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Pedro Geiger As Formas do Espaco Brasileiro Jorge Zahar Editor WO Oe Janeiro Copyright © 2003, Pedro Geiger Copyright © 2003 desta edicao: Jorge Zahar Editor Ltda. tua México 31 sobreloja 20031-144 Rio de Janeiro, RJ tel.: (21) 2240-0226 / fax: (21) 2262-5123 e-mail: jze@zahar.com.br site: www.zahar.com.br Todos os direitos reservados. A teprodugao nao-autorizada desta publicacio, no todo ou em parte, constitui violagao de direitos autorais. (Lei 9.610/98) Composicio eletrénica: TopTextos Edicées Gréficas Ltda. Impresséo: Geogrfica Editora Capa: Sérgio Campante Tlustragio da capa: Brasil, 1500-1996, série “Local da Agio”, de Anna Bella Geiger Gravura em metal e serigrafia, 1996 Vinheta da colecao: ilustrago de Debret CIP-Brasil. Catalogacao-na-fonte Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ. Geiger, Pedro Pinchas, 1923- / : G271f As formas do espaco brasileiro / Pedro Geiger. — Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2003 . : il.; — (Descobrindo o Brasil) Inclui bibliografia ISBN 85-7110-748-3 1. Geografia humana. 2. Brasil - Geografia histrica. 3. Territorialidade humana. 1. Titulo. Il. Série. CDD 304.2 03-1841 CDU 911.3 Forma geografica e processo social A Geografia estuda historicamente as formas dos obje- tos e fenémenos que formam a superficie terrestre. Na frase acima, a palavra “forma” aparece duas vezes, como substantivo e como conjugagio do verbo “formar”. Com efeito, qualquer objeto, corpo ou ente resulta de um recorte na matéria que assume determinada forma. A forma define o limite de cada objeto ou individuo permitindo distingui-los, e o limite faz da forma um elemento que provoca tensao na matéria. O processo social nao cessa de operar esses recortes na matéria, para que a vida social possa se expandir, ganhar forga ¢ plenitude. A forma dos objetos ou individuos lhes oferece possibilidades e limites. A forma da bicicleta, por exemplo, possibilita-a servir a longos percursos ¢ com alguma velocidade, porém limita o transporte a uma ou duas pessoas por veiculo. As formas geogrficas também oferecem possibilidades ¢ limites 4 atuagao humana. Os continentes, excetuadas a Austrilia ¢ a Antértida, encontram-se deslocados na diregao do Pélo +7. PEDRO GEIGER eterminam de forma afunilada para o Sul — na Africa do Sul, na Patagonia. Conseqiiente- aior massa continental se encontra no he- Norte India, na mente, am misfério norte, enquanto a massa oceanica € mais extensa no hemisfério sul, configuragao que propiciou a presenga maior de populagdes naquele hemisfério, Nas terras austrais os nticleos populacionais encon- tram-se mais distantes entre si e as relagdes s4o menos intensas. Essa configuragao influenciou igualmente as condigées climdticas do planeta, com invernos mais rigorosos no hemisfério boreal, pois que as terras es- friam mais que os mares. Reconhecer os recortes na matéria e suas formas é um ato social, como a capacidade de conceber a geo- metria e as formas expressa a transcendéncia do ho- mem em relacao 4 natureza. Contudo, hd que se con- siderar as diversas origens dos recortes realizados. A individuagao dos continentes consiste em reconhecer as descontinuidades das terras emersas, produzidas por fendmenos geofisicos da natureza. J4 a individuagéo dos seres vivos remete a processos bioldgicos. Outros Fecortes, porém, se originam no interior do préprio Proceso social. Nesse caso, diferencia-se, ainda, a pro- ducio de objetos materializados, como um prédio, ou de objetos abstratos, como um pafs ou uma cidade. A rua Pavimentada, os cabos e fios ¢ a arborizagao sé objetos Materiais que constituem uma cidade, mas €™ Si mesma a cidade é uma construgao mental, abstrata- “8. ‘AS FORMAS DO ESPACO BRASILEIRO Pafses e cidades sao objetos abstratos/concretos, jAque podem ser medidos e mensurados, em termos de 4rea, populacgao, produto. As formas dos pafses e cidades também oferecem possibilidades e limites. Por exemplo, a forma alongada do Chile lhe proporciona grande variedade climdtica e um tinico fuso hordrio, porém é desvantajosa do ponto de vista estratégico. J4 os Estados Unidos compreen- dem uma dimensio continental e duas longas costas abertas sobre os dois maiores oceanos do planeta, uma configurago que lhe propiciou suporte para exercer seu poder hegeménico. E de trés horas a diferenga entre as suas duas maiores metrépoles, Nova York e Los Angeles. J4 na configuragao brasileira, os principais centros, como Belém, Brasilia, Recife, Salvador, Rio de Janeiro, Sao Paulo e Porto Alegre, encontram-se no mesmo fuso hordrio. O ritmo diurno sincrénico dessas metrépoles permitiu ao radio e a televiséo exercerem um papel singular na homogeneizagao cultural do povo brasileiro. Por exemplo, as mesmas telenovelas do chamado “hordrio nobre”, com suas cargas ideoldgicas, podem ser acompanhadas simultaneamente em quase todos os lugares do pais. Outro exemplo brasileiro considera a forma geogréfica da costa e sua projegao de 200 milhas sobre o Atlantico, o que configura o mar territorial do pafs. Ali se extrai atualmente a maior parte do nosso petréleo, porém o mar territorial tem outra fungdo igualmente importante: marca o limite do espaco em que se exerce a soberania brasileira. +9. PEDRO GEIGER Na telagio sociedade/espago os objetos espaciais nao se apresentam como simples 1 esultados, nao atuam como metros artefatos. Os Estéicos gregos distinguiam encontros de corpos em “fenédmenos de profundidade” ¢ encontros de corpos em “fendmenos de superficie”, ‘As “causas” estariam presentes apenas nos primeiros, enquanto 0 conceito de “semicausa’ "era proposto para os segundos. Note-se que a relativizagao recente do conceito de “determinagio”, particularmente nas cién- cias sociais, expressa de certo modo um retorno 4 idéia de semicausa. As relagdes espago/sociedade poderiam ser comparadas a fendmenos de superficie, nas quais os objetos e as formas espaciais exercessem um papel de semicausas. Assim, por exemplo, os deslocamentos dos bandeirantes para o interior do Brasil nao se constitui- riam, propriamente, numa causa determinante para a construgao de um sentimento nativista, de brasilidade, ainda que de certo modo tenham-na favorecido. Nesse sentido, o “espago vivido” pelos bandeirantes foi dife- rente do “espaco vivido” pelos comerciantes portugue- ses nas cidades, ou pelos escravos negros. Do mesmo modo, o espago vivido na favela é diverso do espago vivido no asfalto. “Espagos de Tepresenta¢ao”, “representagao do espa- 50”, “espago vivido”, sao alguns dos termos utilizados pata a descri¢ao da relaco sociedade/ espago. Os esta dos brasileiros, por exemplo, so utilizados como espa gos de fepresentacdo por suas populagies quando ele- gem seus deputados e senadores. Jéa representagao do 10. ‘AS FORMAS DO ESPACO BRASILEIRO espago pode atender a propdsitos distintos. A que é exercida na cartografia do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia € Estat{stica) ¢ diferente da que se apresenta na gravura de Anna Bella Geiger que ilustraa capa deste livro. No caso da gravura, o simbolismo éa sua esséncia, © espaco de representacéo se superpondo A repre- sentagao do espago. Na natureza nao existe o Brasil tal como o temos representado, pois a continuidade da matéria engloba todo o continente americano. O Brasil foi e continua sendo construfdo socialmente, em um recorte que se desenvolve ao longo da histéria. O simples descobri- mento em Porto Seguro nao foi suficiente para o conhecimento da existéncia da América do Sul como continente, ou para se saber se a linha de Tordesilhas atravessava terras ou 4guas. O primeiro nome dado ao solo descoberto foi de ilha, Ilha de Vera Cruz. Aos poucos, tanto a América quanto o Brasil foram sendo construfdos e conhecidos, ganhando forma. No presente livro analisa-se a construgao do espago geografico brasileiro ¢ seu papel na evolugao do pais. Conhecer um pafs em sua plenitude inclui o conheci- mento de seu territério e de sua configuragao espacial. Pensa-se em termos de uma histéria geogrdfica, ¢ nao de uma geografia histérica que tem como objeto o estudo das paisagens pretéritas. Sao comentadas as estratégias praticadas pelos diversos agenciamentos na construgio dos espagos brasileiros, assim como as for- Pane PEDRO GEIGER mas de vivéncia das suas populagées. E também abor- dada a utilizagao desses espagos para representagoes politicas e culturais, bem como 0 uso de representagées cartograficas em jogos politico-ideoldgicos. "Gigante pela propria natureza” Esse verso do Hino Nacional pode referendar a dimen- sao territorial do Brasil, de 8.514.215km?, dois tercos da América do Sul. Ao contrdrio do que ocorreu na América Espanhola, que apés as lutas pela inde- pendéncia se partiu em diversos Estados nacionais, o Brasil manteve a integridade do antigo territério colo- nial portugués. Ainda na atualidade, o continente apresenta amplas extensdes territoriais de densidades populacionais mui- to baixas, assim como muitos centros populacionais fracamente conectados entre si. No século XIX, tal quadro, muito mais acentuado, influiu para o surgi- mento de movimentos centrifugos, regionalistas, que impediram a realizagao do sonho de Bolfvar: fazer da América do Sul espanhola um tnico pais inde- pendente. Soma-se a esse quadro, de tendéncia frag- mentéria, o fato de que nas Américas, como um todo, nao se apresentaram previamente “nagées fundadoras” dos seu pajses. Implantados, os Estados independentes Passavam a construir as suas nagées, com as populagoes Presentes e provenientes de diversas origens, incluindo 12. AS FORMAS DO ESPACO BRASILEIRO os imigrantes que continuavam chegando ¢ dos quais se accitava a naturalizagio. Aos filhos dos migrantes nascidos na América, ao contrério do que ocorria na Europa, era assegurada de imediato a plena cidadania. Por todos esses fatos, hé quem diga que “na América, a geografia toma o lugar da histéria”. HA também quem julgue que a monarquia no Bra- sil, com seu sentido conservador, serviu para preservar a unidade do pais. Utilizar o regime mondrquico para sustentar a unidade nacional é uma estratégia aplicada ainda na atualidade, como, por exemplo, no caso da Espanha. Contudo, no Brasil, nos 67 anos transcorri- dos entre a Independéncia e a Republica, registraram- se mais de dez levantes de cunho republicano e regio- nalista, a maioria durante as Regéncias, sendo que a Farroupilha durou dez anos. No entanto, o Brasil manteve sua integridade territorial. Outra referéncia para a manutenc¢io da coesio ter- ritorial evoca a forga histérica do 4nimo barroco na cultura brasileira, tida como forga centripeta. Confor- me Nicolau Sevcenko, o 4nimo barroco interpreta a histéria “como mito e o mundo como conduzido pela intervengao divina por meio da corrente da fé que engendra o milagre... E nas festas e celebragoes... que © Barroco realiza plenamente sua magia aglutinadora... a multidao adquire forma, organizada na hierarquia de suas fungées, lustre e condi¢ao social. Quem nao reco- nhece o Brasil na fantasia do Barroco? ou quem nao reconhece o Barroco na fantasia do Brasil?” +13. PEDRO GEIGER No passado, a dimensio do Brasil nao alcangou a importancia politica que hoje apresenta. No infcio de sua expansao, © capitalismo industrial se instalou na Europa ocidental, em paises hoje considerados peque- nos, como a Belgica, ou de porte médio, como a Franga. Promoviao adensamento populacional desses paises ea integragao espacial interna de cada um por meio dos transportes € comunicagées. Apertados uns contra os outros, os paises europeus procuraram espagos transo- cednicos, ampliando impérios, no que foram seguidos, depois, pelo Japao. Até meados do século Xx, 0 sistema capitalista mundial apresentou um quadro em que al- gumas metrépoles dominantes comandavam imensos impérios coloniais. Reino Unido, Franga ou Japao, na época das ferrovias a carvio, podiam ser considerados de dimensio territorial aprecidvel, porém entre as suas colénias e dom{nios havia paises de extens6es muito maiores. Era 0 caso do Canada, [ndia e Australia, que faziam parte do império de Sua Majestade britanica. O norte africano francés se estendia do Marrocos a Tuni- sia. Coréia, Manchuria, Formosa e outras grandes pat- tes da China eram dominados pelo Japao. A profunda diferenga entre a drea de pais muito pequeno ea rea de suas colonias também podia ser observada nos casos da Holanda, se comparada a Indonésia, e da Belgica, com- parada ao antigo Congo Belga. As grandes distancias e os grandes vazios entre oS centros de povoamento, obstdculos para a maior inte- gragao, contribufam para dificultar a industrializas40 +14. AS FORMAS DO ESPACO BRASILEIRO dos paises de grande extensao, entre os quais se incluiao Brasil. No caso brasileiro, 0 atraso do desenvolvimento em relayao aos paises centrais foi motivo para pequenas iromias utilizando expressdes do Hino Nacional, como “deitado eternamente”. O fato é que, do mesmo modo como nas histérias para criangas os principes sempre vencem os gigantes, no passado os grandes paises eram considerados mais fracos, ¢ propicios a serem domina- dos por paises muito menores. (O gigante perderia sempre devido ao principio da alometria, criado por Galileu. Um corpo que cresce sé pode manter a mesma forma até um certo limite, caso nao altere a consisténcia de sua matéria. Crescendo em altura, o gigante aumen- ta o seu volume ao cubo, podendo quebrar as suas ubias, alargadas apenas ao quadrado, caso estas nao tenham sua consisténcia alterada.) O quadro geopolitico acima mudou totalmente. O primeiro passo foi a ascensio dos Estados Unidos & condigao de uma economia nacional capitalista avan- gada ¢ de dimensio continental. O processo foi mon- tado sobre o continuo progresso tecnoldgico, compres- sor do tempo/espago, e sobre o constante influxo de capitais e de migrantes. Estes foram ocupando os espa- Gos vazios ¢ alterando a densidade média do pais. Compare-se, por exemplo, o que era a Califérnia em meados do século XIX, e 0 que passou a ser em meados do século XX. Assim, foi como se um império estivesse sendo construldo no interior do préprio territério nacional (literalmente, se considerada a conquista so- - 15. PEORO GEIGER bre o México), apresentando, porém, a vantagem de 9 seu territério ser ocupado por populagdes moventes, uma ve7 que as fronteiras entre os estados que formam a Uniao nao impedem a livre circulagao de pessoas ¢ mereadorias. A mobilidade horizontal da populacao teve influéncia na mobilidade vertical, na ascensio social. A criagao da antiga Unido Soviética, nas primeiras décadas do século XX, com o emprego do planejamento centralizado, foi outro episddio de valorizagao do Es- tado de dimensao continental. Nesse caso, porém, a populagao no gozava de liberdade individual na esco- tha do lugar de residéncia, restringindo-se a mobilidade geografica. Em seguida, apés a Segunda Guerra Mundial, ecom o fim do colonialismo, surgem entre os novos pajses independentes diversos de dimensao continental. O acelerado crescimento populacional dos pafses conti- nentais e sua industrializagao — alguns assumindo a categoria de “paises emergentes” — ampliava a sua presenca no mapa geopolitico mundial. A nova consis- téncia demogrdfica e econdmica dessas nag6es resultava da substituigao crescente de amplos setores de suas sociedades rurais tradicionais por setores urbanizados ¢ industrializados, e permitia aos gigantes territoriais ganharem fora politica. - Finalmente, com a globalizacio, sustentada pelos continuos avangos tecnolégicos, a organizagao econd- +16. ‘AS FORMAS DO ESPACO BRASILEIRO mico-politica do mundo se move de “um sistema uni- versal de Estados capitalistas” para um “sistema univer- sal capitalista de Estados”. Nesse quadro, observa-se nova valorizagao da elevacao da escala territorial ¢ a organizagao espacial politico-econémica assume novas feigdes. Essas sao reconhecidas, por exemplo, na for- magao dos blocos supranacionais de pafses, sendo que a formagao da Unido Européia representa o grau mais elevado desse movimento de “organizagao reflexiva”. O mundo contemporaneo apresenta um quadro geo- politico no qual pafses de dimensao continental e subcontinental se destacam dos demais de seu conti- nente. Na América do Sul, Brasil e Argentina estao nessa categoria. No caso da Europa, a unio continental reine paises de tamanho médio e pequeno. Na América, séo os grandes pafses os que formam mercados comuns, casos do Mercosul e do Nafta, que apontam para a funcio- nalidade de grandes espagos na organizacio geografica do mundo atual. Em contraste com os grandes vazios da enorme massa ocednica da Terra, desprovida de ocupagoes fixas, temos o adensamento populacional de todos os continentes, estes assumindo, de forma cres- cente, papéis de entidades politicas e representando identidade. © Brasil participa do processo de ascensao de patses continentais no mapa mundial, tendo passado por uma strie de transformacées na sua constituicao, necessrias 17+ PEDRO GEIGER “futuro que espelha esta ude cerca de 40 milhdes chegar ao secu para poder chegar ao srandeza”. A popul lece om 1940 para cerca de 170 milhdes em 2000, e a e 2 a urbanizagio passou de cerca de 32% para ms de 80% no perfodo acima, atingindo 130 milhées de pessoas, contra os 13 milhées de apenas GO anos antes. A alizagao coloca o Brasil entre o 10%e 0 12® lugar quanto ao Produto Interno Bruto. Dada a o pais possui fronteiras com dez ago cresce! industri: mundial, sua continentalidade, dos 12 paises da América do Sul e vem assumindo a lideranga do continente. E interessante apresentar um exemplo do que signi- ficou a dimensio continental do pais para a movimen- tagdo de sua populacao e para o seu desenvolvimento. Veja-se 0 caso do planalto meridional, pouco povoado até meados do século XIX, quando passou a ser objeto de uma colonizagio dirigida, em pequenas proprieda- des agricolas, e que trouxe contingentes europeus nio- ibéricos para o pais. O progresso agricola e industrial dessa regio, onde se criou uma estrutura social na qual a classe médiae a iniciativa privada assumiram propor- sees. relativamente maiores, em comparacgao com as regides de Ocupacao mais antiga, teve enorme influén- cia no desenvolvimento nacional. Por outro lado, essa area d ; : s 2 0 Sul, depois de atrair grandes massas populacio- nais de outras re . gides do pais, passou, sob press4o fundidria, Pals, p > P' aemit; : : emitir correntes emigratérias que, desde os 718. (AS FORMAS DO ESPACO BRASILEIRO meados do século XX, participam do povoamento da regiao amazonica. No passado colonial, quando os grandes espagos continentais da América do Sul eram pouco conheci- dos dos europeus, 0 imagindrio da época criou mitos e fantasias. Imaginou-se a existéncia de monstros e gi- gantes no interior do continente, de guerreiras amazo- nas, ou de um “Eldorado” rico em metais € pedras preciosas. Essa nao era a realidade que foi sendo reve- lada. No entanto, a continentalidade brasileira conti- nuaria a oferecer novas surpresas nas 4reas que passa- vam a ser melhor conhecidas. E relativamente recente adescoberta de grandes jazidas de manganés de minas de ouro na regido da Serra dos Carajds, onde se instalou a Vale do Rio Doce. Mais recente ainda é a exploragao do garimpo de ouro de Serra Pelada. No imenso con- tinente, nao se trata apenas de descobrir, senao também de re-descobrir. E 0 caso da valorizagio de plantas da flora amaz6nica, utilizadas em prdticas medicinais pri- mitivas e agora procuradas pela avangada industria farmacéutica. A posigao e as formas do territério Separada pelos dois maiores oceanos, a América viveu uma insularidade frente ao Velho Mundo. Isso foi mais sentido na América do Sul, mais distante da Europa. -19- PEDRO GEIGER o centro capitalista cobrea América do Norte, a Europa ¢ 0 Japiio, a localizagéo do Brasil pode ser entendida como sendo a de uma periferia gcografica distante. A posigao afastada do centro signi- eeu regra geral, desvantagens, embora tivesse trazido também certas vantagens, como a de ter ficado longe dos grandes conflitos mundiais. Tome-se, por exemplo, a questao do turismo inter- nacional. Nesse setor, o Brasil encontrou limitagdes relacionadas a distancia geografica da Europa, e mesmo da América do Norte, ¢ & propria insularidade da América do Sul. Em um movimento de causagio circu- lar, a distancia encarece o transporte € diminui a de- manda, o que por sua vez encarece 0 custo do trans- porte, reduzindo também as alternativas de trajetos. Contudo, como a distancia tem livrado o pais da proximidade dos freqiientes quadros de violéncia € guerras, o fato tem favorecido o Brasil em diversos aspectos, inclusive pelo redirecionamento de fluxos de turismo. E possfvel que esse redirecionamento venha promovendo um retorno a uma procura maior por Considerando que paisagens naturais, por dreas menos congestionadas, pelas culturas da periferia, favorecendo territérios como os brasileiros, Este pafs gigantesco tem forma triangular, largo 2° norte, nas latitudes equatoriais e tropicais, ¢ estreito 40 sul, nas latitudes subtropicais. Ao norte, os portugueses dominaram a embocadura do rio-mar, o Amazonas, a + 20+ AS FORMAS DO ESPACO BRASILEIRO maior descarga de Agua doce do mundo, com 180.000m?> por segundo, grande porta natural de en- trada para uma imensa regido, coberta pela maior Aneta. Os portugueses pu- sim, dominar a quase totalid amazénica, que, na atualidade, floresta sempre verde do pl. deram, ade da regido constitui cerca de me- tade do territério brasileiro. Ao sul, a foz do Rio da Prata foi disputada por espanhdis ¢ portugueses, mas estes nado conseguiram se manter na antiga colénia de Sacramento. As terras das bacias dos rios Paraguai, Parand e Uruguai, que formam a bacia do Prata, foram divididas entre os paises herdeiros dos antigos impérios coloniais ibéricos, resultando, assim, na forma afunila- da da porgao sul do Brasil. Com regides mais desenvolvidas que as amazénicas, na bacia do Prata se fez necessdria uma cooperagao mais estreita e continua entre os diversos pafses que nela possuem territério. Durante os regimes militares dos anos 60 e 70, posigdes antagénicas entre os governos do Brasil e da Argentina trouxeram dificuldades na gestao dessa drea, atrasando a construgio da hidrelétri- ca de Itaipu. Como € dito atualmente, “democracias n4o guerreiam entre si, negociam”, portanto, o retorno da democracia ao Cone Sul possibilitou maior “coope- ¥ag4o competitiva” entre os seus paises, principalmente No trato de questdes como a da gest4o da bacia do Prata, © que culminou na criagio do Mercosul. +21. pepe GEIGER ato d morfologia do territértio, a fachada arlan Quanto or fol ; j c lerra, a teste, apresenta uma planicte litoranea trea braciley . semeada de morros € MACIG¢os Iso- de largura variavel que inclur bafas, restingas e Jadng Eaca composigao. vas, apresenta Cenartos de granc Nessa faixa se instalaram 1 fe beleza, como em ag rorno da baia de Guanabara on primeiros assentamentos portugueses, Multos dos quais deram origem a cidades que figuram entre as maiores do pais, como Recife, Salvador, Rio de Janeiro, Santos ¢ Porto Alegre. Uma frente de encostas, mais ou menos ingremes € clevadas, domina a baixada, além da qual se estende o chamado “planalto brasileiro”. Uma longa porgio des- sa frente escarpada e montanhosa foi designada de serra do Mar, porém seus diversos trechos recebem nomes locais. Alguns deles se destacam por suas belezas paisa- gisticas. F uma dadiva para o estado do Rio de Janeiro possuir, além da paisagem que orna a sua capital, com 0 Pao de Agticar, o Corcovado, 0 pico da Tijuca, a pedra da Gavea, também 0 Dedo de Deus ea pedra do Sino, na serra dos Orgaos, a pedra Bonita, e outros marcos. Os famosos mapas de Alberndz, 0 Velho, do século XVI, compostos na forma de blocos-diagrama, com- Preendem interpretagdes simbélicas sobre a divisio do territonio. As terras litoraneas, firmemente em mos Ta ae viviam “arranhando as costas como » Segundo frei Vicente do Salvador), 84° Colondas em S€pia, enquanto o interi de a presen- rior, onde a p +22. AS FORMAS DO ESPACO BRASILEIRO ga indigena ainda cra muito forte, é colorido em azul. No perfodo do Re pregadas pelos pintores parz imento essas cram as cores em- representar, respectiva- mente, planos mais préximos ou mais afastados. Nos mapas de Alberndz clas assumem também um simbo- lismo associado a poder. @ A porgio leste do planalto é formada pelas rochas mais antigas da histéria geoldgica, igneas e metamér- ficas, Nessa parte, o planalto se apresenta em grandes blocos falhados, desnivelados uns em relacdo aos ou- tros, € cuja erosio criou os relevos mais montanhosos do pais. O sistema da Mantiqueira compreende alguns desses blocos mais elevados, contendo os picos das Agulhas Negras, na serra da Mantiqueira, e 0 pico da Bandeira, na serra do Caparad, cada um com mais de 3.000m de altitude. Na serra do Mar, o bloco da serra dos Orgios é 0 mais elevado, com mais de 2.200m na pedra do Sino. e Como o planalto se inclina de modo geral para o interior do continente, grandes rios, como por exem- plo o Tieté, que banha a cidade de Sao Paulo, nascem relativamente préximos ao oceano, mas correm na diregdo oeste, formando a bacia do Parandy Essa geo- grafia facilitou a penetragao dos bandeirantes para o interior do pais. Mergulhando para o oeste, o comple- xo das rochas mais antigas, das eras Arqueano, de mais de 2,5 bilhdes de anos, e Proterozéica, de mais de 540 milhdes de anos, passam a ser cobertas por rochas +236 PEDRO GEIGER jimentares das ctas Paleozdica ¢ Mesozdica, de Mais seu a de 250 ¢ 65 milhoes de anos, respectivamente, Oo planalte se torna menos ac identado, dlominam formas aplainadas ¢ onduladas que, no estado de Sao Paulo ¢ no norte do estado do Parand, foram cobertas por caferaisghotsgrafos ¢ pintores, como Candido Porti- nari, fixaram essas paisagens. © \< camadas de arenitos sedimentares, das eras Paleo- zaica (Primario) e Mesozdica (Secundario), nao softe- ram grandes dobramentos, o que influiu para o relevo menos acidentado, a calha do rio Parand ocupando o eixo de uma ligeira sinclinal,*Apenas numa fase do Secundario houve derrame basdltico na parte sul do planalto brasileiro, e a decomposigao dessas rochas resultou na “terra roxa”, solo de melhor qualidade disputado pelos agricultores No longinquo oeste, 0 planalto de arenitos termina por outras escarpas, do- minando a depressio do Pantanal, onde flui o rio Paraguai. Para o norte, o planalto declina para dar lugar as planicies amazénicas formadas por sedimentos das eras Tercidria e Quaterndria, ou Atual. e ®A morfologia brasileira mostra a extensio maior de €spagos pouco acidentados, Sua geologia poupa o Bra- sil de fenomenos como ery tos. Po, de un pgdes vulcanicas e terremo- a © sonho de se achar esmeraldas nao passou na ilusiog Ouro e diamantes praticamente sb in encontrados em garimpo; a mina de ouro de ro Velho, em Minas Gerais, era uma jazida muito foran Mor +24. AS FORMAS DO CSPACO BRASILEIRO pequena; © nome do estado na verdade faria jus as javidas de ferro © manganés que passaram a ser explo- radas intensamente no século XX. Muito antes do desenvolvimento das atuais campanhas ambientalistas, © pevo ¢ 0 poeta de Itabira lamentavam a deformagao do pico da montanha que domina a cidade pela retira- da do manganés. Na base geoldgica da regio Sudeste do Brasil, regis- tra-se a existéncia de fontes de 4guas minerais e terras medicinais, como em Caxambu, Sao Lourengo, Lin- déia, Araxd e outras, assim como de jazidas de minério de urAnio em Pogos de Caldas. Na regiao central do Brasil, ha jazidas de cristal de rochag‘Outras riquezas dos chamados minerais titeis sao providas pela geologia brasileira, entre elas, a bauxita e a cassiterita, na Ama- z6nia. Da bauxita se produz o aluminio e da cassiterita, o estanho. ®A histéria do petrdleo produzido no Brasil ameagou reproduzir a ilusdo das esmeraldasg Durante a Segunda Guerra Mundial foi exposta toda a importancia do petrdleo, que movia as principais pegas da nova, tecno- logia bélica como belonaves, avides e tanques. A Ale- manha nazista procurava alcangar, através da guerra, as jazidas petrolfferas do Caucaso, do CAspio e do Oriente MédiogO petréleo vinha substituindo o carvao-de-pe- dra na produgio de energia elétrica. Mesmo nos Esta- dos Unidos, que construiram grandes barragens hidre- létricas, a maior parte da energia consumida, inclufda 125° PEDRO GEIGER veragio de cletricida 7 a necessiria para a getagto © ‘le, passara a depender do pettsleo: Por outro Jado, a guerra accntuou o nacionalismo Como dizem os chineses, “a crise uma opopeunidele* a@crise da guerra abriu q oportunidad le para movimentos de descolonizasao que puseram fim aos histéricos impérios politicos euro- peusy! descolonizacio foium passo indispensdvel para pet todo o mundo. __ainstalasio da globalizacio inradiada a parti dos Esta- dos Unidos ¢, ao mesmo tempo, foi uma fonte de movimentos nacionalistas. Entre as antigas colénias tornadas independentes havia grandes produtores de petrdleo que passaram a participar dos lucros da explo- ragao. © No Brasil, o nacionalismo, que assume dimensées crescentes na era Vargas, adquire novos rumos no contexto do quadro internacional, a partir de meados do século XX. Nos anos 50, 0 pais se encontrava nas etapas iniciais da industrializagao ¢ ainda nao havia implantado o sistema de gigantescas usinas hidrelétri- cas, que aproveitaria os caudais das enormes bacias fluviais brasileiras. Procurar e produzir petrdleo, atra- vés de empreendimento nacional, tornaram-se objeti- vos politicos que fizeram nascer a Petrobras. Os indi- cios de petréleo no Recéncavo baiano animaram ° movimento “O petréleo é nosso”, e o nome Lobato, em homenagem ao escritor Monteiro Lobato que &* posara a tese nacionalista, foi dado a rea produto! +26- AS FORMAS DO ESPACO BRASILEIRO Contudo, 0 pais nao conseguia descobrir outras jazidas economicamente validas. Um governo estadual de Sao Paulo envolveu grandes recursos financeiros em pes- quisas no estado, com a Petropaulo (2 termo “paulo” servindo para lembrar tanto o nome do estado como o do entao governador), sem nenhum retornog ° Enquanto procurava o petréleo, o Brasil também se voltou para o recurso da energia hidrelétrica como insumo bisico de sua industrializagao. A construgao de gigantescas usinas, mesmo muito distantes dos centros de consumo, foi possibilitada pelo avanco tecnoldgico nos sistemas de transmissi0, permitindo o transporte de eletricidade por longas distancias com menor perda de energiag Por outro lado, a dificuldade em mobilizar recursos adicionais préprios para a pesquisa petrolifera acabou influenciando a quebra do formato inicial do monopilio estatal da Petrobras, na década de 90. Areas de prospec¢ao e exploragao do petréleo foram abertas para empresas estrangeiras. Nesse quadro, a Bahia co- megou a deixar de §€t © principal estado produtor do petrdleo brasileirogCada vez mais se alargava a partici- Pago do estado do Rio de Janeiro, através da explora- S40 em dguas oceanicas profundas de sua costa. A cidade fluminense de Macaé, por exemplo, passou por grande crescimento associado A atividade petrolifera da tegido, atualmente com 80% da produgao nacional. Varios campos de éleo e gas foram sendo descober- tos nos ultimos anos, e o Brasil est4 préximo de atingir 27. PEDRO GEIGER aauto-suficicn cia, Entretanto, a auto-suficiéncia ¢ aauto-s 7 i s tedrica, em _termos de bartis produzidase coe fe = nas tec 2m termos ape. midos, uma vez_que a mator parte do Sle é Muito ee 7 erosso eas refinarias localizadas no p ais ainda nao EStaq aptas a processd-lo, sendo necessdrio exporta-lo em forma bruta. Dados da Secretaria do Comércio Exte. “Tior do Ministérig do Desenvolvimento mostram que em abril de 2003, a exportacao de petréleo e derivados ocupava o 4° lugar entre os principais produtos expor- tados, atrds apenas de soja, material de transporte e metaltirgicos. XDe fato, utilizando os seus grandes rios, explorando a sua plataforma continental, o Brasil acabou assumin- do destaque internacional nesses setores. A tecnologia brasileira utilizada na construgao de usinas hidrelétri- cas de porte gigantesco e na exploragao do petréleo em dguas oceanicas profundas é uma referéncia internacio- nal, procurada por importantes Paises estrangeiros, como por exemplo a China. y **"Moro num pais tropical, abencoado por Deus’, No perfodo dos descobrimentos, nhecimento acumulado na Eur ene € das florestas dos continentes ja visitados. aDia- i S®, por exemplo, que na diregao austral as tem- Peraturas do ar se elevavam, © apds os desertos € as havia um certo co- ‘opa acerca das tempe- 28. AS FORMAS DO ESPAGO BRASILEIRO yanas do norte da Africa seguiam-se florestas verde- savallas jantesy Assim diante da foz do Orenoco, grande rio fluindo do Sul, Colombo imaginou que o caudal pro- hade umiinterior florestado. No seu didrio registrou que ac mbocadura do Orenoco era “tao grande que ceria mais justo considerd-lo mar ,..¢ eu afirmo_que we rio emana do Paraiso terrestre € de terra infinita, pois do Austro_até agora nao se teve noticia, mas a minha conviccao é bem forte de que ali, onde indiquei, fica o Paraiso terrestre ... .” °O paraiso terrestre passou a ser imaginado como um paraiso tropical. E quando os portugueses se depara- ram com o cenério brasileiro, a mata atlantica e os vink homens desnudos, a cena foi associada A narragdo biblica. O mito de um parafso terrestre na parte meri- dional da América, desse modo, comegou a adquirir persisténcia. No Brasil, essa_id¢ia acabou_se transformando_no_ mito da pujanga do meio tropical, referendado pelo ufanismo em relacao 4 grandeza territorial, 4 beleza da natureza e a riqueza do solo. A ecologia tropical impres- sionava particularmente pelas esbeltas palmeiras e pelas aves que aqui gorjeiam®, Palmeiras que seriam incor- poradas ao ambiente urbano construido, como se fo sem colunas arquiteténicas naturais, imitando colunas Bregas. Palmeiras que foram utilizadas desde a estada da familia real portuguesa, no comeco do século XIX, para conferir majestade ao Rio de Janeiro, como capital do +29. PEDRO GEIGER Império. Flas ornam as alamedas centrais do Jardim Botinico ¢ da Quinta da Boa Vista. Ornavam Aavenida do canal do Mangut 2ncontram-se no jardim do Pals. cio da Republica, antigo Palacio do Catete, e ao longo da rua Paissandu, acesso a0 Palacio Guanabara, resi. déncia presidencial quando o Rio eraa capital da Rept. blica. Assim, “gigante pela prépria natureza” referia-se principalmente a forga do meio tropical. A localizagao_e 0 formato do Brasil, descritos na secao anterior, conferem_ao pais esse carter tropical, Grande parte da sua histéria est4 associada & produgio e exportacao de matérias-primas agricolas e_extrativas de produtos tropical: picais. Ilha de Vera Cruz, em 1500, Terra de Vera Cruz, em 1503, e Terra de Santa Cruz, ainda em 1503, foram os primeiros nomes propostos para o novo pais, indicativos da forca ideoldgica e politica da Igreja, presente nos atos das coroas ibéricas. Entretanto, acabou prevalecendo o nome Brasil, a partir de 1527, como referéncia ao pau-brasil, uma planta do litoral da qual se produzia uma tinta averme- Ihada, bastante apreciada na Europa. Do pau-brasil extraiu-se a primeira mercadoria exportada do novo pats, e o mercantilismo, a outra forga colonizadora, acabou se impondo no batismo final. “Brasileiros” designava inicialmente as pessoas envolvidas nessa eX- tragao e comércio. ¢ De fato, nos séculos XVII e XVIII, a procura por ouro € pedras preciosas resultou no ciclo da mineras40- +30. AS FORMAS DO ESPAGO BRASILEIRO Neste, a mineragao do ouro e diamantes se constituiu ste, a mineragao do ouro € dlamantes seco“ em_importante fonte de riqueza, dando margem_ao surgimento_de_verdadeiras cidades, como_os_centros oO =z histéricos barrocos de Minas Gerais, e 4 transferéncia da capital da colénta para o Rio de Janeiro, entao porto exportador do ouro de Minas. Todavia, o desenvolvi- mento continuo do Brasil, até o crack de 1929, fun- dou-se sobre a produgao e exportacao de produtos tropicais A maioria dos produtos agricolas que gerou riqueza para o pais proveio do exterior, sendo que a cana-de- acticar e o café foram trazidos de outros continentes. Da América mesmo, foram introduzidos o fumo eo cacausJA produtos extrativos foram de plantas nativas, ‘comoa borracha, produzida a partir da seiva das serin- gueiras, Arvores amazénicas (0 termo tropical pode ser generalizado e incluir o equatorial), eo mate, extrafdo de folhas de planta subtropical, a erva-mate. O pinhei- ro do clima subtropical do sul do Brasil serviu para a producao de madeira, Como a partir da porgao meri- dional do Rio Grande do Sul prevalecem os campos, o pinho serviu ao comércio com os centros do rio da Prata. Quanto ao gado, a maioria do rebanho bovino brasileiro acabou se constituindo de cruzamentos rea- lizados na modernidade, de racas provenientes da {ndia com 0 gado “criolo”. Este descendia das reses trazidas pela colonizagio inicial e que de certa forma havia se degenerado, No extremo sul foram introduzidas ragas -31- PEDRO GEIGER inglesas, € para 0 gado Iciteiro foram realizados cryy mentos oe gado holandésg “ Aposigio do continentes ul-americano e seu for; to delgado_e_em_ponta_na parte merididnalo oe ccm f oon ———————— aberto 4 ag§q_da massa polar € suas SUCESSIVaS INvas6 es de massas Trias. Até a Amaze ‘Amazonia, de clima equatorial lal de menor vari iagao fo da tempe! temperatura ao longo ‘do ano, é a atingida por essas invas0es, promovend romovendo a lenomii E ina- da “friagem”. ttopicalsderaliizude, com temperaturas mais baixas. zis. Em t recho: Santa Catarine °s do planalto meridional, como em no Rio Grande do Sul, costuma nevat +32. ‘AS FORMAS DO ESPACO BRASILEIRO algumas vezes no inverno, atraindo turistas das outras regides brasileiras. A tropicalidade brasileira apresenta, assim, uma grande variedade de tipos climaticos. Apesammdessa diversificagao, os climas brasileiros nao provocam mu- dangas € oscilagées tao freqiientes e bruscas como aquelas recorrentes nas regides temperadas, nem oca- sionam tufoes, ciclones, tempestades de neve, ou lon- gas e cerradas neblinas. E quando se canta “moro num pa tropi”, na realidade se faz referéncia a um ambiente eulturalque incorporou a natureza tropical para assu- mir um cardter original. Um bom exemplo €a passa- gem do Ano-Novo na cidade do Rio de Janeiro. No auge do verao, o Réveillon é comemorado com milhées de pessoas nas praias oceanicas, muitos homenageando Iemanja. Entre as doze maiores economias industriais do mundo, o Brasil apresentou um sincretismo religio- so Unico, incorporando crengas e praticas culturais produzidas por africanos ¢ indios das latitudes tropi- cais) NasupraiasidogRiondemjaneite, que sio espacos publicos, osybanhistas chegam p ruas vizinhas em roupas de banho, ou utilizando o transporte de énibus urbanos em trajes sumarios. Os estilos da mtisica bra- sileira, como a “bossa nova”, conquistaram mercados nos centros urbanos mais desenvolvidos do mundo, e o Carnaval, com a sua sensualidade, faz parar o pais por cinco dias. A base da idéia da tropicalia se encontra na percep- so do Brasil como um pais de latitudes tropicais que, -33- PEDRO GEIGER para formar uma nagao ; se » de combina de forma origina uma visio Propria de mo. dernidade, ¢ que relacionaa sua histériaao seu ambien. te territorial. ‘Tropicalismo, assim, expressa de maneira mais difundida e popular a percepgao exposta no Ma. nifesto Pau-Brasil, em 1924, por Mario e Oswald de Andrade. jo tinica, no sentido de singular SS Toral do Sudeste e na Amaz6nia, encontram-se as areas de maior precipitagao anual, em alguns locais atingindo mais de trés metros. Embora as chuvas dessas regides sejam bem distribufdas ao longo do ano, elas séo mais abundantes no verao. O cl{max na Amazé6nia € representado pela floresta equatorial, extremamente tica em espécies, com drvores que atingem até 30m de altura. gens dorio Parana, mas atualmente Cobre apenas dreas reduzidas deste territério, pois foi sendo destruda para dar lugar & produgao agricola. De rn 5 AS FORMAS DO ESPACO BRASILEIRO Para o interior do Br. I, no Planalto Central, o clima tende a apresentar uma estagio seca bem definida no inverno (as pessoas do interior costumam chamar de “inverno” o periodo de chuva). A vegetagao associa- da a esse clima semi-timido € uma espécie de savana, 0 cerrado. No interior do Nordeste, as precipitacdes pluviais sao mais baixas ¢ sujeitas a irregularidades na distribuiga0, provocando ciclos de anos de seca. Em qualquer ponto da regio, as normais anuais de preci- pitagao se situam acima de 200mm, bem mais elevadas dopquegempyariaseregioesedosmundo, (Normais sao médias das mensuragoes meteoroldgicas. Considera-se como boa a normal que cobre pelo menos 30 anos de observagées.) OldFatmaydo.clima semi-dridogd6"Nor- deste expressa mais incuria administrativa do poder puiblico ¢ baixo nivel cultural da populagéo do que um determinismo climatico. Na diregao do extremo sul do Brasil, o clima sub- tropical vai se tornando mais seco. A floresta subtropi- cal, onde se destacam as araucdrias, cede lugar aos campos, a regio da campanha prenunciando os pam- pas platinos. As abundantes precipitagdes que cobrem grande parte do pafs alimentam enormes cursos fluviais que formam grandes bacias hidrogréficas. NasmegiGesipla= nas da Amazénia e do Pantanal, os cursos d’égua tiveram e tém grande papel para a navegacao. No planalto, porém, corredeiras e quedas-d’dgua atrapa- -35. PEDRO GEIGER . 7 is, Esses dois pontos cram acessados, no passado remoto, por animal, e mais tarde por trem. a Agua e floresta colocam o Brasil no centro de deba- tes mundiais, numa época em que o tema ambiental se wornaltaomrelevanite. Regises semi-dridas, como as do Oriente Médio, apresentam altas taxas de crescimento populacional que acentuam o problema do seu abaste- cimento d’Agua. Jé se véem navios tanques transpor- tando suprimentos de 4gua para dreas carentes ¢ tam- bém idéias de rebocar geleiras para aproveitaro que nao for derretido. AS FORMAS DO FSPACD BERS Fay floresta, cobigada por madeireiros, fazendeinn 6 we nos. Por um lado, a Amaonia € ida cain at yor ediscuuidaeniseosespecialisias. Por vutro | de-se a preservacao de sua rica biodiversidade que tema potencial para futuros ¢ diversificados uvs. SAFD Como j4 mencionado, o Brasil nao passa f mene: gran- des, ou freqiientes, desastres climdticos; nZo poss sui desertos nem solos gelados. Nao se encontra sujeito a vulcanismo, tremores de terra (ocorrem apenas, por vezes, pequenos reajustamentos em pequenas bacias de sedimentagio relativamente recentes} ¢ maremocos. OP _ pais parece ter sido capaz de construir uma “civilizacZo © tropical” tando

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