You are on page 1of 44
RESINAS COMPOSTAS Alessandra Reis Alessandro Dourado Loguercio Dax Dalton Bittencourt Mario Fernando de Gées Introducao Uma das intengdes das técnicas e dos materiais odontolégicos restauradores € a reproducao fiel de caracteristicas dos den- tes naturais, como, por exemplo, cor e for- ma. A busca por um material direto com caracteristicas opticas semelhantes 4 estru- tura dentaria culminou no desenvolvimen- to das resinas compostas. Muitos anos de pesquisa foram necessarios para que algu- mas desvantagens iniciais desse mater como alto coeficiente de expansao térmica, desgaste excessivo, sorcdo de agua, desco- loracao e alta contracdo de polimerizacao, fossem minimizadas. Parte dessas caracte- risticas, que sao inerentes a um material or- ganico, continuam sendo foco de pesquisa até os dias atuais. O propésito deste capitu- lo é conceituar e apresentar as resinas com- postas presentes no mercado, associando suas indicagdes as suas propriedades fisicas e mecanicas. Historico Em meados da década de 1940, surgi ram as resinas acrilicas quimicamente ati vadas. Com esses materiais, mondmeros (metilmetacrilato) e polimeros [(poli)-me- tilmetacrilato] eram combinados e o produ- to era introduzido na cavidade bucal. A alta contracio de polimerizacao desses mate- riais associados a sua baixa estabilidade de cor prejudicaram seu desempenho a curto e médio prazos (Anusanice, 2003). ‘A primeira tentativa de reduzir a alta con- tracao de polimerizacao das resinas acrili- cas, advinda da aproximacdo dos monéme- ros de metilmetacrilato para a formacao do polimero, foi através de insercdo de parti- culas de carga. Em tese, a incorporacdo de particulas de carga gera uma reducao rela- tiva do volume ocupado pelos monémeros. Assim, a contracao dada pela aproximacao dos monémeros no processo de polimeriza- 40 fica restrita a um volume proporcional- mente menor. Porém, no caso da resina acrilica, a despeito de a contracao de poli- merizacao ter sido minimizada pela presen- a de particulas de carga, a falta de uniao quimica entre essas particulas e 0 polime- ro de metilmetacrilato é que determinou o insucesso clinico do material. Apés a po- limerizaco, as particulas de carga perma- neciam “soltas” dentro da matriz organica, resultando num material com baixa resis- téncia ao desgaste € pouca estabilidade de cor. 137 ‘meros) para a formacao de uma molécula maior, cha- ‘mada polimero. Quanto maior a proporcio de mond- mero na massa final, maior é a contracao de polime- rizacao. € por essa raz30 que a incluso de particulas de carga na resina composta reduzem a contracao de polerizagdo desse material. No inicio dos anos 50, as resinas epéxi- cas que haviam sido recentemente desen- volvidas passaram a ser avaliada‘como pos- siveis candidatas a0 uso em Odontologia restauradora. A baixa contracao de polime- rizagdo dessas resinas, a baixa solubilidade do polimero produzido e sua alta resistencia mecanica motivaram pesquisadores a estu- darem sua viabilidade como material res- taurador (Bowen, 1956). Entretanto, essas resinas tinham o inconveniente de apresen- tar um longo periodo de polimerizacdo, que Por si $6 limitava sua aplicabilidade clinica Com 0 compromisso de unir as caracteristi- cas desejaveis da resina acrilica e da resina epéxica, desenvolveu-se um novo moni mero, chamado bisfenol glicidil metacrila- to (Bis-GMA) (Bawen, 1962). Essa molé- cula contém a “espinha dorsal” das resinas epéxicas, porém suas terminacdes foram substituidas por grupamentos metacrilatos (Fig. 5.1). Assim, essa nova molécula hibri- da apresentava alto peso molecular, menor contracao de polimerizacao e rapida reacso de presa A partir desse importante advento, a pre- senca de monémeros de Bis-GMA, unidos quimicamente a cargas inorganicas, passou a vigorar como a base das formulacoes das resinas compostas, inclusive da maioria da- quelas que atualmente sao utilizadas na cli- nica odontolégica (Anusanice, 2003). Compésito Um compésito € definido como sendo © produto resultante da mistura de dois ou mais componentes quimicamente diferen- tes, apresentando propriedades interme- diarias aquelas que sao caracteristicas dos componentes que o originaram. Um exem- plo de um compésito natural ¢ a dentina, constituida, primordialmente, de materiais organico (colégeno) e inorganico (cristais de hidroxiapatita). A resina composta é um compésito formado por uma matriz orgéni- ca (monémeros, iniciadores, modificadores de cor, entre outros), uma matriz inorganica (carga) e um agente de uniao (Fig. 5.2). As funcoes e respectivas vantagens e desvan- tagens de cada um dos componentes esto descritos no quadro 5.1. Matriz A matriz organica da resinas composta 6 constituida por: monémeros; inibidores; modificadores de cor; e sistema iniciador/ ativador. Monémeros Os monémeros sao 0 principal compo- nente da matriz organica das resinas com- postas e tém a funcao de formar uma “mas- sa” plastica para ser conformada na estrutu- ra dentaria perdida. A maioria dos monéme- ros empregados na formulacao das resinas constitui-se de dimetacrilatos aromaticos ou alifaticos. Dentre os monémeros mais utiliza- dos destacam-se: Bis-GMA (bisfenol glicidil metacrilato) e 0 UDMA (uretano dimetacrila- to), que sao monémeros de alto peso mole- ser encontrada na tabela periédica dos elementos. ‘Assim, 0 somat6rio das massas atémicas dos storios que comper uma molécula forece seu peso ou massa molecular (PM). Po: exemplo, 0 hidrogénio possui uma massa atdmice de | unidade, 0 oxigénio de 16, Assim, a massa molecular da H,O ¢ igual a 16. on ce | O-CH,~ CH} CH, - 0- cé-cn,! 1 | § Molécula de Bis-GMA. Em vermelho estdo os grupamentos metacrilatos que foram inseridos na “espinha dorsal” de uma resina epéxica. cular, e 0s monémeros TEGDMA (trietileno- glicol dimetacrilato) e EGDMA (etilenoglicol dimetacrilato), de baixo peso molecular. Caracteristicas como: alto peso molecu- lar (PM 512), alta viscosidade e baixa flexibi- lidade conferem ao mondmero Bis-GMA um baixo grau de conversao a temperatura am- biente. Assim, monémeros diluentes, como ; 0 TEGDMA (PM 286) ou EGDMA (PM198) (Fig. 5.3), s80 incorporados 4 formulacdo das resinas a base de Bis-GMA, propiciando reducdo da viscosidade da massa e tornan- do-a passivel de ser empregada clinicamen- te, melhorando sua manipulacao. Paralela- mente, a reducdo da viscosidade dada pela presenca de mondmeros diluentes possibili- i ta maior incorporacao de carga a matriz da resina e propicia maior grau de conversio de monémeros em polimeros. Como forma ilustrativa, basta compararmos a viscosidade Desenho esquemdtico de uma tesina composta. Em cinza claro, a matriz orgénica; em cinza escuto, as par ticulas de carga; e em preto ao redor das pariculas, 0 agente de ligacao entre a matriz orgénica e os part culas de carga a lise da resina compost 1, Como © pF prio agente de unido é passivel de softer hidsdise, & comum observar que, dada 8 permeacdo de fluidos intra e extrabucais dentro da resina, a estabilidade de sua estritura pode ser signiicativamente afetada pela hidroise prematura do agente de uniao. de diferentes monémeros em termos numé- ricos. Enquanto a viscosidade da agua é de apenas 1 mPass a 23°C, avviscosidade da mo- lécula de Bis-GMA é de aproximadamente 1.000.000 mPa.s e do TEGDMA é 10 mPa.s (Asmussen, 1977) (Fig. 5.4). Outro monémero utilizado como base de algumas resinas compostas, comercialmen- te disponiveis, sao os uretanos dimetacrila- tos (UDMA) (Fig. 5.3) E um monémero com peso molecular semelhante ao Bis-GMA (PM 470), porém sua molécula possui baixa vis- cosidade (11.000 mPa.) em comparacao com 0 Bis-GMA (Peutzfeldt, 1997), o que per- mite seu uso isolado ou associado a outros monémeros (Fig. 5.4). Como mencionado, cuanto menor a vis- cosidade da matriz orgénica, maior a quan- tidade de carga pode ser incorporada, 0 que se traduz em aumento de propriedades co- mo rigidez e resisténcia mecénica e dimi- nuigao de outras como coeficiente de ex- pansao térmica linear (CETL) e solubilidade. Por outro lado, a inclusao de TEGDMA causa um efeito negativo: aumento da contracao de polimerizacao. Quadro 5.1 - Vantagens e desvantagens dos co Tee eer ents os <0 rnnenes tt cine nponentes de uma resina compost Particulas de carga matriz orgénica ‘¢ reduz a contracio de polimerizac3o. | « € relativamente mais inerte que 2 Componentes Vantagens Desvantagens * combinacao de cor + alto Coeficiente de expansao térmica li © agente aglutinante near a © propriedades reolégicas « alta contracao de polimerizacao i @ alta sorcao de agua + baixes propriedades mecénicas «= baixa estabilidade de cor ‘* aumenta as propriedades mecanicas | rugosidade «# baixo coeficiente de expansdo térmi- | influencia no polimento e britho super- ca linear ficial dificulta a passagem de luz 2 ‘Agente de unio + orgénica cor ao longo do tempo ‘+ transmisséo homogénea de tensGes| « mastigatorias entre a matriz e a car-| unido das particulas de carga 4 matriz ‘* aumenta estabilidade hidrolitica e de passivel de hidrolise aumenta as tensdes da contracto de polimerizacdo A contracao de polimerizacao é resultan- te da formacao de macromoléculas através da unido de monémeros de baixo peso mo- lecular. Antes da reacao de polimerizacao, os monémeros estao afastados uns dos outros por distancias de 0,3-0,4 nanémetros. Duran- te a polimerizacao, os monémeros se aproxi- mam para formar cadeias de moléculas mais extensas e estabelecerem ligacées primérias e covalentes. Essas ligaces distam apenas 0,15 nanémetros entre si (Peutzfeldt, 1997), como esquematizado na figura 5} A magnitude da contracdo de polime- rizagao de um polimero depende do peso molecular e da reatividade da molécula. Quanto maior o peso molecular, me- nor a contracdo de polimerizacao. Resinas 4 base de Bis-GMA possuem contracao in- ferior aquelas que tém como componente principal o monémero TEGDMA, devido jus- tamente as diferencas entre os seus pesos moleculares (512 e 286, respectivamente). A reatividade representa a capacidade do monémero de estabelecer ligacdes co- valentes primérias. Quanto mais reativo, maior o grau de conversdo de monémeros em polimeros e, conseqiientemente, maior a contracao de polimerizacao resultante. A reatividade depende: » do ntimero de ligacdes insaturadas (C=C); » da distancia entre os grupamentos me- tacrilatos e; » da flexibilidade da cadeia polimérica. de se esperar que comparacées se- jam, muitas vezes, dificeis, pois varios des- ses fatores podem se somar ou se subtrair uns dos outros. Mas, tentando analisar os monémeros semelhantes separadamente, podemos observar que 0 TEGDMA possui © mesmo ntimero de ligacdes insatura~ das que 0 EGDMA, porém seus grupamen- tos metacrilatos estéo mais distantes, o que Ihe confere maior reatividade duran- te a polimerizacao (Fig. 5.3). Quanto mais longe estao os grupamentos metacrilatos, maior a facilidade que a molécula possui de se movimentar durante a polimerizacao e estabelecer ligacdes covalentes nas suas extremidades EGDMA ee H, {CAGE - 0 - Cis CH, O- CH, CH; -O-CH,- Cit 0 ied CH: phic “ea O-CH;- CH- aa - CH,-0- eon CH Bis-GMA CH, CH, CH, | | “ HCE -0-Ci-CH jr} CH CHC CCH CH: N-€-0-CHE CH O-€C- om CH UDMA Representacéo esquemdtica de mandmeros resinosos diluentes (EGDMA e TEGDMA) e de monémeros com alto peso molecular, tais como Bis-GMA e UDMA. Os quadrados vermelhos indicam as ligagdes insaturadas. Em azul, as circunferéncias indicam a presenca do grupo hidroxila Paolimero Observe como a aproximacéo de monémeros durante a polimerizagdo resulta na contracao de polimerizagao. BAA) PWtelera Denti Diret0s~ dos Fundomentos 2 Aplicacdo Cnica 55 Fig. 5.5 Fotografias esquemeticas mostrando Bis-GMA (A), UDMA (B) e Bis-EMA (C). Note a maior viscosidade do Bis-GMA (4) em comparacao com UDMA (8) e Bis-EMA (C). (Fotografias gentilmente cedidas pelo Prot. Dr. lvo C. Correa, Aflexibilidade da molécula pode ser com- preendida pela comparacao da estrutura dos monémeros Bis-GMA e 0 UDMA (Fig. 5.3). Embora possuam peso molecular semelhan- te (512 e 470 respectivamente), o grau de converséo da molécula de UDMA é maior e, portanto, maior é a contraco resultante. A presenca de dois anéis benzénicos, na par- te central da molécula de Bis-GMA, restrin- ge sua movimento durante a polimerizacao, impedindo 0 encontro com novos sitios de ligacao; sendo assim, € comum que apenas um dos grupamentos metacrilatos esteja apto a realizar ligacdes covalentes simples. Em decorréncia desse aspecto & que se jus tifica a associacdo de Bis-GMA e TEGDMA, proporcionando maior incorporacao de car- ga, aumento do grau de conversao da matriz resinosa, com benéfico aumento das pro- priedades mecénicas. Algumas resinas compostas apresentam como base de sua formulacéo 0 monémero Bis-EMA, um derivado etoxilado da molécu- la de Bis-GMA. A molécula de Bis-EMA pos- sui maior peso molecular (PM 629), sendo que para cada grupo bisfenol A ha, em mé- dia, 6 grupos de dxido de etileno. Além dis- 0, hé poucas duplas ligacdes por unidade de peso, 0 que auxilia na reducdo da con- tracdo de polimerizacdo. As resinas a base de Bis-EMA possuem baixa sorcao de agua em comparacéo com aquelas compostas, primordialmente, por Bis-GMA; essa proprie- dade é garantida as expensas da eliminacao, de grupamentos de hidroxilas pendentes na molécula original de Bis-GMA (Fig. 5.3). Diversos grupos de pesquisa tém tra- balhado no desenvolvimento de monéme- ros resinosos com baixa contracao de poli merizaco. Espiroortocarbonetos (EOC) utili- zados com dimetacrilatos ou resinas epoxicas possuem baixa contraco de polimerizacdo em comparacao com misturas de Bis-GMA/ TEGDMA. Entretanto, esses monédmeros pos- suem baixo grau de conversao, o que par- cialmente justifica a menor contracao obser- vada e, além disso, acabam por produzir um (© grau de conversio estima a eficiéncia da polimeri- aco e formacio de ligacdes cuzadas. Ele € deter- rminado pela razdo entre 0 numero de ligagdes insatu- radas que nao reagiram © 0 niimero total de ligacdes inaturadas que existia antes da polimerizacdo. Mais detalhes esto descitos no capttulo de Principios sicos para Caracterizacdo dos Materials e de Fotoati- vacao (Cap. 9). material com propriedades mecénicas relati- vamente baixas. Oligémeros di ou multifun- cionais ciclopolimerizaveis, sintetizados pela reacao entre acrilatos e formaldeidos, po- dem produzir resinas com alto grau de con- versdo e baixa contracao em comparacao com aquelas constituidas exclusivamente de dimetacrilatos (Bis-GMA, UDMA, Bis-EMA, TEGDMA, EGDMA). Outros sistemas tém sido avaliados na tentativa de reduzir a contracéo de polimerizacao, como por exemplo os vi- nilciclopropanos (VCP) ou EOC insaturados e as formulacoes base de oxiranos (Fer- racane, 2001). Esses sistemas promovem a abertura de seus anéis durante a reacao de polimerizacao, compensando, assim, a con- tracao causada pela aproximacao dos moné- meros (Fig. 5.6) (Rueggeberg, 2002). Resul- tados promissores em relacao a contracao de polimerizacao tam sido descritos com esses monémeros e ¢ bem provavel que em pou- co tempo sejam desenvolvidas resinas com- postas comerciais com esses novos sistemas monoméricos. Porém, estudos que compro- vem a biocompatibilidade desses materiais, bem como avaliagdes de suas propriedades fisicas e desempenho clinico, serao necessé- rios para determinar 0 quao aplicaveis so ° L { ? Espioarocarboneto essas novas formulacdes e como poderiam proporcionar beneficios clinicos a curto e longo prazos (Ferracane, 2001) Inibidores Para evitar a polimerizacdo espontanea dos monémeros, uma pequena quantidade de inibidores é adicionada (0,01%). Os mais utilizados so 0 BHT (hidroxitolueno butili- co) e a hidroquinona. Como essas substin- cias sao bastante reativas com radicais livres, caso haja exposicao acidental a luz, elas ra- pidamente interagem e impedem a propa- gaco da polimerizacao. Os inibidores tam- bém tém a funcao de garantir 0 aumento da vida util da resina. Lembre-se de que 0 armazenamento da resina em refrigerador também promove 0 aumento da vida tt do material, pois temperaturas mais baixas diminuem a capacidade de formacao de po- limeros. Modificadores de cor As resinas compostas sao comercializa- das em diferentes cores para mimetizar as estruturas dentarias (Fig. 5.7). A adicao de \ AX Reagdo com um proton y— ) > ¢ oc . / \ / ‘digo de outro monemero mondmeros= cortraggo Sito para unigo “expansie Mecanismo de reacao de espiroortocarbonetos pela abertura de anéis. (Adaptado de Rueggeberg, 2002.) = dos Fundamentos & Aplicacdo Clinica pigmentos inorganicos, ou seja, éxidos me- télicos, € que permite que o material tenha diferentes cores. O esmalte é um tecido trans- lcido, enquanto a dentina é um tecido que apresenta maior opacidade. Para balancear esses efeitos dpticos, geralmente, se comer- cializam resinas para esmalte e para denti- na. A adicao de éxidos metélicos com alto peso molecular produz resinas compostas ‘opacas, a semelhanca da dentina. Assim, € comum observar em diferentes kits de resi- na composta, resinas mais transliicidas para serem utilizadas na restauracao do esmalte (que contém pouca quantidade de éxidos) e resinas mais opacas (contendo maior quan- tidade de dxidos), indicadas para substituir a dentina (Fig. 5.8). Para essa ultima categoria, so utilizados mais comumente o didxido de titnio ou 0 éxido de aluminio. Sistema iniciador/ativador Os monémeros dimetacrilatos (Bis- GMA, UDMA, Bis-EMA, TEGDMA, EGDMA, entre outros) se polimerizam por reacao de adicao, que é iniciada pela formacao de ra- dicais livres como descrito no capitulo de Principios Basicos para a Caracterizacao dos Materiais (Cap. 1). Os radicais livres podem ser gerados por estimulo de um agente quimico ou fisico (calor ou luz visivel). Por essa razao, uma das classificacdes desses materiais os separa em dois grupos: resinas compostas quimicamente ativadas e resi- nas compostas fotoativadas. As resinas compostas ativadas quimica- mente s8o comercializadas em duas pastas (base e catalisadora). Na pasta base, ha pe- réxido de benzoila (iniciador), que ao en- trar em contato com a amina tercidria (di- metil p-toluidina ou diidroxi etil p-toluidina ~ ativadores), presente na pasta catalisado- ra, gera radicais livres que passam a ativar a reacao de adicao (Fig. 5.9). A maioria das resinas compostas em- pregadas na atualidade sofrem polimeriza- cao por fotoativacao. Geralmente, essas re- sinas so comercializadas em consisténcia pastosa e sdo acondicionadas em bisnagas 5.10). O sistema fotoiniciador dessas resinas é normalmente constituido de uma dicetona, a canforoquinona (CQ) e uma amina alifatica. Na presenca de luz visivel, com comprimento de onda variando entre 400 e 500 nm (espectro azul), a CQ passa para um estado excitatério triplo e transfere um de seus elétrons para a amina alifatica, resultando na formacao de radicais livres (Rueggeberg, 1999) (Fig. 5.11). O estagio excitatério maximo da CQ, em que se pode gerar mais radicais livres, ¢ atingido sob o comprimento de onda de 468 nm. A CQ esta presente na formulacao das resinas em pequenas concentra¢ées, apro- ximadamente 0,15% em peso. Isso se deve a dois fatores: 1) a CQ é um iniciador com coloracao bastante amarelada e sua adicao em maiores concentracées gera um amare- lamento da resina e dificulta a combinacdo da cor com as estruturas dentais (Ruegge- berg, 1999); 2) concentracdes maiores de CQ geram a polimerizacao precoce da re- sina, j@ no momento de sua insercéo nas estruturas dentais, tanto pela exposicdo a luz do refletor quanto ao ambiente. Outro fotoiniciador empregado em resi- nas compostas ¢ 0 fenil propadiona (PPD), cuja banda de absorcao é de 420 nm, Essas diferencas podem trazer limitacdes quanto s da marca co 1a resina compos ta fotoativada disponivel em diferentes cores (Al, A2, A3, A3.5, BI, B2) CAP. 5 ~ Resinas Compostas 145 bl A Bd eer sldcidas na frente da cor para de 6 o meio, hd ADAPTIC” Poste Cotlzedere crop Fig. 5.10A Fig. 5.10B iferentes marcas come ivadas acondicionadas em bisragas (A). Em B, pode-se GI ee erro eer Cloico Luz (~470nm) X& Zo on Dicetona (canforoquinona) Desenho esquemetico que mostra a absorgao de fétons no cor m estado excitataro tiplo e, ao reagir com uma amina alifética, forma radicais canforoquinona, qu livres que dora passa para de polimerizacdo. 4 polimerizacao, dependendo do aparelho fotopolimerizador empregado e da faixa de luz emitida por ele. Mais detalhes serao di cutidos no capitulo de Fotoativacdo e Uni- dades Fotoativadoras (Cap. 9). Particulas Inorganicas A incorporagao de particulas de car- ga inorganicas tem a funcao basica de au- mentar as propriedades mecanicas das re- sinas compostas e reduzir a quantidade de matriz organica, minimizando, assim, suas principais desvantagens, tais como contra- 40 de polimerizacao, alto coeficiente de expansao térmico linear (CETL) e sorcao de Agua. Diferentes particulas inorganicas tém sido empregadas com esse propésito, dentre elas: Quartzo As primeiras particulas_incorporadas na matriz de resina composta foram as de quartzo (Fig. 5.12). Essas particulas tinham como vantagem 0 fato de serem inertes e possuirem altissima resisténcia_mecani- ca. O tamanho médio dessas particulas de quartzo era 12 ym, porém particulas com Radicais Oo livres Estado excitatorio pela molécula de 50 a 100 ym podiam ser encontradas den- tro da matriz das resinas compostas. A im- possibilidade de reduzir o tamanho dessas particulas deve-se a alta dureza do quartzo, que inviabiliza sua trituracao para a obten- a0 de particulas menores. Clinicamente, isso fazia com que o polimento das resi- nas contendo quartzo fosse muito dificil, pois os abrasivos para polimento nao eram capazes de cortar o quartzo para tornar a superficie mais lisa. Outra grande desvan- tagem dessa particula é sua falta de radio- pacidade (Willems et al., 1991) e 0 seu alto Coeficiente de expansao térmica linear. Em virtude do exposto, esse tipo de particula nao é empregado como carga na maioria das resina compostas atuais. Silica coloidal Particulas de silica com tamanho coloidal foram desenvolvidas no final da década de 1970. Essas particulas sao obtidas por pro- cesso pirolitico ou de precipitacao. Durante esse processo, uma substéncia com baixo peso molecular, tal como 0 cloreto de silicio (GiCl.), é queimada numa atmosfera rica em hidrogénio e oxigénio, e a partir desta rea- a0 sao formadas macromoléculas de 6x do de silicio ou silica (Si0;) com tamanho Fotomicragratia das particulas de carga de uma resi- na macroparticulada, quimicamente ativada (Concise, 5M ESPE), na qual se observam particulas de quartzo imersas em matriz resinosa. (Fotografia gentilmente cedida pelo mestre Vinicius Di Hipdlito © pela Profa. Dra. Marcela Rocha de Oliveira Carrilho, Faculdade de Odontologia de Piracicaba, UNICAMP) médio de 0,04 a 0,4 ym. Como as particu- las de silica possuem tamanho pequeno e baixa dureza, quando incorporadas a matriz, organica das resinas compostas, propiciam 0 alcance de um 6timo polimento, garanti do maior lisura a superficie das resinas. Da mesma forma que a particula de quartzo, a de silica coloidal apresenta o inconveniente de nao apresentar radiopacidade. Particulas de silica coloidal possuem ex- tensa rea superficial relativa por volume, © que dificulta a inclusao de particulas em grande porcentagem, tornando a resina fra- ca mecanicamente (Tyas et al,, 1989). Particulas de vidro As particulas de vidro substituiram as particulas de quartzo, pois, em funcao de sua menor dureza, podiam ser trituradas em tamanhos inferiores a 6 pm. Essas par- ticulas contribuem para dar radiopacidade das resinas compostas, facilitando a detec- do de caries e excessos marginais. ‘A maioria das resinas compostas atuais contém em sua composicao esse tipo de par- ticula. Vidros de bario e de estréncio sao os mais comumente empregados nas resinas compostas, porém outros tipos, tal como vi- dro de fluor alumino-silicato, trifluoreto de itérbio, zircénia, entre outros, podem ser encontrados nas resinas compostas comer- cializadas na atualidade. Agente de Unido Para que as particulas de carga cum- pram a funcao de aumentar as proprieda- des mecanicas e reduzir a sorcdo de agua € 0 coeficiente de expansao térmica linear, é necessario que estejam unidas quimica- mente 4 matriz organica. Assim & impres- Cindivel 0 uso de moléculas bifuncionais e anféteras (capazes de estabelecer ligaces quimicas com compostos diferentes) para estabelecerem uniao entre a matriz resino- sa por grupamentos metacrilatos e as par- ticulas de carga através de grupos silanicos (Si - 0 - Si) (Fig. 5.13). Organossilanos so mais comumente empregados como agen- tes de uniao, embora em algumas composi- Ges de resinas sejam encontrados titanatos € zirconatos desempenhando tal funcao. A uniao quimica entre as particulas de carga e matriz organica garante uma dist buicdo mais uniforme das tensdes geradas quando, por exemplo, da incidéncia de car- gas mastigatorias sobre a resina composta. Contrariamente, falhas no estabelecimento dessa uniao fazem com que as tensdes se concentrem na interface carga/matriz, pro- piciando a formacao de fendas no corpo da matriz resinosa, podendo levar a perdas de particulas de carga. Consequentemente, es- sas fendas sao responsdveis pela reducao das propriedades mecénicas da resina e, a0 mesmo tempo, facilitam a entrada de flui- dos e adsorcao dos mesmos ao redor das particulas de carga, acelerando a degrada ‘<0 da resina composta. Assim, além de re- forcar as propriedades mecénicas, a uniao quimica entre as partes inorganica e organ ca da resina composta, aumenta sua resis- téncia ao desgaste ¢ a hidrdlise, e sua esta- bilidade de cor. Desenho esquemético mostrando a adesdo quimica entre a partcula de carga (azul escuro) e o matrz re- sinosa (azul claro) através de um organosiiano Classificacao das Resinas Compostas pelo Tamanho das Particulas Inorganicas A maioria dos livros-texto classifica as resinas pelo tamanho médio das particulas de carga, sendo assim a énfase seré dada aos diferentes tipos de materiais presentes no mercado. Resinas macroparticuladas Tradicionalmente, as primeiras resinas co- mercializadas continham particulas de quart- z0 em tomo de 15 jim e que gradativamente passaram a reduzir o tamanho para 8-15 ym. Essas resinas sao classificadas como resinas macroparticuladas. A quantidade de particu- las no material varia geralmente entre 60 a 65% em volume (Willems et al., 1992). particulas inorgénicas presente na resina, Mas, antes de comparar os percentuais de carga de diferentes resinas, verifique se eles s8o fomeci- dos em volume ou em peso. O percentual em volume é geraimente 10 a 20% menor que 0 percentual em peso. Fundamentos & Aplicacdo Clinica No passado, elas tinham maiores pro- priedades mecanicas que as resinas acri- licas, porém ainda esse aumento nas pro- priedades mecdnicas nao era suficiente para justificar © uso desses materiais em areas com grandes tensdes mastigatorias, como ‘em dentes posteriores. Essas resinas apre- sentavam alta rugosidade superficial, desen- volvida durante o desgaste abrasivo da ma- triz de resina que deixava as particulas de carga mais duras expostas, produzindo uma superficie aspera (Fig. 5.14). Consequente- mente, essas resinas apresentavam maior suscetibilidade a0 manchamento pela facil retencao de corantes. Essas resinas pratica- mente nao séo mais comercializadas na atu- alidade na forma fotoativada. Somente as resinas compostas Concise (3M) e Adaptic (Dentsply), que sdo resinas quimicamente ativadas (Fig. 5.9), ainda estdo disponiveis no mercado. Resinas microparticuladas © tamanho médio das particulas desse tipo de resina se situa entre 0,04 a 0,4um. Isso associado a uma menor dureza confere a esse tipo de resina maior lisura superficial. Por outro lado, particulas de silica coloidal possuem extensa area de superficie relati- va, 0 que significa dizer que necessitam de grande quantidade de matriz para “molha- las”. Como conseqliéncia, pequenas quan- tidades de silica coloidal inseridas na matriz organica sao capazes de aumentar muito a viscosidade do material, tornando-a clinica- mente inadequada. Como forma de aumentar o percentual de carga sem comprometer suas proprieda- des reoldgicas, 0 processo de manufatura desses materiais foi modificado. Foram adi- cionadas a matriz resinosa particulas pré- polimerizadas de resina com alta concen- tra¢ao de silica coloidal (Figs. 5.15 ¢ 5.16). A resina pré-polimerizada contém um per- centual de 70% em peso de silica (50% em volume), que é triturada em particulas de 5 a 50um e inseridas como carga na ma- co Desenho esquemético de uma resina macroparticula dda mostrando a concentragao de tensdes na interface carga/matrie devido @ alta dureza das particulas de carga (setas vermelhas). Pode-se observar maior des gaste da matriz de resina (amarelo) na superficie, ex pondo pantculas duras de quartzo (verde). O asterisco indica 0 local onde havia uma partcula de carga que foi arrancada pela acao do bolo alimentar. triz de resina (Anusavice, 2003). Essas par- ticulas pré-polimerizadas conferem a resi- na composta uma consisténcia arenosa. No computo geral, as resinas microparticuladas podem atingir um percentual de carga em torno de 30 a 45% em volume. Caso a si- lica coloidal fosse adicionada diretamente a matriz de resina para producdo de uma resina com propriedades reolégicas act veis, 0 conteido maximo de carga incluido seria da ordem de 20% em volume (Van Noort, 1994). E interessante ressaltar que o grau de conversao das particulas pré-polimerizadas é bastante alto, em torno de 80%, bem su- perior ao grau de conversio médio que a matriz da maioria das resinas compostas atingem durante a polimerizacao. Esse topi- co sera discutido mais adiante (Van Noort, 1994; Anusanice, 2003). ‘Apesar de os problemas relativos a rugo- sidade superficial serem bastante minimiza- dos com o desenvolvimento das resinas mi croparticuladas, e a incorporacao de parti- culas de resina pré-polimerizadas melhorar as caracteristicas reolégicas dessas resinas, suas propriedades mecanicas relativamente baixas fazem com que sejam indicadas ape- nas para a restauracao de dentes subme- Desenho esquemdtico de uma resina microparticula- da, Observe, em azul-claro, a inclusao de particulas de resina pré-polimerizado com alta concentragdo de sil a coloidal (esferas pretas). Ainda hd inelusao de silica coloidal (esferas pretas) dispersa na matriz de resina (fundo bronco), Fotomicrografia de uma resina composta micropart culada (Fitek A110, 3M ESPE). (Fotomicrografia gen tilmente cedida pela mestre Vinicius Di Hipéiito e pela Profa. Dra. Marcela Rocha de Oliveira Carritho, Facul dade de Odontologia de Piracicaba, UNICAMP). tidos a pouco impacto mastigatério. Além disso, resinas microparticuladas, geralmen- te, apresentam alto coeficiente de expan- sao térmica linear e maior suscetibilidade a sorco de agua, devido ao maior contet- do organico (Raptis et al., 1979; Van Dijken, 1986; Tyas et al., 1989). Exemplos comer- ciais dessas resinas sao a Durafil VS (Kulzer) e Micronew (Bisco). Resinas de particulas pequenas Essa nova categoria de material foi de- senvolvido para que atingisse a lisura das resinas microparticuladas, porém com me- Ihores propriedades mecanicas. Métodos de moagem avancados permitiram a tritu- racao de particulas de vidro com tamanho médio inferior aqueles utilizados nas resi- nas de macroparticulas, o que deu origem as chamadas resinas de particulas peque- nas (Figs. 5.17 e 5.18). 0 tamanho médio da carga se situa entre 1 ¢ 5 um (Anusavi- ce, 2003). A melhor distribuicao do tama- nho das particulas permitiu maior compac- tacdo, aumentando o percentual de carga (65-77% em volume). Essas resinas apre- sentam propriedades mecénicas superiores as das resinas macro e microparticuladas e menor contracao de polimerizacao devi- do ao menor contetido de matriz resinosa. Também proporcionam bom polimento, po- rém ainda inferior ao obtido com as resinas microparticuladas. Ao contrario das resinas micro e macroparticuladas de quatzo, as de patticulas pequenas sao radiopacas. As re- sinas P-30, Estilux e Prismafil foram repre- sentantes dessa categoria, mas atualmente nao sdo mais comercializadas. Essas resinas apresentavam pequenas concentracées de silica coloidal para ajuste de viscosidade (em torno de 5%). Resinas compostas hibridas A categoria de resinas compostas hibri- das (Fig. 5.19) foi desenvolvida no sentido de se obterem restauracdes mais lisas que as resinas de particulas pequenas, manten- do as excelentes propriedades mecénicas alcancadas com as resinas de particulas pe- quenas. Como o proprio nome sugere, ela é um hibrido, pois possui dois tipos diferentes de particulas: silica coloidal (em concentra- Bes de 10 a 20% em peso) e particulas de vidro com tamanhos de 1 a5 im, totalizan- do um percentual de carga de 60 a 66% em volume. Essas resinas possuem proprieda- des mecdnicas semelhantes as resinas com- ae Fe mai oes ees Apicor20 Clinica postas de particulas pequenas, permitem um bom polimento inicial e ao longo do tempo (Reusens et al., 1999; Smales, Gerke, 1992). Além disso, sao resinas radiopacas. Na década de 1990, essas resinas so- freram novas modificacées, dando origem &s resinas compostas micro-hibridas (Figs. 5.20 e 5.21), em que foram misturadas particulas de silica coloidal com particulas de vidro de bario, litio ou zircénia, com di- mensées inferiores a 1m. O percentual de carga incluido é semelhante ao das resi- nas compostas hibridas. Essas resinas sao universais e podem ser utilizadas tanto em dentes anteriores como em posteriores. A lisura superficial é semelhante a das resinas microparticuladas (Hoelseher et al., 1998; Turkun, Tresein, 2064; Yap, 2004a) porém © brilho atingido pelas microparticuladas ainda é superior. E interessante ressaltar que o termo hi- brido se refere 4 presenca de dois tipos di- ferentes de particulas de carga. As resinas da 3M ESPE, apesar de possuirem tamanho médio das particulas inferiores a 1pm e te- rem percentual de carga semelhante ao das resinas micro-hibridas, nao possuem dois ti- pos de carga. Essas resinas utilizam apenas particulas sintéticas de zirc6nia-silica com tamanhos que variam de 0,01 a 3,5 pm e sao consideradas, portanto, como unimo- dais. Apesar dessa diferenca tedrica, esas resinas possuem propriedades semelhan- tes as resinas micro-hibridas, 0 que justifica sua inclusdo na classificagaéo como resinas micro-hibridas. Resinas nanoparticuladas A nanotecnologia, também conhecida como Engenharia Molecular, representa um avanco tecnoldgico que permitiu produzir estruturas e materiais com dimensdes en- tre 0,1 e 100 nanémetros. Para se ter uma idéia, 1 nm é uma unidade de medida 1000 vezes menor que 1 jm e 1 milhao de vezes menor que 1 mm. Por meio dessa tecno- logia, houve o desenvolvimento de nano- particulas de silica com didmetro entre 1 € Desenho esquemdtico de uma resina composta de articulas pequenas contendo particulas de vidro com tamanho médio de 1 a 5 ym (cor cinza). Devido & grande distribuicao de diferentes tamanhos, um maior ercentual de carga pode ser inserido nesse tipo de resina composta, rae Fotomicrografia de particulos de carga de uma resina de particulas pequenas Filtek Flow (3M ESPE). (Foto- micrografia gentilmente cecida pelo mestre Vinicius Di Hipélito e pela Profe. Dra. Marcela Rocha de Olvei- 10 Carrie, Faculdade de Odontologia de Piracicaba, UNICAMP) Representagdo esquemética de uma resina hibrida, Em cinza, as particulas de vidro com tamanhos seme- Ihantes as resinas de partculas pequenas (1 a 5 pm); em branco, a mattiz orgénica € os pequenos pontos pretos representam as particulas de silica. Representacdo esquemdtica de uma resina micro: brida. Em cinza, as particules de vidro, com tamanho ‘médio inferior a 1 um; em kranco, a matriz orgénica € 5 pequenos pontos pretos representam as particulas de silica, Fotomicrografia de particulas de carga de resinas compostas micro-hibridas. Em (A), @ resina TPH Spectrum (Dents ply) @ em (B), a resina Filtek 2250 (3M ESPE). (Fotomicrografias gentimente cedida pelo mestre Vinicius Di Hipdiito, pela Profa, Dra. Marcela Rocha de Oliveira Carilho, Faculdade de Odontologia de Piracicaba, UNICAMP) 80 nm, que devidamente tratadas com um agente de uniao formam agrupamentos ou aglomerados com até 75 nm. Esses se unem & matriz da resina composta, representando uma nova categoria de resinas, chamadas nanoparticuladas (Fig. 5.22). © tamanho médio das particulas de car- ga desse material é 5-75 nm, ou seja, dez vezes inferior ao tamanho das particulas de silica coloidal empregada nas resinas com- Postas microparticuladas. Os aglomerados dessas particulas permitem a inclusdo de um percentual de carga semelhante ao das resinas micro-hibridas (60-66% em volu- me). Segundo o prospecto do fabricante, a resina Filtek Supreme (3M ESPE), represen- tante dessa nova categoria, soma as vanta- gens estéticas das resinas microparticuladas (Yap et al, 2004a), tais como o excelente polimento e brilho, e as propriedades mecé- nicas das resinas micro-hibridas (Mitra, Hol- mes, 2004; Yap et a, 2004b). Isso amplia 0 leque de aplicacées dessa resina, que pode ser utilizada tanto em dentes posteriores como em anteriores. Infelizmente, ha pou- cos dados na literatura sobre 0 desempe- nho desse material, o que inviabilizard a sua comparacao com as outras categorias de materiais na seco de Propriedades. Porém, & bem provavel que, em pouco tempo, haja avaliagoes de cunho laboratorial e clinico dessa nova categoria de resinas compostas. Vale salientar que varias outras mas- cas comerciais indicam ser nanoparticula- das (Grandio, Voco); Prenisse (Kerr); Simi- le Generic Pentron); Aelite Esthetic Enamel (Biseo) dentre outras, mas de acordo com Farah, Poners (2003), estes materiais com- binam particulas de nidro, silico coloidal e uma pequena quantidade de nanoparticu- las, nao devendo assim ser chamadas de nanoparticulas, mas de resinas compostas nanohibridas. Um resumo das diferentes categorias de resinas compostas com seus respectivos ta~ manhos médios de suas particulas de carga e seu percentual em volume pode ser visto no quadro 5.2. As respectivas indicacoes cli- nicas podem ser vistas no quadro 5.3. MNES a Eee ames 9 PCI Clnico Fotomicrografia das particulas de carga de uma re- sing nanoparticulada Filtek Supreme (3M ESPE). (Fo- tomicrografia gentiimente cedida pelo mestre Vinicius Di Hipélito, pela Profa. Dra. Marcela Rocha de Olivei- ra Carrilho, Faculdade de Odontologia de Piracicaba, UNICAMe) Uma revisao dos artigos e dos livros-tex- to permitird ao leitor verificar que a clas- sificagdo das resinas compostas é bastan- te heterogénea, principalmente no que se refere aos dados dos diferentes tamanhos das particulas de carga presentes em cada categoria. Nao serd dificil encontrar termos como resinas macro-hibridas (Busato et al., 1996; Garone Netto et al., 2003; Baratieri et al,, 1995), que se referem as primeiras resinas hibridas lancadas e que possuiam, além da silica coloidal, particulas de vidro, com tamanho médio superior a 1 um. Se o leitor se remeter as tabelas de clas- sificacdo desses materiais, em publicacbes anteriores a essa, encontrar em algumas delas exemplos de resinas com particulas cujo tamanho médio é superior a 15 im. Essas resinas, por exemplo, nado se enqua- drariam em nenhumas das categorias aqui apresentadas. No entanto, a proposta desta classificacao foi enquadrar as resinas com- postas ainda comercializadas, dando me- nos importancia aquelas nao mais produ- zidas. Praticamente, hoje existem grandes tipos de resinas: algumas microparticula- das, micro-hibridas e nanoparticulas. Res nas macroparticuladas ainda sdo comercia- lizadas, porém devido as suas propriedades Quadro 5.2 - Resumo do temanho mécio das perticulas de carga (jum) e do percentual ce carga em volume dos di ferentes tipos de resinas compostas, Categoria de resina composta ‘Tamanho médio das parti-_ Percentual de carga em volu- culas (um) me (%) ‘Macroparticuladas @15 60-65 Microparticuladas 004-04 30-45 Particulas pequenas 1s 6577 Hibridas 004 e 1-5 60-66 ‘Micro hibridas O04e<1 60-66 Nanoparticuladas 0,005-0,07 60-66" * Valor aproximado da resina Filtek Supreme (3M ESPE). Quadro 5.3 ~ Resumo das indicagdes de cada ume das categorias de resinas compostas. | Classificagao quanto ao tamanho das particulas de carga Categoria ‘Tamanho médio (yim) € Indicacdes tipo da carga inorgénica Macroparticuladas 8-15 (quartzo) Praticamente no 80 comercialzadas € seu Uso deve ser evitado, pois nao apresentam resultados clnicos satisfatorios nem a curto e a longo prazos. A maioria das resinas ainda comercializadas s8o ativadas quimicamente ‘Microparticuladas 0,04 — 0.4 (lca) Dever ser utiizadas em regides em que a estética € pri- mordial, tal como em dentes anteriores. Possuem excelente lisura e brio superticial. Devido &s baixes propriedades me- ‘Bnicas, nao devem ser empregadas em dentes posteriores ‘© em restauragdes Classe IV anteriores (a no ser que sejam ‘empregadas na superticie vestibular) Particulas pequenas 15 (idro) Resinas para dentes posteriores. Possuem excelentes pro- priedades mecénicas, porém ndo alcancam a lisura superti- ‘Gal das resinas microparticuladas. Essas resinas praticamnen- te ndo so mais comercialzadas Hibridas 1-5 (vidio) € 0,04 (silica) | Resinas de uso universal. Possuem excelentes propriedades mecanicas e lisura superficial, pocendo ser empregadas tan- to em dentes posteriores como em anteriores ‘Micro hibridas ‘<1 (vidio) e 0,04 (lca) | Séo as resinas de uso universal mais atuais: possuem exce- lentes proptiedades mecénicas e lisura superficial, padendo ‘ser empregadas tanto en dentes posteriores como em an: teriores Nanoparticuladas (0,005 — 0,07 Gllica) ‘S80 também consideradas resinas de uso universal: pos- suem excelentes propriedades mecdnicas e lisura superfi- ‘ial, podendo ser empregadas tanto em dentes posteriores ‘como em anteriores ee ee 100420 Clhica Tabela 5.1 ~ Marcas comerciais de resinas compostas classiticadas de acordo com 0 tamanho das particulas. (Dados extiaidos de Willems et al, 1992; Farah, Powers, 2001; dados dos fabricantes.) 5 ja]_| Tamanho médio da | % de carga Categoria Resina e marca comercial ca eee) Adaptic (Dentsply) 15, Macroparticuladas oo vr ccpe) Durell VS (Kulzer) . . Filtek A110 (SM ESPE) Microparticuladas sr amel (Cosmedent) Amelogem Microfil (Ultradent) Point 4 (Kerr) Charisma (Kulzer) EsthetX ( Dentsply) Micro-hibridas _Filtek 2250 (5MESPE) Renew (Bisco) Tec Ceram (Vivadent) TPH Spectrum (Dentsply) Nanoparticuladas Fitek Supreme (SMESPE) | _—_(0,005-0,07 60-66 acropanricuLas meROPARTICULAS Tena pare un) Trento departed) anricuLas PEQUENAS iamoas {\ ) \ ny / \ A Taran pat (un sam Tonto pat yn) cy MO eRIOAS oo) NANOPARTICULADAS A |e “Tamanho dept (sem) Tenanto de parca um) Distribuicao dos diferentes tamanhos das particulas de carga para cada categoria de resina composta. (Adoptado de Van Noort, 1994.) mecAnicas bastante deficientes devem ser evitadas (Tabela 5.1). A classificacao des- crita neste capitulo esta graficamente re- presentada, em termos de tamanhos de particulas, na figura 5.23. Compostas Quanto 4 Viscosidade Quanto a esse requisito, as resinas po- dem ser classificadas em resinas de baixa, média e alta viscosidades. A maioria das re- sinas compostas se enquadra na categoria de média viscosidade, porém, em funcao desse material ter propriedades reoldgicas que dificultam a restauracao de pontos de contato e dos contornos proximais em cavi- dades de Classe Il, novos materiais foram de- senvolvidos. Além disso, estas novas resinas tentam suprir as deficiéncias relacionadas as propriedades de manipulacao das resinas, como sua adesividade aos instrumentos de insercao. Essas resinas sao chamadas de re- sinas condensdveis. O termo “condensavel” & incorreto, pois se parte da premissa de que ‘0 material tera seu volume reduzido quando sobre ele for exercida uma pressdo de con- densacdo (Studervant et al., 1995). Termos como resina de alta viscosidade ou resina compactavel parecem explicar melhor o que ocorre com esses materiais, que se aderem menos aos instrumentos de insercdo e es- coam menos, preservando sua forma e fa- cilitando a escultura (Tabela 5.2). Por outro lado, essas resinas s40 pouco estéticas, ja que sao comercializadas com menor ntime- ro de cores; e alguns materiais apresentam dificil polimento e maior rugosidade (Ryba et al,, 2002). E comumente difundida a idéia de que as resinas compactaveis possuem maior percentual de carga em sua matriz resinosa. Como pode ser vista nas tabelas 5.2 (resi- nas compactaveis) e 5.1 (resinas microhibri- das), o percentual de carga destes materiais 6 de 60-66% em volume. Isto significa que as mudangas na reologia do material nao ocorreu em funcao do aumento do percen- tual de carga. Alteracdes no formato e tipo de particula de carga, insergao de fibras e, até mesmo, modificagdes da matriz orgé- nica foram responsaveis pela reducao da pegajosidade e do escoamento dessas re- sinas. A capacidade de compactagao da re- sina Filtek P60 (3M ESPE), por exemplo, foi garantida devido a modificacbes da matriz organica da resina composta Z100 do mes- mo fabricante. Essa resina possui em sua matriz orgnica os monémeros Bis-GMA e TEGDMA. Na resina Filtek P60, grande parte do monémero diluente TEGDMA foi substi- tuida por uma mistura de UDMA e Bis-EMA, © que a diferencia da Z100, uma vez que o tipo e a quantidade de carga inorganica de ambos os materiais é igual (Tabela 5.2). Com relacao a resina Solitaire, um novo tipo de particula inorgénica foi desenvolvi- do. As particulas dessa resina sao porosas superficialmente rugosas para impedir 0 fa- cil deslizamento dessas particulas entre si garantindo-Ihe capacidade de compactacao. Além disso, o tamanho médio das particulas esté situado entre 2 e 20 pm, muito superior & maioria das resinas compostas atuais (Ta- bela 5.2). O aumento da viscosidade das resinas compatctaveis trouxe como desvantagens al- tas tensdes de contracio de polimerizacao e menos capacidade de molhamento as pare- des cavitarias. Isso levou ao desenvolvimen- to de resinas de baixa viscosidade. Essas re- sinas, também denominadas resinas flow ou resinas fluidificadas, foram lancadas no mer- cado no final de 1996. A menor viscosidade desses materiais (Tabela 5.3) permitem que eles “se espalhem” mais facilmente em re- gides cavitarias de dificil acesso, tais como margens cervicais de cavidades de Classe I, sem haver a incorporacao de bolhas de ar. Isso se deve ao menor percentual de carga que as resinas de baixa viscosidade apresen- tam (Tabela 5.3), que € geralmente inferior a 48% em volume. Naturalmente, essa di- minuicéo do percentual de contetido inor- ganico traz um dnus as propriedades meca- nicas dessas resinas, como menor médulo de elasticidade e resisténcia a compressdo (Bayne et al., 1998), inviabilizando o seu uso em areas em que incidem grandes es- forcos mastigatérios. Também é interessan- te observar que existe uma grande variacao, na viscosidade destes materiais, girando em torno de 105 a 243mm?/30s/0,5MPa (Tabe- la 5.3). Devido a essa variabilidade, existem autores que ainda subclassifica as resinas fluidificadas em viscosidades baixa, média e alta (Moon et al., 2002). Comumente, os fabricantes indicam o uso de resinas compactaveis associado a resinas de baixa viscosidade. Essa indicacao se justifica principalmente pelo fato de que as resinas de baixa viscosidade, por terem menor percentual de carga e conseqiiente- mente um baixo médulo de elasticidade, conseguem absorver as fortes tensdes de contracao da rigida resina compactavel. Des- sa forma, a resina de baixa viscosidade agi- ria como uma “cama eladstica", prevenindo a interface adesiva de todos os problemas decorrentes da microinfiltracao. Devido ao desenvolvimento dessas no- vas categorias de resinas compostas (alta € baixa viscosidades), as resinas compostas convencionais, no que se refere a viscosida- de, passaram a ser denominadas de resinas de viscosidade média (Fig. 5.24). Uma diversa gama de indicacdes tem sido atribuida as resinas de baixa viscosi- dade. Obviamente, a maioria nao passa de um apelo de marketing. As suas melhores indicacdes sao para o selamento de fissuras de dentes posteriores, como base de res- tauracées de resina composta e em cavida- des conservativas em dentes anteriores ou posteriores (Quadro 5.4). E importante ressaltar que a classificacao de resinas compostas baseada no tamanho médio da carga inorganica continua sendo valida para os materiais de alta e baixa vis- cosidades (Quadro 5.4). A resina Solitaire (resina de alta viscosidade), por exemplo, uma resina macroparticulada, enquanto as resinas Filtek P60 e Surefil (tamanho médio inferior a 1m) sdo resinas micro-hibridas. Dentre as resinas de baixa viscosidade, a re~ Se RNS dos Fundamentos @ Aplicacdo Clinica sina Aeliteflow & micro-hibrida, pois apre- senta dois tipos de carga (silica e particulas de vidro), e a carga inorganica possui tama- nho médio de 0,6 ym. Jd as resinas Flow-it ¢ Filtek Flow sao resinas de particulas pe- quenas. Classificacao das Resinas Compostas Quanto 4 Forma de Ativacao 7 Com foi mencionado, as resinas compos- tas podem também ser classificadas com relacdo ao sistema de ativacao, dividindo- se em duas categorias: fotoativadas ou qui- micamente ativadas. As resinas fotoativa- das sao ativadas por luz visivel, azul, com comprimento de onda variando entre 400 a 500 nm. Na presenca dessa luz, a canforo- quinona (CQ) passa a um estado excitato- tio triplo e, a0 colidir com uma amina alifé- tica, transfere a esta um elétron, resultando na formacdo de radicais livres (Fig. 5.11), que iniciam a reacao de polimerizacdo por adicao (Rueggeberg, 1999). 0 fato de essas Tesinas serem fotoativadas, possibilita aos profissionais inseri-las nas cavidades em por- Bes, permitindo o uso de diversas cores € minimizando as tensdes de contracdo de polimerizacao (Capitulo de Fotoativacdo e Unidades Fotoativadoras). Além disso, as re~ sinas compostas fotoativadas admitem um tempo de trabalho mais longo, mas quando excitadas, a sua reacao de polimerizacao se procede mais rpido que a das resinas qui- micamente ativadas. ‘As resinas compostas quimicamente ati- vadas exigem a manipulacdo de duas pas- tas, e isso induz a incorporacao de bolhas de ar na massa da resina. Conseqilentemente, essas resinas apresentam propriedades me- canicas reduzidas e sua susceptibilidade a pigmentacao é significativamente alta. Ou- tras desvantagens das resinas quimicamen- te ativadas sao: 0 tempo de trabalho, que nao pode ser controlado pelo clinico, e a reacao de polimerizaco mais lenta. eee Tabela 5.2 ~ Descricdo das caracteristicas de algumnas resinas compactéveis. (Adaptado de Manhart et al, 2000; Lo- guercio et al, 2001) ie Tamanho médio. Resina e marca % de carga ee Carga das ri volume,” Tipo de mondmero Fitek P60 (GM Slicato de zicBnia e = 61 BisGMA UDMA e ESPE) sflica coloidal : Bis-EMA Vidro de borossilicio, Surefil (Dentsply) | Flior, aluminio, vidro de og 66 | UDMA bario e nanoparticulas Vidro de batio e aluminio Aleft (eneric 0,7 (fibras com a sfica coloidal e carga LE 70 Bis-CMA etoxilado filamentar Vidro de sili, fléor, Solitaire (Kulzer) | boro aluminio e filamen- 21 ae Coe am ebrdby tos vitreos ieee ps Tabela 5.5 ~ Caractet 3s de resinas compostas de baixa viscosidade. (Adaptado de Bayne et al, 1998.) Tamanho médio Escoamento*** — — Tipo de carga das particulas. eee (mm?/30s/ (um) 0,5MPa) Aelitetlo (Bisco) Midro de bao +: slica o7 36,5 105,3 coloidal Fiowrit Generic Vidro de borossiicato Ree ena 15 455 184,6 Vidro de Baro + silica Revolution (Kerr) Dees r 396 2427 UltraSeal XT Plus Particulas de iondme- tae Se 1a15 368 5342 Vidro de bario + Cony te Penta | orsiicato de bao o7 40 2054 Le + sfica Filtek Flow ($M ESPE) | ZircBnia/slice 15 47 = Prodigy (Ker)** — feel 06 59 53,5 ** Resina composta micro-hibrida de viscosidade média. ***0s dados de escoamento se referem & mensuragio de érea da deformago (mm) de uma gota de resina apds aplicagdo cde uma pressio de 0,5 MPa por 30s Propriedades Visto que, atualmente, a maioria das resinas compostas comercializadas ¢ foto ativada, as propriedades fisicas descritas a partir desse t6pico se referem basicamente jicas a essa categoria de material. Contracao de polimerizaséo Esse € de fato um dos principais proble- mas relacionados as resinas compostas. Con- forme relatado anteriormente, a aproximacao dos monémeros para estabelecer ligaces covalentes entre si causa uma significante re- fos Diretos — dos Fundamentos & Aplicacao Clinica Diferentes caracter teristicas reolégicas das resinas com favel: a0 centro, ras. A esau uma resina de viscosid to, uma resi mposta de baixa viscosidade ducao do volume da resina apés a polime- rizagao. Essa é uma das causas que levam & formacao de feridas na interface restaurada e conseqiientemente favorecem a microinfil- traco. Com o intuito de reduzir a contracao. total, monémeros de alto peso molecular ‘s0 empregados na composicao das resinas. Esses monémeros requerem menos ligacoes covalentes para atingirem um tamanho de cadeia polimérica que garanta 0 alcance de propriedades mecdnicas satisfatorias. Outra alternativa empregada é a inclusio de um alto teor de particulas inorganicas, capaz de diminuir a quantidade final de material resi- noso no compésito formado. Basicamente, a contracao de polimeriza- ao depende nao sé do percentual de car- ga presente nas resinas compostas, mas também do grau de conversao desses ma- teriais. A contracao de polimerizacao pode ser mensurada por diferentes métodos, que influenciam diretamente nos valores apre- sentados por livros-texto e artigos cientificos (Davidson, Feilzer, 1997). Resumidamen- te, existem os métodos de mensuracao de contracao linear e volumétrica. A contracao de polimerizacao volumétrica das resinas compostas pode variar de 1,5 a 3,6% (Gol- dman, 1983; Feilzer et al., 1988). De forma geral, quanto maior o teor de carga, menor a contracao de polimerizacdo. Assim, teori- camente, as resinas microparticuladas ten- deriam a apresentar maior contracao de po- limerizac3o que as resinas micro-hibridas e Quadro 5.4 - Classiicacdo das resinas compostes quanto & viscosidade e ao tamanho das particulas Classificacao quanto a viscosidade Classificacdo quanto ao tamanho das particula: | Particulas pequenas Baixa viscosidade Média viscosidade Micro-hibridas Indicacées Selamento de fissures Cavidades conservativas Como base de restauracdes de resina composta Micropartculadas: Restauracdo de dentes anteriores em que nao hd grandes tenses mastigatérias, como cavidades de Classes Ill, e facetas estéticas; pode ser utilizada asso- ada @s tesinas micro-hibrides em regides anteriores que suportam grandes tenses mastgatorias «© Micro-hibrides:restauracdo de dentes anteriores (Classes Il, IVe V) e dentes posteriores (Classes |e I) Macroparticuladas: devern ser evitadas I | Macroparticuladas | Alta viscosidade = Micro-hibridas ‘© Restauragao de dentes posteriores de particulas pequenas. No entanto, devido a inclusdo de particulas pré-polimerizadas com alto grau de conversdo (em torno de 80%) nas resinas microparticuladas, contra- cao de polimerizacdo é semelhante & das resinas compostas micro-hibridas (Van No- ort, 1994; Anusavice, 2003), ou seja, entre 2 € 3% (veja Tabela 5.4). As resinas compos- tas de baixa viscosidade sdo micro-hibridas ou de particulas pequenas, com baixo per- centual de carga e ndo possuem particulas pré-polimerizadas, e é por esse motivo que apresentam maior contracao de polimeriza- ao (4 a 6%), como pode ser verificado na tabela 5.5. Quanto maior o grau de conversdo das re- sinas compostas, maior a contracao de poli- merizacao. O grau maximo de conversao dos materiais @ base de Bis-GMA e UDMA esta situado entre 50 e 75% (Rueggeberg, 1999). Porém, isso nao significa que 25 a 50% dos monémeros nao tenham reagido, pois varios monémeros podem estabelecer ligacdes co- valentes em apenas uma de suas ligacdes insaturadas (Fig. 5.25). Como ja discutido, 0 grau de conversao de um polimero depende da reatividade e do peso molecular dos mo- némeros empregados. As duplas ligacdes (ou ligacées insatura- das) remanescentes e nao-reagidas dimi- Tabela 5.4 - Dados de contracto de polimerizacao volumétrica (20) de resinas compostas de média viscosidade. (De dos extraidos dos Prospectos da 3M E: E, Loguercio et al, 2004.) Resinas de média viscosidade | Resinae marca comercial Contraco de polimerizagao (%) Filtek A110 (3M ESPE) 24 Reena Silux Plus (3M) 24 Durafill (Kulzer) 24 Heliomolar RO (Kulzer) 2 TPH Spectrum (Dentsply) 31 a Filtek 2250 (3M ESPE) 23 peers Hereulite XRV (Ker) 28 Charisma (Kulzer) 29 Tabela 5.5 - Contracao de polimerizacaa volumétrica (90) de resinas compostas de baixe & alta viscosidades. (Dados ceatteldos de prospectos da 3M ESPE; Label et al, 1999; Braga et al, 2003; Logverco et sl, 2004, See ee eet de | Resinae marca comercial Contraco de polimerizaco (%) FloRestore (Dent-Mat) 43 Teticflow (Vvadent) 43 ce Ultaseal xT (Ultradent) 60 Aelitefiow (Bisco) 56 Tiltek Flow (3M ESPE) 4a Flow (Jeneric Pentron) 5 ‘Alert (Jeneric Pentron) 25: Surefll(Dentsply) 27 —= Solaire (Kulzet) 36 Fitek P60 (3M ESPE) 23 © Ligagdes insaturades Representacdo simplificada de uma estrutura tridimensional de um polimetilmetecrlato. As bolinhas pretas repre- ssentam ligacoes insaturadas. As bolinhas brancas representam ligacoes covalentes simples devido & quebra das ligagées insaturadas. Apesar de ndo haver indica¢ao de monémeros residuais (que nao reagiram), hé 20 ligacoes duplas que nao foram quebradas. Como haviam 66 ligacdes insoturadas, 0 grau de conversdo resultante & de apro- ximadamente 70%. (Adaptado de Peutzfeldt, 1997,) nuem o grau de conversio, mas nem sem- pre representam o que chamamos de mo- némeros residuais (que nao reagiram). Ape- nas uma pequena quantidade de monéme- ros residuais remanesce dentro polimero, em tomo de 2,5 a 59% (Ferracane, 1994). Os monémeros residuais, que ficam retidos entre as cadeias poliméricas, atuam como agentes plastificadores que determinam a re- ducao temporaria de parte das propriedades mecGnicas da resina (Santerre et al., 2001). Uma vez que esses monémeros sejam libe- rados da mattiz resinosa, deixam de cumprir tal funcao e a tendéncia que as proprieda- des mecénicas do material aumentem. Em contrapartida, a liberacdo ou lixiviacao de monémeros residuais traz um outro incon- veniente, pois em contato com as mucosas bucais esses mondmeros podem causar rea- ces adversas (Caughman et al, 1991; San- terre et al., 2001), comprometendo a bio- compatibilidade das resinas compostas. Obviamente, quanto maior o numero de ligacées insaturadas que se convertem em ligaces covalentes, maiores as proprieda- des mecnicas do polimero formado e mais resistente ele serd a degradacao, as altera- des de cor e ao desgaste a médio e longo prazos. Em compensacao, isso acarreta em maior redugao volumétrica e maior geracao de tensdes internas que podem romper a interface de uniao. Como sera visto em capitulo a parte, nao 6 apenas a contracao de polimerizacao res- ponsavel pela formacao de feridas na inter face dente/restauracao. Outros fatores, tais como 0 tipo de resina e sua forma de ativa- co, 0 modulo de elasticidade, a intensida- de de luz, o fator de configuracao cavitaria, etc, afetam a geracao de tensdes internas que causam a ruptura da interface de uniao. Isso significa, por exemplo, que uma resi- na com maior percentual de contracao de polimerizacao pode causar menos danos interface durante a polimerizacao que ou- tra com menor contracao de polimerizacao, em funcao dos outros fatores envolvidos na geracao de tensdes internas. Sor¢ao de dgua e solubilidade em meio aquoso Seria desejavel que as resinas compos- tas fossem materiais estaveis apés a polime- rizac3o e nao interagissem com o meio quando expostos a cavidade bucal. Entre- tanto, a despeito de a maioria dos mond- meros empregados nas resinas compostas ter cardter hidrofébico, a sorcao de agua, por parte desses materiais 6, freqiientemen- te, observada. A difusdo de dgua na matriz resinosa causa dois fendmenos opostos. Durante a sorcao de agua, ocorre a libera- co de monémeros residuais soltiveis e ions (Ferracane, 1994); essa lixiviacdo é respon- savel pela contracao adicional da resina e pelo aparecimento de porosidades internas. Ao mesmo tempo, a sorcdo de dgua pode determinar a expansao higroscépica da re- sina, com aumento de seu volume e peso (Yap, Wee, 2002). Genericamente, a sorcao de agua é inver- samente proporcional ao percentual de car- ga presente na resina composta (Li et al., 1985; Oysaed, Ruyter, 1986). Assim, resi- nas microparticuladas tendem a apresentar maior sorcao de Agua que as resinas micro- hibridas. A sorcdo de agua depende da afi- nidade dos monémeros a égua e da quan- tidade de grupos hidroxilas presentes nas moléculas mononéricas, capazes de esta- belecer pontes de hidrogénio com a agua proveniente do meio bucal (Ortengren et al., 2001; Yap, Wee, 2002). Ja foi demons- trado que resinas 4 base de Bis-GMA/TEG- DMA sao capazes de absorver mais agua que as resinas & base de UDMA (Pearson, Longman, 1989). A 4gua rompe as ligacoes intermoleculares existentes entre as molé- culas de polimero, enfraquecendo-o meca- nicamente e, conseqiientemente, a resina composta. ‘Ao entrar 4gua na matriz de resina, a energia presente nas unides siloxanas (en- tre o agente de uniao e a carga) diminui de 89,3 Kcal/mol para 22,8 Kcal/mol (Nagem Filho et al., 1993) e a uniao fica mais fra- ca. Ao longo do tempo, a dgua é capaz de romper a ligacao entre carga e matriz e ficar adsorvida na superficie da particula. A par- tir desse momento, sob quaisquer tensdes mastigatorias, havera concentracées de ten- sdes ao redor da particula, ocasionando ra- chaduras na matriz organica. Por exemplo, se as particulas de carga forem de vidro de bario, zinco ou estréncio, 0 ion hidrogénio proveniente da quebra da molécula de agua substitui esses atomos pesados. Estes ato- mos junto com as hidroxilas sao liberados para o meio (Oysaed, Ruyter, 1986). Isso acarreta em aumento do pH do meio e pre- judica ainda mais a estabilidade da uniao siloxana, reiniciando o ciclo. Todos esses fendmenos contribuem para a degradacao das resinas compostas. Outras particulas inorganicas como a zitconia/silica, vidros de litio-aluminio e de trifluoreto de itérbio pos- suem mais resisténcia a hidrdlise (Nagem Filho et al., 1993). Além dos efeitos deletérios as particulas inorganicas, ha liberacdo de monémeros nao-reagidos ou subprodutos de degrada- So hidrolitica da matiiz de resina, que além de terem impacto na biocompatibilidade do material, cria zonas para mais retencao de gua. Dentre os monémeros, o TEGDMA ¢ 0 monémero mais lixiviado das resinas com- postas. Moléculas como Bis-GMA e UDMA podem ser liberadas caso 0 grau de conver- sao do material resinoso esteja comprome- tido (Ortengren et al., 2001). Outra conseqiiéncia da sorcao de agua é a expansao higroscépica. Diversos estudos demonstram que esse fenémeno é respon- savel pela reducao de fendas entre a inter- face dente/restauracio (Momoi, McCabe, 1994; Thonemann et al., 1997; Yap et al., 2003). Deve-se ter em mente, no entanto, que a sorcao de agua & um processo lento que leva alguns meses para atingir 0 equi- librio. Isso é facilmente compreendido pelo conhecimento do coeficiente de difusao da gua na resina composta (1,25 x 10° cm’, s'). Seriam necessdrios 166 dias para um material com 2 mm de espessura atingir 0 equilibrio. Para amostras com 5 mm, 0 pe- riodo seria superior a 3 anos (Van Noort, 1994). Assim, apesar de ser real a reducdo da fenda interfacial causada pela contracao de polimerizacao, ela ocorre apés longos tempos de imersdo, e pode ser tarde de- mais para evitar o surgimento da microinfil- tracao e de lesdes de carie recidivantes. Radiopacidade E necessario que os materiais restau dores estéticos, principalmente aqueles uti- lizados em dentes posteriores, sejam radi pacos. A radiopacidade do material restau- rador propicia maior distincao entre este e 05 tecidos dentais, possivelmente acometi- dos por recidiva de carie, bem como facilita a avaliacao do contorno da restauracao, a pesquisa de excesso ou falta de material ea dos Fundamentos @ Aplicacao Clinica Radiopacidade de diferentes resinas compostas. adaptacdo marginal, principalmente em ca- sos de restauracées de Classe Il. Outra van- tagem é a distincao de bolhas que podem estar contidas no material restaurador de- vido a falhas durante a insercéo/adaptacao do material na cavidade, seja de materiais forradores ou de cimentacao. Tabela 5.6 — Raciopacidade de resinas compostas de baixa, média e alta viscosidades. (Adaptado de Bouschlicher etal 1 ; Loguercio et al, 2001b) i % de radiopacidade "i Classificasd0 amt© | pesina e marca comercial em relagdo ao. falopacdade em esmalte Ultraseal XT (Ultradent) a 100 FloRestore (Dent Mat) 84 106 Baixa ‘Aeliteflow (Bisco) 87 108 | Flow-it Jeneric Pentron) 0 127 Tetric Flow (Vivadent) 126 140 Charisma (Kulzer) 105 123 Herculite XRV (Kerr) 113 130 media TPH Spectrum (Dentsply) 121 136 Z100 (3M) 120 134 Heliomolar RO (Vivadent) 107 124 Surefil (Dentsply) 18 130 Alta ‘Alert (Jeneric Pentron) é 103 7 | Filtek P60 (3M ESPE) 5 128 a ai Aradiopacidade das resinas compostas & obtida através da incluséo de elementos ra- diopacos de grande numero atémico na for- ma de particulas inorganicas, tal como bario, Zirc6nia, zinco, itérbio e lantano. Um mate- rial é considerado radiopaco se sua densida- de dptica, na espessura de 2 mm, for supe- rior 4 da dentina (semelhante a uma placa de 95% de aluminio com 2 mm) (ISO 4049, 1988). Particulas de vidro de bario, estréncio e zitcénia, quando em concentracoes de 35 a 40% nas resinas compostas, s40 capazes de fornecer radiopacidade semelhante ao es- malte (Van Dijken et al, 1989; Toyooka et al,, 1993), Ainda hé outros autores que afir- mam que, para que um material tenha ra- diopacidade igual ou ligeiramente superior ‘ao esmalte, ele deve conter um percentual de carga superior a 70% em volume, sen- do 20% constituidos de particulas radiopa- cas (Watts, 1987). Resinas translicidas pos- suem radiopacidade menor que uma resina composta com cor correspondente opaca. A normativa da ISO 4049 (1988) indi- ca que as resinas compostas utilizadas em dentes posteriores deve possuir radiopaci- dade igual ou superior a de uma placa com 95% de aluminio, com 2 mm de espessura. Clinicamente, a radiopacidade dessa placa semelhante a radiopacidade de uma por- co de 2 mm de dentina. A maioria das resi- nas compostas apresentadas na tabela 5.6 ‘cumpre as normativas da ISO 4049 (1988) para uso em dentes posteriores, inclusive ‘0s compésitos de baixa viscosidade. E importante ressaltar que a radiopaci- dade desses materiais depende de varios pardmetros que, muitas vezes, nao sao con- trolados na clinica didria. A voltagem do apa- relho radiografico, 0 tipo de pelicula, o tem- po de exposicdo, a técnica de tomada radio- grafica e a angulacdo utilizada podem difi- cultar ou facilitar a visualizacao de defeitos na restauracao (Loguercio et al., 2001b). Combinacdo de cor As resinas compostas fotoativadas so os melhores materiais estéticos diretos pa- Tabela 5.7 ~ Caracteristica dpticas das resinas com- postas, de acordo com o seu matiz (Escala Vita Lumin Classical) Matiz Caracteristica éptica A Matiz rrarrom-avermelhado B Matiz amarelo-avermelhado c Matiz civza D Matiz cixza-avermelhado ra dentes anteriores, 0 que significa, em outras palavras, que a combinacao de cor pode ser um excelente meio de mimetizar- mos a natureza dos dentes. Essas resinas sdo comercializadas na forma de bisnagas, com diferentes cores. Accor é um fenémeno fisico que se refe- re ao comportamento de um corpo frente & incidéncia de luz. Conforme detalhado no capitulo de Principios Basicos para a Carac- terizacdo dos Materiais (Cap. 1), a cor pode ser dividida em matiz, croma e valor. O ma- tiz se relaciona com a familia da cor, ou seja, em cores representadas pelo arco-iris. Genericamente os matizes so designados pelas letras A, B, Ce D, de acordo com a Escala Vita Lumin Classical (Vita Zahnfabrik) (Tabela 5.7). Uma pequena porcentagem das pesso- as possuem matizes C e D. A maioria dos pacientes possui matiz marrom (A), princi- palmente pacientes mais morenos e uma porcao um pouco menor de matiz amarelo (B), numa proporcao de 7 para 3 (70% Ae 30% B). O croma é definido como a satura- cao de um determinado matiz, ou 0 quanto de pigmento foi incorporado a esse matiz (Hirata, Ampessan, 2001). Simplificando se- ria 0 quao forte ou fraca é determinada cor. 0 croma ¢ identificado pela numeracao gra- dual, seguindo a escala VITA, de 1 a 4 Existe certa dificuldade na escolha de cor durante 0 procedimento clinico, em geral atribuida a deficiéncia de percepcao clinica do observador € a iluminacao do ambiente e do objeto. Além disso, hé falta de correla- cao entre as escalas de cores fornecidas pe- los fabricantes e a cor dos dentes naturais, bem como dessas com as cores nominais descritas nas bisnagas de diferentes marcas comerciais de resina (Reis et al., 2001). E comum constatar, por exemplo, que a cor A3 de uma determinada marca comercial di- fere significativamente da cor também de- nominada A3 de outras marcas comerciais (Buchalla et al., 2002). A escolha da cor deve preferencialmen- te ser realizada antes da colocacao do iso- lamento absoluto e sem a luz do refletor. 0 isolamento, além de promover desidratacdo das estruturas dentais, reflete luz seletiva- mente e altera o iluminante o que interfere na cor do mesmo. O melhor método para selecionar a cor para um determinado den- te polimerizando sobre ele uma pequena porcao de resina composta (2 mm), escolhi- da por meio da escala de cores Vita ou do fabricante, e aplicada, preferencialmente, na regio cervical, que é bastante representativa da cor da dentina. A necessidade de polime- rizacao desta porcdo reside no fato de que a cor da resina se altera consideravelmente no sentido azul do espectro apés a polime- rizaco. Alteraces na translucidez da resina também ocorrem com a polimerizacao (Jo- hnston, Reisbick, 1997). Resinas micropar- ticuladas, quando polimerizadas, tendem a ganhar luminosidade (ficam mais claras), enquanto as resinas micro-hibridas tendem a perder essa propriedade com a polimeriza- co (ficam mais escuras) (Fahl et al., 1996). 0 valor, ou brilho, representa a dimen- so mais dinamica dos sélidos, sendo concei- tuada como a quantidade de preto e branco em um objeto, ou seja, a escala de varios tons de cinza. Em termos praticos, o valor se refere, em restauracées, 4 quantidade de opacida- de (mais branco) e translucidez (mais cinza) nas resinas compostas. Infelizmente, o valor nao esté discriminado nas bisnagas dos ma- teriais, o que nos obriga a conhecer 0 com- portamento de cada marca e tipo de resina restauradora (Hirata, Ampessan, 2001). ‘As resinas microparticuladas possuem carga com tamanho bastante reduzido e faci- litam a passagem de luz pela matriz organi- ca. Isso Ihes garante um aspecto transluicido. Para que essas resinas apresentem caracteris- ‘= dos Fundamentos ¢ Aplicacao Clinica ticas mais opacas, pigmento como o diéxido de titanio € adicionado ao material. As resi- nas hibridas e micro-hibridas so geralmente menos translicidas que as microparticuladas, devido ao tamanho maior das particulas inor- ganicas e sua distribuicao na matriz. Estabilidade de cor Diferentemente das cerdmicas, as resinas compostas nao sao inertes no meio bucal. E comum a observacao da perda de combi- nacao de cor entre restauracdes de resinas compostas e as estruturas dentais ao longo do tempo (Van Dijken, 1986; Ferrari et al,, 1993; Millar et al., 1997). Apés uma sema- na de armazenamento em Agua, jd pode ser detectada uma pequena variacao na cor das. resinas compostas (Momoi, McCabe, 1994; Reis et al., 2001), que tende a se agravar a0 longo do tempo (Van Dijken, 1986; Vanher- le et al,, 1986). A sorcéo de dgua pelo ma- terial e a conseqiiente lixiviacao de compo- nentes contribuem para a baixa estabilidade de cor das resinas compostas ao longo do tempo. As resinas compostas ativadas qui- micamente apresentam menos estabilidade de cor que as resinas fotoativadas, uma vez que seus iniciadores so mais suscetiveis 4 hidrélise (Inokoshi et al., 1996). Além da sorcao de agua, outros fatores contribuem para a alteracao da cor das resi- nas compostas, dentre eles: 0 tamanho das particulas de carga e a rugosidade superfi- cial. Resinas macroparticuladas, por exem- plo, sofrem mais pigmentacao superficial e 580, portanto, menos estaveis no que se re- fere a cor. Sob a mesma légica, resinas que possibilitam maior lisura superficial (micro- particuladas) e que sao menos suscetiveis a desgaste a longo prazo (micro-hibridas), sao capazes de manter a estabilidade de cor por mais tempo. 0 acabamento e polimen- to das resinas compostas contribuem para uma melhor lisura superficial. Dessa forma, consultas periddicas ao dentista para a re- alizacéo de polimento podem prolongar a estabilidade de cor das resinas compostas (Van Dijken, 1986). Propriedades Mecanicas Diversas propriedades mecénicas sao uti- lizadas para comparar as categorias de resi nas compostas presentes no mercado. Den- tre elas podemos citar: resisténcia a flexao, a compressao, a tracao diametral, médulo de elasticidade entre outras. Todas essas pro- priedades tém a funcao de estimar 0 com- Portamento clinico dos materiais quando in- seridos na cavidade bucal Resisténcia a compressGo A resisténcia de algumas resinas com- Postas & compressao est descriminada na tabela 5.8. Se compararmos a resisténcia de alguns tipos de resina composta com a resisténcia do tecidos dentérios (esmalte e dentina) e com a resisténcia do amalgama, pode-se concluir que a maioria das resinas disponiveis atualmente presenta desempe- nho satisfatério nesse requisito. 0 método de mensuracao da resisténcia de resinas com- Postas a compressao ¢ relativamente simples de ser reproduzido em laboratorio. Apesar disso, a interpretacao dos valores obtidos & bastante dificil, pois o modo de fratura das re- sinas compostas sob compressao, dado fun- damental para compreender os resultados, pode variar consideravelmente. Entretanto, 6 interessante notar que uma resina compos- ta, cuja indicacao principal seja a restauracdo de dentes anteriores, pode apresentar resis- Tabela 5.8 ~ Resisténci téncia 4 compressao similar aquela verificada em resinas compostas tipicamente indicadas Para restauracao de dentes posteriores, mui- to embora os motivos que definem a indica- sao de cada um desses materiais sejam regi- dos por principios diferentes. Embora a resisténcia a compressao sir- va como ferramenta de comparacao das di- ferentes resinas compostas, clinicamente muito mais provavel que o bom desempe- nho dessa categoria de material esteja |i- mitado por sua baixa resisténcia a tracao. Contudo, a alta resisténcia de uma determi nada resina composta a compressdo nao pode ser utilizada para predizer a capacida- de do material de resistir as tensoes de tra- S40. Dessa forma, em termos compara vos, a resisténcia das resinas compostas a compressdo nao é o melhor indicador da resisténcia do material a fratura. Por essa razao é que essa propriedade é pouco dis- cutida na maioria dos livros-texto quando da comparacdo do desempenho entre di- ferentes resinas compostas e entre estas e 0s outros materiais restauradores indicados para as mesmas situacées clinicas. Da mes- ma forma que a resisténcia 4 compressao, © teste de tracdo nao é 0 mais adequado para comparar os diferentes tipos de re- sinas compostas, devido a natureza fragil desse material. Outras propriedades como a resisténcia a flexdo ou o médulo de elas- ticidade sao mais apropriadas para avaliar essa categoria de materiais dentarios. a compressio de resinas compostas de média viscosidade, amalgama, esmalte e dentina, (Dados extraidos de Powers, Farah, 1975; Craig, Peyton, 1958; Craig et al, 1961; Willems etal, 1992.) Material Produto e marca comercial | Resisténcia & compressao (MPa) Resinas microparticuladas | Durfil VS(Kulzer) 268 Heliomolar (Kulzer) 325 oes Herculite XRV(Kerr) 397 Resins mizohibides FS aap Ee Amélgama de fese dispersa | Dispersalloy (Dentsply/Caulk) 423 Esmalte | 384 Dentina 297 Resisténcia a flexdo e ao médulo de elasticidade No teste de resisténcia a flexdo desen- volvem-se tensdes complexas: tracdo, com- pressao e cisalhamento semelhantes aque- las que podem causar a fratura do corpo de uma restauracao e, portanto, é a proprie- dade mais empregada na comparacao do desempenho dos materiais restauradores estéticos. Restauracdes de Classe Il MOD esto sujeitas a tensdes complexas como aquelas que ocorrem em um de flexao. Ou- tra propriedade bastante empregada é o médulo de elasticidade que esta vinculado a rigidez do material. Diferentes métodos 40 empregados para mensurar essa pro- priedade, 0 que acarteta discrepancia nos valores encontrados em livros-texto e arti- gos cientificos. 0 médulo de elasticidade pode ser calculado através de qualquer en- saio de resistencia, como a flexao, tracdo ou compressao, porém é mais comum que seja aferido por ensaios de flexao. Uma resina composta com baixo médu- lo de elasticidade pode se fraturar ou se de- formar frente as tensdes mastigatorias. Por outro lado, materiais com rigidez excessiva absorvem muito pouco as tensdes prove- nientes das cargas mastigatorias e tem o inconveniente de transferit quase que total- mente as tensdes desse impacto a interfa- ce de uniao e as estruturas duras do dente (Reinhardt et al., 1994). Além disso, resinas com alto médulo de elasticidade geram al- tas tensdes durante 0 processo de polime- tizagao, 0 que também pode acarretar na ruptura da interface de uniao. Genericamente, as propriedades mecé- nicas dependem do percentual de carga da resina composta. As resinas compostas micro-hibridas ou de particulas pequenas com viscosidade de média a alta tendem a possuir propriedades mecdnicas superiors 4s das resinas compostas microparticuladas e resinas de baixa viscosidade, como apre- sentado pelos dados de resisténcia a flexdo nas tabelas 5.9 e 5.10. Isso indica que estes ltimos materiais n3o podem ser utilizados ee ld em cavidades de Classes | e Il, sem que este- jam associados a outros materiais com pro- priedades superiores. Em cavidades de Clas- se IV, resinas micro-hibridas devem ser em- pregadas, podendo ou nao ser associadas as resinas microparticuladas, pois nesse tipo de cavidade ha necessidade de materiais com propriedades mecanicas superiores. Outros dados importantes, que podem ser tirados dessas tabelas (Tabelas 5.9 e 5.10), se referem as resinas compactaveis ou de alta viscosidade. Os valores de resisténcia desse material a flex3o nao sao maiores que os das resinas micro-hibridas, como poderia se imaginar. Da mesma forma, como generalizado para a resisténcia a flexao, o médulo de elasticidade tem estreita relacdo com o per- centual de carga das resinas. Assim, as resi- nas com menor percentual de carga, como as microparticuladas e as de baixa viscosida- de apresentam modulo de elasticidade me- nor que o das resinas micro-hibridas, tanto de média como de alta viscosidade (Tabelas 5.11 e 5.12). Contudo, como sempre, exis- tem excecdes a regra. Observe 0 médulo de elasticidade (Tabela 5.12) e resisténcia a flexdo (Tabela 5.10) da resina compos- ta Solitaire. Ela apresenta um mddulo de elasticidade inferior ao das resinas compos- tas de microparticulas e também baixa re- sisténcia a flexao em comparacao com os seus similares. Apesar de esse material ser comercializado como uma resina compac- tavel, com indicaco exclusiva para dentes posteriores, ela deveria ser contra-indicada em cavidades sob as quais recaiam gran- des esforcos mastigatorios. Estudos clinicos que avaliaram restauracées de Solitaire em dentes posteriores, verificaram que esse material possui adaptacao marginal ruim, uma combinacdo de cor restrita e, acima de tudo alta incidéncia de fraturas apés curtos periodos de vida clinica (Loguercio et al., 2001¢; Oberlander et al., 2001). Poderiamos continuar descrevendo as observacées clinicas de cada um dos mate- riais apresentados nessas tabelas. Contudo © mais importante é entender o significado Tabela 5.9 - Resistencia 8 flexdo (MPa) de resinas compostas de média viscosidade. (Dados extraidos de Prospectos dda 3M ESPE; Ferracane, Mitchern, 1994; Loguercio et al, 2001) Resinas de média viscosidade | Produto e marca comercial | _Resisténcia @ flexdo (MPa) Filtek A110 (3M ESPE) 80 Silux Plus (3M) 80 Micropaticuladas ann = Heliomolar (Kulzer) 80-110 ‘TPH Spectrum (Dentsply) 158-163 Filtek 2250 (3M ESPE) 155 oS Herculite XRV (Kerr) 158 Charisma (Kulzer) 105 Tabela 5.10 ~ Resistencia & flexdo (MPa) de resinas compostas micro-hibrida ou particulas pequenas. (Dados extiaidos de Prospectos da 3M ESPE; Bryant, Mahler, 1986; Bayne et al, 1998; Manhart et al, 2000; Choi et al, 2000; Loguercio etal. 2001a) Resinas micro-hibridas ou de ; ae Se eae peace Resina e marca comercial Resistencia a flexao (MPa) FloRestore (Gent Mat) 148 : Aelitefiow (Bisco) m2 Se Ultraseal xT (Ultradent) 158 Revolution (DenMat) 12 ‘Alert leneric Pentron) 67-130 ‘ Surefil (Dentsply) 132-168 peeceune Solitaire (Kulzer) 120-124 Fitek P6O (3M ESPE) 150-176 Amalgama de fase dispersa Dispersalloy (Dentsply/Caulk) 122 Tabela 5.11 - Médulo de elasticidade (GPa) de resines compostas de média viscosidade. (Dados extraidos de Prospec tos da 3M ESPE; Ferracane, Mitchem, 1994; L ‘oguercic et al, 2001; Labella et al, 1999; Brega et al, 2003.) Resinas de média viscosidade | Resina e marca comercial | Médulo de elasticidade (GPa) Fitek A110 (3M ESPE) 625 peer ee Silux Plus (6M) 668 Dural (Kulzer) 32-64 Heliomolar (Kulzer) 5 ‘TPH Spectrum (Dentsply) 15 Filtek 2250 (SM ESPE) 11-123 Meo bres Herculte XRV (Kerr) 1416 Charisma (Kulzer) 73 dos Fundamentos @ Aplicacdo Clinica Tabela 5.12 - Médulo de elasticidade (GPa) de resinas compostas micro-hibridas ou de particulas pequenas. (Dados extraides de Prospectos da 3M ESPE; Label et al, 1 Braga et al, 2003.) ; Choi etal 10; Manhart et al, 2000; Loguercio et al, 20014 Serene emee de Resinae marca comercial Médulo de elasticidade (GPa) Flowit (Jeneric Pentron) 65 Aelteflow (Bisco) 48 Filtek Flow (3M ESPE) 53 pane Vecoscere Heliomolar Flow (Kulzer) 41 Peimaflo (Utradent) 82 FloRestore (DenMat) 81 Alert Generic Pentron) 1318 Alta viscosidade Suefl (Densely) ues Solitaire (Kulzer) 38-44 Fitek P60 (SM ESPE) 10.9-11,7 dessas propriedades e interpreta-las duran- te a leitura critica de textos que avaliem as propriedades dos materiais odontologicos. Dureza Superficial das Resinas Compostas A dureza superficial das resinas compos- tas pode ser mensurada por uma série de métodos. Para esse tipo de material, a ponta penetradora mais comumente empregada € aquela que registra a chamada dureza Knoop. Para mais detalhes sobre o teste de dureza consulte o capitulo de Principios Basicos para a Caracterizacao dos Materiais (Cap. 1). A dureza Knoop da maioria das resinas composta é relativamente baixa se comparada com a do esmalte dental (343 kg/mm?) e com 0 da maioria dos amal- gamas (cerca de 110 kg/mm*), De modo geral, as resinas compostas micro-hibridas apresentam um valor de dureza Knoop (55- 80 kg/mm?) maior que a das resinas com- postas microparticuladas (23-36 kg/mm’), um reflexo de que essa propriedade esti relacionada ao volume fracional de particu- las de carga presente em cada material. Es- ses valores indicam que pata os materiais, com maior contetido volumétrico de carga ha tendéncia de que a resisténcia 4 pene- tragao seja maior que aquela verificada para materiais com menor volume de carga. A dureza da resina composta também depen- de de outro fator: 0 grau de conversao da matriz organica da resina. Assim, as mano- bras clinicas que resultam em aumento da taxa de conversao de ligacdes duplas entre carbonos para ligacées simples podem, po- tencialmente, determinar um aumento nos valores de dureza do material. Até certo ponto do desenvolvimento his- torico das resinas compostas, inferia-se que a dureza era uma medida capaz de indicar © grau de resisténcia de uma determina- da resina composta ao desgaste. De fato, a incorporacao de carga inorganica a matriz da resina acrilica, por exemplo, determinou um aumento significativo da dureza desse material e, simultaneamente, de sua resis- téncia ao desgaste. Contudo, nas formula- des de resinas compostas atuais, nota-se que o aumento gradativo de carga, que de- termina o aumento da dureza superficial do material nem sempre previne o desgas- te demasiado de certas resinas compostas. Atualmente, acredita-se que a dureza nao deve ser o fator principal na predicao da re- sisténcia das resinas compostas a desgaste, sobretudo daqueles cujo volume de carga é consideravelmente alto. Desgaste © mecanismo de desgaste das resinas composta é bastante complexo, e basica- mente as diversas teorias que 0 explicam surgiram apés observacées clinicas. Como por exemplo, sabe-se que: (1) restauracdes em molares se desgastam mais répido que restauracdes em pré-molares (Bayne et al., 1992); (2) restauragdes amplas desgastam- se mais que as conservadoras (Bayne et al., 1992); (3) as taxas de desgaste tendem a diminuir ao longo do tempo (Leinfelder et al,, 1986) e, por ultimo; (4), resinas hibri- das e de particulas pequenas se desgastam “mais que as microparticuladas (Zantner et al., 2004). Essas constatacdes clinicas, nao gatantem, porém, que as resinas micropar- ticuladas possam ser empregadas em den- tes posteriores. Além da resistencia ao des- gaste, outras propriedades mecanicas so requeridas aos materiais que pretendem restaurar dentes posteriores que, freqiiente- mente, sao submetidos a grandes esforcos mastigatorios. E fundamental, por exem- plo, que as resinas compostas possuam alto modulo de elasticidade. Na auséncia dessa propriedade, é comum o aparecimento de alto percentual de fratura, ocorréncia essa reportada em avaliacao clinica a curto prazo (2 anos), quando do uso de resinas micro- particuladas em dentes posteriores (Tyas et al, 1989). Uma dessas teorias de desgaste baseia- se no principio de microfraturas. Devido ao maior médulo de elasticidade das particulas de carga, em relacdo a matriz, elas compri- mem a matriz organica menos rigida duran- te a mastigacdo produzindo pequenas fra- turas. Sob cargas mastigatérias repetidas, essas microfraturas crescem e coalescem predispondo ao desgaste (Leinfelder et al., 1986). Atualmente, a rigidez das particulas inorganicas empregadas nas resinas com- postas é bem inferior a das particulas de quartzo empregadas nas resinas compostas de primeira gerac3o, que possuiam desgas- te generalizado em tomo de 100-150 ym por ano (Leinfelder et al,, 1986). A substi- tuicéo de particulas de quartzo por particu- las de vidro foi um dos grandes fatores que proporcionaram a reducao do desgaste das resinas compostas atuais. Outra teoria considera que o desgaste da resina composta pode se dar pela degrada- 40 hidrolitica dos polimeros e do agente de uniao. Esse fenémeno deixaria particulas de carga soltas dentro da matriz, que seriam arrancadas durante 0 processo mastigatorio (Soderhélm, 1981). Os menores indices de desgaste das re- sinas microparticuladas podem ser explica- dos pela distancia entre as particulas de carga. Foi postulado que se essa distancia for inferior a 0,1 um, 0 desgaste é evitado, pois as finas particulas abrasivas presentes no bolo alimentar nao conseguem entrar em contato direto com a matriz organica de resina, pois esta protegida por particulas de carga inorganicas de maior rigidez Jiorgen- sen, 1978). Ateoria da protecao, ja descrita, também pode ser utilizada para explicar outras dife- rencas intrabucais relativas ao desgaste in- tra-oral. Em termos macroscépicos, essa te- oria pode ser interpretada como o grau de protecao contra o bolo alimentar proporcio- ol limes ae smal —s composts cexpostas pelo mmatico de um bolo alimentar desgas tando a superiicie de uma restaurardo de resina com: posta. Esta seria uma das justficativas dos menores indices de desgaste que ocoire ao longo do tempo com as resinas compost nada por dentes adjacentes a restauracdes de resina composta. Isso explica porque res- tauragdes pequenas possuem mais resistén- cia ao desgaste e porque as taxas de desgas- te tendem a reduzir com 0 tempo (Fig. 5.27). Com o passar do tempo, as restauracdes ten- dem a ser proporcionalmente protegidas pe- las paredes cavitarias expostas pelo desgaste (Bayne et al, 1992). Restauracdes maiores 80 mais suscetiveis a desgaste, pois esto mais expostas ao bolo alimentar que restau- tacdes com dimensdes menores. Praticamente, com a evolucao das parti- culas inorganicas, houve significante decrés- cimo do desgaste médio anual das resinas compostas. De acordo com as normas da ADA (American Dental Association, 1989), © desgaste anual aceitavel de uma resina composta para uso irrestrito em dentes pos- teriores deve ser menor ou igual a 50 um apés 2 anos e menor ou igual a 100 um apés 4 anos na cavidade bucal. Atualmente, as re- sinas compostas micro-hibridas de média e alta viscosidade, assim como as resinas mi- croparticuladas, apresentam baixo: de desgaste e essa propriedade deixou de ser um empecilho para o emprego de re- Perda de volume (mi 5 10°) SASL OL? “Grafico 5.1 = 2 Desgaste in vitro de resina composta apés 400.000 c- clos mecénicos. (Dispersaloy & uma liga de amdlgama com atto teor de cobre e de fase dispersa; Surefi, Sol- taire e Alert sdo resinas compactéveis; Heliomolar e TPH ‘Spectrum sao resinas micropartculadas e micro-hibrides respectivamente). (Adoptado de Hammesfahr, 1998.) = dos Fundamentos 4 Aplicacao Clinica sinas compostas em dentes posteriores. 0 grafico 5.1 mostra o desgaste comparativo de diferente materiais. As resinas Surefil, He- liomolar e a liga de amalgama Dispersalloy apresentam as menores taxas de desgaste apés serem submetidos & ciclagem mecé- nica (400.000 ciclos). A resina TPH Spec- trum é micro-hibrida e apresenta, dentre os materiais avaliados, 0 maior desgaste apés ciclagem mecanica que os outros materiais. Porém, essa taxa de desgaste é muito infe- rior @ apresentada pelas resinas compostas de primeira geracdo e jé € suficiente para empregé-la em dentes posteriores, como demonstrado por estudos clinicos (Turkun et al,, 2003; Loguercio et al,, 2006). Ha uma diferenca entre o desgaste que ocorre em funcao do bolo alimentar entre dentes antagonistas (desgaste de trés cor- pos) e aquele que ocorre em funcdo dos contatos céntricos (desgaste de dois cor- pos). Nesse iiltimo caso, o desgaste é maior e mais dificil de ser detectado clinicamente. Em funcao desse aspecto é que os contatos oclusais devem ser sempre averigtiados an- tes da insercao de uma restauracao de resi- na composta. O ideal é evitar essas areas de contatos céntricos, muito embora isso seja, muitas vezes, de dificil execucao. Acabamento e Polimento O acabamento e polimento de restaura- Ges de resina composta séo passos funda- mentais para melhorar a estética e a longe- vidade dos dentes restaurados. A rugosida- de superficial, associada ao acabamento e polimento inadequados, pode resultar em aumento do desgaste, menos estabilidade de cor e acimulo de placa, comprometen- do o desempenho da restauracdo (Jeffe- ties, 1998; Bollen et al., 1997; Reis et al., 2003). Varios fatores influenciam na rugosida- de superficial das resinas compostas apés 0s procedimentos de acabamento e poli- mento. Alguns desses fatores sao inerentes ao material, tais como o tamanho, dureza e quantidade de particulas de carga, enquan- Fotomicrografia eletronica de varredura de perfcie de resina composta compactavel (A ric/Pentron) apés 0 acabamento e polimer ve que as particulas filamentosas 4 protruidas na superficie, o que cli te como maior rugosidade superficial (F fia gentilmente cedida por André Reis, Faculdade de Odontologia UNG, Guaruthos/SP) to outros fatores sao ditados pelas carac- teristicas dos materiais para acabamento e polimento, tais como a flexibilidade dos instrumentos abrasivos, a dureza do abra- sivo e a granulacao (Strassler, 1998). Ainda nao podem ser desconsiderados a quantida- de de presséo empregada e o tempo gasto durante esse passo clinico (Tiirkun, Tiirkun, 2004). Para que um sistema de acabamento e polimento seja efetivo, é necessario que as particulas abrasivas possuam uma dureza relativamente maior que a das particulas de carga presentes nas resinas compostas. Caso isso nao ocorra, o agente para acabamento e polimento sera capaz de remover apenas a matriz resinosa, e deixar protruidas na su- perficie, as particulas de carga, como pode ser visto na figura 5.28. As resinas compostas microparticuladas e micro-hibridas tendem a apresentar lisu- ra superficial semelhante apés a realizacao do mesmo procedimento de acabamento e polimento (Hoelscher et al., 1998; Tiirkun, Tiirkun, 2004; Yap, 2004a) (Grafico 5.2). Discrepancias maiores entre a rugosidade de superficie apés 0 acabamento e polimento a (wu Esthet x Cleef ST Resina micro-hibrida Resinas microparticuladas rsply) apos natnside poliesier e’gpds'ecabamento 4os com dxido de Turkun, Turkun, 2004) so encontradas com as resinas macropar- ticuladas, pois, durante esse procedimento, as resinas macroparticuladas tendem a ser deslocadas ao invés de serem desgastadas, © que causa irregularidades superficiais de- tectaveis (Craig, Powers, 2002). Aviscosidade nao exerce nenhuma influ- éncia na capacidade de polimento das resi- nas compostas. Isso significa que as resinas compostas de baixa, média ou alta viscosida- de que tenham tamanho, dureza e faixa de tamanho de particulas de carga semelhan- tes tendem a possuir lisura final semelhante para um dado sistema de acabamento e po- limento (Ryba et al., 2002). Entretanto, no grupo das resinas compactaveis, hé resinas com particulas de carga diferenciadas, ou re- sinas na qual se incluem fibras filamentosas (que € 0 caso da resina Alert, Tabela 5.13) ou que a faixa de tamanho das particulas é um pouco maior que a das resinas macro- particuladas. Nesses casos, a capacidade de lisura final desses materiais ¢ bastante infe- rior aos sistemas micro-hibridos (Ryba et al., 2002, Reis et al., 2003; Pontes et al., 2003; Jung et al., 2003) Be = dos Fundamentos 4 Aplicacao Clinica Curiosamente, a superficie mais lisa nao 6 aquela alcancada apés os procedimentos de acabamento e polimento, e sim aquela obtida quando a resina composta se polime- riza em contato com uma matriz de poliéster (Grafico 5.2 e Tabela 5.13). Quando a resina é ativada sem estar em contato com @ ma- triz, a camada mais superficial nao polimeri- za, resultando em uma camada externa pe- gajosa e de baixa consisténcia. Infelizmente, $40 raros os casos em que restauracdes de resina composta nao necessitam de acaba- mento para refinamento anat6mico da res- tauracao, remocdo de pequenos excessos € definicao ou retificacao de detalhes anat6- micos especificos. De maneira geral, no aca- bamento pode-se empregar: » laminas de bisturi; » brocas carbide multilaminadas com 12- 16 laminas; >» pontas de diamante de granulacao fina (24a 45 um); » pontas de diamante de granulacéo ex- trafina (15 a 30 ym); » discos e tiras de lixa de granulacbes mé- dia e grossa © polimento pode ser compreendido como a etapa que promove maior lisura € brilho da restauracao, que objetiva tornar a superficie dessa mais semelhante jossivel a superficie do dente. Com certa freqiiéncia, a obtencao de uma superficie de resina com- posta perfeitamente lisa e permanentemen- te brilhante pode ser muito dificil de ser al- cancada, exigindo que polimentos periddicos sejam feitos. O poder de corte ou desgaste dos instrumentos utilizados no polimento é menor que aquele verificado para os instru- mentos utilizados no acabamento das res- tauragdes. Nas manobras de polimento, co- mumente sao utilizadas: » brocas carbide multilaminadas (20-30 laminas); > tiras e discos de lixa flexiveis de granula- gées fina e ultrafina; » borrachas impregnadas por abrasivos (finos e ultrafinos); -os de feltro e pastas para polimento diamantadas ou de éxido de aluminio. As pontas diamantadas séo geralmente comercializadas em duas granulacoes, com diferentes formatos, conforme pode ser vi- sualizado na figura 5.29. As pontas doura- das sao de granulacao fina (24 a 40 ym) e as pontas prateadas séo de granulacao extrafina (15 a 30 pm). Em alguns livros- texto de técnicas operatérias, as_pontas diamantadas de granulacao extrafina sao classificadas como instrumentos para po- limento. A tabela 5.13 mostra a rugosida- de superficial de resinas compostas apés serem desgastadas com pontas diaman- tadas finas (F) e extrafinas (FF), borrachas abrasivas com éxido de aluminio (Enhance, Dentsply) e pastas diamantadas com gra- nulacao de 1pm. Pode-se observar que a rugosidade apés 0 tratamento com a ponta Tabela 5.13 - Média da rugosidade superficial - (Ra, ym) de resinas compostas micro-hibridas de acordo com o tipo de acabamento e polimento superficial. (Dados extraidos de Pontes et al, 2003.) Tipode —Resinae marca Matrizde Ponta dia- Ponta dia. Borracha jut See resina comercial poliéster mantadaF mantadaFF abrasiva "fats Media | Charima (Kulzer) 012 1,90 1,00 0,52 0,28 ‘viscosi- ‘Tetric Ceram (Vivadent) 0,06 1,97 112 0,49 0,37 dade | Fitek 2250 GMESPE) | 0,12 un 0.94 057 044 ‘Ata vis- | Alert leneric/Pentron) | _1,49 2,66 1,20 096 8 cosidade | Surefil (Dentsply) 1,30 1.81 0,94 052 0,50 SS A RES eee eee CAP. 5 ~ Resinas Compostas 173 diamantada ainda é alta e pode ser bastan- te reduzida com procedimentos adicionais de polimento. Os discos para acabamento e polimento geralmente sao impregnados com éxido de aluminio, cuja dureza Knoop é aproxima- damente 2100 kg/mm? (Anusavice, 2003). Essa particula é mais dura que o esmalte (340-421) e, portanto, deve-se ter cuidado durante as manobras de acabamento e po- limento para evitar o desgaste do esmalte adjacente a restauracao. A maioria das marcas comerciais de discos disponibiliza quatro granulacdes di- ferentes, que sao decrescentes. Na figura 5.30A, que mostra o sistema para acaba- mento Sof-Lex Pop On (3M ESPE), os dis- ig. 5.29 Pontas diamant fina (F) e as da di FF). Os diferentes formatos s Fig. 5.308 Discos impregnados por ido de aluminio para acabamento e polimento de restauracdes de resina composta. Em (A), Sof-Lex Pop ON (3M E: grossas. jond (FGM). As cores rm ig- 531A abrasivas para pe A esquerda, esié apresentado 0 sistema ) ea direit cos so impregnados por oxido de alumi- nio. Os discos com cores vermelho e laran- ja-escuro possuem granulacéo de 100 e 29 um, respectivamente, e sdo usualmente designados para 0 procedimento de acaba- mento. Os discos laranja-claro e amarelo, fa mesma figura, possuem granulacao de 14 e 5 um, respectivamente, e sao empre- gados para polimento de restauracoes de resina composta Outra forma de se utilizar o abrasivo de 6xido de aluminio € através de sua impreg- nacao em borrachas, conforme pode ser vis to na figura 5.31. Quanto mais flexivel for a matriz impregnada com o abrasivo, menor seré sua tendéncia de propiciar um bom po- limento da superficie (Ryba et al., 2002) Diversos sistemas para acabamento e polimento, além dos citados neste capi- tulo, esto disponiveis no mercado. Inde- pendentemente do sistema, deve-se uti- lizar refrigeracao com gua quando se es- tiver utilizando a turbina de alta rotacao e lubrificantes com as borrachas abrasivas € discos montados em baixa rotacdo. Muito calor é gerado e transmitido para a polpa durante o acabamento e polimento de resi- nas compostas e, se esse inconveniente nao for minimizado, o aumento da temperatura pode ser de tal magnitude que pode com- prometer a vitalidade pulpar. Esse aspecto associado possivel formacao de defeitos superficiais pelo acabamento e polimento deve limitar esse procedimento para 0 mi- nimo necessario (Ferracane et al., 1992). Reparo de Restauracées de Resina Composta Com 0 desenvolvimento das resinas atu- ais e os sistemas adesivos mais modernos, & possivel realizar restauracdes com alta longevidade. Entretanto, as restauracées de resinas compostas também estao sujeitas a fraturas e falhas durante uso clinico. Felizmente, devido as propriedades des- tes materiais, essa falha nao implica neces- sariamente substituicao nem mesmo reali- za¢ao de retencdes macromecénicas (Shen NE ed... et al, 2004). Sabe-se que a remocao total da restauracao acarreta ampliacao da ca- vidade preexistente e mais perda de teci- do dentario (Szep et al., 2002), enquanto a criacdo de retencdes resulta em area de concentracao de tensdes, devido a dificul- dade de preencher completamente esses espacos com resina composta reparadora. Por essa razao, o reparo de uma restau- racéo defeituosa, ao invés de sua substitui- 0 total, deve ser vista como primeira op- Gao clinica, desde que a restauracao esteja clinicamente aceitavel, ou seja, sem lesao de carie recidivante na interface adesiva, ou ampla degradacao. Diversos estudos mos- tram que a resisténcia interfacial da resina composta reparada varia de 25 a 80% da resisténcia coesiva do material sem reparo (Shahdad, Kennedy, 1998), e essa variacdo depende das inimeras varidveis decorren- tes do procedimento de reparo. Apesar de nao haver dados laboratoriais nem clinicos que nos permitam inferir sobre 0 minimo de resistencia interfacial necessaria para o sucesso do reparo, opta-se pela realizacao de técnicas que permitam a maxima recu- peracao da resisténcia. Os seguintes proce- dimentos asseguram resisténcia interfacial maior que 50% durante o reparo de restau- races de resina composta: » asperizacao da resina composta antiga com ponta diamantada ou com jato de oxido de aluminio (Shahdad, Kennedy, 1998; Oliveira et al., 1997; Kupiec, Bark- meier, 1996); » limpeza da superficie de resina a ser re- parada, com Acido fosférico a 37%, por 30 s (Swift et al. 1994); » aplicacao de uma camada de resina ou adesivo de baixa viscosidade entre aresina antiga e a nova (Boyer et al., 1984; Pucket et al,, 1991; Shahdad, Kennedy, 1998). Esses procedimentos também devem ser realizados quando a restauracdo de re- sina composta recém-inserida for contami- nada por saliva ou quando for necessério realizar o reparo logo apés os procedimen-

You might also like