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CLARICE LISPECTOR E © REPODIO AG EXOTISMD ER “A HORA GA ESTRELA Solange Ribeire Ge Oliveira (WFOP/OFRS) +o sertanejo & antes de ti nareador Ge A Mora @ om pactemte.* Com esse frase e Estrela’. Gitime romance de Clarice itmector, nos lange mo wendo da parédie, reportacde-se a0 dite de tec tiger da Combs, tomado a Alencar: 0 serteneje & sates de tudo ua fer- te fm sua ton trajetért as as de fwctiges sdquiciran vids prépria. Projetaren me comsciéncta sections? a figura Ge ser- tanejo, herd! rude, aparentade com persomagess (éealizades. parew~ tes uns dat jem lendiria de Lemp! Rodin Seed de caatioga. © outros, do malandro trresistivel, come Vadinte, priseire seriée oe D. Flor A frase romantizado, Clarice repudta tats hersis. Rejetta e sertaseje wdande cor local, prépria para encantar tarists. ou publico estrangetre aficctonaée ée Jorge Amada. Inclatade per~ sonagens potencialmente pitoresces @ exdticos, A hers sire! contraris as projecdes escapistas dos emantes. sacionats © estrane geiros, de qualquer forms é0 aite 60 bem selviges. Lentra. antes. 0 seco nordestine de Gractis femos. precirie sotrevivente « meio hostit. "0 sertanese & antes de todo wm pactente’. Srate-chaee. resus mee explicita @ recuse, patente em A Nore ga Eatrela. ee fadetser mais um herdt supestemente grande no seu prinitivisme fecal tsaee. Ne 4 fornecer pare os culturas Gomtnantes 60 aude Gite — e- senvolvido @ (magem do Outre que elas (poten contates apestes, Oat equivalent 4a Conquista ov da Séealtsecse) bencam eos Titeretus ras do tercetre mundo: & 40 honem “naturel®, leteprage me sasere~ ra, e felta, abo r de see pobrera, eat per couse dele, Deter~ pads e (dealtzrade, esse imagen & duplemente vactasese pers as Classes e cultures hegembntcas, Por om lade, preenche as lecenes do ego de quem as contenpla, Per cutre, covtriaul sere — epeatgear seu sentimente de culpe diante das patentes tajesticas do daeite ctonal © tnternactonal. =o serteneje & antes 0 tede we pactente’. Jestapte-se, cone sue antTtese, 0 °O sertaneje & antes de tode om forte’. @ sertme- Jo tem de ser pactente, precitanente porese abe & forte. tiste Gorse forme, soo rotvate come terdt enbtice © sitevesce —lerne-se inporstvel, Toda one tdeologta de epreasio, wascarads pele clishl 5 abo wots felizes, recede, teable, wn gelee wertal. © CLARICE LISPECTOR E 0 REPODIO AO EXOTISMO EM "A HORA DA ESTRELA" Solange Ribeiro de Oliveira (UFOP/UFMG) “Q sertanejo @ antes de tudo um paciente." Com essa frase ° narrador de A Hora da Estrela’, GItimo romance de Clarice Lispector, nos Tanga no mundo da parddia, reportando-se ao dito de Euclides da Cunha, tomado a Alencar: "0 sertanejo @ antes de tudo um for- te. Em sua longa trajetoria, as palavras de Euclides adquiriram vida propria. Projetaram na consciéncia nacional a figura do ser- tanejo, herdi rude, aparentado com personagens idealizados, paren- tes uns da imagen lendaria de Lampiao, Robin Hood da caatinga, © outros, do malandro irresistivel, como Vadinho, primeiro marido de D. Flor. A frase de Clarice repudia tais herdis. Rejeita o sertanejo romantizado, exsudando cor local, propria para encantar turista, ou publico estrangeiro aficcionado de Jorge Amado. Incluindo per- sonagens potencialmente pitorescos e exdticos, A Hora da Estrela contraria as projecdes escapistas dos amantes, nacionais e estran- geiros, de qualquer forma do mito do bom selvagem. Lembra, antes, co seco nordestino de Graciliano Ramos, precario sobrevivente ao meio hostil. "0 sertanejo @ antes de tudo um paciente", frase-chave, resu~ me e explicita a recusa, patente em A Hora da Estrela, de fabricar mais um herdi supostamente grande no seu primitivismo idealizado. Nega-se a fornecer para as culturas dominantes do mundo dito de- senvolvido a imagem do Outro que elas (pelos caminhos opostos, mas equivalentes, da conquista ou éa idealizagio) buscam nas literatu- ras do terceiro mundo: a do honem "natural", integrado na nature- za, e feliz, nao apesar de sua pobreza, mas por causa dela. Detur- pada e idealizada, essa imagem @ duplamente vantajosa para as vjagses e culturas hegemdnicas. Por um lado, preenche as lacunas do ego de quem as contenpla. Por outro, contribui para apaziguar seu sentimento de culpa diante das patentes injusticas de ambito nacional e internacional. no sertanejo € antes de tudo um paciente", justapde-se, como sua antTtese, a "0 sertanejo @ antes de tudo um forte". 0 sertane~ jo ten de ser paciente, precisamente porque ndo @ forte. Visto dessa forma, seu retrato como herdi exdtico e pitoresco torna-se impossTvel. Toda uma ideologia de opresséo, mascarada pelo cliché "0s pobres séo mais felizes", recebe, também, um golpe mortal, 0 859 sertanejo de Clarice, infeliz, & certamente uma figura metonta, do pobre e do oprimido, no Brasil e no mundo. ca A imagem do opressor nao esté ausente do texto. Ele surge gringo imaginario, profetizado pela cartomante Madama Carlota co futuro marido de Macabéa, a pobre alagoana. A versio feminina no mo gringo aparece ainda na imgem de Marylin Monroe e seus ae deformados presentes em tr8s personagens, caricaturas da supe, Toura. 0 confronto entre opressor e oprimido, que 8 se vinha espo- cando na obra de Clarice a partir de A paixdo segundo G.H., tem y, A paixse segundo GH. m profundo sentido politico, simbdlico em diferentes niveis, Ele 4. brange ndo sd a oposic#o pobreza/opressao, retratada no norte/éuy do Brasil, mas todo o complexo jogo de poder que opde as nacdes industrializadas ao terceiro mundo. Partindo dessas idéias, este trabalho visa a explorar a rede intertextual que envolve o romance. Ela se tece em funcao de uma dupla parddia: a da figura idealizada do nordestino e a do romance tradicional, especialmente o romantico e o folhetinesco. A critica jdeoldgica e 0 comentario metalingUTstico associam-se, assim, num todo que me parece iinico na literatura nacional. A Hora da Estrela contém a histdria da alagoana Macabéa, es- pécie de retirante, tentando sobreviver, sozinha e tuberculosa, em estado de fome crénica, @ custa de um sub-emprego no Rio de Janei- ro. Sua pobre vida divide-se entre ambientes evocadores do romance naturalista: um quarto, partilhado com trés colegas, na Sspera rua do Acre"; um sérdido escritdrio na Rua do Lavradio; e passeios ocasionais ao cais do porto. Macabéa conhece seu nico momento de exaltagao quando inicia um namoro com o paraibano O1fmpio. 0 namorado € logo roubado por Gléria, colega de escritério. Por remorso, talvez, Gloria financia uma consulta de Macabéa com Madama Carlota, ex-prostituta e cafti- na convertida em cartomante. Madama Carlota 18 nas cartas melhores dias para a alagoana: casamento com um gringo rico, “homem de olhos azuis ou verdes ou castanhos ou pretos, nao havia como ef” rar" (p. 89). Na excitag’o causada pelo vaticinio, Macabéa, — #? sair, morre atropelada. Tronicamente, 0 atropelador & “un homes *” lourado e estrangeiro" (p. 91), um gringo, que nem sequer @ a Essa @ a histdria resumida pela frase "0 sertanejo & antes tudo um paciente." Se paciente € 0 que sofre acao praticada a outrem, 0 oposto de sujeito (que, esse sim, pode agir sopre Core do, convertendo-o em objeto). A Hora da Estrela poderia ser 7 Tapio, de passe” como a tentativa dos dois sertanejos, Macabéa e Olimpio» : nrative e ‘ e' rem, de meros objetos a sujeitos de sua propria vida. A oa es. % feita de modos diferentes, e com resultados diferent! 860 > dois nordestinos, cujas personalidades conflitantes sio anunciadas pelos respectivos nomes. A alagoana Macabéa revela desde o inYcio sua condigio de ob- jeto. E a propria encarnacéo da passividade: tem "rosto que pede tapat (p- 30). "Sem saber que era o que era* (p. 34), "incapaz de prestar atencdo a si mesma" (p. 79), especialmente naqueles que constituem suas precdrias e sucessivas conexdes com o mundo: atia, o patrao, 0 namorado, e a colega, Gloria. A incapacidade de auto- conhecimento impede Macabéa de enxergar a propria desgraca Nao sem razio, diante do espelho, tem a impressdo de sequer projetar uma imagem. Em outras palavras, sente-se incapaz de exercer até a agio reflexa de tomar-se a si mesma como objeto. A ligacao de tudo isso com a questao social @ Sbvia: “vivia numa sociedade técnica, onde ela era um parafuso dispensavel" (p 36), pertencia ao grupo dos que nada tém, numa sociedade onde 0 ter e 0 ser sao freqlentemente confundidos. "Ha os que tém. — ha os que nao tém. E muito simples: a moga nao tinha". (p. 32) A peniria de Macabéa explica a sua incapacidade de manifes~ tar-se como sujeito. "Nascera inteiramente raquitica, heranca do sertdo" (p. 35). Criada por uma tia, beatae madrasta, escapara @ prostituicéo. Da tia, recebera o medo de um Deus digno da socieda~ de que o criou: “o misterioso deus dos outros", que Ihe dava o que The tirava (p. 73). Entretanto, a moga conserva potencialidades inesperadas: tem uma misteriosa vida e liberdade interior. Comove-se com os frag~ mentos desconexos de cultura, dispersos na programagao da — Radio Reldgio, e representadas um dia na voz de Caruso. Sensibiliza-se com a elegancia de uma girafa no zooldgico. Sente o misterioso en- canto de uma fotografia antiga de Greta Garbo. Revela, enfim, uma sensibilidade artfstica que a faz vislumbrar um outro mundo de vi- da possivel, com “outros modos de existir" (p. 60), 0 mundo dos que podem ser sujeitos. Vendo 0 titulo do livro “Humilhados e Ofendidos" —esquecido pelo patrao, Macabéa pela primeira vez define-se numa classe — so- cial. Junto ao desejo de “ser ela propria", vem-Ihe o de ser artis- ta de cinema. Um dia, escondida no sérdido banheiro da firma onde trabalha, transforma-se numa caricatura de Marilyn Monroe, pintan- do-se com um baton rubro. 0 resultado & duvidoso: “em vez de batom Parecia um grosso sangue que The tivesse brotado dos Vabios por um soco em plena boca ..." (p. 71). Ao pintar-se desse modo, Macabéa esti, evidentemente, assumindo os padrées da classe opressora, tentando identificar-se com a imagem da atriz estrangeira. Tenta- tiva fadada ao fracasso. Na verdade, tentativa mortal. A associa~ co entre batom e sangue @ um entre os muitos sinais proféticos de 861 que a luta pela libertagio, em certos grupos sociais, encontra morte 0 seu desfecho légico. Mas Macabéa, despertada pelo amor Olimpio, enfim comega a ter arroubos de acdo. Mente que esta dor de dentes, foge um dia do trabalho massacrante, toma dinheire enprestado, vai a cartomante. Con a sibita visio da pobreza de sus vida, confirmada por esta, vem-1he a paixdo pelo gringo vaticinady nas cartas. Macabéa parece proxima de transformar-se em sujeito “parecia se tornar cada vez mais uma Macabéa, cons assumindo-s. se chegasse a si mesma" (p. 93). A falsa esperanca dessa pobre Cinderella a conduz, entretan- to, 3 morte pelo atropelamento: um carro de luxo “empina-se en gargalhada de relincho", deixando Macabéa estendida na rua, com um "fio de sangue inesperadamente vermelho e rico" a The escorrer da cabeca (p. 90): 0 sangue prenunciado pelo batom da triste carica- tura de Marilyn. $6 nessa hora, ao morrer, Nacabéa consegue trans- formar-se em estrela. Morrendo, confirma a voz profética do narra- dor: "na hora da morte, a pessoa se torna brilhante estrela de ci- nema, € 0 instante da gloria de cada um e @ quando, como num canto coral se ouvem agudos sibiliantes" (p. 36). Ironicamente, a ex- pressao “instante de gldria", contém o nome de Gloria, a rival vi- toriosa, de certa forma também responsavel pela morte de Macabéa: % 0 desespero pela perda de Olfmpio que a leva @ cartomante e, daf, a seu triste desfecho. 0 fracasso de Macabéa ser objeto, se a tentative era, afinal, previstvel. Como deixar de de se algar o sujeito toma como ideal a face do opressor, a imagem racista, duplamente representada no es~ trangeiro de olhos azuis e na estrela de cinema, a super-gringa? Macabéa nao chega a se transformar em sujeito. Entretanto, sua brava luta para escapar @ condi¢ao de objeto revela que, “apesar de tudo ela pertencia a uma resistente raca ani/teimosa que um d12 vai talvez reivindicar o direito ao grito" (p. 91). Dito isso, en= tende-se finalmente porque, ao inicio do romance, fora observade podia ser uma figura biblica® (P+ entao pela associagao com? jo no segundo que a moca andnima da histOria 30). £ 0 nome de Macabéa se explicay histdria dos cinco irmdos macabeus. Vivenddo e lutand: e a n= século antes de Cristo, eles lideraram uma série de revoltas °0 e ; 7 tra AntYoco IV, rei da STria, combatendo por seu povo, mas CO” Aa grar o Templo mas, de a1" pelos tem com guiram retomar Jerusalém, purificar e re-consa: finidade entre essa linhagem de lfderes sacrificados, gum modo, triunfantes, e “a raca ana teimosa", const#tuTda nordestinos e pelos demais oprimidos do Brasil e do mundo, notacdes polfticas e revolucionarias dbvias. 0 nome O1impio. do namorado de Macabéa, é, como 0 del Ole bolico de seu papel no romance. Lembrando os antigos deuses+ habi- 862 Oe > tantes do monte Olfmpo, na Grécia, sindnimo de "grandioso", "majes~ toso", "divino", o nome sugere a imagem que o paraibano tenta cri- ar para si mesmo e que Macabéa, deslumbrada, aceita, Tanto quanto ela, 0 paraibano empenha-se na luta para transformar-se em sujei- to. Para isso; esta bem mais equipado. Nas horas de folga, em vez ge macaquear Tdolos alheios, 0 operario re-cria os seus proprios: esculpe figuras de santo, “tio bonitas que ele nio as vendia" (p. 54), fazendo questao de esculpir 0 sexo do menino Jesus, em con- traste com 0 apavorado pudor de Macabéa, repressiva da propria se- xualidade. A atitude de Ol?mpio & facilmente explicavel: ele tem yislumbres de politizagao. Mostra-se interessado nos negocios pu- blicos, adora ouvir discursos. Tem sentimento de critica: "Por vin- ganga, desenha rapidas e perfeitas caricaturas dos retratos dos poderosos" (p. 67). Sabendo usar "palavra do fino"(p. 63), promete a si mesmo vir a ser deputado (p. 54-55) e. rico (p. 23). Adivinha- se nele 0 futuro pelego, e 0 politico corrupto. 0 ex-cabra safado dos sertées da Paratba & homem de acdo, "macho de briga" (p. 66), ten "a honra lavada" (p. 67), por ja haver matado e roubado. Admi- ra atividades violentas como a do agougueiro e toureiro. E mani- festa solidariedade com sua classe: tem a "paixao por sua terra braba e rachada pela seca” (p. 66). Segundo profecia do narrador, olimpio vai ser um dia deputado, obrigando os outros a chama-lo de doutor (p. 55) e a reconhecer, dessa forma, a sua ascengao social. Sob 0 nosso ponto de vista, o importante & o contraste entre a sua e a luta de Macabéa para fugir a condi¢ao de objeto. A = moga nao chega a ser sujeito, pois, ndo sendo politizada, nao vislumbra objetos praprios, exceto a triste imitagdo da estrela americana cuja boca rubra sé consegue desenhar com 0 proprio sangue. Macabéa apenas consegue dizer "Nao acho que sou muito gente" (p. 96). o1im- pio, pelo contrario, diz: “Eu virei eu" (p. $7). Tanto quanto ela, ele € "uma vitima geral do mundo". Mas, dessa condicdo de pacien- te, parte para a de agente, embora através da “dura semente do mal", do peleguismo e do fisiologismo politico. A transformago de O17mpio, "diabo premiado e vital" (p. 68) torna-se possivel por uma Gnica raz&o: suas tintas de politizagao possibilitam-The uma andlise-do social, levam-no a concluir que "viver bem & coisa de privilegiado" (p. 61). Por isso, Olfmpio tem “fome de ser outro" (p. 15), de conquistar seu lugar ao sol. Para atingir esse objetivo, ja galgou um primeiro degrau. Con- seguiu ser metalirgico, empregar-se nos escaldes menos explorados do operariado, evocando, talvez, uma polémica figura do cenarto politico nacional. 0 segundo degrau vai escala-lo como projetado casamento com Gloria. Eis como o narrador descreve a “safadinha 863 esperta" de "traseiro alegre” (p. 74): Possuta no sangue um bom vinho portugués e também era a neirada no bamboleio do caminhar por causa do sangue arra. Cano escondido. Apesar de branca, tinha em si a forca’ ga mulatice. Oxigenava em amarelo-ovo os cabelos crespos, cyt jas rafzes estavam sempre pretas. Mas mesmo oxigenada’ cia era loura, o que significava um degrau a mais para O1fm- pio... (p. 68) - Na sua lourice falsa, com "uma pintinha marcada junto da bo- ca, sé para dar uma gostosura" (p. 74), Gloria resume a miscigena- cio no Brasil. Seu nome lembra a fungéo que desempenha no romance: ela representa para os dois nordestinos a "gléria" do sul rico e fértil, sonho do pau de arara, egresso do sertao. 0 fato de ser carioca tornava-a pertencente ao ambicionado cla do sul do pats. Vendo-a, [01fmpio] adivinhou que, ape- sar de feia, Gloria era bem alimentada. E isso fazia’ dela material de'boa qualidade ... adivinhava-se que seria boa parideira” (p, 68-69) ... ela Ihe daria mel de abelha Carnes fartas ... No mundo de Gloria ele ia se — locuple- tar ... Deixaria enfim de ser o que sempre fora e que_es~ condia ate de si mesmo por vergonha de tal fraqueza: @ que desde menino na verdade nao passava de um coragao_ solita- rio pulsando com dificuldade no espaco ..." (p. 175) Que a gloria dessa Gloria seja, afinal, tao ilusdria, que ela, filha de acougueiro, pertenca a “uma terceira classe de bur- guesia ... que gasta todo o dinheiro em comida" (p. 75) escapa aos olhos de Olimpio. Ele também nfo enxerga outro fato: Gloria & co- pia de Tdolo falso, de deuses alienigenas, combatidos pelos irmaos macabeus, muito diferentes dos santos auténticos, que ele esculpe, na sua secreta condigao de artista. Gloria € outra imagem caricata de Marilyn Monroe, beleza importada, super-gringa, como o & a care tomante, de "boquinha rechonchuda", pintada de vermelho vivo e "ro delas de ruge brilhoso nas faces oleosas" (p. 83). A critica social e pol?tica relacionada com essa hist plicita-se no romance através da voz do narrador. Diz ele ria ex- "B pai- xo minha ser o outro" (p. 37). " (AJtravés dessa jovem dou meu grito de horror & vida" (p. 41). o contraste entre 0 mundo do opressor € 0 do oprimido aparece de muitas formas, em varios trechos da narrativa. Esta claro, Por exemplo, na fascinacdo de Macabéa pelas lojas onde jamais entra ria "Wer ger extra [Macabal in nara n Zany Sul © tices oihet? as vitrines faiscantes de jdias e roupas acetinadas" (p- 42)+ Comentando os sonhos confusos da alagoana, o narrador 48» Ver por outra, a palavra a uma voz reaciondria: "Ela quis mais porque r todo ° @ mesmo verdade que quando se da a mao, esse gentinha que! 864 al > resto, 0 2@-povinho sonha com fome de tudo. E quer, mas sem direi- to algum, pois nao 2" (p. 43), Mais frequentemente, o narrador vibra de simpatia pela personagem: "Quando penso que eu podia ter nascido ela — @ por que no? — estremeco. E parece fuga covarde o fato de eu ndo a ser, sinto culpa" (p. 43). Nesse ponto, o nar- rador comeca a discutir e assumir a culpa de toda uma sociedade: vMas por que estou me sentindo culpado? E procurando me aliviar do peso de nada ter feito de concreto por essa moca?" (p. 30)."Afian- co-vos que se eu pudesse melhoraria as coisas" (p. 43), Nessa al- tura, o narrador atribui % moca uma "neurose de guerra" — expres- so bem sugestiva da guerra de classes, onde, sem saber, Macabéa se empenha, ao lado de Olimpio, guerrilheiro mais licido. Esse posicionamento ideoldgico néo & novidade em Clarice Lis- pector. Vem se esbocando desde A Paixéo segundo G.H.” Acentua-se en Uma Aprendizagem ou o Livro dos Prazeres. Nesse livro, a "apren- dizagem" do titulo refere-se & tomada de consciéncia social pela personagem feminina central, Loreley, cujos conflitos pessoais se resolvem quando ela passa a aprender o social. Nao sem razdo seu mestre, 0 "sabio" Ulysses, @ um professor socialista. A licdo de Ulysses @ bastante clara: a conquista do equilibrio interior leva 3 busca da justicga social. Ele diz a Loreley: Vocé acabou de sair da prisdo como ser livre ... 0 sexo e 0 amor nao te s80 proibidos. Voce enfim aprendeu a exis- tir... E isso ocupa o desencadeamento de muitas outras Tiberdades, 0 que € um risco para a tua sociedade Assim direta e explicita, a voz de Ulysses chega a arranhar o romance com um ligeiro tom didatico, rocando o panfletario. Isso nem de Tonge ocorre com A Hora da Estrela. Do ponto de vista literario, o Gltimo romance de Clarice torna-se tao mais in- teressante por entrelagar a satira social com o comentario meta~ lingUistico. Parodia, ao mesmo tempo, a figura romantizada do nor- destino, descendente de Iracema e primo de Gabriela, e 0 romance tradicional. Essa parddia se situa num quadro bastante amplo: 0 que opoe, Na arte contemporanea, a tradigdo mimética & nao mimética, ali- Nhando os escritores de vanguarda, como Clarice, ao lado desta il- 4 tima. Em A Hora da Estrela a posstvel identificacado do leitor com o Personagem, freqUente na tradicado mimética do romance tradicional, & transferida para o narrador. Ele varias vezes comenta os "fatos” em seu prdprio nome, e nao @ moda abstrata do narrador omnisciente de outras eras, Essa intrusdo contribui para criar um anteparo, uma distancia estética entre leitor e marrativa, impedindo a ex~ 865 aa a cessiva identificacio. A identificagao, se ocorre, tem de ser ag. diada pelo narrador, 0 que diminui 0 seu impacto, contribuindo pa ra as reverberagdes frdnicas visTveis em todo o texto. Como exenplos da identificagao do narrador com Macabéa, come. cemos a citar o texto em que ele declara ter se sentido “desper. sonalizado", durante trés dias de interrupco da narrativa. Ora, se isso acontece, porque, ao escrever, veste a pele das persona- gens, na maior das identificagdes: "Nestes Gltimos trés dias, so. zinho, sem personagens, despersonalizo-me a ponto de — adormecer™ ' (p. 80-81). Em outro trecho, o narrador participa intensamente dos sentimentos de Macabéa, quando a cartomante The desperta esperan- aS que nunca ousara ter, arregalando-The os olhos com "uma sabita voracidade pelo futuro". Diz o narrador: "E eu também estou com esperanca enfim" (p. 87). Seu interesse pela personagem chega ao maximo quando declara: "Sim, estou apaixonado por Macabéa, a minha querida Maca, apaixonado pela sua feidra e anonimato total, pots ela nao & para ninguém. Apaixonado por seus pulmées frageis, a ma- gricela" (p. 78). Em todas essas citagdes, sente-se a leve parddia do romance tradicinal: a identificacdo do leitor com as personagens seria im- posstvel sem a do autor implcito, sem sua idealizacao da vida na ficgdo, tomada como realizagio de fantasias e desejos irrealizé- veis no quotidiano Outra caracterTstica impede a ilusdo mimética: o narrador ex- plicita sempre a sua condigéo, ao contrario tanto do antigo narra- dor omnisciente como daquele que, no romance inovador de Henry Ja- mes, tornava dificil a localizagao de sua voz, misturando-a com a das personagens. 0 narrador de A Hora da Estrela, pelo contrario, a todo momento chama a atenc3o para a sua presenca, e, em yez de diluir-se na narrativa, ou de manifestar-se discreta e impessoal- mente, a comenta a cada passo a sua condigo de nao omnisciente — talvez resultado de se colocar tio préximo das personagens. Sobre a saiide de Macabéa, afirma: "nao sei se estava tuberculosa, acho que no" (p. 38). Sobre seu futuro, indaga: “conheceria ela algum dia do amor o seu adeus? Conheceria algum dia do amor os seus des~ maios? Teria a seu modo 0 doce véo? De nada sei" (p. 48). Com essas afirmagées de ignorancia, o narrador parece sentar a curiosidade do leitor implfcito. Ao mesmo tempo, cria pare- repre- a i ilusdo da narrativa que se escreve por si mesma: os “fatos" . cem se revelar aos poucos, sem sua intervencao, como numa projecae cinematografica. 0 narrador insiste varias vezes que est® tratando de fatos, como se escrevesse uma reportagem: “Apaixonei-me subita~ mente por fatos em literatura" (p, 22) ... "Essa historia sao ape” nas fatos nao trabalhados de matéria-prima” ... (p. 79). "Nao 8 866 > exempto, € depois abandon’-1a na rua, moribunda, tendo seu orgas- no inico, sua “lmida felicidade suprema ... no abraco da morte" (p. 94). Ou pode, se quiser, concluir a histéria: "Eu poderia def- yg-le na rua e simplesmente no acabar a histéria. Mas nao!" A “historia da histOria" define-se em parte pelo que njé &. assin, quando 0 narrador pergunta: "Este € um melodrama?" {p. 93), ou quaido afirma: “Eu bem avisei que era literatura de cérdel" (p. 40), sabemos que esta blefando. A Hora da Estrela ndo Znem uma coisa nem qutra, mas @ certamente uma parddia do meYodrama senti- mental e lacrimoso. DaY as palavras irdnicas ao infcio: “nao quero ser modernoso @\inventar modismos @ guisa de originalidade. Assim & que experimentakei contra os meus habitos umg/histdria com come- ads romances ante~ ector possibilita um3/observacao: o livro se concentrar em pura profundo envolvimento so- go, meio e ‘gran f riores de Clarice Li pode no ser "modernos forma, tanto assim que se destaca nele cial. Mas sua "historia cdg princTpio/meio e fim" satiriza muitas outras, assim estruturadas,\que nao franscederam a banal e acuca- rada hist6ria de amor. Satirtzga todos os desfechos onde a - heroina sofredora termina por encontrax 9/duplo consolo do amor e da as- cencao social, sob a forma do qe se chamava A Hora da Estrela satiri melodrama de varias — maneiras. Uma delas @ indicar com a paYavra Yexplosao", entre parénteses, os momentos que, num romance mélodramatico, seriam de grande emocao: os acontecimentos dramatigos, as subitas revelacdes, os suspenses. A palavra “explosdo" também lembra o Aspoucar de um flash cinema~ fe com a fixaca0\de Macabéa em Marilyn Mon- roe. A palavra ocorre/ por exemplo, quanYo o narrador atribui a Macabéa uma frase mefosa: "Ah mes de maio\ no me largues nunca mais!" (A frase seya, ademais, impossivel)\na boca da moca semi- a erudita do impera- um bom casamento". tografico, articulando analfabeta, certaente incapaz de usar a fo! ome largues"). ocorre em outros momentos significativos. Marca a njar-The um — em~ tivo negativo "Explosaoy emocio da alagoana quando o namorado promete ar: Prego na fabfica onde trabalha (p. 67); quando degmancha, de re- pente, o ngmoro com ela (p. 70); quando Macabéa toha a momentosa 76) e, de- ja outros mo- decisdo dé gastar dinheiro com a consulta médica (p\ pois, coh a cartomente (p. 81). "Explosao" indica ai mentos Me emoco intensa: Macabéa ouve que, entre outrys benesses, ° futtro The trard a felicidade de ter cabelo mais abunYante (p. 89) /Madama Carlota diz enxergar nas cartas o futuro de \ Macabéa. Vf 0 proprio torneio da frase parodia o tom melodramaticd: 867 como fugir" (p. 81). "Como € chato lidar com fatos" (p. 82). Os. fatos tratados parecem tio objetivos, tao fora do controle do nar- rador, que ele se aflige diante dos “acontecimentos". Nao pode, por exemplo, ajudar Macabéa, e a entrega & protecdo do leitor: “Cuidat dela porque meu poder @ sé mostra-la para que vés a reconhegais na rua, andando de leve por causa da esvoagada magreza" (p. 25). Pa- radoxalmente, essa insisténcia do narrador sobre a verdade dos fa- tos narrados e sobre sua fungdo de mero reporter impede a todo mo- mento que o leitor embarque na ilusao mimética, outras observacées do narrador esclarecem os tipos de "fa~ a espécie de "realidade” enfatizada no texto: trata-se da tos", realidade maior da literatura, abstratda da vida, superior 3 re- produc#o dos dados amorfos do quotidiano. 0 que o narrador tenta desvendar @ a esséncia da realidade, na esteira da concepgao aris- totélica sobre a “verdade" da literatura: ela & mais verdadeira do que a histéria, pois esta diz respeito a fatos concretos, relata apenas 0 que aconteceu, ao passo que a literatura se reporta ao que poderia ter acontecido, ao potencial subjacente em cada ser, & sua verdade intrinseca. Isso explica, por exemplo, a frase do nar- rador: “a historia € verdadeira porém inventada" (p. 18). 0 artis- ta, subentende-se, vai intuitivamente ao amago das coisas, repre- senta-as com poucas pinceladas, captando-Thes a esséncia, mais que a tentativa de copiar a mirfade de detalhes da experiencia Compreenden-se assim as palavras do narrador: o faria amorfa. Fico abismado por saber tanto a verdade. Sera que o meu o- ficio doloroso € 0 de adivinhar na carne a verdade, | que finguém quer enxerger? Sei quase tudo de Macabéa, E que J pequei uma vez de relance o olhar de uma nordestina amare- lada (p. 66). Esses comentarios, que dizem respeito @ natureza da arte e cua relagio com a verdade, nos conduzem a outra observacao. 0 11 0 vro, como diz o narrador, a “histéria da historia" (p. 51). sutor implicito confunde-se aqui com o analista da propria obras smentando-a enquanto a escreve, 3 moda da convengo contemporé nea, em que o texto ja contém a sua propria critica. Um dos temas subjacentes € 0 da propria arte de manipular a palavrat desde Norsés ja se sabe que a palavra & divina™ (p. 90). Por isso, 0 leitor @ lembrado a cada momento que tem ce si un artefato literario, uma obra de arte, e nao uma repres cio diveta da realidade. 0 narrador enfatize que tem nas maos aestecho (embora ja houvesse dito o contrarto), que @ 0 magico ma nobrando os cordéis atras de suas personagens, meros fantoches riados por ele. Pode inventar a trama da vida de Macabée, por giante en ° 868 exenplo, € depois abandona-1a na rua, moribunda, “imida felicidade suprema. (p. 94). Ou pode, se quiser, concluir a yj-la na rua e simplesmente n3o acabar a A “historia da historia" define-se assim, quando 0 narrador pergunta: ou quando afirma: "Eu bem avisei tendo seu orgas- s+tmo} abraco da morte" historia: “Eu poderia dei- histéria. Mas nao em parte pelo que nao &, “Este & um melodrama?" (p, 93), u que era literatura de cordel® (p. 40), sabemos que esta blefando. A Hora da Estrela.ndo & nen no nico, sua ; coisa nem outra, mas & certamente uma Parddia do melodrama ae nental e lacrimoso. Dat as palavras irdnicas ao intcio: "n8o quero ser modernoso e inventar modismos 3 guisa de originalidade. Assim Z que experimentarei contra os meus habitos uma historia com come- go, meio e ‘gran finale'™ (p. 19). Essa aluso aos romances ante- riores de Clarice Lispector possibilita uma observacio: 0 livro pode nao ser “modernoso” no sentido de ndo se concentrar em pura forma, tanto assim que se destaca nele o profundo envolvimento so- cial, Nas sua “histOria com princtpio, meio e fim" satiriza muitas outras, assim estruturadas, que nao transcederam a banal e acuca- rada histdria de amor. Satiriza todos os desfechos onde a herofna sofredora termina por encontrar 0 duplo consolo do amor e da as- cengdo social, sob a forma do que se chamava “um bom casamento” A Hora da Estrela satiriza o melodrama de varias maneiras. Uma delas @ indicar com a palavra “explosdo", entre parénteses, os mo- mentos que, num romance melodramatico, seriam de grande emocao: os acontecimentos dramaticos, as sibitas revelacées, os suspenses. A palavra "exploso" também lembra o espoucar de um flash cinemato- grafico, articulando-se com a fixagio de Macabéa em Marilyn Monroe. A palavra ocorre, por exemplo, quando o narrador atribui a Nacabéa uma frase melosa: “Ah més de maio, no me largues nunca mais!" (A frase seria, ademais, imposstvel, na boca da moca semi-analfabeta, certamente incapaz de usar a forma erudita do imperativo negativo "ndo me largues*.) "Explosdo" ocorre em outros momentos significativos. Marca a emogo da alagoana quando o namorado promete arranjar-Ihe um em- Prego na fabrica onde trabalha (p. 67); quando desmancha, de re- pente, o namoro com ela (p. 70); quando Macabéa toma a momentosa decisio de gastar dinheiro com a consulta médica (p. 76) e,depois, Com a cartomante (p. 81). “Explosdo" indica ainda outros momentos de emoc%o intensa: Macabéa ouve que, entre outras benesses, 0 fu- turo The trard a felicidade de ter cabelo mais abundante (p. 89). Madama Carlota diz enxergar nas cartas o futuro de Macabéa. AT, Proprio torneio da frase parodia o tom melodramatico: E eis que (explosdo) de repente aconteceu: o rosto da ma- 869 aeet dama se_acendeu todo iluminad ~ Macabéa! Tenho grandes noticias para Ihe dar! al 7 rt atengao, minha flor, porque @ da maior importancia Tone vou the dizer. E coisa muito séria e muito alegre: sua vic da vai mudar completamente! (p. 87) A parddia do melodrama também se evidencia com o uso de fra- ses incompletas, marcadas com Etc, Etc., assinalando 0 repidio as frases gastas e previsiveis do folhetim. Uma dessas frases comenta a falta de reacdo aparente de Macabéa quando Olimpio resolve aban- dond-la: "Ela nao sentiu desespero, etc. etc." (p. 71). Se A Hora da Estrela fosse um melodrama, teria nos brindado com uma Cinderella nordestina. Macabéa teria encontrado 0 — herdi belo e rico - o principe que se renderia & sua pureza, — recompen- sando-a com o prémio esperado, 0 casamento, ao qual se acrescenta- ria o da ascensio social. A solug3o individual teria sido sacra- mentada, deixando-se de lado o problema social. Tudo terminaria na santa paz da justicga poética, proporcionando vicaria — satisfacao aos amantes do folhetinesco e da literatura como forma de evasao. Hada disso acontece, e 0 estilo irénico deixa bem claro, des- de o principio, que nao vai acontecer. Nuito pelo contrario. 0 pretenso “herdi", o "mocinho" que deveria salvar a heroina de seu vai destino cruel, € 0 gringo - precisamente aquele cujo carro atird-la na calcada, e abandond-1a & morte, desassistida, para fu- gir ao flagrante. Assim se entrelacam a parddia do antigo “happy end” alvador da propria heroina. Muito do melo- drama, protagonista, nao € 0 s pelo contrario, @ 0 instrumento de sua morte. Simbolizando o opres- internacional, a figura do gringo e = seu Marilyn Monroe, deixam bastante clara a ra~ e sor, a nivel nacional e duplo, a super-gringa, 250 pela qual Macabéa ndo @ outra Gabriela, nao cheira a crave canela, mas a doenca e pobreza. Ela pertence ao grupo dos explora- odem ser belos nem pitorescos, mas, Simplesmente, como vislumbra Macabéa, vendo o t¥tulo que nunca podera aspirar a ler. Com eo gringo salvador 42 dos, que nao p “humilhados e ofendidos", do romance de Dostoyeviskis esse desfecho, acentua-se @ oposigao entr falsa profecia da cartomante, e os “gringos* da dura real idade. Num Simbolo Inico, sintetizam-se a rejeigao ao pitoresce © 20 exotis- mo, as vazdes politicas desse repidio, @ a sativa @ formas de ie cio rejeitadas pela literatura contemporanea. A-Hora da___Estrete exdtico contesta Gabriela, Cravo e Canela. Recusa 0 pitoresco @ 2 Pvanaceyawaentderoutrardil por as culturas im e, com eles, a imagem do Outro que nos tentam f ysut do Brasil, a oposigao norte: 5 encontrada em var posicionamento hegemdnicas, Re-elabora, também, sob a forma da oposigao simbdlica seco/moThado, rios textos de Clarice, e que se articula com seu 870 . filosfico. Isso, porém, J& & outra historia, que reservamos para estudo posterior. NOTAS 1, Lispector, Clarice. A Hora da Estrela. Rio, Nova Fronteira, 1984. A paginagdo dos textos citados & sempre a desta edi- cao. 2. Ver, @ propésito, Solange Ribeiro de Oliveira "A Paixio segundo G.H.: Uma Leitura Ideoldgica" IN A Barata e a Crisalida Romance de Clarice Lispector. Rio, 1985. 3, Lispector, Clarice. Uma Aprendizagem ou 0 Livro dos Rio: Nova Fronteira, 1980, p. 171. José Olfmpio Editora, Prazeres, 4. Ver, @ propdsito da tendéncia contemporanea para a arte abstra- ta, Lévi-Strauss, "Ouverture" IN Le cru et le bruit. Edi- tions du Seuil, 1964, 871

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