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oa + A ultima suspeita CAMILA FREMDER Muu Nome é Karina e tenho catorze anos. Na verdade, qua- inze. E ainda nio menstruei. Quer dizer, uns meses atrés \ve © que parecia ser um sangramento. Fiquei toda ani- 1. Poxa, catorze anos, né? Tem amiga minha que mens- esde os onze! Bom, quando achei que finalmente tinha ccido comigo, pesquisei sobre absorventes internos e ex- »s, coletor menstrual, ¢ até sobre umas calcinhas especiais usar durante esse petiodo, mas foi s6 eu comprar um de ara testar que minha menstruagio nao continuou no dia te, nem no més seguinte, e nunca mais apareceu. Eu juro que fiquei pensando que meu Gtero ficou bravo tamanha demonstragio de felicidade quando me depa- a calcinha manchada, Ninguém espera essa resposta lo o assunto é menstruagio. Mas, sabe, essa coisa de ser ica da turma que ndo menstrua muito chato. Eu tam- quero ter 0 direito de ficar reclamando de célica, de ter preguica de fazer educacio fisica, de ter TPM, de ter desejo de chocolate, de ficar triste por conta de uma espinha... E falta menos de um més para eu fazer quinze anos. Eu nio posso fa- zer quinze anos sem menstruar. Quer dizer, eu até posso, mas nao quero! Agora eu tento pensar © menos possivel nisso, dai quem sabe © meu titero para de me castigar segurando todo © meu sangue dentro dele por tanto tempo. Mas enfim, meu nome ¢ Karina e eu tenho quase quinze anos. Posso comegar de novo, né? Nio quero focar na minha menstruagio, nem eu aguento mais esse assunto. E pra falar a verdade, nesse momento eu estou em uma missio secreta que € muito mais importante. Estou na garagem do meu prédio, € tarde da noite, e com uma lanterna eu inspeciono o carro do meu vizinho que mudou para cé hi pouco menos de seis meses. E uma dessas caminhonetes enormes de quatro portas © cagamba. Acho bem estranho o fato de ele ter um carro tio grande € morar sozinho. Nunca vi uma namorada ou namo~ ado por aqui, ou criancas, e nem amigos ele recebe. Pra que um carro gigante desses? Prefiro nao comentar o que passa pela minha cabeca quan- do olho a cagamba da caminhonete que fica coberta por aquela capa de lona preta. Tenho sonhos terriveis imaginando ‘© que pode estar escondido ali. Pode nao ter nada? Pode. Mas sofro por conta de uma imaginac3o muito fértil que... Me- Ihor eu nem entrar em detalhes, caso contririo nao tetei co- ragem de levantar ¢ xeretar o que tem embaixo dessa lona. Ji € a terceita vez que venho para a garagem com esse objetivo ¢ acabo falhando. 10 Aliis, eu no sou a pessoa mais corajosa do mundo. Odeio escuro, e garagens me dio muito medo, mas virar detetive tem sido uma distragio para mim, e foi a tinica coisa que me fez varar de pensar em menstruagao. Para nio levantar suspeitas, trago comigo a Pingo, minha gata, como se fosse um passeio \osso. Ti, € estranho uma menina com uma gata de coleira passeando na garagem, eu sei, mas as pessoas nao vio achar que eu estou no meio de uma investigagio, elas vao se distrair com a fofura da Pingo. Como o carro do vizinho é grande, a vaga dele fica bem no fim da garagem, Aqui no prédio separamos por tamanho P, Me Gye todas as Gs ficam no fando. A Pingo acaba indo para { instintivamente porque ela é uma gata cagadora de baratas, « insetos, © @ fundo da garagem & sempre um étimo local de caca. Comprei uma dessas coleiras que a guia estica quase trés metros, entio ela consegue explorar o lugar enquanto eu co- mego a minha inspegio ao veiculo, : Nos bancos da frente nio vejo nada. $6 consigo ver 0 fio «lo carregador de celular jogado no cho do passageiro, o que @ absolutamente normal. Olho 0 banco de tris ¢ vejo um ca- >, parece um moletom, verde-claro. Nunca 0 vi usando té porque com certeza nio caberia nele. Se eu fosse chu- diria até que 0 moletom cabe em mim. O vizinho é alto € um corpo atlético, tipo um desses nadadores olimpicos de bros largos, mas nio é bonito.,Tem cabelo castanho-claro © secu rosto € cheio de linhas de expresso, como se tivesse to- muito sol durante a vida. O meu palpite € que ele tem 5 (rinta e oito ou quarenta anos. Ja estou na cola dele faz uns meses. Quase quatro. Eu sei porque foi um més depois de eu achar que tinha menstrua- do e agora ja faz quase cinco meses que isso aconteceu. Mas. eu nio t6 aqui para falar da minha menstruagao. Eu ja disse isso, eu sei, 6 estava situando um pouco os fatos. Estou frente a frente com 0 meu maior medo:a cagamba. A ideia de olhar embaixo da lona realmente me causa arrepios, Caberiam pelo menos trés corpos deitados aqui. Nao disse que a minha ima- ginacio é fertil? E terrivel ser assim como eu. E se eu encontrar algo muito sinistro? © que eu fago? Por- que é totalmente possivel! Assassinos estio por toda a parte! E por que um deles nao poderia ser o meu vizinho esquisi- to que nunca deixa ninguém entrar no seu apartamento? Eu nao contei isso, né? Mais de uma vez jé aconteceu de ele nio autorizar a entrada do Zé, nosso zelador. A primeira foi para verificar a situacio dos cupins no prédio. Como no nosso apartamento ¢ no de cima apareceu uma infestagao dos inse- tos, queriam ver se no dele também tinha, Ele disse que sa~ bia como eram cupins e que ninguém precisava entrar Id para ver isso. E a segunda foi quando estourou um cano da coluna do prédio e queriam ver se o vazamento tinha chegado até © apartamento dele. O Zé me contou que sabia que ele esta va em casa, mas 0 cara nem atendia 0 interfone. Suspeito, vai? A lona da cagamba é grudada por um velcro muito forte. E realmente dificil de desgrudar, ainda mais segurando uma coleira e uma Ianterna em uma das mios, ¢ tentando abrir com a outra. Minhas pernas tremem, procuro pela Pingo e vejo seus olhos se iluminarem como se ela estivesse se trans- formando em uma gata zumbi. E 0 reflexo do farol de um carro. Disfarco, desligo a lanterna e puxo a Pingo pela coleita para perto de mim. £ a Marilene do terceiro andar. Advoga- da, gente boa, adora a Pingo. Ela estaciona o carro ¢ jé abre a porta falando comigo. — Nossa, mas a Pingo gosta de sair assim tarde da noite? — Bela estava entediada em casa... — Por que no a levou no térreo onde tem 0 jardim? — Ea gosta daqui — £ uma lanterna no seu bolso? — Sim. —Tem medo de escuro, é — Nio, é que aqui no fiando tem menos luz... — Ah, sim, aqui é bem escuro mesmo. — E gosto de ver se a Pingo nao esta perto de nenhuma arata, porque, vocé sabe, né? — Nem fale em baratas! Tenho pavor! Marilene fica acariciando a Pingo e me fazendo pergun- tas sem parar, Se no soubesse que ela & advogada, até acharia cestranho esse quase interrogatério, mas advogados sio assim mesmo, eles perguntam por costume, é quase que automitico. —Vem, vamos subir. Aqui nio é lugar para uma menina sua gata, — Sim, eu j4 estava indo mesmo... Vem, Pingo! Entramos no elevador e, como ela mora no terceiro andar, (o teve muito mais tempo para perguntas. Cheguei em casa sstrada, Poxa, eu ia levantar aquela lonal Eu estava quase la, ie faltou um pouco mais de tempo e forca, porque aquilo era B realmente muito dificil de desgrudar. Agora vou ser obriga- da a retomar meu plano amanhi. Mas dessa vez nao levarei a Pingo. Segurar a coleira me deixa em desvantagem. Se eu en contrar alguém amanha 4 noite na garagem, vou inventar que estou procurando um brinco perdido, assim j tenho a descul- pa para estar com a lanterna na mio. Toda vez que entro no banheiro para escovar os dentes ou fazer xixi, coloco um copo na parede para tentar ouvir baru Ihos suspeitos do vizinho. Aprendi essa técnica nos filmes de investiga¢ao, meu género favorito. Quando eu fecho os olhos, parece que consigo ouvir melhor. Opa, ta vendo? Estou ou- vindo algo, Ele esté falando alguma coisa, Ele disse tomate? Pegar 0 tomate? Eu acho que foi isso que ele disse. Obriga- do, um abrago. Bom, ele estava ao telefone, entio continua ndo recebendo visitas. Sera que tomate é um codinome? Se- ria um bom disfarce, qualquer pessoa iria achar que ele estava pegando uma receita, mas eu nao... Eu sei que ele & suspeito, 86 nio sei do qué. Agora a minha rotina é essa. Escutar papos alheios no ba- nheiro. Me ajuda também a nio ficar triste por nio encontrar menstruagio na minha calcinha. Fico focada nos barulhos € me distraio. Jé achei que ele estava triturando coisas, e outro dia achei que ouvi facas sendo afiadas. E aquele primeiro som da privada foi o mais bizarro de todos, foi naquele dia que eu percebi que poderia ter alguma coisa errada com ele, Mas eu nio contei como comesou essa histéria, contei? Bom, tudo comegou — e talvez eu tenha que tocar no as- sunto da minha menstruagio s6 mais um pouco, me descul- 1 — no dia em que a privada do meu banheiro entupiu. : z Lira de madrugada quando ouvi um barulho que vinha de li. ui achando que podia ser a Pingo, mas era a privada fazen- do um ruido estranho. Levantei a tampa e a agua da privada cstava mexendo, mas ninguém tinha usado aquele banheiro. 15 s6 depois fui notar que o barulho mesmo vinha do aparta- mento ao lado. A impressio que eu tinha era que o meu vizi- : bjeto ho, enquanto dava descargas sem parar, usava algum obj -1 desentupir a propria privada, tipo aquelas mangueiras de ‘etal que os encanadores usam. Mas ninguém receberia um :canador em casa em plena madrugada. Toda aquela movi- intagio na privada dele refletia na minha, porque compar- ms © mesmo encanamento. Fiquei ali por um tempo, tentando decifrar o tal barulho, \s como eu estava morrendo de sono, acabei desistindo e lo dormir, No dia seguinte, entrei no meu banheito para wer xixi e, assim que levantei a tampa, vi que a agua esta~ va quase transbordando ¢ restos de papéis boiavam. Chamei a ha mie. Ah, eu nao contei que moro com meus pais, né? Sou filha éinica, e moro com minha mie, Arlete, meu pai, De~ is, ¢ a Pingo. Minha mie é do tipo que tem mania de limpeza, ¢ ver essa cena logo pela manhi causou néuseas na pobre coitada. Ji meu pai, que € do tipo que tira sarro de tudo € de todos, a cena ¢ brincou com um possivel cocé gigante meu, lo. © que causou mais néuseas ainda em minha mie. 15 Um encanador foi rapidamente acionado. E eu até tentei di- zer pata a minha mie que no meio da madrugada eu tinha ouvido barulhos estranhos vindo do apartamento do vizinho, mas a impressio que eu tinha era que todo mundo achava que 4 culpa era minha. Meu pai antes de sair do meu quarto ain~ da brincou: — Muito agai, hein? ‘Assim que sentei mesa do café da manhi, minha mie ar- rastou sua cadeira para perto de mim e, de um jeito delicado, perguntou: — Filha, por acaso vocé ficou menstruada e jogou um ab- sorvente ali dentro? Pode contar pra mami, nio tem problema. — Nio, mie, Eu ainda nfo fiquei menstruada. — Ah, mas isso é bom. Menstruar é chato demais, vocé tem sorte! —Ah sim, muita sorte. Depois desse dia, mais uma sequéncia de fatos bizarros re- lacionados ao vizinho voltou a acontecer. E eu resolvi que era melhor gastar 0 meu tempo investigando mais de perto ese cara estranho do que ficar pensando na minha menstruagio e sentindo célicas imaginérias. Até que tem famcionado. Anotei no meu caderno de geografia uma lista de dez fatos estranhos relacionados a0 vizinho. Vou repassar aqui, mas a Mayara, mi- nha melhor amiga da escola, diz que mais da metade da lista é besteira da minha cabega... 16 Atividades suspeitas do meu vizinho Deu descargas sem parar no meio da madrugada e ain- da usou algum objeto estranho para tentar desentupir a privada. (J4 contei essa hist6ria.) j Nio deixon entrarem na casa dele para verificar a exis- téncia de cupins. E todo mundo morre de medo de cupim! Também nio atendeu o Zé no interfone no dia do vazamento Abriu a porta da casa dele para sair, mas viu que eu estava no hall esperando o elevador e entrou em casa novamente. Ele tem medo de uma garota de catorze anos? Quase quinze. Saiu na rua usando fones de ouvido sendo que o fio fio estava conectado em nenhum aparelho. S6 um doido faria isso... (A Mayara acha essa observacio su~ perfraca, mas em minha defesa ela odeia redes sociais, entio ela também nio é muito normal.) Cochichou para 0 farmacéutico 0 remédio que queria comprar quando o encontrei na farmécia que fica na esquina de casa. (A Mayara acha que ele foge de mim tanto que eu 0 encaro.) Me viu chegando perto do elevador ¢ nao segurou a porta para mim. (A Mayara acha que ele me odeia.) Sempre toma banho no meio da madrugada. (Nao que cu fique acordada durante a madrugada, mas ja acon teceu mais de uma vez de ir fazer xixi no meio da © © ouvir 0 chuveiro dele ligado.) 7 8. Nio agradeceu 0 cartio de Natal que eu cologuei em- baixo da porta dele em nome da minha familia, Se minha mie souber disso vai me achar uma louca.) 9. Nao bocejou quando me viu bocejar dentro do eleva- dor. Jé vi em um filme de suspense que 6 psicopatas no bocejam quando vem alguém bocejar, e, gente, eu t6 bocejando agora x6 de lembrar desse dial (A Mayara acha que eu vejo muitos filmes de suspense.) 10. Comprou uma moto. Como se nao bastasse a cami- nhonete enorme s6 para ele, agora me aparece com uma moto? Seria uma opcio mais facil de fixga para quando eu finalmente ligar para a policia revelando 0 criminoso que ele &? (A Mayara acha que é para dri- blar 0 transito de Sio Paulo.) Convidei a Mayara para dormir em casa essa noite. Ela ain da no sabe, mas vou usé-la de assistente para a minha inves~ tigaco. Ela me acha maluca e diz que, como vivo seguindo 0 vizinho pelo bairro e olhando para ele com cara de doida, & ele que um dia vai me denunciar para a policia. Mas é mu to facil para a Mayara me achar exagerada, ela menstrua jé faz uum ano. Ela nao precisa de distragdes para nio enlouquecer vendo todas as garotas da turma falando de fluxo menstrual quando nio sai nem uma gota de vocé... Hoje, por exem- plo, cla té morrendo de célica, e toda vez que ela reclama eu reviro os olhos porque ela nao sabe dar valor para a propria menstrua¢io, e isso me deixa muito, mas muito irritada e de mau humor. 8 Mas por que vocé quer tanto que eu durma na sua casa Ai, Mayara, mas precisa ter uma explicagio? Eu no quero ter que perseguir 0 seu vizinho. Nio tem nada a ver com o vizinho. A gente vé um fil- 1 um brigadeiro de panela, Olha que leg Amo, brigadeiro sempre me ajuda quando estou mens- a 50? Nossa, mas toda hora tem que falar nessa menstruagio? E qual é © problema, Karina? Sé hoje voce ja falou trés vezes. ; Credo, vocé est muito chata hoje, parece até TPM... Quem me dera. Assim que chegamos em casa, me dei conta de que a Pingo vei me dar oi.E ela é esse tipo de gata, sabe? Xereta. Fora adora a Mayara. Comecei a ficar preocupada. Olhei da cama, Nada, Olhei dentro dos armérios do quarto, xo da pia da cozinha, atrés da miquina de lavar, e nada »Até que a Mayara deu um berro ld no meu quarto. 1 estou ouvindo ela miar aqui! correndo para 0 quarto. Realmente era 0 miado da s onde cla estava, afinal? Foi af que reparei no vierd ro aberto, La € 0 Gnico lugar da casa sem rede. Olhei 6 e via Pingo andando pelo parapeito do prédio, e cdo pela janela da casa do vizinho! ,a gente vai ter que entrar A ; a o! Nao é vocé que fala que ele é um assassino? io agora vocé acredita em mim? 19 — Ai, nio sei... mas vocé me deixou com medo dele! — Bom, eu vou dar um jeito de entrar Il agora, Tchau! — Calma af, eu vou com voce, Saimos as duas no hall onde a porta do vizinho fica de frente para a porta da minha casa. Fora isso, tem apenas um espelho pendurado de enfeite na parede entre as portas — Porque minha mae leu uma reportagem sobre feng shui que mandava pér um espelho na entrada de casa — e um capa cho na frente de cada porta. Fui direto olhar embaixo do ca acho, porque nos filmes de suspense geralmente as pessoas escondem a chave ali. A Mayara ficou 6 me olhando meio com cara de medo. Mas nada da chave. Por via das diividas, mexi no espelho para 0 caso de a chave estar guardada atris dele, mas também nio estava. Toquei a campainha e nio sei Por que nessa hora a Mayara tapou os ouvidos e fechou os olhos, como se uma bomba estivesse prestes a explodir. Mas ninguém veio atender a porta. A Mayara destapou 0s ouvidos, respirou fundo e foi direto na maganeta da porta da casa do vizinho. A porta estava aberta, Nem eu acreditei no que ela fez. Dei um abraco rapido nela € entrei sem pensar. Mesmo sem ter certeza de que ele nao estava em casa, eu comecei a gritar o nome da Pingo. Ouvi seu miado.Vinha do quarto principal. E i estava cla, deitada em cima da cama do vizinho, mais precisamente em cima do travesseiro. Reparei que, a0 Indo da cama, em uma mesinha de apoio, havia uma foto do vizinho com uma mulher e uma menina de uns sete anos de idade. Peguei a foto para ver se era cle mesmo ¢ percebi que tinha algo escrito atrés 20 Mew amor, ina estamos sentindo muito a sua falta, mas acho que a sua we jo de terminar 0 mestrado em uma cidade grande como Sao Paulo uito corajosa, Estamos aqui na nossa casinha te esperando, ¢ com ides, Logo voct vai tirar as pranchas de surfe da cagamba e voltar a aqui enguanto eu e a Ninoca te admiramos Com amor, Renata Eu fiquei em choque. Por isso a caminhonete! Por isso ne- amigo por perto! Meu Deus, ¢ eu achando esse surfista (oso um assassino! Ouvi a Mayara me chamando ¢ logo receu na porta do quarto do vizinho. © que voe8 esti fazendo na cama do vizinho? 2u estava vendo essa foto! Ola o que esté escrito atris! Vamos embora daqui! Vocé esta maluca? Estamos na casa 1 desconhecido que até meia hora atrés vocé dizia que assassin! Ai, Mayara, mas vocé tinha toda razio, amiga. Olha que 1 fofa que ele tem! Ele surfa, sabia? Karina, vocé quer que o vizinho dé de cara com a gen- quarto dele? Ele ja deve te achar uma maluca que fica ndo ele! Vai, vamos embora! 1ei a foto de volta na mesinha, levantei da cama e ngo no colo, mas quando olhei a cara de choque ‘io entendi, parecia até que o vizinho estava atris jenstruou! — Qué? —Na cama do vizinho, Karina! — Oi? Como assim? — Olha a mancha atris de vocé! E Ik estava ela,a tio esperada mancha de sangue, mas nao de um crime, e sim da minha propria menstruagio. Quase um circulo perfeito, vermelho meio escuro, bem na colcha branca do vizinho. Sorri —Vem, vamos embora daqui, Karin, — Mayara, eu finalmente menstruei! im, eu vi, na cama do vizinho. — Me abraga amiga! —A gente nio pode se abragar na sua casa? — Mas 0 que a gente faz com a mancha? — Nada. — Como nada? — Amiga, fica ai um mistério para o vizinho desvendar, ‘Agora é a vez dele de achar que talvez a vizinha adolescente seja muito suspeita Fizemos brigadeito e vimos um filme de suspense. A Pin- go sentou na minha barriga e foi melhor que uma bolsa de gua quente, minha célica passou na hora. Mas estou pensan~ do aqui, sera que 0 vizinho vai chamar a policia? Sera que sou ‘a? Essa coisa de DNA existe mesmo? + Camila Fremder é escritora, roteirista de ry, influenciadora € podeaster no E néia minha? e Calcinha larga. Autora de cinco 22 ue re eles 0 best-seller Como ter uma vida normal sendo 1 Jana Rosa, que foi adaptado para o teatro, ¢ 0 mais ta sim, madura nem sempre. E.tem uma newsletter, 1 dos Sem Carisma. 23

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