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INSTITUTO DE REGISTRO IMOBILIARIO DO BRASIL BOLETIM DO /RIB ABRIL DE 1991 — N. 167 0 ESPOLIO COMO ADQUIRENTE NO REGISTRO DE IMOVEIS 1, No Estado de Sé0 Paulo, os Oficiais de Re- gistro de Iméveis estdo proibidos de registrarem ti tulos aquisitivos de dominio em que o Espélio de alguém figure como adquirente de bens iméveis ou de direitos reais sobre eles, ainda que esse Espdlio esteja autorizado por alvaré do Juiz perante o qual tramita 0 inventéraio do de cujus. Essa proibigéo decorre de decisées proferidas pelo E. Conselho Superior da Magistratura do Estado, consubstanciadas em acérdéos exarados em recursos de apelagéo interpostos em processos de diivida so- bre registro. (Confiram-se os acérdaos proferidos na ap. eivel 10.097-0/0 da Comarca de Ubatuba, publica do no DOE Poder Jud. de 11.10.89, Cad. 1, p. 28, € na ap. civel 10.483-0/1 da mesma Comarca de Uba- tuba, publicado.no DOE Poder Jud. de 29.11.89, Cad. 1, pp. 34-35), Como essas decises tém caréter normativo pa- ra todo o Estado de Sao Paulo, conclui-se que a afir- mago inicial que fizemos é singular para esse Es- tado, tanto assim que alguns Oficiais do Registro tém sido advertidos, nos termos de correicéo, pelo Exmo. Corregedor Geral da Justiga do Estado, quan- do ali se depara com langamentos registrais em que © Espélio figura como adquirente de bem imével 2. O fundamento principal dessa decisao é o de que 0 Espélio nao possui personalidade juridica, isto 6, no 6 pessoa juridica. Quanto a essa circunstancia, ou quanto & carac- terizagao juridica do Espélio, nao h4 qualquer discre- pancia na doutrina. Vale a pena reler sualistes, como de ci Declara 0 Prof. CELSO AGRICOLA BARBI, 20 co- mentar 0 art. 12 do Cédigo do Processo Civil: “O espélio, também chemado heranga, ¢ 0 conjunto de bens, direitos e obrigagées de uma pessoa epés sua morte, @ enquanto néo distribuidos as sous herdel- ros @ sucessores. Como simples universidade de ‘bens que é, 0 espélio ndo tem personalidade juridica, segundo nosso direito” (Comentarios a0 CPC, vol. I, tomo |, p. 145, Forense]. © Prof. HAMILTON DE MORAES BARROS tam- bém assim se manifesta: “Como se sabe, o espélio néio 6 uma pessoa juridica, nem 6 uma pessoa fisica. Mera massa patrimonial auténoma é 0 que ele ¢. Dé-lhe, entretanto, o Direito a legitimidade ad causam. £, como a massa falida e a heranga jacente, ou va- cante, uma parte apenas formal”. pensamento, tanto de proces- stas. E mais adiante: “O inventariante € a pessoa na- tural, nomeaia pelo Juiz, para administrar 0 espélio, zelar por ele © defendé-lo @, ainda, para promover 0 inventério e a partilha. Se o inventariante é legitimo, isto 6, ndo dativo, tem ele a representacdo ativa ea representagao passiva do espélio, em juizo ou fora dele. ‘0 inventariante 6 uma figura efémera, interme- diéria entre 0 morto ¢ os seus sucessores. Toca-lhe arrolar os bens que compdem a massa patrimonial, zelar por eles, defendé-los e fazé-los repartir. “Em razéo mesmo da transitoriedade de sua mis- so, nao Ihe cabem nem as iniciativas arrojadas, nem (Continua na pésine ses) Boletim do IRIB 167 (Abril 91) — 1 (Continaeb de pina atron) as de longa duracao, eis que outras podem ser as intengées dos sucessores. Nao'se Ihe permite subes- timar ou substituir tais vontades. Deve, entretanto, prosseguir os trabalhos e iniciativas do morto, tanto quanto baste para a colheita dos resultados iteis pretendidos. O que for conveniente ou aconselhével, mas © que escapar das rotinas administrativas, so- mente é de fazer-se com a audiéncia dos interessa- dos @ a autorizagao do juiz (art. 992). Deve ter 0 zelo do dono, sem que tenha, entretanto, 0 seu poder de disposigdo. € mero administrador, no podendo comprometer os bens em iniciativas ou vinculacoes” (Comentérios ao CPC, vol. IX, Forense, pp. 224-228). © notavel civilista ORLANDO GOMES assim ad- verte: “O espélio nao € pesoa juridica. FaltamJhe os pressupostos necessérias & personalizacéo, mas, com- pondo-se de bens que se identificam em massa ho- mogeneizeda e de interesses nucleados unitariamen- te, precisa exercer atividade juridica assemelhada que corresponde aos sujeitos de direito, conquanto mais restrita. O processo técnico de que se serve 0 legislador para possibilité-la 6 etribuirlhe represen tacdo judicial" (Sucessées, p. 297, n. 222, Forense, Rio, 1." ed). GALBA MENEGALE assim conclui: “Sem embar- go da aparéncia de personalidade, que se percebe no espélio, capaz de demandar e ser demandado,, néo se pode considerat pessoa juridica, pois ¢ de exis- t€ncia transitéria, tem proprietarios conhecidos e ndo dispde de patriménio préprio, uma vez que seus bens, provisoriamente reunidos © subordinados a um con- Junto, continuam a pertencer individualmente aos her- deiros” (Repert6rio, Enciclopédico do Direito Brasile' 10, vol. 21, p. 4, Borsoi, Rio de Janeiro), E inquestionavel, portanto, que 0 espélio néo possui personalidade juridica. Possui, apenas, capaci dade processual (art. 12, n. V, do Gédigo do Processo Civil), para acionar e ser acionado, e também outor- ga-se-lhe o direito de alienar bens da heranca, desde que autorizado pelo Juiz que preside o inventério (art. 992, n. 1, do CPC). Argumenta 0 ilustre Juiz Auxiliar da Corregedo- ria, Dr. KIOITS! CHICUTA, no parecer que instrui acérdéo proferido na ap. civel 10.483-0/1, que esses atos stio, de cardter exceptivos, previstos pelo legis- lador, e, portanto, devem ser interpretados restritiva- mente. Assim se expressa esse Magistrado: “A s6 circunstancia da lei conferir ao espélio o direito de 2— Boletim do IRIB 167 (Abril 91) alienar bens nao revela, a exemplo do que se anotou em relagéo a0 condominio, 0 reconhecimento de pet- sonalidade. Cuida-se de norma excepcional, de feicdo nitidamente restritiva, incidindo téo-somente na hi- potese expressamente prevista’. Mas, é agora de se Indagar, a tdo-s6 circunstan- cia de nao possuir o Espdlio personalidade juridica, impede que o Juiz que préside o inventério autorize 0 Espélio, por seu inventariante, a figurar no titulo aquisitivo do dominio, e, posteriormente, no registro, como adquirente? A t8o-86 cirounstancia do legislador nao ter pre- visto, especificamente, essa hipstese, € impeditiva do Juiz autorizer uma aquisi¢ao? Parece-nos que nao. O Espélio, em varias circuns- tancias, pode figurar no titulo aquisitive como adqui rente de um imével, como veremos mais adiante. A notavel argicia e 0 extraordinério senso ju fico dos romanos j4 entrevia que: “ratio ubi eadem est, debet eadem juris dispositio” (“onde a razio 6 a mesma, a mesma deve ser @ disposicao do direito”). Assim, 0 Juiz e 08 érgos julgadores n&o podem © néo devem ficar apegados aos limites estreitos da lei. E muito mais nobre a sua funao no aperfeicoa- mento da aplicagao da lei, para suprir, indmeras ve- 285, as suas omissdes e lacunas, do que ficar aferra- do as palavras da lei. “Quando a lel for omissa, 0 julz decidir 0 caso de acordo com a analogia, os costumes @ os principios gerais do direito” (art. 4° da Lei de Introducao ao Cédigo Civil). © emérito Prof. VICENTE RAO, ao versar sobre essa floxibilidade do Juiz ao interpretar © aplicar a Iei, assim adverte: “A rigidez da formula, transmitin- do-se a aplicagao do direito, ndo emendaria, ademais, 08 erros em que o legislador houvesse incorrido, cau- sando a desigualdade que os principios condenam; © semelhante rigor no trato das relacdes juridicas vio laria, ainda, a humanitas, a benignitas, a que a justica deve atender. Ora, & para evitar téo graves inconve- nientes para a manutenc¢ao da ordem social, que a eatiidade permite ao juiz, na frase de um autor ita- liano, suprimir qualquer dissonancia entre a norma do direito € a sua atuaco concreta, mereé de um poder mais largo e mais livre de apreciagao, que the confere” (0 Direito ¢ @ Vida dos Direitos, vol. 1, p. 90, Max Limonad, Sao’ Paulo, 1960) Assim, ndo 6 téo-somente porque o legislador nao previu a circunsténcia do Espélio figurar como {omines na plaine segue) eriuats pga anterir) adquirente em uma relagao juridica que se deve con cluir, ortodoxamente, que essa situagio é juridica mente inadmissivel. Existem inimeras ocasides que pode ser conve: niente a0 Espélio comparecer no ato negocial para adquirir um imével, sendo até, as vezes, desaconse- Ihével que os herdeiros que substituem, transitoria- mente, até a partilha, a figura do de cujus no dominio da heranga, venham a figurar como adquirentes do imével, para, posteriormente, se submeterem @ um procedimento de extingdo da comunhéo, em relago a esse imével. Somente porque o Espélio no possui personali- dade juridica 6 que ird se vedar, peremptoriamente, 88a aquisigéo, impedindo-o de figurar, no registro do titulo, como adquirente? Nao nos parece razoével, e nem tampouce tlegal, essa posicao radical, adotada no Estado de Sao Paulo. Acrescente-se, ainda, que, em varias oportunida des previstas pelo legisltador, ndo haverd outra alter- nativa sendo admitir 0 Espélio como adquirente de um imével. £ 0 que passaremos a examinar. 3. a) Oart. 17 do Decreto-Loi 58/37 reza: "Pagas todas as prestacSes do preco, é licito ao compromi- tente requerer a intimacao judicial do compromissa- rio para, no prazo de trinta dias, que correré em cartério, receber a escritura de compra e venda”. Ora, ‘© compromissério comprador que falecer logo apés guitar © prego e for seu Espélio Intimado a receber a escritura definitiva, néo poderé fazélo? Parece-nos que na entrelinha da lei, numa exegese humanitas ¢ benignitas, esta consignado que ao inventariante, no seu poder de administrago do bem do Espélio, como se fosse na defesa do seu proprio bem, caberia a obrigagao de receber essa escritura, que, em deter- minados casos, poderia até estar sujeito, se nao 0 fizer, @ incorrer em multa diéria clausulada no con trato primitivo. Cercear esse direito néo nos parece nem judi: cioso nem razodvel. O recebimento da escritura pelo Esp6lio nada mais é que 0 cumprimento de uma obri- gaga0, que nao prejudica terceiros, ¢ 86 harmoniza as relagdes juridicas e sociais, facilitando, desse forma, © que nao se encontra expressamente proibido em lel b) A situagao inversa a exposta, também, é digna de realce, por se tratar de outra imposigao legal, qual seja, © compromitente vendedor, uma vez pago o pre- 60, negando-se a outorgar escritura definitiva ao com- promissério comprador, obriga este, nos termos da lei (arts. 16 e 22 do DL 58, Lei 6.04/73) a requerer judicialmente a adjudicaco compulséria. 0 compro- missério ajuiza 2 agéo. Logo depois de sua propos tura, vem a falecer, No decorrer do processo o in- ventarlante ativamente representa o Espélio. Pergun- tase, a quem 0 Juiz iré adjudicar 0 imével? Estaria impedido de fazé-lo 20 Espdlio do compromissétio comprador? ©} O mesmo ocorre na execucdo hipotecéria, ajuizada em vida pelo credor. Falecendo, no curso da agdo, ela tem prosseguimento, pelo inventariante, que, repita-se, pode ser parte em Juizo, representando © Espdlio credor. A arrematagao € feita pelo crédito, @ carta de arrematago 6 pode ser expedida em nome do Espélio. No Estado de Sto Paulo, o Oficial do Registro esta proibido de registré-la d) Hipétese idéntica configura-se na ago de usucapiéo em que o requerente falece no decorrer do processo. O reconhecimento do dominio pela sen- tenga somente poderd ser feito em nome do Espélio. No Estado de Sao Paulo, o Oficial do Registro estard impedido de registrar 0 mandado, sob pena de infrin- gir deciséo hierarquicamente superior Fato curloso a esse respeito ocorreu na Comar- ca da Capital. O MM. Juiz de Direito da 2." Vara dos Registros Piblicos julgou um processo de usucapiio na sentenga reconheceu o dominio de um imével em nome do Espélio do autor, o qual feleceu no curso da agao. Apresentado 0 mandado ao Oficial do 6° Regis- tro de Iméveis, viu-se ele constrangido a recusé-lo em cumprimento as decisdes que iniciam este trabalho. O advogado nao se conformou com a devolugéo, e requereu a suscitagao da divida, a qual tramitou pe- rante o MM. Juiz de Direito da 1* Vara dos Registros * Publicos de Sao Paulo que ¢ 0 Corregedor Permanente dos Registros de Iméveis da Capital. A davida foi Julgada improcedente, entendendo que 0 Espélio pode figurar como adquirente nas aces de usucaplao, pois, sendo forma originéria de equi: sao da propriedade, “o dominio preexiste ao regis: tro © & prépria sentenca que o reconhece, desde o momento que se preenchem os requisitos legais”. Apenas nos negécios juridicos bilaterais ¢ que o Espélio ndo pode figurer como adquirente (sentenca de 4.1.91, no proc, 934/90). Ficou, assim, fixada uma certa abertura. (Conlius 8 pépins sequins) Bolettm do IIB 167 (Abril 91) — 3 (ontinaneso se sina anterior) Dessa forma se conclui que em alguns casos 0 Espolio nao pode figurar como adquirente de bem Imével (negécios juridicos bilaterais e sentenga judi- cial) e, em outros casos, como no usucapiao, o Espé- lio pode, porque a aquisigao do dominio 6 originéria. Todavia, néo nos convenceu a distingdo adotada na sentenga, Contudo, é de se salientar, ainda, 0 acér- do publicado no DOE Poder Jud. de 22.1.8, Cad. 1, p. 25, proferido pelo E. Conselho Superior da Magis- tratura do Estado, na ap. civel 11.851-0/9, da Comarca de So Vicente, repelindo 0 ingresso no Registro de Iméveis da carta de sentenga, expedida em acéo de usucapiao, afirmando, com todas as letras, que “o espélio, segundo a melhor doutrina, nao possui per- sonalidade juridica, condigao indispensdvel para aqul- sigdo de bens’ 4. Os argumentos aduzidos nos acérdéos do Or- go de cdpula da Magistratura Paulista ndo nos pa- recem convincentes. A falta da especifica previsdo legal para o Espé- lio figurar como adquirente de um imével néo impres- siona. Nao hé preceito legal expresso, como existe em relagdo a venda (art. 992, n. I, do CPC), a qual é permitida, mediante autorizacdo Judicial (alvard). Mas, também, néo hé preceito legal que protba. E ao in- ventariante a lei the confere os poderes de represen- tago e administracéo do Espélio, velandolhes os bens, com a mesma diligéncia, como se seus fossem {art. 991, ns. 1 ¢ Il, do CPC). E entre as conveniéncias da administraco de um bonus pater familiae poders estar a de receber a escritura definitiva ou adquirir um imével em nome do Espélio, 0 qual seré parti- Ihado posteriormente entre os -herdeiros. Basta que obtenha autorizagao do Juiz para esse fim, diante de um enfoque formalista da questéo, pois, entendemos, até, que, em determinados casos, como © de cumprimento de um contrato de compromisso assumido pelo de cujus, essa autorizagéo judicial se- ria completamente dispensdvel (art. 991, n.1, do CPC) 4.1, © argumento relativo a falta de person: dade juridica do Espélio, igualmente, néo nos parece de grande importancfa. © conceito de pessoa jurfdica e a sua pesquisa doutrinéria vém sofrendo, nos tltimos anos, uma gran- de transformagao e evolucéo. © notavel filésofo do direito, 0 Prof. Emérito MIGUEL REALE, abordando esse tema, assim se pro- —Boletim do IRIB 167 (Abril 91) rnuncia: “é isso que explica a razéo pela qual a figura da ‘pessoa juridica’ ndo 6 estatica ou definitiva, mas antes flexivel e mutavel em fungao das mutagdes ope- radas no plano dos fatos e dos valores. Consoante ja advertimos ao tratar da terceira fase do Direito Mo- derno, a pessoa juridica, antes concebida cémo mo- delo cerrado, protetor a todo custo da inimputabilidade de seus componentes, passa a ser concebida como ‘um modelo aberto’ que permite a extenséo da res- onsabilidade dos individuos membros, quando ex géncias éticas e econémicas impuserem o antes con- denado ‘desrespeito a personalidade juridica’ (Nova Fase do Direito Moderno, p. 157, Saraiva, 1990). £ a modema teoria da disregard doctrine. “Essa doutrina, desenvolvida pelos tribunais norte-america- nos da qual partiu 0 Prof. Rolf Serick para comparé-la com a moderna jurisprudéncia dos tribunais alemées, visa impedir a fraude ou abuso através do uso da personalidade juridica, e € conhecida pela designagéo disregard of legal entity ou também pela lifting the corporate veil. “O mais curloso & que a disregard nao visa anular a personalidade juridica, mas somente objetiva desconsiderar no caso conereto, dentro de ‘seus limites, a pessoa juridica, em relagao &s pessoas ‘ou bens que atris dela se escondem. € caso de de- claragao de ineficdcia especial da personalidade jurt- dica para determinados efeitos, prosseguindo, toda- via, a mesma incélume para seus outros fins legitimos” (OSWALDO MOREIRA ANTUNES, “Aplica- ges da Teoria da Disregard Doctrine”, in jornal O Estado de Séo Paulo de 16.11.86, p. 61). Entdo, 6 de se indagar: se em intimeros casos, a teoria @ a jurisprudéncia tem desconsiderado a per- sonalidade juridica, para enfocar e ressaltar téo-so- mente as pessoas dos seus integrantes, para que exigit-se a personalidade juridica do Espdlio para fl- gurar como adquirente de um bem imével, se essa situagdo sera meramente transitéria e visa, nada mals nada menos, que a publicidade de uma situagio existente? Acrescente-se, ademais, que a Lei dos Registros Pablicos ndo exige, entre os requisitos da matricula @ do registro (art. 176, § 1.°) que, entre as qualifica- g5es do proprietério, seja indispensdvel o da perso- nalidade juridica. Determina aquele preceito, apenas, 08 requisitos da qualiticaco da pessoa fisica e os requisitos da qualificagéo da pessoa juridica, se esta ou aquela for 0 proprietério. (Conetai oa plginn sequins) (Concuss0 4 ptgina amen) E por que néo admitir a aquisigao do Imével pelo Espélio, para indicar que aquele determinado imével esté sendo submetido ao processo de inventario © ter’, inclutavelmente, que ser partilhado a alguém? Qual a diferenga de situacdo, se for requerida a averbagio, & margem da transori¢do ou na matricula, do dbito.de uma pessoa que ali figure como adq rente? Nao estaré caracterizado, assim, nos langa- mentos registrais, a existéncia de um espdlio como adquirente de um imével? 4.2. A transposi¢éo de preceitos do processo civil para o campo do direito material podera condu- zir @ situagées insoldveis como as que apontamos neste trabalho e acolhidas pelo E. Conselho Superior da Magistratura do Estado de Sao Paulo. Essa situaeao foi muito bem detectada pelo Prof, J. LAMARTINE CORREA DE OLIVEIRA, em seu exce- lente livro A Dupla Crise da Pessoa Jurid?ca, quando assim se expressa: "O problema assume atualidade no Brasil, dado 0 teor do art. 12, do recente Cédigo do Pracesso Civil, que de modo expresso reconhece a presenca em juizo como parte a figuras juridicas nao dotadas, segundo a ortodoxia do sistema, de per- sonalidade juridica. “Os comentadores do Cédigo de Processo Civil de 1973 reincidam, de modo geral, em equivocos se- melhantes aos jé ocorridos na Alemanha, ao tentarem resolver, com elementos tirados téo-somente do Di- reito Processual, a aparente contradigdo entre capa- cidade de ser parte e auséncia de personalidade juri- dica. Sustentamos que essa contradigao é insolivel em termos de puro Direlto Processual, pela razio muito simples de que a capacidade de ser parte é, ‘em verdade, totalmente incompativel com a auséncia de personalidade, Entendemos que, nos casos de apa- rente contradigo, ou a ‘parte’ nao é verdadeiramente @ “entidade’ que um habito de linguagem como tal designa ou ela o 6, mas em tal caso a entidade 6 parte © sujeito de direitos e, portanto, pessoa. Néo estamos com isso a pretender negar a auttonomia do Direito Processual” (op. cit, p. 203, Saraiva, 1979). 5. A orientacao adotada pelo E. Conselho Supe- rior da Magistratura do Estado de So Paulo hé que ser mudada Nao hé qualquer impedimento, nem prejuizo a quem quer que seja, nem tampouco afronta a qualquer preceito de lei, que 0 Espélio figure como adquirente de bem imével no Registro de Iméveis, especialmente se 0 inventariante estiver devidamente autorizado por alvard judicial. O registro dard publicidede que esse imével esta sendo inventariado; que a sua situagao dominial, per- tencente ao acervo. de bens de uma pessoa falecida, 6 transitéria e que tera sua situagdo definitiva com a partilha ou a adjudicacéo para algum herdeiro. E inegavel 0 acolhimento pratico desse registro. E nesse sentido, entre os Juizes Auxiliares da Corregedoria Geral da Justica do Estado de Sao Pau- lo, néo parece ser unénime o posicionamento adotado pelos acérdéios que iniciam estas consideracdes. O ilustre e culto Juiz Auxiliar da Corregedoria, Dr. AROL- DO MENDES VIOTTI, assim se manifestou em parecer que antecedeu 0 acérdao proferida na ap. civel 9,266-0/9, da Comarca de Cagapava, publicado no DOE Poder Jud. de 1.23.89, Cad. 1, p. 24: “Ao Espélio se reconhece nfo 86 0 direito de estar-em Juizo, como igualmente, em determinadas circunstancias, a feculdade de se postar como sujeito de direitos @ obrigagdes. £ verdade que todos os atos juridicos em que intervenha a pessoa formal’ do Es- P6lio hao de ser compreendidos como convergentes para a finalidade para que existe ope legis: aquele ente abstrato, qual seja, a de ulterior atribuicao de bens e direitos por ocasiao da partilha. “O Direlto é a ciéncia do raciocinio, curvando-nos ante a razio, ndo perante o prestigio profissional de quem quer que seja. O dever do: jurisconsulto é submeter a exame os conceitos de qualquer autor dade, tanto a dos grandes nomes que ilustram a cién- cia, como das altas corporagées judiciérias, Estas aqueles mudam freqlentemente de parecer, e alguns tém a nobre coragem de confessar; logo seria insénia acompanhé-los sem inquerir dos fundamentos dos seus assertos como se eles foram infaliveis” (CAR. LOS MAXIMILIANO, Hermenéutica e Aplicacdo do Direlto, pp. 272-273, 92 ed). JETHER SOTTANO ‘Assessor Juridice do 6° Registro de Imévels de Séo Paulo - SP ELVINO SILVA FILHO. Oficial do1.? Registro de-Imovels do Campinas - SP Boletim do IRiB 167 (Abril 91) — 5 ————— PERGUNTAS & RESPOSTAS P. € vélida uma escritura pabli- ca de compra e venda lavrada na Comarca, na qual constam as assinaturas das partes ¢ falta a assinatura do Tabeliao, encer- rando 0 ato? . R. A escritura publica 6 lavrada no Livro de Notas, assinada pelas partes e encerrada pelo Tabeligo, que, em seguida, expede o traslado ou certido do ato para @ epresen- taco do documento (instrumento piblico) .a terceiros, incluindo o Registro de Iméveis. Alguns Estados autorizam os es- ceventes (prepostos) a praticar 0 ato que, entretanto, deve ser en- cerrado pelo Tabeliéo ou seu subs- tituto legal (Oficial Maior, em al- guns Estados). O traslado é forma- do através de varios processos, comd a fideicdpia (gelatina), a ex: tragao de certidées datilografadas, nao sendo vélidos ou aceitos os instrumentos (trastados) formados por c6pias reprogréficas, especial- mente considerando que essas po- dem ser facilmente adulteradas. Mas, mesmo que se aceite @ c6- pia reprogréfice (xerox e outras), 6 indispensdvel que o ato reproduzi- do esteja formalmente perfeito, ©, assim, para que a escritura seja considerada vélida, deve conter to- dos os requisitos legais, entre os EMENTARIO quais se conta 0 encerramento pelo Tabelido ou substituto, que a as- sina, A cOpia da escritura remetida nao contém essa formalidade, e, dessa forma, o instrumento apre- sentado a: registro nao’ pode ser aceito pelo registrador, tendo em ta que, em primeiré lugar, se trata de cépia reprogréfica e, em segundo, 0 original nao est regu- larmente formalizado, podendo até mesmo se afirmar que, como esta, a escritura piblica & ato nulo por Ihe faltar formalidade essencial, qual seja a assinatura do Tabeliao. avs. Acaba de sair um livro contend “Decisées do Conselho Superior da Magistratura e Corregedoria Ge- ral da Justiga de Sao Paulo”, referente ao “Ti Vicente do Amaral Gurgel” mio de 88/91 , com “Ementério e indice elaborados por A obra, que-traz'700 ementas, com indices por data, assunto, origem, processo etc., é de interesse de Registradores, Tabelides de Notas e Protesto de Titulos, Oficlais de Registro de Titulos e Documentos ¢ Registro Civil de Pessoas Jyridicas. Oxfivro pode ser soli ido, por cheque nominal, de Cr$ 5.000,00, a Vicente do Amaral Gurgel, no se- guinte enderego: Avenida Indico, 30 - 1.° andar - Jardim do Mar - CEP 09750 - Séo Bernardo do Campo - SP. INSTITUTO DE REGISTRO ‘MOBILIARIO DO BRASIL Diestorias Presidente, Italo Gort Jini (PRs Vie carPreaderts a ‘a {ei ia: Terral Sora, gi, ‘retorero, Vand, Marla ‘eh; “Diet ge Fitdace "Duigerso, mar lotrel (See Biretor ee Ansatncls toa Assoclodo Caza” Torot Carpen (M); “Diretor ‘Scio"rewetarans atta Vis) Cone ‘tivo Presigent Sonic, (F ‘Serco 3h) “cera redo Guimartés (AC), Silo Dusel Ceveualte co vecuorave (AL), Ivan Eearap Rlselio (AM), YieisoAitoneo do Rago Gay Ara Terera_ Art! JorMalle Fiza (Ci ‘Ba Emilia Brune Portvost So fay bal dn Foeeck ‘hteans_Netites do Vena u (So. Gayoso Cataio Svanco”Seooe TEP tate at Man Kran a a Lime Bueno or (MG), mar Sout Pedrees (Pe), Ferando sive (32), Luz Foran’ ¢o.Avalo ‘Sy Erico da Gone Fachin (A) Ceneso. Flee! Décle Alves ca wide anavrron Sern (Wf) Rox (Se): consino de. etea? Bovodio 4e"Coste Coola. Jonlr (PR), Eine. siva Pie ei inal etna oie Sims ‘adda Rosero Baler (60) 6 Torelsha go Sens Azreao (RS). BOLETIM DO Inia sa be 61 — 467 Diretor Responsivel: talo Conti Jd ‘lor Redaggo: Ademar Floranelt Consultoria Juridiea: Gilberto Valente a Silva Editora: Maria Thereza Cavalhelro — Jorn, reg. no MT n? 7707 — SIPESP n2 2510 Sede: Av. Paulista, 2.073 — Horga | 12° andar — ‘conjs. 7.204/1.202 — CEP 01311 — So Pauio — SP Tols.: (011) 2872906 © 264-6958 © — Boletim do IRIB 167 (Abril 81)

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