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Caprituco 4 PRAGMATICA (PARTE D) FERNANDA Dreux MIRANDA FERNANDES INTRODUCAO [7A] ebietivo desta parte da L anilise dos aspectos funcionais da comunicagio, ou seja, ainvestigagso dos usos da linguagem, Neste momento ‘udamos 6 foco de andlise da inguagem, conduzindo o olhar néo mais para sous aspectos formais, mas para 0s aspectos funcionais A andlise das intengées ¢ consequéncias de qualquer processo comunicativo evidentemente é um Proceso complexo e revestido de subjetividade. 0 que se propée aqui é um modelo relativamente simples de andlise, que leva a determinacao do perfil comunicativo do sujeito e que pode ser Utilizado como base a partir da qual possam ser discutidos os aspectos formais da Jinguagem e suas inter-relagdes com outros aspectos do desenvolvimento. Nese sentido, a unidade minima de anélise € 0 ato comunicativo. Levando em consideracao os diferentes tipos de atos de ADEW - TESTE DE LINGUAGEM INFANTIL Nas Anvs Fonstocts icant, Rubin PascAcA, fala e as significagdes de cada elemento da frase 6 que determinamos seu significado como um todo. A analise também leva em conta os aspectos nao lingufsticos da comunicagao e todos os meios comunicativos utilizados. Os dados obtidos permitem a analise do espaco comunicativo ocupado pela crianga numa situacao interacional € dos recursos comunicativos de que ela dispoe para tanto. Sua habilidade em aspectos formais da lingua ficaré evidenciada por meio de elementos como, Por exemplo, 0 uso de diferentes meios comunicativos. Esses dados serao extremamente significativos para a determinagao de procedimentos de intervengao terapéutica na drea da linguagem, além de fornecer elementos objetivos para a posterior anélise dos resultados desse processo. A determinagao do perfil funcional da comunicagao representa um elemento fundamental para 0 fonoaudiolégico, @ anélise das habilidades da crianga para diagnéstico medida que possibilita usar a linguagem com fungées comunicativas, em sua relacéo com aspectos mais formais. Essa investigagao poder contribuir para diagnésticos diferenciais dentre diferentes quadros clinicos - como alguns quadros de disturbios especificos de desenvolvimento de linguagem ou os transtomos inclufdos no espectro autistico - e para a caracterizagio de dificuldades especificas de criangas portadoras ou nao de outros distuirbios de comunicagao. APLICACAO A aplicacao desta parte do teste envolve a gravacgéo em video de um segmento de trinta minutos de interagao com um adulto familiar - ou 0 proprio fonoaudidlogo, se jé houver uma boa interagdo com a crianca - o registro dos dados no protocolo especifico e a transcrigdo dos dados referentes a crianga para a Ficha de Sintese (Anexo 2) COLETA DE DADOS Assituagao de coleta de dados deve propiciar um contexto comunicativo rico © 0 mais espontaneo possivel. Em geral as atividades lidicas vinculadas ao interesse da crianga, proporcionam as melhores situag6es comunicativas. Para a investigacdo diagnéstica é aconselhavel a participagao de um adulto familiar & crianga, mas em reavaliagées o préprio fonoaudidlogo pode exercer essa fungao. Assim, a situagao mais apropriada A coleta de dados é aquela em que mae (ou outro adulto familiar) e crianga brincam num espago em que haja diversos estimulos adequados a idade da crianca e aseus interesses e em que ambos atuem © mais espontaneamente possivel, enquanto 0 fonoaudidlogo realiza a filmagem. Uma vez que seréo analisadas apenas as iniciativas de comunicacao, torna-se interessante incluir estimulos que propiciem situagdes comunicativas especificas, como brinquedos defeituosos (por exemplo: carrinho com uma roda caindo, boneca com a roupa vestida ao contrério, lapis com ponta quebrada) ou situages probleméticas (por exemplo: um brinquedo dificil de ligar, algo interessante dentro de um pote transparente dificil de abrir, um estimulo interessante fora do alcance da crianga) ou até situacdes “desagraddveis” (por exemplo: um barulho desagradavel; oferecer @ crianga algo que ela nao aprecie, interromper um atividade em que ela esteja se divertindo). De uma forma geral, deve-se procurar estabelecer uma situagao simétrica — em que 0 adulto nao tenha que ensinar ou ser condescendente com a crianga ~ na qual as iniciativas de comunicacao ocorram de forma natural e diversificada, Outros estudos sugerem que situagées como folhear livros, desenhar, jogos de damas ou xadrez em geral conduzem a situagdes de interagéio menos variada, devendo ser evitadas nesse processo de coleta de dados. Diversas pesquisas indicam que uma filmagem de trinta minutos resulta em uma amostra de comunicagéo suficiente para a andliise, ANALISE Aanilise das gravagées envolve os seguintes aspectos: comunicativos: 1. Atos comegam quando a interagao adulto-crianca, crianga-adulto ou crianga-objeto é iniciada, terminando quando 0 foco de atengao da crianga muda ou hé uma troca de turno. 2.Meio comunicativo: 0s _atos comunicativos so divididos em: verbais (VE) (os que envolvem pelo menos 75% de fonemas da lingua), vocais (VO) (todas as outras emissées) e gestuais (G) (que envolvem movimentos do corpo e do rosto) 3, Fungées comunicativas: divididas da seguinte forma: pedido de objeto (PO): atos ou emissées usados para solicitar um objeto concreto desejavel; por exemplo: G (estende a mao para pegar um objeto); VE “qué u bincu!"; “bola”; “pega u carrinhu"; ; pedido de agéo (PA): atos ou emiss6es usados para solicitar ao outro que execute uma acao, incluindo pedidos de ajuda e aces que envolvem outra pessoa ou outra pessoa e um objeto; por exemplo: G (crianga puxa 0 adulto para a porta); (crianga coloca a caneta na mao do adulto e indica o papel); VE “sente aqui”; “joga”; pedido de rotina social (PS): atos ou emissées usados para solicitar a0 outro que inicie ou continue um jogo de interacdo social. E um tipo. especifico de pedido de aco que envolve uma interacio; por exemplo: G (crianga atira-se aos bragos do adulto para que ele a levante e gire); VE “um dois i jé!” (quando pula de um banquinho); . pedido de consentimento (PC): atos ou emissdes usados para pedir 0 consentimento do outro para a realizagao de uma ago. Envolve uma agdo executada; por exemplo: VE “podi pinta?”; + pedido de informagao (PI): atos ou emissdes usados para solicitar informagées sobre um objeto ou evento. Inclui questées “wh” e outras emiss6es com contorno entoacional de interrogagéo; por exemplo: G (crianga esté escrevendo, quando acaba olha o terapeuta para confirmar se esté certo); VE “de quem 6?"; “que més 6 férias?"; Protesto (PR): atos ou emissdes usados para interromper uma agao indesejada. Inclui oposicgao de resisténcia A ago do outro e rejeigao de objeto oferecido; por exemplo: G (crianga levanta-se assim que o adulto chega perto); VO (crianga tira imediatamente o brinquedo quando © adulto mexe nele); VE “para!” (interrompendo a atividade ou a situagao); reconhecimento do outro (RO): atos ‘ou emissées usados para obter a atencao do outro e para indicar 0 reconhecimento de sua presenga. Inclui cumprimentos, chamados, marcadores de polidez e de tema; por exemplo: G (crianca olha e esconde © rosto, brincando); VE “agora é voce"; exibigdo (E): atos usados para atrair a atengdo para si. A performance inicial pode ser acidental e a crianga pode repeti-la quando percebe que isso atrai a atencao do outro; por exemplo: VE “olha!"; comentario (C): atos ou emissdes usados para dirigir a atencao do outro para um objeto ou evento. Inclui apontar, mostrar, descrever, informar e nomear de forma interativa; por exemplo: VE “esse carro 6 um fusca"; “palhago engracado”; + auto-regulatério (AR): emiss6es usadas para controlar verbalmente sua prépria agdo. As emissées Precedem ou ocorrem ao mesmo tempo que o comportamento motor; por exemplo: VE (crianga soletra enquanto escreve); “calma”, enquanto tenta empilhar varios blocos; nomeacao (N): atos ou emissdes usados para focalizar sua propria tengo em um objeto ou evento por meio da identificagao do referente; Por exemplo: VE “o rei, princesa, sol, castelo”; + Performativo (PE): atos ou emissées usados em esquemas de acao familiares aplicados a objetos. Inclui efeitos sonoros e vocalizagées ritualizadas produzidas em sincronia com © comportamento motor da crianga; por exemplo: VO (onomatopéias); VE “alé, quem 6?” (com um telefone); exclamativo (EX): atos ou emissdes que expressem reagéo emocional a um evento ou situagdo. Inclui expressdes de surpresa, prazer, frustragéo e descontentamento, sendo imediatamente posteriores a um evento significativo; por exemplo: VO (crianga grita quando batem a porta com forga); VE “ai!” (quando perde 0 equilibrio); Teativos (RE): emissdes produzidas enquanto a pessoa examina ou interage com um objeto ou com Parte do corpo. Nao hd evidéncia de intengdo comunicativa, mas o sujeito esté focalizando sua atencao em um objeto/parte do corpo e parece estar Teagindo a isso, Pode servir a fungées de treino ou auto-estimulacao; por exemplo: VO (crianga ri com cécegas); + néo-focalizada (NF): emissdes Produzidas, embora o sujeito nao esteja focalizando sua atengéo em nenhum objeto ou pessoa. Nao ha evidéncia de inten¢ao comunicativa, mas pode servir a fungées de treino ou auto-estimulagao; por exemplo: G (pulos, balanceios, auto-agressao); - expressi 4 Practica Peete} VO (gritos, murmirios, vocalizagbes sem entoagdo); VE (algumas emissées de ecolalia imediata); + jogo (J): atos envolvendo atividade organizada, mas autocentrada. Inclui reagées circulares _primérias, Podendo servir a funcdes de treino ou auto-estimulacao; por exemplo: G (crianga escreve); (crianga rola bola e observa); (crianga desenha); exploratéria (XP): atos envolvendo atividades de investigacdo de um objeto particular ou de uma parte do corpo ou da vestimenta do outro; por exemplo: G (crianca examina a filmadora); (crianga examina um brinquedo); narrativa (NA): emiss6es destinadas a relatar fatos reais ou imaginérios, © pode haver ou nao atencao por Parte do ouvinte; por exemplo: VE “af o guarda pegé eli assim i amarré...."; de protesto (EP): choro, manha, birra ou outra manifestacdo de protesto nao necessariamente dirigida a objeto, evento ou pessoa; Por exemplo: G (crianga senta-se no chao, chora, bate as costas na Parede, quando o adulto diz que esta na hora de ir embora); VO (crianca grita quando 0 adulto mexe em seu brinquedo); VE “nao!”(brigando); + jogo compartilhado (JC): atividade organizada e compartilhada entre adulto © crianga; por exemplo: G (crianga @ adulto jogam bola); (crianga e adulto jogam dados). ABR\- TESTE DF UNGUAGEM INFANTIL SUGESTOES PRATICAS PARA O LEVANTAMENTO DE UMA FITA L.Assistir a fita inteira uma vez, observando a comunicagao de ambos 05 interlocutores, quem toma mais as iniciativas de comunicagao, qual o foco de interesse mais nitido, 2. Assistir novamente a fita, registrando € analisando os atos comunicativos de ambos os interlocutores no protocolo (Anexo 1). Lembre-se de que um ato comunicativo pode ser expresso por mais de um meio comunicativo (por exemplo, a crianga diz “da” e estende a mio); considere apenas um ato ‘comunicativo e, portanto, uma fungao comunicativa, mas registre os dois meios comunicativos (no exemplo: PO, VEe G). 3. Assistir& fita uma tiltima vez para rever aanilise realizada, TRANSCRICAO PARA A FICHA-SINTESE (ANEXO 2) Transcrever apenas os dados referentes A crianga para a ficha- tese do perfil comunicativo da seguinte forma: 1.Numero total de atos comunicativos expressos pela crianga (N) 2.Numero de atos comunicativos expressos por minuto pela crianca (divida 0 ntimero de atos comunicativos expressos pela crianga pelo tempo de gravagao) 88 3.Percentual do espaco comunicativo ocupado pela crianga (calculado em relagao ao ntimero total de atos comunicativos registrados) 4. Registre o mimero total de vezes om que cada fungao comunicativa foi expressa por um determinado meio comunicativo. Por exemplo, se a crianga emitir "d4” e estender a mao, vocé deveré registrar isto no Protocolo para Transcrico de Fita (Anexo 1): inl N Meio Inia Fungio Obsery (E=VO-G) | Adulto (A) = Crianca (C) Comenthrios x VE/G c PO E deveré registrar na Ficha - Sintese (Anexo 2): Fungio Meio N % VE 1 PO vo 1 G 5.Calcule o percentual de utilizacao de pode ocorrer que uma crianga cada meio comunicativo em relagéo a acompanhe todos os seus pedidos de cada fungao comunicativa. Por exemplo, objeto com um gesto; entao, registre: ‘Fangio ‘Meio N % VE Y 100 PO vo G Y 100 6. Registre o niimero total de vezesem —_7. Calcule 0 percentual de utilizagao de que cada meio comunicativo foi cada meio comunicativo em relagao ao utilizado pela crianga. nimero total de atos comunicativos expressos pela crianga PARAMETROS DE COMPARACAO - RESULTADOS Os resultados obtidos permitem uma andlise minuciosa dos aspectos funcionais da comunicacéo, que pode ser fundamental, nao s6 na investigacao diagnéstica, mas também em posteriores Teavaliagées para verificagdo dos resultados terapéuticos. A investigacao pragmética nao Propée a utilizagao de parémetros de normalidade e patologia, mas sim uma anélise detalhada das habilidades comunicativas de cada individuo, a ser considerada em relagéo a outros dados ambientais, de fala, linguagem e desenvolvimento afetivo e cognitive Alguns dados a respeito do desenvolvimento da __competéncia ‘comunicativa sao fundamentais. E possivel observar algum uso funcional da comunicagao desde os Primeiros meses de vida. Os primeiros usos intencionais da comunicagéo podem Ser constatados a partir dos 3 meses e os primeiros usos intencionais, a partir dos 6 meses de idade. Também a partir dessa idade, a funcio comunicativa mais frequentemente expressa passa a ser a exploratéria (XP). Aos 12 meses, 0 niimero de fungdes comunicativas ‘expressas chega a 15, ou seja, mais do que © triplo do nimero encontrado aos 3 meses de idade, e a expresso de atos comunicatives néo focalizados (NF) diminui muito, atingindo um percentual de ocorréncia inferior a 1% a partir dos 18 meses. Quanto aos meios comunicativos utilizados, até aproximadamente o quarto més de vida ha um equilibrio entre o uso de gestos e vocalizagées, mas a partir dos sexto més os gestos passam a corresponder a dois tercos de toda a comunicagao expressa, inclusive até o inicio da comunicagao verbal, em torno dos 12 meses. A partir dos 15 meses passa a haver um novo equilibrio entre a comunicagao gestual e a soma das verbalizagées e vocalizacées. © nimero de atos comunicativos expressos por minuto varia muito entre distintos individuos, em diversas situagdes e com diferentes interlocutores, Mas as pesquisas desenvolvidas até agora indicam que pode ser considerado normal © ntimero minimo de atos comunicativos Por minuto, mais ou menos segundo a Tabela abaixo: Idade Aproximada (em Meses) ‘T3]* Atos Comunicativos (por Minuto) A questdo do equilibrio interacional (ou a falta dele) estabelecido na situagio comunicativa, deve ser analisada cuidadosamente, pois reflete as habilidades comunicativas de ambos os elementos. Por exemplo, uma crianga que ocupa pouco espaco comunicative pode estar refletindo uma situagio de comunicagéo em que o outro atua de forma invasiva; ou uma crianga com poucas iniciativas de comunicagao pode estar revelando uma situac&io em que 0 outro expressa muitos pedidos, deixando- — Carnac 4 Puncukmes Pare OF ee Ihe apenas a fungao de responder. O contrario também pode ocorrer: uma crianga que ocupa uma proporgéo muito grande do espago comunicativo pode estar falhando na identificagéo do interlocutor e suas necessidades para uma comunicagao efetiva. ‘A anidlise detalhada do perfil comunicativo de cada crianga permite 0 delineamento dos procedimentos de intervencao clinica mais adequados as necessidades efetivas de cada crianca. ANEXO 1 PRAGMATICA. PROTOCOLO PARA TRANSCRICAO DE FITA (BLoco Avutso) Nome: dade: Data: ‘Atos Comunicativos N Meio Iniciativa Fungo (VE-VO-G) aula (A) Comentarios Crianga (C) ANEXO 2 PRAGMATICA. FICHA - SINTESE (BLoco Avutso) Nome: dade: Data: Atos Comunicativos Total: Por Minuto: 1% ‘Meio e Funcéo Comunicativa Fungéo | Meio | n | % Fungéo | Meio[ N | % | Fungéo | Meio VE VE VE ro | vo ps | vo Pr vo G G c VE VE VE Ro | vo c [vo N vo 6 G G VE VE VE Ex | vo nr | vo x [v0 G G G VE VE VE ee | vo ra | vo rc | vo G G G VE VE VE PR | vo Ee [vo ar | vo G G _| G VE VE VE Pe | vo | sc | vo J vo G G | G VE VE VE na | vo re | vo Tora | vo G G G

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