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Ponto geométrico © ponto geométrico é um ser invisivel, Portanto, deve ser de- finido como imaterial. Do ponto de vista material, 0 ponto € igual aZero, Mas esse Zero esconde diferentes propriedades “humanas” De acordo com nossa concepedo, esse Zero — 0 ponto geométri- co — evoca a concisdo absoluta, isto é, a maior reserva, que no entanto fala. ‘Assim, 0 ponto geoméirico &, de acordo com nossa concep io, aderradeira e inica unido do siléncio e da palavra E por isso que o ponto geométrico encontrou sua forma mate rial em primeiro lugar na escrita—ele pertence &linguagem e sig- ifica silencio. Escrita Na fluidez da linguagem, o ponto € 0 simbolo da interrupeo, do Nao-Ser (elemento negativo) e, ao mesmo tempo, € a ponte entre um Sere outro (elemento positivo). Na escrita, isso é sua sig- nificagdo interior. Exteriormente ele é, aqui, apenas um signo em sua aplicagio pritica, trazendo em si o elemento “utilitério” que jé aprendemos 1 #PoNTO Eunsa SOBRE PLANO ‘quando criangas. O signo se tomna um habito que vela 0 som pro- fundo do simbolo, O interior é murado pelo exterior. ponto faz parte do dominio dos habitos arraigados em nés ‘com sua ressondncia tradicional, que & muda, Siincio Aressonancia do silencio, habitualmente associada a0 ponto, € to forte que suas outras propriedades ficam ensurdecidas por els. ‘Todo fendnemo habitual ¢ tradicional perde sua expressio ‘com um emprego restrito. Nao ouvimos mais sua voz ¢ somos ccercados de silencio. Somos mortalmente subjugados pelo ‘tio- til”, Choque Algumas vezes um abalo excepcional pode arrancar-nos des- saletargiae restituir-nos uma sensibilidade viva. Mas, muitas ve- es, mesmo o mais forte abalo no &capaz de revitalizar esse es- taco letargico. Os choques externas (doenga,infelicidade, triste- 24, guetr, revoluedo) arrancam-nos a forga por um tempo mais courmenos longo do citculo das habitostradicionais, mas eles so sentidos, em geral, como uma “injustiga” mais ou menos grave. Eniio, 0 desejo predominante de reencontraro mais depressa pos- sivel o estado perdido dos hibitos tradicionais prevalece sobre qualquer outro sentimento, Dointerior 0s abalos provenientes do interior sao de natureza diferente ~ so criados pelo pr6prio homem e, portanto, encontram nele in: terreno apropriado. Deles nfo resulta a atitude de observar a ‘na através da “janela”, dura, rfgida, mas frégil, e sim a capaci- dade de it-i-rua. O olho aberto e 0 ouvido atento transformam as ‘mais fnfimas sensagGes em acontecimentos importantes. De to- ddasas partes afluem vozes ¢ o mundo canta. Ponto 19 ‘Como © explorador que descobre novos paises desconheci- ds, fazemos descobertas no “‘cotidiano”, e 0 entomo, ordinaria- ‘mente mudo, omega a nos falar numa lingua cada vez mais cla- ta, Os signos mortos se tomam simbolos vivos, ¢ 0 que estava, morto revive. Evidentemente a nova ciencia da arte s6 poder serconcebid ranstormando-se em simboios os signos’ € se v otlto aberiv © o ‘ouvido atento encontrarem o caminho que leva do siléncio a pa- lavra, Os que nio forem capazes de fazé-lo deverao renunciar & arte, “te6rica” ou “pritica” — seus esforgos nunca levario a uma ponte e apenas aumentario ainda mais o abismo atual entre o ho- ‘mem e a arte, Sdo justamente homens como esses que pretendem, hoje par um ponto final depois da palavra Arte Isolamento Isolando-se pouco a pouco o ponto do circulo restrito de sua ago habitual, suas caracteristicas internas, até entdio mudas, des- prendem uma ressondncia crescente. Suas caracteristicas — ten- shes internas — desprendem-se uma a uma das profundezas de seu sere suas forgas irradiam-se. Seus efeitos e influéncias su ram 0s refteamentos humanos. Emi sui, 0 pouto morte toma-se ‘um ser vivo. Entre numerosas possibilidades citemos dois casos tipicos: Primeiro caso 1, Movamos o ponto de sua posigdo pritica e utilitéria para uma posigio init, logo al6gica, Hoje eu vou 20 ci Hoje eu vou. Ao cinema , Hoje eu. Vou ao cinema E evidente que, na segunda frase, « mudanga do ponto ainda pode parecer légica — sublinhando a finalidade, insistindo na in- tencao, apregoando. ‘Na terceira frase, o alogismo se tomna flagrante, mas pode ser ‘explicado como um erro tipogrifico — 0 valor intemo do ponto aparece como tum relimpago, mas logo se apa 20 PONTO E UNA SOBRE LAN Segundo caso 2. Movemios 0 ponto de sua posigdo utilitéria e pritica de manei- ‘a que se encontre fora do alinhamento da frase. Hoje eu vou ao cinema Nesse caso, © ponto requer um espago livre maior para que sua ressoniincia se afirme, No entanto, esse som permanece fri gil, modesto € submerso pela proximidade da frase Maior libertagao © aumento do espaco livre e das dimensdes do ponto diminui 4 ressomincia da escrita, e o som do ponto ganha em clareza e forga ta. 1. Produz-se, assim, uma ressondincia dupla (Zveiklang) ~ es- crita-ponto — fora da relagio prético-uiltério, E um bakancea- ‘mento de dois mundos que nunca poderio se equilibrar. Encon- tramo-nos diante de uma situagdo insensata, andrquica ~ a escri- ta é perturbada por um elemento estranho, com o qual nenhuma relagio € possivel. Ser auténomo © ponto, arancido assim de sua posi habitual, agora toma o impulso para dro salto de um mundo outo, ibertando-e de sua submisséo e do pritico-ulitrio, © ponto comega a viverco- ro um serauzdnomoe de ua sbmissdo evolu para uma neces- sidade interior. £0 mundo da pinta. Ponto 24 Pelo choque © ponto é 0 resultado do primeiro encontro da ferramenta com a superficie material, o plano original. Papel, madeira, tela, estu- 4que, metal ete. podem constituir essa superficie material. Lé ‘goiva, pincel, pena ou buril podem sera fe-ramenta. Por esse-D ‘meiro chogue o plano original ¢ fecundade. Conceito ‘A nogio exterior do ponto na pintura é imprecisa. © ponto _geomeético invisivel, ao se materializar, deve aleangar cera di ‘mensio, ocupando certa superficie no plano bésico. Alm disso, ele deve ter limites — contornos que o isolem do entomo. Isso & 6bvio e parece simples & primeira vista. Mas, apesar dessa simplicidade, chocamo-nos imediatamente com a falta de preciso que denota o estado embrionério da atualteoria da ate Dimensio As dimensdes e as formas do ponto vatiam e, com isso, muda também a ressoniinca relativa do ponte ahstento Exteriormente, podemos definir o ponto como a menor forma biisica, No entanto, essa definigdo nao é precisa. E dificil definir ‘0s limites da nogio “menor forma” — 0 ponto pode crescer,tor- nar-se superficie e preencher imperceptivelmente toda a superti- cie basica. Onde seria entio o limite entre 90ntoe superficie? Devemos levarem conta aqui duas condigdes: | arelaglo entre as dimensdes do ponto eda superticie basica e 2a relagio dessas dimensbes com as outras formas nessa mes- rma superficie. © que pode ser considerado ponto numa superficie bésica totalmente vazia deve ser designado come superficie quando, na ‘mesma superficie basica, uma linha bem fina se acrescenta (2. Nos dois casos, a relagdo entre as dimensGes define a nogio de ponto, o que hoje s6 se poderd avaliar por intuigio falta uma formula numérica precisa 22 FONTO ELNASOBRE PLANO Fa2 Nos limites. ‘Assim, hoje, podemos definir e avaliar apenas intuitivamen- te 05 limites extremos do ponto. A aproximagio desses limites extremos, ou a propria superagio deles, 0 momento preciso em que o ponto como tal comega a desaparecer para ceder lugar a ‘uma superficie nascente, € um meio para a finalidade. Nossa finalidade, nesse caso, € velar 0 som absoluto,ressal- tara dissolueto, fazer ressoar a imprecisio na forma, ainstabili- dade, 0 movimento positive (ou mesmo negativo) a cintilagao, a {ensio, 0 nfo-naturalismo da abstragio, 0 risco da superposicio interior. (As ressondincias interiores do pontoe da supericieres- saltam, superpdem-s e jorram.) Som duplo* numa s6 forma, isto €. eriagio do som dupto por uma forma. Essa diversidade com- Plexidade na expressio da “menor” forma - obtidas por mudan {85 minimas de suas dimensSes ~ oferecem até mesmo aos mais, ingénuos um exemplo plausivel da profundidade e da forca de expresso das formas abstratas Forma abstrata ‘Com a evolugdo futura desses meios de expressio e com a re- ceptividade crescente do espectador, serio indispensiveis no- ‘gdes mais precisas que poderdo ser obtidas por medigao. A f6r- ‘mula numérica serd inevitivel. Formula numérica Permanece © perigo de as formulas fiearem aquém da sensi- bildade ea frearem. A férmula parece cola e lembra um “papel 4éepegar mosca” de que os inconscientes se tomam vitima A for- ‘mula também & como uma poltrona, que enolve o homem com seus bragos momos. Mas 0 esforgo para se libertardesses vincu- Jos € a condigio de um salto adiante na direg20 de novos valores ¢,finalmente, de novas formulas. As frmulas também mortem € serio substituidas por descobertas mais recentes. Forma 0 segundo fatoinevitavel &0 limite externo do ponto que de- fine sua forma exterior Em pensamento abstrato ou em nossa concepeio, © ponto € idcalmente pequeno, idealmente redondo. Fm suma, & 0 cfr- culo idealmente pequeno. Mas, tanto quanto suas dimensies, seus contomos também sao relativos. Em sua forma real, 0 ponto pore adquirir um nimero infinito de aparéncias:& sua forma ci ‘cular podem acrescentar-se pequenos recortes, pode tender a ou- tras formas, geométricas ou mesmo livres, Pode ser pontudo e se aproximar do triingulo, Por uma tendéncia a uinarelaliva imobi lidade, ele se faz quadrado, Seus recortes podem ser minuciosos ou generosos e se encontrar em relagdes miiiplas. Nao pode- mos definir limites, 0 dominio dos pontos ¢ ilimitado (fg. 3. Sonoridade primaria Assim, sonoridade priméria do ponto ¢ varivel segundo suas jensGes e sua forma, Mas essa variabilidade nada mais € que 24 FONTOE UAHA SOBRE PLANO eusere#eav eo 1, 0 oe @ & Fo. 3. examples ds eras de pont ‘uma variante de coloragdo relativa de seu cariter fundamental, {que permanece inalteravel. Absoluto Devemos ressaltar todavia que, na realidade, nfo existem ele- ‘meatos de sonoridade absoluta, de radiaco monocroma, por as- sim dizer, e que mesmo os elementos a que chamamos “elemen- tos basicos ou elementos primérios” sio complexos e nada sim- ples. As noedes que designam uma coisa como “primitiva” nc so mais que nogdes relativas, e, da mesma maneira, nossa linguagem “cientifica” permanece relativa. O absoluto nos & des- cothecido. Noo interior No inicio deste capftulo,falando do valor pritico utilitério do Porto, nés o definimos como uma noedo ligada ao siléncio mais, ‘ou menos longo na linguagem escrita, Tomado em sua significagio interior, 0 ponto constitui uma cafirmacao profundamente ligada & maior reserva. 9 ponto é, interiormente, a forma mais concisa, Ele € introvertido. Nunca perde totalmente essa caracteristica —nem mesmo se sua forma exterior se torna angulosa. Tensdo Definitivamente, sua tensdo permanece concéntrica ~ mesmo ‘no momento de uma tendéncia excéntrica, quando uma dualidade de sonoridade aparece entre o concéntrico ¢ 0 excéntrico. Superficie © ponto é um pequeno mundo a parte— mais ou menos isola do de todos 0s lados e quasearrancado de seu entomo. A integra- {loa esse entomo € minima e parecerd inexistente se 0 ponto for perfeitamente redondo. Por outro lado, ele mantém solidamente sua posigio e no mostra nenhuma tend&ncia de movimento em nenhuma diregdo, nem horizontal, nem verticalmente. Ele nio avanga, nfo recua, somente sua tensio concéntrica demonstra seu parentesco com 0 efrculo, suas outras caracterisicas So mais préximas daquelas do quadrado* Definicao © ponto se incrusta no plano originale se afirma para sempre. Assim, ele 6, interiormente, a afirmacdo mais concisa e perma~ rnente, que se produz breve, firme e rapidamente Por isso o ponto & no sentido exterior e interior, o elemento primério da pintura e, especificamente, da arte “grifica** “Elemento” e elemento Annogiio de elemento pode se ‘como nogao exterior ou interior. Exteriormente, toda forma grifica ou pict6rica é um elemen- 10, Interiormente, nfo é a forma, mas sua tensdo viva intrinseca ‘que constitui o elemento. spretada de duas maneiras: + Ver meu ago sacs slags ent 0 elamertorca € o elementos ferme: 0s de ‘renortndomerts ds forms" "Tae ura dena games do porto pot O- gp it, “agen” ou como. As dtngoe rometcaseptrcas So arkas Ergun sb o pont ¢ ins ‘dame “temento ogra” On 2echebuch Ge Rad! Koch 2 ed, Veog W GeSturg ‘rebcn aNe 1526 26 PONTO ELIA SOBRE PLANO De fato, nfo sio as formas exteriores que definem 0 contetido, de uma obra pictérica, mas as forgas-tensdes que vivem messas, formas*.. Se, subitamente, por um azar, as tenses desaparecessem ou, se esvaissem, a obra viva logo desapareceria. Por outro lado, qualquer montagem (Zusammensiellung) fortita de formas di Yersas tomar-se-ia uma obra. O contetdo de uma obra se expr ime pela composicao, isto €, pela soma interiormente organizada das tensdes desejadas. Essa afimmagdo que parece tio simples tem, no entanto, um, importante significado de principio: sua aceitagao ou sua rej 0 nao divide apenas os artistas contemporineos, mas também todos os homens de nossa época, em duas categorias opostas: 1.08 que admitem o ndo-material ou o espiritual fora dos concei- tos materiais e 2.08 que no admitem nada que nao seja material. Para esta iltima categoria, a arte nao pode exist, e € por isso «que eles negam até mesmo a palavra “arte” e procuram substitu. ‘De nosso ponto de vista, dever-se-ia fazer uma distingao en- ‘re elemento ¢ “elemento”, compreendendo-se por “elemento” a forma desprovida de tensio e por elemento a tensio contida nessa forma, Assim, os elementos so abstratos, no sentido pro- fundo, e a propria forma é“abstrata”. Se fosse efetivamente pos- siveltrabalhar com elementos abstratos, a forma exterior da pin- ‘ura contemporanea mudaria profundamente, o que nao signif caria que toda pintura se tomaria supérflua, porque mesmo os «elementos pict6ricos abstratos conservariam seu valor pict6rico, ‘como os elementos da misica. Tempo A estabilidade do ponto, sua recusa a se mover no plano ou além dele, reduzem ao minimo 0 tempo necessario & sua percep- (edo, de modo que o elemento tempo € quase excluido do ponto, 0 ue 0 toma, em certos casos, indispensivel & composigiio. Ele * Ct Heh cab lent aie und unmastatic’ Vetag FEne, Stta. 1925, Gtereea ene “mtr « ened sam pa) rowtoay corresponde breve percussio do tambor ou do tridngulo na mii- sica, as bicadas secas do pica-pau na natureza, Oponto na natureza Anda hoje o emprego do ponto ou da tinharemrpintureé mat= Visio por aiguns teGricos da arte que gostariam de manier, entre ‘outras compartimentagées, a velha separacao entre dois dominios artisticos que, ainda recentemente, pareciam bem separados: a pintura e as artes gréficas. Nenhuma razao interior existe para tal separagao™ © tempo na pintura © problema do tempo na pintura & autOnomo e complexo. Nao faz muitos anos que, também quanto a esse aspecto, comegava- se a demolir um muro**. Esse muro separava até entio dois do- inios da arte: a pintura e a misica ‘Addistingdo aparentemente clara e justificada: Pintura—Espago (Plano) Misica—Tempo tornou-se subitamente discutivel por um exame mais aprofun- ‘dado (embora superficial) -em primeiro lugar no caso dos pin- tores***, O fato de ignorarem geralmente, ainda hoje, 0 ele- ‘mento tempo na pintura bem mostra a leviandade das teorias dominantes, longe de toda e qualquer base cientifica. Nao pre~ tendemos aprofundar aqui essa questio, mas certos fatos que es Clarecem a aparigo do elemento tempo devem ser sublinhados + orate desu dtngan¢ amen ena, sua deseo press fse races ‘a sera aon ade pts manu de ptr mpresa 9 ie near © caer (Winco das ohn A roto de ae “gc trcuse won malas vires cose 9 oq rela nas ares gion o gue pro a con qucrana es eich: uns Uma age, pla io, uma ea pets ou mak pecsames, ra pura marl A mess ara, felons repos pus lela, pemarece una spore, por mas imac prs reresa, Core dees essen poe st Deena 9 SeSane (Go artuaten “perc tenca" ou puree “cos Os prereset eae arto tan de 120, pr euro na Academa Rusa 5 Cor minha papa ia ane oat, encod do wares treo rapa, dese es, Soe me sana es 28 PONTO ELIA SOBRE RLANO O ponto é a forma temporal mais concisa. ‘Quantidade de elementos na obra Oponto, que é 1. uma entidade (dimensio e forma) e 2. uma unidade bem definida, ppv ser, teoricamente, em certos casos de combinago com o pla no basico, um meio de expressio suficiente. Vista esquematicamente, uma obra poderia consistir,no fim das contas, num s6 ponto. Essa afirmacio nao deve ser conside- rada apressadamente. Se atualmente 0 te6rico (que 6, com freqiéncia, ao mesmo tempo, o pintor “executante”) selecicna obrigatoriamente e exa- ‘mina com certaatengo os elementos bésicos para encontrar um, sistema dos elementos da arte, ndo apenas se coloca a questo do ‘emprego desses elementos, mas também, com idéntica acuidade, problema do nimero de elementos necessarios a uma obra, mes- ‘mo que concebida teoricamente. Essa questio faz parte da grande teoria da composigao que, atualmente, ainda é vaga. Devemos proceder, aqui também, de ‘maneira conseqiientee sistemitica ~ pelo comego. Fora da an se dos dois elementos primarios, 0 objetivo desta exposigao € u ‘camente indicar as relagGes com um plano de trabalho geral © cciemifico e definir a diregdo para ume ciéncia da arte. As indica- ‘Bes aqui definem apenas 0 andamento a seguir. E nesse espirito que tratamos a questZo: um ponto pode cons- tituir uma obra? Encontramos virias possibilidad 0 caso mais simples e mais conciso & 0 do ponto central ~ do ponto no centro do plano de base constiuido por um quadrado i. ‘A imagem priméria Acliminagdo da expressto do plaro original é levada aqui a0 ‘maximo e constitui um caso dnico*. A dualidade ~ Ponto-Plano + consti 8 poder cin peta encase isan no apo eat voaothara Oran " = assume o carter de uma harmonia simples: a ressonfincia do plano se toma relativamente inexistente. Indo no sentido de uma ‘Simplificagdo, isso constitui o caso extremo de uma série de dis- soluigdes de ressondncias miltiplas e duplas, que excluem qual- quer elemento complexo ~ redugdo da composigdo unicamente ao elemento originario. E esta a imagem primdria de toda ex- pressdo pictorica. Conceito de composicio ‘Minha definigdo do conceito de composigio & a seguinte: A composicio €a subordinagdo interiormente conforme d finalidade 1.dos elementos isolados e 2. da construgao para ofim pictorico concreto. Harmonia como composicso Base ‘Se a ressondincia harmoniosa corresponde completamente & finalidade pict6rica dada, essa ressondincia harmoniosa deve ser considerada como 0 equivalente de uma composigio. Ela se tor- now a propria composigao*. + Aue pla ssa" lt ato aad scsi 0FONTO E UNA SOBRE PLAN As diferengas de composicdo — as finalidades pictéricas — cconstituem, superficialmente, apenas o equivalente de uma dife- renga numérica. Sao diferengas quantitativas. No caso da “‘Ima- ‘gem priméria da expressio pict6rica’’, o elemento qualificativo é tevidentemente exclufdo, Se, para a apreciacio da obra, a base qualitativa é determinante, a composigao exige pelo menos uma ressondincia dupla. Esse caso faz parte dos exemplos que subli- nnham com insisténcia a diferenca entre medidas e meios exterio- res interiores. Aqui s6 podlemos afirmar o que contamos provar ‘em seguida, a saber, que na realidade nao existem ressondincias verdadeiramente puras. Em todo caso, uma composigao em ba- ses qualitativas s6 pode resultar do emprego de ressonfincias miltiplas Organizagao (Aufbau) excéntrica No momento em que deslocamos 0 ponto do centro do plano bésico ~ organizacio excéntrica -, a ressonancia dupla se toa, perceptivel: da situagao dada no plano original. Essa ressoniincia secundaria, que a organizagio central tinha recuzido ao siléncio, toma-se novamente perceptivel e transfor- ‘mao som absoluto do ponto em ressonancia relativa. ‘Aumento quantitative ‘Uma repetigdo desse ponto no plano original provoca, evi dentemente, um resultado muito mais complicado ainda, A mul- tiplicagio € um fator poderoso para aumentar a emogfo interior ©, 40 mesmo tempo, cria um ritmo primitive que é, de novo, um ‘meio para obter uma harmonia primitiva em qualquer arte, Por outro lado, encontramo-nos em presenca de duas ressondncias duplas: cada lugar do plano basico possui sua ressonancia pré- pria com sua coloracao individual, Assim, fatos aparentemente ouco importantes provocam efeitos de uma complexidade ines- perada, row 31 Eisos fatos de nosso exemplo: Elementos: 2 pontos + plano. Efeito: ressondincia intema de um ponto; . repetigao da ressonsincia: ressoniincia dupla do primero ponto; ressondncia dupla do segundo ponto; acorde da soma de todas essas ressonsincias. Sabendo que o ponto é uma unidade complicada (suas dimen- ses sua forma), podemos imaginar facilmente a avalanche dos aacordes que se produzem no plano por uma multiplicagio pro- gressiva dos pontos — mesmo que os poatos sejam idnticos ~ como essa avalanche se estenderd se, em seguida, pontos de de- sigualdade crescente quanto as suas dimensdes € a suas formas {orem projetados no plano. A natureza ‘Num outro dominio automo ~ na natureza -, encontramos ‘com freqiéncia uma acumulag20 de poatos, que é sempre con- forme 3 finalidade c organicamente necesséria. Essas Formas na turais sdo na realidade corpiisculos espaciais. Sua relag3o com 0 Ponto abstrato (geométrico) é a mesma que a do ponto pict6rico. “Também podemos consideraro “mundo” inteiro como uma com- posigdo césmica completa, por sua vez composta de uma quanti- dade infinita de composigoes autdnomas cada vez menores,(0- das elas compostas em tiltima anélise, tanto no macrocosmo co- io no miviocosiio, de ponios, 0 ue estitul ao ponto, als, seu estado geométrico originério, S40 unidades de pontos geométr- ‘cos que se encontram Sob diferentes aparéncias em equilfbrio no {nfinito geoméitico, As menores dessas formas definidas e cen- ‘rifugas nos aparecem efetivamente a olho nu como pontos livre- mente dispostos. E 0 aspecto de varios gros: e, se abrirmos a linda bola, polida como marfim, do fruto da papoula (que nio é mais que um ponto-bola maior), descobyitemos nessa bola quen- te acumulagées logicamente compostas de pontos frios cinz azulados que trazem em si uma fertilidade latente, do mesmo mo- do que o ponto pictérico, Por vezes, essas formas se produzem na natureza por cisio ou desagregaedo das unidades de que falamos — por assim dizer como ponto de partida rumo & forma geométrica origindria, Se 0 deserto é um mar de areia, composto exclusivamente de pontos, a irresistivel capacidade mével de todos esses pontos “mortos’ no deixa de nos assustar Na natureza também ponto é um ser introvertido cheio de possibilidades (9.506 ‘As outras artes Encontramos pontos em todas as artes, ¢ 0 artista terd cada vez mais consciéncia de sua forga intrinseca, Nao devemos ignorar sua importincia. roxto as Fi, 6 Fogo de iti, ald 1000 ves (Kultur dr Geganart T, Sect. 3, pn) Escultura ‘Arquitetura Na escultura e na arquitetura, © ponto é a resultante da inter- segio de vérios planos ~ 6 0 remate de um Angulo espacial e, por ‘outro lado, esté'na origcm desses planos: os planos devem diri girse para o ponto e se desenvolver a partir da. Nas construcdes g6ticas, os pontos so muitas vezes airmados por pontas e res- saltados plasticamente. O mesmo efeito obtido nas construgdes chinesas, de maneira igualmente nitida, por uma curva que con- duz ao ponto ~ golpes breves e precisos se prodizem, transigao para a dissolugéo do volume, que repercute no espago circuns- tante, E justamente nessa espcie de constigies que podemos supor um emprego consciente do ponio, pois ele se manifesta em composigées desejadas que esticam os Volumes até uma ponta extrema, Ponta = Ponto (ig. 768. Danca No balé clissico jf se falava de “pontas” — terminologia sem

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