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abrir espaco ao outro, de proporcionar determinada oportunidade a alguém, € obviamente vocé s6 proporciona oportunidades a pessoas que merecem Nesse sentido, ndo fiz absolutamente nada “a favor” do Abdias. Ele merecia aquilo. A \inica coisa que ele nao tinha em Nova York, onde estava, era acesso ao mundo universitério gringo. Vocé de repente langa um nome e esse nome tem étima recepgio junto aos pares. ELC: Quando vocé ¢ instado a singularizar a sua figura como intelectual, a singularidade vai ser buscada na dimensio cosmopolita, embora seja um outro cosmopolitismo, quase “o cosmopolitismo do pobre”. Na década de 1960, vocé menciona 0 contato com os “hispanos” ¢ com 0 momento crucial da questo negra americana. E Maio de 1968? Vocé estava na Franga em 1968, ano da defesa de sua tese de dotitorado. SS: Eu defendi a tese ¢ deixei a Franca em abril de 1968. A Gnica coisa sobre 1968 que existe nos meus trabalhos é um artigo que escrevi para o Bstado de Minas, bastante curioso, porque era um pouco como eu estava pressentindo as coisas que finalmente aconteceram. Eu morava num hotelzinho do Quartier Latin, a um quarteirio ¢ meio da Sorbonne, na Rua Cujas, ¢ jé estava pressentindo aquele dima na atmosfera do bairro. Acho que nao tenho esse artigo, mas seria {6cil consegui-lo, porque esté no Estado de Minas, por volia de maio de 1968, aliés, é um artigo bastante longo para 0 jornal da época. Agora, por que Maio de 1968 nao aparece de mancira mais concreta? Porque eu deixo a Franca antes dos acontecimentos de maio ¢ em poucos meses estou mergulhando direto nas questées propriamente norte-americanas, semelhantes, sem dhivida, que eu estava vivenciando desde 1963, f por af que eu saio do clima do 1968 propriamente parisiense ¢ termino 0 ano no Canada. Alids, no suporto a pasmaceira da Universidade de Toronto, para onde me tansfiro em setembro de 1968. Nao agtiento morar em Toronto. 0 Canada naquela época era insuportavelmente conservador. Nao podia fazer direito o meu trabalho li. ELC: Como se da 0 retorno aos BUA? 176 Leituras criticas sobre Silviano Santiago 58: Sou convidado em 1969 a ensinar na State University of New York at Buffalo, que passa a ser naquele momento ogrande centro de estudos franceses nos Estados Unidos. Vou como professor de literatura francesa em virtude da tese que tinha defendido sobre o romance Os moedeiros falsos, de André Gide Na medida em que me encaixam como professor de francés na universidade, estou num departamento altamente politizado, duplamente politizado, dliga-se de passagem, politizado dentro da Universidade, porque o grupo (a0 contrério do grupo de Portugués, no qual me encaixava anteriormente) tem poder junto a Reitoria, e teoricamente politizado pela leitura dos pensadores € eseritores franceses. Bstava acontecendo uma transformagio extraordinstia no curriculo das universidades norte-americanas. O American Studies Departament ~ departamento de estudos sobre os americanos do norte, para ficar bem claro ~ sofria uma pressao enorme dos grupos politicos negros € eles sdo obrigados a abrir, paralelamente, um Black Studies Program. O Black Studies Program, no caso de Buffalo, aceita e endossa muito do credo politico dos Black Panthers. E curioso que Michel Foucault estara em 1970, se ndo ‘me engano, ou em 1971, em Buffalo. Quando ele chega, os negros esta em greve ¢ ele se recusa a dar aula no campus. Bstaria furando a greve deles. Mas como tinha que dar aula para poder receber o salério, dé as aulas na residéncia do professor Raymond Federman, que era espacosa e confortavel Federman era um excelente professor de literatura francesa, especialisia em Samuel Beckett, € hoje romancista. Voce vé entéo que de certa maneira é possivel ter um contato com a alta estrutura académica e também ter contato com os grupos intelectual e politicamente emergentes. Foucault deu as aulas €, como se pode imaginar, a sua atitude foi muito questionada, porque ele tinha dito que nao entraria no campus. Nao entrou, deu as aulas e recebeu © salério, nada negligenciavel naquela época. E encontrou um pequeno piblico muito bom, que estava disposto a lhe dar apoio, Nesse sentido, tem também outra figura importantissima em Buffalo naquela época, o Leslie Fiedler. Tinha uma espécie de open house, freqiientada pelos estudantes ¢ professores de literatura norte-americana ¢ inglesa. O Leslie Fiedler comega a ser ctiticado pela comunidade de Butlalo, porque diziam que os estudantes Enlrevista de Silvio Santiago 177 puxavam fumo na casa dele. Tanto falaram que, segundo o testemunho do préprio Leslie Fiedler, foi plantada maconha na casa, nao se sabe por quem, talver. algun agente policial infiltrado — sim senhor, os havia, e muitos, naquele época. Ble foi preso juntamente com os alunos. Escreveu um livro em que narra 0s acontecimentos, se chama Being busted.? Tudo isso acontecia a0 mesmo tempo, nao era apenas a questo negra, a questo porto-riquenha, ou até certo anti-semitismo pervagante na comunidade italiana de Butfalo ¢ nas universidades do Sul do pais, era também a questo da droga e da guerra do Vietnd, em particular junto ao alunado branco. Apenas mencionei alguns poucos episédios, nao estou entrando em detalhes. Logo depois da fundagao do Black Studies Program se funda o Puerto Rican Studies Program, que tinha um input muito forte dos Young Lords, um grupo de porto-riquenhos com sede no Spanish Harlem. Hoje, o presidente dos Young Lords daquela época é um poeta bastante conhecido nos Estados Unidos, Felipe Luciano. Ao grupo pertencia também 0 poeta Pedro Pietri, autor do classico “Puerto Rican obituary”, que nao safa de Bulfalo. Entao vocé tem uma acio politica que se abre para todas as experiéncias comportamentais, que abre as “portas da percepcao”, para usar uma expressao da época, tomada de empréstimo a William Blake e Aldous Huxley. ELC: Toda essa movimentagio tem a ver também com a matriz do rap? SS: Tem, me lembro muito bem que o Francisco Pabén ja usava o verbo rap, no sentido de deixar solta € livre a palavra, em particular nas situagGes de confronto piblico. Acho que a melhor tradugio para rap, naquela época, € a de soltar 0 verbo. Tudo isto assustava o Provost de Letras & Artes, que se tornou um grande amigo meu — infelizmente ele ja faleceu -, 0 professor Sullivan, especialista em Pound € os antigos gregos ¢ latinos. Um auténtico british, John P. Sullivan, tinha chegado direto da Inglaterra, caia de péra- quedas no campus de Buflalo ¢ ndo sabia absolutamente 0 que estava acontecends ao redor dele. Foi, no entanto, o principal responsavel por essas mudangas extraordindrias no currfculo da Universidade, Era interessante as eriticas sobre Silviano Santiago observé-lo. Ficava perplexo e assustado diante da elogiiéncia dos pretos € dos porto-riquenhos e se escondia um pouco atrés de mim, como a me pedir uma explicagéo para o que era aguila, Tratava-se de um fendmeno verbal que cle, enquanto erudito europeu, desconhecia totalmente. As pessoas brancas, 0s caucasianos, como se dizi, ficavam amedrontados. Na época, 22 professores de Buffalo foram presos porque fizeram sit it na Reitoria, O sit in € um movimento revolucionério totalmente pacifico. A policia entrou no campus com gas lacrimogéneo ¢ fomos expulsos a golpes de cassetete, © acontecimento teve repercussio, saiu no New York Times © na revista ‘Newsweek. Foi um momento extremamente turbulento da vida universitaria ¢, no meu caso, é 0 momento também em que, em Nova York, fago a ponte com Hélio Oiticica. Hélio representa tudo isso de maneira extraordindtia, a ‘Tropicalia, os trabalhos relacionados 4 Mangueira, as investidas dele no campo da Cosmococa. E todo um universo que vejo hoje, a distancia, como bastante coerente, embora um pouco absurdo. Acabamos recebendo repressbes de todos 0s lados, somos praticamente eliminados do mapa, tanto do mapa social quanto do mapa universitério, Ficam conquistas, algumas conquistas que se tornaram definitivas. MM: O que voc® vai escrever depois, como critica, jé esta ali, germinado no campo das minorias, na forma altemativa de fazer politica, entre prai € teoria. “O entre-lugar do discurso latino-americano”, por exemplo, nao é dessa época? S98: “O entre-lugar...” € de 1971, € dessa época. A criagio do Puerto Rican Studies Program se dd em 1970, a minha ida para Bulfalo, s6 para ficar claro, € em setembro de 1969, porque em 1968 eu vou direto da Franga para o Canadé. Fico 0 ano de 1968 e inicio de 1969 em Toronto, WMat: A nocéo de entre-lugar, fundamental na sua obra, fem uma consisténcia historica muito grande, diferenciando-se de praticas teéricas anteriores, tomemos, como exemplo, 9 marxismo, £ a nogéo de entre-lugar que faz com que vocé se volte para estudar as questdes da América Latina, sendo Entrevista de Slviano Santiago 179 ‘especialista em literatura francesa? Como é que uma pratica vivencial vai gestando nogdes ou conceitos que vocé vai reelaborando teoricamente ¢ ficcionalmente? e-lugar do discurso latino-americano SS: Se eu relatar a génese de “O entr tudo vai ficar bem mais claro. Em primeiro lugar, eu era professor de Literatura Francesa em Bulfalo © © meu melhor amigo era o professor Eugenio Donato, que foi um dos introdutores do estruturalismo nos Estados Unidos, quando era professor da Johns Hopkins University. Eugenio Donato sinha se desentendido com os colegas em Butfalo ¢ foi convidado a passar um ano em Quebec, como professor visitante da Universidade de Montreal, no momento em que ela estava ganhando peso. Porque a grande Universidade de Montreal, as pessoas no Brasil nao sabem, era a McGill University, uma a, onde estudavam, entre outros, os jovens universidade tipicamente ing da nobreza decadente européia, porque era relativamente barata, Quem me passou essa historia toda foi um grande amigo meu, 0 Alexandre Eulélio, que ia a Montreal para visitar algumas jovens amigas da nobreza européia, em particular da Europa Central, que ram estudantes em McGill. Os relatos do Alexandre se passavam em 1965, 1966. Mas depois que o presidente De Gaulle passou por ld e den aquele grito de independéncia do Quebec francés, a Universidade de Montreal comecou a crescer. E nese momento que convidam 0 Eugenio Donato para ser professor visitante de Literatura Francesa ¢ introduzir as novas idéias que estavam chegando da Franga, © Eugenio organizou um simpésio e me convidou. Fiquei honradissimo, eram trés os convidados: o Michel Foucault, o René Girard ¢ eu, £ em francés que escrevo “O entre-lugar do discurso latino-americano”. Se vocé observar, 0 artigo faz diversas alusées ao Canadé. Quando eu falei, as pessoas ficaran superexcitadas com as alusdes, em que misturava 0 contexto canadense ao da América Latina ¢ da Europa. Foi um texto que feve tanto sucesso que {oi traduzido imedistamente para o inglés e publicado em Buffalo, numa plaquete, “Latin American Literature: the space in-between", em 1973. Bu estava trabalhando em cima de acontecimentos muito precisos, como 0 180 Leituras criticas sobre Silviano Santiago Quebec livre, de que falou De Gaulle, em cima de determinadas situagées da sociedade norte-americana naquele momento, 0 “contra” que era dado pelos. jovens universitérios, estava trabalhando com um corpus te6rico frances, particularmente Michel Foucault ¢ Jacques Derrida e, finalmente, estava trabalhando com escritores hispano-americanos é bastante conhecidos por, com Jorge Luis Borges e Julio Cortézar, Se nao me engano, o tinico brasileiro. citado € Antonio Callado, porque eu querie fazer uma ponte do Brasil com © pessoal hispano do Puerto Rican Studies Program. Se eu trabalhasse s6- literatura brasileira 0 pessoal universitério nao ia compreender 0 que eu estava dizendo. Também nesse sentido € que, em termos propriamente brasileitos, mantive uma relagao extremamente frutifera com o Puerto Rican Studies Program, juntamente com 0 Ubiratan D’Ambr6sio, um professor de Matematica na Universidade que se tornou meu amigo na época. De comum. acordo, a gente pide levar 0 Glauber Rocha, 0 Hélio Oiticica e até levar de Nova York para Butfalo o elenco completo do Arena contra Zumbi. Eram situagdes que eu diria muito concretas, que eu tentava recobrir através da reflexdo sobre o entre-lugar. Sem a possibilidade de referéncia muito nitida uma dinica coisa, a uma dinica lingua, a uma Gnica situacio politica € socioecondmica WMM: E quando é que vocé desloca 0 olhar? Porque vocé esté trabalhando © seu deslocamento o tempo todo. Esté falando da América Latina, do Brasil, do Canadé, da Franca, enfim. Fm que momento o seu olhar se volta para compreender a cultura ou a literatura brasileira nesse contexto? Vocé acha que tem um texto ou que tem um momento que exprima isso? $5: Acho que caminhei por fases. Primeiro, quando saf do Brasil jé tinha uma formagao em literatura bastante boa. Quando falo de formacao em literatura, estou me referindo a literatura contemporanea e ao pensamento contempo- raneo. No que a universidade tenha me dado isso. Sou totalmente autodi- data em termos de contemporaneidade. Aliés, acho que muitos da minha geragdo, nés somos todos autodidatas em termos de contemporaneidade. Entrevista de Silvio Santiago 181 Mas € preciso muito cuidado quando se fala de autodidata. Tive a sorte de ter pelo menos trés pessoas muito importantes que me guiaram nas leituras e na apreciagio das artes, trés mentores. No campo da estética foi Jacques do Prado Brando, no campo da histéria foi Francisco Iglesias € no campo da politica foi o Fritz Teixeira de Salles. O Fritz pertenceu ao Partido Comunista, ‘0 Francisco Iglesias é um historiador muito conhecido ¢ 0 Jacques s6lida formagao literdria, Pound entre os anglo-saxGes ¢ Valéry na Franca. No Brasil, Pound e Valéry coincidiam nele através duma formagao bem cabra- Jina. Foi ele que me passou os poemas do Joao Cabral, datilografados, ainda no inicio dos anos 1950. ELC: E como esse autodidata enfrenta 0 doutorado na Franga? 58: Quando saio do Brasil o grande choque foi ter de escrever a tese. Porque, em primeiro lugar, a tese tinha de ser em francés, em segundo lugar tinha de ser sobre Literatura Francesa ¢ extremamente bem-comportada, porque pios conservadores da Sorbonne. Defendi-a na velha f€ campi. Por so conhecidos os prin Sorbonne, antes das divisies da Universidade de Paris em vi sorte tive um orientador extraordindrio, o professor Pierre Moreau. Sentiu as minhas inquietagies € tentou o maximo possivel me explicar que tinha que abandoné-las, que devia ter um olhar reto, nada cbliquo. Foi um trabalho muito penoso para mim ¢, acredito, para ele. Acho que € uma das razes pelas quais desdenho um pouco, ou muito, a tese, Foi um trabalho de amputar coisas, de sacrificar muita coisa. Nesse sentido, a aventura da tese me isolou demais no ambiente universitério brasileiro e gringo, até a minha ida para Buffalo. Mas isolou até certo ponto, porque comega a aparecer em mim uma coisa meio esquizofrénica, muito intensa, a partir desse momento. Tenho um forte sentido profissional, que vai fazer com que eu seja, desculpa a falta de modéstia, um bom professor. Muitas vezes, um intelectual com a minha bagagem, com a minha historia, negligencia um pouco nao s6 a atividade docente em sala de aula como também a atividade de orientacio de tese. Eu me dediquei muito asso, porque trago o sentido profissional da docéncia que 182 Leituras eriticas sobte Silviano Santiago me fol inculcado por Monsieur Moreau. Agora, se a tese for lida com cuidado ~€ af eu acho que tive certa habilidade ~ nao é uma tese escrita seguindo os padres universitérios franceses da época, e € esse o principal motivo para eu ser contratado por Buffalo. Apesar de ter comecado a escrevé-la em 1961, quando viajo a Paris com uma bolsa de estudos do governo francés, ela foi inspirada teoricamente pelos livros do New Criticism que eu estava lendo nos Estados Unidos a partir de 1963. A proposta de leitura da génese do romance que desenvolvo nao tem absolutamente nada a ver com as leituras genéticas que existem na bibliogtafia francesa dos anos 1960, em particular as que cram dedicadas aos grandes romances do século XIX. Na defesa de tese* sou muito criticado pela auséncia dos criticos e historiadores franceses no corpo da tese (eles estéo, é claro, na bibliografia — sébio Monsieur Moreau). Fiquei satisfeito, porque a defesa de tese é muito complicada na Franga e quem me defendeu das criticas feitas por um dos argitidores foi o oriéntador, dizendo que ele tinha me liberado para fazer o tipo de trabalho inovador que estava sendo submetido & banca examinadora. WMM: B depois da tese, como se dé 0 deslocamento do foco para a literatura brasileira? SS: Depois dessa clausura na tese, eu me senti muito mais a vontade, até porque jé estava dando aulas de Literatura Brasileira desde 1962. Meus textos riticos da época sio todos sobre literatura brasileira ~ eu tinha que fazer nome nos Estados Unidos para poder progredir na carreira. O primeiro deles € sobre Drummond e Camées ~ “A méquina do mundo” ~, seguiu-se outro sobre fracema, depois mais outro, “O ateneu, contradigBes ¢ perquiigbes”, € 0 quarto é *Retorica da verossimilhanga” que apresento em 1968 na MLA. Sq o primeiro brasileiro a publicar na revista da Modern Languages Association, na PMLA? & também o primeiro artigo que sai em portugues na revista Nunca o republiquet em livro. Trata-se duma leitura aristotélica da peca A moratéria, de Jorge Andrade. Estava trabalhando intensamente como pro- fessor, mas sem contato com o mundo académico ou literério no Brasil, em Entrevista de Silvano Santiago 183 contato apenas com as revistas académicas norte-americanas €, a0 mesmo tempo, querendo ter um perfil que nao fosse o perfil de francés. Nao podia dizer de alto e bom som que o meu principal trabalho era a tese em literatura francesa. Do momento em que defendo a tese a situagao muda completa- mente. Sou contratado por um Departamento de Francés, em virtude do meu curriculum vitae, que era bastante bom para uma pessoa na minha idade, Fles leram a minha tese e viram que saia da rotina. Nao era estruturalista de maneira nenhuma ~ porque eu comecei a escrever a tese em 1961, mas teoricamente apresentava algo que até 0 préprio Antonio Candido usa, que uma nocao ampla de estrutura que vem do New Criticism. PLC: O que faz. alguém ser reconhecido como um intelectual, tal qual voce 6 hoje? Como € que se forma o reconhecimento do intelectual polémico, do intelectual que tem uma posigao clara, embora divergente do que é predomi- nante entre os intelectuais brasileiros “de esquerda"? $5: Devo dizer que recebi poucos “empurrdes” na vida. Acho que pouquissimos empurtées na vida. EntGo, tenho que responder a sua pergunta de maneira muito prosaica, Sempre fui um trabathador bragal, sempre trabalhei demais. Ena medida em que trabalhei demais, pude canalizar essa energia, que é uma energia muito especifca, para diversas areas de atuagao. Acho que, de certa maneira, a minha singularidade esta em nao ser e set. Nao sou exatamente tum intelectual partidario e, ao mesmo tempo, sou um intelectual com opgbes partidarias muito nitidas. Podem nao ser as que x € y gostariam que eu assumisse. Mas essas opgdes sempre foram muito nitidas, Entao, esse jogo entre o nao ser € o ser, ¢ ainda o fato de nao ser - segundo 0 consenso — uma pessoa de conduta “normal”, ajuda a me tornar uma figura revolucionéria, Sou uma revolucdo ambulante, na medida em que consigo determinadas coisas, em que enfrento determinadas situagies humanas e profissionais que todos sabem que nio sio muito faceis de serem resolvidas, em particular na sociedade brasileira, cuja tendéncia € a de neutralizar ou de jogar para escanteio figuras cujo comportamento nao é pautado pela dita norina. Apesat 184 Leituras erfticas sobre Silviano Santiago de nao ser um ativista gay, por exemplo, eu, pelo tipo de obra que tenho, por ter sido professor universitario de uma Universidade Catélica ¢ ter tido a coragem de publicar, em 1985, um romance como Stella Manhattan... Ha alguma coisa ai que funciona em termos de ativismo, que funciona em termos até mesmo, se me permite de novo a falta de modéstia, de exemplaridade. £ possivel vocé ter tal ¢ tal comportamento e av mesmo tempo ser professor de pds-graduagao com reconhecimento por parte dos alunos ¢ sem muitas amolagdes da cipula. Isto eu primeiro percebi, sendo latina-americano nos Estados Unidos, onde nés ndo somos bem vistos. Tinha que provar o tempo todo que era cumpridor ¢ competente, a fim de que pudesse ser considerado, ser absorvido pelos grupos majoritarios. Desde o New Mexico, 1962, fui bem recebido pelo pessoal de espanhol, bem recebido pelo pessoal de francesa ¢, posterlormente, até pelo pessoal de inglesa. Em nenhum momento notei preconceito em relagao a mim. Eu notava as vezes, ¢ era muito desagradavel, gue eles tinham preconceito em relagéo a latino-americanos, ¢ af era uma situacdo delicadissima para mim, porque eu eta latino-americano e isto ficava evidente pelo jeito ¢ a qualidade do inglés. Agora, acrescento que naquela época falava francés praticamente sem sotaque. Naquele meio francés, um Jatino-americano falando francés sem sotaque, eu era € ndo era. £ essa a situagao. E a0 mesmo tempo sendo latino-americano falando francés, pude abrir sempre espago para brasileiros, abrir espaco em grupos a que brasileiro no teria acesso. Isso eu fiz sempre nos Estados Unidos, gragas a0 fato de ser enio ser. ELC: 0 que mais pode ter contribuido para a singularidade e o prestigio do intelectual? Ss: Retomando as situacdes mais do presente ~ a gente jé cobriu um pouco a questo propriamente partidéria, a questéo propriamente comportamental, falemos, finalmente, sobre a questo estética. E algo que nao posso negar de modo algum, tenho uma formagio de vanguarda, Fui formado pela poesia de Joo Cabral, muito mais do que pela poesia de Drummond, e depois passet Entrevista de Silvano Santiago 185 com tangii idade para a poesia concreta, tendo um livro de poemas, Salto, que € concreto no sentido preciso da palavra. Cheguei a publicar na revista Invengao, fui amigo dos irmaos Campos, mantive correspondéncia com eles, mandei muito livro para eles dos Estados Unidos e da Franca. Quem mandou McLuhan para eles iui eu, quem Ihes mandou os poemas de Paul Klebnikov traduzidos ao francés fui eu. Eles nda conheciam esses autores, nem podiam conhecer. Estava li fora, vendo a cosa ser publicada, comprava 0 livro e 0 mandava pelo correio. Entdo, tinhamos um bom relacionamento. Do ponto de vista estético, tive uma posigéo de vanguarda num momento em que, por mot 08 politicos, a tendéncia ere abandonar a vanguarda. Um romance como Fm liberdade, se comparado aos relatos do Gabeira ~ maravilhoso 0 relato do Gabeira, assim como o romance do Sirkis ¢ toda aquela prosa que € publicada entre o final dos anos 1970 ¢ 0 inicio da década de 1980 ~ 6 na verdade, um romance de vanguarda, Ey liberdade institui um espaco proprio. Ao mesmo tempo em que rao € sobre a ditadura militar de 1964, € pratica € metaforicamente sobre 1964. Inclusive porque amplia a visio que a gente tinha de 1964, 1964 deixa de ser algo localizado no espago € rho tempo ~ década de 1960, 1970 no Brasil ~ para ser remetido a década de 1930 € Gettlio Vargas, para ser remetido também ao século XVIII € a0 movimento independentista da Inconfidéncia Mineira. Acho que € dessa maneira que fui constituindo na ficgdo contemporanea brasileira um espaco que € relativamente proprio, Agora, nenhuma das pessoas que perte grupos que j4 mencionei - grupos partidarios, comportamentais € estéticos chegou a me dar um “empurrao” para valer. Porque, usando a palavra do Wander, eu estava constantemente deslocando as coisas, ena medida em que voce desloca, vocé nao tecebe mais aquele empurrao de solidariedade, j4 que passa a representar a possibilidade do desvio. Ninguém quer compreender 0 cara que esté desviando... Desviei uma vez, desviei uma segunda vez, desviei uma terceira vez, Ao mesmo tempo, os sucessivos desvios tornam a minha irmagdo como intelectual muito dificil de ser explicada ou compreendida = vou saltar af os quarenta anos seguintes ~ e ao mesmo tempo muito facil, porque virei uma singularidade. Nao ha como negar que existe uma 186 Leituras criticas sobre Silviano Santiago singularidade na minha vida profissional e na minha obra. Blas estéo sempre escapando de determinados padrées nostalgicos. We Voce acaba crando um tradi, pong se trna o precursor de seragies qu vem depois de vce que em seuslivios, qe wo se puta pelo seiseementos voce ria una tadigio do futuro, como no “Kefka © seus ée eme 1e aconteceu. Como eu 55: Posso interromper? Porque € exatamente isso qu € ae nao tinha empurrao dos mais velhos, canalizei a minha propria energia, destocando-a para as novas geragdes totalmente, Minha relagao com os mais velhos é paupérrima. WMA: Mas ha um reconhecimento interpares de que vocé tem uma atuagio muito rica nesse sentido, o reconhecimento nao vem dos mais velhos. 0 préprio Drummond 5 ee ad tae ee in ra an ae reveréncia aos mais velhos. Eu me disponibilizei — se tal verbo existir ~ para a arn sen hs art a enced om mtn ata ee ke vee a ee PoC ma ie ee ig Le gna ae se ne me ingam e se tornam, com o tempo, inimigas. # a questo, de que estava Entrevista de Siviano Santiago 187 falando desde 0 inicio, da vida como aposta. Apostei nos novos em lugar de apostar nos velhos. E isso € bom ruim. £ ruim porque vocé nao tem 0 caminho profissional ¢ artistico facilitado, mas isso € bom porque as novas, geragées andam facilitando o meu proprio percuyso final. E af reside outro problema: se a minha obra nao tivesse qualidades, também a nova geracio no estaria apostando em mim. Vejo isso muito assim, como deslocamentos produtivos, cujo efeito € imprevisivel, podem ser deslocamentos negativos € podem ser positivos. Vocé entra num quarto escuro. Para mim, a carreita de intelectual e escritor sempre foi isso, entrar num quarto escuro, sabendo que a lampada para iluminar 0 quarto nao esta ali, est no quarto vizinho. Na linguagem. yMM: O livro que incomodou o poeta foi uma abertura para uma leitura do Drummond que nao tinha sido feita anteriormente. Pode ter as marcas da €poca, se vocé quiser considerar assim, mas permanece valida. Da mesma forma, 0 que depois vocé faz pela via da fiegao com um grande escritor como Graciliano Ramos, que politicamente vivia em uma espécie de clausura - ¢ que vive ainda em certos circulos, © que vocé faz no Em liberdade vai abrir 0 Graciliano Ramos para as geragGes mais novas. Nao é 0 mesmo da geragio que © canonizou. Paradoxalmente, eu acho que Ent liberdade j4 € um elassico. 58: £ um romance que constitui o seu proprio género. O Fausto Cunha foi sébio, cu acho, quando cle disse isso. Tentei constituir um novo género na literatura brasileira. Nem biografia nem romance nem ensaio. Os txés a0 mesmo tempo. Uma ficgao de... — como est lé na capa da primeira edico. Algo que jé existia apenas nas minhas leituras € que tentei, sem ficar afrancesado, sem ficar europeizado ou norte-americanizado. liberdade também causa tumulto em géneros sedimentados, como a historiografialiterdria. Mas eu queria voltar & hist6ria que comegou com “eu sou um trabalhador bragal” e que terminou articulando o lugar ou 0 olhar do homossexual. Em tudo que voce falou fica muito claro que transgredir, deslocar, libertar-se, enfim, tem sempre como pré-requisito, além do vigor 188 Leituras eri ws sobre Silviano Santiago ia ser articulado & experiéncia homosexual, ao tornar-se nose t de homosexual? Eu gostaria de trazer também a diversidade de estratégias, temas, de Albuns de familia com que voce constitui sua fiegao. Voce acha qu ha uma certa confluéncia na fiegio? Seria uma confluéncia em diregdo a um ‘privilégio do menos” ou um privilégio dos bichos alocados no subterranco, de Graciliano a Artaud, ¢ a0 0 falso mentiroso? ‘55: Vou por etapas, j4 que a sua pergunta é muito complexa. De inicio a {questo do rigor. Ev acho que seria simplificar dizer que esse rigor vem apenas da orientaggo sexual. PLC: Nao viria em boa parte da instabilidade que estar na margem produz? Nao podemos considerar que ha certa analogia com a questdo do latino- americano nos Estados Unidos? Voce disse ha pouco que 14, como os latino- americanos eram mal vistos, vocé “precisava provar que era cumpridor € competente, a fim de que pudesse ser considerado, ser absorvido pelos grupos majoritarios”, $8: Nao, rigor vem primeiro da formagao litersria, volto de novo a Cabral & ‘0s concretos, até para entender o “privilégio do menos", de que fala Wander, ‘uma poética do menos. f uma coisa que os meus leitores ainda no se deram conta, de que Cabral € 0s concretos so muito mais importantes do que se acredita na minha formacdo. Eu os abandono, é claro, mas é aquela coisa, ficam como a variola, que passa ¢ deixa as marcas. Tenho as marcas no corpo do rigor literdrio. Acho, ao mesmo tempo, que o meu rigor é muito diferente do rigor de Cabral ¢ dos concretos, porque ele foi sendo rearticulado por deslocamentos. Gostaria de comecar a discutir esse rigor pela diferenca, brasileira, a minha ‘ou seja, pela questao do paideuma, Dentro da literatur serscao traz uma grande novidade em terms de paidewna, O pldewna dos serestios € simplesmente uma repelgio dagullo que eles pensam, refora Sac is pens Os caligramas de Apolnate,#atomizagdo de palavras Entrevista de Silvano Santiago 189 quer dizer, € sempre 0 mesmo dentro do mesmo, Ao passo que na minha geragio, em virtude da formagio e docéncia universitérias, passamos a ter lum paideuma extremamente variado. Posso ler com imenso prazer Pound ¢ ¢. e, cummings ~ até traduzi poemas de e, e. cummings -, posso também ler Valéry © 0 nosso Machado de Assis, posso ler Ir romance de 1930, Liicio Cardoso e Clatice Lispector, posso ler Stendhal, Flaubert e André Gide € assim sucessivamente. A nossa leitura ~ que vai constituir 0 nosso paideuma democratico -é a descoberia do outro. Acho que Bm liberdade exemplifiea isso muito bem. Porque Graciliano Ramos nao € 0 meu modelo aquela época, nem 10 poucoalicersa o paidewna pessoal que vinha sendo construido aos trancos ¢ barrancos pelas exigéncias curriculares na universidade, Nunca quis ler teatro toméntico espanhol ¢ francés, tive de lé-lo. Mas eu queria ter essa experiencia do outro para poder me enriquecer. A leitura € um enriquecimento pelo desvio do outro. A leitura nao é um voltar-se sobre o umbigo, um voltar-se sobre a propria obra. Toda a nossa trajet6ria, ou a trajetdtia dos meus companheiros de geracio mais exorbitantes, que fogem um pouco da érbita, tende a buscar sempre o outro através da leitura. Os exemplos que voce deu sao tipicos. No meu caso, eles so necessariamente figuras de grande rigor, mas so o outro. Entdo, acho que o rigor estético seria 0 ponto inicial da discussio. O rigor nao vem ao final, da saida do closet, nem € um n6 que une a todos. O rigor €0 ponto inicial ¢ engloba uma sucesso metafdrica de outros. E Graciliano Ramos, € Antonin Artaud ¢ é, finalmente, 0 falso mentiroso, que no fundo é uum exercicio de ligica matemética levado a enésima poténcia, brincadeiras ai infinitum, Esses personagens so selecionados a partir do ponto inicial da minha eleigao pela vanguarda. Insisto dizendo que o que estrutura mesmo a linha dada pelo ponto inicial, mas ha outra linha primeira e paralela que também estrutura o tipo de trabalho que faco, que é a da economia da fa Hd um determinado lugar vazio que me interessa preencher com os rabiscos a literatura. Eu sempre me interessei por ocupar um lugar vazio. No caso de Graciliano Ramos € nitido, a questao da liberdade do pensador depois dda experiéncia do cdrcete. No caso de Antonin Artaud também ¢ bastante nitido. £ 0 caso de um vazio que precede o desbunde total da viagem ao 190 Leituras criticas sobre s 0 Santiago trabaor elementos draméticos em que ha uma ata. Dit iso, teria que dar tim pulohorroroso para a psleandise mo aes om um ano ¢ meio de idade, vazio na minha existéncia. Perdi a minha mae co ida por uma governanta italiana, Sofia d’Alessandro, pois, a Sofia é despedida, Vem a minha madrasta figura materna, essa perda foi preenc! € dois, trés, quatro anos ; a — depois de ter perdido a mae, perco pela segunda vez. un a Sofia. A terceira “mae” tem o seu primeiro filho e no momento que cle nasce, ra perda. Essa falta, esse lugar vazio, acho do romance, que é bastante elaborado, j4 que constituido por essas questoes. Basicamente, em Uma histdria de fam liberdade... em todos os livros vai estar isso, em qual maneira muito nitida essa falta. Para usar a palavra de Drummond, essa “falta que ama’. WMM: Eu queria retomar uma questo que preocupa os historiador trabaiham com o limiar entre histéria e ficgdo. Até que ponto, no Bim | ia de criagi ou em que momento voce dade, a historia serviu como maté mn e que se deslocar da historia ¢ falar desse vazio de que a histéria nao da preenche, mas fala ~ desse vazio? te conta? Como a ficgio fala — 88: Meu comentério seré perverso, porque a descoberta das lacunas da historia advém da repressio por que passo, por que passamos. F a repressio que me mostra as lecunas da historia, Nao éa leitura da historia ou a reflexdo sobre ela que me mostram as suas lacunas. & a repress, mpossibilidade de um discurso sobre Viadimir Herzog, assassinado em 1975 nos pordes do- Doi-Codi, que € 0 ponto inicial € basico do Bm liberdade. A impossibilidade Entrevista de Siviano Santiago 191 de uma fala sobre Herzog e a impossibilidade de uma fala sobre um irmao mais novo meu, entao secretario do Partido Comunista em Belo Horizonte, que tinha sido preso e torturado. £ a impossibilidade dessas duas falas que me abre para a necessidade de @ literatura ter uma fungio reparadora do discurso historico. Nesse sentido, & curioso que, no romance Em liberdade eu tenha pulado do Vladimir Herzog (anos 1970) de volta a Claudio Manoel da Costa (século XVII) e, em seguida, adotado definitivamente Graciliano Ramos (anos 1930). Ha também no criador que sou o receio de abordar a atualidade pelo viés do documento, do documentario. Nao é do mew agrado. Dai 0 meu recurso ao didrio “falso". Quanto a Claudio, eu me lembrava de leituras que tinha feito dos Autos de Devassa, Estes sempre apresentaram elementos enigmaticos aos historiadores. Sempre se falava que Claudio Manoel da Costa tinha se suicidado na Casa dos Contos etc. Se ndo me engano, sou o primeiro a levantar a hiptese de que possivelmente ele tenha sido suicidado, & semelhanga do que aconteceu com o jornalista Herzog. Essa foi a primeira idéia (ou forma) para o futuro romance, que cheguei a mostrar a0 entao aluno de graduagéo Geraldinho Carneiro. Comecei o romance pelo. didtio “falso” de Cléudio Manoel da Costa, que terminaria no momento em que batiam a porta para assassiné-lo. F af o narrador onisciente apareceria, como nos filmes de Hollywood, para terminar o relato. Ele diria que Cliudio Manoel da Costa fora assassinado por aquelas pessoas que entraram. Esse era 0 modelo inicial do romance. De posse do modelo, falei co ninguém vai entender isso ¢, dum comentario da atu igo: assim, sobretudo; ninguém vai entender que se trata lidade representada pela ditadura militar. E foi ai que comecei a trabalhar Graciliano Ramos. Por coincidéncia, estava dando um curso sobre memorialismo ¢ autobiografia na PUC-Rio. Entio, voeé vé de novo que a hist6ria entra por um caminho privilegiado, mas muito pouco utilizado em Letras, sobretudo naquela época, o caminho dos relatos autobiogréticos € memorialistas, que tém componentes de histéria muito mais fortes do que a boa ficgio ¢ a boa poesia. Eu estava lendo esses relatos com os alunos de pés-graduacio ¢ de repente me veio a idéia: “Por que nao dar continuidade a Memérias do cércere?” Devo dizer que a idéia de “dar continuidade a um livro 192 Leituras eriticas sobre Silviano Santiago jd est na minha tese de doutocado. Quando estava escrevendo Les fate ‘monnayeurs, André Gide leu o romance Armance, de Stendhal. Gide escreve tum artigo sobre o romance em que diz: “fagamos de conta que o romance nao termina dessa maneira, que Armance, aparentemente um estéril, se casa, trai a esposa, tem um filho com outta etc.”. Ao dar continuidade a Armance, Gide estava interessado em narrar um cpisédio barra pesada da prépria vida. O sempre pouco divulgado caso da filha bastarda que teve. Aos olhos da esposa, era um homossexual, no entanto escorregou com outta... “Faz de conta que Armancese casa. Depois, ele, que nunca teve relagoes sexuais com a esposa, trai a companheira e tem uma filha com outra mulher, em tal ¢ ta etal situacéo. ‘Ao dar continuidade ao romance Armance, Gide estava escrevendo o proprio drama que vivenciava no inicio dos anos 1920, ao ter uma filha com a jovern Elizabeth, filha de sua grande amiga, a sra. Théo Van Rysselberghe. Estou querendo dizer que Bm liberdade j esta em germe naquela passagem 1 da minha tese sobre a génese de Os moedeiras falsos. Ao ler Armance, Gide estava nos dizendo que o criador nao precisa ser tao obediente & palavra “fim escrita por outro criador ao final da obra. Vocé pode, enquanto leitor/criador, dar asas a imaginagdo e construir algo intertextual, como hoje a gente diria, mas que naquela época, quando eu estava lendo Gide, nao se cogitava. Pela leitura, voce esta trabalhando outra obra e, a0 mesmo tempo, constituindo 0 seu proprio texto, enquanto escrita original de leitor. Retomo ao que disse sobre 5 cursos que dei na PUC-Rio sobre memorialismo € autobiografia e as teses que orientei. Retorno para assinalar um deslocamento. Naquele momento, abandonava o interesse pelas obras-primas propriamente literdrias. Fu me adentrava de novo pela histéria a partir de um género considerado menor em Letras, que é a meméria ¢ a autobiogralia, ¢ estava me preparando para chegar a um género menos qualiticado ainda (sempre em Letras), que € 0 da correspondéncia entre escritores € entre intelectuais. Detecta-se, portanto, um deslocamento que operei também na atividade do professor tradicional de Letras. Entao, é por esses dois desiocamentos no curriculo tradicional de Letras que a histéria entra. Como continuard entrando no novo milénio a partir do meu interesse pelas interpretagdes do Brasil, de que ¢ exemplo a Entrevista de Silviano Santiago 193 antologia em trés volumes Intérpretes do Brasil. O Ei liberdade € um livro que trata de maneira bem incisiva de questdes da historiografia brasileira, trata da continuidade dos processos de represso na nossa histéria. Trata duma hist6ria menos oficial, WMM: Mas, a0 mesmo tempo, vocé abre outro caminho para se entender a historia que 0 discurso histérico, pelo menos até aquele momento, nao estava dando conta. SS: E repare que no Ent liberdade nfo cstava usando as duas linguagens ficcionais tipicas da época de censura, que eram as linguagens da metéfora, representada por Murilo Rubido e J. J. Veiga, ¢ a documental, representada pelo José Loureiro. A meu ver, alinguagem da metéfora e a do documentério. acabam constituindo textos menos ricos para a historiografia. Aparentemente mais ricos ¢ mais diretos, mas s6 uma historiografia pobre gosta de se valer muito de textos literérios documentais. $6 0 mais singelo da historiografia WMAt: Ainda no campo das conjungdes entre literatura e hist6ria, por que a escolha das nogSes de “raizes” e de “labirinto” para tentar explicar 0 Brasil € a América Latina? Por que em seu trabalho mais recente voce escolhe essas duas nogées e aproxima os livros de Sérgio Buarque de Holanda e de Octavio Paz? SS: 0 meu tiltimo livro, Raizes labirintos da América Latina, marca de novo um determinado deslocamento que eu tento operar dentro da minha trajet6ria de critico literétio, eritico cultural. Nele, por um lado, resolvi dedicar-me a uma atividade te6rica, derivada da antologia Iniérpretes do Brasil: como interpretar interpretagdes? Para essa tarefa, vali-me do arsenal metodolégico que nos legou Jacques Derrida, em particular em Da gramatologia. Nele, por outro lado, resolvi prestar homenagem a literatura ocidental. Descobri que a melhor maneira de prestar uma grande homenagem a ela nio estaria tanto no meu retorno a anélise dos textos da literatura chamados canénicos, 0s classicos, Estaria no interesse pela interpretagao de duas interpretacoe: 194 Leituras criticas sobre Silviano Santiago notaveis da América Latina — as duas diltimas que tém fundamento literdrio, que se apresentam ao leitor a partir de principios hermenéuticos tomados de empréstimo a literatura. Entao julguei que seria interessante fazer um estudo contrastivo de Raizes do Brasil, de Sérgio Buarque de Holanda, de 1936, e 0 labirinto da soliddo, de Octavio Paz, publicado em 1950, a primeira edigao, O mew interesse na andlise nao é tentar complementar uma América Latina, cujo centro seria 0 Brasil, com outra América Latina, cujo centro seria 0 México. Nao tinha intengao de complementar as coisas. Pelo contrario, tenho interesse em ver como as miiltiplas Américas Latinas se compdem em busca dum novo estado democratico, A logica que rege a leitura contrastiva € a légica do suplemento. Quer dizer, um ensaio nao complementa, suplementa © outro, Quanto mais eu lia € relia esses dois livros, eu me dava conta de que havia determinados pontos estratégicos interessantissimos. O primeiro é que Sérgio Buarque escreve antes da Segunda Grande Guerra Mundial e, portanto, seu livro tem um norte nitido, que é a Europa como colonizadora da América Latina. Tendo sido escrito em 1950, depois da Segunda Grande Guerra, 0 Iabirinto da solidgo tem outro nor:e, Go fascinante quanto 0 anterior, que € 0s Estados Unidos, Teria, entdo, um exemplo extraordinario duma leitura pés-colonial da América Latina, cujo norte colonial foi a Europa, ¢ duma leitura pés-colonial da América Latina, cujo norte neocolonial € os Estados Unidos. Aproveitando os prdprios titulos dos livros, percebi que existem as raizes da América Latina e também, hoje, um labirinto da América Latina, Neste, entramos desde a Segunda Grande Guerra pelas maos da hegemnonia dos Estados Unidos no plano internacional. Esse foi o interesse primério, Em seguida, comecei a notar que as duas construgGes literarias de América Latina passam por diferentes vanguardas européias, so atravessadas por elas. E, pelo menos, curioso este dado: mesmo a interpretagio mexicana, em que o norte s4o 0s americanos, passa pela vanguarda européia, porque a propria vanguarda norte-americana € derivada das vanguardas européias. Percebi que a interpretagio de Sérgio Buarque tem um fundo nitido construtivista, enquanto a de Octavio Paz em fundamento surrealista. Através da desterritorializagao dos dois podercsos movimentos europeus de vanguarda, as Entrevista de Silvano Santiago 195 duas interpreiagies vo energizar 0 nosso conhecimento da América Latina E esse processo de energizagio € fascinante, porque o construtivismo leva obrigatoriamente a uma hermenéutica da prosa, enquanto 0 surrealismo conduz a uma hermenéutica da poesia, E como se esses dais ensaios fossem escritos segundo dois géneros muito especiticos da modernidade: o romance, no caso de Sérgio, e © poema lirico dramatico, no caso de Paz. A construgio vanguardista dos ensaios nao € gratuita, porque ambos também se colocam como apéndics (nao vejo outra palavra agora) da produdo artistica do Novo Mundo que, no Brasil, € chamada de modernista, 0 Modernismo, e, no México, de vanguardista, La Varguardia. Dessa perspectiva, a interpretacao de Sérgio Buorque me pareceu fascinante, porque me dava a oportunidade de mostrar como o livro, apesar de camuflar as intengGes menos dbvias, faz em 1936 uma violenta critica ao Modernismo da década de 1920. uma violenta critica a0 nacionalismo um tanto estrcito, tanto 0 de Mario de Andrade quanto 0 de Oswald de Andrade. O que ha de interessante em Séxgio Buarque ¢ que ele reata o didlogo que a cultura brasileira mantinha com Joaquim Nabuco e Machado de Assis, ao final do século, F passa por «ima do Modernismo de inspiragio nacionalista. Temos, no ensaio, uma visd0 cosmopolita de Brasil, e por isso da América Latina e da Europa, que € muito diferente da viséo que nds extraimos seja de Macunaima seja de Pau-Brasil. E isso faz. com que a gente possa dizer, ou € como se Sérgio Buarque estivesse a nos dizer, que, no caso do Brasil, existem raizes e raizes, existem as raizes que so descodertas em 1920 € existem as que sio levantadas na década de 1930. No segundo caso, 0 conceito de rafzes (do Brasil) passa a ter conotagio ligeiramente irdnica. WM: A critica seria s6 ao Modernismo? SS: A atuagao extraordinaria de Sérgio Buarque no contexto do Modernismo o leva a fazer uma das criticas mais contundentes ao processo de modernizagao do Estado, no Brasil, na década de 1930. Esse é outro ponto de destaque no livro. Apesar de nunca usar a palavra, € nitido em Rafzes do Brasil uma critica 196 Leituras erfticas sobre Silviano Santiago a0 movimento da Escola Nova.* Como analisar este patadoxo que se encontra no momento em que o ensaista discute a questo da nova educagao: “As boas aes causam, provavelmente, maiores estragos do que as més, naacepao mais generalizada e popular destes vocabulos.” Como entender 0 endosso que faz de Samuel Johnson, quando este elogia a palmat6ria? Citemos de novo: “[] a vara tem um efeito que termina em si, ao passo que se forem incentivadas as emulagées e as comparacdes de superioridade, langar-se-A0, com: isso, as bases de um mal permanente, fazendo com que irmaos ¢ irmas se detestem uns aos outros.” Sérgio ndo é a favor da modernizagio do Estado tal qual esté sendo apresentada pelos educadores que desprezam os valores familiares. E € por af que a gente pode compreender um capitulo aparentemente exorbitante do ensaio, que € o sobre a literatura portuguesa dos descobrimentos. O capitulo nio sera tdo exorbitante, se a gente se der conta de que Sérgio 0 escreve para mostrar que desde Portugal as nossas raizes, af raizes no segundo sentido, esto determinadas - ¢ aqui eu estou citando de novo ~ “pela infixicez das classes sociais”. £ por esse viés, derivado da apreciacao literati, que o leitor poderia melhor compreender a idéia de “homem cordial’. Pelo menos, esse é um dos ‘caminhos que traco. Enquanto isso, dentro do vanguardismo mexicano ~ eles uusam a palavra modernismo com significado diferente do nosso -, Octavio Paz vai operar um movimento que me parece fascinante em termos de México ¢ menos fascinante em termos de Brasil. Ele ttaz para a andlise a fala das lasses sociais subalternas, que foram sempre hostilizadas pela hermenéutica letrada latino-americana. Eu me refiro a dus falas em particular: a do pachuco ¢ a da Chingada. A primeira € a fala do mexicano que foi para os Estados Unidos — 0 campesino, apelidado bracero ou wetback -, que se transformou em pachuco na Califérnia. Entao, a eleigao do paciuco como o representante do México pds-colonial sob a jurisdigao dos Estados Unidos, sob a hegemonia econdmica norte-americana, € fascinante, porque é ele um dos “extremos”, como © préprio Paz vai dizer, a que pode chegar o latino-emericano. Na nossa atualidade, € preciso afirmar, esse extremo representa a faléncia da colonizagéo européia nos trépicos. £ fascinante como um ensaio suplementa 0 outro € como o leitor comega a ter uma visio muito mais complexa da Entrevista de Siviana Santiago 197 nossa realidade. Tanto mais complexa, porque pachuco— repito, o mexicano que migrou para os Estados Unidos ~ é, se nao me engano, a primeira figura emblemética da diéspora latino-americana que, desde entéo, nos acompanha pelos pafses do chamado Primeiro Mundo. Enquanto no Brasil estévamos no diapasao de Vides secas, ld no México dos anos 1950 ja havia um movimento diaspérico mais cruel. Aqui, a didspora do nordeste softido ¢ miserdvel para o sul industrializado; lé a diaspora de uma nagdo empobrecida para um centro industrializado que esté fora das fronteiras da nagio. A segunda fala que também me fascinou foi a da Chingada, ou seja, a da mulher como vista pelo machismo mexicano. Fssa fala traz para o contexto das interpretagoes a questo ce género (gender, como se diz em inglés). A maneira como o genero entra no raciocinio de Octavio Paz me seduziu. Ele ndo entra, como ja anunciei, pelos textos da hermenéutica candnica letrada, Vai entrar por uma faceta pouco comum em poetas do porte de Octavio Paz, que é 0 de etndgrafo amador. O poeta se aproxima da fala preconceituosa do povo, recolhe-a, a fim de por ela trabalhar ~ agora na qualidade de ensaista letrado — outra hermenéutica latino-americana, no caso a do machismo. A mulher tal qual mostrada pela doxa popular em Octavio Paz é a mulher desclassificada desde conquista espanhola, é a mulher aberta. O verbo popular para significar a condigio feminina € 0 verbo chingar, que quer dizer, entre outras coisas, se abrir, se entregar ao macho. A visao desclassificada da mulher vai servit para que Octavio Paz incorpore & hermenéutica letrada o géntero, ¢ vai levar © poeta que existe nele a nos dar uma ligdo extraordindria sobre génera na atualidade, A ligdo que nos passa ele a toma do conceito de “amour fou”, 0 amor louco de que fala André Breton. Entdo, nés temos em 0 labirinto da soliddo, ¢ isso é extraordinario dentro do vanguardismo mexicano, trés niveis distintos de escrita que se entrecruzam e bordam o ensaio, Um nivel seria de responsabilidade do Octavio Paz etnégrafo amador, outro nivel seria do Octavio Paz letrado, erudito, elitista, e 0 terceito nivel seria do Octavio Paz poeta, leitor dos surrealistas. ELC: Vocé tem um projeto de aproximar outros livros? as criticas sobre Silviano Santiago 58: Essas duas visies de América Latina me comoveram, me surpreenderam € me levaram a desenhar esse livro. Sao visies, obviamente, muito dep. dentes da cultura letrada, em Sérgio Buarque também. Flas pouco levam em consideragao segmentos sociais marginais. Eu gostaria de dar continuidade a esse livro, analisando possivelmente Gilberto Freyre, Casa-grande & senzala € um autor hispano-americano ~ vai ser dificil encontrar ~ que analisasse também as questies ligadas a escravidao africana no seu pafs de origem e na América Latina. £ dessa maneira que eu espero dar continuidade ao projeto que se iniciou com a antologia Intérpretes do Bi WMM: Volto a questao do intelectual, a partir da leitura desses dois livros, porque a dificuldade do intelectual latino-americano ¢ ter esse transito com as classes populares. As classes populares esto ausentes, parece que elas so extremamente passivas € na verdade nés sabemos que elas nao séo, Elas podem ter sido vencidas em alguns momentos ou em quase todos, mas ndo sio passivas, SS: Mas esse € um dos problemas que eu quis enfrentar na minha tltima colegao de ensaios, Ora (direis) puxar conversa! Isso nao é desprezado em mo mento algum da minha conduta critica nos Gltimos anos, é um dos pro blemas que eu quis ¢ quero enfrentar. Dai a importancia que dou, no caso do Octavio Paz, a figura de emdgrafo amador que ele incorpora, figura muito semelhante a do etnégrafo que existe em Mario de Andrade. Alids, nesse sentido Octavio Paz esté muito mais préximo de Mario ¢ de Oswald, ¢ até do Manuel Bandeira de Libertinagem, do que Sérgio Buarque. A minha tltima incia do intelectual ¢ das classes populares através coletanea trata da converg da conversa, através da linguagem. Minha atitude tedrica tem sido a de aban donar 0 paradigma de leitura epistemolégico (cientifico) em favor dum para- digma hermenéutico (filos6fico). Tento fazerem convergir 0 conhecimento € a sabedoria WMM: E 0 Mario de Andrade consegue. Entrevista de Silvano Santiago 199° 58: O Mario consegue e acho que 0 Octavio Paz também, O Sérgio Buarque vai conseguir por caminhos confusos. 0 primeiro dos caminhos vai estar a0 Final do ensaio, no interesse que demonstra por querer compreender aquilo que chama de “uma democracia brasileira’, pondo todas as aspas na palavra democracia. Posso estar equivocado, mas acho que é essa incursdo pela democracia em Sérgio Buarque que vai substantivar o trabalho de José Murilo de Carvalho a partir dos anos 1980, em particular nos Bestializados. Portanto, hé na sociedade brasileira um movimento pervagante de democracia que € percebido de maneira bem mais intensa nas relagdes sociais do que nas relacies politicas. Isso esté muito nitido em Sérgio Buarque de Holanda. Por outro lado, 0 que existe em Sérgio e me fascinou é 0 tema, j4 mencionado, da *infixidez das classes sociais" em Portugal. Fica dificil vocé aplicar modernos ¢ rigorosos modelos de andlise europeus em sociedades onde ha uma infixidez das classes sociais. 1ss0 & obvio em Sérgio. Proposta original dele. Como é que, em Portugal, a burguesia mercantilista cosmopolita ocupa o poder, toma © poder da nobreza? A substituigéo duma classe pela outra se da através de proceso singular, tipicamente portugués. A burguesia mercantilista cosmopolita apropria 0 “vocabulario velho” da nobreza, para falar com Richard Rorty, se traveste de nobre para poder se apresentar como uma nova forca politica, social e econdmica no paco, escondendo o seu vocabulario proprio com 0 “vocabulério novo", que seria semelhante ao vocabulério da emergente burguesia mercantilista européia. Pela linguagem, pelo comportamento ¢ até pelas roupas e outros apetrechos, a burguesia mercantilista cosmopolita portuguesa nao se enquadra no panorama europeu em que se insere. Cria © seu préprio padrao, que se caracteriza pela infixidez das classes sociais na nagao e nos territérios conquistados. 0 “bardo” brasileiro, de que fala Sérgio, nao é uma mera figura de retérica, Com isso tudo, estou querendo dizer que fica dificil a anélise de sociedades ~ como a portuguesa, repito, ou a brasileira - em que a classe social emergente se afirma por vocabulétio téo contradit6rio ¢ atitudes tao mascaradas. Por exemplo, a critica que Sérgio vai fazer ao Estado Moderno, que esta sendo implantado no Brasil na década de 1930, nao tem fundamento letrado, teré fundamento na doxa das classes 200. Leituras eriticas sobre Silviano Santi populares brasileiras. A critica vem da andlise das classes populares, que estao sendo uma vez mais excluidas do processo civilizatério. No contexto da modernidade, ele vai defender o homem cordial como o indispensdvel retorio do recaleado, para usar a expresso da psicandlise. £ 0 retomno do recalcado ~ a cordialidade do brasileiro ~ que vai abrir lugar para se poder discutir, até mesmo hoje, agora, também em termos de género — a questo do Estado Moderno. Porque o Estado tal qual seria proposto pelo povo e pelas mulheres no serd o Estado tal qual proposto pelos grandes cientistas sociais do século XIX, endossados pelos politicos do Estado Novo, Amew favor, cto no livro uma série de televisio norte-americana que me fascina. Nesse sentido a televiso norte-americana esté a frente da nossa. A série se chama Gonintander in Chief do canal Sony. Em Commander in Chief uma mulher se torna presidente dos Estados Unidos. Voce pode dizer: trata-se de algo totalmente inverossimil Mas af esta o poder da ficcéo. No Brasil, por exemplo, pode um negro chegar a Presidente da Republica numa telenovela? Todo mundo diria: *€ completamente inverossfmil”, Por que nao se deixa um ator negro encarnar umn personagem de Presidente da Reptiblica? Nisso a liccdo é mais fascinante do que a hist6ria. © ficcionista pode trabalhar hipdteses, € isso que Sérgio Buarque faz muito bem no capitulo sobre o homem cordial. Trabalha uma hipétese, Naquele momento em que tudo indicava que entrariamos num Estado Moderno, por assim dizer, cientifico, haveria 0 retorno do recalcado, © homem cordial. A nossa singularidade, numa sociedade onde domina a ‘nfixidez, das classes sociais”. Hoje, de que argimento a Globo se vale para no escolher personagens negros em grandes papéis? Nao seria verossimil {A ficgdo nao tem que ser verossfmil vi-i-vis da realidade imediata, a historia sim, A ficgao clabora hipéteses, assim como um ensaio de fundamento literério. Eu acho que seria uma grande conquista se a ficgio comecasse a se valer do recurso de hipéteses, a criar protagonistas negros, por exemplo, imerpretando grandes papéis. Ou mulheres, uma Presidenta da Republica no Brasil. E ai que as novelas nossas ficariam mais fascinantes. Que maravilha um “vocabulério velho” se transformando em “vocabulério novo” na boca de negros ¢ de mulheres. Essa é a verdadeira tradiggo “cordial” da civilizagao Entrevista de Silvano Santiago 201 luso-brasileira, £ assim que leio artisticamente a hipétese levantada pelo ensaio de Sérgio. Assim como a poesia drummondiana ¢ a cabralina, nosso ensaio histrico tende a excluir 0 que nao seja “pio, pio, queio, queljo", 0 que é uma pena, Com Cruz ¢ Sousa se foi o desejo de se apresentar ao leitor ‘uma cosmovisio do homem brasileito. ELC: O problema vai um pouco mais além, ndo apenas de verossimilhanca. 0 problema é que nao ¢ plausivel que essa mulher € esse negro estejam consti- tuidos enquanto tais nesses cargos. 55: Acho que 0 grande fiecionista pode constituf-los. fa tarefa dele, ¢ néo nossa, de leitores, Pena que, entre nds, quem fez isso foi Monteiro Lobato Nao € um grande ficcionista. O que eu estou falando & que se precisa de w toque, de determinado empurrao ficcional para que a sociedade se transforme, progrida, methore... Aids, 35a a principal fungio revolucionata dalliteratura nna pos-modernidade. Nao se quer que o empurrao vire modelo, embora almeje utopicamente. © empurrio ¢ fiecional - serve para levar as pessoas a discutirem uma hipétese que deveria virar realidade um dia, afazerem dela um case study, Ndo me refiro a pessoas como ns, universitarios, mas exatamente quelas que 0 Wander diz que ndo fazem parte da interlocugao. Refiro-me, é claro, 4s classes populares € aos grupos marginalizados. A apresentacdo hipéte 8 presentagio dessa e ¢ de outras numa telenovela geraria uma interlocugéo do criador, do veiculo, com as classes populares e com os grupos sociais marginalizados. Nés sabemos que isso nao nos satisfaz, mas haveria a hipétese concreta da possibilidade duma interlocucao com as classes populares, LC: A nossa questio é exatamente essa, Como € que a elite pensante bra- sileira ~ ¢ aqui pensante nao tem nem sentido pejorative nem de distancia~ mento ~ pode se deslocar, se descentrar, para se conectat com esse outro, 0 popular, massive ou nao. Fssa dificuldade me parece um taco persistente na nossa tradicao intelectual. Nao hé diivida que esta ai um problema serissimo: temos uma nagio analfabeta. Quer dizer, desde o final do século XIX, nés nao fizemosa revolugao uras criticas sobre Silviano Santiago educacional que foi feita na Franga a partir de Jules Ferry, defensor do ensino primario gratuito.” Nao tivemos Jules Ferry, entao teremos sempre o dualism Temado/analfabeto, que estd n\tido, em particular na geragio de 1920, quando Ouwald de Andrade vai dizer que nada ha de mais nefasto numa sociedade Snalfabeta do que o fildsofo Graga Aranha, Da perspectiva de Oswald de Andrade, Graca Aranha representava o cltismo pré-Jules Ferry, elitismo no Sentido pejorative. Era um intelectiial que nao conseguia compreencler a Sontribuigao maior -analfabeta, sem divida ~ das classes marginalizadas pelo processo de colonizagio, Esto me referindo, por exemplo, a Aleijadinho, um ita autodidata, A viagem dos modernistas as cidades hist6ricas de Minas ail compensar 0 descompasso no plano attistico, no plano literétio ¢ até no plano filséfico. Mas néo houve compensagao no plano educacional. Quer fr, a comapensacao no plano educacional sé viria com isso que um dos vrossog atuais candidatos a Presidente da Repdblica estd lutando para impor pela educagao priméria publica, Agora, como fazer com que wma educacso popular leve a pensar, € no simplesmente a macaqueat? Fis af um problema Pomplicado. ‘Temos bons exemplos significaives, nao custa lembrar toda a trajetGria de Paulo Freyre entre 1960 € 1964, Nao ¢ facil. Até que ponto - sree me refiro mais & elite letrada, mas a elite econdmica - esta admitiria um processo de edtucagto substantiva pelo Estado das classes populares? Entdo 0 problema é delicado, Ea acho que hd intervengSes positivas nos nossos dias, € veria bom quie essas intervencbes se valessem nao apenas do ensino 3s criancas da linguagem fonética, mas também do ensino da linguagem semictica, A feitura das palavras ¢ também a “leitura” das imagens. Trocando em mitidos, acho que o melhor exemiplo da dispora latino-americana hoje nao é mais ar ensaio de Octavio Par dos anos 1950, é a telenovela da Gloria Perez que sc chama América, mero fato de a telenovela abordar o tema da diéspora Iouno-americana trouxe uma contribuigio postiva para o esclaredimemto da diuestao entre ns, até mesmo entre as classes populares. E mereceria outro aMiarecimento. América fala da faléncia duma colonizagdo. E isso que os Glentistas sociais tém medo de dizer. B a faléncia dum sistema de colonizago migratério que levou a oultra imigracio. Porque se a primeira colonizacso Entrevista de Sllviano Santiago 203 tivesse sido feita de maneira eqiiitativa, de maneira justa e equilibrada, nao haveria necessidade dos brasileiros emigrarem, e nem t@0 pouco de Jean Charles morrer no metrd de Londres. ELC: O livro Raiees ¢ labirinto trata disso? SS: 0 importante mesmo, nesse meu livro, € que apesar de nao ser de estudos culturais, pode ser um ensaio interessante sobre o pés-colonialismo latino- americano, vale dizer, sobre a atualidade. ELC: O que seria um livro de Estudos Culturais? SS: Setia aquele que abordaria as questes que 0 Wander € voce esto reclamando. Nao teria como eixo 0 fundamento hermenéutico proposto pela leitura da grande literatura ocidental. Nao sao as literaturas brasileiras ou portuguesas ou mexicanas ou espanholas que esto por detras dos ensaios de Sérgio e de Paz. & a Literatura Ocidental. £ o sistema letrado, a cidade letrada. Esta € que, bem adubada pelo pensamento original e ndo-diseiplinar dos dois ensaistas, serve de ajuda na compreensao dos problemas prementes, quaisquer que sejam eles, problemas estes que muitas vezes escapam a malha grossa da economia, da histéria e da sociologia, FLC: Bu tenho diividas acerca dessa facilidade com que vocé parece delimitar o que é “Estudos Culturais", Um livro como esse, sobre o Sérgio Buarque € © Octavio Paz, € um estudo das tiltimas grandes interpretagdes da América Latina que saem do ambito literdrio. Mas o estudo que vocé faz em nada se confunde com a tradigao dos estudos literdrios. Ao mesmo tempo, nas suas tiltimas participagdes em debates universitérios, voc@ vem insistindo num. retorno a literatura’, Isto ndo merece um esclarecimento? 5S: Depois de muitos desvios, voltel a me interessar por interpretacdes que tém como fundamento obras literdrias que pagam pouco tributo a isso que se chama de democratizagio, ou seja, obras repudiadas pelos Estudos Culturais Resolvi passar um pente fino no melhor da produgio literéria através do seu 204 — Leituras crlticas sobre Silviano Santiago valor hermenéutico nas maos de Sérgio Buarque e de Octavio Paz. A minha leitura, © meu olhar dlinico, vai distinguir na produgio hermenéutica do brasileiro ¢ do mexicano alguma coisa que seria muito diffcil distinguir se eu estivesse analisando, na qualidade de “critico literdrio’, as obras literétias propriamente ditas candnicas. Se eu estivesse analisando Clarice Lispector Guimaraes Rosa ou $6 a poesia de Octavio Paz. A escolha das obras literérias trabalhadas pelos ensaios é estratégica. O que nao existe nos escritores acima citados - eu venho batendo nesta tecla desde as primeiras entrevistas que dei, € hoje jé é um lugar-comum que ds vezes me assusta ~, 0 que no existe nelas, nas obras canénicas da literatura brasileira, é 0 tema da inclusao. Veja, por exemplo, o papel da analise do pachuco em Paz, cujo respaldo literdrio Ihe € dado por versos de Hélderlin. Hoje virou um lugar-comum, mas hé 20-25 anos, quando comecti a falar de inclusdo, que o importante era incluir € nao excluir.., Como é que vocé inclui classes sociais? Como é que voce inclui outros géneros? Nao € apenas uma inclusdo de classes populares ou segmentos marginializados, € também de géneros marginalizados, € também de outras coisas. Quer dizer, no existe nos trabalhos propriamente literdrios o desejo de incluséo, pelo contrario, hé constantemente um desejo de exclusdo na cidade letrada. Com as rarissimas exceges que conhecemos. E os Estudos Culturais s6 se interessam pelas excegdes. Nao hé que dar nome aos bois, FEC: Claro, mas compreender os principios € as légicas através dos quais se constituiram as exclusoes. 88: 6 um tabalho arqueolégico a ser feito na grande literatura, nio é um simples trabalho analitico-descritive. Porque eu diria que os Estudos Culturais a que eu estou acostumado sdo mais analitico-descritivos e esse meu novo trabalho, acho, é arqueolégico, A sabedoria contra o saber. Em lugar de tats, a didspora latino-americana tal qual existe, como algumas pessoas tém trabalhado até muito bem, como a propria Gloria Perez, fui fazer a arqueologia com a ajuda da hermenéutica de Octavio Paz. Agora, a arqueologia do tema passa a ser, por um lado, de fundo etnografico, € por Entrevista de Silvana Santiago 205 outro, de fundo literério. © Paz, inclusive, é muito representativo do estado das coisas, porque 0 texto do ensaio permanece nas metaforas que excluem (o homem fechado € superior 4 mulher aberta) ¢ nao das que incluem, O trabalho de inclusao do excluido (de incluso da mulher na sociedade latino. americana) é semelhante ao trabalho de desconstrugio, de que fala Jacques Derrida, £ como se o ensaio de Paz fosse como um péndulo, oscila de um lado a0 outro. E esse jogo pendular que ¢ fascinante na busca arqueol6gica £ como se o pensador fosse, a0 mesmo tempo, medroso € corajoso, WMM: Eu queria propor um retorno ao literdrio no sentido de um discurso nJo-disciplinar. Esse discurso que foge a qualquer norma seria capaz de ofe. recer pistas que o discurso disciplinar, mesmo o ensaistico, ndo oferece, para que se possa trabalhar com a questao de exclusio? 58: Claro. N6s estamos chamando o discurso literdrio de ndo-disciplinar (disciplinar ¢ a economia, a histéria, a sociologia cic.), mas, no fundo, nés deviamos chamé-lo de multiisciplinar. £ esse o problema metodoldgico. De novo, a sabedoria contra o saber. Se vocé deline o discurso literario como multidisciplinar ~ eu até gosto de dizer in-discplinado, sem-disciplina, no sentido especitico que disciplina tomou no curticulo universitério -, se ele € isso, estd permitida uma leitura do espectro social que alguns dirdo mais superficial e eu direi mais ampla, Nao gosto das metaforas médicas, mas para ficar claro: existem médicos generalistas e existem médicos especialistas. Nos seriamos os médicos generalistas, aqueles que seriam capazes de dar conta de todo um organismo. F 0 discurso disciplinar seria aquele que analisaria a questéo econdmica, a questao social, a questao politica e assim por diante. O grande texto literério tem pelo menos essa vantagem... WMM: Eu estou pensando nao em ler 0 texto literario de maneira candnica e disciplinar, mas em ler o texto literério como um texto indisciplinado, aque! texto de fiegao que escapa do discurso hegemdnico, 206 —Leituras eriticas sobre Silviano Santiago 8: Se vocé pensar na hegemonia das varias disciplinas no processo sociopo- litico brasileiro, voce vai ver que a literatura sempre teve fungao desestabili- zadora, porque nés, brasileiros, nao sei por que razdo — ‘eria que pensar mais sobre isso -, nés sempre colocamos a diregdo da nagio sob a tutela de uma disciplina. Primeiro foram os bacharéis; depois os engenheiros, nés temos toda a Revolugdo de 1930 em que so os engenheiros que vao construit 0 Bra- sil; depois entram os médicos, o Brasil € um organismo doente que precisa ser curado, depois, nao nos esquecamos dos socidlogos, até 1974, ¢ depois & que vém os economistas. Entao, o discurso in-disciplinade num pais mono: maniaco ou monodisciplinar - 0s dois adjetivos significam a mesma coisa ~ & altamente salutar. No século XX tivemos @ hegemonia de varias ¢ sucessivas disciplinas. Ordem e progresso. Tem sempre uma proposta hermenéutica de governo do Brasil que é das leis, ou da engenharia civil, ou da medicina, ou da sociologia ou, finalmente, da economia. A disciplira hegemdnica sendo hoje a economia, que trabalha exclusivamente com niimeros, nada como por umas letras no meio desses ntimeros ¢ contas, nao 6? F claro que as letras que ‘voce puser no discurso da economia serao, necessariamente, sabotadoras ELC; Bu quero retomar a questo da exclusdo em termos do racismo, hoje. Nao a discriminacdo ou o preconceito racial brasileiro, que me parece assente, mas uma outra coisa, que é emergente ou contemporanea, a re-racializagdo dos contlitos globais. Estou me referindo ao que esta acontecendo em relacao aos drabes, aos muculmanos etc, SS; Teria dificuldade em definir os novos conflitos mundiais como re-raciali- zaGao, porque nas andlises que tenho feito ~ nao as tenho publicado, ¢ claro, mas todos nés fazemos em silencio andlises das situagies por que passam os paises ¢ as regides do mundo ~, acho que o dado fundamental nao é mais o Einico, € sim 0 religioso. ELC: Seria exatamente isto. A desqualificagao, a exdlusio, o exterminio do outro tém a mesma estrutura do racismo, embora tenha menos a ver com 0 fenétipo, com a diferenga racial ou étnica, no sentido estrito, Entrevista de Silviano Santiago 207 SS: Tem e nao tem, porque af eu acho que existe um drama enorme que apenas Mallarmé sentiu em toda a sua grandeza, que é a importancia para 0 ser humano do Livro, com “L* maitisculo. O Livro de Mallarmé é a grande proposta leiga, poética no caso, para acabar com todos 0s Livros, que so os livros religiosos, seja a Biblia, o Alcordo etc. Por exemplo, 0s leitores concretos de Mallarmé sao to fundamentalistas quanto figuras como Bush ou Osama bin Laden, Sao todos fundamentalistas. O que estou querendo ver, no & tum processo mais complicado, é a adogio de determinada leitura democratica do Livro literério que deixaria a proposta do Wander no chinelo, © Wander esta querendo uma leitura candnica da literatura, & 0s contlites, hoje, si0 originados a partir de leituras candnicas do Livro religioso, com “L" maidsculo. Precisamos de leituras democraticas do Livro, dos Livros. WMM: Eu nao estou querendo uma leitura candnica do livto, ao contrétio, $5: Nao, mas é 0 objeto em si que € candnico, perdao. Para mim fica dificil misturar etnia ~ eu prefiro etnia & raga ~ com religido. A nao ser que a gente tenhaa meiagio do Livro literério, com “L" maiisculo, repito. Bessa mediagio do Livro poético sempre vai se dar nos nossos dias na clave da violencia. Nao hé como escapar da violéncia no estado atual das crises, Isso € um pouco tragico no quadro geral das cvilizagoes. Nao ha como escapar, a no ser que mudem as maneiras de ler 0 Livro (sempre “L’ maiisculo, mas qualquer que seja cle); que se exercite uma maneira ndo-candnica de ler 0 Livro, os L.ivr0s, uma mancira democrética. Agora, como é que nds chegaremos a uma maneira de ler 0 Livro que nao scja candnica? Acho que af a literatura teria enorme importincia, serviria de modelo, dat minha alusio inicial a Mallarmé, Nao € gratuitamente que estou voltando & literatura como hermenéutica. Quer dizer, a literatura como possibilidade de conversa entre Livros, daf tamb a minha leitura contrastiva. Fazer dialogar a Biblia e o Alcordo, através da misica, € 0 que Edward Said tentou juntamente com © Maestro Daniel Barenboin. A gente tem que caminhar em direcio ao dislogo entre leitores de Livros diferentes. Como € que vocé caminha para um didlogo entre leitores 208 Leituras criticas sobre Silviano S, de livros candnicos, eu nao sei. Obviamente ndo é apenas pela educagio, porque séo todos bem-educados, todos Iéem muito bem. O fundamentalismo nao €, portanto, uma questio de analtabetismo. & muito diferente do Brasil, onde temos um problema de analfabetismo crdnico. 0 que cu vejo nao é um problema de anallabetismo. Acho que a énfase devia ser colocada nas leituras do Livro. Como ler esse Livro? De que maneira uma leitura mais aberta desse Livro, ou mais tolerante, poderia auxiliar num debate? Estou falando de novos lideres politicos que poderdo e deverdo surgir, tanto nos paises do Ocidente quanto nos paises nao-ocidentais. A Europa poderia ser um bom intermeditio na gestacio dos novos lideres, na medida em que, no cSmputo geral das nagbes, € a regio com melhor tradigéo de leitura democratica, Os leitores europeus poderiam ser mediadores interessantes, jé que tém também larga experiéncia de colonialisino (espero que tenham aprendido a ligéo) e agora uma experiencia {nédita de didspora. Nos Estados Unidosnao vejo sair grande coisa, pelo contrario, vejo um enrijecimento cada vez mais violento. Hoje mesmo eu estava lendo no New York Times os iltimos discursos de Bush, é uma coisa absurda. Agora o que fazer disso tudo, claro, nao compete s6 a gente, ELC: Bu estava pensando também, quando falei do racismo constitutivo nas estratégias discursivas que constituiram e legitimaram a possibilidade de que pudesse haver uma clivagem, uma separacdo entre aqueles que valem e aqueles que nao valem. Todos os estados modemos tiveram que desenvolver um discurso de legitimagao da desigualdade interna $5; O problema é analisar o texto das constituigdes nacionais. Acho que 0 objeto da Ieitura do Livro continua por af. As Constituigdes nacionais sdo terriveis se tomadas canonicamente. E ninguém, que eu saiba, se dedicou a uma leitura, contempordnea e democratica, das constituigdes nacionais pelo contrério, todo mundo elogia as constituigdes nacionais pelo que clas so, Porque, hoje, politica virou sindnimo de constituigio, de seguir ao pé da letra esse outro Livro. De novo voltamos ao pé da letra, ao fundamemtalismo, Entrevista de Siviano Santiago 209 a0 Livro, $6 que agora é 0 Liv da Nagéo. Ao ler uma constituigéo voce vai ver que ela € obviamente masculina, obviamente branca, obviamente litista, que ela € obviamente a favor dos letrados, contra os analfabetos, e por ai vai hama de narrativa pedagégica, excludente ativas WM: 0 que Homi Bhabha Homi Bhabha propae a interpelagio dessa pedagogia da Nagio pelasna performéticas, que é 0 que voc’ esté querendo, quando propde essa leitura nao exchudente do Livro $8: Em todos os planos. Aj, ache que a gente se aproximaria de um modelo para o que poderfamos chamar de democracia, Notas ntre setembro de 1962 e junho de 1964, Silviano ensinow na University of New Mexico fm Alfmquergue. centre sétembro de 1964 e juno de 1967, na Rutgers University, em New Bruswick, New Jersey. [N. Ed] Depois de passat o ano letivo 1967-1968 em Paris, Unalizando € defendendo a tese de Qoutorado ha Universidade de Paris, Silviano € contratado pela Toronto University, no Canada, Lé permaneee entre seterubro de 1968 e junho de 1969. Em sctembro de 1969, € Comatado pelo Departamento de Francés da State University of New York at Bullalo (Suny a Bullalo}, onde permanece até dezeinbro de 1973. [N.Ed.] em grande [A edigdo em capa dura sai em 1969 ea edigio em paperback em 1970. Besta q circulagzo no campus. (N. Ed.) + Atese &defendida em abril de 1968. [N. Ea] + A PMLA 6 publicada pela Moder Language Association, nos Estados Unidos, desde 1884. (0 “Manifesto dos pioneiros da Bscola Nova" data de 1932. > Gonbecidas como leis Sues Ferry. 0 conjunta de textos legslativos que colocam os prinefpios fundadores do ensino piblico na Fran foram adotados de 1879 a 1882. (N. Ed) 210 Leituras erticas sobre Silvie Santiago Produgao intelectual Livros FicgAo SANTIAGO, Silviano; ANGELO, Ivan. Duas faces. Belo Horizonte: Editora Itatiaia, 1961. © banquet. Rio de Janeiro: Editora Saga, 1970, (Reeditado pela Atica, 197) O olkar, Belo Horizonte: Tendéncia, 1974. (Reeditado pela Global, 1983) ‘am liberdade. 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