquelas pessoas que, com a melhor cor- Teco possivel, tém menos de um décimo de -—, dois olhos, desde que tal limitag Cre it de carter permanente e incurdvel vor ane de Miguel eTbafer, 1995). O dano, inform rei no sistema visual de coleta de fies com que as criangas cegas € mais cents, Visuals tenham de utilizar 05 de- od sua vole sensoriais para conhecer 0 mun- pina ta. Como se mostrar ao longo deste » € a utilizagio do tato e do ouvido, € 0 pats bra em menor medida, do olfato fadar, como substitutos da visio, que conferird certas peculiaridades na construgéo do desenvolvimento e da aprendizagem das criangas cegas. O tato é um dos principais sistemas sen- soriais que as criangas nao videntes utilizam para conhecer 0 mundo & sua volta. Suas ca- racteristicas podem explicar boa parte das pe- culiaridades do desenvolvimento e da apren- dizagem dessas criangas. © tato permite uma coleta da informagao bastante precisa sobre os objetos préximos, mas é muito mais lento que a visio e, por isso, a exploracaio dos objetos grandes é fragmentdria e sequencial. Assim, por exemplo, enquanto um vidente pode ter a ima- gem de uma mesa grande que vé pela primeira vez com trés ou quatro “golpes de vista”, um cego, para ter acesso a imagem da mesa, tera de exploré-la muito mais lentamente e, depois, integrar essas percepcdes sucessivas em uma imagem total. ‘Também a audigdo tera grande importan- cia para o desenvolvimento ¢ a aprendizagem dos cegos. Além de ser utilizada para a comu- nicagao verbal, os nao videntes empregam-na com uma fungio telerreceptora para a locali- zagio ¢ a identificagio de objetos e pessoas no espaco, fungdes para as quais é menos precisa que a visio. O olfato ~ um sistema sensorial que esta bastante subutilizado nos seres hu- manos ~ serve para os nao videntes para reco- nhecer pessoas ¢ ambientes, ajudando os de- mais sistemas sensoriais na complexa tarefa de conhecer o espaco distante. Finalmente, o sis- tema proprioceptivo proporciona uma informa- Digitalizado com CamScanner 4152 COLL, MARCHES, PALACIOS & COLS. Gio imprescindivel para a orientacio ¢ a mobi- ic iso. lidade na auséncia da vis Em qualquer caso, apesar dos problemas de acesso 2 informagio que tém as eriangas cegas, 0 funcionamenco do sistema psicol6si- co humano & muito plistico ¢, consequente mente, pode ser construico na auséncia de um Estema sensorial tao importante como a visio, inilizando vias alternativas (Ochaita, 1993). ‘Assim, a maior parte das pesquisas realizadas nos iiltimos anos sobre 0 desenvolvimento cognoscitivo dos cegos mostra que, a0 chegar adolescéncia e a dace adulta, atingem um nivel de desenvolvimento funcionalmente equi- valente ao das pessoas videntes. Sabe-se que na espécie humana o sistema visual é muito importante para obter informa- gées sobre as objetos e sua posigo no espago, mas é igualmente uma ferramenta fundamen- tal para o estabelecimento das relacées com os outros (Gémez, 1991; Trevarten, 1988). A slo é bisica, ainda, para se ter acesso a leitura € A escrita, Em qualquer caso, ¢ importante le- var em conta que, apesar dos problemas de acesso a informagio que tém as criangas ce- gas, elas poderio construir seu desenvolvimen- to, partindo dos sistemas sensoriais de que dis- poem, mediante vias alternativas distintas di quelas dos videntes. Portanto, as criangas nio videntes tém de construir seu sistema psicolé- gico compensando, no sentido vygotskiano do termo, suas deficiéneias. Quando se fala de compensagdo, nao se esti dizendo que a afeta- io do sistema visual acarreta a hipertrofia dos demas sistemas sensoriais. Os cegos nao tém atamares sensoriais mais ba je tes nto ouvern melhor nem soe a oe bilidade titl ow olfaiva; contudo, aprenden fade ‘ontudo, aprendem gattlos melhor ou para outta fnalidades compensagae refere.ce eyes Portanto, a ma psicoldgico humane peaidade do siste- ano para utilizar em seu desenvolvimento e sua aprendizagem vn temativas que as usadas pelos videwee oe pelos videntes, Heterogeneidade das deficiéncias visuais Sob a denomin; deficgncia visual, incase oon eset inclui-se um grande mime- N ro de transtornos visuais, de etiolo, racteristicas muito diversas, 14 4488 € goes visuais que podem caysar so deficiéncias visuais graves (ver, por i Rosa, 1993; Verdugo, 1995). pam tos deste capitulo, interessa funds te destacar trés dimensdes que diferengas entre as distintas criangay a° radas dleficientes visuais: 0 momenta go” co dos problemas visuais, a forma de Gao e 0 grau de perda de visio, a Considerando © momento de aqise, dos problemas visuais, 0 desenvolvimeni, aprendizagem de uma crianca que nase cy ou que perca a visio pouco depois de nays sergio muito diferentes daquela que perdey visio em etapas posteriores de sua vida. Tan. bém seri importante o fato de a cegueia aps recer de modo stibito ou gradual. Com resis & porcentagem da perda de visio, como se ana lisara posteriormente, o grau de visio funcis nal que uma crianga possui decerminaréa ps sivel utilizacdo de vias alternativas em seude senvolvimento ¢ o fato de elas serem maisot menos incentivadas do ponto de vista edt cacional. Aessas diferencas causadas pela etiologt da cegueira é preciso acrescentar as fontes d2 variabilidade que se encontra em toda a pep lagio infantil, As caracteristicas do desemo vimento de uma determinada crianga ces? deficiente visual e as indicagdes de inten®™ gio educacional dependerao também 435° culiaridades dos contextos em que a cra desenvolve: seu ambiente familiar, su) 0 trabalho e nivel de instrugio de seus Le as conotacdes que a deficiéncia visual wae Ambito microcultural ou cultural em 4 ce. Assim, as caracteristicas do desen'?™ to de uma determinada erianga ce8®= °° Nejamento das intervengdes educacion® cretas — dependerao das transacoes © entre as caracteristicas da criang® textos distintos em que se produ $* volvimento e sua aprendizage™- ig di Uma vez assinalada a impor sass? diferencas entre as diversas cians? © ays deficientes visuais, convém analisat ™ st teristicas gerais de seu desenvolViN’ hat coldgico. O fato de que tais eriane y | « he a oy Mp, amen do lugar . Digitalizado com CamScanner DESENVOLVIMENTO PSICOLOGICO E EDUCAGAO,V.3 153 .salternativas em vez das visuais diferent va amma fonte de homogeneizatgio em re. cons! 50. outr® as eegas. Por outro lado, 0 Lio reno das peculiaridades do desenvol. conto dessa criangas é kmprescinivel para Spanejamento das estratégias educacionais, ger intengio & que os diferentes contextos Sieatvos em que crescem as crian Scusfagam sas necessidades especi iso analisar cuidados is, & pre- amente as vias alternati- tas de que tais criangas dispdem para cons- truir seu desenvolvimento. Avaliagao da deficiéncia visual e da visdo funcional Aavaliacdo do grau de perda visual apre- sentado por uma crianga deficiente visual de- re ser feita em dois niveis diferentes, mas ao mesmo tempo complementares (Espinosa ¢ Ochaita, no prelo; Rosa, 1993). Por um lado, deve-se fazer um bom exame oftalmolégico, e, Por outro, deve-se avaliar o grau de visio fun- ional, isto é, os resquicios visuais de que essa ctianca dispée para seu desenvolvimento ¢ sua aprendizagem, Somente dispondo dos dois ti- Pos de informacao, sera possivel elaborar um informe visual completo, que sirva para pres- ever as correcdes ¢ as ajudas técnicas neces- Sirias ¢ para planejar programas de interven- S0 educacional adequados. Aseguir, descreve-se de forma mais deta- da cada um dos elementos da avaliaggio dos is or Visuais, dando énfase especial aos pro- Is responsiiveis, As medidas emprega- las. * i cada, 2° tio de instrumentos utilizados em ‘4 um deles, Oexame ottalmotégico Gi fe came oftalmolégico tem a participa- Bes diggs Pr Ofsionais diferentes, com fun- logis Mas complementares: o oftal- Mologige, @o, CPtometrista eo dptico. O oftal- ‘um médico com formagio especia- lizada no diagndstico e no tratament . blemas oculares ¢ ‘0 dos pro. est capacitado para pres. tivas. O optometrista é um ‘ame ocular, na prescrie: ‘jo e lentes corretivas ~ apesar de especialista no ex na confecgao de | no ser médico e de nfo estar autorizado, ag maioria dos casos, a prescrever medicamery Finalmente, uma blema e o tipo de le te deve utili ‘amentos, O exame oftalmoldgico devera ser prece- dido da elaboragio de uma histéria clinica em que se incluam dados tanto para orientar a avaliagdo como para determinar o tratamento mais adequado. Questdes como a idade de aqui- sigéo do déficit visual e sua etiologia, ou sua evolugiio e seu prognéstico, so elementos im- Portantes a considerar, Uma vez realizada a historia clinica, o passo seguinte é 0 exame ocular propriamente dito. Consiste em uma avaliagiio sistemitica e precisa das chamadas medidas de eficiéncia visual normalizadas que fio, fundamentalmente, acuidade visual e cam- po visual. A avaliagio da visio do ponto de vista oftalmolégico requer a utilizacao de dois tipos de instrumentos distintos: aparelhos tecnolé- gicos mais ou menos sofisticados e optotipos. Os aparelhos servem para avaliar tanto as me- didas de eficiéncia visual normalizada, como 0 funcionamento e o estado dos drgios e dos tecidos oculares.' O segundo tipo de instru- mentos utilizados para realizar a avaliagao oftalmolégica so os optotipos. Com eles, ava- lia-se a acuidade visual ¢ a visio das cores. Denominam-se optotipos os quadros com letras, ntimeros € figuras impressos em diferentes tamanhos — previamente determinados -, os quis se catalogam em décimos de visio. Os optotipos podem ser apresentados em teas retroiluminadas ou em projetores. Arualmen- te, de todos os optotipos que I no Mes ilizado & 6 mapa . Exis imbolo tis e outra que usa um sim! ras maitisculas ¢ 0 imbolo letras com umn E ou um U em diversas po: res m adultos costuma utilizar cot igo ee que ainda nfo sai- analfabetos e com criangas bam o nome das letras. Digitalizado com CamScanner 154 COLL, MARCHES!, PALACIOS & COLS. A avaliagao da visdo funcional Visto que a maior parte da populagio le- 8 a possui algum resquicio visual, & fundamental fazer uma avaliagio prec istematica de sua visio funcional. A informa- cdo relati o de que dispde uma pessoa deticiente visual con- verte-se em um elemento essencial em todas as idades, mas especialmente durante a infan- cia, para o planejamento de programas de in- tervengao adequacos. Atualmente, os especia- listas no tema coincidem em assinalar que 0 grau de visio funcional que um sujeito defici- ente visual possua deve ser aproveitado & potencializado ao maximo. E importante, po- rém, destacar que a visio funcional nfo de- pende apenas do grau de perda visual de que padece 0 sujeito, mas também de outros fato- res, como a motivacao e a atitude que mani- festa em face de sua utilizaciio, os tipos de es- timulos que se apresentam a ele e o treinamen- to que tenha recebido para potencializar ao mé- ximo seu uso. Por essa razio, perdas visuais similares podem gerar capacidades funcionais diferentes, Na Espanha, a avaliagtio da visio funcio- nal ¢ feita geralmente pelos especialistas da ONCE, chamados de “técnicos em orientaciio € mobilidade © especialistas em reabilitacio visual basica”. Esses técnicos nao apenas fa- zem a avaliagio, mas também planejam e de- Senvolvem programas de treinamento para a melhor utilizacdo dos resquicios visuais. Os d ferentes profissionais que estio em contato di. erg pel oo ee nniies vi isuais, como psicélo- Dem et Professors eeducadores, tam elucativo, Nw a#© & no tratamento Zande dois ak? ctu ser Feta til zados enio sstematizadon eno Sistema Os procedim ante acon, dame se gn Leman sual real nao pode ser medida nes nel Ye forma objetiva com o ra Prevista de 80 de protocolos que se est avaliando. Em geral, trata tas de condutas facilmente observ servem para avaliar a utilizagio que as pe soas fazem de seus tesquiios vsnais,comapy, exemplo, testar a reagio do sujeto diane, presenga de uma luz, saber se & capaz del lizar um estimulo visual, seguit um objeto com o olhar, etc. Os testes sisteméticos de visto func. nal tém objetivos similares: avaliar a viszy funcional dos deficientes visuais ¢ considerat sua possivel utilizagdo em diferentes situacées ¢ tarefas. Um exemplo desse tipo de teste para criangas é “Mira y Piensa”, editado na Espanha pela ONCE, em 1986.” Foi projetado para avaliar © uso que as criancas fazem de seus resquicios visuais e proporciona informe. ‘gdes de tipo qualitativo, Esse teste é acompe nhado de um manual, que inclui diferentes programas e materiais titeis para o treinamen to da visio funcional. ‘Se de lis. Cis que O desenvolvimento psicolégico Neste item, abordam-se os aspectos mais importantes do desenvolvimento psicoldgic dos cegos. Serao destacadas, de forma prio: taria, as dreas do desenvolvimento em que criangas nao videntes tém necessidades reth mente especiais, justamente pela wilizagio s vias ndo visuais de acesso a informagio ¢# comunicacio, O leitor interessado et ut & tudo mais amplo sobre o tema pode const © trabalho recente de uma das autor (Ochaita, 1993), Primeira infancia Intercambios visuais e Interagées comunicativas 8 Enquanto a teoria de Piaget as trava a imagem de um bebé que Com. of inteligéncia atuando com objetos Ft Pesquisas iniciadas por Bates € 908 ee dores, em 1939, com criangas videntes.° vi ciaram que a atividade fundamental 4 Digitalizado com CamScanner DESENVOLVIMENTO PSICOLOGICO E EpucagAo,v.3 155 a durante seus quatro ou cinco primeiros me- Sede vida & relacionar-se com os outros seres humans, basicamente com seus pais ou suas principais figuras de apego (Bates, Benigni, pretherton ¢ Volterra, 1979). , Diversos autores assinalaram a importan- cia que tem, na espécie uumana, os interedm- bios visuais nas primeiras interagdes comuni- cativas entre o bebé c oadulto (Bates, Camanioni Volterra, 1975; Buxterworth, 1991; Trevarthen, 1988). Tais interagdes ocorrem, sobretudo, mediante turnos de olhar que estabelecem ori emtagoes em certo sentido semelhantes aos tur- nos conversacionais que se produzem na co- municagao verbal (Kaye, 1982). Além disso, as criangas, desde seus primeiros dias de vida, prestam atengao de preferéncia a estimulos visuais que, curiosamente, coincidem com os do rosto humano. Como ja assinalou Fantz, em 1961, preferem olhar estimulos redondos ou ovalados que, do mesmo modo que os rostos, também tenham contrastes de cor ¢ de brilho. Ao mesmo tempo, os adultos sentem-se forte- mente atraidos pelos rostos e pelos gestos dos bebés e, quando se aproximam deles, trocam olhares e gestos (Campos, Barret, Lamb, Goldsmith e Stenberg, 1983). Assim, os traba- ‘hos realizados com videntes sobre as primei- ras interagdes adulto-bebé parecem indicar que a visio é fundamental para tais intercmbios comunicativos, transcendentais para o desen- volvimento infantil. Por essa anilise “visuocentrista” das pri- meitas interagées comunicativas entre o bebé £ © adulto, poderia se supor que as criangas 1997 ¢ 1998). Nelas, demonstra-se que os be- bés cegos, desde as primeiras semanas de vida, Prestam uma atengio seletiva a voz de sua mae € demonstram isso girando 0 corpo para a fon- te do som. Também distinguem claramente en- te a voz da mie e a de uma mulher estranha, JA que giram o corpo na diregio de onde pro- vém a voz materna. Além disso, como assina- lou Fraiberg, em 1977, os bebés cegos tam- bém apresentam o gesto inato de relaxamento do rosto que é interpretado pelos adultos como sorriso, Esse gesto, reforcado pelos adultos, converte-se ao final do primeiro més, do mes- mo modo que nas criangas videntes, em um sorriso social. Os dados procedentes de dife- Tentes pesquisas mostram que, com quatro se- Manas de vida, os bebés cegos e deficientes visuais respondem com um sorriso as vozes de seus pais € ao contato corporal com eles quan- do, por exemplo, os pegam no colo ¢ thes fazem caricias (Fraiberg, 1977; Rogers e Puchalsky, 1986). Outros trabalhos de pesquisa-interven- ao, realizados com criangas cegas e suas maes, revelaram que, quando estas tém boas expec- tativas em relacio as possibilidades de desen- volvimento e de aprendizagem de seus filhos, se estabelecem entre eles alternativas conver- sacionais nio verbais similares as observadas em pares videntes, mas nesse caso intercam- biam-se sons, ritmos, contatos corporais e mo- vimentos (Jenefelt, 1987; Preisler, 1991; Urwin, 1984). Um bom exemplo dessas proto- conversas é um jogo que se fez entre as crian- gas cegas e seus pais, e que consiste em uma sequéncia de ritmos vocais, tateis e de movi mentos, nos quais se estabelecem relagées en- tre o bebé e o adulto. Essas pesquisas permitem afirmar que as criangas cegas dispdem de vias alternativas para a visio suficientes para interagir com os adultos, desde que estes saibam interpreté-las, A cultura ocidental atribui grande importin- cia ao papel da visio nas interagdes comunica- tivas precoces, ¢ muitos pais podem ter, e tm de fato, sérios problemas para detectar e in- terpretar os sinais emitidos pelas criancas ce- gas para demonstrar seu interesse quanto aos outros e para demonstrar suas preferéncias quanto a seus familiares mais préximos. E ne- Digitalizado com CamScanner 4156 COLL, MARCHES!, PALACIOS § COLS. cessario que as mies ¢ os pais aprendam a in terpretar as formas que seus fills cegos uti zam para telacionar-se com eles. ‘A formagao do vinculo de apego Prosseguindo com o desenvolvimento so- cial e comunicativo das criangas cegas, ¢ pre- fazer referéneia 4 formagao do vinculo de apego entre esses bebés e seus pais. Os autores que estucdaram essa relagao coincidem em afir- ‘mar que, quando se estabelece a sincronia ade- quada entre a crianga e a pessoa ou as pessoas, encarregadas de cuidar dela, 0 apego evolui seguindo etapas similares As das criangas vi- Gentes (Freedman, 1964; Fraiberg, 1977; Rogers e Puchalsky, 1986). Desde as 4 sema- nas, as criangas cegas so capazes de sorrir de forma seletiva diante das vozes do pai eda mie, A partir do terceiro més, quando a crianga vi dente sorri de forma regular quando vé um rosto humano, 0 cego o faz. frequentemente, embora nem sempre, quando ouve a voz de seus pais ¢ de outras pessoas conhecidas. Além disso, os estimulos tateis, como as caricins, os balangos e as cécegas sempre provocam 0 sor- riso do nao vidente, Hd ainda uma conduta caracteristica das criangas cegas que revelam a existéncia de uma via alternativa para a visio a fim de conhecer © reconhecer 0 rosto das pessoas, Como desco- briu Fraiberg, em 1977, ao final do primeiro més, os bebés néio videntes comecam 0s rostos das pessoas que esto com eles, o que € uma forma de conhecimento no visu Pessoas. A partir dos 5 meses, es ‘enn siesta lie dora e inten- Gidas, Assim, entre os Ses B ee ee NITE OS § © O8 B meses, as etian. Sexploram detidamente o rosto de seus miliares mais prdximos qt ndo estio no col deles, mas 0 fare ano estde eal fazem rapidamente quande esti 0 colo de pessoas estranhas, p.: Assim, 05 néio videntes ta tam as reaches de me: a tocar mbém manifes. Vi ‘do aos estranh 2m eae estranhos, 0 que Supbe o conhecimento dos familiares e as pes soa cheyidas legal das © 4 consequente On ¥a diante dos desconhecidas, Por volta ‘los 7 ou meses, oriemtando-se p Imente py ela audigio das vozes, a exploracao titi dos olfativos, as eriangas eegas si0 cape perceber a presenga de pessons estranhas qc nifestanda uma cert rejeigio a elas, eens, que se torna mais forte quando tentam pep, -las no colo. 208 da desenvolvimento dos esquemas sensério-motores A partir dos 5 ou 6 meses, os bebés, sem deixar de ter um interesse prioritario pelas pessoas 4 sua volta, comegam a dar mais aten Gio aos objetos fisicos e dedicam boa parte de sua atividade ao exercicio de seus esquemas sensério-motores em relagiio a tais objetos. £ precisamente nessa idade que as criangas vi dentes siio capazes de coordenar os esquemas de visio e preensio, o que, junto com acres cente capacidade para permanecer sentadas Ihes permite a manipulagao ¢ 0 jogo com obje- tos sob controle visual. As vias alternativas que a crianga cega tem de por em pritica para ree lizar esse tipo de atividades constituem out prodigio de adaptagao do desenvolvimento humano. 0 tato e a audigao sio menos apro Priados que a visio para conhecer 0 espace ¢ 6s objetos que nele se encontram, ja que P™ Porcionam uma informagao muito mal sequencial ¢ fragmentada ¢ uma menor ame cipagio perceptiva (Foulke, 1982). A unica Pe sibilidade que uma crianga cega tem des que um objeto existe, quando ele nao es!" Contato com sua mao, & que ele emit als tipo de som e, evidentemente, a maict pate ; 9 coat dos objetos nao & sonora. Por outte lal. mostra 6 Quadro 8.1, a coordenacie Hh) E muito mais tardia que a vison i que se produz ao final do primo a, Criangas ceyas © deficientes visuais (FRY 1977; Sonksen, 1979). ol Alguns autores estudaram o dese, mento dit permanéneia dos objetos HE" 9 Cegos, adaptando a teoria © os tests tanos as caraeteristicas. perceptivs langas (Bigelow, 1986; Rogers ¢ Pe it 1988). As diferengas perceptivas emt ° ma visual, por um lado, @ os siste auditivo, por outro, nao aconselbam cs tt” y Digitalizado com CamScanner DESENVOLVIMENTO PSICOLOGICO E EDUCAGAO, V. 3 187 Idades’ em que as criangas adquirem as coordenagées visomanuais @ audiomanuais tee SS quand 8 ttom Videntes onsen he tase seu cP carga objetos que pode ver 49-80 sxplr 0 abotos que se encontram —60-7,0 fm seu campo visual ncontra um objeto parcialmente 70-80 encoberto ‘ausca um objeto no lugar em 70-80 que operdeu tom Cegos Nao ha indicios de busca do 00-70 rnenhum tipo de objeto Busca um objeto que esteve em 70-80 suas miios antes Abre e fecha as mos quando owe 70-80 © objeto perdido Nao responde diante do som de 70-80 objetos sonoros que nao tenham estado em suas mos antes Busca um objeto no lugar em 80-110 que o perdeu Busca um objeto orientando-s8 11,0 -120 tunicamente pelo seu som SSS “Em meses. do desenvolvimento dos cegos de perspectivas visocentristas. Quando a visio falta ou esta gravemente prejudicada, é dificil para as crian- gas elaborar um universo de objetos perma nentes, sobretudo daqueles que niio esto em contato com sua mao. Portanto, as criangas cegas construirfio, em primeiro lugar, a perma- néncia dos objetos tateis ¢ serio capazes de Procurar os objetos com os quais tenham tido uma experiéncia tatil suficiente. Somente a Partir do segundo ano de vida, uma vez que consigam alcancar com a mio os objetos sono- TOs, comecardio a coordenar as imagens tateis © as auditivas e, consequentemente, a procu- Tar 0s objetos pelo som que emitem. AS protoconversas inci te 9 final do primeiro ano de vida e 0 import SeBundo, comega uma etapa muito ceemnaite para o desenvolvimento simbélico o, mmuncatvo: as eriangas dever incorporar emum Os Em sua interagio com as pessoas, de eg romessO que alguns autores chamaram po a ai8tlacio, por envolver ao mesmo tet 1a graea, 0 objeto € o adulto. Ji no se Pens de interagdes crianga-adulto, mas — de que a primeira seja capaz de iniciar conver- sas nao verbais ou protoconversas em relacao a objetos e de estabelecer mecanismos de aten- io compartilhada para poder comunicar-se com os outros. Os diversos autores que estu- daram 0 tema (Butterworth, 1991; Gomez, 1991; Gémez, Sarria e Tamarit, 1993) mostra- rama importincia da visdo no desenvolvimento dos mecanismos de atencao conjunta. Como as criangas cegas incorporam os objetos em suas conversas nao verbais com os adultos? Sem chivida, a resposta a essa per- gunta é complicada, j4 que nao existe pesquisa sobre o tema. Por um kido, o gesto de apontar € totalmente visual; quando uma crianga vi dente quer chamar a atengao do adulto, a pri- meita coisa que faz € dirigir o dedo indicador 0 objeto, depois olha para o adulto ¢, por ti- timo, ambos dirigem seus olhares para o obje- to. Por outro lado, as criangas cegas tém sérias dificuldades para saber que existem os objetos que na Seria necessirio realizar novos trabalhos de observagio para averiguar quais 10 0 mecanismos, as vias alternativas que as ngas cegas utilizam quando carecem do sis- tem m 1984, Urwin falava da exi tancia de certas formas de sinalizagao corpo- ral dirigidas aos objetos. A hipdtese que se for- Digitalizado com CamScanner 158 COLL, MARCHESI, PALACIOS & COLS. mula aqui leva muito mais a pensar que as cri- ancas cegas utilizam vocalizagoes para chamar ‘a atencao dos adultos para poder comunicar- “se com eles sobre os objetos que esto tocan- do. Aexisténcia de numerosas vocalizagées nos intercimbios comunicatives crianca-objeto- -adulto foi constatada nos trabalhos feitos com videntes (Lock, Young, Service ¢ Chandler, 1990), mas nao foi dada a devida atengio ted- rica a elas. O desenvolvimento postural e motor Os estudos realizados a respeito (Fraiberg, 1977; Griffin, 1981) coincidem em assinalar que, nas criangas cegas bem estimuladas, nao ha problemas no desenvolvimento do controle postural (ver Quadro 8.2), a nao ser na con- duta de levantar-se com os bragos quando es- to de boca para baixo. De uma perspectiva visocéntrica, essa conduta, que permite a crian- a cega olhar 0 espaco distante quando esta deitada em seu berco, nao tem fungao alguma para a no vidente. Também os atrasos na mo- bilidade autoiniciada — levantar-se até ficar sen- tada, ficar de pé, engatinhar e andar sem aju- da~sao explicaveis no mundo da crianca cega. © pouco conhecimento que o naovidente tem do espago e dos abjetos que se encon tornam explicavel que sua motivacai guranga sejam menores que nos ¥ relagio a conduta de engatinhar, que a produz de forma espontainea nas crangas <2 gas, nio deve ser estimulada artificiaimene ja que € bastante inapropriada na ausénens, Visti. Para as criangas cegas, as maos sic up instrumento de vital importancia para con. cer o mundo e para evitar obstaculos, ese pouco adequado utiliza-las como pernas rar caminhar. Assim, é a sequéncia de desenchs mento postural e motor que o quadro mosra niio a sequéncia de desenvolvimento das cian gas videntes ~ que deve ser tomada como rete. réncia pelos profissionais para a estimulacis das criangas cegas. Tam nee 108 sua se ‘identes, g, O periodo pré-escolar O desenvolvimento da linguagem Em termos gerais, & possivel afirmar que no ha problemas no desenvolvimento da ir guagem das criangas cegas e deficientes vist ainda que apresente certas caracteristias ferenciais derivadas da especificidade do 2 so 8 informagao na auséncia da visio (Ocha, QUADRO 8.2 Idades’ em que as criancas cegas do projeto de desenvolvimento infantil de Fraiberd adquirem os “itens” de desenvolvimento motor” — item Cegos Vertes Levanta-se com os bragos em posi¢ao prona 97-35 Sonos tens nora Hare 10-R uma volta sobre si, passando da posigéo de costas , sort a barnga para baixo 48°98 0 ta-se sozinna de forma continuada oa Larne sure estan 93-158 800 Fa de pe sozina apoiando-se em um movel 95-150 60-0 pried de caminhar (caminha se a seguram 80-115 en Fica de pé sozinha 90-185 ‘Caminha sozinha, trés passos bet 20. Cowra metetea tee nse "Em meses - Comgarars com 0 obios em ventas (Bayley, 1969) Fort: Fraberg, S. (1977) Digitalizado com CamScanner DESENVOLVIMENTO PSICOLOGICO E EDUCAGAO, V. 3 a e Castro, 1994), Em pri- se dizer que a limitagio vi- ce scr tao importante como a au- aprendizagem dos sons préprios iva para l airjngua, ja que o desenvolvimento fonolégico {as criangas cegas pode ser considerado nor- inal (Mills, 1983 e 1988; Muldford, 1988). Embora nao se disponha de trabalhos com criancas de fala espanhola, os que foram reali- gados em outras Iinguas parecem indicar um desenvolvimento similar nas criangas cegas e videntes. ‘Nao hd problemas para as criangas cegas edeficientes visuais na aquisigdo do léxico do ponto de vista quantitativo (Muldford, 1988). Aidade média de emissio da primeira palavra nessas criangas é de 14,7 meses, o que pode ser considerado dentro da margem normal. Também nao se encontraram diferengas entre cegos ¢ videntes na idade de emissdo das 10 ¢ das 50 primeiras palavras (15,1 meses ¢ 20,1 meses). Do ponto de vista qualitativo, ha cer- tas peculiaridades das criangas cegas que pais e educadores devem conhecer. Assim, por exemplo, as primeiras palavras das criancas cegas correspondem Aqueles objetos que po- dem conhecer mediante os sistemas sensoriais de que dispdem. Enquanto os videntes apren- dem logo nomes referentes a animais, as pri- meiras palavras dos cegos correspondem fun- damentalmente a objetos domésticos. As limi tages de acesso 2 informagio fazem com que tenham certos problemas na generalizagaio & na formagio de categorias, sobretudo daque- les objetos de dificil acesso para cles, como, Por exemplo, os animais ou os veiculos. Tam- bém o desenvolvimento sintdtico pode ser co! sierado normal, embora tenha certas especi- idades (Landau e Gleitman, 1985; Pérez Pe- reira e Castro, 1994), Do ponto de vista pragmadtico, também hé Prculiaridades no desenvolvimento da comu- nao aay verbal que sio especificas das criangas tae cidentes e que devem ser levadas em con- . autores que estudaram o tema coin nian afirmar que tais criangas utilizam um TO maior de imitagoes, repetighes ¢ roti- reing UE 08 videntes Janson, 1988; Pérer Pe- €Castro, 1994; Urwin, 1984). Nao se pode ‘er que essa linguagem seja ecolalica egocen- Po 159 trica e nfo funcional. Ao contrario, tem uma fungiio clara no desenvolvimento cegas. Desde que elas comecam a falar, de utilizar a linguagem com uma fungio co municativa, esta cumpre outras importantes fungées para compensar os problemas causa- dos pela auséncia de visio no desenvolvimen- to simbélico. Especificamente, recorrem em maior grau que os videntes a imitagées diferidas de carter verbal que muitas vezes parecem converter-se em jogos simbdlicos de papéis. Ha, porém, um claro problema na ut zagao de termos dicticos - pronomes pessoais € possessivos, em contextos de intercmbio de papéis conversacionais ~ por parte das crian- gas nao videntes, Todos os trabalhos analisa- dos (ver Ochaita, 1993) detectaram problemas na utilizagio correta dos pronomes “eu” & “voce”, “meu” e “seu”, tanto em situagées de conversa como de jogo simbolico. Tal proble- ma reflete as dificuldades que apresenta, na auséncia de visio, a compreensio das mudan- as de papéis que se produzem na conversa. Provavelmente, decorrem dos problemas que essas criangas tém no processo de “triangu- lagiio”, nas dificeis vias alternativas que tém de seguir pra substituir os gestos que chamam a atengao do adulto para os objetos. No estd- gio atual dos conhecimentos, é preciso desta- car a dificuldade que as criangas cegas encon- tram para utilizar vias nao visuais de apoio comunicagio verbal e, ao mesmo tempo, a ne- cessidade que manifestam de que os adultos saibam interpretar tais vias alternativas. 0 jogo simbélico Apesar da importancia do jogo simbélico senvolvimento do ser humano, realiza- ra palhos sobre seu desenvolvi- mento nas criangas cegas e deficientes vi ‘Também para o estucdo dos primeiros jogos ‘os ¢ de papéis & preciso deixar de lado o rismo ¢ analisi-los a partir da propria fenomenologia da cegueira, Alguns autores slaram de atrasos nos primeiros jogos de fic gio das criangas cegas. Nao se pode esperar, contudo, que tais criangas reproduzam do mes- Digitalizado com CamScanner 460 COLL, MARCHES!, PALACIOS & COLS: as cenas da vida did- ‘0 visual. Por 580, 8 es verbais para mo modo que os videntes ria, a que nao tém acesso vis criangas recorrem As imitacd desenvolver seu primeos ges MH troca de papéis, Unwin (1984) ¢ un menina cega que repetia, entre Fisos, UMA a wackes e ocorriam em sua casa, quéncia de agdes que OCOTN A apd dramatizando as vozes e estabelecendo papels Nesse mesmo sentido, podem-se interpretar os dados obtides por Lucerga ¢ colaboradores, segundo 0s quais 0 brinquedo preferido das criangas cegas é 0 telefone ¢ telefonar é seu jogo preferido (Iucerga, Sanz, Rodriguez, Porrero ¢ Escudero, 1992). ‘Analisando as dimensdes envolvidas no jogo simbolico, as autoras citadas afirmam que ‘a substituicao de objetos, que supde a utiliza gio de simbolos, evolui de forma semelhante em cegos e videntes. O mesmo nao ocorre com a dimensao de descentragio: até 0s 3 anos de idade, é muito dificil que as criangas deficien- tes visuais possam descentrar a agio de si mes- mas para centré-la em algum objeto simbéli- co. Embora nao se deva dar explicagées simplistas a respeito, é preciso levar em conta que © simbolismo dos brinquedos comerciais costuma basear-se em semelhancas visuais que essas criangas néo podem captar, No que se refere ao planejamento do jogo, parece que as criangas nao videntes acham mais faci plane- jar 0 jogo do que executéd-lo, 0 que mais uma vez revela a importancia da linguagem no de- senvolvimento do jogo na auséncia da visio. Actapa escolar Os trabalhos realizados sobre o desenvol- mento das criangas cegas edeficientesvisuais ce gaes compreendidas entre 6 6 12 anos centraramse fundumentalmente em seu desen- ‘olvimento cognoscitivo, tomando como rele. rng (aria de Piaget e a escola de Gene | Em termos gerais, pode-se 4 deservnvinent intl da ee videnes nn presenta problemas sérios, en Cochata yee Ulisridades caracteristiens Dawe 23: Rosa € Ochalta, 1993). A falta de tee etetioragao do canal visualeo fate S80 4 uma boa parcela das inf for- mages pelo tato faz. com que seja ma, para elas realizar tarefas dle conteiga pa vo e espacial do que aquelas baseaday 2 ca verbal. alg ‘Todos osestuclosrealizados com es, gas nas tarefas dle Iégica concreta assinalg importante “defasagem” entre 0s doj tarefas. Assim, nos diversos problemas ws dos nas tarefas de classificagies, conser. ou seriagées verbais, encontram-se dfn” entre 0 rendimento € os resultados obtiter cegos ¢ videntes. Ao contriirio, nas operagies ig seriagio manipulat6ria e naquelas que inpirag imagens mentais (Rosa, 1981) e conhecinery, espacial (Ochaita, 1984), 0 fato de ter de toms: a informagiio pelo tato supde que tenham der resolvidas por vias alternativas complexas gp faz com que as criangas néio videntes as tes vam, mas com um atraso consideravel (de 3.47 anos, dependendo da tarefa) com relacio aus dentes (ver Figura 8.1). Como se analisara a se guit, tal atraso é anulado entre 11 e 15 anosde idade, inclusive quando se trata de realizar oe rages espaciais muito complexas de carter projetivo ¢ euclidiano. Tudo parece indicarques linguagem e 0 tipo de raciocinio compleso we dela decorre constituem uma importante fe menta, capaz de “remediar” os problemasde pe samento figurativo dos cegos. De qualquer forma, as pesquisas rele das sobre a integracio escolar dessas can assinalam que, do ponto de vista intle elas esto perfeitamente integradas ns i ses e nao tém problemas para acompanh* conteiidos normais do curriculo do ensine © mum (Ferndndlez Dols et al., 1991). Ee rio, porém, que a escola contemple & nee 7 dades educativas especiais de tais cra". mais uma vez, decorrem das caracterst canais sensoriais que substituem 3 eraagio ea mobilidade e 0 acess? iio escrita, Precisamente na pesqui Se trabalhow com uma ampla amos 5 visuais inte visuais is comunid : lam ung Ups de Ging Jo: a0t jces escolas regulares das diver 2 tonomas espanholas, revelowse Wj, 110! estudantes cle 8 ou 9 anos, 52% 408° hah 12 anos e 74% dos de 13 ou 14380) pal pelo menos, um ano de atraso e° y Digitalizado com CamScanner DESENVOLVIMENTO PSICOLOGICO E EDUCAGAO, v.39 164 tdado 4 12 10 8 6 4 2 o 1 2 39 4 5 Classificagées i Videntes Gl Cegos dado 14 2 10 8 6 4 2 ot 2 3 4 Seriagdes a Videntes Ea Cegos, Operagées légico-concretas: seriagdes 4. Manipulatéria simples 2. Manipulatéria muitiplicativa 3. Verbal nao espacial 4, Verbal espacial sade 16 14 12) 10 8 6 4 2 ° 1 2 3 4 Conhecimento espacial 1 Videntes ‘Cogos Conhecimento espacial 1. Sistemas de releréncia 2. Espago projetiva 3 Espngo topolegiea spavo euciidiano Fou 4 ‘unila, Carretera © Pozo (1986). We tais ex; ; tegen cra niio tinham problemas de in- Sistema 2 Festltados foram atribuidos a0 al le acesso a i fio escri ‘ra tats a informagao escrit "2 tatil do Braille, . $0 a0 eeeult® lado, dedicou-se pouco esfor- Sstudo do desenvolvimento afetivo & in RA 8.1 Resultados de cegos e videntes nos testes figural ‘onto: Ochalta, Rosa, Pozo e Fernandez Lagunilla (1 Operagées légico-concretas: classificages 1, Auditiva 2. Inclusiva 3. Hierdrquica 4. Multiplicativa a completar 5. Mutiplicativa espontanea Idade 16 4 2 10 1 2 a Imagens mentais Te Cogos, 1 Videntos Imagens mental 1, Reprodugao estatica 2. Reeprodugao dindmica 3. Antecipacaio cindtica ivos @ verbais da equipe de pesquisa da 1985). Rosa, Ochaita, Moreno, Femandez social das criangas cegas nessa etapa, E indubsdivel que, para conseguir a maxima imegragdo das criangas mio vidente fora como dentro dat escola, & preciso pdm incentivar a interagao ¢ o jogo com iguais fora da classe. Digitalizado com CamScanner 462 COLL. MARCHESI, PALACIOS & COLS: Aadolescéncla (© que se disse anteriormente pode ser aplieado ao desenvolvimento cognosciti- dos arescentes cegos © deficientes visuais. Os stucdos a respeito, baseados também na 160° ria piagetiana, permitem concluir que tem diferengas entre cegos ¢ videntes N jucao de tarefas do chamado “pensamento for: mal”, Portanto, os no videntes sto capazes de utilizar essa forma de pensamento mais ou menos nas mesmas idades em que os videntes, fm uma proporgao semelhante a estes e wili- zando estratégias similares (Ochaita, 1993; Ochaita e Rosa, 1990). Tudo parece indicar que os cegos, ao che- gar a adolescéncia, conseguem “remediar”, gracas a linguagem, os problemas figurativos resultantes de suas dificuldades visuais. Portan- to, evidencia-se mais uma vez que a linguagem eas formas de pensamento hipotético dedutivo que dela decorrem constituem poderosas ferra- mentas no desenvolvimento cognoscitivo das pessoas cegas. Ferramentas estas que lhes permi- tirdo superar, as vezes mediante vias alternati- vas bastante complexas, muitos dos problemas de linguagem no acesso a informagao e conse- guir, ao final, um desenvolvimento cognoscitivo equivalente aos das pessoas videntes. Menos informacées ainda podem ser ofe- recidas sobre o desenvolvimento afetivo e so- cial dos adolescentes e deficientes visuais. Sabe-se que a adolescéncia é uma etapa em que as mudangas fisicas acarretam importan- tes modificagdes na personalidade e nas rela- oes com os outros. Alguns autores conside- ram que a adolescéncia pode ser uma etapa particularmente dificil para os meninos ¢ as meninas com deficiéncias visuais graves, na ne pocem aren i de integragio ee emo erie (Seok 6). Embora seja toot eurecien estudas sobre esse cen no € necessriamente ms etapa mal tenham tido um desenvolvin ese que eles Pane rueeeeameieato harménico ados em seus contextos mais préximos de socializagi i : ¢ socializagio (familia, esco- Ja, amigos, ete.). _ A intervengao educativa 0 planejamento das intervenges fy tivas que devem ser feitas com as criangas eet edeficientes visuais deve basear-se ema cessidades especificas que decortem, findane talmente, da falta ou da deterioragio do cx visual de coleta de informaches. Por ign a pessoas encarregacdas da educactio das tana cegas devem conhecer as caracteristicas mis importantes do desenvolvimento e da apn. dizagem das criangas com deficiéncias vss graves, porque s6 dessa forma poderdo adap. tar suas ages as peculiaridades da crianca As importantes diferencas que existem entre as distintas criangas consideradas cegis ¢ as deficientes visuais nao permitem oferecer “eceitas” gerais para sua educacio. 0 tipoeo grau de deficiéncia que possuam, como te bém sua propria historia familiar e educata condicionarao o tratamento educativo que de vem receber, Quando o educador esté diate de uma crianga cega ou deficiente visual re de adaptar seus conhecimentos e sua aioe: cacional As caracteristicas particulares dese crianca, Nesse sentido, & importante desi que sempre se deve aproveitar a0 mixin? * visio funcional que essa crianga posstl PS isso, deve-se contar com wm ‘bom infor oftalmolégico, que contenha dacios preci | com uma correta avaliagaio das possi da crianga de aproveitar a visio para re!” as diferentes atividades educativas: 5 No item anterior, afirmava-se aU md deficiéncia visual nem a cegueita (08%, mesmas causam incapacidades n0 22". mento psicoldgico. Contudo, pode PT blemas se os pais, os professores © 05° res em geral nao entendlem as FO Ts fares de que dispae a erianga ces" Pt truir seu desenvolvimento psicolOs por exemplo, é a0 mesmo tempo iN yl @ intitil tentar que as criangas NN, que nada tenham a ver com set an menoldgico, como forcar wma eC engatinhar, ensind-la a desenha yal programas de aprendizagem Dae eM, ca piagetiana. Apds anos de Pe es profunda reflexiio sobre as pee desenvolvimento e da aprendiz88°" Digitalizado com CamScanner DESENVOLVIMENTO PSICOLOGICO E EDUCAGAO, v.32 169 as,e partindo da caracterizagio da ce- 5 e805 Tuma deficiéncia sensorial, pode- gon nar que @ intervencao cleve ser feita oe penamente a9 aefas do desenvoli tad aprendizagem que Se expoem a soguit Intervengao com OS paise oseducadores na primeira infancia Nas primeiras etapas da vida da crianca cega, a itervengao educativa deve set mais dirgida aos pais e aos educadores do que & ‘stimulagio do desenvolvimento ¢ da apren- dizagem da prépria crianga. Desde seus pri- neiros dias, as criangas cegas e deficientes vi- suais dispoem de sistemas alternativos para a visio suficientes para interagir com os adul- 10s, desde que estes saibam interpretar as vias alemativas de que a crianga dispde para conhecé-los e comunicar-se com eles. A impor- tincia que se atribui ao sistema visual faz com que muitos pais tenham sérios problemas no momento de detectar e de interpretar os sinais que 0s bebés cegos emitem para mostrar suas referencias ao interagir com os adultos. _ Quando uma mie ou um casal recebe a noticia de que seu filho é cego, pode ter pro- iis Para aceitar a deficiéncia e para consi: wo Stag de forma objetiva (Leonhart, de ra superego desses problemas depen- saggtalmente, das circunstncias conere- de eagillia.€ do contexto & sua volta, mas, 10 modo, é muito adequada a interven- fomagies atv Os pais devem receber in- Aas ons M086 sobre as eapacidades de seus na madambém sobre as vias alternativas oman da visio, utlizam para co- lo. E necessirio que os familia~ efi Ue» embora a crianga tenha uma daira Stal importante, ela possui mul “oer pildades que Ihe permitirio de- Tratggg Sim ¢ ter uma vida escolar nor. Epes suma, de gerar nos adultos de qa adequadas sobre as capacida- dese; Seu e*MVOlvimento e aprendizagem de 08 Bo Videntes.» ‘nerve ns Sentido, e na medida do possivel, @ 10 deve ser feita de forma conjunta i com a crianga e seus pais, Para estes, serd mui- to til, por exemplo, assistir a videos comenta- dos sobre o desenvolvimento de alguma crian- 64 cega ou, se possivel, de seu proprio filho, Nos quais se mostram suas capacidades: 0 sor. tiso, 0 reconhecimento das vozes, 0 papel da crianga nos jogos que implicam turnos conver sacionais, etc. Os adultos também devem saber da di culdade que seu fio tem pra conhecer os ob- jetos com os quais tem contato titil ¢ os meca- nismos ¢ as idades em que se produz a coorde- hago audiomanual. Tudo isso para que es mulem os jogos com objetos de forma apropria- daas caracteristicas perceptivas da crianga cega. No caso de o bebé nao ser totalmente cego e contar com resquicios visuais mais ou menos evidentes, os pais devem aproveitar essa visio funcional sem deixar de lado a estimulagao tatil e auditiva. A partir dos 9 ou 10 meses, devem incentivar ao maximo o jogo compartilhado com objetos e falar com as criangas sobre os brinquedos que tém em suas miios e sobre os que emitem sons. Tudo isso compreendendo as vias alternativas de que dispoem as crian- gas deficientes visuais graves para comunicar- se por meio de gestos e vocalizagées quando ainda nio adquiriram a linguagem oral. Se os adultos ~ mies, pais e educadores ~ compreenderem os sinais emitidos pelas crian- gas cegas & responderem de forma adequada ds suas demandas de socializagio e de cari- mnho, pade-se evitar que se produzam nelas pro- blemas psicoldgicos associados 4 cegueira. Os esteredtipos, a falta de interesse pelas pessoas cos atrasos no desenvolvimento nao tém por que existir em uma crianga cega sem ONS deficiancias fisicas, psiquicas ou sensoriais as- sociadas. Finalmente, no que diz respeito mobili- dade, também & necessirio que os pals oS responsiveis pela cranga coga na eduenct0 A> facut saibam de suas possibiidades. Nae races rambsem nesse cerreno, & necessa7 ee ao maximo a utilizagao da visio FP cent crianga, No caso de ela nto disor ee comics iveis, devem-se res- ‘cigs visuais aproveitaveis, deve. res raters J dsenvneD rar pa ausenca de visdo endo Foreat Ce Maras que, como o engacinhan, nao S20 ni —— Digitalizado com CamScanner 464 COLL, MARCHES!, PALACIOS & COLS. nis para um cego. Como se analisa a Seat é preciso estimular 0 desenvolvimento da Tidade auténoma e 0 conhecimento do espace, evitando tanto os possiveis perigos como a pro- tego excessiva da crianga. Mobilidade e conhecimento do espago Talvez uma das aprendizagens mais com- plexas para uma crianca cega ou deficiente vi- sual seja conhecer © espago a sua volta e mo- ver-se nele de forma auténoma. Os sistemas sensoriais que pode utilizar so, sem divida, menos apropriados que a visio para o conhe- cimento do espago e para a mobilidade. Se a intengio & conseguir a integracio social real de uma pessoa cega nas diferentes etapas de seu ciclo vital (infncia, adolescéncia e tam- bém idade adulta), é necessiirio que esta possa deslocar-se de forma autdnoma e eficaz. Por- tanto, os educadores, e especialmente a esco- Ja, tém um importante papel a desempenhar no momento de suprir as necessidades espe- ciais dos cegos nessa area. Os especialistas em orientacdo e mobili- dade, em colaboragio com os pais e os educa- dores, deveriam ser os encarregados de trei- nar tais capacidades desde as primeiras etapas da vida da crianga, Existem alguns programas que podem servir de exemplo para o treina. mento dessas capacidades na primeira infane cia, como aquele elaborado por Jofee, em 1988, cujo obj ; volvimento motor e ivo ¢ estimular a0 méximo o desen. 4 mobilidade das eriangas lo na casa da cegas. O programa é executad ctianga, ¢ sio os pais, de um especi ma ve; is tenham cro oas expeetatnas ote eae senvolvimento de seu bebé, sio treinados pacy interagir ao maximo com a erianga nas dif, rentesstuagbes da vida doméstcg utiizando s € jogos, durante o ba ns refeicd, ete E pose, amb, wane ee, senvolvimento motor ¢ Hann ficando com estimulos propriados as if tes comodos e orientando a eriangy gu seguindo sempre o mesmo caminne eon da de descrigdes verbais simples. Tudo iat set feito, se possivel, potencializando ay nq.” mo a visio funcional da crianga, = O ingresso da crianga na educaco ingy til €o momento ideal para que os edueadoe, em colaboracao com os especialistas das egy, pes de atencio precoce, estabelecam a5 de trizes educacionais da crianga em termos de orientacao, mobilidade e habilidades da vits didria. Tudo isso, naturalmente, dependendy das caracteristicas dessa crianga: tipo de ée- ciéncia visual, estado atual da crianga, his. ria familiar e educacional, etc. O objetivo écon seguir um nivel de autonomia similar ao das outras criancas da escola. Assim, é important que a crianga conhega 0 entorno da escoli¢ que perca o medo do desconhecido, pois, des sa forma, poder brincar com as outras cia gas e participar de todas as atividades realize das na escola. | Seria importante seguir a mesma inst do sobre o conhecimento do entorno todavet que a crianga mudasse de ambiente ¢ ene tase um meio desconhecido. Toda vez We * crianga deficiente visual mudar de escola. tanto, é necessario que receba uma inst adequada a sua idade e a rae Pessoais. No periodo pré-escolar, & neces yento real da crianga pelos difert caminhos da escola, acompanbada de Ur", cador que, além disso, Ihe dé informs", bal simples. A partir dos 7 ou 8 anos. ae Ao em mobilidade real pode ser COP, tada com a utilizagao de maquetes O81. gos construcdio que representem os amb! caminhos (Huertas, 1989). alieatP Também é muito importante £2" one gramas sistematicos de treinameno TY cimento de espagos mais distantes © © a cidade), pelos quais a crian¢? om Cente cego, assim como o videntes %55 of ver-se em suua vida diiria. Os téenico® tagiio e mobilidade da Organizag? itt dos Cegos (ONCE) costumam por saiads a esse tipo de programas com StU Teast volta da entrada na adolescénci®. | ,cen um tema muito importante, Pos 4 Digitalizado com CamScanner DESENVOLVIMENTO PSICOLOGICO E EDUCAGAO, v.39 165 & que 0s cegos estejam perfeltamente integra {os na sociedade, & necessiirio dotilos de fer. famentas necessrias para que possam ser au. ténomos ¢ independentes, As pesquisa feitas sobre o ten tem afirmar que, apesar d permi- s problemas que presenta o conhecimento do espago distante para as pessoas niio videntes, elas podem che- gara elaborar esquemas espaciais de entornos complexos, que thes permitam mover-se ¢ orientar-se. Um estudo realizado com adultos exgos (Espinosa, 1990) revelou que eles dis- punham de um esquema espacial de um en- tomo urbano to amplo e complexo como o da Cidade do México, funcionalmente equiva- lente a0 dos videntes, o que thes permitia rea- lizar destocamentos auténomos de forma se- gura e eficaz, Resultados semelhantes foram encontrados para o grupo de adolescentes, mas apenas nas dreas da cidade que Ihes eram fa- niliares. Tais resultados parecem indicar que 88 pessoas cegas dispoem de capacidades bisi- as para mover-se e orientar-se no espago, sen- do capazes de recolher informagdes proceden- tes dele mediante uma série de sistemas alter- nativos (auditivo, tétil e cinestésico) que Ihes sejam adequados para elaborarem esquemas espaciais funcionais. Finalmente, é preciso destacar a utilida- de que podem ter os mapas taiteis como ajuda Para a orientacio e a mobilidade dos deficien- its Visuais a partir da adolescéncia (Espinosa, 1994; Espinosa e Ochaita, 1994). Sio, porém, Necessirias novas pesquisas que apurem a fomidade © 0 tipo de informagées que de- adequadsa, 9 estratégias de exploragio mais trog je € Sua utilizagio conjunta com ou- ipos de ajuda, Oaces ©2880 a lingua escrita Sistema Braille 1500, BteMA de lecto-eserita uilizado pelas Cas yo) 895 e por aquelas que tém deficién- Uns muito graves & o Braille. Trata-se tig Sete para ser explorado de forma Por comp nidade basica & a célula, formada inagées de pontos em relevo, em uma _ Imatriz de 3 X 2 (ver Figura 8.2). Embora seja © melhor sistema désponivel, apresenta uma sé- rie de problemas que néo se pode ignorar. So dificuldades inerentes tanto ao sistema median teo qual ele recolhe informagées, o tato, como a0 proprio cécligo Braille. Quando um aluno deficiente visual tem de aprender a ler, 0 primeiro passo é decidir se isso deve ser feito em cédigo normal, em tinta, ou em Braille. Esta ndo é uma decisio nada ficil, que deve ser tomada pela equipe multiprofissional que atende a crianga, levan- do em consideragio as peculiaridades espect- ficas. Em qualquer situacdo, € preciso contar com um bom informe oftalmoldgico e uma avaliagio precisa da visio funcional. De ma- neira geral, devem se potencializar ao maxi- mo os resquicios visuais que a crianga apre- senta, Sempre que possivel, deve-se utilizar 0 sistema em tinta, ja que existem sistemas de ajuda tecnolégicas suficientes — sistemas re- Prograficos, upas, computadores — para am- pliar as letras e torni-las visiveis para os defi- cientes visuais. A utilizagio desse sistema Ihes Permitira maior acesso ais informagdes e a co- municacao, tanto dentro como fora da esco- la. Se, pelo tipo de deficiéncia - por exemplo, uma doenga degenerativa do sistema visual - for aconselhivel a aprendizagem do Braille, mesmo que a crianga disponha de resquicios visuais importantes, o ensino deve ser feito associando as informagies tateis e visua visto que diversos estudos demonstraram que a aprendizagem visual do Braille é mais facil que a tatil. No caso em que a crianga deve aprender © Braille, & importante criar motivagao nas ais por esse tipo de leitura, Embora a leitura til seja mais len- ta quea visual, & possivel que proporcione uma a dos textos (Simon, alan em compreensio muito bi 1994), Nesse sentido, é importante que 0s professores que tém criangas ce; suas turmas devem perder o medo do Braille e aprendizagem, que, além disso, ‘obretudo quando se faz de for- tna visual, Essa mesma recorrendagiio & exten- siva aos pais, pois o manejo desse tipo de leitu- ‘a Ihes permitiré incentivé-la em seus filhos, do mesmo modo que se faz. com os videntes ~ plo, endo historias juntos -, de for- enfrentar sua por exer Digitalizado com CamScanner 466 COLL, MARCHES!, PALACIOS & COLS. oo joe} |o lo. FIGURA 8.2 Alfabeto Braille. ‘ma que ela nio seja uma atividade que a crianga ccega faca isoladamente. Problemas da leitura tatil Ha determinados erros caracteristicas do sistema, meter ao ler Braille. Assim, pode que, pelas proprias um leitor pode co- haver erros de mimisculas, com a tinica maiisculas sto seguidas de Algo semelhantes ocorre co; renga que as um sinal especial, mM Os niimeros, que - maidscula —_gerador DO) oe (09) loo) loo) joo ° oe 09} ums sio as primeiras letras do alfabet ot nal que os especifica como mimero OP, Kekelis, 1969; Ochaita, Rosa, Fort ars Lagunilla e Huertas, 1988). A suas cons ria = que a mesma vogal tenha dua oe bes diferentes, depenclendo de ser ps2 tuada -, também cria problemas, SFT le? as criangas. Por tiltimo, é prec mn * mas questbes de tipo pratico, oF que os textos Braille ocupa (on ee dos textos em tinta), a impossibly, Zar matcadores ~ como o Mei nal do que possibilitem enfatizar dee est de informagio contida no textoy 8 ” que sofrem os textos em Braille: |. hy A obtencao da informast 9, ‘ato também causa problemas: "roa a informacio de forma seque™ 7000 is que 0 4 Digitalizado com CamScanner DESENVOLVIMENTO PsicoLOcICO E EDUCAGAO, v.39 167 si, que se reaizatsempre com 0 ded in- fer da mito dominate tm de ser fe di por eta, sem que possa haver saltos ou rrmentes diagonais observados na leitura met Algumas vezes, quando o texto permite ateto fem um nivel Ieitor elevado, é pos- et passa por alguimas Tetras com mais rapi- “odo que por outras, por exemplo, aquelas torespondentes 20 final das palavras (Nolan eekelis, 1969). E precisamente esse fato — queodedo deve explorar todas as letras ~ que fazeom a leitura Braille seja muito mais lenta ecansativa que a visual. Enquanto um leitor pert em Braille consegue no maximo uma relocidade leitora média de cerca de 150 pala- vas por minuto, com a leitura visual a veloci- dade leitora média situa-se em torno de 300 palavtas por minuto (Simon, 1994; Rosa, Hueras e Simon, 1993). Os resultados de uma pesquisa feita re- centemente sobre os processos de leitura Braille (Simon, 1994; Simon, Ochaita e Huertas, 1996) ‘ostraram que a velocidade leitora dos cegos 20s diferentes niveis instrucionais muito mais ‘axa: em torno de 30 palavras por minuto no ‘sino fundamental, 50 no ensino médio e 98 %® ensino superior. O ritmo de leitura subia Pera uma média de 143 palavras por minuto 0 snipo de leitores experts formado por pro- (aot nio videntes. Dessa forma, fica paten- ra Tansas cegas leem com muito menos veda eiangas videntes do mesmo nk ra ett Esse problema no acesso 8 lin- 2 ue go pode explicar os atrasos escolares “asia “2 referéncia em itens anteriores & Staion fa® Priortirio para a pesquisa "lar gge da tualauer caso, & preciso ass “sa ago com os dados obtidos na “em pra ComPreensio dos textos I "dentes com o é boa e similar a obtida pelos uve yo mesmos niveis educacionais. Hocedim ce MUitos trabalhos que, mediante Wocidad a 2S diversos, centaram melhorar a Maisie et leitura Braille. De maneira ge- Bandas pt o8 Podem ser resumidos em dois 0 Bra le 2: 8 que tentam mudar o codi- i Haile tha, pee GUE Procuram melhora as hia Gh ltorgg tas € © movimento das mos " respeig ewaille (ver Simon, 1994). No que © 20 cote 20 cédigo Braille, alguns autores tentaram empre sados, que sistemas de leitura conden- meee Permitissem transmitic mais infor enor niimero de earacteres, Ou- {1s modificaram o miimero de pontos que com poem a célula para aumentaro mimero de com: binacdes possiveis entre os pontos, Finalmen: te, hd ainda tentativas de elaborar um eddigo ‘étil com letras romanas em relevo ou um cbs digo misto formado por letras e mimeros, Os resultados obtidos no permitem chegar a con- clusées relevantes, embora, de acordo com Simon (1994), parega mais itil continuar in- vestindo nas modificagdes do sistema Braille do que na criagio de novos cédigos, O treinamento na leitura Em alguns casos, treinaram-se os cegos para conseguirem, com diferentes procedimen- tos, maior rapidez no reconhecimento das le tras Braille. Os resultados dessas pesquiisas, realizadas com métodos muito distintos entre si, no permitem chegar a conclusées claras. O treinamento, quando melhora a capacidade leitora faz-com que diminua 0 mimero de er- ros ou 0 tempo de ler as listas de letras ou pa- lavras. Nao € certo, porém, que garanta maior rapide na leitura de textos, sobretudo quan- do se trata de leitura silencios As pesquisas realizadas sobre o papel do movimento das maos na velocidade leitora (Bertelson, Mousty e D'Alimonte, 198 Kilpatrick, 1985; Kusajima, 1974; Simén, 1994) Jevam a crer que a forma das m ios ao ler tem iia rela com a elcid tor, Dea, bese movimento muda significativamente 3 Fred. que aumento ves de ASU bua idade das eriangas. Nomalmente 08 ce gos Teem com 0 incador a mao donna sfaizando o ded inca dx otra amo com eerie passagem ¢ de marcador a mu i a aca endizagem leitora, wilizary apenas i sae a yoltando pela mesma lini part dese a : cesso rema- 4 sequin, o.que processo extr torna oP mente lento. A medic que aumentt seu nivel i ra ‘6 jncluido no processo, Pat Feitor, oourro dedo€ neluido no passar, madar de fine ler as primeiras letras Pips palavras dat Tina segu inte. Finalmente, Digitalizado com CamScanner 468 COLL, MARCHES!, PALACIOS & COLS. 0s sujeitos mais habeis utilizam © que © cha- mado de “padrio disjuntivo simultneo”, que consiste em que cada dedo indicador leia ume parte da linha, juntando-se na pare central ela. Embora existam poucos trabalhos sobre 4 incidéncia do treinamento do movimento das ndos na melhoria da velocidade leitora, ¢ im- portante instruir os estdantes cogos sobre esse aspecto, respeitando naturalmente o nivel lei- tor atual das criangas e criando zonas de de- senvolvimento préximo. ‘Ao tentar evitar os problemas apresenta- dos por esse sistema de leitura, muitas pessoas nao videntes recortem a outras formas de aces- so a informagio. Assim, por exemplo, utilizam com muita frequéncia 0 que chamam de “livro falado”, que consiste em uma fita cassete que reproduz o contetido de um livro ou de uma revista, ¢ que pode ser ouvida em diferentes velocidades. De qualquer modo, esse sistema = embora proporcione uma velocidade amplia- da que pode equiparar-se a que aleangam os videntes na leitura regular ~ no pode substi- tuir por completo a leitura da informagao es- crita. Em todo caso, é necessirio projetar no- vas pesquisas, nas quais se esclarega a com- preensio que se obtém mediante o livro fata- do, visto que pode ser um procedimento com- plementar que ajude os cegos a amenizar seus problemas de acesso & informacio escrita. Aescrita em Braille Existem dois métodos diferentes para es- crever usando tal sistema: a utilizagio da cha- mada “pauta” e 0 uso da “maquina Perkins”. A pauta é uma superficie retangul i ou de metal, dividida em varia lulas Braille concavas, Sobre el Papel grosso, que & fxado por uma moldura A einga sem de pressionar com uma ponta sobre o Papel para marcar em relevo os pon- pondentes a cada uma das | comegando pela eétul a. Isso supen a da direit @ necessidade de escrever as lei de plistico fileiras de cé- , coloca-se um a. 1850 supde tras em espe- Iho para poder 1é-las corretamente ao que coloca um grande problema para ose, dantes nao videntes, ja que devem aprende a rodar as letras, ou melhor, aprender lena de forma diferente para ler e para Sistem Além disso, 0 tamanho da célula Braileg muito reduzido e podem ocorrer ertos ata palhar com a ponta. Por tiltimo, é preciso a5 sinalar que esse sistema nao permite repassr (© que ja se escreveu. ‘A maquina Perkins € 0 meio mais fic para ensinar os cegos a escrever. Constiuise de seis teclas, que correspondem a posicio «s pacial que ocupa cada ponto na célula Brall Por exemplo, para escrever a letra “a’, devese apertar apenas a tecla correspondente 20 por to 1; para escrever 0 “b", 0 1€02;e parao“ 0.104. A maquina tem, ainda, um espacador de sinais, um espacador linear e uma teclade retrocesso. Atualmente, os educadores utlizan esse sistema para o inicio da escrita, ja ques manejo é muito facil, evita os problemas de rotagio de letras e permite uma leitura med ta do que se est escrevendo. Finalmente, ¢ preciso destacar que Mt existem diversos instrumentos tecnol6s capazes de ajudar as pessoas cegas © ees tes visuais na leitura ¢ na eserita, Os ME portantes sio, sem diivida, os que deco dos avangos na informatica. Atualmente >, cado oferece teclados, impresso sn ve dores de voz, programas informatics. ys permitem ao cego ou ao deficient® Wa acesso maior 4 comunicagao © 4 inst ‘Também se esta trabalhando na are gramas para o ensino de Braille P°S° ipod? hiveis educacionais. Um exemplo de ot programas é um sistema multimnidia oo vido por Rosas, Strasser ¢ Zamont™ para iniciar as criangas cegas © OY ille suais no sistema de lecto-esctt 'y, principal objetivo é superar a fale! “gilt Gio das criangas para aprender 2 65 problemas decorrentes da inven" entre leitura e escrita que se PO cddigo. viray,g Digitalizado com CamScanner DESENVOLVIMENTO PSICOLOGICO E EDUCAGAG, v.39 169 Relagdes com os Iguais na etapa escolar e na adolescéncia A imegragio escolar das criangas e dos adolescentes nao videntes nio apresenta pro. blemas significativos do ponto de vista da aprendizagem dos contetidos escolares, Na cta- pa escolar e, sobretudo, na adolescéncia, po rém, é preciso refletir sobre se a deficiéncia visual pode causar dificuldades no desenvolvi. mento afetivo e social das criangas. Sem dlivi- da, a falta de vistio em si mesma nao tem por que colocar essas dificuldades, quando os con- textos nos quais a crianga se desenvalve (fun- damentalmente a familia, a escola ¢ 0 grupo de iguais) lhe proporcionam a possibilidade de interagir, sobretudo, com seus iguais. Como ja se disse, tanto 0 treinamento em orientagao ¢ mobilidade como nas habilidades da vida did- tia sio fundamentais para que a crianga e 0 adolescente possam levar uma vida social se- melhante a de seus colegas videntes e estar ver- dadeiramente integrados na sociedade. Na Espanha, ha uma experiéncia recente que visa melhorar a integragdo social dos estu- dantes com dificuldades visuais graves. Trata- se de um programa de intervencao realizado com estudantes de 8 e 10 anos que, de acordo om as autoras, parece ter tido resultados Tuito satisfatérios (Diaz-Aguado, Martinez Arias e Royo, 1995; D Sarcia, 1995). programa, que foi apli SSctiancas cegas e ais videntes, tinha os segu Ks objetivos: desenvolver uma compreensio melhor da cegueira e das peculiaridades asso- Sias ela nas criangas videntes, melhorar 0 cumneito © a competéncia social das erian- 288 € facilitar as interagdes entre crian- amen € videntes, Os resultados desse pro- thora spareeem indicar que ocorre uma me- Significativa das habilidades treinadas, tan : idan f° €480 das criangas cegas como no das lentes. z-Aguado, Royo & ido. Contudo, talvez esse tipo de intervengaio tals Necessério na adolescéncia, etapa de ‘Angas fisicas @ psicoldgicas - cognitivas, afetivas e sociais ~ muito importantes, As trans- formagoes que ocorrem no organismo durante @ puberdade fazem com que a imagem corpo- ral do jovem mude de forma notdvel, passan- do de crianca a adulto. Por isso, o adolescente encontra-se na situagao de admitir suas novas capacidades e necessidades sexuais, o que pro- duz um importante efeito psicolégico, com um aumento na tomada de consciéncia e no inte- resse pelo proprio corpo. Além disso, suas ca- pacidades intelectuais Ihe permitirio refletir sobre si mesmo e sobre os demais, criticar os modelos familiares e sociais e formular hipé- teses sobre seu prdprio futuro. Tudo isso fard com que mudem também as motivagées do adolescente ¢ que ele se interesse mais pelo cuidado com sua imagem e pelas relagoes com 08 colegas. A medida que 0 adolescente for uma pes- soa mais segura de si mesma, independente e com boas relagies afetivas e sociais, sera mais simples para ele enfrentar sem problemas tais mudangas. De maneira geral, pode-se afirmar que se os pais ¢ educadores dos nio videntes soubessem estabelecer as diretrizes adequadas (se houvesse boas relagdes de apego, se Ihes permitissem e possibilitassem explorar e conhe- cer o ambiente a sua volta e se Ihes proporcio- assem as ferramentas necessdrias para torna- rem-se pessoas independentes), nao teriam por que apresentar problemas particulares com a chegada a adolescéncia. ‘Alguns autores (Scholl, 1986) consideram que a adolescéncia pode ser uma época parti: cularmente dificil para os nao videntes. Trata- -se de um periodo em que os meninos ¢ as me- rninas organizam-se em grupos ou turmas que se caracterizam, entre outras coisas, por sua homogeneidade em aspectos como a forma de vestir, os gestos e a linguagem. Em alguns ca- ‘o jovem e, sobretudo, a jovem cega ou de- ficiente visual, pode encontrar certos proble- mas na aceitagio de sua propria imagem, em sett autoconceito, nas relagdes com o grupo e ages com 0 outro sexo (Kent, 1983; nas rel Beaty, 1991). Digitalizado com CamScanner 470 COLL, MARCHES|, PALACIOS & COLS: £ fundamental que, nessa etapa, 0S cole- gas ¢ 0s amigos compreendam 0 nao vidente e eolaborem com ele para facilitar sua integragio ho grupo. Isso pode ocorrer de forma esponta- nea ou requerer a intervengiio do orientador do tutor, A escola deve incentivar e ressaltar, também na etapa educativa que corresponde 4 adolescéncia, a importancia de respeitar as diferencas individuais e a riqueza que estas pro- porcionam as relagées interpessoais. NOTAS 1, Uma descrigio mais detalhada destes aparelhos encontra-se ¢ Ochaita (no prelo). de cats m Es 2, Trata-se de uma adaptacio de “ty nek x Think”, editado na Gr: National Institute for the Blind, 3. O Capitulo 17 desenvolve mais amples ‘assessoramento aos pais. Digitalizado com CamScanner Bretanha pe 4

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