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O APOSTOLO PAULO FE SUAS CARTAS? 1. Paulo de Tarso © Apéstolo Paulo nascen entre os anos 5 ¢ 10 dC, na cidade de Tarso da Cilicia (At 9.11: 21.39: 22.3). Era filo de judeus. da wibo de Benjamin ¢ como era o costume foi circuncidado ao oitavo dia (F1 3.5). Sd0 Terdnimo informa que seus pais eram de Giscala, na Galiléia. Paulo cresceu seguindo a mais perfeita tradicio judaica (FI 3,3-6). Tinha uma innd e um sobrinho que moravam em Jerusalém (At 23,16). Sua profisstio era artesio, fabricante de tendas (cf. At 18.3). O seu estado civil também é um tanto incerto, ainda que na maioria clas vezes se afirme que era solteiro. De fato. em 1Cor 7.8 ele escreve “Aos solteiros e ds vitivas, digo que seria melhor que ficassem como eu”. Mas em 1Cor 9.5 ele escreve “Nao temos o direito de levar conosco nas viagens uma mulher eristé, como fazem os outros Apéstolos e 0s irmaos do Senhor e Pedro?” Ainda jovem foi para Jerusalém ¢, na escola de Gamalicl, se especializou no couhecimento da sua religido. Tornou-se fariscu, ou seja, especialista rigoroso ¢ inepreensivel no cumprimento de toda a Lei ¢ seus pormenores (At 22,3). Chieio de zelo pela religido, comegou a petseguir os cristaos (FI 3,6; At 22.4, 26,9-12: GI 1,13). Esteve presente no mattirio de Estevao, cujas vestes foram depositadas aos seus pés (At 7.58). Continuow perseguindo a Igteja (At 8,1-4: 9.1-2) até que se encontrou com o Senhor na estrada de Damasco (At 9,3-19). A experiéncia de Jesuis mudou completamente a sa vida. De perseguidar passou a ser o antnciadar até a sua morte, provavelmente em 68 dC. ‘Na sua primeira missio apostélica, entre os anos 45 ¢ 49, anunciando o Evangelho em Chipre, Pantilia, Pisidia e Lacaénia (At 13-14), passou a usar 0 nome grego de Paulo de preferéncia a Saulo, seu nome judaico (At 13,9) (Talvez seu verdadeito nome hebraico fosse Saul, em homenagem ao primeito tei de Israel € que também eta da tibo de Benjamin) Era um homem bem preparado, além de conbiecer bem a sta religido (0 que pode ser comprovado pelas muitas citagdes do Antigo Testamento), posstia boas nogdes de filosofia e das religides gregas do seu tempo. Em Tarso, sua cidade natal, havia escolas filosoficas (dos estdicos e cinicos) e também escolas de educadores. Ali nasceu Atenodoro, professor e amigo do imperador Augusto. Paulo algumas vezes utiliza frases desse educador: “Para toda eriatura, a sua conscieneia é Deus” (CE. Rui 14.222): “Guarde para voee, diante de Deus, a consciéncia qute voce tem”: “Coniporte-se com 0 préximo como se Deus visse voce, e fale com Deus como se os outros ouvissem voce” (CE. 1Ts 2,3-7), Paulo conhecia bem o grego ¢ 0 método da retorica. Esforgava-se para compreender 0 modo grezo de viver. Além disso era cidadao romano (At 1637s: 28; 23,27). Embora mio ‘mencione isso em suas Cartas, como se o desprezasse, pois para ele a verdadeira cidadania é outa (Fl 3.20). Porém, ele soube tirar proveito desse titulo, bem como de toda a bagagem cultural adquirida, para conduzir todos a Jesus (1Cor 9.19-22), Lenclo as Cartas percebemos 0 carter do Apéstolo: &s vezes muito meigo ¢ carinhoso; as vezes, severo. ‘Nilo abria mao das suas idéias © ameagava com castigos. Escrevendo as comunidades comparava-se & mae que acaricia 0s filhinhos ¢ era capaz de dar a vida por cles (1TS 2,7-8). Sentia pelos figis as dores do parto (GI 4,19), Amava-os, ¢ por isso se sactificava ao maximo por eles (2Cor 12,15). Mas eta também pai que educava (ITs 2.11), que gerava as pessoas, por meio do Evangelho. a vida nova (1Cor 4.15). Sentia o cifime de Deus (2Cor 11,2) pelas commnidades que fundou, temendo que elas perdessem a f8. Quando se fazia necessétio, exigia obedigncia (1Cor 4.21), Muitas vezes Paulo ¢ apresentado como alguém distante do povo ¢ das suas comunidades: ou ¢ acusado de ser incapaz de manifestar scutimentos. indiferente ao drama das pessoas. anti-feminista, moralista ¢ assim por diante, Os que véem Paulo com esses ollios esqueceni-se de suas viagens, cadeias. softimentos, perigos e. sobretudo, stia paixdo por Tesus e pelo povo. Era capaz de amar todos os membros de todas as comunidades, sem dlistingao, chamando-os de “queridos” e “amadas” ou “irmaos”. Queria que todos fossem figis a Deus Assim se tornariam seus filhos. como por exemplo, era Timéteo (1Cor 4.17). E interessante ler as suas Cartas € ‘anotar com quanta freqtténcia ele tsava expressdes, tais como: tudo, todo, sempre. continnamente, sem cessar. etc., © com elas expressar sta constante preocupardo para com todos. E basta uma leitura mais cautelosa das suas Cartas para descobrir que Paulo nio é assim to insensivel e que todo o seu apostolado vem carregado de sentimentos. “Nés vos falamas com toda liberdade, 6 Corlntios, 0 nosso coragdo se dilatou. Nao é estrelto lugar que ocupais em nés, mas & em vossos coracdes que estais na esireiteza. Pagai-nos com igual retribuicdo, faio-vos como a filhos: dilatai também vossos coragdes!” (2Cot 6.11-13).. Paulo encontrou dificuldades pata set aceito como Apéstolo, As suspeitas vinham do fato set um perseguidor e sobretudo porque nao foi escolhido pessoalmente por Jesus. Quatorze anos apds a sua conversao, subit a Jerusalém, para o Concilio, onde defendeu a nao circunciso para os pagdos. Ele mesmo se defendeu das acusagOes (Gl 1,12. 2Cor 9.2-3; 12,14). Para ele, anunciar o Evangelho era uma obrigagao: “Ai de mim se eu nao amuciar 0 Evangelho!” (ck. Cor 9,15-17). * Para este texto utilizei muitas informagdes do livro: fntrodugdo a Paulo e suas Cartas de J. Bortolini (Paulus, 2001). Em sua ineansivel missio de anunciar 0 Evangelho Paulo sofieu muito, mas ndo desistiu, Ele mesmo relata algumas das situagdes dificeis que passou: “Multas veces, vieme em perigo de morte. Dos judeus recebi cinco vezes os quarenta golpes menos um. Trés vezes ful flagelado. Uma vez apedrejado. Trés vezes naufraguel. Passei um dia e uma noite em alto-mar. Fiz numerosas viagens. Softi perigos nos rios, perigo dos ladraes, ‘perigos por parte de meus irmaos de estirpe, perigas dos gentios, perigos na cidade, perigos no deserto, perigos ‘no mar, perigos dos falsos irmaos! Mais ainda: fadigas ¢ duros trabalhos, numerosas vigilias, fome e sede, rmuiltiplos jejuns, frio e nudes!” (2Cot 11,23b-27). Teve que lutar contra os falsos missionsrios (cf 2Cor 10-12) que anunciavam um Evangetho ficil, que figiam da humilhagao ¢ da tribulagdo, Amunciavam wm Jesus sem a cruz. Paulo amunciava o Jesus Crucificado. ainda que isso fosse escéndalo (1Cor 1,23) E importante notar que para os judeus alouém que fosse condenado a morte, e suspenso numa arvore. era considerado um maldito de Deus (Cf. Dt 21.22-23), Porém a cruz nao era o fim. O mesino Jesus da cruz & também o Jesus Ressuscitado (Cor 15). 2. Paulo € os Atos dos Apéstolos. Lucas, na segunda parte dos Atos (16-28), fala unicamente da atividade do Apdstolo Paulo, mas isso nao significa que ele tenha sido o tinico evangelizador e formador de comunidades. Paulo tornou-se 0 simbolo de todos 05 missionarios que souberam levar a Boa Nova de Jestts Cristo pelo mundo afora. E Paulo sozinho ndo teria atingido seu éxito, se ndo fosse a grande ajuda de tantas pessoas que com ele abragaram a fé, que 0 acolhiam cm suas casas (At 16.15.34: 18.3.7) ou que contribuiram com alguma ajuda para as stias necessidades (F14,15-16: 2Cor 11.9). 0s Atos dos Apostolos foram escritos cerca de 15 anos apds a morte do Apostolo. Como se sabe, Paulo niio eta muito bem aceito em certos grupos cristios, Lucas tentou resgatar a imagem ¢ o trabalho evangelizador do Apéstolo. Paulo é, para Lucas, a figura ideal para representar o caminho do discipulo na histéria. Um caminho feito de testemnhos em meio aos conflitos. Mostra que 0 caminho do discipulo nao é diferente do caminho do Mestre (cf. 0 Evangelho de Litcas). Por isso, serve-se de algtnns (nao todos) os fatos marcantes da vida de Paulo, apresentando-os a seu modo e segundo sua visio. A estrutura dos Atos dos Apostolos muitas vezes coincide com a do Evangelho de Lucas. 0 certo, porém, € que a vida ¢ obra de Sio Paulo sto bem maiores do que aquilo que nos relatam os Atos € as Cartas, 3. Paulo e Jesus Paulo seguramente nao vin o Jesus histérico © nem ouvint stia voz e suas palavras. Teve uma forte experigncia do Cristo Ressuscitado (At 9.3-9: 1Cor 15.8). Alguns nao queriam reconhecé-lo como Apéstolo pelo fato de nfo ter sido um dos Doze Apostolos e de nao ter sido escolhido por Jesus e de no ter vivido com Ele Alguns textos das Cartas dio margem a interpretasdes diferentes. Por exemplo, em 2Cor 5,16b ele escieve: “Mesino que tenhiamos conhecido Cristo segundo as aparéncias, agora ja ndo 0 conhecemos assinn Outro texto como 2Cor 12.1-6 poderia induzir que Paulo estivesse emi Jerusalém por ocasido da Paixdo do Senhor. Ha outros que pensam qule Paulo fazia parte do Sinédrio e que tenha votado pela condenacao de Jesus, a partir da expresso “dei meu voto” (cf. At 26,10). Porém, a maioria dos autores segue a linha de que Paulo de fato nao conheceu pessoalmente Jestis ¢ nao teve contato com ele, © Apéstolo nio tina ainda em maos os evangelhos esctitos. Ele os trazia impressos na sua came, marcada por toda sorte de softimentos (1Cor 11,21-29), a pouto de estar crucificado com Cristo (Gl 2.19). trazendo em seu corpo as marcas da paixdo de Jesus (2Cor 4,10: Gl 6,17), € completando, no seu corpo, 0 que faltava das tribulagdes de Cristo (CI 1,24). Assim ele podia dizer que “j4 ndo sou eu que vivo, mas € Cristo que vive em min” (GI 2,20). Pelos escritos do Apéstolo Paulo, nés verificamos também algumas diferencas entre 0 seu modo de anunciar € 0 modo como Jesus anunciava, Jesus anunciou a sa mensagem praticamente aos judeus, da Galiléia, pois segundo os sinéticos. Jesus s6 foi a Jerusalém para a Pascoa, quando foi crucificado e morta e depois ressuscitot, Paulo, por sua Vez, percorreu o império romano e foi a Roma (capital) como parte final da sua vida, onde sofiew a sua paixdo. Jesus falava em aramaico © anunciava o reino em pardbolas, criadas a partir da observagio atenta da vida simples do povo da roga e das aldeias, Paulo, a0 contrrio, embora também soubesse falar 0 aramaico, anuncion e eserevett em grego, porque sents ouvintes eram judeus da didspora e pagaos que falavam a lingua oficial da época. Paulo também era um bom observador da vida cotidiana, porém usava as imagens sobretudo da vida ¢ da cultura urbana, das grandes cidades. Ele falava do atletismo, dos esportes. da construcao civil, das paradas militares, das Intas nos estadios, da vida dos soldados, etc. Por isso. tentava inculturar a mensagem de Jesus de Nazaré (que viveu a maior parte do tempo na Galiléia) para o universo da cultura grega 4. A “conversa” ‘Os Atos relatam trés vezes a conversdo de Paulo, e as versdes nem sempre so iguais. Antes, 0 relatos se complementam e se justificam. A primeira vez (At 9,1-25) insere-se no contexto do martirio de Estévao e de outras converses. Encaixa-se entre a conversao do eunuco etiope (8.2640) ¢ a de Comeélio (10,111.18). A segunda vez o relato é feito aos judeus (22.1-21). E a terceira vez (26.1-23) é narrada diante das autoridades politicas Gudeus e ndo-cristdos). No plano de Lucas os trés relatos da conversdo de Paulo seriam uma espécie de proclamagdo universal: aos cristaos, aos judeus ¢ aos ndo-judeus. Lucas pode querer mostrar o universalismo da ‘mensagem de Paulo, (© evento de Damasco. historicamente foi sempre conhecido como “conversto de S40 Paulo” (temos inclusive a festa no dia 25 de janeiro). Porém, Paulo nao utiliza nunca a palavra “meiandia”. Também 0 que aconteceu com Paulo nao segue o sentido que no AT os Profetas davam ao termo: “voltar” “retomar”... Paulo no retomou ao farisaismo. Ao contrario ele abandonou o rigor da Lei. Sabemos que Paulo havia se tomiado um fariseu itrepreensivel (FI 3,6b). Era o méximo que um fariseu poderia aleangar, ser chamado de “inepreensivel”, isto & que observasse toda a Lei, seguramente também que Cumprisse 0s 613 preceitos. Os fariseus (= separados) acreditavam que 0 Messias viria quando todo 0 povo cumprisse a Lei fielmente, por isso consideravam 0 “povo da terra” € da Galiléia uns “malditos” porque nfo cumpriam a Lei (ef. Jo 7.49). Portanto, o que Patllo faz é “encontrar” o verdadeiro caminho; encontrar-se com o Senhor. Depois da cexperiéucia no caminho de Damasco. cle volta a estudar tudlo o que tinha aprendide ¢ se dedica a conhecer a mensagem de Jesus. Alguns estudiosos entendem que este foi um longo processo até abracar de vez 0 seguimiento de Jesus Cristo e tomar-se 0 grande evangelizador 5. Um missionario que escreve cartas as suas Comunidades O grande carisma de Paulo é ser um missionério. Depois de ter fundado as florescentes comunidades cristés no mundo helenistico. ele ndo as deixou privadas de assisténcia, mas as acompanhou com a stia guia pastoral: a “preocupacao por todas as Igrejas” representa, como ele mesmo afirmava, a sta “preocupacio quotidiana” (2Cor 11.28). E para manter os contatos com essas comunidades. para ajudé-las a resolver os scus problemas ¢ para rendé-las mais eficazes no seu testemunho ao mundo ao seu redor, Paulo se tomou escritor: as suas cartas nasceramn da missto ¢ em vista da missto. Paulo conhecia o bom funcionamento do correio do império romano soube fazer deste meio, um instrumento de evangelizacio. Foi assim, sem saber e sem querer, 0 primeiro grande escritor do Novo ‘Testamento. ‘As Cartas foram escritas em fime2o da situacdo concreta das commnidades. © Apéstolo acompanhava 0 crescimento das mesmas, com todos os seus problemas e dificuldades. Por isso, também a sta leitura hoje deve evar em conta a situacao especifica da comunidade a qual foi destinada cada uma delas. © scu: modo de scr missionério também ¢ diferente da mentalidade grega da época, Paulo trabalhava ¢ ganhava 0 seu sustento com o proprio trabalho. E era um trabalho manual. Para as elites abastecidas de bens culturalmente favorecidas, 0 tinico trabalho que dignificava o set humano eta 0 trabalho intelectual. Numa sociedade onde em algumas grandes cidades até dois tercos da populacao era escrava, Paulo encontrou seu hugar social entre os trabalhadores empobrecidos, ainda que pudesse fazer valer seus direitos de Apostolo e fundador de comunidades (1Cor 9,1-18: 2Cor 11,7-12). 6. As Cartas de Paulo © conjunto das Cartas Paulinas compreende um total de treze Cartas que sto atribuidas ao Apéstolo Paulo. A ordem em que se encontiam no canon biblico ndo reflete a data em que foram esctitas, mas foram ‘organizadas segundo a sua extensZo (as primeiras so as mais longas). ‘Alguns procuram agrupar as Cartas do seguinte modo: a) Cartas maiores: Romanos, 1-2 Corintios. Galatas e 1-2 Tessalonicenses. b) Cartas da prisao: Efésios, Filipenses, Colossenses e Filemon. ) Cartas pastorais: 1-2 Timsteo e Tito. AS Cartas aos Romanos, 1-2 Corintios, Galatas, Filipenses, 1 Tessalonicenses ¢ Filemon sto consideradas por todos os biblistas como Cartas auténticas de Paulo. Alguns biblistas questionam se a Primeira € Segunda Timéteo ¢ Tito so de Paulo ou dos seus diseipulos. Outros também colocam nesta lista as Cartas a Efésios, Colossenses ¢ 2 Tessalonicenses, pois usam uma linguagem diversa e tratam de problemas que existiam nas comunidades no final do I século. E certo que algumas Cartas de Paulo foram perdidas. Fm 1Cor 5.9 jé se fala de uma Primeira Carta aos Corintios. Em C1 4.16, Paulo se refere a uma Carta escrita aos cristdos de Laodicéia. E temos ainda a famosa “Cartas em lagrimas” aos Corintios (2Cor 2,4). Alguns estudiosos afirmam que a Carta aos Filipenses € um conjunto de varios bilhetes. E também que a 2Cor € um ajuntamento de varias cartas, enviadas em datas diferentes. ‘As Cartas nao foram escritas do préprio punho pelo Apdstolo. Fle as ditava (cf. Rin 16,22) e as vezes assinava (cf. Gl 6,11). Talvez a carta a Filemon tena sido o tio escrito com sua propria mao. 7.0 estilo e linguajar das Cartas Paulinas Em Tarso havia o comércio de escravos, que Paulo deveria conhecer bem, pois usa essa imagem para falar da morte ¢ ressurteigdo de Jesus (Cor 6.20; 7,21-25). E varias vezes ele usa a imagem da “compra € resgate” para ilustrar a acdo de Jesus em favor dos cristos Também havia uma ambiente cultural muito grande: arte, arquitetura, esportes, etc. ¢ que Paulo conhecia muito bem, basta ver como usa seus conceitos para elaborar stas metaforas, como, por exemplo, a questao da “parada militar” Em stias Cattas encontramos varios hinos (ICor 13; FI 2.5-11; ete.) que podem ser provenientes das comunidades onde Paulo evangelizava ¢ que talvez mio sejam de sta autoria, e que eram usados nas celebragdes. Porém, nada impede que entre os tantos dons do ApOstolo, pudesse também ter 0 poético. 8, Possivel cronologia ‘Nao € facil datar corretamente a vida e atividade de Paulo. Segue um possivel esquema’ + ano 5: Nascimento em Tarso. Sano 11: Comega a fieqitentar a escota na Sinagoga ano 20: Muda-se para Jerusalém para estudar e tornar-se fariseu na Escola de Gamaliel. = ano 35: Experiéncia no camino de Damasco: a “conversio” ‘Atéo ano 37: Esta na Arabia, Damasco e faz uma répida viagem a Jerusalém (Gl 1,17-18). ‘Até 05 anos 44 ou 45: Passa algns anos em sua terra natal, Tarso. No ano 45: Estadia em Antioquia da Siria Anos 46 a 48: Primeira viagem missionéria Ano 49: Em Jerusalém para o “Primeiro Concilio” da Igreja (At 15. Anos 49 a 52: Segunda viagem missionétia. Anos 53.458: Tetceira viagem missiondria Anos 59.462: Quarta viagem missionéria. Ano 68: ‘Morte mértir em Roma, 9, As etapas da historia Para compreender as Cartas Paulinas ¢ importante situé-las no seu contexto histérico. A historia das primeiras comunidades do NT pode ser dividida cm trés grandes partes” ‘Dos anos 30a 40 ‘Dos anos 40a 70 Dos anos 70 a 100 ‘O aniineio do Evangelho enire os | __A expansdo Missiondria no ‘Organizacdo e consolidacao das judeus mundo grego comunidades a) Dos anos 30 a 40 E um periodo curto de apenas dez anos. O ponto de partida é a manifestacdo de Pentecostes (At 2.1-36) qne gera o amiincio da Boa nova por toda a Palestina (At 2.41.47: 4.4: $.14: 6.7: 9:31), Este periodo é também chamado “Movimento de Jesus”. Este periodo termina com a crise provocada pela politica do imperador Caligula (37-41) e pela perseguicdo dos cristéos por parte do rei Herodes Agripa (41-44)" Neste periodo a maioria dos cristaos era formada por judeus convertidos. Fundavam comunidades a0 redor das sinagogas, & margem do judaismo oficial. O seu ctescimento obrigou-os a criar novas formas de ‘organizacao, como por exemplo, a escolha de novos animadores, chamados diéconos (At 6.2-6) 0 objeto da pregacao era o amincio da chegada do reino (Mt 10.6) ¢ a Morte e Ressurreicdo de Jesus (At 3.6: 3,14-15: 4,10-12). Os evangelhos ainda nao tinham sido escritos. E por isso eles liam o AT a partir do CRB. iver e Ammeciar a Palavra (Colegéo Tua Palavra é Vida n° 6). 15-27 3 E importante no confimndir os trés Herodes que governaram na época dos escritos do NT: a) Herodes, chamado 0 Grande, soveinou sobre toda a Palestina de 37 a4 aC. E aquele que aparece em Mt 21.16, no nascimento de Jesus # no massacre das crimgas inocentes, Foi ele que iniciou a construgio do Templo que exista na épocn de Jesus. b) Herodes, chamado ‘Antipas, governou sobre a Galileia de 4 aC até 39 dC. Ele aparece em Le 23,7. por ocasifo do julgnmento de fests. Foi também o autor da morte de Joao Batista (Mc 6,14-29). c) Herodes, chamado Agripa, governon sobre toda a Palestina de 41 a33 dC, Ele aparece nos Atos dos Apéstolos (At 12,1.20), Mandou matar 0 Apdstolo Tiago (At 12,2) evento Jesus Cristo € repetiam os ditos e feitos de Jesus a partir do testemunho dado por aqueles que tinham visto e ouvido Jesus Cristo. ‘Ji neste periodo aparecia a primeira divergéncia entre os cristdos judeus. Havia um grupo mais ligado a Estevao, que buscava uma abertura aos judeus da diaspora e ao helenismo (At 7.1-53). De outro lado havia 0 grupo ao redor de Tiago, ligado aos judeus da Palestina, que defendia uma fidelidade & Lei de Moises € a “Tradigdo dos Antigos” (Me 7.5: Gl 1,14). Na primeira perseguiga0 s6 0s cristios ligados ao grupo de Estévao foram perseguidos (At 8,1). Porém, na segunda perseguicao, aquela de Herodes Agripa (At 12.1-3), todos os grupos cristios eram alvo da represstio. Esta persegui¢a0 aos cristios, na Palestina, teve como conseqQéncia a missio para fora do tervitorio judeu. Paulo e Bamabé, seguindo a linha de Estévao, estavam entre esses :issionarios que foram pelo nmundo para formar novas comunidades. 1b) Dos anos 40 a 70 A perseguigao, o desejo missionatio e a vontade de anunciar a boa nova a “toda a ctiatura” (Me 16,15) levou of ctistdos para fora da Palestina. Nesses tinta anos o Evangelo se expandiu por todo 0 império, chegando a todas as grandes cidades. inclusive a capital Roma, o “fim do mundo” (At 1.8) Se seguimos a descrig4o das trés viagens de Paulo ¢ seus companhieitos, narradas nos Atos dos Apéstolos, vemnos que eles percorreram em torno a 16 mil quilémetros. Enfientaram muitos problemas (2Cot 11,25-26) ¢ também dificuldades da propria missdo de anumciar o Evangelho. ‘Além disso, a mensagem de Jesus foi marcada pelas mudangas de contextos. Vejamos as prineipais: — Do Oriente — para 0 Ocidente — Da Palestina — para a Asia Menor, Grécia e Italia — Da cultura jndaica — para a cultura grega (helenismo) — Da realidade rural — pata a realidade urbana = Das comunidades 20 — para comunidades ao redor das casas (03 k63) nas periferias redor das sinagogas das grandes cidades da Asia e da Europa. Estas passagens foram marcadas profindamente pela mudanga de mentalidade e pela tensdo entre os eristdos vindos do judaismo ¢ os novos cristdos que vinham de outras culturas (At 15; GI 2), Foi um doloroso processo de conversto com muitos conflitos ao intemo do préprio cristianismo. Imaginamos a dificuldade dos cristios judens, formados dentro da visto judaica da Lei, ¢ que deviam abrir-se para uma visio universal de Deuss. A passagem da visio de um povo eleito, privilegiado por Dens entre todos 0s povos para a certeza de que ‘em Cristo todos os povos faziam parte de um tinico povo (multizracial ¢ pluricultural) diate de Deus (Ef 2,17- 18: 3.6). As comunidades que surgiam, pequenas ¢ frageis, levavam a sério a mensagem de Jesus. E foram os ‘outros a reconhecer isso. Em Antioquia, para distingui-los. deram a eles o nome de Cristaos (At 11,26). E comecaram assim a adquirir a sua propria identidade. Os Atos dos Apéstolos relatam a beleza e o vigor dessas primeiras comnnidades (At 242-47: 4.32-37) ‘Mas a dificuldade nossa hoje € que nao temos as noticias de todas as primeiras commnidades. Os Atos € as Cartas relatam basicamente a missiio do Apéstolo Paulo © das comunidades surgidas através da sua missio. Quase nada sabemos do trabalho de outros missionérios, das comunidades espalhadas pelo norte da Africa, na Ttélia ¢ pelas outras regides ¢ que estavam presentes no dia de Pentecostes (At 2,9-10). Pouco sabemos também das comunidades da Sitia e da Ardbia, cujo centro era Antioquia. A comunidade de Antioquia chegou a competir em autoridade e influencia com a de Jerusalém. Foi desta comunidade que Paulo parti para as suas viagens missionarias, e onde viveu muito tempo, ©) Dos anos 70 a 100 Alguns fatos politicos ajudam a entender esta terceira fase da historia. A ascensdo de Neto ao poder do império romano. com a persegtigio 0s cristdos, 0 martirio dos Apéstolos Pedro e Panlo. O massacre aos judens, sobremdo no Bgito (66 dC) e a revolugao judaica na Palestina. iniciada no ano 68 dC e que levou a brutal destruigo de Jerusalém no ano 70. As comunidades cristis ainda cram pequenas ¢ sem influcncia, ¢ por isso se tornaram alvos faccis da perscguicao romana, Por outto lado. a destrticao de Jerusalém ¢ o fim do estado judaico ¢ das suas instituicdes religiosas provocaram a separacao definitiva entre cristaos e judeus. Tomaram-se duias religides distintas, inimigas entre si, que se excomungavam mmutuamente. E foi também o periodo do surgimento de muitas religides e doutrinas gndsticas e mistéricas, que comecavam a invadir o império romano. Elas penetraram também nas comunidades cristis e provocaram novos conflitos e tensdes. No final do século T os cristios foram perseguidos pelo imperador Domiciano. O cristianismo foi declarado religio nao-licita pelo império. ildo.perondi@puepr. br

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