You are on page 1of 2
BRASIISEM{EDO a DIARIO DE UM CRONISTA O ultimo nao-vacinado G Paulo brisues vy fe Naquela segunda-feira, B. vestiu suas mascaras e saiu para trabalhar. Mas havia algo errado com seu passaporte... B. abriu os olhos exatamente as 6 horas, como fazia sempre, mas estranhou o fato de que o alarme do celular nao tocou naquela segunda-feira. No domingo houvera uma confraternizagao virtual com os colegas de trabalho, ¢ B. tinha tomado ‘umas cervejas a mais. Nada que um bom café automatico nao resolvesse. Dirigiu-se até a cafeteira instalada na cozinha- sala de sua maquina de morar, mas o equipamento surpreendentemente recusou-se a funcionar. Resignado, B. lavou 0 rosto com agua fra, escovou os dentes, fez a batba, colocou a roupa de trabalho e vestiu as das méscaras com a marca do Partido. Como 0 elevador demorasse muito a chegar,B.resolveu descer 0s nove andares pelas escadas. “f até bom, assim faco exercicio”, pensou Deu bom-dia ao porteiro, que nao respondeu. Caminhou uns metros sentindo o vento da manhi no rosto. Sentia-se faminto, precisava pelo menos tomar uma xicara de café e comer um pao com manteiga antes de entrar na reparti&o. Assim que B. colocou os pés na padaria da esquina, 0 alarme sonoro-luminaso do Coletivo de Saiide Pilblica soou de ‘maneira aguda e torturante. Todos os olhares — dos fregueses, dos funcionérios e do agente municipal de plantio — se voltaram para ele: sentiu-se alvejado por varias expressdes simultaneas de impaciéncia e raiva, Uma senhora vestida com escafandro mandetta disse pelo buraco da fala —£ por causa disso que o pais ndo vai pra frente. ‘Uma garota de cabelos ezuis, com méscera marielle, que cartegava nos bragos completamente tetuados um pincher trémulo, comentou da fila do caixa: — Depois de tudo, esses negacionistas ainda tém coragem... B, desistiu de entrar na padaria e j4 se encaminhava para a estacao de Gnibus, quando foi alcangado pelo agente ‘municipal. — Pera ai, cidadao! Aonde é que vai com tanta pressa? — Vou trabalhar, ué, Nao esté vendo minhas mascaras? Sou aprovado pelo Partido. — Evocé acha que o Partido vai te deixar entrar no local de trabalho nessas condicdes? — Em que condigées, companheiro? — Nao me chama de companheiro. Eu Ié sou companheiro de fascista? Pra vocé, eu sou Agente Sa. — Tudo bem. O senhor me desculpe, Agente S4. Mas qual é o problema comigo? — U6, ficou surdo e cego ao mesmo tempo? Vocé acha que pode sair assim, sem mais nem menos, depois de negar vacina? — Mas eu nao neguei vacina! © meu passaporte esté rigorosamente em dia. Tomei todas as iltimas 21 doses, dentro da minha escala. Posso provar, & s6 ver meu QR-Code. B. colocou a mao no bolso da jaqueta, tirou o celular e, em desespero, viu que a tela estava completamente apagada. 4 conduziu B. até a viatura e colocou nele uma tornozeleira antiminion. Entrou em contato com a Central do Coletivo e cenviou pelo sistema os dados biométricos de B. — Realmente, parece que vocé est vacinado contra a Covid-30. Mas tem um probleminha. Detectaram outra infec¢ao em voce, Entdo, subitamente, B. se lembrou. No meio da festa virtual, quando conversava com Sandra, a bela psicdloga do Departamento Pessoal, j4 meio zonzo de cerveja, ele dissera com um sorriso: ~ Até que a vida nao era tao ruim assim no tempo dos milicianos. Para aquele comentério — B. sabia — jamais houve nem haverd vacina. — Paulo Briguet é cronista eeditor-chefe do BSM, £justamente por isso que vocé precisa assinar o Brasil Sem Medo, Por menos de I real por dia, vocé tem acesso exclusivo as nossas matérias, andlises,entrevstas,crénicas, podcasts e ebooks. Vocé pode optar pela assinatura anual, por 290/ano (média de RS24/més) ou pela assinatura trimestral, por 87/trimestre (média de RS29/més) e acessar agora mesmo a todo o contetido premium do Brasil Sem Medo. Artigos relacionados DIARIO DE UM CRONISTA oal do LIBERDADE Homeschool 19 pode ser votado nesta semana (CPIDA PANDEMIA, \dolfe e Renan sugeriram sessao

You might also like