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Batista Pereira: Figuras do fmperio e outros ensaios — 2." ed. Pandif Calogeras: O Marqués Barbacena — 28 edigio, = Alcides Gentil: As idégias de Ri verte Torres (sintese com in- dic. remissivo). “— Oliveira Viana: Raga ¢ Assi. ‘milagdo — $.* edigho (aument.). — Augusto de gunda Viagem do |G Minas Gerais ¢ a §. Paulo (1822) — Trad. ¢ pref. de Afon- so de E, Taunay. — Batista Pereira; Vultos ¢ epi- Bodios do Brasil, '— Batista Percira: Dirctrizes de ui Barbosa — (Segundo textos ~eseolhidos), “= Oliveira Viana: Populagées Meridionaes do Brasil — 4° od. Nina Rodrigues:-Os Africa- 703 no Brasil — (Revisio © pro- facio de Homero Pires). Profu- samonto ilustrado — 2." edigio. = Oliveira Viana: Evolugdo do v0 Brasileiro 3." edigio ere -Inis da Camara Casendo: 0 de d’Eu — Vol. ilustrado. — Wanderley Pinho: Cartas do Imperador Pedro II ao Bardo de Gotegipe — Vol, slustrado. = Vicente Licinio Cardoso: 4’ “ed. Pandia, Ges ‘Da Regen- aa 4 queda de Rozas — 8,° vol. (da série “‘Relaghes Exteriores do Brasil”). — Alberto Tortes: 0 Problema acional Brasilei Pisconda SOB A DIREQAO DE FER: . VOLUMES PUBLICADOS : AGOaTOA DRASILEIRA DO DE AZEVEDO 19 — Afouso de E. ‘Taunay: Fisi- tantes do Brasil Colonial (See. XVI-XVII). 20 — Alberto de Faria: Maud tres ilustragées féra do texto). 21 — Batista Pereira: Pelo Brasil Major. 22 — E, Roquette-Pinto: 28 viddo africana no Bras 24 — Pandii Calogeras: Problemas de Administragdo. 25 — Mario Marroquim: 4 lingua do Nordeste. — Alberto Rangel: Perspectivas. 27 — Alfredo Ellis Junior: Popu- lacées Paulistas. : — General Couto de Magalhites: _ Viagem ao Araguaia — 4° ed. 49 — Josué de Castro: O problema da alimentagdo no Brasil — Pre- faeio do prof. Pedro Escudero. 30 — Cap. Frederico A. Rondon: ‘Pelo Brasit Central — BA. ilustr. 31 — Azevedo Amaral: O Brasil na crise atual, y 32 — ©. de Melo-Leitio: Visitantes do Primeiro Imperto — Ed ilua- trada (com 19 figuras), 33 — J. de Sampaio Ferraz: Me- teorologia Brasileira. : 34 — Angione Costa: Tntrodugéo a Arqueologia Brasileira. — Ed. ilustrada, Ss 25 — A, “J. Sampaio: Fitogeagra- fia do Brasil — Ed. ilustrada, 36 — Alfredo Ellis Junior: O-Ban- ismo Paulista ¢ 0 Recto do iano — 2.8 edigio. &. de Almeida Prado: Priv meiros Povoadores do Brasil — (Ed. ilustrada). 38 — Rui Barbosa: Mocidade ¢ Ext lio (Cartas inoditas, Prefaciadas 26 Eumos ¢ 28 37 _— 3.* edigio (aumentada e ilus- trada). 40 — Pedro Calmon: Historia .So- cial do Brasil — 1.° Tomo — Fe- pirito da Sociedade Colonial — 2.4 dicho. 41 — José Maria Belo: gencia do Brasil. 42 — Pandid Calogeras: Formag&o Historica do Brasil — 2. ed. (com 3 mapas féra do texto), 43 — A Saboia Lima: Alberto Tor- res a sua obra, 44 — Esteviio Pinto: Os indigenas do Nordeste (com 15 gravuras e mapas) — 1.° volume. 45 — Basilio de Magalhies: Zz- panstio Geografica do Brasil Co- lonial. 46 — Renato Mendonca: A infiuen- tia africana no portuguds do Brasit — Ed. ilustrada. 47 — Manuel Bonfim: 0 Brasil — Com uma nota explicativa de Carlos Maul. 48 — Urbino Viana: Bandetras e sertanistas baianos, « 49 — Gustavo Barroso: Historia Militar do Brasit — Ed. ilustra- da. (com 50 gravuras e mapas). 50 — Mario Travassos: Projecdo Continental do Brasil — Prefacio de Pandifi Calogeras — 2.* edi- ¢io ampliada, 51 — Otavio de Freitas: Gfricanas no Brasil. 62 — General Coute de Magalhies: O selvagem — 3.* edicio comple- ta, com parte original Tupi-gua- Tani. 63 — A. J. de Sampaio: *Biogeo- _— grafia dinamica. 54 — Antonio Gontija de Caryalho: ~ Calogeras. a 5 — Hildebrando Accioly; O Re- conhecimento do Brasil pelos Es- tados Unidos da America, 56 — Charles Expilly: Mulheres ¢ Costumes do Brasit — Tradugio, 4 inteli- Doengas 5, 0B ei sgaete Pinto: Tondonia | 67 71—F, ¢, Rodrigues Vale Elementos do Folelore musical _Brasiléiro. 7 5S — Augusto de Saint-Hilaire Viagem 4 Provincia de Santa Ca™ tarina (1820) .— Tradugaio do Carlos da Costa Pereira, — Alfredo Ellis Junior: Os% metros Troncos’ Paulistas ¢ Criusamenta Euro-Amoricano. — Emilio Rivasseau: A vida do: Indios Guaicurtis — Edigio wal . trada, — Oonde d’Eu: Viagem Militar a0 Rio Grande do Sul (Prefacio e 19 ecartas do Principe d?’Or-)) leans, comentadas por Pieissus) — Ediedo ilustrada. — Agenor Auguste de Miranda: 0 Rio Sto Francisco — Taisie ilustrada, 63 — Raimundo Morais: Na Plan cle Amazonica — 4.* edigho. 64 — Gilberto Freire: Sobrados Afueambos — Deeadencia pa: triareal rural no Brasil — Ed. ilustrada. 5 — Joiio Dornas Filho: Silva Jar- dim. 66 — Primitivo Moacir: A Insti gio ¢ 0 Lmperio (Subsidios pai a historia de educagio no. Bra- — 1823-1853 — 1° vol, 67 — Pandi& Calogeras: Probler de Governo — 2. cdigho, 68 — Angusto do Saint-Hilaire: Viagem és Nascentes do Rio & Francisco ¢ pela Provincia Goiaz — 1° tomo — Traduc notas do Clado Ribeiro Lessa, — 69 — Prado Maia: Através da Hi toria Naval Brasileira, 70 — Afonso Arinos de Melo Fr. ca: Conceito da Civitizagdo Bra siltira. a S Hoehne: Agricultura no Brasil no Seoul 72 oe), tod "Saint Talat ; — Angus a: 2 Segunda iagem ao Bleen Trad. de Carlos Madeira. — Leia Miguel Pereira: Ma: chado de Assis — (Estudo Cri- tieo-Biografieo) — Ed. ilustr. 174 — Pandii Calogeras: Estudos Historicos ¢ Politicos — (Res Nostra...) — 2.* edicio. 75 — Afonso A. de Freitas: Voca- bulario Nigengatd (vernaculiza- . do pelo portugués falado em Sao Paulo) — Lingua Tupl-guarani, (Com 3 ilustr, fora do texto). #8 — Gustavo Barroso: Historia Secreta do Brasil — 1.* parte: “Do deseobrimento f abdicagao de Pedro I” — Hdigio ilustrada. 77 — ©. de Molo-Leitiio: Zoologia do Brasil — Edigio ilustrada. 8 = Augusto de Saint-Hilaire: Viagem ds nascentes do Rio 8. Francisco ¢ pela Provineia de Goiaz — 2* tomo — Tradugio e x notas de Clado Ribeiro Lessa. 49 — Chaveiro Costa: 0 Visconde do Sinimbé — Sua vida o sua atuagio na polities nacional — 1810-1889, 0 — Osvaldo R. Cabral: Santa Catarina — Tdicio ilustrada. 1 — Lemos Brito: A Gloriosa so- p taina do Primeiro Imperio — go Frei Caneea — Bd. ilustrada. 2 — 0. de Melo-Leitio: OQ Brasit __. visto pelos ingicses. 8% — Pedro Calmon: Historia So- cial do Brasil — 2° Tomo ~ Espirito da Sociedade Imp s ‘S4— Orlando M. Carvalho: Pro- ( blemas Fundamentais do Aunici- |, Die _— Edicio ilustrada. 8) — Wanderley Pinho: Cotegips seu Tempo — Ea. ilustrada. ) 86 — Aurelio Pinheiro: 4? Aéargem do Amazonas — Ta, ilustrada. a5? — Primitivo Mon A Instru- $40 ¢ 9 Imperio — (Subsidios Para a Historia da Edueagio no Brasil) — 2° volume — Refor- mas do ensino — 1854-1888, — Helio Lobo: Um Vardo da Republica: Fernando Lobo. Brasil — “Fspirito Santo” —| ‘$9 — Coronel A, Lonrival de Mou- ta: As Forgas Armadas ¢ 0 Des- tino Historico do Brasil. 5 90 — Alfredo Ellis Junior: A Evo- Tugdo Economica Paulista ¢ suas Causas — Edigiio ilustrada, 91— Orlando M. Carvalho: O Rio da Unidade Nacional: QO Sao Francisco. 92 — Almirante Antonio Alves Ca- mara: Ensaio Sobre as Constru- Ges Navais Indigenas do Brasil — 24 odigio ilustrada. 93 — Serafim Leite: Paginas de Historia do Brasil. . 94 — Salomfio de Vasconcelos: 0 Fico — Minas ¢ os Mineiros da Independencia — Ed, ilustrada. 95 — Luiz Agassiz e Elizabeth Ca- ry Agassiz: Viagem ao Brasil — 1865-1866 — Trad. de Edgar Siissekind de Mendonca, 96 — Osorio da Rocha Diniz: A Politiea que Convem ao Brasil, 97 — Lima Figueiredo: Oéste Pa- ranacnse — Ed. ilustrada. 98 — Fernando de Azevedo: A Educagéo Publica em Sia Paulo — Problemas ¢ discussées (In- querito para “© Estado de 8. Paulo” em 1926). 99 — GC. de Mclo-Leitio: 4 Biolo- gia no Brasil. 100 — Roberto Simonsen: Economica do Brasil. 101 — Herbert Baldus: Ensaios do Etnologia Brasileira — Profa- cio de Afonso do BE. Taunay, — Edigio ilustrada. 102 — 8. Frées Abreu: A riqueza mineral do Brasil. 103 — Sousa Carneiro: Mitos Afri- canos no Brasit - Ed. ilustrada, 104 — Araujo Lima: Amazonia — A Terra ¢ 0 Homem, 105 — A. ©. Tavares Bastos: A Provincia. — 2." edigio. 106 — A. ©. Tavares Bastos: 0 Fale do Amazonas — 2.* ed, 107 — Luiz da Camara Cascudo: 0 Marqués de Olinda e seu tempo (1793-1870) — Edigio ilustr, Historia gal -eomentados por Pedro Calmon. 109 — Georges aelerg? D. Pedro II e 0 Conde de Gobineau (Cor- respondencia inedita). 110 — Nina Rodrigues: ds racas humanas ¢ a responsabilidade penal no Brasil — Com um es- tudo do Prof. Afranio Peixoto. _ {11 — Washington Luis: Capitania 2 de Sao Paulo — 2* ed. 112 — Estevio Pinto: Os indigenas do Nordeste — 2.° Tomo — or- ganizacio e cestrutura social dos indigenas do nordeste brasileiro. 113 — Gastiio Cruls: 4 Amazonia que eu vi — Obidos — Tumue- Humae — Prefacio de Roque- ____ te-Pinto — Ilustrado - 2.4 ed. 114 — Carlos Siissekind de Men- donga: Silvio Romero — Sua formagio intelectual — 1851- : 1860 — Com uma indieagio bi- : bliografica — Ed. ilustrada. 115 — A. C, Tavares Bastos: Car- tas do Solitario — 3.* edi ‘116 — Agenor Augusto’ de Mir: da: Estudos Piawignses — Ed. ilustrada. 117 — Gabriel Soares de Sousa: Tratado desoritivo do Brasil em 1587 — Comentarios de Fran- cisco Adolfo de Varnhagen — 3." edigio, 118 — Von Spix e yon Martius: Através da Bata — Exeorptos do livro: Reise in Brasilien — ‘Tradugio ¢ notas de Pirajé da Silva e Paulo Wolf. 119 — Sud Mennueci: O Precursor do Abolicionismo: Inis Gama — Edigio ilustrada. 120 — Pedro Calmon: O Rei Filo- sofo — Vida de D, Pedro If . — Edigio ilustrada. 121 — Primitivo Moacir: A Ins gio e o Imperio - 1854-1889 - 3.* volume. ago da Amazonas — Relagées entre o Império © os Estados Unidos da America. 123 — Hermann Witjen: O Domi- nio Colonial Holandés no Brasil — Um Capitulo da Histéria Co- lonial do Scculo XVII — Tradu- gio de Pedro Celso Uchida Ca- valeanti. 124 — Luiz Norton: 4A Cérte de Portugal no Brasil — Notas, do- eumentos, diplomaticos e. cartas da Imperatriz Leopoldina, Edi- Gio ilustrada. 125 — Joao Dornas Filho: 0 Pa‘ droado ¢ a Igreja Brasileira. 126 © 126-A — Augusto de Saint. Hilaire: Viagem pelas provincias de Rio de Janeiro e Minas Ge- rais — Em Dois Tomos — Edi- gio ilustrada — Tradugiio ¢ no-} tas de Clado Ribeiro de Lessa. 127 — Ernesto Ennes; As Gucrras dos Palmares (Subsidios para a sua Historia) — Domingos Jor- ge Velho e a “Troia Negra?’ — 1687-1700 — Profacio de Afonso de E. Taunay. 128 ¢ 128:A — Almirante Custodio José de Melo: O Governo Provi- sorio € a Revolugdo de 1893 — 1° Volume, em 2 tomos, *: 129 — Afranio Peixoto: Clima ¢ Satde — Introdugio bio-geogra- fica & civilizacio brasileira, 130 — Major Frederico Rondon: Na Rondénia Ovidental — eae qfio ilustrada. 131 — Hildebrando Accioly: Limi- tes do Brasil — A fronteira com o Paraguay — Edicio ilustrada com 8 mapas féra do texto, 182 — Sebastiae Pagano: O Conde dos Arcos ¢ a Revolugdo de 1si7) — Edi¢io ilustrada. 0 CONDE pos ARCOS E A REVOLUGAO DE 1817 BRAZAO sARMAS peDOM MARCOS s. NORONHA 2 BR ® Vill= CONDE DOS ARCOS DE VAL-DE-VE Se “BRASILIANA” frie 6° prprtoTECA PEDAGOGICA BRASILEIRA Vol. 182 SEBASTIAO PAGANO 0 CONDE vos ARCOS EA REVOLUGAO DE 1817 EDIGAG ILUSTRADA J COMPANHIA EDITORA NACIONAL Sko Pauto — Tyo pe Jannino — Recire — Pérro-ALecrs. 1938 toute I’histoire de 1*humanité se résume en une in eessanto lutte pour ou contre DIEU, pour ou contre les fimes, $ ‘ _ A. BESSISRES. lea esprits inattentifs aux problames du monde spi- rituel me remarquent que les désordres yisibles, les Gmeutes qui descendent dans les rues on les eonflits qui ensanglantent les frontiéres, Mais par déssous cés_ souléyement réyolutionnaires et ces perturbations ine ternationales, dont ils s’effraient trop tard, le vrai drame sc jouo dans les consciences of se meurent les principes et les vertus nécessaire & la vie dea r sociétés. THELLIER DE PONCHEVILLE, t ‘a busca da verdade custa mais palavras quo sua des- coberta, = SANTO AGOSTINHO. NOTA DA EDITORA Nada mais raro do que o espirito de objelivida- de e nada mais comum do que a presuncdo de pos- sui-lo, Alids é realmente dificil, por maior que seja ° propésito de imparctalidade, impedir-se que nos Préprios julgamentos inlervenham sentimentos, pai- %0es, preconceitos e as vézes mesmo interésses dis- stmulados sob a mdscara de doulrinas e de ideais. E poucos haveré capazes de, num exame introspe- ¢livo, despojar os seus juizos, sobretudo na contro- vérsia, désse residuo de sentimentos e de idéias fet- tas. Certamente, é uma operacao intelectual “lomar Partido”, mus a posigao que cada qual assume em face de um problema ou de um movimento de idéias, nao é, pelo geral, determinada exclusivamente pela inteligéncia e pela reflexdo. Em todo 0 caso, ndoéa uma Companhia Editora que compele pronunciar-se SObre as teses defendidas pelos autores ou sdbre Os! Pontos de vista em que se colocam para o estudo das questées tratadas em seus livros, A Companhia Editora Nacional, que se tem destacado pelo critério lao rigoroso quanto possivel na escolha dos livros a . edilar, limita-se a julgd-los, como fez ainda no tra- batho do sr. Sebastiao Pagano, quanto & idoneidade — intelectual do aulor e quanto & forma e ao fundo, © Nada tem que ver com as idéias que os autores de-» fendem e cuja responsabilidade lhes cabe inteira. Do, debate pelos crilicos e espectalistas na maléria, | a quem incumbe esclarecer e orientar a opinido, é que saird esclarecida a verdade e devidamente apre- — ciado o valor das diversas contribuigdes para escla- recé-la. Agésto, 1938. INDICE IT — ANTECEDENTE DA REVOLUCAO 1. Espirito revolueionirio . . . 2 ee 2. Q Marqués de Pombal . . . 1s = 3. As reformas pombalinss . . . . . « 4. Clero, Nobrezz @ Povo. : . . . - SiO Rogicidig array feiciee ese reo G. Cristios-Novos e Indios . .. « 7. A Nagio e a tirania . : 8. Inquisigfo . . * . ~ 9. Regalismo, notes e ‘Geutraliza fio. 10. — A queda da Monarquia . II — A REVOLUGAO DE 1817 1. Causas intrinsecas 2. Causas extrinsecns 8. Pretésto econdmico 4. As profundas razdes 5. Genealogia republieana 6. O governador de Pernambuco 7. O inicio da revolta — O Povo 8. O gorérno provisério . 9. As cternas simulagies 10. Consolidando a repiblica UI — A AQkO DO CONDE DOs ARCOS 1. Reptiblica internacional magOuiea . . . « 2. A atitude do Conde dos Arcos. . . . « - 8. As calinias da derrota . - - - «+ = 4. Agir fora da sua jurisdigjo . . - - - = oi ia acquiescCucla e medidas oportunas . . . 161 6. Prelddios da vitoria . . . . 2... . 170 7. Os “mértires” republicanos . . . . » . . 175 8. Ambigées frustradas 0 dedieagies de stiditos . . 179 9. Tragica agonia da ropdblica pernambucana . . 184 10. Os laureis do triunfo e a pegonha das calfinias . 190 IV — DEFENSOR DA MONARQUIA 1. Atrasos intencionais — O Comércio de Pernambueo 195 2. Vicissitudes de fidalgo — As tramas dos conju- TAOS 7g Mie rendieterwlsns.e tell fice one Ronettes ay OD 3. Liberalismo destruidor . .. . . . . . . 204 4, Filantropismo britinico .° . 2. . « . . . 21L 5. Reformas governamentais — Inquéritos posterlo- Teese ees tpn oe eee G; -Duaws justigas sy yei teers es Os ee ee 7. Consoladoras mensagens . . . . . . 4 228°) 8. Ministro da Marinha @ Dom{nios Ultramarinos oS Hipocrisias “cortésis 2 5 Ge ys se 9. O-Clero ea restauragio 2... - 1 we LO ps Oe hltimes trofGnas cicn a rem coe es V — A VERDADE HISTORICA: 1. 0 Povo ¢ o Comércio da Bafa. . . . . . 2. Uma ceia histéricea - 2 1 1 1 se ee ‘9. Loures 6" espinhos 72-9 ee es = - Longanimidade de Dom Marcos . . ss « - A escravidio e a pirataria. . . . 1 » + 6. O casamento do Princips Herdeiro . Soe 7. Na pasta da Marinha ¢ Dominios Titevinaringa — Ainda homenagens . . . : . 1. : $."Nogras perspectivrag - . 7. 2. 9. Serenidade de uma conciénela . . . . . 10. Jufzo da posteridade. 2 1. 2. ee we CONCLUBOES . - 6 6 ee we ew ee ew a No infcio deste trabalho, faltariamos a ines- quecivel dever de gratidio si nio deixassemos con- Signada enternecida homenagem 4 Excelentis- Sima Senhora Condessa de Sio Miguel, Dona Ma- riana da Concei¢io do Socorro de Noronha e Menezes da Costa, cultissima, ilustre e dedicada descendente do iltimo Vice-Rei do Brasil, que bondade extrema levou-a a dignar-se permitir-nos escrever sdbre to Insigne Antepassado seu, cuja meméria respeitabi- lissima tanto venera e presa. = Neste despretencioso estudo, nao veja Sua Exce- léncia seniio 0 desejo veemente de levantar da poeira dos arquivos documentos de alto valor histrico — ue a sua mio generosa nos proporcionou — e dos quais grandiosa sobressdi a figura do ultimo Vice-Rei do Brasil, projetando luz nas brumas de um passado — Sobremaneira digno, mas que a perfidia de certa his- t6ria escrita de encomenda teimou em obumbrar. As pAginas deste livro, se por si rendem homenagem _ Modesta ao VIII Conde dos Arcos de Val-de-Vez, por _ 81 também, independente de procuré-lo, fazem im- Parcial justica histérica que bem a merece o imor- tal Vice-Rei do Brasil de quem 6 uma das dign{ssimas herdeiras a Excelentissima Senhora Condessa de ae Sao Miguel, cujas virtudes extraordindrias de ca- 2 SEBASTIAO PAGANO rater, inteligéncia e coraciio tanto se impdem ao res- peito e reconhecimento de todos quantos tém a ven- tura de conhecé-la. A VIII Condessa de Sio Miguel, por misterioso atavismo bem justifica o apreco em que deve ser tido o VIII Conde dos Arcos. Her- deira Iidima de tio nobre e alevantado sangue, tam- bém herdou as virtudes que fazem o maior conddo de | gléria de Dom Marcos de Noronha e Brito, e é como que a testemunha viva e pessoal demonstradora das qualidades excelsas de tao notéivel estadista e homem de bem que foi Dom Marcos de Noronha. Outrossim, nao poderiamos deixar de muitissimo | agradecer ao seu ilustre e generoso filho e nosso muito querido e excelentissimo amigo, o Senhor Doutor Dom Bartolomeu de Noronha da Costa que tao bondo- samente coligiu os dados genealégicos necessfrios a éste trabalho, extraindo-os diretamente dos Arquivos da Casa d’Arcos, de cujo cartério e pergaminhos é inteligente estudioso. Diante désses dados alegrou-se-nos a imaginacao sugerindo-nos o encantamento mirifico das epopéias gloriosas que todos aqueles nobilissimos e ilustres nomes representam entre luzidos brazdes herdldicos envolventes de todos os séculos fecundos da Historia arrebatadoramente grande do velho Portugal. O Ilus- tre Noronha, no vetusto palacio do Salvador, outrora habitado por seus Avés, quantas vézes teria revivido a histéria empolgante e triste do ultimo Vice-Rei do Brasil e quantas vézes teria pensado nas injustigas que lhe sio cometidas por muitos historiadores, per- doando-lhes a ignorancia da verdade ou mesmo 0 falseamento dela desintencionadamente ou nao. Mas O ConpeE pos Arcos 3 também, com justiga, como teria pensado que a mao infirme que se aventurava na reconstituicio dessa verdade histérica nio seria suficiente para restabe- lecé-la! Vale-nos, porém, a boa-vontade que nos da tranquilidade d’alma e coraciio. Conforta-nos, também, a sua tolerfncia e gene- rosidade assim expressa em carta de 1.° de fevereiro - de 1937: “tenho lido com todo 0 cuidado o seu mag- nifico trabalho acerca de “O Conde dos Arcos ¢ a Revolugio de 1817". E’ por todos os titulos digno dos mMaiores elogios. Através dos seus cinco capitulos en- contramos a natural erudicéo do meu Exmo. Amigo, Probidade histérica e honestidade politica. Qualida- des estas dificeis de encontrar em assuntos de natu- reza hist6rico-politica. EB, mais uma vez, vé 0 Conde dos Arcos na sua grandeza de cidadio, concio da Sua nacionalidade e responsabilidade perante a Na- (a0 € 0 seu Rei. “Por éste mesmo correio segue um pacote com as folhas datilografadas. Sendo com o maior entu- Slasmo que concordamos com o seu notdvel tra- ‘balho”. _ E a Excelentissima Senhora Condessa de Sio Miguel, em carta de 18 de marco do mesmo ano, acrescenta estas palavras bondosissimas: “Gostei Muito da maneira como Y. Excia. trata o assunto. _ Defendendo a politica de meu Avd, defendendo os Seus atos que se nfo explicam muito bem mao co- hhecendo os grandes problemas daqueles tempos. 0 meu filho Bartolomeu 6 que tomou conta para es- crever a V. Excia. a sua apreciagdo. Eu agradeco-lhe ito reconhecida por tudo quanto tem feito V. XCia. por éste livro do Conde dos Arcos.” SEBASTIAO PAGANO Confiantes, pois, naquela mesma generosa rele- vancia, escrevemos as paginas que seguem a estas. Vo repassadas de gratidio e homenagem sincera a todos os Ilustres Descendentes e~Representantes de Dom Marcos de Noronha e Brito, VIII Conde dos Arcos de Val-de-Vez e ultimo Vice-Rei do Brasil. Ernesto Renan, com todo seu faceiosismo, es- ereveu em “Averroés et l’Averroisme” que “il ne faut demander ou passé que le passé lui-méme”, e ainda nesse Preficio: “l'histoire politique s’est enno- blie, depouis qu’on a cessé d’y chercher des lecons @habilité ou de morale.” Nesse caso melhor acom- panhados estariamos por Thierry que apenas entende a hist6éria narrativa. Facilmente cairiamos no “ro- mance” ou na “histéria-romance” que é a tendéncia facil destes uiltimos tempos agora batida em brecha pela feliz reacao do legitimismo hist6rico. Para Mi- | chelet a histéria é a ressurreicao, e para Guizot a andlise. Realmente revive-se a histéria, ressuscitando os personagens, os ambientes e todo o conteiido his- térico. Mas, o historiador, para ser bom juiz, deve fazer a reconstituicio histérica com tédas as suas ca- rateristicas sem a minima adulteragio. Da “ressur-— reicao* vem a “‘narrativa” e desta a “andlise”. Para analisar 6 preciso examinar, meditar, filosofar. B’ a filosofia da histéria. E dela tiraremos ensinamentos, — pois a hist6ria, diz Leao XIII, “luz da verdade e teste- © munho dos tempos, se retamente consultada e dili- gentemente examinada, ensina”. E se ensina “é a mestra da vida” no dizer de Cicero. Estaremos longe deste vazio conceito de Renan: “I’intérét de ’histoi: philosophique réside moins peut-étre dans les ensei O GConpe pos Arcos 5 gnements positifs qu’on en peut tirer que dans le ta- blean des évolutions successives de l’esprit humain”. Que significa ésse “quadro das evolugdes sucessivas do espirito humano”? — Nada. Fantasmas que pas- Sam; deleites sensiveis; simples divertimento. .. A histéria vale pelo seu valor critico, logo, inter- Pretativo, Antero de Figueiredo no “introito” ao seu “Dom Sebastiiio”, prefere uma definigio romantica: “filosofia da histéria! Mal por mal, antes Poesia da histéria.* Como a poesia poderia lancar-nos na lite- ratura, “preferimos” entender a “poesia” como vati- cinio, aviso e previsio, ensino. Ligao, em suma, BE’ ver- dade que a poesia entra na histéria pelo aspecto nar- rativo, O historiador deve também ser um artista como expositor, nao esquecendo que é também um le- trado. Sem dtivida estes aspectos serao repreensiveis neste livro, mais apegado ao aspecto critico e interpre- tativo. E’ um livro sincero, amoreso da verdade. Nele, do seu autor nada ha de subjetivo; antes é 0 exame objetivo da questio que se propés estudar: um epi- sédio da vida de um estadista — o Conde dos Arcos © a revolucao de 1817. Trata-se de politica, e, pois, deve esta politica ser encarada segundo os princfpios que moviam os inimigos dos detentores do poder €m Portugal e Brasil no ambiente universal ao tempo do Conde dos Arcos. Renan, nas “Questions Contem- Doraines” disse que “la politique ne comporte guére la haute impartialité de histoire; la prétention & . Vinfaillibilité, si blessante aux yeux de la critique, _ est comme une réponse obligée & la morgue hipocrite des partis.” (pig. 3) E’ uma verdade que se constata Muito a miudo entre os historiégrafos que tomam 0 SeBAsTIAO PAGANO partido da “sua” politica, mas nunca nos que en- caram a politica pelos seus principios universais. Nao seria nosso caso. Entendemos a politica no seu sentido profundo e universal cuja fonte é a filosofia perene. Nao te- mos, pois, partidarismo. A histéria, como a vida, tem um curso natural. Qualquer intervengaéo violenta nessa sequéncia de fatos, é anti-natural, logo, anti- hist6rica. Porisso a revolucdo é a inimiga da histéria; quer, sem ter direito, um lugar na histéria. Nao é revolucéo o fato da repulsa a tirania injusta, mas 0 fato de se modificar, sem raz4o, 0 curso da histéria. Porque hd leis eternas que regem a histéria do mundo: o homem livre, pensante, racional, portanto” légico, (e a légica se cinge a raz6es naturais, nfo vio- lentas), ¢ a Providéncia Divina. Féra dai, a revolucio. Ha, pois, uma politica de principios universéis. Nesse costado se achava 0 Conde dos Arcos. O historiador nada mais fez que se colocar diante dos fatos. As conclusées sio esponténeas, naturais, légicas. Nao ha partidarismo, naio ha preferéncias pessoais. A ex- periéneia histérica surge naturalmente da visio da estado anterior ao fato; da constatacio do fato his- torico, das consequéncias posteriores dos efeitos désse fato. 7 Entendemos que os elementos raga, meio e tem- po nao sao essenciais mas acidentais. Elementos au- xiliares 4 consumacéo déste ou daquele fato histérie Nao ferimos a dignidade racial de ninguém; nao” personalisamos as tendéncias. Isso porque nao somos deterministas. A formacio faz o individuo. Claro é que a educacao inclina para éste ou aquele lado, mas O ConpnE pos ARGOS 7 como a conciéncia do homem péde ser esclarecida, todo homem é mutdvel do mau para o bom e do pés- Simo para o melhor, como também pode dar-se a sua Perversio. O que importa sao os principios, as idéias que os homens esposam. E se s6 as idéias nos in- teressam, portanto, interessa-nos 0 homem no seu Sentido mais profundo, mais respeitével. Nao é 0 homem em particular que por ventura reprovamos ou defendemos. Certamente em certo sentido 6 0 homem, mas o homem pelas suas idéias, pelas suas qualidades, pelos seus méritos ou deméritos, e tam- ém as idéias por causa do homem. E’ evidente. O critico tera imediatamente percebido o alcance da nossa observacio. Respeitada a dignidade de todos, levamos em conta o movel que os fazia agir, e por éles fazemos a devida justica. Historiar 6 julgar. Porisso o historiador tem, bor certo, grave responsabilidade, porque a histéria > elemento de experiéncia e deve ter em conta a Mo- ral. Qualquer leviandade é uma imoralidade. Qualquer baixio, um elemento de nulidade do juizo histérico. Falsificar a verdade ou juizo histérico é lesar a hu- ‘Manidade. E’ um crime. Este livro foi escrito refletindo essas verdades. E ‘sincero e impessoal. A critica imparcial levard em = a nossa intencao. | . I — ANTECEDENTES 1. Espirito revolucionério — 2. O marqués de Pombal — 3. As refor- mas pombalinas — 4, Clero, Nobre- za e Povo — 6. O Regicidio — 6. Grist&os-Novos e indios — 7. A Nagao ea tirania — 8. A Inquisigio — 9. Regalismo, Nobreza, Centralizagao — 10. A queda da Monarquia. 1 — Esptrito revoluciondrio Ainda hoje, reina no Brasil, real ou pretensa ignorancia Acerca dos ominosos e secretos designios da seita internacional defensora da formula “liber- dade, igualdade e fraternidade” ¢ fundadora das Yeptblicas. Alguns novatos na devassa désses assun- tos se preocupam com o combate pessoal, racial e in- teresseiro sem Ihes encararem o legitimo aspecto, olocando a questao dentro da Filosofia da Histéria. Dai até resultou prestigio para a seita. Si, todavia, isso absolutamente nao pode resultar que a mesma invencivel, contudo, forga revoluciondria que é em SEBASTIAO PAGANO direcio a definido fim Ultimo, a sua luta 6 porfiada e incessante, tendo a sua agdo raizes profundas, mo- tivo por que nao pode a revolicdo, de que é ela agente, ser sustada de golpe, o que seria, apenas, sustar-lhe, por instantes, os movimentos. Para extingui-la é preciso cortar-lhe as causas. Nas “Idéias gerais sdbre a revolugio do Brasil € suas consequéncias” (Lisboa, novembro de 1823 — manuscrito existente na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro) dizia, em pessimo estilo, Francisco de Sierra y Mariscal: “as revolucdes, depois de princi- piadas, é necessario deixa-las correr seu circulo. Como tédas as coisas, as revolucdes tem momentos de ma- turidade para rebentar e também tém momentos para ‘acabar, e conter a revolucdo do Brasil (fala da Inde- pendéncia) j4 por desgraca nao farfo outra coisa que renova-las e dar-lhes maiores fércas, prolongando e aumentando o mal em vez de destruf-lo”. Refere-se 0 autor a “uma revolucio”. Mas, ha uma revolucdo mais profunda, diabolica e de que “as revolucées” sao simples aspectos. Estas, sio meros efeitos da revolugdo que tem unidade e permanéncia, isto 6, sio os efeitos das féreas do mal em acdo desagregadora contra os principios do bem. E’ a desordem contra a ordem; o anti-cristianismo contra 0 cristianismo; a anti-civilizagdo contra a civilizacio; a creatura contra o Creador. O povo nao participa das revolugées. E’ apenas comparsa; nao é ator, porque nfo tem papel a desempenhar. Os papeis importantes sao represen- tados pelos demagogos que se servem do povo como mero instrumento. As revolugées sio obras de pou- O Conve pos Arcos 11 Cos, e “‘o povo como em tédas as partes entrou for- gado nela, que por téda a parte se detesta o presente, Se tem saudade do passado, e se concebem esperancgas ho futuro, desejando a maioria voltar ao ponto de onde tinha saido. Estes sentimentos fazendo-os o Govérno entreter e inflamar, j4 manejando a forca Com moderagao ja com manejos secretos, hio-de pro- duzir infalivelmente os resultados que se-desejarem, Mas, logo que os queira obter d’um golpe, tudo se ‘Perde”, dizia ainda Sierra y Mariscal. Compreende-se assim, porque o Rei-martir Luis XVI proibiu que se atirasse sobre o povo. Como em todo o mundo avangava a revolucio, também havia, de longa data, um plano de revolucao democratica enyolyendo principalmente todo o Norte do Brasil que era justamente a regifio mais opulenta, Mais representativa da grande Provincia Ultramarina de Portugal’na América — pois as revolucdes sempre ‘Se manifestam nos fuleros da riqueza — e tendente 4 alastrar-se pelo Reino- todo. Que essa revolucio ‘“vesse origem apenas em Pernambuco é ingenuo Dens4-lo. Vinha de longinquas maquinagdes. E’ pre- iso ter em mente que o Brasil naSceu em plena Renascenca, portanto sob o signo da revolugiio. En- tretanto, esta s6 comecou a interessar-se pelo Brasil “pois de formado, quando as suas forcas morais ¢ conémicas, levantadas pelas energias colonizadoras ‘3 portugueses, puderam representar boa présa para oS rapaces conquistadores iniciadores da nova bar- Arie. Postas de lado as diversas incursdes, pode to» Mar-se como marco revolucionario o desaparecimento de Dom Sebastao, que deu em consequéncia a passa- Sem de Portugal e seus Estados para o dominio de. 12 SEBASTIAO PAGANO Espanha, a ésse tempo jé minada pelo virus da r yolucao. Os sessenta anos de dominagio espanhol: até 4 aclamacio do novo Rei, geraram a indepen: déncia dos stiditos e leve espirito democratico, que a: idéias da época ajudaram a consolidar-se. No sécul XVIII, porém, as tendéncias revolucionfrias avolu mam-se; manifestam-se com violéncia em 1789 co! a bernarda maconica de Tiradentes nas Minas-Gerai — confirma-se que as revolucdes se manifestam jus tamente nos lugares onde o ouro abunda para d. seguirem o seu caminho. Sem diivida nao é nessi data que a revolugio comegou no Brasil: manifes tou-se ai, mas ja existia em poténcia e mesmo é ato, pois nao seria por um golpe de magica sa tanica que o motim explodiria inesperadamente; Muito ao contrario, era j& esperado. Novo surt teria lugar em 1792 na Baja, e teria ido mais long: se mais tarde a vinda da Familia Real lhe nio at nuasse a violéncia. Tédas essas revolucées tiveram espirito republii cano. E é notavel que a idéia republicana s6 vel ligada aos principios magénicos e estes nao se coa dunam diretamente com os principios do legitimism( monirquico, isto 6, das monarquias que nfo traira) sua mae, a Igreja Catdélica, porque as que se aliam seita j4 sio reptblicas e de mondrquico s6 tém aspecto. Explica-se ésse fato porque, sendo republica uma forma de géverno fraquissima, pr priamente na reptblica nao existe o principio dt autoridade, pois, ligando-se esta, pela escolha, prinefpios liberais, — que de orgulho enfunam povos, deseducando-os, tornando-os egoistas e anal quizando-os — pela ignordncia dos segredos politico 2 O Conve pos Arcos Permitiré a repiblica que a plebe, a quem aparen- temente esta entregue a soberania, seja sempre con- duzida por demagogos a servico de interésses estra- nhos formando o conluio imenso duma conspiragao universal materialista de que a chamada revolugio francesa foi o brado sanguindrio mais decisivo. Porisso, a revolugao s6 consegue dominar uma -™Monarquia quando despida dos principios catélicos; Cindida ou substituida a dinastia, ou depois de mi- nada pelo liberalismo, o qual nao é da esséncia do Tegime mondrquico e 6, sim, um artificio revolucio- nario que apés investidas persistentes e demoradas se lhe introduziu para enfraquecé-lo. A monarquia - assim deformada ja é reptblica. Por ésse motivo, é Perdofivel a insensatez de certos idealistas, talvez abnegados, que, entregues de corpo e alma 4 defesa dum absurdo como a reptiblica, que lhes pareceu Justo e légico em abstrato, por lhe nao conhecerem na realidade o alcance revoluciondrio, sio levados, por vézes, alucinados por um fanatismo extremo, ao ma- ximo do sacrificio. A revolugdo republicana de 1817 disso uma prova. Tanto é assim que havia como chefes, principalmente, padres, justamente aqueles que, pela sua formagio mental, segundo a doutrina da Igreja deveriam ser anti-liberais, e guardas ciosos da ordem social natural e tradicional. Foi uma revo- luc&o de padres, disse Oliveira Lima. E padres ma- ons, © que mais admira! quando a seita estava Condenadissima havia um século pelos simos pon- ffices. Claro, os principios mals&os com que se tra- Dalhou as suas inteligéncias, 4s vézes privilegiadas, foram a causa desse érro tio grande que os levou a sse desatino politico. Mais tarde, também alguns — 14 SEBASTIAO PAGANO padres seriam instrumentos da magonaria e promo- tores da grande “questéo religiosa” que abalou o Império levando-o 4 ruina. Mas nao nos admiremos: estava-se na era romantica, e o Brasil, patria de poe- tas, precisava estrea-la com um grande drama. O remédio ‘esta em esclarecer os espiritos transviados firmando-os, para o futuro, nos legitimos princfipios de ordem politico-social pois “6 no espfrito que 0 mundo esta ferido e no espirito deve ser curado”, afirma insigne sociologo brasileiro. Melhoremos os homens, e as instituicdes revolucionérias desapare- cerao entrando a vida no seu ritmo natural. Se os homens estivessem bem orientados, nao haveria revo- lugdes, nao haveria repiblicas satanicas; haveria ordem, pois salvos os acidentes, as instituigdes geral- mente sao boas segundo os principios que as animam. Se alguns padres foram os principais instrumentos da revolu¢do, quéo minorados na culpa se acham os leigos. que dela foram vitimas! Causas profundas, erros in- gentes deveriam ter-lhes deformado a inteligéncia. 2— 0 margués de Pombal Dom Marcos de Noronha e Brito, depois Conde dos Arcos, veio & vida numa época em que o mundo sofria mutagées bruscas e tragicas. Nascéra a 7 de junho de 1771 em plena ditadura pombalina, quando ~ o terrivel Marqués desenvolvia téda a sua atividade para substituir o antigo regime, — jA em decadéncia depois do triste desaparecimento de Dom Sebastiao em Aledcer-Kibir, — e jungido a tratados interna- cionais que tristes circunstancias impuzeram & nagio 0 Conner pos Arcos 15 Preparando o espfrito de puro economismo que vinha triunfando no mundo com o protestantismo utilita- Trista e acabaria yitorioso depois da revolucao fran- cesa. E’ nésse meio, entre reformas revolucionarias € 0 tradicionalismo, moribundo, que erescera o Conde dos Arcos, Em 1777, oito dias depois da ascengfio de D. Maria I ao trono de Portugal, era o Marqués demi- tido do seu cargo de primeiro ministro, e, nio fosse © respeitoso culto que a Rainha professava pela meméria de seu pai El-Rei Dom José I, teriam sido Condenados os processos da politica anterior. E’ ine- ivel o progresso material feito sob o pombalismo. Desconte-se essa parte positiva. Mas, de que valem efémeros progressos materiais, que logo passaram Com terriveis consequéncias, se a eternidade espiri- tual ficou dissociada e perdida, se a nacio ficou mereé do acaso e da instabilidade, pois que nao tem © siio apoio dos princfpios em que se formou e €m térno dos quais deve eternamente girar? EB’ désse Modo que se gera o espirito revoluciondrio, cujo inicio 6 sempre o absolutismo — que Pombal trouxe Para o Reino Lusitano em cireunstancias especiais a macular tristemente a pureza das instituicées, No seu govérno, preocupou-se principalmente em abater a Nobreza e a Companhia de Jestis com o Propésito firme de arrancar os esteios da nacionali- dade e lancdla & aventura dum regime burgués-li- beral que, com a Renascenca e a Reforma, tivera Influxo ascendente e destruidor. Vai assim Portugal Por um caminho tortuoso, angustiante, procurando €duilibrar-se na desordem desencadeada no mundo 16 SEBASTIAO PAGANO e atonito conduzido por um Ministro propotente © egoista. O Conde dos Arcos, educado nos principios tra- dicionais da Nobreza, »bservador atento de téda essa calamidade, concentrava-se na meditagao sdbre} os rumos politicos e sociais do mundo, atormentan- do-o a idéia da sua ruina completa. Seria Gle um re= parador dos desastres pombalinos procurando ate- ‘“nuar-lhes os males, na medida de suas forgas, im- pedindo que avancasse o espirito revolucionario. A sua geracao, corrompida pelo pombalismo, teria alguns elementos de resgate, entre os quais 0 Conde) dos Arcos figurava. | O impulso vigoroso e restaurador da Rainha D. Maria nfo tirou a nau do Estado dos perigos di tempestade. O seu intendente de policia, Diogo Indei de Pina Manique, conservado do govérno de Pombal, inimhigo das idéias revoluciondrias, fiel cumpridot e respeitador das ordens de seus superiores no el vado conceito em que tinha o principio de autoridade, pormenor éste que muito agradara a Pombal, init desenvolver uma atividade assombrosa contra as: sociedades secretas. Fechou a importacao de livr franceses; proibiu a introducao das idéias, dos co tumes mundanos, das modas provocantes vindas d Franca; expulsou os franceses suspeitos, e castigou prendeu e desterrou todos os que simpatizavam cov as idéias novas ou déles suspeitasse. Mas, infeli mente, mesmo assim, nao poderia impedir-lhe o a vento. Pombal, aproveitando-se do terremoto de 175 ocasiio em que lhe foram conferidos poderes dis creciondrios em yirtude da excepcionalidade do m O CGonpe pos Arcos 7 lento, soube conduzir-se tio sagazmente que, em ouco, estribado no éxito dos seus esforeos recons- trutores e na ferrea disciplina instituida, inaugurava o Absolutismo. Restaurando Lisbéa destruida pelo erremoto, a0 mesmo tempo introduzia um terremoto ‘perpétuo na vida do Império Lusitano. Que segrédo terrivel encerravam as reformas jde Pombal? ; Hoje, nio ha mais diividas feerca da tremenda ‘uta espiritual entre cristaos e judeus. Nao é luta ie racgas, como pretendem os escritores materialis- a8, mas de raca aliada ao espirito, e como é o espi- rito que orienta a raca, a luta, pois, é espiritual e mao racial. A raca é talvez uma caraterfstica para Wdistinguir os adversdrios. O Sr. Mario Saa — que, Walids, participa da idéia de “luta de racgas” — diz no seu erudito trabalho, “A invasio dos judeus”, 4 pag. 109: “dum: lado os libertérios cristaos-novos, e de outro os reaciondrios cristaos-velhos! Assim Suavemente se transitou da inimizade religiosa 4 Finimizade politica; a divergéncia das racas era 0 tinico fator da guerra civil. Jd em 1674 os Procura- dores do Reino escreviam ao Papa chamando aos "judeus “entes com figura humana e animo de fera, inimigo comum, peste publica, fautores da Guerra Civil. Eserevia alguem por ésse tempo, entre raivoso ¢ desanimado: “Diab6lica obstinacdo da perfidia ju- )diica crescer com a repugnineia e multiplicar com 4 oposicéio. ..” _ ___Em outubro (sempre o més das prosperidades _juddicas) do ano de 1674, suspende o Papa as fun- — 18 SEBASTIAO PAGANO goes do Santo Officio! No maximo grau da reacal nacional acabava de triunfar o elemento estranh¢ As grossas polémicas que por essa época apareceram e os desmedidos furores da Inquisicio, mostram bet a decadéncia do Tribunal-da-Fé e a prosperidade d povo hebreu. A Inquisi¢fio esteve encerrada por al guns anos, e reabriu em 1681; era forcosa a reaber tura; ainda havia eristios-velhos em Portugal!..) “Téda a Histéria de Portugal, no século XVI a século XX, siio varias fases duma Unica agitagao a reacaio decrescente do cristao-velho contra o eres cente invasor do cristio-novo! O mesmo fenémen! fora a luta reformista do século XVIII, a guer civil do século XIX, a efervescéncia monarquico-reé publicana do século XX até a queda do Tréno em 1910, e dai até hoje! 4 “Sob éste critério é que deve ser pensada a noss Histéria, a Histéria do subterraneo dos acontect mentos”. Nés, brasileiros, nao podemos fugir 4 intef pretacio da Histéria do Brasil sendo pela Histé: de Portugal de antes de 1822. “As geracées de cristaos-novos no século XVID s6 faziam por esquecer a prépria origem, — a or. gem infamada — ao passo que cresciam em mimere e qualidade. Alguns, entretanto, continuavam com os seus antepassados a alimentar-o furor do Santo Offcio, na pratica duma espécie de religiio mesti¢ entre mosaismo e cristianismo! A maioria dos he breus ja se tinha dessoldado do judaismo sem con® tudo se soldar ao catolicismo. Eram entao os adepto™ de Voltaire que, como continuador do judeu portugue Uriel da Costa, por téda a parte derramava as nova nha ¢ Brito, 8° Conde dos Arcos de ice-Rei do Brasil, — segundo um re- istente no palicio do Salvador, em Lisbéa, trate ¢ * Se O ConpdE pos Arcos 19 foutrinas, J4 nas nossas vilas e cidades, em casa dos compadres” e nas boticas, os nossos cirurgiées, os ossos fisicos, os nossos licenciados cristios-novos, ofiando as barbas como qualquer bacharel repu- licano, alisando og bigodes (dos anteriores a 1910), ropalavam a necessidade das grandes reformas. O eformador chegou, — Sebastifio José de Carvalho Melo, 1° ministro de D. José, Conde de Oeiras, e ais tarde, Marqués de Pombal (“descendente direto um Mestre Joao Carvalho, sepultado em Ancides, © quem ndo ha mais noticias”, diz Camilo que ra neto de preta... o que ndo é bem exacto. Era, Im, descendente de f{ndios pelas casas de Mendonga, Imada, Mélo e Cavaleanti de Alburquerque, de linda, ligadas ao cacique “Arco-Verde”). Logo em €u redor os cristios-novos (¢ exclusivamente os cris- 40S-Novos), vieram circular como um puginho, Pom- al tornou-se o chefe dos judeus. O ministro reconhe- 14 08 seus adeptos e tratou de socialmente os elevar, Para que assim se dignificasse o seu partido; e com- ateu o partido anti-semita. Contudo, grande numero € cristéos-novos j4 perdera o conhecimento da pré- ra origem, e estes eram os que “por instinto” se Sregavam ao nicleo dos seus irmaos de raga. E luanto mais se acirravam os 6dios dos nobres contra Vulto enérgico reformador, mais os cristaéos-novos re lhe agarravam. “Agora os portugueses dividiam-se politica e mente em duas facées: cristios-novos dum ‘ado, @ cristaos-velhos do outro. Nao havia dividas, 4 @ gente o sabia; o préprio Pombal o confirmou 0 “creto que abolia as distingdes, afirmando que na amilia portuguesa nao havia mais divergéncia do ee Soe ee 20 SEBASTIAO PAGANO que aquela. Nem era possivel havé-la: os hebre! judaizantes ou catélicos, olvidados ou agarrados 4 tradigées, tinham entre si uma enorme coesao; dest maneira, em Portugal, nfio havia oportunidade pany mais apartacées sociais ou politicas: cristaos-noyd dum lado, cristios-velhos do outro. O livro “Sentinel contra Judeus” (ed. 1732, cap. IX), em referéne 4 conhecida coesiio entre os cristéos-novos, defi um vocdbulo: “.. .porque entre os marranos ou maf rées (que em Portugal quer dizer porcos), quand) se queixa algum deles todos os demais acodem a se. grunhido, e como assim so os judeus, que ao 18 mento de hum acodem todos, por isso Ihe deral titulo e nome de marranos” (os judeus de sinagogi sao “‘marranos” — do hebreu Maranatha, o Senho que vem — para diferencarem sua crenca fingida nf divindade de N. S. Jesus Cristo). Eis explicado o segrédo das reformas de Pomba oO marques magon e judaizado, o reformador, cont as tradig6es eternas de sua patria. Abolia as distit qdes de ragas porque cada raca tinha sua mental dade, seu espfrito, sua formacao: em sima a sua Te ligifio, e segundo a religiaio entendiam esta ou aquelf ordem social, politica ou econdmica. 3 — As reformas pombalinas _ Dir-se-ia que a revolugio de 1789 em Fran@ nada mais foi que uma repeticdo muito ampliada df que o célebre Marqués realisou em Portugal? E’ que a Franca também tivera o seu Pomb! ao tempo de Luis XV, e tudo obedecia a um planl Amparando fortemente a burguezia egoista, Classe j4 poderosa na qual se aclimatdra o judeu, screou o Marqués as grandes Companhias de Comer- clo e Industria como a do Gr&o-Paré e Maranhio em 1755 e de Pernambuco em 1759 para bater 0 comércio livre-cambista dos Jesuitas, e inaugurava assim com visoS animadores de progresso os grandes trusts Comerciais. Proibiu a exportachio do ouro; organizou uma Companhia de pesca para o atum do Algarve € a baleia da Bafa, e a Companhia dos vinhos do Alto Douro contra a qual se rebelou o Porto. Désse modo ia dando nova feigio 4 economia portuguésa. ‘truinava as colonias empobrecendo-as com proibi- cOes tirfnicas, cortando-Ihes os meios de trabalho, fechando-Ihes as manufaturas florescentes, lancan- do-lhes © estigma da reyolta, como aconteceu logo depois no Brasil com a conjuracio Mineira. Prepa- "tava assim o espfrito de independéncia que a mago- Maria viria ostensivamente completar nos albores do Século XIX explorando um nativismo naturalissimo do qual foram vitimas também os revoluciondrios lide 1817. Arruinava o império ultramarino portugués ‘due tanto sangue e abnegaciio havia custado! ’ Diz — por ser positivista, insuspeito — o Sr. A, de Souza Pinto na sua obra “O Marqués de Pom- bal”, pag. 115 (ed. 1882): “desde o fim do século XVII a Franga tinha conseguido libertar-se espiri- ‘tualmente de toda a influéncia religiosa. Nem o ca- iclsmo, nem o protestantismo, nem teoria alguma teolégica podia mais satisfazer-lhe as aspiracées re- feneradoras. O movimento de decomposigio do pas- he SE alee Cee eth ie th 22, SEBASTIAO PAGANO sado continuou dai em diante mais acelerado, sob influxo das escolas da Voltaire, Jean Jacques e Di derot, fazendo sentir profundamente a necessidad de uma reorganisacéo qualquer. A primeira dessa escolas auxiliou pelo modo mais poderoso a desor: ganisacao final da ordem inteletual precedente, segunda trouxe consigo a ruina da antiga orden politica; mas qualquer delas era impotente para) construir, em virtude dos principios exclusivamente negativos de sua constituigfo. “Pombal era discipulo da escola de Diderot. absolutismo das teorias metafisicas nfio o entusias- mava, nem Ihe pervertia o senso pratico. Sabia bem que s6 como forca demolidora valiam essas teorias, alids impotentes para realisar qualquer construci no terreno da politica, onde a relatividade das con~ digées deve ser objeto da mais esmerada atengi e acurado estudo. Nao quiz sujeitar o imenso traba- Tho de eliminagiio e reconstrugdo que empreendeu @ realisou em seu atrasado pais, a mesma diregdo es- piritual, que mais tarde, por ocasiao da grande cri ocidental, fez de voltarianos e roussistas os mais! implacaveis, embora inconscientes, inimigos da re- pliblica francesa e da situac&o social correlata, si- tuacaéo admiravelmente compreendida por Danton. “Dai a md vontade que Voltaire manifestou constantemente pelo notavel estadista portugués, que se nfo correspondia com éle, nem se impressio- nava demasiado com os seus temiveis sarcasmos. “Tal era a confusdo do espirito metafisico, que o imortal autor do “Diciondrio Filos6fico” apenas: conseguiu ver em Pombal “o amigo da inquisicio” e um tirano que, s6 no intuito de gozar mais co- Pee ee arene TS QO ConpdE pos Arcos 23: modamente a sua onipoténcia, expulsara os jesuftas de Portugal! afirma Francisco Luis Gomes em “Le Marquis de Pombal”. Entretanto, 0 ministro de D. José nfio fazia nem mais nem menos que aproveitar, como as circunstincias lh’o facultavam, o conjunto das idéias francesas (pag. 117)”. Nao h& dtivida que precisamos descontar 4 des- truidora obra de Pombal a parte positiva material 4 que deu talvez brilhante desenvolvimento. Mas notemos ainda que ésse desenvolvimento, efémero, aseado em falsos prinefpios de ordem econémico- financeira e administrativa, haveriam de provocar, ¢m futuro préximo, tremendo desequilibrio na vida Portuguesa sendo causa da ruina nacional. Absolu- tista de feitio, realizou, pelos principios, obra emi- hentemente liberal, portanto fragil e daninha. In- flexivel, confiando em si mesmo, ia continuando a obra devastadora expulsando os Jesuitas e o Nuncio, Cortando relagdes com o Vaticano e estabelecendo 0 tror contra a Nobreza, prendendo, degredando, enforcando e supliciando barbaramente os seus mem- bros mais eonspicuos. Extinguiu as distingées, a comegar pela existente entre cristaos-novos e velhos, Para dar azo invasor aos aproveitadores da judiaria capitalista-burguesa. Aboliu a escravidio no Reino; €quiparou os canarins aos portugueses; libertou os mdios do Brasil, reformando tudo, destruindo tudo. Pela proibi¢dio da liberdade de testar, procurou tra- var que se legassem riquezas ao Clero afim de enfraquece-lo. Tudo nivelava erguendo o Estado como nico e divino Senhor. Fazia triunfar o absolutismo em Portugal e seus dominios contra o espirito pater- da Realeza, Desfigurava o poder temporal! para, 24 SeBastiaéo PAaGano como macon, colaborar universalmente preparandé o advento da queda dos trénos perdidos num passadi que nada mais era que a sombra do espirito tradi cional eterno da consciéncia universal sofrido atravé dos séculos, vivido e glorificado pelo engrandece! da nacionalidade. O Marqués reformava destruindg) reformava abatendo pelas raizes. Assim, pois, se necessdrio dar nova diregao 4 inteligéncia e espiritd portugués para, em futuro nao remoto, deixé-lo: aptos para a éra liberal. Curioso 6 notar como o li beralismo s6 nasce do despotismo e nada é mai senfio um despotismo mascarado de liberdade. Em 1752, reforma as Universidades fazendo com que predominasse o estudo das ciéncias naturais € positivas — 6 o naturismo materialista pragmatico Cria o colégio dos nobres entregue a mestres estran* geiros imbuidos do novo espirito. Assim, desfiguré a Nobreza. Mais notéria é a fundagao, em 1759, da Escola de Comércio como baluarte do economismé egocéntrico que tomaria ascendéncia sobre todas as instituicdes. Tais sio as experiéncias democraticas em Por? tugal, e, consequentemente, no Brasil. Convém ainda) notar como o democratismo se estabelece através da tirania mais marcada, mais odiosa! Todas essas mudancas derivam do espirito dé) Pombal e se explicam pelas préprias circunstancias pessoais da sua vida. Em 1733, casou-se em prime ras nupcias com D. Tereza de Noronha de Mendonca: e Almada, sobrinha do 6.° Conde dos Arcos de Val- de-Vez, com grande oposicao da familia que nfo sé conforméra com a genealogia do filho de Manuel Carvalho d’Atafde, Comendador da Ordem de Cristo, O Conpe pos Arcos ede D. Tereza Luisa de Mendonga e Melo. Viuvo em 1789, casou-se em Viena d’Austria, em 1745, com D. Leonor Ernestina Daun, filha do General Conde Henrique Ricardo Daun, brilhante adversirio de Frederico o Grande, 0 maconizado Rei da Prussia. Sofreu assim o influxo das idéias germano-protes- tantes, pois sua nova esposa era de uma familia da antiga nobreza alema, tendo emigrado para a Austria no século XVII, O Marqués casara-se depois de ter regressado de Londres onde esteve em missao di- plo ‘itica durante seis anos, desde 1739, e aonde se iniciara nos segredos das lojas. Tendo passado uma mocidade dissoluta, segundo se afirma, e arruaceira, Pombal conservou a falta de escrupulos de sua ju- ventude, o que lhe facilitou a realizagiio da enorme série de crimes tremendos de perversidade inaudita mes sob a hipécrita alegagdo da “razio de stado”, 4 — Clero, Nobreza e Povo Se em Franca foram preparadores espirituais da revolugio o saredstico Voltaire e a eérte dos Mon- quieu, Diderot e Rousseau, em Portugal comple- tava-se © preparo com a reforma universitéria. Luis Anténio Verney lancara a semente da reforma publi- cando em 1746 0 seu famoso “Verdadeiro método le estudar, para ser util 4 republica e a Igreja, Proporcionado ao estilo e necessidade de Portugal”, onde nfo s6 atacava a mentalidade portuguesa, di- minuindo o préprio espirito nacional, como, principal- Mente, os métodos jesuitas do ensino, Para realizar Pf ee es ae 26 SEBASTIAO PAGANO essa mudanga, os padres da Congregagio do Oratori vinham substituir os Jesuitas expulsos do Rein Pode dizer-se do Oratério que foi uma Congrega¢: religiosa liberal. O nico voto que faziam era o “p: pésito” de obediéncia ao seu prelado; demais, ca casa que se estabelecesse ficaria sendo um Orat6n independente dos outros sem miitua ligacdo. Em Pot tugal introduziu-a, em 1668, o padre Bartolomeu Quental, o virtuosissimo e piedoso confessor e p’ gador de Dom Joao IV, e ascendente de Antero Quental que, como seus avés, foi um liberal e rev luciondrio democratico. Os oratorianos vinham ei bebidos das “doutrinas jansenistas de Port-Roy: tipicamente liberais em filosofia por via do cartesi: nismo subjetivista. Como os jansenistas de Por Royal inimigos dos Jesuitas, os Oratorianos comb: tiam a estes e seus métodos. Em peores maos, pois, nao estaria entregue ensino quando Pombal quis arrancé-lo das maos d filhos da Companhia de Jesus. Hipécritamente, a0: olhos do mundo pareceria bom catélico, dizendo- até, “‘que comungou no dia da expulsio”, justifical do assim a sua atitude, porque... os jesuitas con: piravam. O regicidio por éle mesmo Pombal tramad em 1758 foi o pretexto para, em 1759, expulsar Jesuitas exatamente como “conspiradores” e, pel mesmo motivo, aniquilar a Nobreza. Désse modo ia o Marqués consumando a desn: cionalizagéo de Portugal e desfigurando o regim dando triunfo Aquéle grupo de inteligéncias “es trangeiradas”, como se dizia, inteiramente “4 |: page”, que era mote para o pretendido progresso, contra os conservadores nacionalistas, ortodoxos. A‘ O Conpve vos Arcos 27 lado do magon Verney, ja arcediago da Sé de Evora e cavalheiro de Cristo, formavam o judeu Ribeiro Sanches, os magons frei Cénaculo, de tenebrosa me- méria, 0 congregado Francisco José Freitas e outros. A 23 de Dezembro de 1770, sazonados os frutos deri- vados da semente lancada por Verney, era criada a Junta da providéncia literdria” da qual éste e seus comparsas foram membros ao mesmo tempo que planejadores dos novos Estatutos da Universidade de Coimbra que reformaram, como as demais univer- sidades existentes no Reino, sob os principios evo- lucionistas, By’ désse individualismo sectario e grosseiro que: Mais tarde nasceria a revolucdo individualista, libe- ral, democratica, macénica de 1817 em Pernambuco, filha espiritual dos seminaristas de Olinda ilustrados Segundo os Estatutos de Coimbra reformados por Pombal. Nao cogitamos aqui de negar o valor daquela Pleiade “estrangeirada”. Ricardo Sanches, como mé- dico; Frei Cendculo, o Padre Figueiredo e outros, Possuiam cultura notavel, mas deformada por erros filoséficos e pelo judaismo que é6ra dominava o Es- tado preparando a repiiblica. Critica mais acerba merece a intengao satanica de Pombal e seus sequa- zes em destruir, pelas consequéncias que das refor- mas adviriam, o nacionalismo portugués, que, depois, rolaria para o liberalismo materialista do século XIX em aparente represdlia ao absolutismo pombalino. Abismo, abismo invoca. Desvirtuado o espirito, es- tava realizada a revolugio. Observe-se a influéncia Perniciosa que entio tiveram os judeus, os cristéos- Rovos, como Jacob de Gastro, Ribeiro Sanches, e tantos, tantos outros. Dai a ansia de Pombal de tudo SEBASTIAO PAGANO igualar extinguindo as diferengas entre cristéios-ne& vos e velhos, para deixar aquéles mais 4 vontadé Naqueles estavam os judeus prépriamente ditos, e nestes, os cristaos de tradigio arraigada. A lut nio é de ragas, como parece, mas de religiai e essa luta continiia mais acirrada nos nossos dias E Pombal auferia proveitos désse judaismo: enriquecia a olhos vistos. A sua obra, ditatorial a seu tempo, continuaria liberal depois de concluit Despético era realmente para os ‘nfo-judeus, na magons, ¢ liberalissimo para os que o féssem efetl vamente. Para tanto, nao deixou de impulsionar a publicacdes criando em 1768 a Imprensa Régia ne sentido de levantar a opinido ptblica, 4 moda Rousseau, judeu de Genebra, em criticas individuail e orientadas pelos que é6ra dominavam o Estado tra zendo, assim, a democratizacao, o espirito de intriga e perversao. Completando a obra, fundou 837 escola primarias e secundarias, para que a alfabetizagaio a instrucao viessem colaborar com a imprensa na quele trabalho deformador, dissociativo e individua lista, como se a instrucio de um povo, mais que sua educacio moral, o engrandecesse. Um povo di analfabetos, mas com suficiente bom-senso prove! niente de boa educacio moral, vale muitissimo mai que um povo de semi-letrados propenso, pelo indi dualismo de um criticismo facil, enfatuado dum mesquinha superioridade cultural, a destruir-se pel: divisio feroz do seu egoismo incoerente. O tirano feria, de uma s6 vez, o Clero, a Nobrez# e o Povo, ou, melhor, todos os Estados do Reino. O Conner pos Arcos 29 5 — O Regicidio Vai mais além a audacia de Pombal. Estabele- eendo a Mesa Censéria entregue ao macgon frei Ma- nuel do Cendculo, ilustrado e em aparéncia tolerante, paralelamente reorganiza a Inquisi¢ao servindo-se do Santo Offcio como instrumento diabélico do seu despotismo. Dé-lhe 0 titulo de Majestade e poe 4 sua frente seu préprio irmao. Com a arma do Santo Officio, que era uma especie de “tchecka” ou G. P. U. daquéle tempo, fazia odiada a Igreja — que em nada tinha in- fluido nessa reforma emanada tnicamente do poder civil sob cuja aleada se encontrava desde a sua insti- tuigéo por D. Joao ILI. O Santo Officio tornou-se o mais satanico tribunal, instrumento dos odios do Marqués € da sua horda de agregados todos coesos nessa te- nebrosa “Comuna Secreta”. Por intermédio do exe- crvel tribunal, conseguiu fazer mais de 800 vitimas entre a melhor fidalguia. Delas sobressairam os Ta- Vora, principais acusados de regicidio; o Conde de Obidos, o Visconde de Vila Nova da Cerveira, o Conde da Ribeira Grande, 0 Conde de Athouguia, entre muitas outras vitimas suas. A isso levou-o o pretexto do inquerito sobre o regicidio. Apossou-se, por esse fato, de tal modo do animo de El-Rei ferido, que foi €ssa a ocasiao propicia para tornar-se 0 ditador todo- Poderoso. De El-Rei Dom José, pode dizer-se que, en- tregando-se a Pombal, experimentava um regime para © qual, parecia, estavam tédas as tendéncias politi- as da época anunciando grande futuro. Era o fruto daquela polftica liberal que se vinha fazendo na Hu- Yopa téda depois da Reforma protestante e de que Portugal tanto se ressentiu apés a Restauragio. 30 SEBASTIAO PAGANO , A 3 fs 5 El-Rei visava pér a Nacaio em dia com os chamada progressos de ent&o, nisso vendo apenas o bem do sell Reino, entalado que estava depois de 1640 nas diff culdades financeiras e internacionais que advierat por manobras secretas dos seus inimigos. Que fazefy numa época de transicao, em que os governos se am paravam ditatorialmente para nao cair e poder go vernar evitando a completa anarquia? Estava proximo 4 revolucio de 1789, de que a revoluc inglesa tinha sido aviso! A experiéncia, porém) de bons resultados materiais aparentes e imediatos foi, realmente, desastrosa. ‘O que faltava era a rel niao das Cértes, que havia uns 60 anos nao se real zava por receio que tinham os soberanos do estou: revolucionério que mais tarde sucederia em prime’ lugar em Franca na convocagao dos Estados-Ger: transbordantes de magonismo. Depois do terremoto, @ regicidio foi o pretexto maximo para Pombal con solidar o seu prestigio; o terremoto e consequente ré construgéo de Lisbéa valeram a Pombal grande’ elogios consolidando a sua reputacio de estadista emparelhando com os maiores do seu tempo, segund0 0 espirito da época. Para os republicanos, se se tratasse dum reg cida vulgar a soldo do maconismo, guinda-lo-iam 4 culminancias da gléria; mas tratando-se de nobres o castigo sofrido era justo, bastando dizer que a tor tura a que foram submetidos dependeu apenas di “justiga da época”... Eis como Souza Pinto, republi? cano, sé exprime a ‘pag. 156 do seu livro: “Nao temo necessidade de ocultar que o Marqués de Pombal, sempre enérgico e severo, como as circunstanci exigiam, foi algumas vézes demasiadamente rigo O Conpe pos Arcos 31 roso, Estamos todavia longe de aplaudir aqueles que, brincipalmente a propésito da execugiio do Duque de Aveiro e seus ciimplices, se recreiam em pintar 0 grande ministro com tédas as céres sombrias de um acabado monstro de crueza e deshumanidade. O tri- bunal que julgou os implicados no atentado contra, a vida de D, José devia necessariamente fazé-lo de Acérdo com os costumes e o espirito geral da legis- lagio penal da época; e essa legislacao era implaciyel, Sobretudo no tocante ao crime de lesa-majestade, Cujos autores mandava o livro quinto das Ordena- goes do Reino que “morressem morte natural cruel- mente”, _ Entretanto, o Sr. Mario Saa, que, segundo se afirma (néio nos parece, mas si é, mais vale cita-lo, e Porisso fazemos tantas citacdes, para que nao nos acoimem de parcialidade), 6 judeu # escrever as mal- dades judias como exaltar o triunfo da raca, assim Se manifesta, as pags. 112-4, op. cit.: “como reagiam, entretanto, os cristaos-velhos? CA fora conspirava- Se contra 0 Paco onde imperava a vontade do primeiro ministro, d’onde eram irradiados os melhores da Obreza. A irritagdo augmentara com o degrédo de D. Manuel de Souza; e 0 insofrivel e orgulhoso Duque Aveiro, despeitado do Pago, do qual dizia que quando 14 ia era o mesmo que cortarem-lhe as pernas, Aproximava-se agora daquele degredado da Quinta do Calhariz, e com éle largo tempo se entretinha em dissolutas conversas contra o govérno (Processo dos Tavoras). Assim se formava uma conspiracio tre- Tienda que teve o epilogo no cadafalso de Belem! “A rivalidade entre o Duque d’Aveiro, chefe da Conspiracéo dos cristios-velhos e pretendente ao me or Oe Acta oe eee lugar de 1.° ministro, e Sebastifio José de Carvalhd e Melo 1.° ministro, chefe do partido reformista, ol cristéo-novo, era evidente, e nada mais tendia qué ao desférgo. Praticado o atentado contra o Rei, @ instaurado o processo, o guarda-roupa do Duque dé punha que o irmao déle, guarda-roupa (o que des fechara contra a carruagem real), Ihe declarara “qué o dito Duque lhe dissera que a quem éle Duque Jkt mandava atirar era pessoa que também o quis mata a @le Duque. E que o dito seu irmao entendera se embargo desta razio do Duque, que seria ao Excé lentissimo Secretério de Estado Sebastido José d Carvalho e Melo, bem que, ainda duvidava, que dito Duque mandasse fazer tal, a um homem ti grande como o dito Excelentissimo Secretario de Es tado”. (Processo dos Tavoras, pag. 107). “Q Duque d’Aveiro tinha proferido ao seu confi: dente Anténio Alves: “Tomara que dessemos hum fumassa em Sebastiao José”. E ao Marqués Bernard de Tavora dissera 0 mesmo Duque que se tornava né cessdrio fazer-se outra espera ao Secretério de Es tado, Sebastiaio José, para se lhe tirar a vida (Pro cesso, pig. 107 e 126). “OQ alvo maior das conspiracdes dos cristios-vé lhos era o Govérno, na figura do 1. ministro. Paré isso se organizava uma conspiracio d’alguns fida gos, logo apés o terremoto de 1756. O Dezembar gador Anténio da Costa Freire delineara um plan0) duma “Junta da Providéncia”. Como El-Rei rejei tasse o dito plano depois de o ter aprovado, e princi piasse desconsiderando estes fidalgos, a uns despe dindo-os do Pago, a outros mostrando-lhes desagrado O Conpne pos ARCOS 33 contrairam éles um édio inexor4vel contra o Rei, a quem acusavam de ser um cego vassalo da vontade de Sebastiiio José, opiniao que os jesuitas propagavam, e, principalmente, Pe. Malagrida. Bste édio ao Rei pusera um pouco na sombra a figura do 1.° ministro. “O depoimento do Duque d’Aveiro no Processo dos Tavoras (o mais tragico e o mais vivo documento do século XVIII) tem estas palavras em referéncia 4 conspiragao anterior 4 do atentado: “E sendo ainda instado, que havia informagio, de que ele “Respondente depois do sacrilego insulto de trez de Setembro préximo passado, ameassando a repetic&o delle fizera sébre ela a reflexdo de que por Bouco se nao mudara o governo do Reino, ainda antes do referido insulto... “Respondeu que a raziio que tivera para aquela afirmativa consistira no plano que Anténio da Costa Freire havia feito depois do terremoto: para estabe- lecer a Junta da Providéncia, que havia de absorver 0 Mesmo governo, composta dos Duques de Lafoens, e Aveyro, dos Marquezes de Anjeja, e Marialva Pay, © Conde de Sio Lourenco etc: Que as diligéncias, que entdo se fizerfio por todos os modos que sao prezen- tes a Sua Majestade para se fazer efectivo 0 refe- rido Plano, forio as que constituiriio o modo porque Se havia acabar o dito governo. E que o pouco que ele Respondente dice, que havia faltado, consistira em: ¢ affirmar o dito Antonio da Costa Freire, que El- Rey Nosso Senhor tinha recebido bem o referido lano, ¢ estabelecimento da tal Junta da Providencia, € que esta teria o effeito, que depois se vio, néo havia tido, pelo que se busearam os outros meyos que depois gor AS oe © 34 SEBASTIAO PAGANO se forio praticando athé a ultima conspirachio de qué se trata.” “A iiltima conspiracdo foi aquela de que resultoll o atentado contra a vida do Rei, como o meio mais rapido de vinganga e de resolucao da crise. “A deslealdade de D. José foi o que mais acirroll o édio dos fidalgos: e desde logo o Duque d’Aveir0) (14 artigo do Processo) comunicou com o Dezent= bargador Antonio da Costa Freire sébre 0 modo di fazer odioso 0 govérno d’El-rei, em raziao de saber que o mesmo Anténio da Costa blasfemava do mesm0) governo, sem regra, nem medida, alienando assim desafeigoando « do govérno do mesmo Senhor as gente! que 0 ouviam.” O autor, com forte mjustica para com os nob: filhos da Companhia de Jesus, acrescenta: “Os suitas, que eram quem por haixo de tudo isto acir- ravam e¢ manejavam o édio dos nobres e seu pundo nor, contra o partido dos cristdos-novos, os jesuita® como simbolo da linhagem crista-velha, e da mesma linhagem, (tinham rigorosos processos de génere @ rigorosa disciplina donde seriam irradiados os qué nao possuissem uma idéntica compleicio germanica): os jesuitas tiveram, enfim, 0 mesmo destino dos fi? dalgos, e mais do que estes irradiados do Paco, redavam e conspiravam tenazmente. Por todos 0: motivos se preparava o atentado de 3 de Setembré de 1758; por todos os motivos e por todos os ladosi Razio teve por isso o Duque d’Aveiro quando afi mou, depois dos acontecimentos, que eram tantos 05) lados donde se poderia esperar o tiro a El-rei, qué nunea ao certo se poderia saber donde viera! i ig ke 4) O Conpe pos Arcos 35 “Tudo fazia prever éste atentado; e até as pro- fecias dos jesuftas, principalmente as do Pe. Mala- rida, que chegavam imprudentemente a prever 0 Tegicidio para o més de Setembro désse ano de 1758”. ___ E, mais adiante: “Os jesnitas, baseados na Mis- tica do Pe. Malagrida, tinham, com efeito, comegado Dor insinuar a legitimidade dum regicfdio quando éle libertasse uma nagio das garras opressoras dos ma- ons; e portanto legitimo, e sem conter em si pecado algum, o atentado contra a vida do Rei. E que dessa morte imediatamente resultarin o protelado consor- lo do Infante D. Pedro (irmio d’El-Rei) com sua Sobrinha, herdeira do Tréno, assim evitando ir a Coroa de Portugal a reis estrangeiros. B que El-Rei ‘Ta a causa de se demorar éste casamento. Este ar- &umento patridtico servia étimamente aos jesuitas a ‘mover os escrupulos de consciéncia no empreendi- Mento dum regiefdio! Parece estranho o que afirmo tratando-se dos Religiosos da Companhia, dos tao in- famados religiosos! Mas também 6 um érro e um lugar comum fazer dos jesuitas umas vitimas das intrigas de Pombal ¢ das caliinias dos livre-pensado- res! Os jesuitas eram o tiltimo reduto da Cristanda- de, wiltimo reduto das antigas familias portuguesas, ~~ uma raca que se defendia a todo transe, — um Poder no Ocaso, uma raiva insofrida, um desespéro!” Nio 6 bem um argumento severo dizer-se que a Corea iria ter a “reis estrangeiros” porque assim Seria diminuir as leis da Monarquia: a Monarquia é Uma instituicdo e uma dignidade universal. Alias, fora 8 Princesa Real, existiam outros principes portugue-

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