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Ps kiwian ola eater - Dunes 3o# aaa, Fasten ole prada, >it Pie (28)(05) Bose Fiwinvine Om masinsnto: ~ Os Zapabln Mutha ca wide. calidon 3161308 L3MAim Piel, pubybinnt, © Lig onctle 39 S4R VO Jom Db wiconns}* corms J Eau TEREZINHA FERES-CARNEIRO organizedore FAMILIA E CASAL Satide, Trabalho e Modos de Vinculagao, Conselho Editorial Censide Maria de Oe Coen Profesor zante do Popa de P- _padaso eas Peslopa Cin a Fetes Unvesiade Cea de Sto Pala la Bchee Mabie, Peder Asids Sexo Universe de Ba efor Tard Programa de Rrra om Palo de ‘Vorede de Forder ‘ans Frnt Co Poe Ann do Progra de Régrangio em "clog Ces © Cabs de Used de Bia lg Gas Faker, Pfots Acta do Deparaat de gia © Medi int Lea de Une Fler do fin Grande do Sak ~ cana do Palesogo? ngs tant Gama Se Cdl Coes 0 ca) ‘eran Pare, dance Se Bis a a, in Re a et #902 Pein Tie precast, 1 aml SRE a gf one Pl Lit, Eorsw rite tie. TT GED5s ‘Si: wma ae a? Bt , MESSE Ree nom sneer ee ital ui tapi put ne aa, Sumario Axess woven ‘Tein Fires Camera PUC Rio (0 “racha": bincando com a mote para se sent 70 nnn 1 Mari do Carmo Cir de Abide Pra eNetaly Nechosve Marie = VERT nero, mirage sade mental: dimensSe da expeiéncia de mulheres nordexinas no Disrto Federal. : Gliacie .S: Diniz Vrs LD. Coslho~ Ua 35 Cine SIN" $s ida Lary PUCRo Acconstrugio dat metas ¢ priteat educativas na familia ‘contemporines: eda de 80¢.venn 7 ‘Adriana Wager = PUCRS Familia ¢ prcose: uma proposta de itervencio precoce nas primeira cts de soimentopiguco grave 89 Teo ie da Casta Ue A familie nt insexsdo das pessoas portadoras de deficitaia no mercado de taba. ww Jacqueline de Olivers Moning, José Newton Garcia de Are © ‘Roberta Carvalho Romagna ~ PUC Minas Fria cemprego: confitorc expecativas de mulheres execs 5. ede mulheres com um trabalho Mara Leis Rocha-Coutiho - UFR) sr a ‘Transmissao psiquica geracional: um estudo de caso! Andrea Seixas Mages ce Terecha Féres Carmiro Pontificia Universidade Catéice do Rio de Janeiro ‘Av invesigara fami, confrontamo-nospermanentemen- onto de vista pstquco, a fami tem como deaf cental + ramogio da iiidtasto de eur membros, A realizno aS eae pass perancnent do misto 4 Caden geracional A fanfla que autee paigucamente 0 seco Gade Goer Racine FARE anes de sa peg, preparando aera east denne Tsao ter como mr, ng TO ao mundo para germina: sa Rit amkade a "Oe esd sobre tensmissdo psiquica gracional apoatam a radicaldade do papel da heranga psquica © sua importncia na promogto dos processos de subjeivao. (1993) tem um papel Secisivo no desenvolvimento desse campo de estudos. Revoman cdo origem da nogéo de transmissio no texto freudiano, 9 autor ‘Ta deca com apoio do CHP «da FAPERI «com colons ‘Gdael eg Gentes Aline eer de lea CNP Bie ‘Relnte ane IC), Cnes Kechneyer ATER, bela Caan Sr Mas Wa ee RNP, a ren (FADER), Vea Angus Je Souza ENFYPIBI) «da bia Se ‘fi Fen Ree Nesta Macho (CNP. dissinin, meiculoment, a dieesies ounces ¢ deter ‘mentos desse conceito © abre caminhos para a investigagio, no oupo ds asia POGUE lla He ence GGintebjatide to spies tenpo peace Ne eau db abjetragl,o mln esis do sonia am oon a0 tna in tabaloeanroe (Magaies «Freya, 304, 2005), desacamoso papel a fata com inemediia to procean de ranenst,realgnd a posbiades deat Iocnegt events so no etx, Alps etre calachan ce aperos nurs da mansoni geadoe nese praca, Nagi (200) ding dis odor de ane ‘isp a anni inerprcal s3 TangesoTs *)Q princi modo dis respeito Ttansnistlo do nate» Tad piqucmene opis teteese tara a5 Indinvel, dovimpenstvl edo incontesivel. Na clic, 5, ‘Ajovem eat ter presencia muitsbrigas dos pis © at *tosgbe do pa tendo sido levada, mia Yeaes, plat moe da amie coifontarse com as amanes dle Apbs a sparasio coi: ‘alo pal anes + procutoi, endo tido Contato somente com seu limo, A mie, un ato ap6 a seprago,voltou para a cidade do Rio de Janeiro, Contd, fia continuou sendo cada pela ta ica Attalente mt mle mora com um namorado, Neti telata que sa nde tem #8 anos de dade esparncia muito joer. Segundo Nati ame ¢“infand” sempre namora omens mito mas jovets, da faba era da flba. Ela considera que soa mie, de fac, fra ua ia id men da ne ‘Aentevisa de Naif! intent ee relat bastante por amenotzado,revelndo elementos signifies de sn hstia familar, de moasidenscages files, sobretid, de seu iodo de vincilagdo com os pa. Num dado momento da entrevista, 4 jovem enfatzou a importcia de ter «oportnidade de conta ¢ de retoma sua biti. “Foi até bom voc terme chamado au pr alr sobre is, pois eu munca tka paado para pensar”. ‘A joven faz uma aus a0 trabalho de aproprago de sua histria rabalho que eavolve recordaee claborae ssa fla ei dencia valor do material discursive oignado na etevis fm _/eezturaa. E,enbora esse material a tena sido produxido 20 { Gontexto da clinica, «esata do peguisador com enbasameato \ to enfoque clinico, eniquce, sobre, « cmpreenoto dos os. Aa flr para um uvingespeialt, 0 pesuisalar, 0s. it enevird ene ina ring des pei jetivo. Nessa sinagio especifca, no contexto de nossa investiga “Bode campo, o entrevisado leva a te confontar com 0 ‘significante conjugalidade no percurso da cadeia de transmissio serconal ‘ho longo de entrevista de Nadi, vcioe temas relativs 2 cosjuglidade frum sbordadase, pra o bjesvo do presente e- tuo, detcamoe ae sequiner categorise andi: 0 lar da conjugalidade no projto de vida, concepts, expecttivas ide. tis de conjugaliade, relagdes amorosas, ientfcacdo« diferenci- ‘ato na familia «influincia da perapeto da conjubaidade dos pis, Neste estado de cas, realgamos 0 modo como esses temas foram engendados no percuso subjetivo de Natalia, sm perder de vista os elementos gue sfo comuns a0 grupo de entevistados como um todo. (0 lugar da conjugalidade no projeto de vida No projeto de vida de Nati, o eabalho € destacado, a vida profsional é priorizads. A priorizagio da vida profsional Cridenciow- 208 projetoe de vida da maioia dos javens entrevis- fados, tanto omens guano mulheres. A minoria inclu esponta- ‘neamente 0 casamento em seus planos (es homens e ers mulhe- 1s) Somente dois homens entevstadsfalaram sobre o plano de ter filhos, sendo que o plano surge secundariamente e vinculado ao casamento, Nas mulheres, em segundo lugar, surge o deseo de ‘ermfe, nem sempre vineulado ao casamenco. A maria das mmi- Theres entrevitadas (cis dente set) inluram flhos em seus pro- jgtos de vida, sendo que quateo dlasndo se imaginavam casadas. importance acescentar que a maiora das jovens enrevstadas avaliara a conjugalidade dos pais como muito insatsfatéria (seis ‘mulberes) O diseurso da jovem Nevis iustra um elemento pre ene nas falas de outasjovens encrevitadas a desvineulagio en teeter hos, coniiuir uma Famili, e casarse "Pretendo tabalbar na mina drea, estou etudando pers aso. me imapino casads, mas ten vontade de ser me Endo 4 go, me magna com filko, mas ndo asada dagui dex ae" ‘A prevaléncia do plano de ter flhos no diseurso das mule res entrevistadas vem confizmar resultados de pesquisas anteriores que afrmam que, apesar da tendénca ase apagn, pouco a pou 5, nas sociedades ocidenais, a linha que separa os campos da mnateridade e da pateridade, permanece mais forte nas mulhe- res, 0 decjo de ter filhos (ties, F. 1996 & Péres-Carneiro, 1999), Quanto ao projeto de sezem mies olsiras, Sapiro eFées- CCarneio (2002), 20 dscutirem a questio da "produsio indepen dente, ressaleam que esta escolha representa para a mulher, uma saida dante da iuposiio colocada pelo deseo de totnarse mae, deseo esse recaleado por meio do discurs sobre a independéncia 2 realzasfo profisional. 'No caso de Natiia,o lugar da conjugalidede evidenciase em aua fla sobre seus planos para 0 fuuro, por meio de wma negativa. Ela desea ser mde, mas nfo se imagina casada.Ajover, ‘manifesta uma ruprara com as convengées socias que teidem 8 ‘incular maternidade & conjugalidade. Por outro lado, manifesta ‘sa ambivaléaca em relagfo ao casamento, 20 negi-o. Anegativa pressupde una afimativa rcaleada. Freud (1925) postula que a negativa é um modo de dizer algo que 0 sueito preferiia recaeat [Na negativa, a fangiointlecsal eo proceso afesivo enconteam se dissociados, Nossa hipétese € que, 20 expulsar a idéia de conjugalidade, Nala tena se lvrar dos afetos desagradives que tstio associados aoe modelos de conjugaidade introjetados. Po- demos, ainda, interpretar a recusa da conjugalidade como uma ‘expresio do apisionamento cadeiageraconal,a umn contetido teanageracional, A presso familiar softida por seus pais para cas rene, evido& gravider, fi transmitidatransgeacionalmente © ‘manifestada na reegSo 20 casamento express no discus da fi Ta Natalia. Concepsdes, expectativas e Ideals de conjugalidade [Nata considera que o casamento € uma “troca de interes ses", tem curta Guragio, que eu Gnico aspecto positivo, “quan do dé certo, €fornecer uma esteutue familiar, uma base para ter ‘ios. Mas, sua vvéncia familia ¢ sun obseragio sobre as expe- ‘éncias dos amigos conduzem & concepgio de casamento, como alg baseado em inereses materi, em sonhos de glamour e em conveninciss. "Tom is casos na mina fami de casamentos que x80 era cert, Entdo assim, o temo todo eu 16 vendo iso. Que 0s cas do devam mato tomo. Amigos mous se csaram ¢ depos de wn ano se separra. Argos meus Que casa sant gotta Af treo lance da troce, meas toca material ue eu ‘acho que conta muita, ds vec. Sabe, eu jd v ois asi Crimes marailosas, que depois de wm tempo. Caramba, ‘aguele csalquorendo se matar ou, sabe, quero. mata 0 outro, Estdo, dn, ese glamous, st coisa toda, eu acredito ‘ue pode dara um certo tempo” ‘Aconcepgio de conjugulidade de Nata, por um ado, fun- éamentase em sues vvéncas familiares e, em grande parte, cele ‘uma tendénciacontemporines apontada, dente outro suo es, por Giddens (1992) ~ a énfase no amor confluente © 10 relacionamenta puro como base das relagbes conjugai. Uma das caracteistcas do laco conjugal contemporineo é«vincuigio dos Darceeos apenas & prpia rela, que se mantém,enquanto for ‘antajoss para ambos. No amor confluent hi uma énfaseiguali- tériano dar receber aft. No amor romntico, «alma gémes, stor idealizado,o parceto especial etnico é valorizado, ao invés e prioriaarse o “elaconamento especial”. O amor conluente & lum amr ative que vai de encontto ay categoria “para senipre™ € “neo” do amor romfntica. Sendo aes, 2 separagio & conside- sada um possvel desdobramenta do easamento, Por outa lado, o dscurso da jovem Natl também denota uma intense ideaizagdo da conjugaldade. Por vezes, ela se vefere 20 desejo de ter um casamento de contos de fadas e de poder sereitarnaflicidade duradoura, Mas, recta decepcionarse, "Bu ico penando: Ser ue vale a peat Send que vale a pons todo aguas glamour en lis de wom eaxarento, (71 tu sono entrar naira? Claro. Bs a tbo sono de entrar naira de véu egrinalda, Mas, 6 vm sono que pensendo am sudo que pode acantecr, no seh se extra, enondeu,coragem.. A feliidade me assis As uees, etl Tipo, pus, sen me enngar totalmente se amanhd ndo amanbecer do eto que etd hoje. Ex queria tora fala perf, sabe. Mas ese lance de oct ndo ecrediter.. ara algo dar certo voc8 tem que crediar”, (0 modo como Natiisintojetu suas vivéncias familiares relatvas ao casamento levaram-na a desenvolver uma profunida ambivaléncia em relato ae ago amaroso. lugar da conjugalidade foi consirudo com bate na intojeo de um modelo de relagéo™ no qual prevalciao desexpeito entre 0s paceios; ese um ele- Inchto da tansmisefo familiar. Ao falar do dastespeto de seu pat Asan me, a menina se fande com a mulher e ila com sua mie. [A deslaldade presen na conjugalidde dos pais aavessa as ge- rages, matcando o lugar do laga amoroto no psiquismo da filha. ‘© vinculo amoroso pasa a ser pereebido como um lugar ins 10, um lugar de desamparo “Un bomen que fo casa com soa mealher ev fib, acho qe mati que ele tom que ter € rept. Eu acho gua mes. sino eve reset com @ minha mide, nee (pu). Pri palnente com a minba mae, «comigo, com miu rade. Cam ‘gente. Endo, pode at ser ese 0 reflex dso tudo, de ex'na0 ‘crediar ee hom Eu sempre flo com ominha me, que ex tuned vou admits que omar rankum fa comigo 0 gue ele Fez com oa" A jover desenvolveu um sentimento de baixa auto-stima de inseguranga emocional. A possbilidede de confiar no par- cxiro eth diretamente relacionada ao sentimenta de auto-etima esenvolvido nos primeiros anos de vide. De acordo com Freud, (1914), s autores depende iotimamente da ibido narcsisa, Sendo sisi, toda reaizacio pestoal € um remanescente da oni poténcia infantil, coniemada pela experiéncia, Na infincia, em Sande medida a experiénca de confirmasio ¢ reterads na fal fos pase de seus subatuos. Nala identifica fala de invest ment afetvo dos pais ede seus substrates, durante su infincia, A pare da falta de reconhecimento de suas potencisidades e da fala de incensvo ao seu desenvolvimento ariginow-aeo setimen- te de incapacidade de acreditar em si eno outro, Nala pecebe- fe presa num ciclo de empobrecimento do ego e, consequente- mente, de diminuigio da auto-stima, "Quando vock& pequana, opis flan: “No, vai fib, lel que voc no ia ail”. undo ive es cota. [Bu acho que sempre ve mado defer ar coisas. Meus tos ‘rigavan comigo, meu tio ene muito rigde, as veces ele sme dava umaspalmades. Ext, ew tnka aguele medo, sabe, Tipo: Ndo, no vow poder fazer seo eu vow apa rar dle. Seno, oe eu fe ele no vai me perdoa por fet. Bt xe lace da minha sepa, de ex nd creditar wm pouco em min. ue eu pos estar conus: tendo ald, pos estar conquistondo mone, Por (qu aqule cra gota de mio de vedade. cho que io vem sr oso di ca mina infra, sbet!” Relagdes amorosas Nata, 20 falar de seus relacionamentos afeivo, expressa insegurangae difcaldade em aprofundar os vnculos, A entrevita- ‘da conta qe teve em nia namoro longo ~ dos anos de duragho ~ «que, nosslkimos tempos, evita compromissosafetivos. Durante teste namoro, aproximadamente apés um ano de relacionamento, relata ter midado radicalmente sua percepéo acerca de seu par- cizo, apontando para uma descontinuidade no vinculo. Houve sum quebra de ume imagem idealizada do paceiro, uma desl lo, Eiguer (1984) resealta que a ultrapassagem do momento ini ial de idealzagto do parcero, do momento de apaixonamento, do reconhecimento de sus falhase imperfeiges, implica na capa- sade de aceitar a castragio, de ida com a incompletude no vin- culo amocoto, Tal passagem € necessria para a evolugéo do vin culo amocoeoe pressupde o reconhecimento da alerdade. "Ba jf ve vomade de me casar com wm namorado. Pai api sxonada gente ficou dos anos... Ble era 0 omer da minha via, 56 que, depois de sm ano, tudo que eu achava que era erito © maravlhoso pasow att sr mai". [A ambivalénciatelativa is relagdes amozosss, presente no discusso da entrevseada, expressa um compromisso entre seu de- sejo de ser amada, por um lado, eo senimento de desamparo € rejeigdo, por outro, Ela catroge a rejicio desde o vente de sua mde (que teve que se casar por causa da sua gravider),repetindo rovimentos de aeitagio e de recusa em suas aproximag6es amo- roses, deseando aqueles que a rjetam e recusando aqueles que a Gescjr. Fogee reencontra sea destino, marcado pelo deseo dos ‘pai, reatulizando-o nos ses encontros amorosos. Nata “fone” ‘ereencontea a sua realidade psiquicatansmicia geracionalmente, ‘nama tentative afitiva de metabolizcso,cheia de sofrimente, “hs vues, eu acho que ex nai para ser slteia .. Mi rhs amiga ze que quando o cara quer algo comigo, fe com, Bu acho queda forma de eu agi da re dade, Eu no acrdito que ele psa gostar de mim. Ex cho que 0 amor tax maa dor” Identificagao e diferenciagio na familia (© mecanismo de identifiegio, revelado por meio de uma ‘avedade de modos e posibilidadesidenifica6ras, constimi a base do proceso de transmisda plguia. A comunicacio de contetdos ‘nconsienes familiares ocoer po meid is identiieagbes fami 1, a partir dat relagSes mais sgnficaiasda vida do sjito. Nats li, tendo sido cudsda e crada por dilerenes parenes,e tendo sido acolhida em diferentes le, itrojetow esnttiou os diferen tes modos de pertencimento familiar, produsindo um modo singu- lar de constragio das noges de familia e de conjugulidade. Meyer (0983) conceit famildede como uma parte do psiguimo cos tantementestivada pela experiénia da inceracio fama. Sua fun- so bésica &onganizare manejac as experidncias reais de ineragio familiar e, a0 mesmo sempo, consul um aspecto fundamental da idenidade do sujet, A familidade dix rexpeito & natureza itrinse ‘do sijeito enquanto membro de uma farts. Fread, em Totem e Tabu (1912/13), enunciara os modes mais primitivos de transmisido psiguca, diferenciando a trans- _Rissio por identfcagzo ane modelos patents de uma transmis: < “slo mas ampla, de eragos das geragdesentepasadas. A sgesto ¢ ‘6 desampaco so elementos fandamentais part 0 emnsmissio ‘emocional ede dessmparo, apresent-se permedvel A absorcio de conteidos de transmistio familiar. Esses conteddos constittivos e, portanto, necessiios. ‘Segundo Katy (1997) 4 fara apresenta um duplo eixo geruturante. No-elxo horizontal, ofetece suporte por meio das ‘lenificagSes mituae com seus familiares. No vertical, nscreve © sujeto na cadea de filiagio e das afligées, no eixo geracionl ssa dapla vineulagfo abee 0 velo di ‘emobilza o trabalho de sibjeivagio que se far na inversubjervidede ‘As vivéncae familiares de Natéla frmaram um legado re talhado, fragmentado, de modelos de familidade ¢ de Vo \ ol alent sh hvos ‘conjugaldade. Em sus tajetéria, a experitacia de ter vivido em diferentes nicleos familiares ~ as casas dos tos - consttwia wma base inssvel para construcio de modelos derlaci. Ela vivenciow algumas relagdes na posgio de “espectadora 0 que dicalto @ apropriagio das experiéacas familiares ¢ a integrasfo no sea psiquisme. “Quon eu ainda tha vr pouguinbo dl presanga de Dai e mde, que foi muzo pouco, que eu lembr, txha ‘agula coisa de ex i para a exo, supa me levave, inka mde ia me buscar 6. E depos dio, geo a ray que ex comece a mor am cade toe as, fo completamente diferente, porque eu era espctadoa. Ea tava alias a fama, n. O que acontecia na fam lia Porque. ou esva ali, mas ou do ea da fanefia. ‘meu to © a minha tata 2 filo, eno era ume ratamentodiferonte que eles davare pra rim. Por mai ‘qu: Ab, soot & de fails, & como voc foe fib. Mas, ‘nfo 2 maema cots, entendeu?! At porque eu jet i, i sabia que estavaacontecendo. Nao tina nem como ex me entrap a cu tio ow minha ts coma se Yosser nex pai ea web mae” ‘A insabilidae dos lagoe familiares e a descontinuidade das experincias de Nata forneceram modelos feigeis de identifica- ‘io familiar, modelos de dif acess e apropriagto. O sentimen- to de entrega ede confanca prsentes no modelo de dependéncia infant, so o solo do proceso de identificaco familie. Fre (1908, 1912) resslta que a posigho de submissfo da crianga a0 salto condos & sugestionabilidede, A parts do desamparo e da fugestionabilidade, abre-se 0 eaminko para a identificagio ¢, contequentemente, pars a tansmissio psiquica. A fala de Nat Jia aponta um ressentimento por ado ter tido & experitucia de centrega ¢ confanca necessrias& conscrugio de um sentimento de pertencer a faa ¢& possibildade de introjetar os modelos de familidadee de conjugalidade de modo atvo. O sentimento de cexpectadora remete &fungio de absorcio passva dos conteidos| ‘ransmitidos, O investimento afetivo que vneuls 0 sujeito © suas vivencias familiares é forga propulsora dos processos de subjeivagio, Dente a cages familiares mais sgnificatvas de Nati, destaca-se a sua relagdo com mua ta materna im gémea de sua mie, Na nosea hipétes, ess tia € um duplo de sua mée, uma versio aparentemente oposta,espelhada. Ela representou a pos: bilidade de demtfcagio com o negativo da mie. Natsia morou a raior pate da vida com esata etomou-a como modelo impor- ‘ante de idemtfcagio, Nesta bse, encontramse elementos que reforgam a recus 8 conjugalidade. “Minba t coma se fsee minha mde, Coma minha ta eno ais ex coisa.de tudo, de cxemplcidade, deserts fale. Mi ha ta quando vai, ox fico mal. Endo, minha mde eu ndo into tot flan. A minha ta &soltciona, ola munca tev fis Tho, & (pases), Nica ee zou. Teves nota que duro ste ‘as, nae ndo ecto Eu flo: Ti vou ser quale senho- ‘1 pualinho. Tado mundo fle qu o nosso corpo igual, ud, Ea peronalidade vai ser qual también”. Natilia revela, em seu discurso, 0 quanto se pereebe setivamente vineulada ia eo quanto incorporou alguns de seus stzibutos fisicos e pucoldgicos. Ressalta-se que, ness contexto familias, a mie confiow & sua irmi a missdo de cuidar da filha ese esincurbia dese taefa, pasando s condusir sua vida a partic de luna posigdo simétrica & de sua filha, rompendo a comple mentardade e transgredindo a ordem geracional.A mie, segundo [Natilia,€“infanl” e namora homens dt mesm faa ecria da fia, Ao teansgredie a ordem gercional, a mie aera sua posio ‘como objeto de identiiagio, A ia assume um importante papel para a manutengio da fangéo obetlizante (Green, 1993), ofere- ‘endo-se para esabelecer 0 confrontointerubjeivo com a sobs rha-fila. Como aficma Kads (1993), a familia € espago origins tio da intersubjeividade, Os elementos desse espaso estio em telagio de diferengae complementaridade CConstatamos, nese cago, que 8 conjugalidade recaleads, ‘manifestada por meio da negativa, € a conjugalidade dos pais series com 08 Outros familiares [Notiliaprefria nfo se maginar cosas, de acordo Com 0 modelo de conjugalidade intojetdo. De modo semelhante, a rela en ‘ne Natalia e sua mie levou-a aconstuir um ideal de materidade, {gue se opt abertamente 3s suas vivéncias. “A imatridade nto deizou, Nao deeow ae minha me de enmpenbarero papel dels. rtdo (pausi). Ex acho que ex ow ser wna tina mde, Ex acho que mide tor que eguecer ssid tudo, Cera, quando vocdé mae, vod esquece de voeb 1 pons no se filbo, Eu acho gue a mina mde munca esqueceu ela, abe Ba compre colocou as estas as rigs. Bla sempre a fete de tudo. Ex aco que tne gue abrir do de algunas cas pra pensar no seu flbo", ‘As condigdes de diferenciagio entre of sujeitos, nese con texto familiar, difcltaram a construcio de um lugar para a ma termidade e para a conjugalidade. O investimento narcisico dos pais em Nati ol insufciente. Consequentement, nfo se ofere- teram como objeto de investimento, nem como pais, nem como ‘asl, E, assim, Natdis parece tt ficado aprisonada numa tea identifiatéria, que no favoreceu uma metabolizagio dos mode- los familiares introjetados. Influencia da percepgao da conjugalidade dos pais. No que diz respeito 4 influtncia da percepgio da conjogalidade dos pais nos projetos de vida dos flhos, a maioria dos jovens entrevistados, na pesquisa, afirmou que 0s pais sio um ‘modelo ano ser seguido. Mesmo nos casos em que aconjugalidade os pais oi pereebida como muito satisfaéria (ets homens ¢ uma mulher), doishomens nfo inclrem o csemento espontanesmente ros seas projerat de vida e consideraram que o cssamento dos pais era sufocante ou que fariam muitascoises de modo diferente do que vivencara Podemos consderar que, no caso da recusa do modelo dos pis a heranca conjugal é to aprisionadora que eles desjam faner © oposto destes. E, quando no r8m uma percepedo clara da inf ncia da conjugalidade dos pais, ou tém eessentimentos elatvos a esa percepeio, quer conseguem intuit a idéia de conjugalidade nos sus projetos de vida. Foi o que resalou Nats “Ex soo tipo da pesson que procure ndo me envalver quae acho que no vida eta. Eu costume achar ‘que no wai dar orto, Eu ajo mito de elacionamento. Bu acho que 0 amor trax muita don Extdo, eu profi ado me apaizonat. Ex sempre flo com a mina mde, ‘qu eu sca vo advair que homer nenhurt fag co- ‘goo que ele (pai fox com ela A literatura enfatin que a ordem geneal6ica fornece ele rmentos para a construcio das identidades e o reconkecimento da sueito como semelhante ans demais do seu grupo familias, O sentimento de pertencimento 20 grupo familar favorece a iden- tficagio ea diferenciago (Gauljac, 1999 8 Carreteto, 2001). [No caso de jovens como Natlia que reagiu de forma defensiva em relagio & hissria familar, evitar os elacionamentos amor’ tos & um modo de proteséo contra « posibilidade de repeticio a ssa de padres familiares, Compreendemos que 0 percusso de eabo tei de sae marcas idensiériasnlo vihizow a neces dife- renago da heranga dos pis, consequentmente, a possibidar dedeconszugio de umn projet de conugulidadeaurdoomo ‘Alguns autores resaltam que a separasio conjugal pode, sta ens, promorer mais side emocioal na fai do que manutengio do casmento quando ee € font de mutes coli- toanoreaavidose¢ pouco pratifcant pra ov coupes (Cosa, Peres Carneiro 8 Penta 1992). ‘No caso de Natl, a separagto conjugal dos pls fi perce bida pla ia como um no enfentamento dos confitos cons ‘ise uma fags, por pace dees. A separasio nfo represenou, ‘este cuo, rrlado de um proceso de eaborgto da dsl {fo da coniugaldade. Dese modo, o lugar daconugaldadead- Quis a marca da imposbildade. Amor esofimenco esto indissoluvelmenteigados, no enendimento de Nata, “Minha mde munca teve esa garra de: Ah nao! TO me ssparando Vou cmbora masmal Tet que a minha mde fot emboraescondida do meu pai, ela ndo ove , sabe, ‘aguelacoragens de flr: "Oth, eu quero me separar de oct, ox embona com: mens flbos". Nao, ela fi embora icone dele, Eneo, ne, cho que ode ois, tut area em lacionamento. Eu echo que ri Est ‘nto acradto om homam E quanto mais ex me decpcio 1, menos ou acredio”. Consideragses finais A partir dese estudo de caso, ilustramos e discutimos a posulao, segundo «qual o lugar que 0 caanento ds pais ocu- pa nos projeros de vida de seu filhos, parece estar relaconado ‘om o modo como 08 jovens se apropriaram de sua eranca fami liar ecom a discernimento sobre 0s aspectos da conjugalidade dos pais qu of influenciam. necessvio elaborar uma difeenciagéo ite heranga familar ¢ as rnsformacées pasiveis de serem as pelo flor. Em trabalho anterior (Magalies e Fée= “Cameiro, 2004), resltmos que o desrelamento ds elos da ca dei geracional das posigdes ccupadas pelos familiares uns ex telago aoe outros, posgdes esas cambidvese mitiplas, permite 0 sjeto nfo somente a apropriagfo de eu lugar a transmisio, ras também a relaviaréo de ua miso. "Arelnvizagio da miso implica na resto do seu valor simbolico, et valor de compromisso com 0 grupo familiar e com 2 humanidde. Exist um gat, no psguismo, para a onganizasio ta conjugaidede,e esse € constiutdo, em grande medide, pelas imagens efancasasrelavas 8s ariulages do romance famiiat ‘ngeradis pelo mete A partir da andlise do modo como ds 1 percurso subjetvo, 2 organizagio do lugar da conjugliade, ‘odemos melhor compreender 0 gar do casemento nos projetoe dos jovens important contextulzro Inga do csamento no proj- to devi dos jovens, sem perder de vst a dimensio da herana, a consitugio da sbjvdade contemporinea, Fm nossa inves: tigagio mais amp procuramios compreender como os jovens tnizevstados, integrates de constelaghes familiares tio plirais, tlaboram suas percepg6es sobre a conjugalidade dos pais, suas possi slterativase modelo de dentifiacto, Constatamos que ® possbilidade de esrutarar um lugar para s conjgalidade no siguismo depende,sobreedo, de condigbes de diferenciagtopro- movida na familia, independente da situgio conjugal dos pais © dos niveis de satstagio conjugal peechida pelos fos. O oxo discutido nese trabalho buscou cuciar alguns dos mecanismos implcados nese proceso REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS Barn 1 (1979). Audis de conto, Lisboa, Maris Fonte, Bauman, Z 2004). O anor lui Rio de ani, Jorge Zabae Benghori, P.(2000) Traumatmorprecoces da rang ane ho peneslgica em sari de ervey ectisroeshumsnitiat Desmalhar eremalhar continents genesgioe faites eco ‘munities. In: Cores, OBR, (Org), Os aatre da tamomieio siqucegeracional, So Plo, Ei Carrere, LC. (2001), VinelagSer entre romance faire ax jet soci In:Féres Carneiro, (Org). Casamentoe fama: do social & clvica, Rio de Jancis, NAV. (Cota, Li Férecarnsiro, , 8 Pess, M.A. (19), Reongni- es fairs: as posblidades de sae a pated sepregso Conjugal. cloga: Tore «Pep, 8, (2, 495-03. igus, A. (1984). Um dod prea fmf, Poro Alegre, Artes Miia, 1989. ere 5, (1909) Teansfertacia einrojeto.tn- Obras comple. 1s, Sip Palo, Martins Fontes, 192. Ferena,S. (1912). O concede nejeto. ka: Obras comple #95, Sto Paulo Mans Fontes, 1992. 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