You are on page 1of 31
Editora Quartier Latin do Brasil Rua Santo Amaro, 349 - CEP 01315-001 ‘Vendas: Fone (111) 3101-5780 Email: vendas@quartierlatin.art.br Site: www.quartierlatin.art.br ‘70008 05 DIREITOS RESERVADOS. Poin reprodugto total ou pacha. po qualquer melo {Te proveneo, especialmente por sistemas grafees, mrotimieos. flogrfiens. reprograios, TDgabcan vdengraieos. Vedada a memoraag e/ou a recuperacto total ou parcial, bem ‘Come a inchusdo de qualquer parte desta obra em quakque sistema de proceasamento de dades. Co eatieacs aploa oe tombem he caractertioasgrfias da cha e a sua editoracio. A ‘Golngao dos dretos autorais€ pure] como cme art. 164 e pardgrales do Codigo Pena) com pena de priede emuita, buses eapreensto e indentzagnes diversas (arts. 101 a 110da be 9.610, $19.02 1998, Lal dos Dirstos Autorats), Rosson Maia Lins Mestre e Doutorando em Direito Tributdrio pela PUC/SP Prof. da Especializagao da PUC/COGEAE Professor do IBET Advogado Controle de Constitucionalidade da Norma Tributaria DECADENCIA E PRESCRICAO Editora Quartier Latin do Brasil ‘Sao Paulo, verao de 2005 quartierlatin@quartierlatin.art.br Robson Maia Lins que 0 ordenamento atr‘bul a um dado comportamento, de sorte que as pessoas salbam de antemao as conseqiiéncias de suas pro: prias ages", Diriamos, portanto, que a certeza do direito esta ligada & previsibilidade do mecanismo de incidéncia da norma. Diants de uma determinada conduta, revela-se a nitidez da opera- ‘cao de subbsuneao (que ocorre no antecedente) ¢ de implicagao (que a ligagao entre o antecedente eo conseqitente|'* te tdemsbider. nes Bhan ipa ' \Dacnos coritt/ALFREDO AUGUSTO BECKER (Teoria gerat do dt- >.U-retto tributdrio, 1998, p-8) da importancta da certeza juridica. Diz 1 thastre jurisconsulto qite "Muito @ propéstio das modernas ques- ‘wrotbes litigiosas tributarias interessante lembrar que, na antiga- dade o ertério da'borte fol adotado, freqiientémente, como elemento de decisto fim de se dbter/aitodo custo,‘a certeza Juridica que ‘nao se atingla de outro mado." *124 142 Capitulo IV Controle de Constitucionalidade Concentrade exercido pelo STF, A Regra-Matriz de Incidéncia Tributaria (RMIT) e as Normas Individuais e Concretas 4.1 AcAo Direta pe InconsTITUCIONALIDADE, (ADIN) & Acéo DecisraTOrIA DE ConsrrrucionaLipae (ADC) Nosso objeto de estudo, no que pertine as ages constitucio- nais de controle abstrato de constituclonalidade, fica restrito as, ‘ages diretas de inconstituclonalidade (ADIn} ¢ declaratérias de constitucionalidade (ADC). Ficam ‘de fora, por questoes metodol6gicas, a Ago de Descumprimento de Préceito Funda- méntal prevista no art. 102, § 1°, CF ea Ago Direta de Incons- titucionalidade por omiss4o. Também ‘0 ‘controle diftso de conistitucfonalidade somente nos interessa na medida em que 14s Robson Maia Lins hhaja decisao judicial transitada em julgado em sentido contra- io & decistio do STF em ADin e ADC. 4.1.1 A natureza déplice da ADIn e da ADC Se a lei ou qualquer outro ato normative nao pode ser dissociada de seu processo de produgao, devemos retornar ~ ingressando um pouco na seara da Historia do Direito ~ a0 inicio do controle concentrado de constitucionalidade no Brasil, A Emenda Constitucional n* 16, de 26.11.1985, introduziu no ordenamento juridico brasileiro o controle concentrado de hormas federais e estaduais, ja embrionario na Representagao Interventival™®, Nessa época estava instalada a polémica no in- tuito de saber se a improcedéncia da ADIn equivaleria & pro- niincia de constituctonalidade dla lel ou ato normative atacado, ‘A mesma polémica continuou com a Constituigae Federal de 1988, restando fortalecida a tese que sustentava que o jul- gamento de improcedéncia da ADIn equivaleria a declaragao de constitucionalidade com a promulgagao da Emenda Consti- tucional n° 03/1993, que introduziu em nosso ordenamento a Acdo Declaratéria de Constitucionalidade (ADC), nos atuals ter- ‘mos previstos no art. 102, 1, ae seu § 4°", \© A-Representacdo Interventiva, que fa tinha sido prevista na Cons- olitaleAo Federal de.1934, voltou com novos contornos na Const Pp. 289) Ja dé ha muito sustentaya o efeito dupitce da ADIN, senda, pois désnecessério, nesse ponto, a Emenda Constitucional + vn*03/93; Diz 0 tlustre autor, apés sustentar a desnecessidade do sae Controle de Constitucionalidade da Norma Tributdria Finalmente, de forma expressa, a Lei n° 9.868/99, art. 24, resereve que: “Art. 24, Proclamada a constitucionalidade, julgar-se-a improcedente a acéo direta ou procedente eventual acto declaratoria: e proclamada a inconstitucionalidade, jul Sar-se-a procedente a acao direta ou improcedente ever tual agao declaratéria.” Consagrou-se em nivel legislativo infraconstitucional agutlo Gus Ja constava do sistema de controle concentrado, previsto na Constituicao: 0 efeto duiplice', Assim, a procedéncia de ADin cauivale & improcedéncia da ADC: ¢ a improcedéneia de ADIn corresponde a procedéncia da ADC. All, decisao pela inconstitu- clonalidade; aqui, pela constitucionalidade. 145 Wye Robson Maia Lins 4.1.2 As “técnicas” de declaracao de inconstitucionalidade: interpretacio conforme a Constituicao ¢ declaracio de inconstitucionalidade sem reducao de texto A retirada da vigéncla e, eventualmente, da validade de lel ou ato normative do sistema quando da declaragéo de inconstitucio nalidade, via de regra, € acompantada da retirada do enunciado prescritivo (artigo, inciso e pardgrafo, ou parte dele), que, no enten- der do STF, serve de suportefisico para a interpretagao construto- Ta da RMIT que se deseja espancar. 6 a chamada declaragao de inconstitucionalidade com prontincla de nulidade. Neste caso, nulidade do texto ¢ da norma construfda a partir dele. Hipoteses ha, contudo, em que pelo menos uma das normas Juridicas construidas a partir da lel (ou ato normativo) argiida de ‘nconstitucional esté em consonancia com o ordenamento juridi- ©o. Assim, se das interpretagées cabiveis na “moldura” da norma, ‘uma delas estiver em consonania com a Constituicao, o STF pres- ‘reve aquela significagdo como possivel de ser aplicada pelos 6r- fos competentes e, portanto, valida. Na mesma linha, se dentre 8 varias interpretagdes possiveis, somente uma nao guardar con- sonéincia com a Constituigao, seri esta declarada ineonstitucional 8 outras inconstituctonals. Na primetra hip6tese, temos 0 empre- 40 da técnica de interpretagao conforme a Constituigao; na segun- a, a técnica empregada ¢ a da declaragode inconstitucionalidade ‘sem prominela dé nulidade (dotexto). ‘. Apesar,das semelhancas entre a interpretagao conforme a idade parclal!, em rigor, somente nesta ultima ret nto 8 nmr othe sorta sia ae rece oe oo construfda a partir de enunctados prescritivos, 14s Controle de Constitucionalidade da Norma Trbutdria. hipotese ha declaragao de incenstitucionalidade das acepgdes (que sao normas juridicas!) incompativels com a Constituicso, Na interpretacao conforme a Constitui¢ao, nao ha declaracio de inconstitucionalidade das outras acepgdes construidas a partir do texto normativo, mas declaragto de constituetonalidade de uma acepgo (que também é norma juridical). Ademats, conso- ante os ensinamentos de GILMAR FERREIRA MENDES, ""° ao doutrinar sobre as distingdes entre uma e outra técnica: “A constatagdo de que uma lei determinada é compativet 4 Lei Fundamental néo significa que apenas naquela in- terpretagdo deva ela ser considerada constitucional, uma vez que a Corte Constitucional néo pode proferir dects’io sobre todas as possiveis inverpretagées." Portanto, 0 alcance da interpretacao conforme a Constitut do nao abrange interpretagbes examinadas, mas que no este- Jam contempladas na parte dispositiva da decisae como constitucional, nem as possivels interpretagdes posteriores a0 Julgamento, podendo elas ser submetidas nova afericao de constitucionalidade perante o STF. Por outro lado, na declara- a0 de inconstitucionalidade sem prontincia de nulidade, as acepgbes incompativeis com a Constituigho so declaradas inconstitucionais, nao podendo os érgaos do Poder Judiclario, ou mesmo do Exccutivo, positivar a RMIT submetida aquelas ‘M@ MENDES, Glmar Ferreira. In: Jurisdieéo constituconal; 1998, p. 228. Ainda sobre a interpretaglo conforme a Constituleao e a tm- possibilidade de declarar a inconstitucionalidade de eventuais sig- ‘nificagdes futuras.:vem bem a lersbranea do:prineiplo. geral de ‘Hermenéutica chamado de inesgotabllidade dos sentidos. Signif- ‘ca, em sintese, que, dlante do suporte fistco de um‘elgno qual- ‘quer, os intérpreies podem construirsignificagves infinitas., war Robson Mata Lins téenicas de controle, sob pena de dar azo A interposigao da agao de reclamacao constitucional para o STF, de acordo com o fun- damento de garantia da autoridade de sua decisdes (CF, art, 102, alinea 0, e representagio 20 érgio competente por crime de responsabllidade'”, Essas “téenicas* de controle de constitucionalidade espelham bem a distingae que o STF estabel ce, propositada- mente ou nao, entre texto de lei ou ato normativo ¢ significa. 40, € suporte fisico (enunciado) e as normas juridicas (significagses). Aquele est no plano fisico, fenomenal; estas, no plano da consciéncia des intérpretes do direlto posttivo. Por- tanto, para controlar a constituefonalidade das normas juridi- cas, 0 STF pode ou nao expulsar parte do enunciado preseritivo correspondente. Advertimos, em tempo, que a retirada dos, enunciados prescritivos que, no entender do STF, servem de suporte fisico para construgao da norma juridica incompativel ‘com a Constituigo nao é condigao suficiente, de per st, de expulsdo da referida RMIT do sistema. Isso porque, como a norma é a significagao construida na mente do intérprete e cuja estrutura ¢ de um juizo hipotético condicional, pode ocorrer ‘que outros enunciados (néo atacados na ADIn ou ADC) sirvam. Essa conclusio §étirada do pardgrafo tintoo do art. 28, Lein® 9.868/ 99, que atribut efeito vinculante e eficécia erga omies inclusive & interpretagio conforme a Constituieao ¢ a declaragao parcial de -Anconstitucionalidade'sem reduigto de texto. Cabe frisat, no en- tanto, que o STF, na pena do Ministro Moreira Alves, debxou ex- ppresso que: “Essa nova orientagio, além de ser mais exata, pots, «¢équiaido's6 admitimos: tn Revista Trimestral de Jurisprudéncia, RTJ.1443 184 (destaque'acrescidais! =" 8 Controle de Constituctonalidade da Norma Tributdria de fundamento para a constituicao da norma que o STF, com simples retirada do enunciado, entendeu ter expulsado do sis- tema. Para evitar esse tipo de ineficacia da deciste que pro- nuncia inconstitucionalidade de RMIT, a parte dispositiva deve trazer, além da retirada do suporte fisico, a protbigao de que a RMIT seja construida a partir de outros enunciados preseritivos validos no sistema", Apesar de nao se referir & seara tributaria convem mencio. nar o exempio da Lei n*9.494/97, que foi julgada constitucional Por intermédio da ADC n® 04, Rel. Min. Sydney Sanches, j 10.09, 1997, em sede de cautelar, sendo conferida a medida efeito vinculante ¢ eficacta erga omnes, Aquela lei, dentre outras pro! bigdes, vedava a concessio de liminares contra a Fazenda Pa- blica que importasse despesas imediatas para o Erario. No entanto, alguns Juizes, inclusive Ministros do STJ, vinham e vém concedendo liminares queimplicam despesas imediatas para ‘a Fazenda, sem, no entanto, sequer examinarem a supracitada lei. Argumentam que o fundamento da tutela antecipada conce- dida esta diretamente previsto na Constituigao, razio por que nao haveria infragao ao efeito vineulante eoncedido pelo STF a cautelar na referida ADC. Sem adentrar no mérito das decistes judiciais, temos que retirar deste exemplo ligio sobre a qual ja advertimos: € possi- vel, com base noutros enunciados prescritivos nao declarados inconstitucionals, construir normas juridicas que foram con- sideradas inconstitucionais pelo STF. A perplexidade continua “et Cabe auotar que.nto se esté, & evidéneia, propugnando pela ‘inculasio dolegislador a deeisio de inconstisuetonalidade do STF. no sentido de que, com a detsdo; que o Legislative protbido de {nserir novamente no sistema a norma declarada inonsiituctonal Estamos tratando de outros enunclados prescritivos ja inseridos no sistema ao tempo da deeisao do STF. 49 | | Robson Mata Lins no sentido de entender se tais enunciados prescritivos estartam. abrangidos pela eficdcia subjetiva do efeito vinculante do julga- mento do STP, Entendemos que o julgamento do STF, declarando cons. titucional ou inconstitucional uma determinada norma, veda que mesma norma seja constituida a partir de qualquer outro texto normative, mesmo que nao indicado nas peti es iniciais da ADin ¢ ADC, nem na respectiva decisao, mas desde que postos no sistema até o respectivo julga- mento da agao de controle de constituctonalidade. Da mes- ma forma, se declarada constitucional determinada norma construida a partir de determinade texto, nao sera dado ao Judiciarlo € a0 Executive deixarem de aplicar a norma a Pretexto de construir outra, a partir de outros enunciados Preseritivos. que discipline a conduta em sentido contrario examinada pelo STF. Na doutrina, essa propriedade da decisao da Suprema Cor- te€ chamada de efetto transcendente, isto é, o efeito que trans- cende aos enunciados prescritives que serviram de base para @ construcao da norma declarada constitucional ou inconstitucional. 4.1.3 Efeito vinculante e sua estrutura normativa Expusemos no inicio do trabalho aquele esquema em que a-norma Juridica completa € eomposta pela primaria, dispositiva ou sancionatéla; pela secundaria (ou proces. sual). Esta prevé a possihilidade de acesso ao-Judiciario; ala que'este, por thteraiedlo'ae sim processey’emita outra norma, que, na hipétese de controle de constitucionalldade. "ae estritua nd tod produg4o normativa. Controle de Constituctonalidade da Norma Tributdria Nos limites dessa proposta, o efeito vinculante'™® de que sao dotadas todas as decisdes do STF em controle concentrado de constitucionalidade, merece especial atengio, porquanto, dou trina ¢ jurisprucéncia dissertam sot eele sempre com o timbre da vagueza e da ambigtidade, Por isso, procuramos nos {tens Segulntes, sem a pretensao de inovar, oferecer, pelo menos no Plano sintatico, Wes acepgoes da expresso “efeito vincula leis ao desenvolvimento deste trab ne 4.1.3.1 Ererto vincutante como NORMA JURiDICA A doutrina constitucional patria, a semethanca da alema, define o efeito vinculante numa perspectiva puramente pragma: tia, eficacial, nao raro identificando o instituto com a “forca de let" e com a coisa julgada nas agdes de controle concentrado de constituctonalidade. Pensamos que, paralelamente & perspectiva pragmatica, a analise sintatica traz outros subsidios para um razoavel ‘equacionamento da questo, contribuindo sobremaneira para “© 0 cfeito vinculante esta previsto em nivel constituctonal no art 102, § 2», nos seguintes termos: “Paragrafo segundo. As decisoes definitivas de mérito, proferidas pelo Suprema Tribunal Federal, nas acées declaratérias de cone. ‘tucionalidade de let ou ato normativo federal, prodzirao efica Gla contra todos ¢ efeito vinculante, relativamente aos demals ‘rgios do Poder Judiciério e ao Poder Executivo,” No nivel infraconstituetonal a le n* 9.868/99, art. 28, paragrafo Linco, prevé o efeito vinculante e a eficdcla erga omnce noe ce. guintes termos: 151 Robson Mata Lins elidir nao s6 dificuldades definidoras do efeito vinculante, como também do erga omnes, GILMAR FERREIRA MENDES". per- cebendo a distineao das duas categorias, culdou logp de asseve- rar que: “(..] ndo parece subsistir diivida de que também o tegista- dor constituinte, tal como fizera a Emenda Roberto Car pos, procurou distinguir a effedicia erga omnes (eficdcia contra todos) do efeito vinculante, pelo menos no que concerne & acto declaratéria de constitucionalidade”. Nao temos davida de que s&e categorias juridicas distintas, mas que se relacionam na dinamica da autoprodugio normativa do direito, Todavia, sem descurar dos aspectos pragmaticos semanticos, pensamos que as distingdes e conexdes entre as duas categorias sao mais perceptivels ao jurista dogmatico sob a perspectiva sintatica. Nessa trilha, tendo-em vista a completude compésita da norma juridica ~ normas priméria e secundaria ~ a expresso “efeito vinculante” merece maior acuidade no trato, visto que trés das suas acepebes de base apresentam-se como norma ju- ridica, Assim é que se tem efetto vinculante podendo ser: i) nor- ‘ma primaria dispositiva; (i) primaria sanctonatérta; ou ainda (4) secundaria ou processual. “Tratemos da plurivocidade, esquadrinhandoa normatividade naita a cada signifcagao. Numa primeira acepoao, efeito vinculante designa a norma, primérla dispositiva, com a seguinte estrutura: 19 MENDES, ’Gilmar' Ferreira Direttosuridamentais'e controle de constituctonalidade, 1999, pp. 437 e 88. . 152 Controle de Constitucionalidade da Norma Tributéria, Hipétese: dada a declaracao de inconstitucionalidade ou de constitucionalidade da RMIT, pelo STF, em controle con- centrado: Consegtiente; deve ser a nfo-incidéncia ou incidéncia da RMIT, respectivamente, pelos 6rgdos competentes. Note-se que o “dever-ser” intraproposicional, na hipotese de declaragao de inconstitucionalidade, esta modalizado em “prot Dido”, impedindo-se que o Estado-Administragao ¢ 0 proprio Porter Judickario de outras instancias produzam., quando inserto no sistema o efeito vineulante de declaracao de inconstitucio: nalidade da RMIT, norma individual e concreta dela denvada, De outro lado 0 “dever-ser" intraproposicional profbe, quando da declaragao de constitucionalidade, que os outros érgios do Poder Judiclarto ¢ do Executivo deixem de positivar a RMIT ‘s0b 0 fundamento da inconstitucionalidade. Aexpressao efeito vinculante” na sua segunda acepeao, de- nota norma primaria sancionatéria, Fla esta estruturada da se. guinte form: Hipétese: dada a declaragao de inconstitucionalidade ou de constitucionalidade da RMIT ¢ dada a sua aplicagao ou inaplicagao, respectivamente, pelos érgaos competentes; Consegiiente; deve ser a sancao por descumprimento de de- ver funcional. Por fim, em fungdo da possibilidade de descumprimento das duas normas de efeito vinculante primario, vem a norma se- cundérla (ou processual), prevendo a possibilidade de agao"* A agio é chamada de reclamagfo constitucional, que. segundo ‘MARCELO NAVARRO RIBEIRO DANTAS (Reclamapdo constituicio: nal no dlretto brasietr, p. 520) €“acao de cognica0, porque busca 153 a Robson Maia Lins a0 STF na hipotese de Juiz ou Tribunal aplicarem a RMIT de- Clarada inconstitucional, ou, inversamente, debxarem de aplicé- Ja, ao fundamento de inconstitucionalidade, quando 0 STF j4 tenha declarado constitucional. ‘Tem a norma geral do efelto vinculante sancionatério se- guinte estrutura: Hipstese: dada a aplicag ou inaplicacao da RMIT deciara- da pelo STF inconstitucional ou constitucional, respectiva- mente, em controle concentrado: Consegiiente: deve ser a possibilidade de ingresso no STF com reclamagao constitucional. GILMAR FERREIRA MENDES™, comentando o alcance sub- Jetivo para além das “partes” no processo constitucional de con- trole de constitucionalidade, asseverou que “em relagiio aos 6rgaos do Poder Judictério, convém observar que eventual des- Fespeito & decisdo do Supremo Tribunal Federal legitima a propositura da reclamagao, pois estard caracterizada, nesse caso, inequivoca lesdo a autoridade de seu julgado (CF, art. 102, 1, 0" Em sentido contrario, mas diante de outra realidade juridico~ positiva, ponderou ALFREDO BUZAID"** que: ‘uma sentenga de mérito, mas sncorpora tm momento eautelar, © € q air aint jastanghe etapa ones tonto pica oe ‘consitucional contra decisio judicial que splice Io a dedlarada inconsttuelonal, exgindo que as partes fHosem as micamas e que a decisto que aplicara a let deciarada Boonton ss da pra pecs piles proto. Op, ot, p.451.~ ‘BUZAID, Aledo, Da apto direta de decarato de inconstbutina \ lldade no det brasftr, 1958, p84, 154 Controle de Consttuctonatidade da Norma Tributéria, *0 juiz brasileiro decide, segundo sua convieedo, a cau sa, que the 6 submetida. Néo estd sujetto a outro império que ndo sejao da let. A jurisprudéncia dos Tribunats su- pperiores constitut um excelente roteiro. Por isso os juizes a consultam, afin de verificar a hermenéutica da lei ‘Todavia, a jurisprudéncia nao tem efetto vinculativo”. ‘Alem dessas acepgdes que significam normas juridicas. 0 «feito vinculante tem mais dois espectros semanticos importan: tes, quis sejam: relayav jusidica ¢ dever juridico. Sobre essas acepgoes trata 0 topico seguinte, 4.1.8.2 Brerro VINCULANTE NA ESTRUTURA DA RELAGAO JURIDICA ‘As trés acepgbes da expressio efeito vineulante menciona- das no item imediatamente precedente sto normas juridicas em sentido estrito, cada uma com hipstese ¢ conseqtiente ligados pela causalidade juridica ou imputagio!™, Mas oefeito vinculante também guarda correlagéo semantica com as relagées juridicas previstas nos conseqiientes de cada uma das trés normas de feito vinculante acima expostas. A essa significagao chamare. ‘mos de efeito vinculante relacional. ‘Na mesma linha, 0 efeito vinculante também guarda corre- ‘cao com 0 dever furidico que tém o Judictério e o Executive em cada uma daquelas relagées juridicas. A esta acepgao chamare- mos de dever juridico vinculante. ‘Trabalhando mats um pouco o efeito vinculante relacional, temos que, no conseqdente da norma furidica primaria ‘= KELSEN, Hans. Teoria pura do diretto, 1899, p. 87; ¢ VILANOVA, Lourival: As estruturas ldgtcas eo sistema de direito postivo, 1997, p.95. 158 Robson Maia Lins dispositiva de efeito vinculante, hé crtérios para a constituigao de relagao Juridica, Bsta, como qualquer outra relagao jurtdica fem sentido estrito, compoe-se de: () sujelto ativo, (ti) sujetto passivo: il) prestagfo: (Iv) deverjuridico do sujeito passivo rea lizar a prestagio em favor do sujeitoativo; ¢ (x) direito subjetivo de que € portadar o sujeito ativo de exigir do sujeito passive a realizagao da prestagao. & toda essa estrutura que compe 0 feito vinculante relactonal. ‘Ja o dever juridico vinculante significa o dever que tém os Poderes Judiciario e Executive de nao aplicar a RMIT declara- da inconstitucional pelo STF ou de aplicd-la,'** quando decla- rada constitucional. E nesse sentido 0 dever juridico vinculante contrapoe-se, dentro da estrutura relacional, ao efeito erga omnes (direito subjetivo) que tém todos os administrados de nao sofrer a incidéncia da RMIT declarada inconstitucional ou “SN hipdtese de declaragio de constitucionalidade, com efeito vinculante, 0 Bstado-Administragio eo Estado~Jul, este quan {o provocado, tem o dever-poder Jurisico de aplicar RMIT. por- ‘quanto no direito publico, maxime em direito trbutario, a atividade da Administragho, independentemente do efcito vinculante atribuido pelo STF, ¢ vineulada A lel, Assim, nessa {elagdo uniplurivoca, agente public tem o dever de postivar a RMIT perante a Admintstragao,e temo direito de positva-la em face do contribuinte. © descumprimento das prescrigoes pelo agente administrativo sufelta-o, de um lado, na responsable de funcional, de outro, na decadéncia do dirito de langar o t- bbuto contra o contribuinte, Ha, todavia, na Logica Detntica, um autro sentido para a expressio "dever-poder". que mo 0 aqul Proposto, que poderta ser sinttizado na expressao: tudo que esta fobrigado esta permilido; ou sefa'se ha o dever de pratiear uma ‘agao ou omissto hao dirito de pratici-la No que toca atiida- de furiedicional também ela €vincalada, no sentido de nao po- Sei afastar a pealtivagio du RMIT, ob ovargumento. do ‘sJnechstitucionalidade, pela Admsitstzaéao ou pelo administrado (no “autolaricament6”),’ Mas'is80 por"obrado efeito vinculante atribuido & deslaragto de constitucionalidade 186 Controle de Constituetonalidade da Norma Tributdria, de ve-la posttivada quando declaada constitucional. Na es- trutura da relacao juridica em sentido estrito prevista no conseqiiente das normas primarias (S, R S,,) 0 “efeito vinculante” é 0 dever juridico que tem 0 sujeito passive da relagao (efeito vinculante relacional), no caso o Estado-Ad- ministragao ou o Estado-Juiz, de nao positivar a RMIT de clarada inconstitucional pelo STF ou de positiva-la. quando declarada constitucional. O item seguinte trata especificamente do efeito erga omnes 4.1.4 A eficéeia erga omnes € sua estrutura normativa ‘As mesmas incertezas semanticas que nortciam 0 efeito vinculante também pairam sobre o efeito erga omnes. Mas. de forma geral, é bem aceita a idéia de que o efeito erga omnes ¢ 0 alcance subjetivo da decisao de inconstitucionalidade (¢ de cons- titucionalidade), visto que uma decisao acerca da constitucio- nalidade de uma norma vincularia todos os administrados. Veja-se: nesse sentido, 0 ito ergaomnes € vinculante, esclare: cendo-se que a vinculagao € quanto a sujeigdo passiva dos ad. ‘ministrados sujeltos @ incidéncia da RMIT. O efeito erga omnes da decisto também é chamado de forga de Tet, o que, em nosso sentir, reforca o cardter da generalida- de daquele efeito. Assim, diferentemente do efeito inter partes vigente no controle difuso, a deciso no controle concentrado produz efeitos erga omnes, o que nos autoriza a dizer que o crité- rio para distinguir tals efeitos € a extensao ou nao da decisao as 1 MENDES, Gilmar Ferreira. Diretos fiundamentats ¢ controle de ‘onslituctonalidacle, 1900, p. 497. Pensamos que a expresso “forca de lef significa o atsibuto da generalldade da decisio, atributos comuns lel. 157 Robson Mata Lins “partes™™”, no caso do efeito inter partes, ou aos demais admi- nistrados, quando se tratar de efto erga omnes. Esa assertiva serve também ao efeto vinculante (dever juridico vinculante), dado que este corresponde, da perspectiva estatal, ao efeito erga omnes, ‘Aabordagem feita acima ¢eminentemente pragmatica, por- quanto lida com os efeitos da decisao em relacao a scus destina- trios imediatos. Util, portanto, para elucidar o conteiido semantico das expressdes “efeito vinculante” e eficacia erga ‘omnes da decisto. Para nosso campo de investigagao ¢ para mantermos a coe- réncia interna deste trabalho, o enfoque sintatico dos dots fet tos ¢ essenetal. & nessa perspectiva que tomamos o efeito erga omnes como o direlto subjetivo de que sao titulares os adiinis- trados de nao ter positivada contra si RMIT declarada Inconstitucional: ou como o dever juridico de sofrer aineidéncia dda RMIT, se dectarada constitucional, Noutro dizer, os administrados tm 0 direito subjetivo de no figurarem no polo passivo de relagao juriica teibutdria de- Hvada de RMIT declarada inconstitueional pelo STF. Inversa- mente, ha também efeito erga omnes quando o administrado tem o dever juriaico de suportar a positivagdo da RMIT pelo Estado-Admintstragao e pelo Estado-Juiz, na hipétese do STF declaré-la constitucional em sede de controle concentrado de cons- ltucionalidade. Nessa hipotese, os administrados devem suportar Sigurar no polo passivo de uma relagto juridica tributaria derivada NT Reitere-se aquela distingdo fetta pela doutrina, ainda que nfo ' -Coneordemos, entre processo subjetivo, que €0 processo tradi. ‘clonal, em que o conifto'gira em torno de direitoe subjetivos, ©'processo objetivo, ém que'se protege imediatamente o direito objetivo. 168, Controle de Constitucionalidadle da Norma Tributéria da RMIT, desde que, evidentemente, o préprio direito positive, ‘come veremos alhures, nao imponha outros obstaculos ao dt reito do Fisco realizar a RMIT, tal qual a decadéncia do direito de lancar. Em arremate do raciocinio proposto, 0 feito erga omnes pode, dentro da relagao juridica ¢ em correspondéncia ao eleito vineulante relacional, tanto ser dever juridico quanto direito sub. Jetivo do administrado, dependendo da RMIT ser declarada cons- titucional ou inconstitucional, respectivamente. Assim, ao efeito vinculante relacional da perspectiva da Ad- ‘ministracao ¢ do Poder Judiciario correspondeo efeito ergaonnes em relagao aos administrados, Considerando a declaragio de inconstitucionalidade, teria- Sa > nao positivagao da RMIT © Sp Onde, Sa = sujeito ativo (administrados);, feito erga omnes (direito subjetivo}; feito vinculante (dever juridico): nao positivacdo da RMIT = objeto da relacao. Inversamente, na hipotese de declaracao de constitucienall- dade, teriamos: ‘Sa ~ positivacao da RMIT « Sp Onde, Sa = sujeito ativo (Estad feito vinculante (direito subjetivo}: efetto erga omnes (dever juridico) positivagio da RMIT = objeto da relagio. 159 hod ‘Robson Mata Lins, 4.1.5, Ainda sobre o efeito vinculante: a declaracio de constitucionalidade ‘Tem objetivo espectfico esse nosso retorno ao assunto trata- do nos itens precedientes. f que nesta empreitada iremos tratar apenas do efeito vinculante da declaragao de constitucionalidade no controle abstrato de constitucionalidade da RMIT: O relevo da questo pode ser dimensionado na explicacao a seguinte indagacao: antes de o STF declarar constitucional a RMIT em controle abstrato, a referida norma nao teria efeito vinculante? E mais: ha alguma distinedo entre oefeito vinculante da RMIT ¢ 0 da norma introduzida pela decisto do STF? De fato, antes da declaragao de constitucionalidade pelo STF, RMIT apresenta aquela estrutura hipotética condicional cons. titufda de um antecedente ¢ de um conseqiente. Neste, ha cri- térios para a constituigao da relagao juridica tributaria, que 6 0 instrumento que o direito positive usa para vincular os compor: tamentos intersubjetivos, Portanto, ha efeito vinculante na RMIT, porque ha critérios para constituicao da relagao juridiea tribu- tara, que, quando constitufda, sera composta de sujettos ativo € passivo, ¢ 0 objeto. Dessarte, antes da declaragéo de constituctonalidade em controle abstrato, a RMIT ja pode ser valida, vigente e eficaz, tendo efeito vinculante. (Com a declaragio de constitucionalidade adiciona-se ao efeito vineulante insito a RMIT outro efeito vinculante, este da norma introduzida pela decisao do STF pela constitucionalidade. E pre- clsamente este efeito vinculante que posstbilita a aplicacio de duas outras normas (que também possuem a dimensao de efei- to vinculante, s6 que em acepgbes distintas destal): a de nature- za pritharia dispositivaycqueyprevé aplicacdo.de pena por descumprimento de dever ifuncional;.e outra de natureza pro- cessual, que prevé a possibilidade'da parte prejudicada com 0 160 Controle de Constitucionalidade da Norma Tributdrta descumprimento da deciséo do STF, bater as portas da Egrégia Corte por intermédio de wm instrumento chamado reclamacao constitucional, ex vido art. 102, I, l, da Constituigao Federal, pedindo a prevalencia da decisao da Corte Mator. Quando se diz que com a declaragao de constitucionalidade da RMIT nao se tem mudanca qualitativa da situagio juridica, € preciso deixar claro que nio se trata de mudanca em relagio & vigencia e validade da norma, mas ha sim um outro efeito vinculante decorrente da declaracao de constitucionalidade. 4.2. NORMA INTRODUZIDA PELA CAUTELAR, A RMIT § OS CREDITOS TRIBUTARIOS CONSTITUIDOS F OS NAo-constiruipos Como dissemos, é possivel que o STF, em analise superficial e ndo-exauriente!*, conceda cautelar, quer ratificando a consti- tucionalidade da RMIT, quer afirmando sua inconstitucionalida- de®, Para tanto, deve-se observar a presenga dos requisites necessaries ao deferimento de qualquer provimento de tutela pro- vvisério, quais sejam, a relevancia dos fundamentos invocados (furnus boni turis) ea garantia do efetivo resultado do processo 20 final (periculum in mora)", ® Cf. ARRUDA ALVIM, José Manuel. Manual de direto processual iol, 2001, v. 2, p. 396. Na verdade, a cautelar como norma introduzida nao constitu! a Inconstituctonalidade da RMIT. Fla constitul a suspensividade da eficdcla téenico-sintatica (conseqtiente da norma introduzida) ‘sendo que o antecedente da norma introduzida contém a incons- ‘utuclonalidade. Quer cizr: 0 motivo da suspensao técnica da RMIT 6a sua aparente inconstitucionalidade. ZAVASCKI, Ter Albino. Kficticia das sentengi na jrtsdicto cons- tituctonal, 2001, p. 61. Sobre esses requisites o autor cita a ADIn 161 Robson Hata Lins Numa e noutra hipétese a cautelar é 0 veiculo introdutor de outra norma. Esta norma introduzida, todavia, tem fungoes dis- tintas, conforme seja pela constitucionalidade ou pela inconsti- tuctonalidade da RMIT. Se pela constitucionalidade, a cautelar introduziré norma que tem a seguinte estrutura: Hipotese: dado o fato da RMIT resultar de procedimento © orgao competentes ¢ nao contrariar 0 contetido da Consti- tuigao; Conseqiente: deve ser sua constitucionalidade. Nesse caso, a medida de urgéncia nao inova a estrutura normativa da RMIT, Contudo, se acrescentar-se & cautelar 0 feito vinculante, outras sto as conseqiéncias que detalhare- mos em seguida. Por enquanto, mantenhamos a atengio ape- nas no provimento em si. Se, todavia, a cautelar for pela inconstitucionalidade da RMIT, ‘sera outro 0 contetido da norma, conforme demonstraremos no item seguinte. 4.2.1 A suspensio de eficacia técnica da RMIT Hipotese bem mals complexa em termos normativos ocor= quando a cautelar descreve no seu antecedente a inconstitucio- nalidade e prescreve no conseqiiente a ineficdcia técnico-sinta~ ‘ica da, RMIT. Com,efetto, nessa hupétese, 2 Lel n° 9.865/99 prevéa possibiidadede quea medida cautear em ADIn ¢ADC cusses Tne dM elicdela tecnicy-sintatica da RMIT. Controte de Constitucionalicade da Norma Tributéria ‘Trazendo a questio para os lindes do Direito Tributario, especificamente em relagao & RMIT, tem-se que a concessio de cautelar introduz norma juridica no sistema de direito positive tributario. Urge, portanto, cotejar ofs) aspectofs) que relaciona(m) a norma introdwzida pela cautelar naquelas agbes de controle de constitucionalidade concentrado e a RMIT. En- fim, a suspensto seria da validade, da eficdcia téenteo-seman- Luca ou téenico-sintatica, ou ainda seria da vigeneia ou da validade? Estamos convencidos de que a suspensao é sempre da efi- cacia técnico-sintatica da RMIT, Bxplicando. Com efeito, a norma introduzida pela cautelar, ainda que provisoria, impede o agente competente de realizar a incidéncta da RMIT. Prescreve, portanto, a ineficdcta téentco-sintatica da RMIT. Questao distinta diz respeito ao antecedente da norma introduzida pela cautelar e seus fandamentos para que a efi- cca téenico-sintatica da norma tributaria seja suspensa (con- seqtiente). E que o STF, a0 suspender essa eficdcia, pode invocar a inexistencia (ou probabilidade de inexisténcta, j4 que 0 juizo 6 provisério) de qualquer atributo da norma, Nao sao raros acérdaos mencionarem que a norma atacada parece “invalidavel” ou que “nao seria norma vigente’, ou ainda que “nao apresentaria” a prépriaefledcia téentco-sintatica suspensa pela decisto, [Nesse paso, écrivel sustentar que a coticessto de caistelar pela inconstitucionalidade nas agdes de controle concentrado de constitucionalidade veicula norma que sempre suspende a * eficacia técnico-sintatica da RMIT. Esta proposigo pode ser . constatada na andlise do enunciado-enunciado do_texto 163 Robson Mata Lins normativo da decisfo, precisamente no conseqiiente da norma introduzida. Ha sempre a prescricao de que a RIMIT nao deve ser aplicada. J& 08 fundamentos do deferimento da suspensao da efi- cacia técnico-sintatica, identificados no antecedente normativo, podem ser de diversas ordens: norma de duvidosa validade, norma que nao teria sequer aleancado vigéncla ou até norma que nao apresenta eficdeia técnico-sintatica (ow seméntica), Esses fundamentos podem ser verificados tam- ‘bém no enunclado-enunelado da norma introduzida, mas pre- cisamente no seu antecedente. £ neste membro da norma Juridica em que se relata em linguagem o seu defeito, exsurgindo dai, por imposicao da causalidade jaridica, a sus- pensio da eficdcia téenico-sintatica. Bm arremate, fazendo uma comparagio com as estruturas possiveis das relagées juridicas, a norma veiculada pela cautelar seria bi-univoca, do tipo: Hipétese: () dado que a RMIT nao foi produzida pelo orgao competente ou procedimento adequado ou que regule con- duta de forma incompativel com a Constituigae: (i) proble- ‘ma com a vigéncia; ou (ii) problema com a eficdcia-téenica; Conseqiiente: deve ser a suspenséo da sua eficacia técnico- sintatica Veja-se que varios antecedentes sao possivels, mas 0 conse: dente da norma introduzida pela eatclar de ingonatitucions: dade é sempre o mesmo...» negra it buat Om BES shou sactoyung ere TTI Controle de Constituctonalidade cla Norma Tributiria 4.2.1.1 AIDA ACERCA DA SUSPENSAO DA EFICACIA TECNICO- swvrarica pa RMIT De fato, se combinarmos o antecedente inserto na alinea (ii) do subitem 4.2.1 (hipéteses) com 0 conseqiiente proposto, a se guinte norma seré construida: Hipotese: dado a existencia de problemas de ineficacia téc. nico-sintatica ou semantica da RMIT; Conseqiiente: deve ser a suspensao da sua eficacia técnico- sintatlea, logo surgiré a perplexidade: como pode, sob o argumento de que RMIT nao apresenta eficacia técnico-sintatica, preten- der-se suspender a efledcla técnico-sintatica da norma? Daf, no infolo dese trabalho, a énfase dada a linguagem como Unico modo do Direito se expressar. E nao qualquer linguagem; mas apenas a competente. Assim, enquanto nao for produzida a lin- guagem competente, “constituindo” a ineficdcia téenico-sintati- ca da norma tributaria, ela se apresenta com esse atributo. E preciso que um érgao competente (STF), por intermédio de pro- cedimento adequado (ADIn ou ADC), constitua a ineficacia téc- nico-sintatica da norma tributéria, como o faz 0 provimento cautelar. ‘Do contrario, por maior prestigioe seriedade que ointérpre- te da norma Juridica ostente na comunidade Juridica, nao tem ‘sua opinido natureza normativa, nem sequer é fonte do direito. nessa linha que PIMENTA BUENO! ensina: “(..) Pela neces- sidade de aplicar a lel deve o executor ou Juiz, ¢ por estudo pode BUENO, José Antonio Pimenta. Diretto Pablico Brastletw e andltse da Constituigto do Impéri, 1978, p. 69. 165 Robson Maia Lins © Jurisconsulto formar sua opinio a respeito da inteligencia dela, mas querer que essa opinifio eeja infalivel ¢ obrigatéria, que seja regra geral, seria dizer que possuia a faculdade de adi vinhar qual 2 vontade ¢ o pensamento do legislador, que nao podia errar, que era possuldor dessa mesma vontade ¢ intelt- _gencia; e isso seria certamente irrisério" Um exemplo pode melhor elucidar a questao. Se tomar- mos em linha de conta que o Sistema Constitucional Tributa- tio estabelece, em algumas hipéteses, hierarquta normativa entre a lei complementar'® ¢ a ordinaria, de modo que sem aquela esta nao pode instituir licttamente o tributo, temos que admitir que a produgao da lei ordinéria antes que a lei complementar tenha sido produzida enseja um problema re lacionado a ineficacia técnico-sintatica. dizer: a faita de lei complementar torna sem eficcia técnico-sintatica a lel ordi- narla; advindo, dai, inconstitucionalidade, Nesse caso, even- tual cautelar suspensiva da eficacta técnico-sintatica da RMIT instituida pela lef ordingria (conseqiiente} teria no anteceden- te 0 relato em linguagem da inefledcia técnico-sintatica da RMIT. 4.2.2 A concessio da cautelar: créditos tributarios constituidos e os nao constituidos De logo, € prudente detxar claro que se toma em linha de conta dois marcos temporals quando do deferimento da cautelar: () @ ocorréncia/ndo-ocorréncia do evento furidico tributario © (i) entre'0s eventos $6 ocortiaes? quate’ créditos ‘tibutarios fo- ‘arn eonstituides & quais nto foram constituidos. ‘of, sobre o assunio BORGES, José Séitd Mator.Letcoriplomentar trun, 1975. 66 Ee 4 Controte de Constitucionalidade da Norma Tributaria Este cenério, apenas aparentemente simples, tem desaflado fo jurista dogmatico a realizar a interseccao entre a “Ciéncla e a experiencia”, eentrea “teoria e a pratica™™, Com efeito, a estabi- lidade das normas individuais e concretas postas no ordenamento por derivagio da RMIT € o respectivo crédito tributario, de um ado; , de outro, a estabilidade das relagdes juridicas impeditivas da ponénela de tals normas no sistema juridico, provoca uma espécie de tensao no sistema juridico nem sempre de facil solu- cao, Contrib para 0 agravamento (ou abrandamento, depen- endo da perspectiva) do problema a circunstancia de que 0 proprio Direlto Tributario, para estabilizar as expectativas normativas e reduair a complexidade do sistema juridico-positi vo", cuidou de estabelecer prazos de decadénciae de prescri¢ao para que o crédito tributario seja constituido farts. 150, § 4°; 173, (CT), €, uma vez constituido, que seja executado (CTN, art. 174) De outro ado, também cuidou de fixar limites & repeticao do Indébito por parte do sujeito passivo, pela decadéncia e pela pres- crigao, nos termos dos arts. 168 ¢ 169 do CTN. Dafa clarividente importancia de se divisar esses estigios do crédito tributario quan: do do deferimento da cautelar e da decisao de mérito. Mas, antes, estudemos um pouco os efeitos da cautelar so. bre as normas individuais e coneretas. 2.2.1. O EFETTO VINCULANTE, BX NUNCE A EFICACIA ERGA OMNES DA CAUTELAR Ja deixamos assente no {tem 4.1.3.2, supra, que o efeito vinculante é 0 membro da relagao Juridica correspondente a0 ever juridigo do Pisco e do Judiclério aplicarem a RMIT, quando “8 GUIBOURG, Ricardo, Derecho, sistema e réalidad. 1996, passim. \4 LUHMANN, Niklas. Sociologia do diretto I, 1983, p..47 Robson Mata Lins ela édeclarada constitucional, ou o dever juridico de nao aplicé-la, quando declarada inconstitucional. De outro lado, completando a bimembridade do pélo da relagao juridica vinculante, ha o (0 erga omnes, que corresponde ao dever juridico dos stidl tos suportarem a incidencia da RMIT, quando julgada constitu- cional, ou 0 direito subjetivo de nao suportarem tal ineidéncia, se julgada inconstitucional a RMIT. Pols bem, nos termos do art. 11, § 1°, da Lei n° 9.868/99, ¢ na esteira da jurisprudéncia do STI", a cautelar concedida em ADIn tem efeito ex nunc, isto é, vinculam os atos a serem prati- cados a partir de sua concessao, salvo se 0 Tribunal entender que deva dar efeito ex tunc. Noutras palavras, o efeito ex nunc significa que as normas individuais ¢ concretas produzidas com base na RMIT cuja eficdcia técnico-sintatica fora suspensa pela cautelar, independentemente de terem sido produzidas por ato administrativo (langamento) ou por ato do sujeito passivo (autolangamento), ndo deve ser desfeitas, mesmo que nao haja nenhum empecitho ligado a decadénela e a presericao. 4.2.2.208 PRAZOS DE DECADENCIA E DE PRESCRIGAO DO pietTo po Fisco Em matéria tributaria, seja nas hipdteses de langamento seja nas de constituigao do crédito pelo proprio sujeito passivo “© AADin-MCA 1484/SP, Rel. Min. Celso de Mello, Tribunal Pleno, J 20.08.1996, publicado em 22.11.96 decidit que “A medida ‘cautelar, em ago direta de inconstitucionalidade, reveste-se, or-

You might also like